O objetivo dos treinos não deveria ser alcançar um físico perfeitamente esculpido. Esses ideais irreais são perigosos.
Os suplementos não são inofensivos. Achamos que são, mas não são. Alguns prometem aumentar a massa muscular ou melhorar o desempenho esportivo e são populares entre os jovens do sexo masculino. No entanto, diversos estudos mostram que esses produtos frequentemente têm rótulos imprecisos, contêm ingredientes indevidos, não contêm os ingredientes que deveriam e representam um risco potencial à segurança. Além disso, podem ser a porta de entrada para o uso de esteroides anabolizantes.
Devemos deixar claramente estabelecido que o exercício é benéfico. Somos uma sociedade muito sedentária, e nossos filhos não são exceção. Eles deveriam se movimentar mais e passar menos tempo em frente às telas. Praticar esportes, especialmente esportes coletivos, é positivo porque traz benefícios cardiovasculares e ensina habilidades sociais importantes.
Mas o objetivo dos treinos não deveria ser alcançar um físico perfeitamente esculpido. Esses ideais irreais são perigosos. O desejo por um corpo musculoso, tão comum na adolescência e no início da vida adulta nos homens, não é apenas equivocado, mas também está associado a um maior risco de compulsão alcoólica, depressão, dietas restritivas e uso de produtos para ganho muscular.
O problema é que esses produtos nem sempre são o que parecem ser. Uma série de estudos testou diversos suplementos para verificar se o que estava no frasco correspondia ao que estava no rótulo.
- Em 2020, uma análise de suplementos dietéticos comercializados como alternativas naturais aos esteroides revelou que, dos 16 ingredientes listados, seis não foram detectados, e apenas quatro estavam na dose correta. Dois produtos continham ingredientes não declarados no rótulo.
- Em 2021, um novo estudo encontrou nove estimulantes proibidos nos 17 suplementos esportivos testados.
- Em 2023, uma análise de 57 produtos mostrou que 40% não continham nenhum dos ingredientes declarados. Muitos tinham doses incorretas, e 12% continham pelo menos um ingrediente proibido pela FDA. Apenas 11% tinham doses que correspondiam ao que estava no rótulo.
Essas irregularidades levaram a Food and Drug Administration (FDA) a emitir alertas ao público sobre muitos produtos para musculação. Mas um estudo recente, publicado no JAMA Network Open, sugere um problema ainda maior: esses suplementos podem aumentar o risco futuro de uso de esteroides anabolizantes.
O estudo analisou mais de 4.000 jovens do sexo masculino entre 10 e 27 anos dentro do Growing Up Today Study (GUTS). Ao longo dos anos, os participantes responderam questionários sobre o uso de suplementos para ganho muscular, como shakes de proteína, creatina, aminoácidos e hidroximetilbutirato (HMB), além do uso de esteroides anabolizantes.
Menos de 1% dos meninos relataram o uso de esteroides anabolizantes. Mas um fator previu quais meninos eram mais propensos a experimentar esteroides:
- O risco de tentar esteroides era oito vezes maior entre os que já haviam usado suplementos para ganho muscular.
- O uso de suplementos musculares era muito comum: quase um em cada três meninos admitiu já tê-los experimentado.
Não há dúvidas sobre os perigos dos esteroides anabolizantes. Um estudo da Dinamarca revelou que o uso de esteroides triplica o risco de morte. Mesmo que não sejam fatais, os esteroides causam danos sérios à saúde.
Nem todos os suplementos são perigosos ou contaminados com ingredientes não rotulados, e a maioria das pessoas não irá abusar de esteroides anabolizantes. No entanto, o problema é grande o suficiente para colocar em risco jovens atletas e aspirantes a atletas.
Eles acreditam que esses suplementos melhoram o desempenho esportivo, quando provavelmente não melhoram.
Eles acreditam que são seguros, quando podem não ser.
Eles acreditam que são necessários para alcançar um ideal de masculinidade, quando esse ideal é uma fantasia.
A realidade é que esses suplementos são fundamentalmente desnecessários.