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sábado, 12 de julho de 2025

Infecção e poluição associadas a um risco muito elevado de Alzheimer

A combinação de história de infecções e exposição à poluição veicular atmosférica aumentou o risco de doença de Alzheimer em 177% em idosos entre 60 e 75 anos de idade, com base em dados de aproximadamente 100.000 indivíduos.

Uma base crescente de evidências sugere que a vulnerabilidade a infecções desempenha um papel no surgimento da doença de Alzheimer, mas o mecanismo de ação permanece incerto, expuseram a Dra. Svetlana V. Ukraintseva, Ph.D., professora de pesquisa sobre a biodemografia do envelhecimento na Duke University, nos Estados Unidos, e colaboradores em um pôster apresentado na reunião anual da Gerontological Society of America.

“Minha opinião sobre a doença de Alzheimer é que ela é um transtorno ‘multifatorial’ que requer que não apenas um, mas vários fatores de risco atinjam um indivíduo para que a doença de Alzheimer evolua para o estágio clínico”, disse a Dra. Svetlana em uma entrevista.

Entre os fatores de risco de doença de Alzheimer estão a alta exposição à poluição veicular atmosférica e as infecções, bem como fatores como hipertensão, depressão, distúrbios do sono, traumatismo cranioencefálico e também genes e seus componentes, como APOE4 e o polimorfismo de nucleotídeo único rs6859, disse ela.

Em um estudo anterior, os pesquisadores identificaram um efeito sinérgico significativo entre a poluição veicular atmosférica e o gene APOE4 no volume do hipocampo, um biomarcador de neurodegeneração, disse a Dra. Svetlana ao Medscape. “Decidimos, como próximo passo, avaliar o efeito conjunto da alta exposição à poluição veicular atmosférica e infecções (outro fator de risco de demência) na doença de Alzheimer”, explicou.

No estudo atual, os pesquisadores examinaram fatores de risco que poderiam aumentar sinergicamente o risco de doença de Alzheimer e prever o início clínico da doença com mais de 80% de probabilidade, disse a Dra. Svetlana. A identificação de combinações de fatores de risco é importante para a prevenção da doença de Alzheimer, porque visar múltiplos fatores de risco de uma só vez no mesmo indivíduo no estágio pré-clínico pode potencialmente prevenir o início do estágio clínico da doença na maioria dos casos, explicou ela.

Os pesquisadores usaram dados do UK Biobank de 51.079 mulheres e 48.983 homens, entre 60 e 75 anos de idade, para os quais havia dados disponíveis sobre doenças infecciosas, doença de Alzheimer e outras demências. A alta exposição à poluição veicular atmosférica foi definida como ter uma residência principal a 50 metros ou menos de uma rodovia importante.

Em geral, a combinação de história de infecções e exposição à poluição veicular atmosférica foi associada a um risco 164% maior de surgimento de doença de Alzheimer após os 75 anos de idade, em comparação com indivíduos sem história de infecção nem exposição à poluição veicular atmosférica (razão de risco: 2,64).

Um dos possíveis mecanismos que favorecem essa associação é o comprometimento da integridade da barreira hematoencefálica como resultado da poluição veicular atmosférica, que pode tornar o cérebro mais vulnerável a infecções e danos relacionados, observaram os pesquisadores em seu pôster.

Considerando os dados anteriores sobre o conceito de múltiplos fatores do risco de doença de Alzheimer, os achados atuais não eram inesperados, disse a Dra. Svetlana ao Medscape.

“Ter como alvo vários fatores de risco de doença de Alzheimer simultaneamente no mesmo indivíduo pode potencialmente prevenir a maioria dos casos de início clínico dessa demência, especialmente se esses fatores aumentarem sinergicamente o risco de doença de Alzheimer”, destacou a Dra. Svetlana. “São necessárias mais pesquisas nesta direção, que atualmente é pouco explorada”, disse ela. A pesquisadora e sua equipe planejam explorar o impacto de outras combinações de fatores de risco no início clínico da doença de Alzheimer, acrescentou.

Foco em estratégias de prevenção e estudos mais impactantes

A prevenção da doença de Alzheimer continua a ser uma estratégia fundamental, considerando a escassez de opções terapêuticas e a ausência de cura, disse em entrevista o Dr. Ryan T. Demmer, Ph.D., professor de epidemiologia na Mayo Clinic, nos EUA.

“Existem fortes evidências implicando infecções graves na etiologia da doença de Alzheimer”, explicou o Dr. Ryan. “A premissa para que a poluição atmosférica tenha efeitos adversos em múltiplos sistemas de órgãos também é forte, e há evidências substanciais vinculando a poluição veicular atmosférica à doença cardiovascular e ao diabetes, sendo que ambos os quadros estão associados a um risco maior de demências”, disse ele.

O Dr. Ryan ficou “um pouco surpreso” com a força das associações no estudo atual, dado o alto grau de erro de medição da poluição atmosférica e da infecção, o que frequentemente reduz os achados a uma associação mais fraca ou nula.

As limitações do estudo atual são o uso isolado de códigos da classificação internacional de doenças (CID) para definir infecções, o que pode contribuir para o erro de avaliação, disse o Dr. Ryan. Se os médicos suspeitarem de infecção, os pacientes podem ser classificados dessa forma, mesmo que os exames complementares mostrem que não havia infecção, observou ele.

“Também existe um potencial para erro de avaliação que ocorre de forma diferente entre pessoas com risco maior versus menor de doença de Alzheimer”, explicou o Dr. Ryan. “Indivíduos idosos com mais fatores de risco de doença de Alzheimer podem ter maior probabilidade de procurar atendimento médico para infecções leves e ter o código da CID documentado em seu prontuário médico, enquanto pessoas mais jovens e mais saudáveis podem ter menor probabilidade de procurar atendimento”, disse ele.

Além disso, “as informações sobre poluição atmosférica se baseiam no endereço, mas as pessoas passam diferentes períodos no endereço residencial, o que cria um grande viés em termos de quanta exposição elas têm à poluição atmosférica em sua comunidade”, observou. “Os fatores de confusão também são uma preocupação neste estudo; causas comuns de infecções e doença de Alzheimer, como comportamentos de saúde ou comorbidades, podem explicar a associação, e não parece que esses fatores foram considerados”, disse ele.

São necessárias mais pesquisas para determinar a causalidade das relações entre poluição atmosférica, infecções e doença de Alzheimer, disse o Dr. Ryan ao Medscape. “Alguns exemplos são estudos que podem analisar de forma mais robusta potenciais fatores de confusão, avaliar com mais cuidado doenças infecciosas e histórico de poluição atmosférica e/ou pesquisar diretamente os mecanismos biológicos subjacentes”, acrescentou.

Embora a falta de causalidade limite o impacto dos achados do estudo na prática clínica no momento, “há pouca desvantagem em recomendar que os pacientes tomem precauções para prevenir infecções graves e minimizar a exposição à poluição atmosférica”, concluiu o Dr. Ryan.

O estudo recebeu apoio do National Institute on Aging do National Institutes of Health dos EUA. Os pesquisadores e o Dr. Ryan T. Demmer informaram não ter conflitos de interesses.