quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Aspectos Nutricionais na Disautonomia e Síndromes de Hipermobilidade

A disautonomia e as síndromes de hipermobilidade, incluindo a síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel (EDS-HT), são condições distintas, mas frequentemente coexistentes. Ambas apresentam repercussões multissistêmicas, com sintomas debilitantes que incluem dor musculoesquelética, fadiga, alterações gastrointestinais e instabilidade articular. O artigo revisa as principais evidências sobre implicações nutricionais e estratégias dietéticas para reduzir sintomas e melhorar a qualidade de vida desses pacientes.

Epidemiologia e Sobreposição Clínica


A síndrome de taquicardia postural ortostática (POTS) é uma das formas mais prevalentes de disautonomia, acometendo majoritariamente mulheres jovens, e frequentemente associada a EDS-HT. Estudos mostram que até 18% dos pacientes com POTS apresentam diagnóstico concomitante de EDS, sugerindo relação significativa entre as duas condições. Pacientes com hipermobilidade tendem a manifestar sintomas mais precocemente e apresentam sobreposição com síndromes de dor crônica, fadiga e distúrbios gastrointestinais.

Manifestações Gastrointestinais


Sintomas como dor abdominal, constipação, diarreia, refluxo e dispepsia são altamente prevalentes. Estudos relatam anormalidades em motilidade esofágica, esvaziamento gástrico e trânsito intestinal. A disautonomia agrava a função digestiva ao comprometer o equilíbrio autonômico entre os estados de “luta ou fuga” e “repouso e digestão”. Além disso, há maior prevalência de disbiose intestinal e supercrescimento bacteriano (SIBO), especialmente associado à constipação.

Estratégias Nutricionais


O manejo nutricional visa corrigir deficiências e minimizar sintomas. As intervenções incluem:

Modificações dietéticas:
Fibras solúveis: reduzem diarreia e constipação, além de benefícios metabólicos e cardiovasculares.
Dieta com baixo FODMAP: mostrou melhora de até 80% nos sintomas gastrointestinais em condições similares.
Dieta sem glúten: pode beneficiar pacientes com sintomas sobrepostos à síndrome do intestino irritável.
Probióticos e prebióticos: auxiliam na restauração da normobiose intestinal, reduzindo inflamação e sintomas.
Evitar: adoçantes artificiais, excesso de frutose e álcool, que favorecem a disbiose e aumentam a permeabilidade intestinal.

Ingestão de sal e líquidos: Estratégia importante para reduzir hipotensão ortostática. Recomenda-se ingestão diária de  6–10 g de sal  e 1,5–3 L de líquidos, divididos em pequenas refeições ao longo do dia.

Suplementação micronutricional: 


Vitamina D3: : comumente deficiente em EDS.
Vitamina C: essencial para síntese de colágeno e cicatrização.
 MSM:  auxiliam na integridade tecidual.
Vitaminas B12 e B1: frequentemente deficientes em pacientes com POTS e associadas à fadiga.
Coenzima Q10, carnitina, NADH, magnésio e ácido alfa-lipóico: sem evidências robustas, postula-se que possam reduzir fadiga e dor muscular.

Nutrição de Suporte


Em casos graves, quando a ingestão oral é insuficiente, pode ser necessário suporte com hidratação intravenosa, nutrição enteral ou até parenteral. Isso ocorre principalmente em pacientes com sintomas gastrointestinais refratários e comprometimento da motilidade digestiva.

Dor Articular, Musculoesquelética e Fadiga


Glucosamina:  recomendadas para degeneração articular.
Carnitina e CoQ10: postula-se que possam melhoram miopatia e fadiga.
Ácido gama-linolênico: ação teoricamente antiinflamatória.
Essas estratégias complementam o tratamento farmacológico, visando melhora funcional e redução da dor.

Conclusão


A nutrição desempenha papel essencial no manejo de pacientes com disautonomia e síndromes de hipermobilidade. Estratégias individualizadas incluem modificações dietéticas, suplementação direcionada e suporte nutricional quando necessário. Tais medidas podem reduzir sintomas gastrointestinais, ortostáticos, musculoesqueléticos e de fadiga, melhorando a qualidade de vida. No entanto, grande parte das recomendações ainda é baseada em extrapolações de outras condições, destacando a necessidade de mais pesquisas clínicas específicas.

Tradução do artigo: Do T, Diamond S, Green C, Warren M. Nutritional Implications of Patients with Dysautonomia and Hypermobility Syndromes. Curr Nutr Rep. 2021 Dec;10(4):324-333. doi: 10.1007/s13668-021-00373-1. Epub 2021 Sep 12. PMID: 34510391; PMCID: PMC8435108.