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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Do “efeito sanfona” à estabilidade: por que considerar medicamentos para o tratamento da obesidade



Pergunta recorrente no consultório particular e no ambulatório no SUS: "Dr. mas eu se eu não quiser usar remédio pra emagrecer? Consigo ou não?"

Pausa, inspiro, expiro e respondo: Não sei. Por mais que eu tenha experiência clínica de 17 anos, coordene um ambulatório de Nutrologia (60% só Obesidade) desde 2015, não posso responder essa pergunta. Por um simples motivo: o que existe de real é o paciente. Cada paciente é único. Não é porquê um paciente perdeu uma grande quantidade de peso só com dieta combinada com atividade física, que todos responderão de maneira semelhante. 

Então, após esse banho de água gelada, explico o que a ciência nos diz sobre o assunto.

Obesidade como uma doença

Obesidade é uma doença crônica, não um “hábito ruim”. Ela envolve circuitos de fome, saciedade e recompensa que podem ficar desregulados. Quando isso ocorre, a balança vira um elástico puxando você de volta. O tratamento farmacológico corta a força desse elástico. Ele cria condições biológicas para que seu esforço finalmente conte.

Pense no corpo como um termostato do peso. Ao perder quilos, ele “sente frio” e tenta reaquecer com mais fome e menos gasto. Alguns medicamentos reajustam esse termostato interno. Com o ponto de equilíbrio mais baixo, manter a perda vira possível. Você deixa de remar contra a corrente o tempo todo.

“Eu já tentei de tudo.” Essa frase é comum e legítima — e não é fracasso pessoal. Dieta, sono e movimento continuam sendo a base. Os fármacos entram como uma chave que destrava a porta. A soma das estratégias é que gera resultados sustentáveis.

Metas factíveis

O objetivo não é magreza instantânea, é saúde duradoura. Reduzir 5% a 15% do peso já impacta positivamente na pressão arterial, glicemia e apneia. Reduz colesterol, triglicérides, ácido úrico, enzimas do fígado que estão aumentadas na esteatose hepática. Os remédios ajudam a alcançar e sustentar essas metas clínicas. Menos dor nos joelhos, mais fôlego nas escadas, noites melhores. Qualidade de vida é o desfecho que mais importa, não um número na balança. E digo mais, manter o foco em número na balança pode atrapalhar o processo, gerar mais ansiedade, apreensão, aumentando as chances de desistência. 

Qual o melhor remédio para o meu caso?

Segurança vem primeiro. Indicação depende de IMC, comorbidades e avaliação médica. Escolhe-se o fármaco conforme perfil, preferências e riscos. Começa-se com doses baixas e ajustes graduais. A isso denominamos de escalonamento. Aqui reforço que o acompanhamento periódico (alguns ficam revoltados porque peço para voltar todos os meses) garante eficácia, minimiza efeitos colaterais das medicações, possibilita mudar o percurso mais rapidamente quando o tratamento não está gerando o efeito desejado. Baseado nisso, para cada consulta, dou direito a 1 retorno gratuito em até 30-45 dias, justamente para não pesar no bolso do paciente e eu vê-lo mensalmente. 

Muito além da força de vontade

Fome não é só “força de vontade”; é sinal químico. Hormônios como grelina, GLP-1 e leptina modulam esse apetite. Alguns medicamentos atuam nessas vias, ampliando saciedade. Outros reduzem recompensas por comer em excesso. O resultado é comer melhor, não apenas comer menos. Ignorar a fisiopatologia da obesidade em pleno 2025 é pura ignorância. Desconhecimento total do que a ciência nos mostra. 

Metáfora prática para entender o tratamento medicamentoso, é como se ele fosse um guarda-chuva na tempestade. A dieta e os exercícios são a capa; o remédio é o guarda-chuva. 

Sem o guarda-chuva, só com a capa, você se molha menos, mas ainda assim pode encharcar os pés, cabelo, molhar o rosto. Com ele, você consegue atravessar a rua com mais controle, até pode molhar o sapato na enxurrada. A chuva pode continuar, mas você chegará menos ensopada ao seu destino.

O "poder" dos fármacos no tratamento da obesidade

Os medicamentos mais atuais para tratamento da obesidade, ajudar a evitar que o paciente belisque, reduza o que chamamos de food noise (pensar excessivamente em comida). Ajudam no comer emocional, quem comia por ansiedade percebe pausa para escolher. Fazem o paciente perceber o que é saciedade, que não precisa repetir um prato. Ensinam (educam) o paciente a entender o que é fome real. Quem vivia no efeito sanfona encontra estabilidade graças aos fármacos. Pequenas vitórias acumuladas viram novos hábitos. É uma muleta? Talvez, mas salva vidas.

Mas lembre-se: hábitos não são medicalizáveis. Ou seja, não existe nenhum medicamento que fará você ir praticar a sua atividade física. Nem fará você estabelecer rotinas, planejar suas refeições. 

Efeitos colaterais do tratamento da obesidade

Efeitos adversos existem e precisam de manejo. Náuseas iniciais? Ajuste de dose e educação alimentar ajudam. Constipação ou refluxo? Estratégias dietéticas e fracionamento. Insônia ou palpitações? Reavaliar escolhas e horários. Transparência com a equipe acelera ajustes e conforto. Mas tudo isso é "fichinha" perto dos efeitos colaterais psiquiátricos dos famigerados anorexígenos anfetamínico utilizados décadas atrás. Estarei contrariando alguns professores ao afirmar isso. Mas a proibição dos mesmos foi uma decisão acertada da ANVISA

Quem vivenciou a época da prescrição de anfepramona, femproporex e mazindol e os efeitos colaterais que essas medicações geravam, agradecem o surgimento de classes mais eficazes e mais seguras, principalmente do ponto de vista psiquiátrico e cardiovascular. 

Expectativas

Acho válido reforçar para os pacientes que expectativas realistas protegem contra frustração. Perdas rápidas demais tendem a ser insustentáveis para alguns pacientes. Sempreço friso para os meus pacientes, que eles devem buscar curvas suaves e consistentes de emagrecimento. A sustentabilidade do processo é uma das chaves para o sucesso e maior adesão. Progresso é mais que um número na balança.

Evite o “tudo ou nada”. Se um dia saiu do trilho, não jogue a semana fora. Use o método do “próximo melhor passo possível”. Volte à rotina na refeição seguinte. Consistência (constância) vence perfeição, sempre! 

Combo do sucesso: Dieta + exercício físico

Usar somente medicação, sem associar dieta, prática regular de exercícios e mudança de hábitos, é um tiro no pé. Sendo curto e grosso, é rasgar dinheiro, jogar no lixo. É correr risco de perder músculo e depois numa mais recuperá-lo. TODO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA OBESIDADE PRECISA SER ASSOCIADO A ESSE COMBO: dieta e exercícios. 

Alimentação é um coadjuvante essencial. Mais proteína ajuda a preservar massa magra. Fibra dá volume e prolonga saciedade. Gorduras boas estabilizam o apetite e o paladar. Água, frutas e verduras completam o ecossistema metabólico. Logo, o nutricionista tem papel primordial nisso. Evita que o paciente faça déficits nutricionais, muito comuns (que por anos foi negligenciado) em quem perde quantidade significativa de gordura. 

Movimento é remédio que potencializa o remédio. Caminhadas regulares melhoram humor e glicemia. Treino de força protege músculos durante a perda. Alongamento e mobilidade reduzem dores limitantes. Escolha atividades que você realmente goste. "Mas doutor, eu não gosto de nenhuma". Minha resposta: faça a que você menos odeia. Agora se você deseja recomendação médica, baseada em evidências: faça treino de força e aeróbico. 

O sono como pilar da saúde

Sono e estresse são reguladores de apetite. Dormir pouco aumenta hormônios da fome: grelina. Estresse crônico impulsiona escolhas impulsivas. Higiene do sono e técnicas de relaxamento ajudam. O medicamento funciona melhor num terreno fértil. Tem texto aqui no blog. https://www.ecologiamedica.net/2023/07/higiene-do-sono.html

Sabotadores e rede de apoio

Planejamento social é parte do tratamento da obesidade. Combine estratégias para restaurantes e eventos. Use o “prato de prioridades”: proteína, vegetais, carboidrato. Comunique seus objetivos a quem importa. Apoio social reduz sabotagens involuntárias.

Cuidado com os perigos que surgem no percurso 

Cuidado com atalhos perigosos. Produtos “milagrosos” e fórmulas sem evidência. Eles trazem risco para a sua saúde. Automedicação pode mascarar doenças e ocasionar interações medicamentosas. O caminho mais seguro é o baseado em ciência e acompanhamento.

A jornada tem fases: início, consolidação e manutenção. No começo, educação e ajuste de dose são centrais. Depois, vem a lapidação de hábitos e metas. Na manutenção, revisa-se necessidade de seguir ou pausar. Tudo decidido em conjunto, com dados e bom senso.

Seu porquê sustenta a disciplina. Mais energia para brincar com os filhos. Menos falta de ar para viajar , caminhar e desvendar novos lugares. Alívio das dores que roubam prazer cotidiano. Transforme metas clínicas em metas de vida.

Tratar a obesidade com fármacos é um ato de cuidado. É reconhecer a biologia por trás da dificuldade. É escolher estratégias que conversam com seu corpo. É construir saúde com passos possíveis e monitorados. É dar a si mesmo a chance de recomeçar e continuar.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 

Para ler mais sobre o tema:

Tirzepatida: como funciona o “remédio revolucionário” para emagrecer e controlar a diabetes:
https://www.ecologiamedica.net/2025/08/tirzepatida-como-funciona-o-remedio.html
GLP-1: O Segredo Não Está Só no Remédio: Como a alimentação e a atividade física fazem toda a diferença no emagrecimento:
https://www.ecologiamedica.net/2025/08/glp-1-o-segredo-nao-esta-so-no-remedio.html
A Tirzepatida queima gordura?
https://www.ecologiamedica.net/2025/09/a-tirzepatida-queima-gordura.html
Liraglutida, Semaglutida e Tirzepatida: como emagrecer sem perder massa magra?
https://www.ecologiamedica.net/2025/09/mounjaro-ozempic-massa-magra.html
Hara hachi bu na prática clínica
https://www.ecologiamedica.net/2025/09/hara-hachi-bu-na-pratica-clinica.html
Tirzepatida: o uso indiscriminado chama atenção de especialistas
https://www.ecologiamedica.net/2023/05/tirzepatida-o-uso-indiscriminado-chama.html
Novo medicamento para obesidade (Retatrutida) reduz até 24% do peso, mostra estudo
https://www.ecologiamedica.net/2023/06/novo-medicamento-para-obesidade.html
Tirzepatida e seu impacto no peso - Por. Dra. Lia Bataglini
https://www.ecologiamedica.net/2023/09/tirzepatida-e-seu-impacto-no-peso-por.html
Ajudando a prevenir o reganho de peso após a retirada dos agonistas do receptor de GLP-1
https://www.ecologiamedica.net/2024/03/ajudando-prevenir-o-reganho-de-peso.html
Análogos de GLP1 no tratamento da dependência
https://www.ecologiamedica.net/2024/10/analogos-de-glp1-no-tratamento-da.html
Perda de músculo e sarcopenia no tratamento medicamentoso da obesidade
https://www.ecologiamedica.net/2024/10/perda-de-musculo-e-sarcopenia-no.html
A concorrência tornará os medicamentos para obesidade melhores, mais baratos e mais acessíveis
https://www.ecologiamedica.net/2024/10/a-concorrencia-tornara-os-medicamentos.html
Medicamentos para obesidade podem ajudar a reduzir o consumo de álcool
https://www.ecologiamedica.net/2024/11/medicamentos-para-obesidade-podem.html
O que você precisa saber sobre a Tirzepatida (Mounjaro, Zepbound)?
https://www.ecologiamedica.net/2025/05/o-que-voce-precisa-saber-sobre.html
Estou tomando uma medicação para perda de peso à base de GLP-1 — o que devo saber? (JAMA, 2025)
https://www.ecologiamedica.net/2025/07/estou-tomando-uma-medicacao-para-perda.html
A febre dos medicamentos contra obesidade no Brasil
https://www.ecologiamedica.net/2025/05/a-febre-dos-medicamentos-contra.html
Eficácia e Segurança dos Análogos de GLP-1 no manejo do reganho de peso ou resposta clínica sub-ótima após cirurgias bariátricas metabólicas: uma Meta-Análise
https://www.ecologiamedica.net/2025/05/eficacia-e-seguranca-dos-analogos-de.html
Como manter o peso após o uso de medicamentos para obesidade
https://www.ecologiamedica.net/2025/06/como-manter-o-peso-apos-o-uso-de.html
Análogos de GLP-1: gestação, amamentação e redução do efeito dos anticoncepcionais orais
https://www.ecologiamedica.net/2025/06/semaglutida-gestacao-amamentacao-e.html
Impacto a curto prazo da Tirzepatida no hipogonadismo metabólico e na composição corporal em homens obesos
https://www.ecologiamedica.net/2025/07/impacto-curto-prazo-da-tirzepatida-no.html
Semaglutida recebe aprovação do FDA para MASH (esteato-hepatite associada à disfunção metabólica)
https://www.ecologiamedica.net/2025/08/semaglutida-recebe-aprovacao-do-fda.html
"Não emagreci com Semaglutida e agora?"
https://www.ecologiamedica.net/2024/06/nao-emagreci-com-ozempic-e-agora.html
Semaglutida é uma nova droga antiinflamatória?
https://www.ecologiamedica.net/2024/05/ozempic-e-uma-nova-droga.html
Semaglutida 2,4mg - 9 fatos que você precisa saber sobre o mais novo fármaco antiobesidade do mercado
https://www.ecologiamedica.net/2023/01/semaglutida-ozempic-wegovy-9-fatos-que.html
Liraglutida x Semaglutida
https://www.ecologiamedica.net/2022/01/conteudo-exclusivo-para-medicos_14.html