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quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Saúde Cardiometabólica da Mulher - Resumo das recomendações da SBC



Coração e metabolismo caminham juntos. Este guia prático traduz o Posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) para uma linguagem direta, focada na mulher. Saiba o que acompanhar em cada fase da vida e por que agendar seu check‑up cardiológico anual muda destinos.

Por que este posicionamento importa para você (mulher)?


A saúde do coração e do metabolismo andam juntas, e cuidar de ambas reduz drasticamente o risco de infartos e derrames ao longo da vida. O posicionamento de 2025 da SBC coloca as mulheres no centro de um plano prático, olhando para prevenção em todas as fases. A mensagem é direta: agir agora significa ganhar qualidade de vida e anos com mais energia, autonomia e segurança.

Mulheres ainda são menos estudadas em muitos ensaios clínicos, o que pode atrasar diagnósticos e tratamentos eficazes. Isso torna a consulta preventiva ainda mais valiosa, porque fecha lacunas e antecipa decisões. Não espere sintomas para se cuidar: check-up anual é investimento, não gasto.

Este resumo foi pensado para facilitar sua próxima consulta, transformando recomendações técnicas em passos simples e realistas. Leve suas dúvidas, seu histórico de saúde e metas pessoais. Juntas, você e sua equipe de saúde constroem um plano objetivo, com acompanhamento ao longo do ano.

O que é “saúde cardiometabólica”


Saúde cardiometabólica é o equilíbrio entre pressão arterial, açúcar no sangue, gorduras (colesterol e triglicerídeos) e composição corporal. Quando esses pilares estão alinhados, o corpo funciona com mais eficiência e o coração trabalha sem sobrecarga. Quando saem do eixo, aumentam o risco de infarto, AVC, insuficiência cardíaca e doença renal.

O olhar cardiometabólico é integrado: em vez de analisar cada exame isoladamente, o time de saúde observa o conjunto. Entram nessa avaliação medidas como IMC, circunferência da cintura, colesterol total e frações, triglicerídeos, glicemia e hemoglobina glicada. Com esse painel, definem-se metas realistas e um plano de ação sob medida.

Medidas simples orientam mudanças de estilo de vida e, quando necessário, o uso de medicamentos de alto impacto. O plano pode incluir alimentação balanceada, atividade física, sono de qualidade e manejo do estresse. O acompanhamento periódico ajusta rotas com rapidez e evita que pequenos desvios virem grandes problemas.

Mulheres: subdiagnóstico e subtratamento


Mesmo com avanços, muitas mulheres seguem menos diagnosticadas e menos tratadas para doenças cardiovasculares. Isso ocorre por diferenças biológicas, vieses históricos na pesquisa e sinais atípicos em comparação aos homens. Resultado: terapias eficazes podem ser iniciadas mais tarde do que deveriam.

Saber disso muda o jogo porque traz urgência para a prevenção. Não espere dor no peito para procurar ajuda, pois o primeiro sintoma às vezes já é um evento grave. O check-up anual identifica riscos silenciosos e cria um plano prático de proteção.

Na consulta, leve histórico menstrual, gestações, menopausa, métodos contraceptivos e tratamentos hormonais. Esses eventos moldam seu risco cardiometabólico e ajudam a personalizar decisões. Quanto mais informação, mais preciso será o seu plano.

Inflamação: o “fogo baixo” que acelera doenças


A inflamação crônica é um “fogo baixo” que alimenta hipertensão, resistência à insulina e placas de gordura nas artérias. Ela pode aumentar em fases específicas da vida, como gravidez, pós-parto e menopausa. Se não é controlada, acelera o envelhecimento dos vasos e aumenta eventos cardiovasculares.

Cuidar do peso, dormir bem e tratar condições inflamatórias faz diferença concreta nos marcadores do sangue. Pequenas vitórias diárias, como regularidade no sono e alimentação rica em fibras, baixam esse “fogo” silencioso. Seu time de saúde pode incluir exames inflamatórios quando indicados.

Algumas condições ginecológicas, como endometriose, têm forte componente inflamatório com impacto no coração. Reconhecer e tratar reduz dor, melhora qualidade de vida e protege os vasos sanguíneos. O check-up é a ponte entre sintomas cotidianos e prevenção de longo prazo.

Hormônios femininos e o coração


Estrogênio, progesterona e andrógenos influenciam pressão, perfil de colesterol e sensibilidade à insulina. Alterações hormonais da adolescência à menopausa mexem com metabolismo, composição corporal e bem-estar. Por isso, decisões sobre anticoncepção e terapia hormonal precisam ser personalizadas.

Na síndrome dos ovários policísticos, o desequilíbrio hormonal pode elevar inflamação e resistência à insulina. Isso favorece ganho de gordura central e alterações nas gorduras do sangue. Mudanças de estilo de vida e, quando necessário, medicações direcionadas reduzem esse risco.

Anticoncepcionais e terapia hormonal da menopausa têm perfis diferentes conforme dose, via e tempo de uso. A avaliação anual pondera benefícios e riscos de acordo com idade, sintomas e fatores individuais. Informação clara e acompanhamento próximo deixam as escolhas mais seguras.

Indicadores que você deve acompanhar


Peso e composição corporal importam, mas o IMC isolado não conta toda a história. A circunferência da cintura e a relação cintura–quadril estimam melhor a gordura abdominal, que é mais ativa e inflamatória. A meta é reduzir a gordura central, preservando massa muscular.

Seu painel laboratorial inclui colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos, além de glicemia e hemoglobina glicada. Esses números, vistos em conjunto, apontam prioridades e metas de curto prazo. Em alguns casos, a proteína C reativa e outros marcadores ajudam na estratificação.

Anote seus resultados e leve-os na consulta para comparar ao longo do tempo. Estabeleça metas trimestrais e semestrais realistas, evitando mudanças radicais e insustentáveis. O progresso consistente supera soluções rápidas que não duram.

Adolescência e início da vida reprodutiva


A saúde cardiometabólica começa cedo, ainda na adolescência. Menarca muito precoce ou tardia e ciclos irregulares persistentes merecem atenção, porque podem sinalizar alterações metabólicas. Intervir cedo evita “efeito bola de neve” na vida adulta.

A escola e a família têm papel essencial na formação de hábitos duradouros. Rotina ativa, sono regular e alimentação com comida de verdade constroem resiliência metabólica. Consultas anuais abrem espaço para educação em saúde e autonomia.

Se houver sinais de SOP, investigue e trate de forma multidisciplinar. É possível reduzir resistência à insulina e equilibrar hormônios com mudanças graduais e consistentes. Quanto antes começar, mais fácil manter o caminho.

SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos)


A SOP é mais do que pele e ciclo menstrual: é uma condição cardiometabólica de atenção permanente. O quadro costuma envolver inflamação, resistência à insulina e maior tendência a dislipidemia. O cuidado é contínuo, com metas claras e reavaliações frequentes.

Mudanças no estilo de vida têm efeito potente e somam com as medicações quando indicadas. Alimentação com fibras, proteína suficiente e gorduras de qualidade melhora saciedade e exames. Atividade física regular preserva massa magra e sensibiliza o organismo à insulina.

O acompanhamento anual evita surpresas e permite ajustes finos nas metas. O objetivo é reduzir gordura central, melhorar marcadores no sangue e estabilizar o ciclo. Com consistência, os resultados aparecem de forma sustentável.

Infertilidade e risco cardiometabólico


Tratamentos para infertilidade podem se associar a riscos como diabetes gestacional e hipertensão na gravidez. Isso não é motivo para adiar o sonho, mas para planejar com mais cuidado. O pré-natal começa antes de engravidar, no check-up de rotina.

Estilo de vida saudável melhora fertilidade e protege o coração ao mesmo tempo. Em caso de excesso de peso, perder alguns quilos pode aumentar as chances reprodutivas e reduzir complicações. Pequenas mudanças somadas trazem grandes resultados.

Mesmo quando os benefícios sobre taxas de fertilização não são garantidos, o ganho para saúde geral é claro. A conversa franca com sua equipe alinha expectativas e decisões seguras. Planejar vale ouro para a mãe e para o bebê.

Gestação: ganho de peso adequado


O IMC pré-gestacional e o ganho de peso durante a gravidez influenciam desfechos para mãe e bebê. Excesso de ganho aumenta cesárea, hipertensão e internação neonatal; ganho insuficiente também traz riscos. Curvas brasileiras orientam metas individualizadas para cada trimestre.

Monitorar o peso em todas as consultas do pré-natal é uma medida simples e poderosa. O foco é favorecer crescimento fetal saudável e preservar a saúde materna. Alimentação balanceada e atividade física segura fazem parte do plano.

O acompanhamento multiprofissional ajuda a resolver dúvidas do dia a dia. Ajustes na rotina e no cardápio, com metas realistas, evitam sustos no final da gestação. O pós-parto já começa a ser planejado durante a gravidez.

Gestação: glicose e gorduras


Alterações de glicose na gestação aumentam o risco de diabetes no futuro, por isso o rastreio pós-parto é essencial. Dislipidemia gestacional pode impactar vasos da mãe e do bebê, especialmente em níveis muito elevados. Atenção e manejo precoce reduzem complicações.

Em quadros graves, crescem as chances de pré-eclâmpsia e parto prematuro. O acompanhamento obstétrico integrado à cardiologia e à nutrologia melhora a segurança. Cada consulta é uma oportunidade de ajuste fino no cuidado.

Filhos de mães com lipídios elevados podem carregar maior risco de aterosclerose no futuro. Prevenir hoje protege gerações. O puerpério é uma janela de ouro para consolidar hábitos saudáveis.

Pós-parto: janela de ouro


Após o parto, a recuperação do peso costuma ser incompleta sem um plano estruturado. Vigiar marcadores cardiometabólicos e hábitos reduz a chance de hipertensão e síndrome metabólica adiante. O cuidado continua, agora com novas prioridades.

Quem teve diabetes gestacional deve manter acompanhamento próximo, porque o risco futuro de diabetes sobe. Amamentar ajuda no gasto energético e melhora o metabolismo da glicose e dos lipídios. Esses benefícios se somam a impactos emocionais positivos.

A prolactina elevada no puerpério também se relaciona a melhor sensibilidade à insulina. Com orientação, esse período pode redefinir sua saúde para a próxima década. Inclua metas de sono, alimentação e movimento no novo ritmo da família.

Endometriose e o coração


A endometriose tem forte componente inflamatório que pode dialogar com o sistema cardiovascular. Mulheres com endometriose apresentam maior risco de hipertensão e alterações de lipídios em alguns estudos. O manejo adequado reduz dor e pode proteger o coração.

Marcadores como interleucinas e fatores angiogênicos ajudam a entender essa ponte entre útero e vasos. Embora nem sempre medidos na rotina, lembram que o corpo funciona como um todo integrado. Tratar a base inflamatória é estratégico para longo prazo.

Inclua a endometriose no seu histórico durante o check-up anual e discuta sintomas persistentes. Estratégias anti-inflamatórias de estilo de vida, analgesia adequada e acompanhamento ginecológico fazem diferença. Prevenir complicações é um cuidado de corpo inteiro.

Transição menopausal e pós-menopausa


A queda do estradiol na transição menopausal favorece ganho de gordura central, dislipidemia e resistência à insulina. Essas mudanças aumentam risco cardiometabólico, mesmo com peso na balança aparentemente estável. É hora de olhar com lupa para cintura, exames e hábitos.

Sintomas vasomotores intensos pedem avaliação de risco global antes de escolher tratamento. A terapia hormonal pode ser considerada caso a caso, conforme idade, tempo de menopausa e perfil individual. Via de administração e dose influenciam o perfil de segurança.

Reavaliar anualmente mantém o equilíbrio entre benefícios e riscos. Ajustes são comuns e fazem parte do processo de cuidado. O objetivo é qualidade de vida com proteção cardiovascular.

Estilo de vida que protege


Atividade física regular preserva massa magra, melhora condicionamento e reduz resistência à insulina. O ideal é somar exercícios aeróbicos e de força, respeitando condições pessoais e preferências. Comece pequeno, mas comece hoje, e progrida com consistência.

Dormir bem é terapêutico: menos de cinco horas por noite desorganiza hormônios e favorece ganho de peso. Higiene do sono, rotina estável e exposição à luz natural ajudam a regular o relógio biológico. Seu coração sente a diferença quando o descanso é prioridade.

Na alimentação, pense em comida de verdade, fibras, proteína adequada e gorduras de qualidade. Reduza bebidas açucaradas e excesso de frutose para aliviar o fígado e o pâncreas. Pequenos cortes diários somam grandes resultados em poucos meses.

Tabaco e álcool: vilões silenciosos


O cigarro aumenta inflamação, estresse oxidativo e danos às paredes dos vasos. Parar de fumar traz benefícios medidos em semanas e meses, e o suporte profissional aumenta a taxa de sucesso. Se você fuma, faça do check-up o ponto de virada.

O álcool em excesso eleva o risco de síndrome metabólica, hipertensão e gordura no fígado. Estabeleça limites claros e adequados à sua realidade de saúde e rotina. Conversar abertamente sobre consumo é parte do cuidado integral.

Microvitórias importam: cada mês sem cigarro e cada semana com consumo mais consciente já melhoram o perfil de risco. Use metas curtas e recompensas saudáveis para manter a motivação. Seu futuro agradece as escolhas do presente.

Medicamentos que salvam vidas (quando indicados)


Quando mudanças de estilo de vida não bastam, medicamentos bem indicados fazem enorme diferença. Em diabetes, metformina é base frequente, enquanto iSGLT2 e análogos de GLP‑1 protegem coração e rins. Em pessoas com obesidade, tirzepatida e GLP‑1 ajudam no peso, glicose e desfechos cardiovasculares.

Cada classe tem benefícios e cuidados próprios, como risco de hipoglicemia com algumas opções antigas. Por isso, a prescrição é personalizada e alinhada ao seu perfil e às suas metas. Monitorar efeitos e resultados é parte do tratamento.

Na esteatose hepática metabólica, o plano inclui reduzir álcool e bebidas açucaradas e, em casos selecionados, usar medicações específicas. Cirurgia bariátrica pode ser opção em obesidade grave, conforme critérios e avaliação de equipe especializada. O objetivo é sempre equilibrar eficácia e segurança.

Particularidades femininas no tratamento


Mulheres em uso de análogos de GLP‑1 ou tirzepatida devem alinhar anticoncepção e planejamento reprodutivo. Algumas medicações exigem pausas antes de tentativas de gravidez, e isso precisa ser conversado. Informação evita sustos e aumenta a segurança.

O manejo ideal combina remédios com metas realistas e apoio comportamental contínuo. Técnicas estruturadas de mudança de hábito ajudam a transformar intenção em rotina. Consultas de acompanhamento mantêm a motivação alta e ajustam o plano.

Individualização é a palavra-chave: o que funciona para sua amiga pode não ser o melhor para você. Idade, histórico, exames e preferências pesam na balança das decisões. Seu plano é único, como você.

Organizando seu check-up anual


Leve anotações sobre ciclo, gestações, contracepção, sintomas de menopausa, histórico familiar e exames anteriores. Esses dados encurtam o caminho entre avaliação e decisão. Quanto mais completo o retrato, mais certeiro o plano.

Peça avaliação antropométrica completa com metas de cintura e de peso acordadas. Estabeleça indicadores intermediários para acompanhar a evolução a cada três e seis meses. A previsibilidade das metas facilita manter o foco.

Converse sobre sono, atividade física, alimentação e saúde emocional. Esses pilares têm peso igual ao dos remédios e impactam diretamente seus exames. Transformar o cuidado em rotina é o verdadeiro segredo de longo prazo.

Mulher, faça o seu check-up anual


Não espere sintomas para agir, porque o primeiro sinal pode ser um evento sério. O check-up anual encurta o caminho entre risco silencioso e solução prática. Com informação, você ganha autonomia e evita surpresas.

Se você teve diabetes gestacional, pré‑eclâmpsia ou SOP, seu acompanhamento precisa ser ainda mais próximo. Na transição menopausal, ajustes de metas são essenciais porque o corpo muda e o plano acompanha. A prevenção certa no momento certo muda destinos.

Marque seu check-up ginecológico e cardiológico anual. Leve este material para uma consulta objetiva. Saia com metas em 3, 6 e 12 meses e combine um retorno para celebrar avanços. Seu coração e sua qualidade de vida merecem essa prioridade.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 
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segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Diagnóstico de diabetes na gestação pode trazer preocupação à saúde do bebê

O diagnóstico de diabetes gestacional pode vir como um choque para uma futura mãe. E agora? Não posso mais comer doce? Preciso me preocupar com a saúde do bebê?

Essa realidade pode se tornar cada vez mais frequente, uma vez que a prevalência de diabetes mellitus gestacional (DMG) tem crescido no país e no restante do mundo. De acordo com dados reunidos pela SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) para o ano de 2021, estima-se que de 16% a 18% dos nascidos vivos no Brasil são gerados por mulheres que tiveram alguma forma de hiperglicemia durante a gravidez.

Em todo o mundo, a prevalência varia de 3% a 25%. São esperados de 200 a 300 milhões de bebês nascidos anualmente de mães com algum tipo de hiperglicemia.

O diabetes mellitus gestacional é definido como hiperglicemia em graus variados, detectada pela primeira vez durante a gravidez, com nível glicêmico que não atinge os critérios diagnósticos para diabetes mellitus (acima de 92 miligramas por decilitro e abaixo de 126), segundo definição da Opas-OMS (Organização Pan-Americana para a Saúde ligado à Organização Mundial da Saúde).

Já o diagnóstico de diabetes mellitus durante a gestação é definido como paciente sem diagnóstico prévio de diabetes, com hiperglicemia (glicemia em jejum maior ou igual 126 mg/dL ou maior ou igual 200 mg/dL duas horas após consumo de 75 g de glicose) detectada na gravidez e com níveis glicêmicos que atingem os critérios da OMS para diabetes na ausência de gestação.

Por fim, há ainda aquelas mulheres que já tinham o diagnóstico de diabetes mellitus (tipo 1 ou tipo 2) e que engravidam, sendo assim casos de gestação em pacientes diabéticas. De acordo com os dados brasileiros compilados pela SBD, estes correspondem a aproximadamente 8% dos casos de diabetes gestacional no país.

Essa distinção é importante porque durante a gestação, o corpo da mulher produz hormônios que alteram naturalmente a produção de insulina, explica a médica Cristina Figueiredo Façanha, da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

"A mulher podia estar com a glicemia controlada antes da gestação, ela podia até comer um doce aqui, outro ali, subia um pouco o índice glicêmico, mas em geral estava tudo bem. Mas, quando ela engravida, os hormônios da gravidez levam ao desenvolvimento de uma intolerância à glicose."

Segundo a médica, a quantidade de insulina necessária para metabolizar a mesma quantidade de glicose é aumentada em seis vezes durante a gestação. Em resumo, seria como se antes da gestação após ingerir, por exemplo, 15 gramas de carboidrato (um pãozinho), ela precisasse de seis unidades de insulina produzidas pelo pâncreas para metabolizar a glicose. Com a gravidez, para a mesma quantidade de carboidratos, ela precisa produzir 36 unidades de insulina (seis vezes mais).

Em geral, a detecção de hiperglicemia pode ser feita no exame de rotina da gestante, ainda no primeiro trimestre, com o exame de glicemia em jejum. Se houver alguma alteração já no início da gestação, o médico pode indicar o tratamento, que pode ser dieta ou aplicação de insulina, considerado o tratamento eletivo para diabetes na gestação.

No entanto, se a taxa de açúcar no sangue for dentro do esperado (abaixo de 92mg/dL), a gestante faz um novo teste oral de tolerância à glicose entre a 20ª e 24ª semana de gestação para o diagnóstico definitivo de diabetes gestacional (glicemia igual ou maior a 200 mg/dL duas horas após consumo de 75 g de glicose). Isso porque, devido aos hormônios produzidos durante a gestação, o organismo apresenta um pico de glicemia a partir da 20ª semana.

Como essa mudança na tolerância ao açúcar é, em geral, assintomática, a mulher não descobre que está com a DMG se não for feito o exame específico. "E nós temos no SUS [Sistema Único de Saúde] apenas o teste de glicemia em jejum, não tem disponível o teste oral de tolerância à glicose. Por isso, é fundamental o rastreamento pré-natal", completa.

É importante o diagnóstico correto uma vez que a hiperglicemia durante a gravidez pode trazer complicações para a mãe e para o bebê, segundo a obstetra Natália Filaretti.

A médica acompanha a gestação da sua irmã, a empresária Isabella Filaretti, 33, que teve diagnóstico de diabetes gestacional no início da gravidez. "Fiquei muito assustada, principalmente com a necessidade de ter que aplicar insulina diariamente, pensando que a medicação poderia trazer algum risco ou afetar a minha bebê", disse.

Segundo Filaretti, as complicações que o bebê pode ter em decorrência da DMG são, no primeiro trimestre, risco de malformação do bebê, cardiopatia (alteração no coração) e risco de óbito fetal intrauterino. Já nos segundo e terceiro trimestre, os principais riscos são macrossomia fetal (bebê com peso ao nascer maior de 4 kg), por causa das alterações metabólicas ocorridas ainda no útero pela hiperglicemia. "E um risco de bebê muito grande é também um risco para a mãe, já que pode ter alguma dificuldade no parto", explica.

Outra preocupação da diabetes gestacional é que cerca de 7 em cada 10 mulheres com diagnóstico de diabetes durante a gravidez tornam-se diabéticas depois, afirma Façanha.

Isabella conta que sempre foi ativa e procurou se exercitar, mas há histórico de diabetes gestacional na família. "Minha avó teve diabetes na gestação e ficou diabética depois", conta ela, que está perto de entrar no trabalho de parto para dar à luz sua primeira filha, Manoela. "Felizmente, no meu caso eu consegui manter controlado, não precisei nem alterar a dosagem da insulina, e acho que não vou ter o risco pós-gestação."