Mostrando postagens com marcador tirzepatida queima gordura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador tirzepatida queima gordura. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

A Tirzepatida queima gordura?



A tirzepatida é um medicamento que ativa dois hormônios do intestino, o GIP e GLP-1 e com isso, muda o modo como o corpo usa energia. Além de reduzir o apetite, ela orienta o organismo a preferir gordura como combustível. Esse redirecionamento metabólico ajuda a diminuir a adiposidade. O resultado não depende apenas de comer menos, mas de usar melhor o que já está armazenado.

Talvez esse seja o grande diferencial da Tirzepatida quando comparada à Semaglutida, que tem ação apenas em GLP-1. 

Um “twincretin” que reprograma o combustível: ação bi-agonista


Ao estimular simultaneamente os receptores de GIP e GLP-1, a tirzepatida amplia a comunicação entre intestino, pâncreas, cérebro e tecido adiposo. O GLP-1 melhora a saciedade e a resposta de insulina; o GIP conversa diretamente com as  células de gordura (adipócito). Essa sinergia ajusta quando guardar e quando liberar energia. Na prática, o corpo passa a “buscar” gordura para gerar  (energia = ATP). Ou seja, ele além de ter uma ação na quebra da gordura, pode ajudar na queima dessa gordura. 


Lipólise inteligente: liberar gordura na hora certa


Em jejum, quando a insulina está baixa, a ativação de GIP favorece a lipólise, ou seja, a quebra de triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol. No estado alimentado, o sistema se comporta de forma cooperativa com a insulina, facilitando a entrada de glicose e a produção de glicerol. Esse balanço fino evita extremos: nem estocar tudo, nem desperdiçar combustível.

Da gordura branca à marrom: ligando a termogênese


Modelos experimentais mostram que a tirzepatida aumenta a capacidade lipolítica do tecido adiposo branco. Ao mesmo tempo, “acende” a termogênese nas gorduras marrom e bege, que funcionam como fornos metabólicos. Com mais termogênese, parte da energia é dissipada como calor. Isso contribui para reduzir estoques e preservar massa magra.

Em humanos: mais beta-oxidação de ácidos graxos


Ensaios clínicos em portadores de obesidade mostram aumento do uso de gordura durante o tratamento. Mesmo que a “adaptação metabólica” do emagrecimento não desapareça, a tirzepatida eleva a parcela de energia vinda da beta-oxidação. Em termos simples, mais ácidos graxos entram na mitocôndria para virar ATP, sustentando a perda de gordura.

Do adipócito à mitocôndria: o caminho da energia


A lipólise libera ácidos graxos da célula de gordura. Esses ácidos são transportados, entram em outros tecidos e são queimados nas mitocôndrias. A tirzepatida ajuda a abrir essas “portas” bioquímicas. Resultado: menos gordura circulando sem destino e mais gordura sendo efetivamente utilizada.

O efeito final nasce da combinação de três frentes: 
(1) mais liberação de gordura (lipólise), 
(2) mais uso dessa gordura como energia (beta-oxidação) 
(3) melhor organização do “trânsito” lipídico no corpo. 

Quando essas vias atuam juntas, a tendência é reduzir a adiposidade total e melhorar marcadores metabólicos. Ou seja, emagrecimento mais eficiente.

Triglicerídeos em queda e sangue “mais limpo”


Em estudos com pessoas com diabetes tipo 2, a tirzepatida reduz triglicerídeos e melhora perfis de metabólitos ligados ao risco cardiometabólico. Isso sugere maior catabolismo lipídico e menor acúmulo de gordura “sobrando” na circulação. Na prática, o sangue carrega menos partículas ricas em triglicerídeos.

Lipoproteínas mais favoráveis ao coração


Pesquisas também apontam melhora de biomarcadores de lipoproteínas associados à resistência à insulina e a risco cardiovascular. Observam-se reduções em colesterol total e LDL, com aumento de HDL, em análises agrupadas de ensaios clínicos. Para o leigo, isso se traduz em um perfil mais protetor para vasos e coração.

Fígado “mais leve”: impacto na saúde hepática


O fígado é central no destino da gordura. Em pessoas com MASH (esteato-hepatite metabólica), a tirzepatida mostrou superioridade ao placebo para resolver inflamação e esteatose sem piorar a fibrose. Esse dado reforça que a droga não age só no peso da balança, mas também na qualidade do metabolismo interno. Entretanto, os estudos mostram que a Semaglutida tem esse efeito mais pronunciado. Inclusive já abordei o estudo aqui: https://www.ecologiamedica.net/2025/08/semaglutida-recebe-aprovacao-do-fda.html

Não é só comer menos: é usar melhor a energia


A perda de peso com tirzepatida nasce da dupla via: menos ingestão calórica, graças à saciedade promovida pelo GLP-1, retardo do esvaziamento gástrico, e mais utilização de gordura, graças ao redirecionamento do combustível. Essa combinação ajuda a manter o emagrecimento mais estável. O corpo aprende a recorrer aos próprios estoques de maneira eficiente.

O que o paciente costuma perceber


No dia a dia, muitos relatam menos fome, queda de medidas e melhora de exames de sangue. O controle glicêmico tende a ficar mais estável, e o “inchaço” associado a triglicerídeos altos pode diminuir. Esses ganhos aparecem melhor quando o tratamento vem acompanhado de orientação nutricional.

Como potencializar os resultados com hábitos simples


E será que é válido o paciente tomar a medicação sem acompanhamento de um profissional? Jamais. O profissional habilitado (Nutrólogo ou Endócrino) saberá conduzir o caso, escalonar as doses, corrigir eventuais efeitos colaterais que surgem comumente. Os mais comuns são do sistema gastrointestinal: náuseas, diarreia, vômitos e prisão de ventre. Eles tendem a surgir no início ou quando a dose aumenta. Temos estratégias para a maioria deles. 

Já o Nutricionista elaborará o plano alimentar com proteínas adequadas, fibras e comida de verdade, o que favorecerá a lipólise e a saciedade.

Recentemente foi publicado um estudo com sugerindo diretrizes nutricionais para pacientes utilizando análogos de GLP-1, ou seja, há particularidades na dieta desses pacientes. Sendo assim, o mais prudente e correto é fazer acompanhamento com um nutricionista que tenha experiência com a droga. Leia esse texto: https://www.ecologiamedica.net/2025/08/glp-1-o-segredo-nao-esta-so-no-remedio.html

Treino de força preserva músculo, enquanto exercícios aeróbios aumentam a capacidade de oxidar gordura. Sono suficiente e manejo do estresse ajustam hormônios que regulam fome e gasto energético. Ou seja, trabalho multidisciplinar. 

Então ressalto: toda medicação potente exige monitorização, TODA. A tirzepatida mexe em vias que influenciam apetite, glicemia, pressão e gorduras. O acompanhamento médico individualiza dose, observa efeitos colaterais e integra o tratamento a mudanças de estilo de vida estratégia que maximiza benefícios e minimiza riscos. Importante salientar que nem todos os pacientes terão resposta com a Tirzepatida isolada, sendo necessário utilizar outras drogas para tratamento da obesidade, o Nutrólogo e o Endocrinologista são os profissionais mais habilitados para manejar esses casos.

Autores:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
Dra. Thereza Leo - Médica Nutróloga - CRM-ES 8903 RQE 15007
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e profissional da educação física

Bibliografia

1. Tirzepatide Modulates the Regulation of Adipocyte Nutrient Metabolism Through Long-Acting Activation of the GIP Receptor. Regmi A, Aihara E, Christe ME, et al. Cell Metabolism. 2024;36(7):1534-1549.e7. doi:10.1016/j.cmet.2024.05.010. 

2. Tirzepatide Reduces Body Weight by Increasing Fat Utilization via the Central Nervous System-Adipose Tissue Axis in Male Mice. Zhang A, Liu Q, Xiong Y, et al. Diabetes, Obesity & Metabolism. 2025;27(5):2844-2856. doi:10.1111/dom.16294. 

]3. Tirzepatide Did Not Impact Metabolic Adaptation in People With Obesity, but Increased Fat Oxidation. Ravussin E, Sanchez-Delgado G, Martin CK, et al. Cell Metabolism. 2025;37(5):1060-1074.e4. doi:10.1016/j.cmet.2025.03.011. 

4. Tirzepatide for Metabolic Dysfunction–Associated Steatohepatitis with Liver Fibrosis. Loomba R, Hartman ML, Lawitz EJ, et al. The New England Journal of Medicine. 2024;391(4):299-310. doi:10.1056/NEJMoa2401943. 

5. Effects of Tirzepatide, a Dual GIP and GLP-1 RA, on Lipid and Metabolite Profiles in Subjects With Type 2 Diabetes. Pirro V, Roth KD, Lin Y, et al. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism. 2022;107(2):363-378. doi:10.1210/clinem/dgab722. 

6. The Dual Glucose-Dependent Insulinotropic Peptide and Glucagon-Like Peptide-1 Receptor Agonist, Tirzepatide, Improves Lipoprotein Biomarkers Associated With Insulin Resistance and Cardiovascular Risk in Patients With Type 2 Diabetes. Wilson JM, Nikooienejad A, Robins DA, et al. Diabetes, Obesity & Metabolism. 2020;22(12):2451-2459. doi:10.1111/dom.14174. 

7. Effect of Tirzepatide on Blood Pressure and Lipids: A Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Kanbay M, Copur S, Siriopol D, et al. Diabetes, Obesity & Metabolism. 2023;25(12):3766-3778. doi:10.1111/dom.15272.