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sábado, 16 de agosto de 2025

TDAH induzido - Dr. Andrey Rocca

Você acha que tem sintomas de TDAH?

Hoje em dia, muita gente tem se identificado com vídeos e memes de TDAH. A verdade é que a maioria dessas pessoas tem sintomas de desatenção induzidos pelo estilo de vida.

Somente 5% das crianças e 3% dos adultos de fato têm TDAH genético, o transtorno de desenvolvendo para o qual as mediações foram estudadas.

Muitos tem buscado esse diagnóstico, se definido a partir dele e isso pode inclusive confundir e atrapalhar a vida da pessoa. Além de ter muita gente vendendo essa “epidemia” aqui nas redes, que não é bem verdade pelos artigos.

Como estudo o tema há mais de 20 anos, desde que comecei o consultório de Nutrologia sempre atendi pacientes com suspeita de TDAH, visto que, muitos acreditam em uma abordagem Nutrológica para esse transtorno. O fato é, poucos nutrientes são efetivos para o TDAH, ou seja, apesar de termos alguns estudos, a maioria destes trabalhos são fracos e tem uma heterogeneidade nos resultados. Ou seja, não há evidência robusta que alguma vitamina, mineral, ácido graxo auxilie no TDAH. 

O que nos diz o OpenEvidence sobre o tema:

Há evidência clínica de que alguns suplementos, minerais e vitaminas podem exercer efeitos benéficos em sintomas do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), embora o grau de benefício e a robustez metodológica dos estudos variem consideravelmente.

Diversos ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas indicam que micronutrientes (misturas de vitaminas e minerais) podem promover melhora global do funcionamento, especialmente em aspectos como regulação emocional, agressividade e sintomas de desatenção, com perfil de segurança favorável e baixa taxa de eventos adversos.[1-3] 

No entanto, os efeitos sobre sintomas centrais de hiperatividade/impulsividade tendem a ser modestos ou inconsistentes entre diferentes avaliadores.[2-3]

Estudos específicos com vitamina D e magnésio sugerem que a suplementação combinada pode melhorar parâmetros comportamentais e de saúde mental em crianças com TDAH, incluindo redução de problemas emocionais, comportamentais e sociais, embora sejam necessários estudos maiores e mais robustos para confirmar esses achados.[4]

Revisões sistemáticas e meta-análises apontam que antioxidantes como ômega-3, ômega-6, vitamina D, zinco, fosfatidilserina, resveratrol, pycnogenol, quercetina e fitoterápicos (ex.: Bacopa monnieri, Ginkgo biloba) podem ter efeitos positivos em sintomas de atenção, hiperatividade e funcionamento global, mas os resultados devem ser interpretados com cautela devido à heterogeneidade metodológica e à qualidade variável dos estudos.[5-7] 

Por exemplo, ômega-3 e vitamina D aparecem entre os suplementos mais eficazes e seguros em algumas análises, enquanto Bacopa monnieri e Ginkgo biloba mostram benefícios principalmente em sintomas de desatenção, mas são menos eficazes que estimulantes tradicionais.[5-6]

É importante ressaltar que, apesar dos potenciais benefícios, os suplementos não substituem o tratamento farmacológico padrão (como estimulantes), cuja eficácia é amplamente superior e bem estabelecida.[6][8] 

O uso de suplementos pode ser considerado como abordagem complementar, especialmente em casos de comorbidades emocionais ou quando há contraindicação ou recusa ao tratamento farmacológico, sempre sob supervisão clínica.

Em resumo, há evidência de benefício modesto de micronutrientes, vitaminas e alguns suplementos em sintomas de TDAH, principalmente em desatenção e regulação emocional, mas não há consenso para recomendação universal. A heterogeneidade dos estudos e a ausência de efeitos robustos sobre todos os domínios do TDAH exigem cautela na interpretação dos resultados e reforçam a necessidade de mais pesquisas de alta qualidade.[1-7]

1. Micronutrients for Attention-Deficit/­Hyperactivity Disorder in Youths: A Placebo-Controlled Randomized Clinical Trial. Johnstone JM, Hatsu I, Tost G, et al. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. 2022;61(5):647-661. doi:10.1016/j.jaac.2021.07.005.

2. Vitamin-Mineral Treatment Improves Aggression and Emotional Regulation in Children With ADHD: A Fully Blinded, Randomized, Placebo-Controlled Trial. Rucklidge JJ, Eggleston MJF, Johnstone JM, Darling K, Frampton CM. Journal of Child Psychology and Psychiatry, and Allied Disciplines. 2018;59(3):232-246. doi:10.1111/jcpp.12817. Leading Journal 

3. Vitamin-Mineral Treatment of Attention-Deficit Hyperactivity Disorder in Adults: Double-Blind Randomised Placebo-Controlled Trial. Rucklidge JJ, Frampton CM, Gorman B, Boggis A. The British Journal of Psychiatry : The Journal of Mental Science. 2014;204:306-15. doi:10.1192/bjp.bp.113.132126.

4. The Effect of Vitamin D and Magnesium Supplementation on the Mental Health Status of Attention-Deficit Hyperactive Children: A Randomized Controlled Trial. Hemamy M, Pahlavani N, Amanollahi A, et al. BMC Pediatrics. 2021;21(1):178. doi:10.1186/s12887-021-02631-1.

5. Safety and Efficacy of Antioxidant Therapy in Children and Adolescents With Attention Deficit Hyperactivity Disorder: A Systematic Review and Network Meta-Analysis. Zhou P, Yu X, Song T, Hou X. PloS One. 2024;19(3):e0296926. doi:10.1371/journal.pone.0296926.

6. Efficiency of Different Supplements in Alleviating Symptoms of ADHD With or Without the Use of Stimulants: A Systematic Review. Al Shahab S, Al Balushi R, Qambar A, et al. Nutrients. 2025;17(9):1482. doi:10.3390/nu17091482.  New Research

7. Use of Non-Pharmacological Supplementations in Children and Adolescents With Attention Deficit/­Hyperactivity Disorder: A Critical Review. Rosi E, Grazioli S, Villa FM, et al. Nutrients. 2020;12(6):E1573. doi:10.3390/nu12061573.

8. Editorial: Accumulating Evidence for the Benefit of Micronutrients for Children With Attention-Deficit/­Hyperactivity Disorder. Stevenson J. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. 2022;61(5):599-600. doi:10.1016/j.jaac.2021.08.008.

Assista ao vídeo do meu colega psiquiatra Dr. Andrey Rocca. 

 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Déficit de magnésio


O magnésio é um mineral essencial envolvido em mais de 300 reações enzimáticas no organismo, sendo crucial para funções neuromusculares, saúde cardiovascular, regulação glicêmica e síntese de proteínas e DNA. Apesar de sua importância, a deficiência de magnésio é frequentemente subdiagnosticada, mesmo sendo relativamente comum, especialmente em populações vulneráveis.

Funções do Magnésio no Organismo
  • Participa da contração e relaxamento muscular.
  • Atua na transmissão nervosa e estabilidade elétrica das células.
  • Regula os níveis de cálcio, potássio e sódio.
  • É necessário para a produção de energia (ATP).
  • Modula o sistema imune e a resposta inflamatória.
  • Contribui para a saúde óssea e prevenção da osteoporose.
Sintomatologia da Deficiência de Magnésio

Os sintomas da hipomagnesemia podem variar de inespecíficos a graves, dependendo da intensidade da deficiência:
  • Fadiga 
  • Fraqueza muscular
  • Irritabilidade
  • Cefaleia
  • Perda de apetite
  • Náuseas e vômitos
  • Câimbras e espasmos musculares
  • Tremores
  • Dormência e formigamento
  • Convulsões
  • Arritmias cardíacas (prolongamento do intervalo QT, fibrilação atrial)
  • Hipertensão
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Insônia
  • Confusão mental
A deficiência crônica pode estar relacionada a quadros de síndrome metabólica, resistência insulínica e agravamento de doenças autoimunes e neurodegenerativas.

Diagnóstico da Deficiência de Magnésio

Desafios no Diagnóstico: O conteúdo de magnésio corporal total é de aproximadamente 25 g, sendo que 60% a 65% estão presentes nos ossos, que, assim como o músculo, constituem uma reserva desse mineral nas formas de fosfato e carbonato. O restante se localiza nos tecidos moles (27% no tecido muscular) e no interior das células, caracterizando o magnésio como o segundo cátion mais abundante no meio intracelular. Em menor proporção (1%), encontra-se no plasma, sendo que o magnésio no fluido extracelular encontra-se 70% a 80% na forma livre ionizada (Mg2+), 20% a 30% ligado a proteínas e 1% a 2% complexado a outros ânions. O músculo contém maior teor de magnésio em relação ao cálcio, contrariamente ao que ocorre no sangue. Isso torna os exames séricos pouco sensíveis para detectar a deficiência tecidual.

Exames Laboratoriais Disponíveis:

Magnésio sérico total: valor de referência entre 1,7 e 2,2 mg/dL. Contudo, pode estar normal mesmo na deficiência.
Magnésio ionizado (livre): mais preciso, mas pouco disponível.
Magnésio eritrocitário: pouco disponível
Excreção urinária de magnésio (em urina de 24h):útil em casos suspeitos de perda renal.
Relação magnésio/cálcio ou magnésio/potássio: pode auxiliar na análise clínica.
OBS: dosagem de magnésio no cabelo ou unha não tem correlação com déficit.

Diagnóstico Clínico

Diante da baixa sensibilidade dos exames laboratoriais, o diagnóstico é frequentemente clínico, baseado na presença de sintomas compatíveis, história alimentar pobre em magnésio e presença de fatores de risco.

Grupos de risco
  • Idosos: já que possuem uma ingestão reduzida, má absorção e uso frequente de medicamentos (diuréticos, IBPs).
  • Pacientes com doenças gastrointestinais: como doença celíaca, Crohn, diarreia crônica e síndromes disabsortivas.
  • Pcientes submetidos a ressecções no trato digestivo: ex. cirurgia bariátrica
  • Diabéticos tipo 2: perdas urinárias aumentadas, a hiperglicemia crônica aumenta a diurese (produção de urina), levando à excreção excessiva de magnésio pela urina. Além disso, a insulina auxilia na reabsorção renal de magnésio. Quando há resistência à insulina (comum no diabetes tipo 2), os rins eliminam mais magnésio pela urina. Além disso o uso de hipoglicemiantes também favorece uma redução dos níveis plasmaticos de magnésio, já que ele, assim como o fósforo, potássio e B1 entram para dentro da célula quando a glicose liga ao receptor de insulina.  
  • Além disso, o magnésio melhora a sensibilidade à Insulina, através de 3 mecanismos: a ativação de enzimas: sendo um co-fator de enzimas envolvidas no metabolismo da glicose, como as tiroquinases dos receptores de insulina e as proteínas quinases, que facilitam a sinalização da insulina nas células. Interferindo na Fosforilação da glicose: Auxiliando no transporte de glicose para dentro das células, reduzindo a resistência à insulina. Redução da inflamação: O magnésio tem efeito anti-inflamatório, diminuindo citocinas que prejudicam a ação da insulina (como TNF-Alfa). Resultado: Baixos níveis de magnésio estão associados a maior resistência à insulina, um fator chave no diabetes tipo 2.
  • Etilistas crônicos: baixa ingestão, má absorção e maior excreção urinária.
  • Usuários de certos medicamentos:
  • Diuréticos de alça (furosemida), Inibidores da bomba de prótons (omeprazol, lansoprazol, esomeprazol)
  • Aminoglicosídeos, Quimioterápicos
  • Gestantes: devido a maior demanda metabólica.
  • Atletas: maior demanda
  • Pessoas com sudorese excessiva: perda pela transpiração
  • Síndrome de Ehlers Danlos
  • Pessoas com dietas restritivas: anorexia, bulimia
  • Dieta ocidental, rica em carboidratos refinados ou alimentação rica em ultraprocessados
Fatores que favorecem redução de teor de magnésio nos alimentos

  • Solos Pobres em Magnésio: e aqui encontra-se o solo do cerrado. 
Esgotamento do solo: Agricultura intensiva sem reposição adequada de nutrientes diminui o teor de magnésio no solo.  
Uso excessivo de fertilizantes químicos: Alguns fertilizantes (como os ricos em potássio ou nitrogênio) podem interferir na absorção de magnésio pelas plantas.  

  • Processamento Industrial de Alimentos  
Refinamento de grãos: O magnésio está presente no farelo e no gérmen, que são removidos no processamento de farinhas brancas e arroz polido.  
Cozimento em excesso: A água de cozimento pode levar embora parte do magnésio, principalmente em legumes e verduras.  
Industrialização de alimentos: Alimentos ultraprocessados geralmente perdem magnésio durante as etapas de fabricação.  

  • Métodos de Cultivo 
Uso de pesticidas e herbicidas: Alguns químicos podem reduzir a absorção de magnésio pelas plantas.  
Cultivo hidropônico sem suplementação adequada: Se a solução nutritiva não tiver magnésio suficiente, os vegetais terão menos desse mineral.  

  • Armazenamento e Preparo Caseiro  
Cozinhar em muita água: O magnésio é solúvel em água, então fervura prolongada pode reduzir seu teor.  
Descascar frutas e legumes: Muitos nutrientes, incluindo magnésio, estão concentrados na casca.  

  • Fatores Ambientais
Acidificação do solo: Solos muito ácidos (pH baixo) podem reduzir a disponibilidade de magnésio para as plantas.  
Estresse hídrico: Secas ou irrigação inadequada afetam a absorção de nutrientes pelas raízes.  

Como preservar o magnésio nos alimentos?

Prefira alimentos integrais** (arroz integral, farinha de trigo integral).  
Cozinhe no vapor em vez de cozinhar na água.  
Coma vegetais crus ou levemente cozidos.  
Opte por alimentos orgânicos ou cultivados em solos ricos em nutrientes.  

Se a dieta for pobre em magnésio, pode ser necessário suplementar, mas o ideal é ajustar a alimentação para obter esse mineral naturalmente.

Fontes alimentares de Magnésio

A recomendação diária de ingestão de magnésio para adultos varia entre 310 a 420 mg/dia, dependendo do sexo e da idade.

Fonte: VANNUCHI, Hélio, MONTEIRO, Thais Helena. ILSI Brasil - international life sciences Institute do Brasil. Série: Funções plenamente reconhecidas de nutrientes

Devemos dar preferência para alimentos minimamente processados, integrais e de origem vegetal. A biodisponibilidade do magnésio é reduzida em alimentos com alto teor de fitatos (como leguminosas mal preparadas), por isso, o remolho e cocção adequados melhoram a absorção.

Considerações Finais

A deficiência de magnésio é uma condição subestimada, mas com impacto clínico significativo. Diante da dificuldade laboratorial em detectar a hipomagnesemia, é fundamental que o profissional de saúde esteja atento aos sinais e sintomas, fatores de risco e hábitos alimentares do paciente. A correção da deficiência pode ser feita com mudanças dietéticas e, quando necessário, com suplementação oral de magnésio (como citrato ou cloreto, que apresentam boa absorção).

Referências Bibliográfica

1 - VANNUCHI, Hélio, MONTEIRO, Thais Helena. ILSI Brasil - international life sciences Institute do Brasil. Série: Funções plenamente reconhecidas de nutrientes, V. 16. Magnésio. 2010
2 - Gröber U, Schmidt J, Kisters K. Magnesium in Prevention and Therapy. *Nutrients*. 2015;7(9):8199-8226.

Autores:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
Rodrigo Lamonier - Nutricionista
Dra. Natalia Jatene - Médica Endocrinologista