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domingo, 13 de novembro de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] Dica de livro - Anabolizantes - Evidências científicas: riscos e benefícios


Parte dos leitores desse blog são médicos. Então aproveitarei esse espaço para divulgar um excelente livro. Principalmente para aqueles que ainda acreditam em segurança na prescrição de esteroides anabolizantes para fins estéticos ou para melhora de performance. 

Não trabalho com hormônios, acredito que o profissional mais habilitado para manejar as desordens hormonais seja o Endocrinologia ou Urologista/Ginecologista. 

Apesar de não trabalhar, semanalmente atendo pacientes que fizeram uso (desnecessário) e apresentaram efeitos adversos desse tipo de terapia. 

Então me sinto no dever de orientar meus leitores sobre os riscos dessas terapias, na maioria das vezes sem respaldo cientifico. 

Aproveito para divulgar um Podcast excelente no qual o autor do livro fala sobre o tema:  https://open.spotify.com/episode/1Ys6cokvO8EekQVPyhkdTE?si=neGQFSGgTRm6g4ALDhyIMQ



Por que ler esse livro?

Anabolizantes, evidências científicas: riscos e benefícios aborda os principais aspectos da indicação dos anabolizantes como tratamento de reposição hormonal, além dos efeitos adversos pelo uso indiscriminado por jovens atletas e frequentadores de academias com objetivos estéticos.

De maneira didática, prática e com base nas melhores evidências de pesquisas, o livro reúne temas como o doping nos esportes, farmacocinética e farmacodinâmica, o uso de esteroides androgênicos anabolizantes (EAA) como tratamento em pacientes cardiopatas e oncológicos, com destaque para a síndrome da caquexia. Este livro é pioneiro na abordagem do uso de EAA para a população de transgêneros e seus principais efeitos sobre a saúde cardiovascular e metabólica.

O livro está dividido nos grandes temas:

• Aspectos funcionais dos anabolizantes.
• Indicações clínicas para reposição hormonal de testosterona (riscos e benefícios).
• Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes.

Após anos de pesquisa, os autores desta obra buscaram sanar uma lacuna no conhecimento de médicos, profissionais de educação física, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais da saúde, quanto ao uso da terapia hormonal de testosterona (e seus derivados), a fim de fornecer um conhecimento prático-científico para que seja possível ter uma conduta ética e assertiva acerca do uso de anabolizantes.

Sobre os autores

Maria Janieire de Nazaré Nunes Alves: Coordenadora responsável pelo Centro de Avaliação Metabólica do centro de pesquisa do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (InCor/HC-FMUSP). Professora colaboradora do Departamento de Cardiopneumologia e Fisiopatologia experimental da Faculdade de Medicina da USP. Médica assistente e pesquisadora da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do InCor/HC-FMUSP.

Marcelo Rodrigues dos Santos: Pós-doutorado no Brigham and Women’s Hospital, Research Program in Men’s Health: Aging and Metabolism, Harvard Medical School, Boston, EUA. Pós-doutorado pela Georg-August-Universität em Göttingen, Alemanha (Innovative Clinical Trials, Department of Cardiology and Pneumology). Doutor em Ciências, área de concentração: ardiologia, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – Instituto do Coração (InCor/HC-FMUSP). Professor orientador de mestrado do programa de pós-graduação em Ciências Médicas da FMUSP (Distúrbios Genéticos de Desenvolvimento e Metabolismo). Pesquisador visitante do Hospital Israelita Albert Einstein e pesquisador colaborador da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do InCor/HC-FMUSP . Possui graduação em Educação Física pela Universidade Bandeirante de São Paulo.

Sumário do livro:

Prefácio. XIX
Seção 1 - Aspectos funcionais dos anabolizantes
1. O que são os esteroides androgênicos anabolizantes?
2. Farmacocinética e farmacodinâmica dos esteroides androgênicos anabolizantes
3. Fisiologia do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal
4. Vias biomoleculares da ação de esteroides androgênicos anabolizantes na hipertrofia muscular
5. Controle antidoping de esteroides androgênicos anabolizantes no esporte.
Seção 2 - Indicações clínicas para reposição hormonal de testosterona (riscos e benefícios)
6. Reposição de testosterona em idosos
7. Reposição de testosterona em pacientes com insuficiência cardíaca
8. Reposição de testosterona em pacientes com doença arterial coronariana
9. Reposição de testosterona em pacientes com síndrome metabólica
10. Reposição de testosterona em pacientes com osteoporose.
11. Reposição de testosterona em pacientes com câncer e caquexia
12. Reposição de testosterona em mulheres cisgênero
13. Efeitos cardiovasculares do uso terapêutico de testosterona em homens transgêneros
Seção 3 - Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes
14. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes no perfil lipídico
15. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes na hipertrofia miocárdica e na função cardíaca
16. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes na doença arterial coronariana e no infarto.
17. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes no controle autonômico
18. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes nas alterações hemodinâmicas e na hipertensão arterial
19. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes na função vascular
20. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes nas alterações eletrocardiográficas
21. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes e interações medicamentosas – polifarmácia
22. Suplementos nutricionais associados ao uso de anabolizantes: efeitos sobre a hipertrofia muscular
23. Aspectos, sintomas e características psicológicas do uso suprafisiológico de anabolizantes
24. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes na função hepática
25. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes na função renal
26. Efeitos adversos do uso suprafisiológico de anabolizantes nas alterações hematológicas e trombogênicas.
Índice remissivo




quinta-feira, 11 de abril de 2024

Estudo dinamarquês evidencia que anabolizantes aumentam em quase três vezes risco de morte



Há um ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu o uso de esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) com finalidade estética, de desempenho ou para ganho de massa muscular no Brasil.

Considerado um problema de saúde pública, o uso indiscriminado dessas substâncias sintéticas derivadas da testosterona aumenta os riscos à saúde, principalmente à saúde cardiovascular. Agora, uma carta científica publicada no Jama - uma das revistas médicas mais importantes do mundo - traz dados de um estudo observacional dinamarquês que apontam que o uso de anabolizantes aumenta em 2,8 vezes o risco de morte.

A Dinamarca tem um registro médico de todos os seus habitantes e, durante cerca de 11 anos, foram feitas inspeções esporádicas com testes antidoping em academias de ginástica do país. Para cada indivíduo identificado como usuário de anabolizantes, foram incluídos 50 controles da população em geral. Ao todo, o estudo monitorou 1.189 homens usuários de esteroides anabolizantes e 59.450 homens controle, com a idade média de 27 ano.

Durante o período de acompanhamento, 33 usuários de anabolizantes morreram, em comparação com 578 no grupo controle (lembrando que o grupo controle tinha 50 indivíduos para cada usuário de anabolizante). Isso significa que a taxa de mortalidade entre os usuários de anabolizantes foi 2,81 vezes maior do que entre os não usuários.

Quando foram analisadas as mortes não naturais, como acidentes, crimes violentos e suicídios, a diferença foi ainda mais acentuada, alcançando uma taxa de mortalidade 3,64 vezes maior entre os usuários de esteroides em comparação com quem não usava.

"Esses resultados levantam sérias preocupações sobre o risco de morrer associado ao uso de esteroides anabolizantes e destacam a necessidade urgente de conscientização sobre os seus efeitos", alerta o endocrinologista Clayton Luiz Dornelles Macedo, que coordena o Núcleo de Endocrinologia do Exercício e do Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein e o ambulatório de Endocrinologia do Esporte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Nesse ambulatório, é desenvolvido um programa chamado Bomba Tô Fora, que faz um trabalho preventivo e atendimento gratuito para usuários de anabolizantes no Sistema Único de Saúde (SUS).

domingo, 5 de março de 2017

Papo sério: Os esteroides anabolizantes e o nosso "relógio suíço"


Desde os anos 70, os esteroides anabolizantes vêm sendo usados de forma abusiva por atletas, fisiculturistas e praticantes de atividade física. Os esteroides androgênicos anabólicos (ou anabolizantes) são hormônios representados pela testosterona e seus derivados, cujos efeitos de aumento de massa muscular e óssea e aumento da capacidade de proliferação celular são empregados em situações médicas muito restritas, como nos casos de desnutrição grave causada por câncer e AIDS. Essas substâncias hormonais também são empregadas para suprir as necessidades daqueles que as deixam de produzir, como nos casos de hipogonadismo e atraso puberal. Entretanto, o seu uso indiscriminado e crescente, sem indicação clínica, particularmente em adolescentes e adultos jovens, tem chamado a atenção das principais sociedades médicas mundo afora, principalmente aquelas ligadas a programas antidoping, que alertam sobre os riscos à saúde decorrente da exposição de terapias anabolizantes.

De fato, as propriedades “milagrosas” dos esteroides anabolizantes começaram a chamar a atenção a partir dos surpreendente ganho de força e massa muscular de atletas de alto nível, o que garantia um desempenho muito superior quando comparado com aqueles que não usavam. Não demorou muito para essas substâncias alcançarem as academias, as farmácias e alguns consultórios médicos.
Na chamada "medicina estética e antienvelhecimento", hormônios androgênicos esteroides, o hormônio da tireoide e o hormônio do crescimento  (GH), que normalmente são usados somente para reposição em situações de deficiência comprovada, são indicados precoce e erroneamente com intuito de retardar o envelhecimento, aumentar o metabolismo, aumentar a massa muscular, reduzir a gordura corporal, melhorar a textura da pele e a libido. Nesses casos, são usados hormônios sem a real necessidade e em doses muito acima do recomendado. Claro que isso faz mal para o organismo!
Termos como “bio-idêntico” ou “nano-hormônio” são usados inescrupulosamente para criar uma falsa ideia de pureza e segurança, o que obviamente não existe. Disparado, a testosterona e seus derivados (ex. oxandrolona, oximetolona, estanazolol, di-hidrotestosterona) são os líderes em uso justamente por suas fortes propriedades anabolizantes, sua facilidade de encontrar e o seu baixo custo.

Mas você sabe qual o efeito que o uso dessas substâncias terá no seu organismo?
Bem, nosso sistema endócrino é um "relógio suíço", onde tudo funciona da melhor maneira para nos manter em equilíbrio. Nossos hormônios, quando estamos saudáveis e sem doenças, são produzidos na quantidade exata das nossas necessidades, nem um gota a mais. Quando um homem usa um esteroide por estética, para aumento de massa muscular, esse sistema é inibido. Sim, porque o nosso sistema hormonal funciona assim: para tentar evitar o excesso deletério, as glândulas deixam de produzir aquele hormônio que está sendo administrado.

No caso do uso da testosterona, por exemplo, os testículos deixam de produzir a própria testosterona enquanto a pessoa estiver usando. Esse uso, geralmente em doses acima do que o corpo está habituado (para ter uma ideia: a dose de reposição para quem não produz testosterona é 1 injeção a cada 14 dias; em ciclos anabolizantes, tem gente usando 1 injeção ao dia!), cria um "falso ambiente hormonal", o que estimula forçadamente as células do corpo a proliferar e crescer de tamanho. Se eu tinha um massa muscular "x" produzindo "y" de testosterona, agora com "4y" de testosterona terei uma massa muscular "4x". Parece maravilhoso! Mas o problema é que isso só se mantém enquanto estivermos usando essas doses altas. Quando reduzimos ou interrompemos o uso, que geralmente é o que ocorre quando se termina o chamado ciclo, voltamos a ser o que éramos: "x"! E um "x" que agora não consegue produzir a sua própria testosterona, pois os testículos podem demorar para trabalhar de novo. Esse estado de não produção dos próprios hormônios nós chamamos de hipogonadismo. E é nesse período, conforme o tempo que foi usado e retirado o anabolizante, que o organismo sente muito a falta dos hormônios, gerando perda grande da muscular conquistada, cansaço intenso, fraqueza, humor deprimido, impotência e falta de libido.


Esse é um ponto crucial! O que a maioria faz:
1) se convence que é um efeito colateral do tratamento e mata no peito os sintomas;
2) busca atendimento médico para entender os sintomas e tratá-los;
3) volta a usar o anabolizante.

Na minha experiência de consultório, infelizmente a maciça maioria escolhe a opção 3. Voltam a usar e os sintomas imediatamente melhoram; voltam a ficar grandes e potentes, com libido lá em cima. E daí passa ser um ciclo atrás do outro, sempre com alguma alternativa indicada por um amigo ou médico para tentar evitar os efeitos da parada. “Ah, mas eu quero usar uma dose bem baixa, só para dar uma estimulada…” Não adianta, pois só vai ter os efeitos de supressão da testosterona sem ter o resultado de crescimento muscular.

Não importa se você compra na academia ou na farmácia sem receita ou se recebeu receita de um médico. Para ter o efeito anabolizante, você sempre terá que usar doses acima do necessário. Aliás, não se iluda se esse tipo de tratamento estiver sendo feito por um médico que garanta que é seguro. O ego de muitos médicos sempre supera (e muito) o bom senso. São pseudo-inovadores, sedutores, manipuladores, super-stars das redes sociais, revolucionários inconsequentes, messiânicos que se colocam acima da boa prática médica e das entidades médicas sérias, oferecendo tratamentos que não tem suporte de segurança pela boa literatura médica. Por favor, não se iluda!

Mas mesmo assim quer usar? Saiba então os efeitos adversos do uso dos esteroides anabolizantes: alterações dermatológicas (acne, lipodistrofia – atrofia da gordura, abscessos musculares, hematomas, calvície, estrias, excesso de pelos corporais), hematológicas (aumento do número dos glóbulos vermelhos, sangue mais viscoso), alterações sexuais (impotência, ginecomastia, atrofia testicular, infertilidade), osteo-musculares (hérnia de disco, lesões meniscais, rabdomiólise-dano muscular grave), hepáticas (hepatite, colestase, icterícia -amarelão, esteatose, nódulos, câncer de fígado), renais (insuficiência renal, glomerulonefrite), cardiovascular (redução do colesterol HDL, AVC, hipertensão arterial, aumento do volume do coração, insuficiência cardíaca, arritmia, infarto, morte súbita) e comportamentais (agressividade, comportamento imprudente e compulsivo, dependência, síndrome de abstinência, depressão, pensamentos suicidas, percepção alterada da forma corporal, maior consumo de álcool e outras drogas, transtornos alimentares tipo vigorexia, bulimia, anorexia, prática de sexo inseguro). Além disso, existem vários relatos de câncer associado ao uso de anabolizantes, como câncer de fígado, de pâncreas, miossarcoma, osteossarcoma, linfoma e leucemia.

Em mulheres, os efeitos hormonais são resultado da exposição do organismo a um hormônio caracteristicamente masculino e em quantidades muito altas. O resultado é que a testosterona passa a modificar o corpo feminino trazendo traços masculinos, que é o que chamamos de virilização (ou masculinização). Aumento exagerado da massa muscular, acne, redução anormal da gordura corporal, lipodistrofia, atrofia das mamas, excesso de pelos no rosto e no corpo, aumento do gogó, voz masculinizada, parada da menstruação, engrossamento da pele, aumento do clitóris e infertilidade. Além de todos os efeitos colaterais já citados.

A saúde não é brincadeira. Respeite o seu "relógio suíço". Não se exponha a tratamentos que podem trazer riscos desnecessários. E principalmente, não coloque a sua saúde nas mãos de inconsequentes, seja um amigo, o cara da academia ou da farmácia, o cara que traz da fronteira, um médico. Ninguém se responsabilizará por você se algo der errado.

Referências:
1 - Eberhard Nieschlag, Elena Vorona. Doping with anabolic androgenic steroids (AAS): Adverse effects on non-reproductive organs and functions. Rev Endocr Metab Disord 2015. DOI 10.1007/s11154-015-9320-5
2 - WADA worldwide antidoping network (www.wada.org).

Dr. Eduardo Guimarães Camargo
Médico Endocrinologista
CREMERS 23.404 - RQE 17.086
www.dreduardocamargo.com.br

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Papo sério: Os esteroides anabolizantes e o nosso "relógio suíço"

Desde os anos 70, os esteroides anabolizantes vêm sendo usados de forma abusiva por atletas, fisiculturistas e praticantes de atividade física. Os esteroides androgênicos anabólicos (ou anabolizantes) são hormônios representados pela testosterona e seus derivados, cujos efeitos de aumento de massa muscular e óssea e aumento da capacidade de proliferação celular são empregados em situações médicas muito restritas, como nos casos de desnutrição grave causada por câncer e AIDS. 

Essas substâncias hormonais também são empregadas para suprir as necessidades daqueles que as deixam de produzir, como nos casos de hipogonadismo e atraso puberal. Entretanto, o seu uso indiscriminado e crescente, sem indicação clínica, particularmente em adolescentes e adultos jovens, tem chamado a atenção das principais sociedades médicas mundo afora, principalmente aquelas ligadas a programas antidoping, que alertam sobre os riscos à saúde decorrente da exposição de terapias anabolizantes.

De fato, as propriedades “milagrosas” dos esteroides anabolizantes começaram a chamar a atenção a partir dos surpreendente ganho de força e massa muscular de atletas de alto nível, o que garantia um desempenho muito superior quando comparado com aqueles que não usavam. Não demorou muito para essas substâncias alcançarem as academias, as farmácias e alguns consultórios médicos.

Na chamada "medicina estética e antienvelhecimento", hormônios androgênicos esteroides, o hormônio da tireoide e o hormônio do crescimento  (GH), que normalmente são usados somente para reposição em situações de deficiência comprovada, são indicados precoce e erroneamente com intuito de retardar o envelhecimento, aumentar o metabolismo, aumentar a massa muscular, reduzir a gordura corporal, melhorar a textura da pele e a libido. Nesses casos, são usados hormônios sem a real necessidade e em doses muito acima do recomendado. Claro que isso faz mal para o organismo!

Termos como “bio-idêntico” ou “nano-hormônio” são usados inescrupulosamente para criar uma falsa ideia de pureza e segurança, o que obviamente não existe. Disparado, a testosterona e seus derivados (ex. oxandrolona, oximetolona, estanazolol, di-hidrotestosterona) são os líderes em uso justamente por suas fortes propriedades anabolizantes, sua facilidade de encontrar e o seu baixo custo.

Mas você sabe qual o efeito que o uso dessas substâncias terá no seu organismo?

Bem, nosso sistema endócrino é um "relógio suíço", onde tudo funciona da melhor maneira para nos manter em equilíbrio. Nossos hormônios, quando estamos saudáveis e sem doenças, são produzidos na quantidade exata das nossas necessidades, nem um gota a mais. Quando um homem usa um esteroide por estética, para aumento de massa muscular, esse sistema é inibido. Sim, porque o nosso sistema hormonal funciona assim: para tentar evitar o excesso deletério, as glândulas deixam de produzir aquele hormônio que está sendo administrado.

No caso do uso da testosterona, por exemplo, os testículos deixam de produzir a própria testosterona enquanto a pessoa estiver usando. Esse uso, geralmente em doses acima do que o corpo está habituado (para ter uma ideia: a dose de reposição para quem não produz testosterona é 1 injeção a cada 14 dias; em ciclos anabolizantes, tem gente usando 1 injeção ao dia!), cria um "falso ambiente hormonal", o que estimula forçadamente as células do corpo a proliferar e crescer de tamanho. 

Se eu tinha um massa muscular "x" produzindo "y" de testosterona, agora com "4y" de testosterona terei uma massa muscular "4x". Parece maravilhoso! Mas o problema é que isso só se mantém enquanto estivermos usando essas doses altas. 

Quando reduzimos ou interrompemos o uso, que geralmente é o que ocorre quando se termina o chamado ciclo, voltamos a ser o que éramos: "x"! E um "x" que agora não consegue produzir a sua própria testosterona, pois os testículos podem demorar para trabalhar de novo. Esse estado de não produção dos próprios hormônios nós chamamos de hipogonadismo. 

E é nesse período, conforme o tempo que foi usado e retirado o anabolizante, que o organismo sente muito a falta dos hormônios, gerando perda grande da muscular conquistada, cansaço intenso, fraqueza, humor deprimido, impotência e falta de libido.

Esse é um ponto crucial! O que a maioria faz:
1) se convence que é um efeito colateral do tratamento e mata no peito os sintomas;
2) busca atendimento médico para entender os sintomas e tratá-los;
3) volta a usar o anabolizante.

Na minha experiência de consultório, infelizmente a maciça maioria escolhe a opção 3. Voltam a usar e os sintomas imediatamente melhoram; voltam a ficar grandes e potentes, com libido lá em cima. E daí passa ser um ciclo atrás do outro, sempre com alguma alternativa indicada por um amigo ou médico para tentar evitar os efeitos da parada. “Ah, mas eu quero usar uma dose bem baixa, só para dar uma estimulada…” Não adianta, pois só vai ter os efeitos de supressão da testosterona sem ter o resultado de crescimento muscular.

Não importa se você compra na academia ou na farmácia sem receita ou se recebeu receita de um médico. Para ter o efeito anabolizante, você sempre terá que usar doses acima do necessário. Aliás, não se iluda se esse tipo de tratamento estiver sendo feito por um médico que garanta que é seguro. 

O ego de muitos médicos sempre supera (e muito) o bom senso. São pseudo-inovadores, sedutores, manipuladores, super-stars das redes sociais, revolucionários inconsequentes, messiânicos que se colocam acima da boa prática médica e das entidades médicas sérias, oferecendo tratamentos que não tem suporte de segurança pela boa literatura médica. Por favor, não se iluda!

Mas mesmo assim quer usar? Saiba então os efeitos adversos do uso dos esteroides anabolizantes:

  1. alterações dermatológicas (acne, lipodistrofia – atrofia da gordura, abscessos musculares, hematomas, calvície, estrias, excesso de pelos corporais), 
  2. hematológicas (aumento do número dos glóbulos vermelhos, sangue mais viscoso), 
  3. alterações sexuais (impotência, ginecomastia, atrofia testicular, infertilidade), 
  4. osteo-musculares (hérnia de disco, lesões meniscais, rabdomiólise-dano muscular grave), 
  5. hepáticas (hepatite, colestase, icterícia -amarelão, esteatose, nódulos, câncer de fígado), 
  6. renais (insuficiência renal, glomerulonefrite), 
  7. cardiovascular (redução do colesterol HDL, AVC, hipertensão arterial, aumento do volume do coração, insuficiência cardíaca, arritmia, infarto, morte súbita)
  8. comportamentais (agressividade, comportamento imprudente e compulsivo, dependência, síndrome de abstinência, depressão, pensamentos suicidas, percepção alterada da forma corporal, maior consumo de álcool e outras drogas, transtornos alimentares tipo vigorexia, bulimia, anorexia, prática de sexo inseguro). 
Além disso, existem vários relatos de câncer associado ao uso de anabolizantes, como câncer de fígado, de pâncreas, miossarcoma, osteossarcoma, linfoma e leucemia.

Em mulheres, os efeitos hormonais são resultado da exposição do organismo a um hormônio caracteristicamente masculino e em quantidades muito altas. O resultado é que a testosterona passa a modificar o corpo feminino trazendo traços masculinos, que é o que chamamos de virilização (ou masculinização). Aumento exagerado da massa muscular, acne, redução anormal da gordura corporal, lipodistrofia, atrofia das mamas, excesso de pelos no rosto e no corpo, aumento do gogó, voz masculinizada, parada da menstruação, engrossamento da pele, aumento do clitóris e infertilidade. Além de todos os efeitos colaterais já citados.

A saúde não é brincadeira. Respeite o seu "relógio suíço". Não se exponha a tratamentos que podem trazer riscos desnecessários. E principalmente, não coloque a sua saúde nas mãos de inconsequentes, seja um amigo, o cara da academia ou da farmácia, o cara que traz da fronteira, um médico. Ninguém se responsabilizará por você se algo der errado.

Referências:
1 - Eberhard Nieschlag, Elena Vorona. Doping with anabolic androgenic steroids (AAS): Adverse effects on non-reproductive organs and functions. Rev Endocr Metab Disord 2015. DOI 10.1007/s11154-015-9320-5
2 - WADA worldwide antidoping network (www.wada.org).

Autor: Dr. Eduardo Guimarães Camargo
Médico Endocrinologista
CREMERS 23.404 - RQE 17.086
www.dreduardocamargo.com.br

terça-feira, 24 de maio de 2016

Consequências do uso de EAA (anabolizantes) sem indicação médica criteriosa

O uso de esteroides anabolizantes androgênicos (EAA) está cada vez mais difundido, principalmente entre praticantes de atividade física e atletas. As principais causas apontadas para o uso de anabolizantes incluem: insatisfação com a aparência física, baixa autoestima, pressão social, o culto pelo corpo que a nossa sociedade tanto valoriza e a falsa aparência saudável. Estudos estimam que um número tão alto quanto 30% dos praticantes de academia abusam ou já abusaram do uso de hormônios para tal fim. Uma parcela não desprezível dos usuários tem uma percepção equivocada de que o uso de EAA é seguro ou que os efeitos adversos são controláveis, o que é um verdadeiro erro!!  Os esteroides anabolizantes oferecem riscos graves à saúde física e mental.

O uso de EAA compreende o abuso de testosterona e seus derivados. A testosterona permanece ainda como o EAA mais popular devido ao seu baixo preço, acesso relativamente fácil e dificuldade de distinguir, em exames de sangue, a testosterona exógena da endógena. A testosterona é produzida, na sua maior parte, pelos testículos e promovem o desenvolvimento de características sexuais masculinas. Na medicina, o uso da testosterona está indicado basicamente nos casos de hipogonadismo masculino (situação em que os homens deixam de produzir o hormônio ou o produzem em menor quantidade do que o normal), em alguns casos de transsexualismo, sarcopenias e, raramente, no rol de terapias de última linha em câncer de mama avançado em mulheres.

No ano de 1935 a testosterona foi sintetizada pela primeira vez e, em 1939, sugeriu-se que os hormônios sexuais poderiam aumentar o desempenho atlético. Em 1945, ocorreu a popularização no meio atlético através da publicação do The Male Hormone, do escritor Paul de Kruiff. Em 1956, quando o Laboratório Ciba criou a metandrosterona, comercializada com o nome de Dianabol, os relatos da eficácia desta droga difundiram-se pela comunidade de levantadores de peso.    Já em 1964, nas Olimpíadas de Tóquio, os EAA foram largamente utilizados em diversas modalidades; e durante a competição “Mister America”, em 1972, estimou-se que 99% dos atletas estreantes fizeram ou faziam uso de EAA. O controle do doping, para detecção de EAA, começou a ser feito somente a partir da Olimpíada de Montreal, em 1976. Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), doping é definido como o uso de qualquer substância endógena ou exógena em quantidades ou vias anormais com a intenção de aumentar o desempenho do atleta em uma competição. No Brasil, os EAA foram considerados agentes dopantes a partir de 1985, segundo publicado na Portaria 531, de 10 de julho de 1985.

Os efeitos dos EAA sobre o comportamento dos usuários têm sido há muito tempo pesquisados, assim como os vários efeitos adversos em diferentes órgãos e sistemas do corpo. Além disso, já está comprovado que os EAA podem induzir efeitos sobre o sistema de recompensa do cérebro, o que pode tornar os usuários  mais suscetíveis ao abuso de outras drogas. Os usuários de EAA normalmente usam hormônios em doses absurdas, aumentando ainda mais os risco!! Doses de testosterona que, na prática médica, são usadas a cada 21 dias, chegam a ser usadas diariamente por vários dias seguidos!!

Na tabela abaixo estão descritos alguns dos efeitos adversos dessas substâncias:

EFEITOS CARDIOVASCULARES
Dislipidemia (alteração dos níveis de gordura no sangue)
Doença aterosclerótica (formação de placas dentro dos vasos, podendo levar à infarto cardíaco e derrame cerebral)
Cardiomiopatia (aumento do músculo cardíaco, prejudicando o funcionamento do coração)
Arritmias
Anormalidades de coagulação
 Hipertensão Arterial

NEUROPSIQUIÁTRICOS
Distúrbios do humor e depressão, inclusive com relatos de suicídio
Comportamento agressivo e violento
Alteração cognitiva e de memória
Dependência de EAA
Aumento do abuso de outras drogas

HOMENS
Supressão de hormônios importantes na produção endógena de testosterona (hipogonadismo), levando a perda de libido, distúrbios de ereção, atrofia dos testículos
Ginecomastia (aumento das mamas)
Aumento da próstata
Câncer de próstata
Infertilidade

MULHERES
Supressão de hormônios importantes na produção endógena de estrogênios, levando a distúrbios da menstruação
Infertilidade
Atrofia das mamas
Excesso de pelos e alopecia (perda de cabelo do couro cabeludo)
Aumento do clitóris
Alteração da voz

MUSCULOESQUELÉTICO
Fechamento prematuro das cartilagens de crescimento (adolescentes), prejudicando crescimento
Ruptura de tendões


RENAL
Falência renal secundária à rabdomiólise (lesão muscular)
Glomeruloesclerose (fibrose no rim, prejudicando seu funcionamento)
Câncer renal

DERMATOLÓGICO
Acne
Estrias
Excesso de pelos e alopecia (perda de cabelo do couro cabeludo)

HEPÁTICOS (fígado)
Inflamação e colestase
Hepatite
Câncer de fígado

Como podemos ver acima, os EAA são drogas que podem provocar efeitos colaterais gravíssimos, sendo que muitos deles podem ser IRREVERSÍVEIS!! Ainda assim, os usuários de EAA continuam usando tais substâncias de maneira desenfreada, sem considerar os efeitos colaterais ou julgando, erroneamente, que os benefícios são maiores do que os riscos. Testosterona só deve ser usada em doses adequadas e se há uma necessidade clínica ou patológica com indicação médica para o seu uso!

Médicos sérios e éticos não compactuam com o uso de anabolizantes com fins de melhorar desempenho ou forma física!! Se você quer melhorar seu desempenho físico ou composição corporal, procure uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, nutricionistas e educadores físicos, buscando adequar sua dieta e rotina de exercícios para atingir o seu objetivo!

Fonte: http://fernandaendocrino.com.br/index.php/2016/05/16/consequencias-do-uso-de-esteroides-anabolizantes/

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Efeitos colaterais de anabolizantes - quais são os riscos?.

Quase que diariamente nos perguntam o porquê de sermos contra o uso de anabolizantes  e hormônios para fins estéticos. Tem inúmeros posts aqui no blog sobre o tema, mas resumindo:

  1. Falta de estudos: há pouquíssimos estudos na literatura sobre a utilização de hormônios para fins estéticos. Ou seja, a segurança em longo prazo não existe. Cada indivíduo tem um grau de responsividade a um estímulo hormonal. Alguns utilizam e não apresentam efeitos colaterais com as doses habituais. Outros utilizam e mesmo com doses baixas já apresentam efeitos colaterais graves. Diante disso, NENHUMA sociedade médica ligada ao Conselho Federal de Medicina (CFM)  e à Associação Médica Brasileira (AMB) dá o aval para a prescrição de hormônios para fins estéticos. Inclusive o CFM tem resolução proibindo esse tipo de prática.
  2. Corpos idealizados e inatingíveis para a maior parte da população. A psiquiatra e psicologia lutam há décadas pela aceitação da pluralidade de corpos. Todo corpo deve ser respeitado. Idealizar um corpo como o ideal, há séculos leva pessoas a sofrimento físico e psíquico, na tentativa de alcançar algo que na maioria das vezes é inatingível. A partir do momento que nós da área da saúde estimulamos essa "idealização" de corpo (ex. tenha abdômen definido, peitoral grande, seios volumosos, coxas sem celulite), imediatamente dicotomizamos as pessoas. Portanto, incentivar que as pessoas busquem ter esses corpos, na minha opinião é uma iatrogenia contra o ser humano, é desumano. É desprezar essa pluralidade de corpos. É não reconhecer que o mais importante é a pessoa ter saúde, um corpo funcional e com exames laboratoriais dentro de uma margem de normalidade. 
  3. Desequilíbrio físico, psíquico e moral: Alterar a fisiologia natural tão harmônica dos nossos hormônios correndo riscos de desenvolver efeitos colaterais/doenças para se encaixar em padrões de beleza demonstra o quanto o ser humano tem deixado de usar aquilo que o diferencia dos demais seres vivos : a consciência.
  4. Transtornos psiquiátricos: A grande maioria dos médicos durante a anamnese sequer se preocupam em questionar existência de sintomas psiquiátricos (medos, apreensões quanto ao futuro, ansiedade, insônia, irritabilidade, rebaixamento do humor, labilidade do humor). Na verdade a grande maior sabe sequer a propedêutica psiquiátrica, o entendimento da psicopatologia e com isso um provável diagnóstico de transtorno psiquiátrico passa despercebido. São incapazes de perceber alterações no discurso (fala) dos pacientes e que ali nitidamente pode existe um quadro de ansiedade ou bipolaridade. Agora imaginem se no paciente com déficit laboratorial do hormônio, a utilização das medicações (hormônios) já pode por si acentuar/agravar/desencadear/aliviar sintomas psiquiátricos, quem dirá quando se usa para fins estéticos. Com o abuso de prescrições de hormônios anabolizantes os distúrbios psiquiátricos decorrente desse abuso tem aumentado exponencialmente e isso é comprovado por qualquer psiquiatra ou psicólogo. Trabalhamos em parceria com vários e quase que diariamente ouvimos relatos, principalmente no sexo masculino. Homens que apresentavam transtorno de ansiedade generalizada e abriram quadro de psicose bipolar. Ou homens que o abuso de testosterona foi gatilho para esquizofrenia. Comumente, homens com sintomas depressivos ao final de ciclos de anabolizantes... insônia, irritabilidade, agressividade. O que nos assusta é a passividade da Associação Brasileira de Psiquiatria diante disso. Não vemos campanhas para orientar a população sobre isso, como vemos o Setembro amarelo. 
  5. Exacerbação da libido: Muitas vezes a prescrição começa não por fins estéticos, mas pela questão da libido e quando se fala no assunto, engloba inúmeros fatores. Libido não é somente déficit hormonal de testosterona. Mas a utilização da mesma pode exacerbar a libido tanto em homem quanto em mulheres, levando a comportamentos compulsivos e de risco. Prática de sexo desprotegido e infecção por doenças sexualmente transmissíveis, especialmente HIV, Sífilis, Gonorréia. 
Abaixo pareceres sobre o tema Modulação Hormonal

1) Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN): http://abran.org.br/2018/03/04/posicionamento-sobre-a-modulacao-hormonal/
2) Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM): https://www.endocrino.org.br/alerta-sbem-nao-existe-especialista-em-modulacao-hormonal/
4) Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO): http://www.abeso.org.br/pdf/Posicionamento%20SBEM%20-%20anti-aging2.pdf
8) Conselho Federal de Medicina (CFM): O parecer do CFM que proíbe a prática de modulação hormonal no Brasil está disponível aqui: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1999_2012.pdf No link a seguir você encontrará inúmeros pareceres de sociedades médicas sérias sobre o tema, isso basta para que não estimulemos modulação hormonal e hormônios ditos bioidênticos http://www.drfredericolobo.com.br/2016/07/pareceres-de-sociedades-medicas-contra.html

Autores:
Frederico Lobo – Médico Nutrólogo
Natália Jatene – Médica Endocrinologista
Edite Magalhães - Médica especialista em Clínica médica
Leandro Houat – Médico de família de comunidade
Rodrigo Lamonier – Nutricionista e profissional da Educação física
Márcio José de Souza – Profissional da Educação Física e graduando em Nutrição

domingo, 30 de outubro de 2022

Posicionamento de Sociedades Médicas sobre uso de Esteroides androgênicos anabolizantes (EAAs)

Recentemente duas grandes sociedades médicas se posicionaram sobre a prescrição de Esteroides androgênicos anabolizantes, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Sociedade Brasileira de Medicina do exercício e do esporte (SBMEE). Os posicionamentos estão disponíveis abaixo e podem ser acessados na íntegra em:



SBEM

Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sobre o uso de Esteroides Anabolizantes e similares para fins estéticos ou para ganho de desempenho esportivo.

A testosterona é o hormônio responsável pelo desenvolvimento de características sexuais masculinas. Os esteroides anabolizantes e similares (EAS) foram criados através da modificação da molécula de testosterona na tentativa de ampliar seus efeitos anabolizantes e reduzir seus efeitos virilizantes.

A reposição terapêutica de testestorona está indicada em situações de deficiência diagnosticada em homens, quadro clínico denominado hipogonadismo, cujos critérios diagnósticos são bem estabelecidos por diretrizes de várias sociedades médicas publicadas na literatura. O uso da testosterona também está indicado para terapia hormonal cruzada no cuidado à pessoa com incongruência de gênero ou transgênero.

Tanto a testosterona quanto os EAS têm sido estudados com fins terapêuticos em outras condições clínicas específicas, mas ainda sem comprovação de eficácia e, especialmente, trazendo inúmeras preocupações dos especialistas com relação à segurança de seu uso no longo prazo. 

O uso dessas substâncias para fins de ganho de desempenho no esporte amador, para fins estéticos ou como agentes anti-envelhecimento é desprovido de qualquer base científica e é acompanhado de riscos bem descritos na literatura, justificando a proibição de seu uso nestes casos pelo Conselho Federal de Medicina através da Resolução no 1999/2012. O uso dos EAS por atletas de competição é proibido pelo Comitê Olímpico Internacional desde a década de 1970.

O uso disseminado de EAS dentro e fora do esporte de elite, especialmente em fitness, por aqueles que desejam melhorar a aparência e o condicionamento físico, tornou-se uma verdadeira epidemia mundial e deve ser considerado um grande problema social e de saúde pública também no nosso país.

O culto atual ao "corpo perfeito", frequentemente estimulado pela mídia e por algumas celebridades, blogueiros, atletas e profissionais da saúde, estimula o uso de EAS, independente de sexo, idade e condição cultural e social. Os vários riscos resultantes da abusiva aplicação off label e anti-ética desses agentes são desconsiderados em prol de um mercado extremamente lucrativo, que guarda similaridades com o comércio e tráfico de drogas ilícitas e armas, envolvendo inclusive contrabando e manipulação em laboratórios clandestinos.

Por essa razão, a prevalência de uso de EAS não é totalmente conhecida, mas estima-se que 3,3% da população (homens 6,4%, mulheres 1,6%) seja usuária ocasional ou frequente, sendo que esse percentual pode chegar a 18,4% entre esportistas recreacionais, 13,4% entre atletas, 12,4% entre prisioneiros, 8% entre tóxico-dependentes e 2,3% entre estudantes do ensino médio. A dependência de EAS pode atingir cifras de até 57,1% dos usuários, e é muito mais frequente neste grupo o abuso de outras substâncias como álcool, nicotina e cocaína, assim como a prevalência de hepatite B, hepatite C e infecções pelo HIV

Os efeitos adversos da testosterona normalmente são leves e facilmente tratáveis nas doses terapêuticas utilizadas na reposição hormonal do hipogonadismo, mas, nos casos de abusos e utilização off label da testosterona e EAS, esses efeitos adversos podem ser severos, irreversíveis e potencialmente fatais, uma vez que são usadas doses 5-15 vezes maiores que as doses clínicas preconizadas, muitas vezes em preparações manipuladas sem qualquer controle sanitário e até mesmo indicadas para uso veterinário.

Os usuários de EAS acreditam que podem evitar tais efeitos colaterais indesejados ou maximizar os efeitos das drogas utilizando-as de maneiras que incluem: (a) ciclos: aplicações intercaladas com períodos variáveis de interrupção do uso; (b) associações: combinação de dois ou mais tipos diferentes de EAS; (c) pirâmides: aumento progressivo nas doses e/ou frequência de uso seguido de reduções graduais. 

Não há, obviamente, nenhuma evidência científica de que qualquer uma dessas práticas reduza as consequências nocivas do abuso dessas substâncias, sendo ainda mais preocupante a associação de EAS com outros agentes que elevam substancialmente o risco de efeitos adversos sérios para a saúde dos usuários.

Neste sentido, é comum o uso combinado de EAS com o hormônio do crescimento para potencializar o efeito anabólico, hormônio tiroidiano para acelerar o metabolismo, gonadotrofina coriônica humana para impedir e neutralizar a redução no tamanho testicular, inibidores da aromatase para evitar ginecomastia, inibidores da 5 α redutase para prevenir a acne e a calvície e diuréticos para evitar retenção hídrica.

Os efeitos colaterais do abuso com EAS incluem a supressão gonadal, infertilidade, ginecomastia, acne, calvície, hepatotoxicidade, perturbações psiquiátricas (comportamento agressivo e suicida, depressão, risco de crimes aumentado), dependência, abscessos cutâneos e musculares e lesões ortopédicas. Nas mulheres, além de vários desses eventos adversos, são comuns as manifestações de hiperandrogenismo que incluem hirsutismo, engrossamento da voz, clitoromegalia e alopecia androgênica. 

O abuso prévio de EAS é a causa mais frequente de hipogonadismo entre homens jovens, sendo responsável por 43% dos casos. Com o uso prolongado de EAS, ocorre redução do volume e afilamento do córtex cerebral e aumento nas dimensões do núcleo accumbens, lesões essas implicadas como substrato anatômico para o desenvolvimento de comportamentos de dependência de drogas. No sistema cardiovascular, o abuso prolongado de doses suprafisiológicas de EAS exerce efeitos deletérios na fibra miocárdica provocando apoptose e/ou hipertrofia e consequentemente hipertensão, disfunção diastólica e sistólica, arritmias e morte súbita. Além disso, os EAS promovem efeitos deletérios sobre fatores de risco para doença cardiovascular aterosclerótica, como elevação de LDL, redução de HDL, aumento da eritropoiese e da agregação plaquetária, hipercoagulabilidade, que resultam numa taxa de mortalidade três vezes maior entre os usuários de EAS.

Diante de todas essas evidências científicas e do grave problema de saúde pública relacionado a este tema, a SBEM vem através deste posicionamento cobrar atitudes urgentes das autoridades competentes, com a adoção de medidas mais efetivas no intuito de coibir e vedar o uso anti-ético, off label e ilegal de EAS, através da regulamentação e controle da prescrição médica dessas substâncias, preservando os tratamentos previstos para as indicações que são amplamente estabelecidos na literatura médica.

Assinam esse posicionamento:

Dr. César Luiz Boguszewski 
Presidente SBEM Biênio 2021/2022 

Dr. Paulo Augusto Carvalho de Miranda
Vice-Presidente SBEM Biênio 2021/2022

Dr. Alexandre Hohl
Presidente do Depto de End. Feminina, Andrologia e Transgeneridade

Dr. Clayton Luiz Dornelles Macedo
Presidente da Comissão de Endocrinologia do Exercício e Esporte 

Referências:
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  2. Bates G, Van Hout MC, Teck JTW, McVeigh J. Treatments for people who use anabolic androgenic steroids: a scoping review. Harm Reduct J. 2019;16(1):75.
  3. Bertozzi G, Salerno M, Pomara C, Sessa F. Neuropsychiatric and Behavioral Involvementin AAS Abusers. A Literature Review. Medicina (Kaunas). 2019;55(7):396.
  4. Committee on Sports Medicine and Fitness. Use of Performance-Enhancing Substances. Pediatrics.2005;115(4):1103-1106.
  5. Conselho Federal de Medicina. Resolução n o 1999/2012. Diário Oficial da União. Seção 1, pag 139, 19 de outubro de 2012. Disponível em  https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2012/1999
  6. Coward RM, Rajanahally S, Kovac JR, Smith RP, Pastuszak AW, Lipshultz LI. Anabolic steroid induced hypogonadism in young men. J. Urol. 2013;190:2200–2205.
  7. Diário Oficial da União. LEI Nº 9.965, DE 27 DE ABRIL DE 2000. Restringe a venda de esteróides ou peptídeos anabolizantes e dá outras providências. Disponível em https://www.jusbrasil.com.br/diarios/DOU/2000/04/28. Acessado em 05 de fevereiro de 2020.
  8. Doleeb S, Kratz A, Salter M, Thohan V. Strong muscles, weak heart: testosteroneinduced cardiomyopathy. ESC Heart Fail. 2019;6(5):1000–1004.
  9. El Osta R, Almont T, Diligent C, Hubert N, Eschwège P, Hubert J. Anabolic steroids abuse and male infertility. Basic Clin Androl.2016;26:2.
  10. Goldman AL, Pope HG, Bhasin S. The Health Threat Posed by the Hidden Epidemic of Anabolic Steroid Use and Body Image Disorders Among Young Men. J Clin Endocrinol Metab. 2019;104(4):1069–1074.
  11. Handelsman DJ. Androgen Misuse and Abuse. Endocr Rev. 2021 Jul 16;42(4):457-501.
  12. Hope VD, Harris R, McVeigh J, Cullen KJ, Smith J, Parry JV, DeAngelis D, Ncube F. Risk of HIV and Hepatitis B and C Over Time Among Men Who Inject Image and Performance Enhancing Drugs in England and Wales: Results From Cross-Sectional Prevalence Surveys, 1992-2013. J Acquir Immune Defic Syndr. 2016;71(3):331–337.
  13. Horwitz H, Andersen JT, Dalhoff KP. Health consequences of androgenic anabolic steroid use. J Intern Med. 2019;285(3):333–340.
  14. Irwig MS, Fleseriu M, Jonklaas J, Tritos NA, Yuen KCJ, Correa R, Elhomsy G, Garla V, Jasim S, Soe K, Baldeweg SE, Boguszewski CL, Bancos I. Off-label use and misuse of testosterone, growth hormone, thyroid hormone, and adrenal supplements: risks and costs of a growing problem. Endocr Pract. 2020 Mar;26(3):340-353.
  15. Jampel JD, Murray SB, Griffiths S, Blashill AJ. Self-Perceived Weight and Anabolic Steroid Misuse Among US Adolescent Boys. J Adolesc Health. 2016;58(4):397–402.
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  18. Long N, Bassi S, Pepito D, Akhondi H. Gerstmann syndrome complicating polycythemia secondary to anabolic steroid use. BMJ Case Rep. 2019;12(6):e229004.
  19. Macedo C. Fioretti AMB. O abuso de esteroides anabolizantes como um grande problema social e de saúde pública. Revista do DERC - Departamento de Ergometria, Exercício, Cardiologia Nuclear e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2020. doi:10.29327/22487.26.1-6.
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  26. Silva PRP. Prevalência do Uso de Agentes Anabólicos em Praticantes de Musculação de Porto Alegre. Arq Bras Endocrinol Metab, v. 51, n. 1, p. 104-110, 2007.
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  28. Wadthaisong M, Witayavanitkul N, Bupha-Intr T, Wattanapermpool J, de Tombe PP. Chronic high-dose testosterone treatment: impact on rat cardiac contractile biology. Physiol Rep. 2019;7(14):e14192.
SBMEE

São Paulo, 19 de outubro de 2022

A Medicina do Exercício e do Esporte é uma especialidade médica que tem uma ampla área de atuação, indo desde os cuidados dispensados a atletas até a utilização do exercício físico, na população geral, como um instrumento de promoção da saúde, nos âmbitos preventivo, terapêutico e/ou de reabilitação.
Tendo em vista que a detecção do uso indevido dos chamados Esteroides Anabolizantes e Similares, no esporte, tem sido frequentemente divulgada na imprensa e, paralelamente, observando-se uma crescente discussão nas mídias sociais e diversos meios de comunicação, chegando, por vezes, ao estímulo à sua utilização por parte de diferentes tipos de praticantes de exercício físico, vindo especialmente de “personalidades” e influenciadores digitais, alguns deles, infelizmente, profissionais da saúde, a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) se vê na obrigação de fazer o presente posicionamento sobre esse importante assunto.

No esporte competitivo, é reconhecido que os efeitos dos EAS, visando melhoria de desempenho físico, de forma ilícita e antiética, ferem os princípios da competição justa e limpa, sendo o seu uso condenado pelas grandes entidades esportivas, internacionalmente, com o controle do doping, por parte dessas instituições, sendo continuamente ampliado e aperfeiçoado, trazendo com ele as consequentes punições. Essas, infelizmente, podem prejudicar e até interromper, por vezes, carreiras potencialmente promissoras de atletas, mas que acreditaram no sedutor caminho de seguir atalhos que pareceram mais fáceis. Isso sem contar os diversos efeitos adversos que podem advir desse uso, sobejamente conhecidos. 

O impacto dos EAS no organismo é multissistêmico. Não há níveis seguros e alguns dos efeitos deletérios surgem rapidamente. No cérebro, determinam alterações comportamentais, agressividade, insônia e, a médio prazo, dependência. O aumento de massa muscular vem acompanhado de fragilidade dos tendões com maior risco de ruptura ao exercício. Na mulher, causam o surgimento de pelos corporais (hirsutismo), mudança no timbre de voz, amenorreia, atrofia das mamas, acne e infertilidade. No homem, alopecia, atrofia dos testículos, infertilidade, ginecomastia e, eventualmente, disfunção erétil e perda da libido. Alterações metabólicas são comuns, com aumento de colesterol e triglicerídeos sendo as mais preocupantes, juntamente com aumento da pressão arterial, todos eles fatores de risco
cardiovascular. Hipertrofia ventricular também foi relatada e, resultando dessas alterações, há um risco aumentado de desfechos cardiovasculares. Os EAS têm toxicidade hepática e, embora a associação com câncer de fígado não seja confirmada, alterações funcionais são comuns. Osteopenia é outro efeito descrito, particularmente em homens

Obviamente, esses mesmos problemas atingem usuários de EAS entre esportistas recreativos, frequentadores de academias e assemelhados, cuja utilização se estende também para fins estéticos e sociais. Nessa população, estratégias com falsas “evidências científicas” e trazendo denominações com apelo mercadológico, que visam dar a falsa impressão de condutas médicas adequadamente embasadas, como “antienvelhecimento”, “modulação hormonal”, entre outras, não apresentam nenhum respaldo científico, não sendo procedimentos reconhecidos pelas principais sociedades de especialidades médicas, entre as quais a SBMEE, como também pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Além disso, preocupa a disseminação de justificativa, igualmente irresponsável, de que caberia ao médico assistente, seja de um usuário de EAS ou daquele paciente que decidiu iniciar seu uso, com as finalidades acima citadas (ou seja, sem nenhuma indicação verdadeiramente terapêutica), orientá-lo sobre a “melhor forma” de utilização para, com isso, “evitar ou reduzir seus potenciais malefícios”.

Analogamente, seria o mesmo que aceitar ser correto orientar/prescrever a um paciente a maneira “mais adequada” de ser um tabagista ou usar entorpecentes. Seja qual for a situação, tudo se resume a uma explícita infração da ética profissional, levando até a potenciais implicações criminais. 

Outro ponto que está despertando muita atenção da SBMEE é o crescente assédio a alunos de medicina, por parte de alguns maus “profissionais”, que se valem da formação ainda incipiente dos acadêmicos, nessa área, para seduzi-los a ingressar neste terreno arenoso, através de palestras, perfis, postagens e/ou lives na internet, a grande maioria disponível gratuitamente. 

Nessas ações, tentam passar a falsa impressão de que o uso de EAS, principalmente para fins estéticos, ganho de desempenho esportivo e/ou condicionamento físico é procedimento “lícito, bastando serem seguidas as evidências científicas atuais”, podendo ser também “seguro, se bem prescrito/orientado”, e com grande perspectiva de sucesso profissional e financeiro. Esse comportamento, guardadas as proporções, lembra o de traficantes de drogas indo às portas de escolas em busca de novos e jovens
usuários, além da tentativa de aliciamento de potenciais estimuladores/vendedores.

Diante da gravidade dessa situação, a SBMEE vem, através deste documento, reforçar que condena o uso de EAS sem a devida indicação clínica, conforme recomendações bem estabelecidas, com o devido embasamento científico, pelas sociedades médicas de especialidades envolvidas com sua prescrição, e pelo CFM.

Portanto, a SBMEE refuta e desaprova veementemente a prescrição dessas substâncias com fins estéticos ou para ganho de desempenho físico, prática contraindicada e proscrita pela nossa especialidade.

Referências:
  1. Conselho Federal de Medicina. Resolução no 1999/2012. Diário Oficial da União. Seção 1, pag 139, 19 de outubro de 2012 https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2012/1999
  2. Diagnosis and Management of Anabolic Androgenic Steroid Use. Bradley D. Anawalt.The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, Volume 104, Issue 7, July 2019, Pages 2490–2500. https://doi.org/10.1210/jc.2018-01882
Assinam esse posicionamento 

Ivan Pacheco 
Presidente SBMEE

Marcelo B.Leitão
Diretor Científico

Marcos Henrique F. Laraya
Presidente Passado

Fernando Carmelo Torres
Presidente Eleito


A Associação Brasileira de Nutrologia (ABRA) emitiu 2 posicionamentos relacionados ao tema.

O primeiro foi em 2018 e diz o seguinte:

A Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) vem a público esclarecer que a denominada “modulação hormonal” não faz parte do rol de procedimentos da especialidade médica NUTROLOGIA. Existem situações clínicas nas quais a correção hormonal se faz necessária para o restabelecimento das funções fisiológicas normais, procedimento este que deve ser realizado pelo médico competente. 

Recomendamos aos médicos e à população em geral que, ao se referirem ou procurarem por um nutrólogo, assim como qualquer outra especialidade médica, que certifiquem se o mesmo realmente possui o título de especialista, o que deve ser feito por consulta ao registro da especialidade do Conselho Federal de Medicina (CFM) *.

*https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_medicos&Itemid=59



Já em 2019 ela publicou em seu site o seguinte posicionamento:

A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA – ABRAN, representada neste ato nos moldes de seu Estatuto e, no uso de suas atribuições legais, vem a público informar para os devidos fins de direito que:

Considerando-se a importância da Medicina baseada em evidências e, neste interim, em consonância com os procedimentos médicos e diretrizes científicas da Especialidade Médica Nutrologia, a Associação Brasileira de Nutrologia – ABRAN, vem a público informar e esclarecer que, nas competências da especialidade médica Nutrologia, conforme próprio Estatuto desta Associação, NÃO ESTÃO PREVISTAS E NÃO FAZEM PARTE DO ROL DE PROCEDIMENTOS DESTA ESPECIALIDADE:

1- A prática denominada MEDICINA ORTOMOLECULAR;
2- A prática de MEDICINA ANTI AGING ou ANTIENVELHECIMENTO;
3- A prática de OZONIOTERAPIA;
4- A Terapêutica Médica por MODULAÇÃO HORMONAL;
5- A prescrição de esteroides e anabolizantes sem indicação médica RESPALDADA PELA LITERATURA CIÊNTICA;
6- A prática de soroterapia endovenosa para administração de nutrientes QUANDO NÃO HÁ DEFICIÊNCIA.

Era o que tínhamos a informar, estando certos da compreensão de todos os envolvidos, nos colocando sempre à disposição para maiores esclarecimentos e embasamentos científicos.

À Diretoria.

Catanduva – SP, 14 de Março de 2019.


E mais recentemente (2022) a ABRAN fez uma postagem em seu instagram ( https://www.instagram.com/p/CgP5iVkvBzb/ ) com os seguintes dizeres:



sábado, 16 de julho de 2016

ATENÇÃO: Nutrólogos ou endocrinologistas não prescrevem Anabolizantes para fins estéticos


Os riscos do uso não médico (Handelsman, 2006) de esteróides anabolizantes androgênicos (EAA) é um tema recorrente em artigos científicos, jornais e revistas especializadas. No momento está ganhando notoriedade na mídia pois alguns médicos "instituíram" por conta própria a prescrição para fins estéticos.

Esse consumo tem sido relacionado a homens e mulheres jovens de variadas camadas sociais e padrões econômicos, que buscam obter rapidamente a musculosidade (hipertrofia e definição muscular) e a melhora do desempenho físico (efeito ergogênico).

Indubitavelmente, com a forte demanda, a fiscalização frouxa e com altos lucros falando mais altos, médicos turbinam os resultados graças a uma roleta-russa química na qual se destaca o abuso dos EAA.


A insatisfação com a imagem corporal tem sido descrita como uma das causas do abuso de EAA, exercendo considerável influência na motivação de homens jovens, que buscam um ideal de musculosidade, tomando por base modelos de corpo masculino sugeridos pela mídia, particularmente em publicações especializadas. É claramente um transtorno psiquiátrico. Vemos uma ascensão dos transtornos alimentares (Bulimia, anorexia, transtorno da compulsão alimentar periódica, vigorexia, ortorexia). A crença de que corpo bonito é um corpo sarado ou bombado, na maioria das vezes irreais pelos métodos convencionais, ou seja, quase sempre "esculpido por EAA", acaba sendo gatilho para esses transtornos alimentares e uso de EAA (com seus efeitos adversos).

Os danos provocados pelo uso indiscriminado de EAA são apontados em vários estudos (Bispo et al., 2009; Samaha et al., 2008; McCabe et al., 2007; Graham et al., 2006;).

Complicações funcionais cardíacas e hepáticas, bem como diversos tipos de câncer que podem levar à morte estão entre os efeitos adversos mencionados com maior frequência, seguidos de alterações psíquicas e comportamentais de indivíduos que abusaram de doses de EAA, envolvendo, em alguns casos, episódios de agressão e violência interpessoal (Thiblin, Pärklo, 2002).



Portanto, sob esta ótica, o consumo de substâncias ergogênicas, seja no âmbito esportivo ou amador, não é recomendado, por não compensarem os danos que traz para os indivíduos saudáveis. O uso de EAA é reservados para casos específicos. A  indicação  mais  precisa  da  terapia com EAA é quando a função endócrina dos testículos está deficiente. As principais indicações são:
  1. Hipogonadismo
  2. Caquexia: seja por HIV, Câncer, Doença pulmonar obstrutiva crônica, Miastenia gravis, 
  3. Para o tratamento de anemias causadas pela produção deficiente de eritrócitos; anemia aplástica congênita, anemia aplástica adquirida, a mielofibrose e as anemias hipoplásticas;
  4. Insuficiência renal cursando com desnutrição, sarcopenia e caquexia
  5. Sarcopenia
  6. Angioedema hereditário
  7. Grandes queimados
  8. Puberdade tardia

De acordo com a portaria Nº 344 de 12 de maio de 1998(DOU de 1/2/99), atualizada  pela  resolução RDC  nº  18/2015 da  Agência Nacional de Vigilância Sanitária  - ANVISA,  os esteróides  anabolizantes  são os seguintes:



É importante salientar que NENHUM Nutrólogo, Endocrinologista, Médico do Esporte ou qualquer médico tem aval do Conselho Federal de Medicina e respectivas sociedades médicas para prescrever anabolizantes com finalidade estética ou efeito ergogênico. O uso deve ser reservado para doenças. Prescrição para outros fins não é ensinado nas residências ou pós-graduações de Nutrologia ou Endocrinologia. Portanto se o seu médico te prescreveu com essa finalidade, ele cometeu uma infração ética, podendo receber processo ético-profissional pelo Conselho Regional de Medicina.

#AnabolizantesSoParaDoentes
#AnabolizantesParaFinsEsteticos
#BombaTôFora

Vamos para as comprovações LEGAIS dessa proibição:
1) Antes de PROIBIÇÃO por parte do CFM, existe desde 2000 uma Lei federal na qual obriga as farmácias a reterem por 5 anos as receitas de anabolizantes. "A receita de que trata este artigo deverá conter a identificação do profissional, o número de registro no respectivo conselho profissional (CRM ou CRO), o número do Cadastro da Pessoa Física (CPF), o endereço e telefone profissionais, além do nome, do endereço do paciente e do número do Código Internacional de Doenças (CID), devendo a mesma ficar retida no estabelecimento farmacêutico por cinco anos." Portanto se necessita de CID, subentende-se perante a justiça que a finalidade não é estética e sim em decorrência de alguma doença. Link para a lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9965.htm

A lei é confirmada na Cartilha para prescrição, elaborada pelo CFM: http://portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/cartilhaprescrimed2012.pdf
Como nesse caso há uma quebra do sigilo médico (pois informará a doença do paciente através do número do CID 10) recomenda-se, embora seja dever legal, que o médico obtenha autorização por escrito do paciente para divulgar o diagnóstico.

2) Resolução CFM Nº 1.999/2012 que trata sobre a
 "A falta de evidências científicas de benefícios e os riscos e malefícios que trazem à saúde não permitem o uso de terapias hormonais com o objetivo de retardar, modular ou prevenir o processo de envelhecimento."
"CONSIDERANDO que é vedada ao médico a prescrição de medicamentos com indicação ainda
não aceita pela comunidade científica;"
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária realizada em 27 de setembro de
2012,
"RESOLVE:
Art. 1º A reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos essenciais se fará somente em caso de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínico, ou de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados."
Portanto, de acordo com o CFM, se não há déficit de um hormônio, com comprovação laboratorial e quadro clínico, esse hormônio não deve ser prescrito. Ou seja, finalidade estética é proibida pelo Conselho Federal de medicina. Link para a resolução: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1999_2012.pdf

3) Parecer do CFM sobre Modulação hormonal bioidêntica e fisiologia do envelhecimento. Link para o parecer: http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2012/29_2012.pdf

4) Parecer do CFM sobre Prescrição de anabolizantes e hormônio de crescimento para
ganho de massa muscular em atletas. Link para o parecer: http://old.cremerj.org.br/anexos/ANEXO_PARECER_CFM_19.pdf


Autores:

Dr. Frederico Lobo (Médico de Goiânia - GO) @drfredericolobo
Dra. Natalia Jatene (Endocrinologista de Goiânia - GO) @dra.nataliajatene
Dr. Ricardo Martins Borges (Nutrólogo de Ribeirão Preto – SP, mestre em medicina pela FMRP – USP) @clinicaricardoborges,
Dra. Tatiana Abrão (Endocrinologista e Nutróloga de Sorocaba – SP) @tatianaabrao,
Dr. Daniella Costa (Nutróloga de Uberlândia – MG) @dradaniellacosta,
Dr. Mateus Severo (Endocrinologista de Santa Maria – RS, Mestre em Ciências Médicas – Endocrinologia pela UFRGS e doutorando em Ciências médicas – Endocrinologia pela UFRGS) @drmateusendocrino,
Dr. Pedro Paulo Prudente (Médico do esporte  e Acupunturista em Goiânia - GO) @vivamelhorsemdor
Dra. Patrícia Salles (Endocrinologista de São Paulo – SP, mestre em Endocrinologia pela FMUSP), @endoclinicdoctors,
Dra. Camila Bandeira (Endocrinologista de Manaus – AM) @endoclinicdoctors,
Dra. Flávia Tortul (Endocrinologista de Campo Grande – MS) @flaviatortul,
Dr. Reinaldo Nunes (Endocrinologista e Nutrólogo de Campos – RJ, mestre em endocrinologia pela UFRJ) @drreinaldonunes.


Bibliografia:







Bispo, M. et al. Anabolic steroid-induced cardiomyopathy underlying acute liver failure in a young bodybuilder. World J. Gastroenterol., v.15, n.23, p.2920-2, 2009.

Graham, M.R. et al. Homocysteine induced cardiovascular events: a consequence of long term anabolic androgenic steroid (AAS) abuse. Br. J. Sports Med., v.40, n.7, p.644-8, 2006.

Handelsman, D.J. Testosterone: use, misuse and abuse. Med. J. Aust., v.185, n.8, p.436-9, 2006.

McCabe, S.E. et al. Trends in non-medical use of anabolic steroids by U.S. college students: results from four national surveys. Drug Alcohol Depend., v.90, n.2-3, p.243- 51, 2007.

Samaha, A.A. et al. Multi-organ damage induced by anabolic steroid supplements: a case report and literature review. J. Med. Case Rep., v.2, n.340, 2008. Disponível em: www.jmedicalcasereports.com/content/2/1/340>

Thiblin, I.; Pärklo, T. Anabolic androgenic steroids and violence. Acta Psychiatr. Scand., v.106, suppl. 412, p.125-8, 2002.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Prescrição de esteróides anabolizantes para fins estéticos - Uma prática condenada pelo Conselho Federal de Medicina


Os riscos do uso não médico (Handelsman, 2006) de esteróides anabolizantes androgênicos (EAA) é um tema recorrente em artigos científicos, jornais e revistas especializadas. No momento está ganhando notoriedade na mídia pois alguns médicos "instituíram" por conta própria a prescrição para fins estéticos.

Esse consumo tem sido relacionado a homens e mulheres jovens de variadas camadas sociais e padrões econômicos, que buscam obter rapidamente a musculosidade (hipertrofia e definição muscular) e a melhora do desempenho físico (efeito ergogênico).

Indubitavelmente, com a forte demanda, a fiscalização frouxa e com altos lucros falando mais altos, médicos turbinam os resultados graças a uma roleta-russa química na qual se destaca o abuso dos EAA.


A insatisfação com a imagem corporal tem sido descrita como uma das causas do abuso de EAA, exercendo considerável influência na motivação de homens jovens, que buscam um ideal de musculosidade, tomando por base modelos de corpo masculino sugeridos pela mídia, particularmente em publicações especializadas. É claramente um transtorno psiquiátrico. Vemos uma ascensão dos transtornos alimentares (Bulimia, anorexia, transtorno da compulsão alimentar periódica, vigorexia, ortorexia). A crença de que corpo bonito é um corpo sarado ou bombado, na maioria das vezes irreais pelos métodos convencionais, ou seja, quase sempre "esculpido por EAA", acaba sendo gatilho para esses transtornos alimentares e uso de EAA (com seus efeitos adversos).




Os danos provocados pelo uso indiscriminado de EAA são apontados em vários estudos (Bispo et al., 2009; Samaha et al., 2008; McCabe et al., 2007; Graham et al., 2006;).

Complicações funcionais cardíacas e hepáticas, bem como diversos tipos de câncer que podem levar à morte estão entre os efeitos adversos mencionados com maior frequência, seguidos de alterações psíquicas e comportamentais de indivíduos que abusaram de doses de EAA, envolvendo, em alguns casos, episódios de agressão e violência interpessoal (Thiblin, Pärklo, 2002).



Portanto, sob esta ótica, o consumo de substâncias ergogênicas, seja no âmbito esportivo ou amador, não é recomendado, por não compensarem os danos que traz para os indivíduos saudáveis. O uso de EAA é reservados para casos específicos. A  indicação  mais  precisa  da  terapia com EAA é quando a função endócrina dos testículos está deficiente. As principais indicações são:
  1. Hipogonadismo
  2. Caquexia: seja por HIV, Câncer, Doença pulmonar obstrutiva crônica, Miastenia gravis, 
  3. Para o tratamento de anemias causadas pela produção deficiente de eritrócitos; anemia aplástica congênita, anemia aplástica adquirida, a mielofibrose e as anemias hipoplásticas;
  4. Insuficiência renal cursando com desnutrição, sarcopenia e caquexia
  5. Sarcopenia
  6. Angioedema hereditário
  7. Grandes queimados
  8. Puberdade tardia

De acordo com a portaria Nº 344 de 12 de maio de 1998(DOU de 1/2/99), atualizada  pela  resolução RDC  nº  18/2015 da  Agência Nacional de Vigilância Sanitária  - ANVISA,  os esteróides  anabolizantes  são os seguintes:



É importante salientar que NENHUM Nutrólogo, Endocrinologista, Médico do Esporte ou qualquer médico tem aval do Conselho Federal de Medicina e respectivas sociedades médicas para prescrever anabolizantes com finalidade estética ou efeito ergogênico. O uso deve ser reservado para doenças. Prescrição para outros fins não é ensinado nas residências ou pós-graduações de Nutrologia ou Endocrinologia. Portanto se o seu médico te prescreveu com essa finalidade, ele cometeu uma infração ética, podendo receber processo ético-profissional pelo Conselho Regional de Medicina.

#AnabolizantesSoParaDoentes
#AnabolizantesParaFinsEsteticos
#BombaTôFora

Vamos para as comprovações LEGAIS dessa proibição:
1) Antes de PROIBIÇÃO por parte do CFM, existe desde 2000 uma Lei federal na qual obriga as farmácias a reterem por 5 anos as receitas de anabolizantes. "A receita de que trata este artigo deverá conter a identificação do profissional, o número de registro no respectivo conselho profissional (CRM ou CRO), o número do Cadastro da Pessoa Física (CPF), o endereço e telefone profissionais, além do nome, do endereço do paciente e do número do Código Internacional de Doenças (CID), devendo a mesma ficar retida no estabelecimento farmacêutico por cinco anos." Portanto se necessita de CID, subentende-se perante a justiça que a finalidade não é estética e sim em decorrência de alguma doença. Link para a lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9965.htm

A lei é confirmada na Cartilha para prescrição, elaborada pelo CFM: http://portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/cartilhaprescrimed2012.pdf
Como nesse caso há uma quebra do sigilo médico (pois informará a doença do paciente através do número do CID 10) recomenda-se, embora seja dever legal, que o médico obtenha autorização por escrito do paciente para divulgar o diagnóstico.

2) Resolução CFM Nº 1.999/2012 que trata sobre a
 "A falta de evidências científicas de benefícios e os riscos e malefícios que trazem à saúde não permitem o uso de terapias hormonais com o objetivo de retardar, modular ou prevenir o processo de envelhecimento."
"CONSIDERANDO que é vedada ao médico a prescrição de medicamentos com indicação ainda
não aceita pela comunidade científica;"
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária realizada em 27 de setembro de
2012,
"RESOLVE:
Art. 1º A reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos essenciais se fará somente em caso de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínicoou de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados."
Portanto, de acordo com o CFM, se não há déficit de um hormônio, com comprovação laboratorial e quadro clínico, esse hormônio não deve ser prescrito. Ou seja, finalidade estética é proibida pelo Conselho Federal de medicina. Link para a resolução: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1999_2012.pdf

3) Parecer do CFM sobre Modulação hormonal bioidêntica e fisiologia do envelhecimento. Link para o parecer: http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2012/29_2012.pdf

4) Parecer do CFM sobre Prescrição de anabolizantes e hormônio de crescimento para
ganho de massa muscular em atletas. Link para o parecer: http://old.cremerj.org.br/anexos/ANEXO_PARECER_CFM_19.pdf


Autores:

Dr. Frederico Lobo (Nutrólogo de Goiânia - GO) @drfredericolobo
Dra. Natalia Jatene (Endocrinologista de Goiânia - GO) @dra.nataliajatene
Dr. Ricardo Martins Borges (Nutrólogo de Ribeirão Preto – SP, mestre em medicina pela FMRP – USP) @clinicaricardoborges,
Dra. Tatiana Abrão (Endocrinologista e Nutróloga de Sorocaba – SP) @tatianaabrao,
Dr. Daniella Costa (Nutróloga de Uberlândia – MG) @dradaniellacosta,
Dr. Mateus Severo (Endocrinologista de Santa Maria – RS, Mestre em Ciências Médicas – Endocrinologia pela UFRGS e doutorando em Ciências médicas – Endocrinologia pela UFRGS) @drmateusendocrino,
Dr. Pedro Paulo Prudente (Médico do esporte  e Acupunturista em Goiânia - GO) @vivamelhorsemdor
Dra. Patrícia Salles (Endocrinologista de São Paulo – SP, mestre em Endocrinologia pela FMUSP), @endoclinicdoctors,
Dra. Camila Bandeira (Endocrinologista de Manaus – AM) @endoclinicdoctors,
Dra. Flávia Tortul (Endocrinologista de Campo Grande – MS) @flaviatortul,
Dr. Reinaldo Nunes (Endocrinologista e Nutrólogo de Campos – RJ, mestre em endocrinologia pela UFRJ) @drreinaldonunes.
Prof. Márcio José de Souza - Personal Trainer 


Bibliografia:







Bispo, M. et al. Anabolic steroid-induced cardiomyopathy underlying acute liver failure in a young bodybuilder. World J. Gastroenterol., v.15, n.23, p.2920-2, 2009.

Graham, M.R. et al. Homocysteine induced cardiovascular events: a consequence of long term anabolic androgenic steroid (AAS) abuse. Br. J. Sports Med., v.40, n.7, p.644-8, 2006.

Handelsman, D.J. Testosterone: use, misuse and abuse. Med. J. Aust., v.185, n.8, p.436-9, 2006.

McCabe, S.E. et al. Trends in non-medical use of anabolic steroids by U.S. college students: results from four national surveys. Drug Alcohol Depend., v.90, n.2-3, p.243- 51, 2007.

Samaha, A.A. et al. Multi-organ damage induced by anabolic steroid supplements: a case report and literature review. J. Med. Case Rep., v.2, n.340, 2008. Disponível em: www.jmedicalcasereports.com/content/2/1/340>

Thiblin, I.; Pärklo, T. Anabolic androgenic steroids and violence. Acta Psychiatr. Scand., v.106, suppl. 412, p.125-8, 2002.