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terça-feira, 4 de março de 2025

Hora de combater o ambiente obesogênico

4 de março é o Dia Mundial da Obesidade, uma data global de mobilização para enfrentar a crise da obesidade. Essa é uma das crises de saúde pública mais preocupantes no mundo. Segundo a OMS, desde 1990, a obesidade mais do que dobrou entre adultos e quadruplicou entre adolescentes. Em 2022, 2,5 bilhões de adultos estavam com sobrepeso, incluindo 890 milhões com obesidade, e 390 milhões de crianças e adolescentes (5 a 19 anos) tinham sobrepeso, sendo 160 milhões com obesidade. O sobrepeso e a obesidade estão associados a diversas doenças crônicas graves, como diabetes tipo 2, doença arterial coronariana, AVC, hipertensão e câncer. A previsão é que 1,9 bilhão de pessoas vivam com obesidade até 2035, incluindo o dobro de crianças com obesidade em comparação com 2020. Uma resposta urgente e coordenada dos diversos setores da sociedade é essencial para evitar que essa crise de saúde se agrave ainda mais.

Os ambientes obesogênicos—fatores ambientais que determinam tanto a alimentação quanto a atividade física—são determinantes-chave para o sobrepeso e a obesidade, sendo um alvo essencial para a prevenção. A disponibilidade e acessibilidade de alimentos saudáveis, infraestrutura segura para caminhadas, ciclismo ou esportes, normas culturais e tradições, influência da mídia e regulamentações são elementos que contribuem para o ambiente obesogênico. No caso das crianças, fatores escolares também exercem influência, como a pressão dos colegas, tempo reduzido para educação física, alimentação inadequada nas escolas e estresse acadêmico.

Os ambientes obesogênicos afetam mais gravemente pessoas de baixa renda, aumentando desigualdades na obesidade. No Reino Unido, um relatório da Food Foundation revelou que alimentos saudáveis podem custar o dobro por caloria em comparação com alimentos não saudáveis. As famílias mais pobres precisariam gastar 45% de sua renda disponível para seguir uma dieta saudável recomendada pelo governo, percentual que sobe para 70% em lares com crianças. “É um desequilíbrio trágico e inaceitável entre os alimentos que são promovidos, acessíveis e baratos e aqueles que são saudáveis e sustentáveis. E as crianças mais vulneráveis da sociedade são as que sofrem as piores consequências disso”, alerta Anna Taylor, diretora executiva da Food Foundation.

Para combater a obesidade, é necessário mudar o foco do indivíduo para os sistemas que causam ambientes obesogênicos, tema do Dia Mundial da Obesidade deste ano. Os governos devem implementar leis e políticas como tributação sobre alimentos ultraprocessados, proibição de publicidade de produtos não saudáveis (especialmente para crianças), restrições à exposição desses alimentos em supermercados e rótulos mais claros nas embalagens. Escolas e comunidades precisam incentivar estilos de vida saudáveis, oferecendo merendas escolares saudáveis e espaços seguros para a prática de atividades físicas. A indústria alimentícia—incluindo fabricantes, supermercados e restaurantes—deve assumir a responsabilidade pela qualidade, marketing e preço dos alimentos, promovendo escolhas mais saudáveis. A mídia e o setor publicitário precisam priorizar a saúde dos consumidores em vez do lucro, considerando os impactos de longo prazo de suas mensagens, especialmente para crianças.

Há estratégias viáveis para os países implementarem. Na 75ª Assembleia Mundial da Saúde (2022), os Estados-membros adotaram recomendações para a prevenção da obesidade e apoiaram o Plano de Aceleração da OMS, destacando que “a solução para a epidemia da obesidade depende de vontade política, um plano de ação e os recursos e comprometimento para sua implementação”. Algumas nações já adotaram medidas: México, Arábia Saudita, África do Sul e Reino Unido implementaram impostos sobre bebidas adoçadas, resultando na redução do consumo de açúcar. Outros países adotaram rótulos de advertência em alimentos com alto teor de açúcar, gordura ou sal. No Chile, essa estratégia, combinada com a proibição de publicidade infantil em alimentos industrializados, reduziu as vendas desses produtos. Essas são iniciativas promissoras, mas nenhum país está no caminho para conter o avanço da obesidade, e o ambiente obesogênico continua sendo um grande desafio.

O impacto econômico da obesidade também é significativo. Se nada for feito, os custos globais do sobrepeso e obesidade podem chegar a US$ 3 trilhões por ano até 2030. Diante desse cenário de crise sanitária, econômica e social, decisões governamentais e vontade política serão essenciais para promover mudanças. Os países devem aproveitar essa oportunidade para enfrentar os ambientes obesogênicos e a epidemia da obesidade como um passo essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.