domingo, 21 de setembro de 2025

Efeitos colaterais dos análogos de GLP-1: como minimizá-los



Por que falar de efeitos colaterais dos análogos de GLP-1? Simplesmente porque eles existem, são comuns e quando não manejados corretamente podem fazer o paciente abandonar o tratamento. Então a  regra número 1 é: Nunca se automedique.  2: Comunique seu médico sobre os efeitos colaterais.

Os análogos de GLP-1 (semaglutida, liraglutida, dulaglutida e tirzepatida) reduzem peso e risco cardiometabólico, e alguns mostram benefício cardiovascular. Nenhuma classe de medicamentos para tratamento da obesidade foi tão revolucionária como os análogos e por isso os efeitos colaterais devem ser alertados. 

Nenhum remédio é “milagre”: há efeitos colaterais previsíveis e manejáveis. Entender riscos e como preveni-los faz parte do tratamento sério. Isso pede monitorização clínica, nutricional e laboratorial. Por isso o acompanhamento com nutrólogo faz diferença desde o início.

Efeitos gastrointestinais: o que esperar

Náuseas, vômitos, distensão, diarreia ou constipação são os mais comuns. Boa parte dos meus pacientes apresentam esses sintomas o início do tratamento e voltam a surgir quando aumentados a dose. 

Eles aparecem sobretudo na subida de dose e tendem a atenuar com o tempo. A estratégia “start low, go slow” reduz bastante esses sintomas. O plano alimentar correto melhora a tolerância. Sem ajustes, muitos desistem antes de colher os benefícios.

Manejo da náusea e dos vômitos

Suba a dose gradualmente (a cada 4–8 semanas, individualizando). Prefira refeições pequenas, mastigue devagar e evite excesso de líquidos junto às refeições. Reduza gorduras muito ricas e alimentos muito picantes nas primeiras semanas. Fracionamento e gengibre ajudam; se necessário, antiemético por curto período com orientação.

Quando a diarreia aparece

Diminua fibras insolúveis no começo e opte por cozidos, caldos e amidos simples por alguns dias. Hidrate com atenção, especialmente se houver perdas. Reintroduza fibras gradualmente conforme a melhora. Se persistir, reavalie dose e descarte outras causas. Ajuste nutricional e farmacológico caminham juntos.

Lidando com constipação

Priorize fibra solúvel (aveia, psyllium), água na medida (o mais importante, pois há uma redução da sede) e exercícios diários. Inclua frutas “funcionais” como ameixa e kiwi, confome a dieta prescrita pelo nutricionista. Evite uso crônico de laxantes estimulantes sem acompanhamento. Se não houver melhora, ajuste dose e horário da aplicação. O objetivo é aliviar sem perder eficácia.

Risco biliar: como reduzir

Meta-análises mostram aumento modesto de colelitíase/colecistite, mais provável com doses altas, uso prolongado e emagrecimento rápido. Parte do risco vem da perda de peso acelerada. Monitoramos dor em hipocôndrio direito, enzimas e ultrassom quando indicado. Perda gradual e proteína adequada ajudam. Dor persistente pede suspensão e investigação.

Retinopatia diabética: atenção redobrada

Em diabéticos com retinopatia, quedas rápidas de A1c podem piorar o quadro no início. Por isso triamos fundo de olho e buscamos controle glicêmico progressivo. Em quem não tem retinopatia, o risco é bem menor. O trabalho conjunto entre nutrólogo e oftalmo é essencial. O benefício cardiometabólico permanece relevante.

Pancreatite e pâncreas: o que a ciência diz

O risco de pancreatite parece baixo e inconsistente entre estudos; não há evidência de aumento de câncer de pâncreas com GLP-1. Ainda assim, dor abdominal intensa pede avaliação com amilase/lipase. Histórico de pancreatite exige decisão individualizada. A conversa franca sobre riscos e benefícios é indispensável. Segurança vem primeiro.

Humor e segurança psiquiátrica

Até agora, agências regulatórias não confirmaram causalidade para ideação suicida com GLP-1. Ainda assim, monitoramos humor, histórico e sinais de alerta. Qualquer alteração deve ser comunicada rapidamente. O cuidado integral evita subnotificação e agiliza intervenções. A saúde mental é parte do plano de emagrecimento.

Esvaziamento gástrico e cirurgias

O esvaziamento gástrico mais lento é parte do mecanismo terapêutico e tem implicações perioperatórias. Em cirurgias eletivas, a maioria pode manter o GLP-1 com triagem de sintomas e, se necessário, dieta líquida/pausa de dose. Casos de maior risco seguem protocolos específicos com anestesia. Informe cirurgião e anestesista. Planejamento reduz complicações. A recomendação de suspender 21 dias antes do procedimento foi abolida. Pede-se dieta líquida e que se faça uma ultrassom para verificar conteúdo gástrico. 

É importantíssimo salientar que pela medicação retardar o esvaziamento gástrico, a comida permanecerá por mais tempo no estômago, logo, pode causar empachamento, queimação, arrotos, azia, sintomas e sinais de refluxo. Refluxo gastrolaríngeo e sinusiste de repetição. 

Quem já tem refluxo, provavelmente terá piora do quadro. Mas isso podemos contornar com algumas medidas dietéticas, comportamentais. Sendo obrigação do médico prescritor orientar sobre os colaterais. Isso tranquiliza o paciente, aumenta a adesão ao tratamento e torna o processo menos doloroso. Sim, processo de perda de peso não é mar de rosas. É doloroso, gera ansiedade e muita expectativa no paciente. Cabe ao médico e ao nutricionista ter empatia e tentar estratégias para tornar o processo mais leve. 

Obstrução/íleo: eventos raros

Há relatos raros de obstrução intestinal. Oriente comer devagar e evitar grandes volumes de alimentos muito fibrosos/aderentes nas primeiras semanas. Dor intensa, vômitos persistentes e distensão sem evacuar indicam urgência. Alguns indivíduos são mais suscetíveis. Educação prévia reduz eventos e visitas ao pronto-socorro.

Rim e hidratação

Vômitos/diarreia podem levar à desidratação e, raramente, à lesão renal aguda. Hidratação programada é parte da prescrição. Ajustamos diuréticos e anti-hipertensivos quando necessário. Exames de creatinina e eletrólitos entram no acompanhamento. Sinais de alarme pedem contato imediato com o prescritor. 

É importante salientar que comumente muitos pacientes relatam diminuição da sede, então frisamos a necessidade de manter a hidratação em dia, principalmente para aliviar a constipação, fadiga, cãimbra. 

Hipoglicemia em combinações

Isoladamente, análogos de GLP-1 raramente causam hipoglicemia. O risco sobe quando combinados a insulina ou sulfonilureias. Por isso, pacientes com diabetes mellitus tipo 2 em politerapia precisam de plano de ajuste. Checamos glicemias e sintomas no início e na titulação. Educar para correção segura evita sustos. Prevenir é melhor que remediar.

Queda de cabelo e massa magra

Queixas de cabelo e perda de massa magra são comuns no emagrecimento rápido, não só com GLP-1, mas especialmente com essa classe. O Nutrólogo e nutricionista possuem em seu arsenal, ferramentas para tentar minimizar esses efeitos colaterais. O foco sempre é a manter o aporte protéico e de nutrientes via alimentação, quando necessário podemos utilizar Whey Protein, polivitamínicos personalizados. 

Quem não deve usar

História de carcinoma medular de tireoide ou NEM-2 contraindica. Gravidez, aleitamento e hipersensibilidade também. Em retinopatia ativa, cautela e co-gestão com oftalmo. Pancreatite prévia exige decisão individual. Cirurgias marcadas pedem alinhamento de conduta com a equipe.

Por que acompanhamento com nutrólogo/endocrinologista?

Porque sucesso não é “aplicar a caneta”: é ajustar dieta, exames, doses e expectativas. É tratar efeitos colaterais sem perder eficácia e aumentando adesão do paciente. É saber quando subir, manter ou pausar. É integrar treino, sono, estresse e comorbidades. Cuidado individualizado aumenta segurança e resultado.

Análogos de GLP-1 podem transformar sua saúde quando usados de forma racional e baseada em evidência científica. Efeitos colaterais existem, mas são manejáveis com estratégia clínica e nutricional. Evite copiar doses da internet ou usar produtos sem aprovação. Sua jornada merece ciência, cautela e resultados consistentes.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 
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