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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Setembro Amarelo: sinais, fatores de risco e onde buscar ajuda: prevenção do suicídio



Uma data que não se apaga

Por quase 15 anos relutei em adentrar esse tema. Perdi meu pai em 10 de setembro de 2003 e  ironicamente, no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Foi um assunto espinhoso, cercado de silêncio e tabu. Escrevo com o coração apertado para que outras famílias não conheçam esse mesmo vazio.

Como nasceu o Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo começou nos Estados Unidos, em 1994, após a morte por suicídio de Mike Emme, 17 anos. Talentoso, ele restaurou um Mustang 68, pintando-o de amarelo — daí o apelido “Mustang Mike”. Familiares e amigos não perceberam seu sofrimento psíquico a tempo. No velório, distribuíram cartões com fitas amarelas e a mensagem: “Se você precisar, peça ajuda.” O gesto se espalhou e o laço amarelo virou símbolo mundial de prevenção.

A campanha no Brasil: falar é necessário

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente a campanha Setembro Amarelo. Durante todo o mês, o objetivo é conscientizar, reduzir estigma e prevenir. Falar sobre suicídio com responsabilidade salva vidas.

O que vi na prática clínica

Ao longo dos anos, colecionei histórias dolorosas: médicos, familiares de colegas, amigos, profissionais de saúde, professores e alguns pacientes. Por isso, sempre rastreio ideação suicida nas consultas — às vezes pessoalmente, às vezes em questionários. A realidade surpreende: muita gente já pensou em morrer ao menos uma vez. Isso não significa que a pessoa irá morrer por suicídio, mas é um sinal de alerta que pede atenção imediata.

Números que doem

Segundo a OMS (2019), são registrados mais de 700 mil suicídios por ano no mundo — e o número real pode ser ainda maior por subnotificação. No Brasil, são aproximadamente 14 mil casos anuais, em média 38 mortes por dia. O impacto é imenso e atinge famílias, comunidades e serviços de saúde.

“Falar é a melhor solução” — e identificar é o primeiro passo

A campanha da ABP insiste: identificar ideações e falar com responsabilidade podem evitar a maioria dos atos. Informação de qualidade, acolhimento e acesso a tratamento reduzem risco e devolvem esperança.

Doenças mentais e o acesso ao cuidado

Grande parte dos casos envolve transtornos mentais — muitas vezes não diagnosticados ou tratados de forma inadequada. Após a pandemia, o cenário ficou mais desafiador para muita gente. Tratamento psiquiátrico e psicoterapia são pilares que salvam vidas; quando faltam, o sofrimento se aprofunda.

Escuta especializada: por que isso importa

Sim, falar importa e ouvir importa. Mas, em risco de suicídio, é crucial uma escuta especializada. Psicólogos e psiquiatras possuem formação, técnicas e protocolos para transformar a fala em cuidado terapêutico. Boas intenções nas redes sociais não substituem acompanhamento profissional.

Barreiras no caminho e o que precisa mudar

No SUS e na saúde suplementar, o acesso pode ser difícil e demorado. A ANS (2022) ampliou a cobertura de sessões para psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional em doenças listadas pela OMS — avanço importante, mas ainda insuficiente diante da demanda. Precisamos de mais serviços de saúde mental, menos filas e menos estigma.

Estigma não trata dor

Por motivos religiosos, morais e culturais, o suicídio foi por muito tempo encarado com culpa e julgamento. O resultado é silêncio e solidão para quem sofre. O comportamento suicida é multifatorial: envolve fatores psicológicos, biológicos (inclusive genéticos), culturais e socioambientais. É a consequência de um processo, não de um único evento.

Fatores protetores que salvam

  • Ausência de doença mental ativa
  • Autoestima fortalecida
  • Bom suporte familiar e social
  • Capacidade de adaptação e resolução de problemas
  • Vínculo terapêutico positivo
  • Emprego/ocupação, sentido existencial e participação religiosa/espiritual para quem valoriza
  • Responsabilidade com a família e ter crianças em casa
  • Pré-natal e cuidados de rotina bem feitos

Fatores de risco que exigem vigilância

  • Abuso sexual na infância.
  • Maus-tratos, violência, conflitos familiares, uso de substâncias, depressão, desempenho escolar ruim, bullying, incerteza sobre orientação sexual, exposição ao suicídio de pessoas próximas ou figuras públicas.
  • Alta recente de internação psiquiátrica.
  • Impulsividade/agressividade.
  • Isolamento social (agravado na pandemia) e comportamentos antissociais.
  • História familiar de tentativa ou morte por suicídio.
  • Tentativa prévia (maior preditor individual).
  • Transtornos mentais: depressão, bipolaridade, abuso/dependência de álcool e outras drogas, transtornos de personalidade, esquizofrenia, comorbidades múltiplas.
  • Doenças clínicas graves/crônicas: câncer, HIV, doenças neurológicas (esclerose múltipla, Parkinson, Huntington, epilepsia), cardiovasculares (IAM, AVC), DPOC, doenças reumatológicas (como lúpus). Meses iniciais após o diagnóstico e sintomas refratários aumentam o risco.

O que cada um pode fazer hoje

  • Buscar e seguir tratamento para doenças mentais.
  • Ampliar vínculos com família e amigos.
  • Reduzir/evitar álcool e outras drogas.
  • Retomar atividades com significado (hobbies, voluntariado, espiritualidade).
  • Construir um plano de segurança com seu(a) terapeuta/psiquiatra.
  • Crises passam; com apoio certo, a vida pode reencontrar propósito e cor.

Mitos que machucam

Erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, contribuindo para formação de um estigma em torno da doença mental e do comportamento suicida.  O estigma resulta de um processo em que pessoas são levadas a se sentirem envergonhadas, excluídas e discriminadas. A tabela 1 ilustra os mitos sobre o comportamento suicida. O conhecimento pode contribuir para a desconstrução deste estigma em torno do comportamento suicida.


Onde buscar ajuda agora

Caso precise de indicação de Psiquiatra e/ou Psicólogo, tenho uma lista aqui. Todos atendem presencial e online. 

Se chegou a esse texto por estar apresentando ideação suicida (nesse momento), sugiro ligar para o CVV – Centro de Valorização da Vida. O CVV é um serviço de apoio emocional gratuito e realizado por voluntários. Em 2017, foram cerca de 2 milhões de atendimentos. 

O modelo é sigiloso e não diretivo, ou seja, não há aconselhamento ou julgamento. Realizam suporte emocional e prevenção do suicídio, atendendo gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone (nº188), e-mail e chat. 

O serviço está disponível 24 horas por dia. Link: https://www.cvv.org.br/ 

Uma outra opção é procurar auxílio em algum pronto-socorro psiquiátrico. 


Fontes:

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui.