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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Curcumina pode auxiliar na redução da Doença Renal Crônica

Diversas são as estratégias utilizadas para auxiliar na prevenção do desenvolvimento da Doença Renal Crônica, em especial seu quadro característico de inflamação prolongada. 

Um estudo recente sugere ainda uma nova intervenção: a suplementação de curcumina, componente ativo do açafrão. Vamos entender melhor essa relação?

A Doença Renal Crônica (DRC) é uma condição patológica decorrente da perda progressiva da função renal, com alto risco de mortalidade cardiovascular.

Entre os fatores patogênicos para a progressão da DRC e a ocorrência de suas principais complicações, a inflamação e o estresse oxidativo têm desempenhado um papel importante, sendo considerados grandes fatores de riscos para aumento da morbidade e da mortalidade.

Há indícios que a microbiota intestinal muda consistentemente ao longo da DRC, induzindo uma carga metabólica que pode aumentar ainda mais o risco cardiovascular dos pacientes. Além disso, os metabólitos derivados da microbiota, tais como p-cresil sulfato (PCS) e indoxil sulfato (IS), podem contribuir para diminuir a função renal e piorar ainda mais a doença.

Sendo assim, uma das possibilidades de modular o quadro inflamatório sistêmico da DRC é a atuação na composição da microbiota intestinal. Mas como?

Intervenções direcionados à modulação das espécies que habitam o trato gastrointestinal têm sido sugeridas, especificamente através da suplementação de probióticos/prebióticos ou nutracêuticos. Dentre estes, a curcumina demonstrou propriedades anti-inflamatórias significativas.

A partir daí, o estudo piloto italiano analisado neste artigo buscou observar os potenciais benefícios da suplementação oral de curcumina-fosfolipídio em indivíduos com Doença Renal Crônica Leve.

Pessoas com DRC usaram curcumina por 6 meses

De fevereiro de 2018 a fevereiro de 2019, foram recrutados 24 pacientes com Doença Renal Crônica em estágio leve, maiores de 18 anos e que não estavam em tratamento hemolítico.

Para o grupo controle, foram selecionados 20 voluntários saudáveis, a partir dos mesmos critérios do grupo anterior, exceto pela presença da DRC ou qualquer outra doença relacionada ao rim.

Os pacientes com a doença seguiram orientações nutricionais e foram suplementados com 500mg curcumina contendo 100 mg de curcuminóides, duas vezes ao dia, por período de 3 ou 6 meses. O estudo buscou analisar as principais alterações conforme a passagem do tempo, que se dividiu em T0 (momento inicial), T1 (após três meses) e T2 (após seis meses).

Após estes períodos, foram coletados parâmetros clínicos, medidas de composição corporal, hábitos alimentares e amostras de fezes e sangue.

Os parâmetros investigados foram: estado nutricional e ingestão alimentar, inflamação e estresse oxidativo, toxinas urêmicas e microbiota intestinal.

Efeitos da suplementação sobre a inflação e outros parâmetros de saúde

Ingestão alimentar e estado nutricional: No início do estudo, foi fornecido aconselhamento nutricional aos pacientes com DRC, com objetivo de relembrar a importância da diminuição da ingestão de proteínas, sódio, fósforo e potássio. Os resultados mostraram a diminuição na ingestão de calorias, carboidratos, proteínas e fibras, além de fósforo e potássio. A análise de bioimpedância mostrou também uma diminuição significativa na massa gorda e uma tendência crescente na massa livre de gordura no primeiro trimestre.

Inflamação: A suplementação de curcumina resultou em um efeito anti-inflamatório e redutor das citocinas plasmáticas, em particular da proteína quimiotática de monócitos (MCP-1), que costuma ser super expressa em pacientes com DRC, aumentando a inflamação através do recrutamento de macrófagos.  Após seis meses de suplementação, o fitossomo de curcumina também induziu uma redução nos níveis plasmáticos de IL-4 (interleucina moduladora de respostas imunes) e IFN-y (citocina que contribui para a progressão da disfunção renal). O efeito anti-citocinas pró inflamatórias da curcumina já havia sido demonstrado anteriormente em diferentes condições patológicas, tais como hepatite B e osteoartrite. 

Estresse oxidativo: Em relação à análise da peroxidação lipídica, houve uma diminuição de 18% de TBARS (subproduto da peroxidação) após 3 meses do início do estudo, e uma diminuição de 25% ao final dos 6 meses de suplementação com o fitossomo de curcumina.

Toxinas urêmicas: As duas principais toxinas urêmicas que contribuem para a progressão da doença renal e aumento dos riscos cardiovasculares são o indoxil sulfato (IS) e o p-cresil sulfato (PCS). Embora não tenha sido observado uma diminuição significativa, houve uma tendência de redução para os níveis de PCS total e livre. Em relação à IS, notou-se estabilidade. É válido salientar que, normalmente, há um aumento nos níveis de toxinas urêmicas à medida que os danos renais pioram, mas isso não foi observado após a suplementação. Dessa forma, a observação de estabilidade pode ser considerada um resultado positivo.

Microbiota intestinal: Após 6 meses de suplementação de curcumina, a diversidade alfa foi mais elevada em grupos com Doença Renal Crônica em suplementação, quando comparados ao grupo controle. Vale relembrar que os pacientes com a doença seguiram orientações nutricionais específicas, enquanto o grupo controle estava em uma dieta livre.

Em resumo, houve presença significativamente maior de:
Família Lachnospiraceae 
Família Lactobacillaceae 
Família Prevotellaceae

Enquanto isso, houve uma presença significativamente menor de:
Família Enterobacteriaceae (e gênero Shigella)
Família Bacteroidaceae 
Filo Verrucomicrobia
Gênero Lachnoclostridium
 
Conclusão 

A partir dos resultados apresentados, ficam sugeridos os benefícios promissores do uso de curcumina para a Doença Renal Crônica, principalmente na redução da inflamação.  Além disso, nenhum efeito adverso foi observado no grupo de pacientes suplementados, o que corrobora com o bom perfil de segurança deste fitossomo, mesmo após administração prolongada.

As limitações do estudo apresentado dizem respeito ao pequeno tamanho da amostra e alta taxa de abandono. Desse modo, outros estudos são necessários para evidenciar o potencial benefício da curcumina na DCR, especialmente ensaios controlados por placebo.

Para conferir o estudo na íntegra: https://www.mdpi.com/2072-6643/14/1/231

Referência: PIVARI, Francesca et al. Curcumin Supplementation (Meriva®) Modulates Inflammation, Lipid Peroxidation and Gut Microbiota Composition in Chronic Kidney Disease. Nutrients, v. 14, n. 1, p. 231, 2022.

Autor: Natália C Lopes

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Estresse engorda?



Alguns pacientes me perguntam com frequência:
- Dr, pq quando fico estressada(o) engordo?
Ou
- Dr, é só ficar estressada que emagreço!
Sempre me questionei sobre a questão de emagrecimento na vigência de situações estressantes. Via de regra, fisiologicamente falando perda de peso por estresse não ocorre (exceto quando o paciente ao viver situação estressante, diminui a ingesta calórica). É só pintar uma tensão forte, provocada por acúmulo de trabalho, trânsito caótico, discussão em casa e pronto: você aumenta a ingestão alimentar, muitas vezes sem se dar conta de que está passando dos limites. Para saber até que ponto o estresse é o culpado pelos seus quilinhos a mais, é preciso entender como esse mecanismo funciona.

A chave é um hormônio produzido pela nossa glândula supra-renal: o cortisol!
O cortisol tem múltiplas funções, dentre elas auxilia na manutenção dos níveis glicêmicos e controle da pressão arterial.

Quando em excesso poderá favorecer o ganho de peso. Mas afinal, que situações podem desencadear maior liberação do cortisol ?
O que ativa esta liberação são estressores como poluentes, alimentação rica em gordura saturada ou trans, excesso de sódio, adoçantes, o jejum prolongado (ficar horas sem comer alguma coisa), a ansiedade, a apreensão, o nervosismo, medicamentos (corticóides) , alcoolismo dentre outros.

"O estresse leva ao aumento do hormônio cortisol, que facilia a diferenciação de células gordurosas (aumento do número de células gordurosas), aumenta a formação de gordura (entrada de triglicérides no adipócito - célula de gordura), dificulta o emagrecimento", afirma o endocrinologista, Dr. Marcio Mancini, Presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e médico responsável pelo Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas.
Além disso ocorre um desequilíbrio na massa magra pois uma das ações do cortisol é a utilização da massa magra (degradação das proteínas) e com isso alteração do metabolismo basal, fraqueza muscular.

Existe uma outra questão importante quando se fala de cortisol, a privação do sono. Quem não dorme direito:
1) Produz mais cortisol (que engorda);
2) Produz menos hormônio de crescimento (que facilita o emagrecimento);
3) Produz menos leptina (hormônio relacionado à saciedade e que também facilita o gasto de energia pelo organismo);
4) Produz mais grelina (substância responsável por estimular o apetite;
Além disso, a privação do sono pode gerar estresse, irritabilidade, aumento da incidência de doenças cardiovasculares, labilidade emocional, indisposição e fadiga no dia seguinte. Portanto qualidade de sono é igual Qualidade de vida (vide o post: Qualidade de sono pode contribuir para a obesidade)

Um exemplo da interferência do Estresse no consumo maior de alimentos é o estudo realizado por Diana Fernandez, da área de medicina preventiva da Universidade de Rochester, nos EUA. Ela observou 2.782 empregados de uma fábrica de Nova York e constatou que o estresse vivenciado em uma fase de demissões aumentou muito a procura por comidas ricas em gorduras e calorias – elas desapareciam rapidamente das máquinas onde eram vendidas. Mas as complicações causadas pelo estresse foram além. Os trabalhadores disseram não ter tempo para comer bem ou fazer atividade física na hora do almoço porque tinham medo de sair de suas mesas de trabalho por muito tempo. Cansados física e emocionalmente, à noite a maioria se dedicava a ver televisão. “Os que assistiram a quatro horas por dia ou mais tiveram 150% mais chances de se tornar obesos”. Por causa de achados como esses, alguns endocrinologistas começam a defender mudanças nos relacionamentos pessoais e profissionais – visando à diminuição do estresse – também com o objetivo de conter o avanço da obesidade

Pensando nisso, uma das propostas para sanar este problema é que os programas de bem-estar no trabalho examinem a estrutura organizacional e forneçam meios práticos para minimizar o estresse. Além disso, é necessário dar condições para romper o sedentarismo. Uma delas é praticada por poucas empresas no Brasil, é ter uma área equipada para pessoas se exercitarem antes, durante ou depois do expediente.