domingo, 14 de setembro de 2025

Fermentados na prática clínica: kefir, iogurte e kombucha





Os alimentos fermentados como kefir, iogurte e kombucha têm ganhado destaque devido ao seu potencial impacto na saúde, especialmente pela modulação da microbiota intestinal e efeitos metabólicos. 

O termo “prebiotic sodas” também está se popularizando, mas ele não é reconhecido na literatura médica tradicional; trata-se de uma denominação comercial recente para bebidas que alegam conter fibras prebióticas e culturas vivas, mas não há consenso ou padronização científica sobre sua composição ou benefícios, diferentemente dos alimentos fermentados clássicos.

O kefir e o iogurte são os fermentados mais estudados. Ambos contêm culturas vivas de bactérias e leveduras, capazes de sobreviver ao trânsito gastrointestinal e exercer efeitos benéficos, como aumento da diversidade microbiana, reforço da barreira epitelial e modulação da resposta imune. 

Estudos clínicos indicam benefícios em parâmetros metabólicos (glicemia, perfil lipídico, pressão arterial) e redução de marcadores inflamatórios em populações com síndrome metabólica, hipertensão e síndrome do intestino irritável. 

O kefir, especificamente, mostrou melhor tolerabilidade em pacientes com intolerância à lactose e potencial aumento da taxa de erradicação do Helicobacter pylori quando associado à terapia antibiótica, com menos efeitos adversos gastrointestinais.

No entanto, apesar dos achados promissores, a literatura destaca que os estudos clínicos disponíveis são heterogêneos, de curta duração e com amostras pequenas, o que limita a generalização dos resultados. 

Não há evidências robustas para recomendar o uso de fermentados exclusivamente para tratamento de condições gastrointestinais comuns, e os efeitos benéficos parecem ser mais consistentes em modelos experimentais e estudos observacionais do que em ensaios clínicos randomizados de alta qualidade.

O kombucha, embora amplamente consumido e associado a propriedades antimicrobianas, imunomoduladoras e antioxidantes em estudos in vitro e animais, carece de ensaios clínicos randomizados em humanos que comprovem benefícios específicos para saúde gastrointestinal ou metabólica. A literatura aponta a necessidade de estudos clínicos bem desenhados para confirmar os efeitos observados em modelos experimentais.

Epidemiologicamente, dietas ricas em alimentos fermentados estão associadas a menor risco de doenças metabólicas, cardiovasculares e mortalidade, mas essas associações não estabelecem causalidade. Por outro lado, há evidências de que o consumo elevado de fermentados de soja pode aumentar o risco de câncer gástrico, destacando a importância do tipo de alimento fermentado e do contexto populacional.

Em resumo, kefir e iogurte apresentam evidências clínicas moderadas de benefícios metabólicos e gastrointestinais, enquanto o kombucha e bebidas comercialmente denominadas “prebiotic sodas” ainda carecem de validação científica robusta. O consenso atual é que alimentos fermentados podem ser parte de uma estratégia nutricional saudável, mas não substituem terapias convencionais e não devem ser recomendados como tratamento exclusivo para doenças gastrointestinais ou metabólicas até que haja evidências clínicas mais sólidas.

Conclusão 


Eequilíbrio. Kefir e iogurte têm evidência clínica moderada e segurança favorável. Kombucha permanece promissor, porém com lacunas em humanos. “Prebiotic sodas” carecem de padronização e base robusta. Adote fermentados como parte de uma dieta de qualidade. Evite promessas terapêuticas além dos dados disponíveis hoje. 

Maneiras de incorporar esses alimentos:

  • Café da manhã: iogurte natural com mamão, aveia e castanha-do-pará; ou kefir batido com banana e canela.
  • Lanches: copo de kefir com cacau em pó; iogurte comfrutas. 
  • Refeições principais: molho de iogurte com limão e ervas para saladas; marinada de frango ou peixe com iogurte, alho e açafrão. Acompanhamentos: coalhada seca com azeite e zaatar para legumes assados; vinagrete de kefir para acompanhar quibe.
  • Sobremesas leves:  iogurte com granola caseira pouco açucarada; kefir gelado com morango amassado.
  • Culinária regional: iogurte em substituição parcial da maionese no salpicão; kefir em panquecas integrais; kombucha pasteurizado como “spritz” sem álcool diluído com água com gás e rodelas de limão.

Estratégia de adesão: orientar porções diárias, preferir versões naturais, ler rótulos, e iniciar gradualmente para avaliar tolerância, já que é comum na minha prática clínica, relatos de pacientes que tem sintomas digestivos agravados com a utilização, principalmente de Kombucha. 


Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 

Referências:

1. Non-Prescription Therapeutics. Weingarden AR, Ko CW. The American Journal of Gastroenterology. 2024;119(1S):S7-S15. doi:10.14309/ajg.0000000000002578.

2. Fermented Dairy Products as Precision Modulators of Gut Microbiota and Host Health: Mechanistic Insights, Clinical Evidence, and Future Directions. Gao Y, Liu Y, Ma T, et al. Foods (Basel, Switzerland). 2025;14(11):1946. doi:10.3390/foods14111946.

3. Yogurt and Other Fermented Foods as Sources of Health-Promoting Bacteria. Kok CR, Hutkins R. Nutrition Reviews. 2018;76(Suppl 1):4-15. doi:10.1093/nutrit/nuy056.

4. Fermented Foods: Definitions and Characteristics, Impact on the Gut Microbiota and Effects on Gastrointestinal Health and Disease.
Dimidi E, Cox SR, Rossi M, Whelan K. Nutrients. 2019;11(8):E1806. doi:10.3390/nu11081806.

5. Fermented Foods: An Update on Evidence-Based Health Benefits and Future Perspectives.
Diez-Ozaeta I, Astiazaran OJ. Food Research International (Ottawa, Ont.). 2022;156:111133. doi:10.1016/j.foodres.2022.111133.

6. Biological Significance of Probiotic Microorganisms From Kefir and Kombucha: A Review. da Anunciação TA, Guedes JDS, Tavares PPLG, et al. Microorganisms. 2024;12(6):1127. doi:10.3390/microorganisms12061127.

7. Traditional Fermented Foods and Beverages From Around the World and Their Health Benefits. Cuamatzin-García L, Rodríguez-Rugarcía P, El-Kassis EG, et al. Microorganisms. 2022;10(6):1151. doi:10.3390/microorganisms10061151.

0 comentários:

Postar um comentário

Propagandas (de qualquer tipo de produto) e mensagens ofensivas não serão aceitas pela moderação do blog.