A popular dieta de jejum intermitente desacelera o crescimento capilar tanto em humanos quanto em camundongos, mostram experimentos.
Um regime de perda de peso amplamente adotado parece inibir o crescimento capilar, segundo dados coletados de camundongos e humanos. O estudo revela que o jejum intermitente, caracterizado por períodos curtos de privação alimentar, desencadeia uma resposta de estresse que pode inibir ou até matar células-tronco dos folículos capilares, responsáveis pelo crescimento do cabelo.
Os resultados, publicados hoje na revista Cell, sugerem que, embora o jejum de curto prazo possa trazer benefícios à saúde, como o aumento da longevidade em camundongos, nem todos os tecidos e tipos celulares se beneficiam.
“Fiquei chocado ao ouvir esses resultados”, diz Ömer Yilmaz, biólogo de células-tronco do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Cambridge, que não participou do estudo. “Estamos acostumados a pensar que o jejum é benéfico para a maioria, se não todos, os tipos celulares, e bom para as células-tronco. Isso é o oposto do que esperávamos, e parece ser verdadeiro também em humanos.”
Privação deliberada
Na última década, o jejum intermitente tornou-se um dos regimes de dieta mais populares; segundo estimativas, cerca de 12% dos adultos nos Estados Unidos o praticaram em 2023. Uma das formas mais comuns é a alimentação com restrição de tempo, que consiste em comer apenas dentro de um intervalo limitado de horas por dia.
As células-tronco parecem ser particularmente vulneráveis às mudanças na dieta. Por exemplo, Yilmaz e seus colegas relataram em agosto que as células-tronco no intestino de camundongos mostraram um aumento de atividade durante o período de alimentação pós-jejum, ajudando a reparar danos nos intestinos dos animais.
Para investigar se o jejum afeta o crescimento capilar, que pode ser influenciado pelo estresse, Bing Zhang, biólogo regenerativo da Universidade Westlake em Zhejiang, China, e seus colegas rasparam camundongos e os submeteram a dois regimes de jejum intermitente: alimentação com restrição de tempo e jejum em dias alternados, em que os animais jejuavam por 24 horas e, no dia seguinte, consumiam sua dieta normal. Ao final do estudo, que durou três meses, os camundongos em dieta não haviam recuperado tanto pelo quanto os animais do grupo controle, que consumiram um número semelhante de calorias, observaram os autores.
Os pesquisadores atribuíram esse efeito à morte das células-tronco dos folículos capilares. Experimentos adicionais mostraram que o jejum intermitente desencadeou uma comunicação entre as glândulas adrenais, responsáveis pela produção de hormônios do estresse, e as células de gordura na pele. Essa interação levou as células de gordura da pele a liberarem moléculas chamadas ácidos graxos, que prejudicaram o metabolismo das células-tronco e causaram danos que, em alguns casos, resultaram na morte das células-tronco. No entanto, a aplicação de um creme antioxidante antes e durante a dieta preveniu o comprometimento do crescimento capilar, sugerindo que esse efeito não é inevitável.
Para verificar se esse efeito também ocorre em humanos, os pesquisadores randomizaram 49 pessoas em dois grupos: um seguiu um regime de jejum intermitente, e o outro (grupo controle) consumiu alimentos sem restrições de tempo. O crescimento capilar no grupo de jejum foi 18% mais lento em comparação com o grupo controle. Testes moleculares identificaram evidências de que um mecanismo semelhante ao observado em camundongos poderia ser responsável por esse efeito.
É “intrigante” que esses efeitos não tenham se estendido às células-tronco relacionadas à produção e reparação da camada externa da pele, que forma uma barreira imunológica essencial, diz Elaine Fuchs, pesquisadora de células-tronco da Universidade Rockefeller, em Nova York, que não participou do estudo. “Pelo menos alguns de nós concordariam que, a menos que você seja um boi-almiscarado vivendo na tundra do Alasca, o cabelo é dispensável”, afirma Fuchs. “No jejum intermitente, o corpo não sabe quando será a próxima refeição, e a prioridade torna-se proteger os órgãos centrais, dispensando aqueles que não são essenciais.”
Yilmaz e seus colegas também identificaram outro ponto negativo do jejum intermitente: a dieta pode estimular o desenvolvimento de lesões intestinais pré-cancerígenas caso os camundongos apresentem uma mutação genética causadora de câncer durante o período pós-jejum. Esses achados, segundo Yilmaz, devem motivar mais investigações sobre os efeitos do jejum nas células do cérebro e do fígado.
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By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
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Embaixador das Comunidades Médicas de Endocrinologia - EndócrinoGram e DocToDoc