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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Tratamento da obesidade e prevenção de doença cardiovascular (Diretriz ABESO)

A prevalência global da obesidade mais do que dobrou nas últimas quatro décadas, e hoje afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Reconhecida como uma condição ligada a muitas doenças crônicas, a obesidade impacta diretamente na qualidade de vida e na redução da expectativa de vida. (1) 

Em 2021, a prevalência global da doença cardiovascular (DCV) atingiu 612 milhões de pessoas, representando 26,8% de todas as mortes mundiais, com um crescimento de 0,88% ao longo das últimas três décadas. Notavelmente, 79,5% de todos os anos de vida saudável perdidos ajustados às incapacidades foram atribuídos a 11 fatores de risco, sendo o índice de massa corporal (IMC) o que apresentou a maior associação. (2) Não obstante, estudos de prevalência mostram que dois terços das mortes relacionadas à obesidade são atribuíveis à DCV. (2,3)  Particularmente no Brasil, dados de 2025 sugerem que 68% dos adultos possuem IMC ≥25 kg/m², e que 31% dessa população esteja vivendo com a obesidade. Em 2021, houve 60.913 mortes prematuras associadas ao IMC elevado no país. (1)

A obesidade também é um dos principais determinantes da DCV. Estudos epidemiológicos prospectivos demonstram que a obesidade está associada a um risco elevado de eventos de doença arterial coronariana (DAC) e de mortalidade cardiovascular (CV). (4) Sua influência ocorre de forma indireta, através do aumento de fatores de risco CV tradicionais como diabetes tipo 2 (DM2), dislipidemia (DLP) e hipertensão arterial sistêmica (HAS), mas também por efeito direto do estado inflamatório induzido pela adiposidade na estrutura e função cardíacas. (5,6)

Diversas evidências epidemiológicas ligam a obesidade à DCV através do IMC. Uma metanálise envolvendo mais de 300.000 adultos evidenciou que as faixas de sobrepeso e obesidade definidas pelo IMC se associam a um risco elevado de DAC e de mortalidade CV.  Estudos observacionais e de randomização mendeliana também demonstram forte associação direta entre o aumento do IMC e a incidência e mortalidade por insuficiência cardíaca (IC). (7) 

Adicionalmente, as evidências demonstram que a obesidade abdominal está mais diretamente relacionada ao aumento do risco de doenças cerebrovasculares, coronarianas, e mortalidade CV. (5) Metanálises de grandes estudos de coorte evidenciam que a obesidade abdominal, medida pela circunferência da cintura, é forte preditora independente para morbidade e mortalidade em qualquer categoria de IMC. (5,6) Mesmo indivíduos com IMC abaixo de 30 kg/m2 podem apresentar risco cardiometabólico alto relacionado à escassez de gordura subcutânea gluteofemoral e ao acúmulo de gordura visceral, especialmente quando associado a outros fatores de risco. (8)  Desta forma, alternativas ao IMC como a circunferência da cintura, a relação cintura/quadril e a relação cintura-altura são recomendadas para evidenciar o possível aumento de gordura visceral. (9,10,11)

Historicamente, a abordagem terapêutica para a obesidade tem se centrado em intervenções relacionadas ao estilo de vida e opções farmacológicas com eficácia limitada. Contudo, a introdução da nova geração de medicações antiobesidade possibilitou a obtenção de perdas de peso mais significativas e sustentáveis. Ademais, com a complexidade crescente das opções terapêuticas disponíveis e os benefícios observados em desfechos ligados à síndrome cardiorrenal metabólica; tornou-se evidente a necessidade de novas ferramentas de estratificação que orientem a seleção do tratamento para cada situação clínica. (12,13)

Nesse sentido, esta diretriz visa estruturar o tratamento da obesidade em relação à prevenção da DCV, levando em consideração o risco CV e o estágio da obesidade. Este documento apresenta recomendações fundamentadas nas melhores evidências disponíveis, com o objetivo de auxiliar os profissionais de saúde na personalização da estratégia terapêutica mais adequada para as pessoas que convivem com obesidade.

METODOLOGIA:

A diretriz seguiu o método Delphi (14) para estabelecer recomendações a partir da coleta de opiniões de especialistas em rodadas sucessivas, na qual cada participante responde anonimamente e tem a oportunidade de reavaliar suas respostas à luz do feedback dos outros participantes.

Inicialmente, formou-se um grupo de 20 especialistas representantes das 5 sociedades (ABESO, SBD, SBEM, SBC e ABS). Destes, 5 formaram o grupo de trabalho (comitê gestor), que elaborou a estrutura da diretriz baseada em 25 recomendações, elaboradas com as melhores evidências disponíveis. 

Cada recomendação foi desenhada para abordar uma situação clínica específica, e recebeu um grau de recomendação que foi dado após votação do grande grupo. Foram realizadas 3 rodadas de votação por meio de uma ferramenta online, cujo resultado foi analisado estatisticamente pelo comitê gestor. Após a primeira rodada de sugestões, o texto base foi revisado e reescrito. Foram realizadas então a segunda e terceira rodadas para ajustes do texto, que foi subsequentemente ajustado para definição final dos graus de recomendação. Em seguida, a revisão da literatura foi atualizada e estruturada conforme o sumário de evidências que segue cada recomendação. Finalmente, o texto foi redigido para publicação.

Para acessar o documento na íntegra, clique aqui 



domingo, 6 de março de 2022

Obesidade e a gordofobia: percepções em 2022

Elaborada pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a iniciativa é parte da campanha pelo Dia Mundial da Obesidade, de 4 a 10 de março de 2022. Mais de 3.5600 pessoas de todo o país responderam ao questionário divulgado pelos sites e mídias sociais das duas instituições.

“Conhecimento, cuidado e respeito”: este é o mote da campanha do Dia Mundial da Obesidade, dia 4 de março, para o ano de 2022. O foco é a ampliação do conhecimento sobre a obesidade, o caminho para a redução do preconceito e a melhoria no cuidado às pessoas.

A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) têm agido há mais de 30 anos no combate à obesidade. E combater a obesidade não é combater a pessoa com obesidade. E sim tratar a doença
e respeitar quem convive com ela, acolhendo, ouvindo, estudando, andando junto. Foi o que nos levou a ABESO e SBEM a lançarem a  pesquisa “Obesidade e a Gordofobia 2022 - Percepções”. 

O levantamento feito por meio digital chega ao cerne da questão: o cuidado dispensado a pessoas acima do peso precisa ser revisto. Os sistemas de saúde, tanto público quanto privado, precisam se atentar para o impacto que o acolhimento dessas pessoas pode ter no resultado do tratamento. 

Abriram com a pesquisa, um espaço para escuta e para entenderem como podemos agir em busca de uma mudança que possa refletir em resultados concretos. Esperavam sim, um número maior de participação deste público, mas não na proporção que se apresentou na pesquisa. 

A excelente pesquisa da ABESO/SBEM deixou claro que nós profissionais da área da saúde, precisamos agir contra a gordofobia para tratar a obesidade sem estigmas. 

E, para isso, precisa-se investir em conhecimento (é inadmissível vermos profissionais da área da saúde falarem que obesidade é falta de atividade física e de "fechar a boca"), cuidado e respeito (acolhimento principalmente por parte de médicos). Algo que não se vê na prática. Falo isso, como médico que atua diretamente com obesidade em um ambulatório municipal de Nutrologia. Médico que convive diariamente com endocrinologistas, nutrólogos e nutricionistas. É assustador ver alguns posicionamentos de colegas, tamanha gordofobia e falta de compaixão pelo sofrimento alheio. 

Abaixo as projeções do Atlas de Obesidade 2022 da World Obesity, ou seja, os números são alarmantes e a pergunta que fica: 
  1. Toda esse população ficará a mercê de gordofobia praticada por profissionais da área da saúde.
  2. Parte dessa população ficará sem tratamento adequado devido um péssimo acolhimento por profissionais da saúde ?
Fonte: www.worldobesity.org 


Para acessar as conclusões da pesquisa clique aqui: https://campanhaobesidade.abeso.org.br/ebook_gordofobia.pdf

E-book: Conhecimento, cuidado e respeito

No dia Mundial da obesidade (04/03) do ano de 2022 a Associação Brasileira para estudos da obesidsde e síndrome metabólica (ABESO) juntamente com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabologia (SBEM)  prepararam uma publicação de 12 páginas com sobre o tema do Dia Mundial da Obesidade de 2022: “Obesidade: conhecimento, cuidado e respeito!”. O foco é a ampliação do conhecimento sobre a obesidade, o caminho para redução do preconceito e a melhora do cuidado das pessoas.

terça-feira, 26 de março de 2019

Jantar depois das 20 horas pode aumentar o risco de obesidade

A obesidade é um problema de saúde pública que vem aumentando em todo o mundo. 

Entre as causas da doença estão fatores, como genética, doenças endócrinas, excesso de alimentação, falta de atividade física e problemas para dormir. 

Outra possível causa para o excesso de peso é o horário das refeições, especialmente as realizadas à noite, indica estudo preliminar apresentado este final de semana durante a ENDO 2019, uma conferência médica realizada nos Estados Unidos. 

De acordo com os pesquisadores, indivíduos que jantam tarde estão em maior risco de apresentar níveis mais altos de gordura corporal e, consequentemente, maior Índice de Massa Corporal (IMC) – fator de risco para a obesidade.

A obesidade é um problema de saúde pública que vem aumentando em todo o mundo. Entre as causas da doença estão fatores, como genética, doenças endócrinas, excesso de alimentação, falta de atividade física e problemas para dormir. Outra possível causa para o excesso de peso é o horário das refeições, especialmente as realizadas à noite, indica estudo preliminar apresentado este final de semana durante a ENDO 2019, uma conferência médica realizada nos Estados Unidos. De acordo com os pesquisadores, indivíduos que jantam tarde estão em maior risco de apresentar níveis mais altos de gordura corporal e, consequentemente, maior Índice de Massa Corporal (IMC) – fator de risco para a obesidade.

Estudos anteriores já haviam feito associação similar, destacando que a ingestão alimentar feita após as 20 horas pode aumentar a probabilidade de desenvolver obesidade.

O estudo

Para chegar a este resultado, a equipe da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, recrutou 31 pessoas (90% mulheres, com idade média de 36 anos) que estavam acima do peso ou obesas. Para avaliar o máximo de variáveis capazes de interferir nas descobertas, os pesquisadores recolheram informações sobre o sono, os níveis de atividade e a dieta dos participantes. Além disso, cada um dos voluntários recebeu equipamentos para monitorar o ciclo de sono e o tempo gasto em atividades físicas ou sedentárias. A ingestão alimentar foi monitorada através de um aplicativo de telefone que permitia aos participantes fotografar as refeições, o que ajudava a registrar os horários da alimentação. Os níveis de glicose no sangue também foram acompanhados.

Os dados coletados apontaram que os participantes se alimentaram ao longo de 11 horas (do acordar ao dormir), sendo a última refeição realizada por volta das 20 horas da noite. A partir dessas informações, os pesquisadores perceberam que aqueles que comiam no final do dia tinham IMC mais alto, assim como maiores níveis de gordura corporal. “Comer no final do dia, mais à noite, parece estar ligado ao armazenamento de mais gordura corporal devido a diferenças hormonais a esta hora do dia”, explicou Lona.

A equipe ainda descobriu que esses indivíduos tinham um média de sono de 7 horas por noite – o que pode descartar a ideia de que a falta de sono interfere no risco de apresentar excesso de peso (pelo menos nesses voluntários). Apesar dos resultados, os cientistas ressaltam que os achados são preliminares e, portanto, será necessário dar continuidade às investigações para entender os mecanismos que ligam o horário da refeição ao aumento do risco de obesidade.

Dados de 2018 do Ministério da Saúde indicam que 18,9% da população acima de 18 anos nas capitais brasileiras é obesa. O percentual é 60,2% maior do que o obtido na primeira vez que o trabalho foi realizado, em 2006, quando essa parcela era de 11,8%. Esses números preocupam já que estudo do ano passado publicado no periódico Cancer Epidemmiology indicou que o Brasil terá 640.000 casos de câncer em 2025 – e quase 30.000 deles vão estar associados à obesidade.

Para esses pesquisadores, o aumento da obesidade está associada a industrialização e o alto consumo de alimentos processados. “A industrialização de sistemas alimentares mudou profundamente as culturas alimentares tradicionais, que eram geralmente composta de alimentos frescos e minimamente processados”, escreveram no relatório. A sugestão para solucionar a questão, de acordo com eles, é adotar intervenções e políticas de saúde pública capazes de reduzir o problema a nível populacional.

Além disso, as novas descobertas apontam para outra possível solução: antecipar o horário do jantar e evitar ingerir muitas calorias antes de dormir.