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domingo, 1 de outubro de 2023

“Medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos para tratar a obesidade” em vez de “remédios para perda de peso” – por que a linguagem importa

“Medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos para tratar a obesidade” em vez de “remédios para perda de peso” – por que a linguagem importa – uma declaração oficial da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM)

ABSTRATO

A obesidade é em grande parte subtratada, em parte devido ao estigma que envolve a doença e o seu tratamento. A utilização do termo “remédios para emagrecer” para se referir a medicamentos para o tratamento da obesidade pode contribuir para esse estigma, levando à ideia de que qualquer pessoa que queira perder peso poderia utilizá-los e que o uso em curto prazo, apenas na forma ativa fase de perda de peso seria suficiente. Pelo contrário, a utilização de termos como “medicamentos para tratar a obesidade” ou “medicamentos anti-obesidade” transmite a ideia de que o tratamento é dirigido à doença e não ao sintoma. Este comunicado conjunto da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM) pretende alertar a imprensa, os profissionais de saúde e a comunidade científica sobre a importância do uso adequado da linguagem, com o objetivo de melhorar o tratamento da obesidade.

INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença crónica comum associada a diversas comorbilidades, incapacidade e mortalidade, bem como baixa qualidade de vida; no entanto, ainda é amplamente subdiagnosticada e subtratada.

O estigma da obesidade é altamente prevalente, assim como o estigma contra o seu tratamento, seja ele médico ou cirúrgico.

Há alguns anos, um editorial da Expert Opinion on Drug Safety discutiu algumas das razões pelas quais a farmacoterapia da obesidade é estigmatizada.

Parte das razões pode ser atribuída à ideia generalizada de que, em vez de tratarem a obesidade em si, esses medicamentos são “medicamentos para perder peso”; como tal, vistos como medicamentos que devem ser usados ​​em curto prazo, apenas durante o período agudo de perda de peso.

Além disso, quando nos referimos a esses medicamentos como “remédios para emagrecer”, contribuímos para a ideia de que seu uso tem objetivo estético e pode ser consumido por qualquer pessoa que deseje emagrecer. 

Neste pequeno artigo, gostaríamos de enfatizar porque a comunidade científica, assim como a mídia, deveriam definitivamente parar de usar o termo “medicamentos para perder peso” e passar a usar “medicamentos para tratar a obesidade”, “medicamentos anti-obesidade” ou alguns termos semelhantes que enfatizam que o tratamento visa uma doença e não um sintoma.

• O estigma da farmacoterapia da obesidade

Apesar do conhecido fardo econômico e de saúde da obesidade, o tratamento farmacológico é amplamente subutilizado.

Em 2015, nos EUA, apenas um em cada 50 pacientes com obesidade recebeu prescrição.

Uma análise mais recente sugeriu um ligeiro aumento nas prescrições, atingindo 3% de adultos com obesidade em 2019.

Em 2016, o número de prescrições dispensadas para diabetes (excluindo insulina) foi 15 vezes superior ao número de prescrições para tratamento da obesidade.

Mesmo quando se consideram programas focados na perda de peso para indivíduos com obesidade, quase toda a atenção é dada às mudanças no estilo de vida.

Num programa de controle de peso denominado MOVE!, centrado em veteranos norte-americanos com excesso de peso ou obesidade, apenas 1,1% recebeu prescrição de medicação para obesidade, sendo o orlistat o medicamento mais prescrito, atingindo 70% do total de medicamentos prescritos.

Além disso, um recente estudo de mercado sugeriu que 50% dos pacientes com obesidade nunca receberam prescrição de medicamentos anti-obesidade e, quando prescritos, a manutenção do tratamento após 12 meses foi tão baixa quanto 2%.

Além disso, mesmo quando se toma medicação antiobesidade, a persistência é baixa.

No estudo ACTION-IO, que revelou pensamentos e percepções tanto de profissionais de saúde (HCPs) quanto de pacientes que vivem com obesidade (PcO), apenas 40% dos PcO consideraram os medicamentos uma opção eficaz em comparação com 30% dos HCPs; além disso, os medicamentos foram discutidos em apenas 18% das consultas.

No entanto, as modificações no estilo de vida por si só foram consideradas eficazes por quase 80% tanto das PcO como dos profissionais de saúde, apesar de as evidências apontarem para um efeito limitado destas intervenções isoladamente.

Como exemplo, uma meta-análise altamente citada e bem conduzida mostrou que a perda média de peso a médio e longo prazo alcançada com programas abrangentes de modificação do estilo de vida é de cerca de 3 kg.

Outros estudos mostram que apenas 10% dos pacientes são capazes de perder e manter uma perda de peso de 10% após um a dois anos em programas intensivos, mas a sua combinação com medicamentos pode melhorar significativamente os resultados, como vários ensaios clínicos randomizados (ECR) bem conduzidos. concluíram.

É digno de nota, no entanto, que as respostas ACTION-IO dos profissionais de saúde apontam claramente que evidências de alto nível dos ensaios clínicos randomizados não estão sendo usadas para orientar as decisões dos profissionais de saúde sobre a obesidade.

• Algumas razões para o uso limitado da farmacoterapia para obesidade e sua estigmatização

No referido editorial de 2015, Halpern e Halpern discutiram diversas razões pelas quais existe estigma em torno dos medicamentos antiobesidade por parte de médicos, pacientes, agentes de saúde pública, partes interessadas e até agências reguladoras.

Foram elas: 1) a já citada ideia de que a obesidade não é uma doença, mas principalmente uma “escolha”; 2) o ganho de peso ocorre após a interrupção do tratamento; 3) a perda de peso é menor do que o previsto pelos pacientes e médicos; 4) drogas são comumente utilizadas por razões estéticas; 5) existe a percepção de que estão associados a muitos efeitos secundários e riscos graves (e, de fato, vários medicamentos foram retirados do mercado nas últimas décadas por razões de segurança); 6) como doença comum, a obesidade é geralmente tratada na atenção primária, onde o treinamento dos profissionais de saúde quanto ao seu tratamento é muitas vezes deficiente.

O custo também é uma razão importante para o baixo uso de medicamentos em geral e, na obesidade, pode ser um grande desafio para a adesão a longo prazo.

Isto é particularmente verdadeiro no Brasil, onde quase 100% dos medicamentos antiobesidade são pagos do próprio bolso, uma vez que não existem medicamentos antiobesidade gratuitos oferecidos pelo sistema público de saúde e os seguros de saúde geralmente não cobrem medicamentos ambulatoriais; na verdade, este cenário de baixa cobertura medicamentosa para a obesidade também é regra em vários outros países.

As discussões sobre a disponibilidade de alguns desses medicamentos no serviço público têm levado à inação, uma vez que o estigma é predominante. 

Deve-se considerar também que os custos de incorporação podem ser muito elevados, devido à elevada prevalência de obesidade na população adulta.

Contudo, como a obesidade está associada a maior morbidade e mortalidade, pode-se argumentar que tratá-la poderia reduzir custos diretos e indiretos.

Além disso, mesmo com a disponibilidade de alguns medicamentos, a falta de treinamento sobre obesidade nas escolas médicas poderia resultar no seu uso incorreto.

Uma pesquisa recente nos EUA descobriu que menos de 10% dos médicos utilizam diretrizes sobre obesidade para fundamentar suas decisões de tratamento.

Não há dúvida, porém, de que a principal razão para a rejeição de medicamentos antiobesidade é o estigma da própria obesidade.

• Estigma de peso e a importância da linguagem

O estigma na saúde é muito comum em diversos cenários e populações, como em indivíduos com doenças infecciosas, deficiências, doenças mentais, entre outros.

O estigma do peso, definido como atitudes e ações negativas em relação às pessoas com sobrepeso ou obesidade, prejudica a saúde e o bem-estar e é percebido em ambientes como no local de trabalho, na escola, em casa e até mesmo em ambientes de saúde.

Em pesquisa brasileira on-line patrocinada pelas sociedades ABESO e SBEM, constatou-se que entre os indivíduos com obesidade 72% sofreram constrangimento em casa por parte de familiares, 60% em unidades de saúde e 55% no trabalho.

Esse número é maior em indivíduos com IMC mais elevados e, naqueles com IMC acima de 40 kg/m2, 98% já passaram por algum constrangimento em algum momento e 25% relataram constrangimento diário.

Entre as diversas consequências de tais atitudes negativas está a internalização do estigma do peso.

O estigma de peso internalizado (IWS) refere-se a atitudes e pensamentos negativos sobre si mesmo (autoestigma), nos quais as pessoas com obesidade acreditam e agem como se esses estereótipos estivessem corretos. 

Indivíduos com maior IWS correm risco de compulsão alimentar e emocional, maior ganho de peso e diversas complicações de saúde.

Como tal, os profissionais de saúde devem reconhecer que também estão sujeitos a preconceitos de peso e que a forma como comunicam com os pacientes pode ter um efeito profundo nos resultados relacionados com a saúde.

Além disso, o estigma relacionado com o peso, ao contrário de outros estigmas, não parece estar diminuindo, e como a obesidade é normalmente vista como culpa do indivíduo, isto poderia levar à inação por parte dos governos e de outras partes interessadas, tanto nas estratégias de prevenção como no tratamento.

Na verdade, a retirada de alguns medicamentos pelas agências reguladoras pode ter sido, pelo menos parcialmente, influenciada pelo estigma do peso, e o fato de muitos medicamentos terem sido retirados no passado tem impacto directo no investimento em novos medicamentos.

A importância da linguagem tem sido destacada no esforço atual para reduzir o estigma relacionado ao peso, e tem sido um tema em diversas revistas sobre obesidade e diabetes, em diretrizes, bem como em publicações intersetoriais. reuniões, documentos e até um livro inteiro no Brasil.

Surgem várias questões sobre como comunicar corretamente com os pacientes – evitando o uso de palavras de julgamento, por exemplo.

Um dos pontos mais críticos é a promoção do uso da linguagem “as pessoas em primeiro lugar”.

O entendimento é que um indivíduo não deve ser definido pela sua doença (como pelo uso dos termos “obeso” ou “diabético”), mas sim conviver com essa doença (“indivíduo com obesidade” ou “com diabetes”).

Um aspecto particular das doenças crônicas como a obesidade é que, embora não tenham cura, podem ser controladas.

Dessa forma, um indivíduo que apresentou índice de massa corporal (IMC) elevado e perdeu peso considerável, apesar de não se enquadrar na classificação de obesidade pelo IMC, ainda deveria ter a obesidade (ainda que controlada) como um de seus diagnósticos.

Recentemente, a ABESO e a SBEM divulgaram uma proposta de nova classificação da obesidade baseada na trajetória do peso que destaca esses pontos e que, na opinião de ambas as sociedades, ajuda a reduzir o estigma ao destacar que a “normalização” do IMC não é o objetivo de um tratamento da obesidade , e que as metas de peso devem ser individualizadas.

Em conjunto, acreditamos que o uso comum do termo “medicamentos para perder peso” pela mídia e pelo público em geral, bem como pelos médicos e pela comunidade científica, contribui para o estigma e, certamente, que “a linguagem é importante”.

Como tal, propomos que façamos um esforço para abandonar o uso de “medicamentos para perder peso” nas publicações científicas, mas sobretudo, nos meios de comunicação social (visto que o seu uso é mais difundido).

• “Medicamentos para tratar a obesidade” ou “medicamentos anti-obesidade” são extremamente diferentes de “medicamentos para perder peso”

Numa simples pesquisa no Google até junho de 2023, o termo “medicamentos para perder peso” leva a 2.200.000 resultados e “medicamentos para perder peso”, a mais 630.000 resultados. Por outro lado, uma pesquisa por “medicamentos anti-obesidade”, “medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos (ou medicamentos) para tratar a obesidade”, leva a apenas 428.000 resultados, ou 14% da primeira pesquisa. 

“Medicamentos (ou drogas) para obesidade” leva a 170.000 resultados extras, mas o termo pode ser enganoso. 

É claro que existem diferenças de interpretação entre termos em diferentes línguas, mas esta pesquisa é um bom exemplo dos termos mais comuns utilizados numa base de dados pública. 

Nas bases de dados acadêmicas, felizmente, o cenário muda um pouco.

O PubMed usa, em seu banco de dados Medical Subject Headings (Mesh), o termo “agentes anti-obesidade”, no qual aparecem mais de 19.000 resultados, e “medicamentos/agentes/medicamentos para perda de peso” no PubMed leva a muito menos resultados (menos de 500). 

Assim, pode-se concluir que o meio acadêmico está mais consciente desta diferença (embora medicamentos para emagrecer seja um termo geralmente ouvido em conferências e comunicações médicas), mas existe uma lacuna entre a produção científica de conhecimento nesta área e a como é traduzido para o público em geral, especialmente na mídia. 

Como tal, é importante que a comunidade acadêmica esteja consciente desta diferença e aumente os seus esforços para melhorar a linguagem, colmatar esta lacuna e reduzir o estigma. 

Mas por que isso importa e não é simplesmente uma questão semântica?

Em primeiro lugar, a perda de peso é apenas uma pequena parte do tratamento da obesidade em si.

Geralmente, após um curto período de perda de peso, o peso atinge um patamar, e se a perda de peso alcançada for considerada adequada, o tratamento da obesidade continua numa fase de manutenção do peso.

A retirada de medicamentos nesse período – o que é muito comum, por iniciativa do próprio paciente ou por recomendação médica – leva ao reganho de peso, como devemos esperar de qualquer doença crônica.

O fato de a suspensão de medicamentos para diabetes ou hipertensão poder levar ao comprometimento do controle glicêmico e da pressão arterial não surpreende ninguém. 

Apesar disso, com a obesidade existe um equívoco comum de que a recuperação do peso é uma falha do tratamento, e não uma recorrência esperada de uma doença crônica não tratada.

Se usarmos o termo “medicamentos para perda de peso”, a recuperação do peso após a retirada é um argumento justo contra o seu uso.

No entanto, o entendimento por parte dos profissionais de saúde e das PCO de que os medicamentos são úteis tanto para a redução como para a manutenção do peso pode ajudar muito na adesão a longo prazo.

O principal objetivo do tratamento da obesidade não é “normalizar o IMC”, mas sim melhorar a saúde e a qualidade de vida, o que pode ser alcançado através de uma perda de peso de 5%-15%, e esse conceito é destacado na recente proposta da SBEM e da ABESO de uma nova classificação de obesidade.

Quando a “normalização” do IMC é o único objetivo do tratamento, há grande probabilidade de frustração do paciente quando o peso atinge um platô, levando à ideia de que a medicação não funciona mais e deve ser interrompida.

Na verdade, no patamar de peso, a medicação atingiu o seu efeito máximo na redução de peso e a manutenção do peso durante o tratamento é um sinal de que ainda está funcionando.

Além disso, o termo “medicamentos para perda de peso” não distingue quem deve ser tratado e o tratamento da obesidade pode ser confundido com o tratamento do “desejo social de perda de peso” que é difundido na sociedade.

Isto contribui para a ideia de que os medicamentos são utilizados principalmente por razões estéticas (e por muitas pessoas que não precisam deles) e não para tratar uma doença associada a problemas de saúde e psicológicos.

Além disso, não devemos esquecer que tratar a obesidade é mais do que apenas controlar o peso, tal como endossado pelas Directrizes de Prática Clínica Canadianas, que tiveram múltiplas revisões positivas.

O foco na saúde mental, a redução do estigma internalizado, o tratamento de comorbidades, a promoção do exercício físico (que melhora a saúde independentemente da própria perda de peso), o estabelecimento de metas e objetivos de longo prazo, entre outros, são partes essenciais do tratamento.

Sendo assim, os medicamentos são apenas uma das diversas estratégias para o enfrentamento de uma doença crônica, podendo também ajudar a reduzir episódios de compulsão alimentar ou perda de controle alimentar, além de controlar a fome e aumentar a saciedade, e ainda melhorar marcadores metabólicos e comorbidades, independentemente de perda de peso.

Na verdade, existem boas evidências de que pelo menos alguns destes medicamentos são capazes de reduzir os marcadores de risco cardiovascular e melhorar as doenças relacionadas com a obesidade, embora exista uma grande variabilidade de efeitos dependendo dos mecanismos de ação de cada medicamento.

Infelizmente, não temos evidências diretas de que esses medicamentos reduzam os resultados cardiovasculares ou outros resultados graves na PcO, mas isso pode mudar no futuro, à medida que estudos mais recentes visam responder a essas questões.

Finalmente, devemos diferenciar os medicamentos aprovados pelas agências reguladoras dos medicamentos e suplementos vendidos sem receita médica, que são frequentemente vendidos como “agentes para perda de peso” e são responsáveis ​​por uma taxa inaceitavelmente elevada de consultas de emergência.

A utilização da “farmacoterapia anti-obesidade” pode ajudar a desfazer este equívoco, lembrando-nos que um medicamento a ser utilizado continuamente para tratar uma doença crônica deve ser submetido a um elevado nível de escrutínio de segurança, tal como quando aprovado pelas agências reguladoras.

Uma desvantagem potencial de enfatizar “medicamentos para obesidade” é a sua compreensão no contexto de indivíduos com excesso de peso que, no entanto, também podem se beneficiar do tratamento. 

As diretrizes e indicações nos rótulos variam de acordo com o medicamento e o país, mas indivíduos com mais de 25 ou 27 kg/m² com doenças relacionadas à obesidade são candidatos a medicamentos antiobesidade, apesar de não serem afetados pela obesidade pelos critérios de IMC.

No entanto, embora a obesidade ainda seja diagnosticada pelo IMC, várias diretrizes apontam que o IMC tem muitas limitações numa base individual, e a obesidade deve ser definida pelo seu impacto na saúde.

Na verdade, a obesidade foi definida pela Organização Mundial de Saúde como uma “acumulação excessiva de gordura que prejudica a saúde”.

Assim, utilizando esse conceito, um indivíduo com excesso de peso e com comorbidades pode ser considerado como portador de obesidade clínica, e a indicação de uso prolongado de medicamentos, neste caso, é semelhante à de um indivíduo com IMC mais elevado. 

Uma comissão foi recentemente criada pela Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos e pelo Colégio Americano de Endocrinologia para definir a obesidade e estabelecer o seu diagnóstico independentemente de limites rigorosos de IMC.

Em relação a outras doenças crônicas, como a diabetes, a hipertensão ou a hiperlipidemia, surgem também diferentes formas de nomear os medicamentos, mas estas são geralmente condições menos estigmatizadas, em que a nomenclatura pode ser menos importante para a percepção do tratamento. 

No entanto, na hipertensão, “medicamentos anti-hipertensivos” são mais utilizados do que “medicamentos para redução da pressão arterial”, e “medicamentos hipotensores” raramente são usados; no diabetes, “antidiabético” ainda é mais comum do que “redutor de glicose” ou “anti-hiperglicêmico”. 

Uma exceção é a hipercolesterolemia, na qual “medicamentos hipolipemiantes” é um termo comum e amplamente utilizado, embora no banco de dados Mesh o termo correto seja “agentes anticolesterolêmicos”. 

Porém, a estigmatização da hiperlipidemia é quase inexistente.

Curiosamente, é comum a não adesão aos agentes anticolesterolêmicos, bem como a sua interrupção após a queda do colesterol no sangue, e é possível que apontar a importância a longo prazo não apenas da redução do colesterol em si, mas também da prevenção de doenças cardiovasculares doença, pode contribuir para maior adesão ao tratamento.

Assim, embora esta discussão sobre a obesidade pareça mais urgente para melhorar as percepções sobre o tratamento e reduzir o estigma, isso não implica que a linguagem não esteja interferindo também no tratamento de outras doenças. 

Em cada caso, é necessária uma reflexão crítica sobre as razões da escolha de termos específicos em detrimento de outros.

Na Tabela 1 resumimos os principais argumentos para o uso correto da linguagem neste contexto.

Concluindo, na obesidade, as palavras são importantes e a forma como disseminamos as mensagens pode ajudar os indivíduos que procuram apoio ou perpetuar o estigma. 

Além disso, a forma como nomeamos as coisas leva a enormes diferenças na forma como elas são percebidas e pode mudar a nossa perspectiva. 

Acreditamos que é um “apelo à ação” para divulgar a importância de evitar o termo “medicamentos para perda de peso” nos meios de comunicação e publicações científicas, e o uso generalizado de “medicamentos anti-obesidade”, ou “medicamentos para tratar a obesidade” é essencial para ajudar a reduzir o estigma e melhorar a adesão e persistência no tratamento da obesidade.

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quarta-feira, 16 de agosto de 2023

[Conteúdo exclusivo para médicos e Nutricionistas] - Tratamento dietético da obesidade

 


sábado, 12 de agosto de 2023

Perda de peso clinicamente significativa incomum para a maioria dos adultos com sobrepeso: somente 1 em 10 com sobrepeso ou obesidade atinge 5% ou mais de perda de peso a cada ano

A perda de peso clinicamente significativa não era muito comum em adultos americanos com sobrepeso ou obesidade, sugeriu um estudo de coorte.

Em uma amostra de quase 18,5 milhões de adultos ambulatoriais acompanhados por 3 a 14 anos, a probabilidade anual de atingir uma perda de peso clinicamente significativa - definida como 5% ou mais - entre aqueles com sobrepeso e obesidade foi baixa, em apenas um em 10, relatou Lyudmyla Kompaniyets, PhD, do Centro Nacional de Prevenção de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde do CDC em Atlanta, e colegas.

Essa probabilidade aumentou com a categoria de índice de massa corporal (IMC) inicial, de uma em 12 pessoas com sobrepeso inicial (uma em 14 homens e uma em 11 mulheres) para uma em seis homens e mulheres com um IMC inicial de 45 ou superior, observaram em JAMA Network Open.

A probabilidade anual ajustada de reduzir o IMC para a categoria de peso saudável foi alcançada em um em 19 indivíduos com sobrepeso e um em 1.667 pessoas com IMC de 45 ou superior.

Essa probabilidade foi maior entre as mulheres do que entre os homens (uma em 1.201 vs uma em 2.870).

Durante o período do estudo, 33,4% das pessoas com sobrepeso e 41,8% das pessoas com obesidade alcançaram uma perda de peso clinicamente significativa, enquanto apenas 23,2% e 2,0% desses adultos reduziram o IMC para a categoria de peso saudável, respectivamente, disseram os autores.

“Dados os benefícios para a saúde da redução de peso clinicamente significativa em qualquer nível de excesso de peso, 5% ou mais de perda de peso pode ser uma meta razoável para os esforços de controle da obesidade”, escreveram eles. “Os médicos e os esforços de saúde pública podem se concentrar em mensagens e encaminhamentos para intervenções que apoiem adultos com excesso de peso a alcançar e manter uma perda de peso clinicamente significativa”.

Kompaniyets e sua equipe notaram que não ficaram necessariamente surpresos ao ver que as mulheres tiveram uma maior incidência de perda de peso em qualquer peso inicial do que os homens, pois isso é consistente com pesquisas anteriores. Não apenas as mulheres tentam perder peso com mais frequência do que os homens, mas a cirurgia metabólica é historicamente muito mais comum em mulheres. Da mesma forma, medicamentos para perda de peso, como os agonistas do receptor GLP-1, tendem a induzir maior perda de peso em mulheres.

No entanto, Kompaniyets e seus colegas apontaram que os dados neste estudo em particular refletem uma "população que procura atendimento médico com sobrepeso ou obesidade, independentemente da intenção de qualquer indivíduo de perder peso" e, portanto, as pessoas que estão tentando ativamente perder peso podem experimentar maior reduções de peso.

Os dados para este estudo vieram do banco de dados de registros médicos eletrônicos ambulatoriais IQVIA e incluíram 18.461.623 pacientes com idades entre 17 e 70 anos (idade média de 54 anos); 56,7% eram mulheres, 72,3% eram brancos e 7,7% eram negros.

Todos os pacientes tinham no mínimo 3 anos de dados de IMC e foram acompanhados de janeiro de 2009 a fevereiro de 2022.

A probabilidade anual de uma perda de peso de 5% ou mais foi ligeiramente menor entre mulheres negras versus mulheres brancas, e ligeiramente maior entre homens negros versus homens brancos após o sobrepeso inicial, mas menor após obesidade grave inicial.

Não havia dados disponíveis sobre fatores que influenciam a perda de peso, como envolvimento em comportamentos intensivos de saúde e intervenções no estilo de vida, nível de atividade física, acesso a alimentos saudáveis ​​ou nutritivos, dieta ou determinantes socioeconômicos da saúde, o que foi uma limitação do estudo, os autores observado. 

Eles também disseram que não conseguiram diferenciar entre perda de peso intencional e não intencional.

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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Doenças psiquiátricas e tempo após cirurgia bariátrica impactam no reganho de peso

A compulsão alimentar – ingestão descontrolada de grande quantidade de alimentos, sem apetite e quase sem mastigar, seguida por um sentimento de culpa e angústia – foi o transtorno psicológico mais associado ao reganho de peso em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, como mostra uma pesquisa de doutorado do Instituto de Psicologia (IP) da USP realizada em um hospital privado na cidade de João Pessoa (Paraíba).

O estudo envolveu 121 pacientes entre 18 e 65 anos, submetidos à cirurgia bariátrica no Centro de Tratamento Médico e Obesidade do Hospital Samaritano, na capital paraibana. Mais de 90% deles voltaram a engordar depois do procedimento cirúrgico, sendo que 16% apresentaram transtorno de compulsão alimentar leve e 6%, a forma grave. A coleta de dados foi obtida de forma on-line entre 2020 e 2022. A pesquisa ainda contou com uma revisão da literatura científica sobre o tema a partir de bases de dados nacionais e internacionais.

“A cirurgia bariátrica é considerada padrão ouro para o tratamento da obesidade mórbida, mas a recidiva de peso observada em alguns pacientes é preocupante sob o aspecto do desfecho em relação ao controle metabólico e nutricional”, explica ao Jornal da USP a autora do estudo, a enfermeira especialista no pós-cirúrgico de obesos mórbidos, Jogilmira Macedo Silva Mendes.

A obesidade é classificada de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), calculado a partir da divisão do peso (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros). Se o resultado for entre 25 e 29, a pessoa é considerada com sobrepeso; entre 30 e 34, é obesidade grau I; entre 35 e 39, é obesidade grau II; e igual ou superior a 40, é obesidade grau III. Os pacientes avaliados por Jogilmira Macedo haviam passado pelo procedimento cirúrgico há, pelo menos, três anos; sofriam de obesidade graus II e III (os tipos mais graves); e apresentavam reganho de peso de mais de 10% do valor perdido logo após a cirurgia.

O cálculo para o reganho de peso foi obtido por meio da diferença entre a maior perda alcançada pelo paciente após a cirurgia (denominado nadir) e o peso que ele voltou a ter (a recidiva). “É o momento ‘lua-de-mel’ pós-bariátrica, que corresponde a um período de mais ou menos 18 meses após a realização do procedimento cirúrgico, quando a pessoa perde mais peso, está mais motivada e disposta a seguir as recomendações médicas e nutricionais. Passado esse momento, o apetite, que estava reduzido, volta a crescer; o peso se estabiliza e depois passa a aumentar”, diz.

A pesquisa

Para avaliar os pacientes, Jogilmira Macedo utilizou questionários contendo perguntas relacionadas aos dados sociodemográficos e clínicos dos pacientes e três escalas – a de Compulsão Alimentar Periódica (Ecap), para avaliar a compulsão alimentar; a Ehad, para medir o nível de ansiedade e a depressão; e a Audit, para medir o consumo e provável dependência de álcool.

A Ecap é composta de 16 itens que avaliam a gravidade da compulsão alimentar dos pacientes levando em conta as manifestações comportamentais e os sentimentos e cognições envolvidos num episódio de compulsão alimentar. A classificação é feita de acordo com a pontuação obtida, sendo indivíduos com pontuação menor ou igual a 17 considerados sem compulsão; com pontuação entre 18 e 26, com compulsão moderada; e aqueles com pontuação maior ou igual a 27, com compulsão grave.

Também foram feitos cálculos porcentuais com o excesso de peso (EP) antes da cirurgia, da perda de excesso de peso (PEP) e do reganho de peso (RP), cruzando os dados referentes ao três momentos distintos: o peso pré-operatório (até 30 dias antes da cirurgia), o peso nadir (menor peso atingido pós-cirurgia) e o peso recidiva (peso recuperado em relação ao nadir).

Resultados

Feitas as correlações entre comorbidades psíquicas e reganho de peso, Jogilmira Macedo relata que, embora os pacientes apresentassem níveis variados de transtornos psíquicos (como ansiedade, depressão e alcoolismo), o que apresentou uma maior associação ao reganho de peso foi o transtorno de compulsão alimentar. De acordo com a escala Ecap, 16% tiveram a forma mais leve desse transtorno e 6% a forma grave. O porcentual de pessoas que voltaram a engordar após a cirurgia bariátrica (cálculo feito entre o menor peso atingido pelo paciente depois da cirurgia e a recidiva) foi de 92,4%.

A pesquisadora reforça a importância de um acompanhamento médico multidisciplinar dos pacientes antes, durante e após a cirurgia bariátrica, o que, em sua opinião, garantiria melhores resultados do procedimento.

“A cirurgia bariátrica controla a obesidade, mas não trata da dinâmica psíquica que leva a pessoa a usar a comida como mediadora para lidar com os seus conflitos. O corpo foi cuidado, mas as questões emocionais que levaram ao comportamento alimentar disfuncional podem persistir”, diz.

Tempo pós-cirúrgico e impacto na manutenção do peso
Para Leorides Severo Duarte Guerra, psicóloga e pós-doutoranda da Faculdade de Medicina (FMUSP), os transtornos psiquiátricos são comuns em pacientes com obesidade grave e podem afetar os resultados de perda de peso após a cirurgia bariátrica. No entanto, ela diz que a relação de longo prazo entre transtornos psiquiátricos e mudanças de peso ainda não está clara.

Em uma pesquisa que fez com 189 pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, a psicóloga investigou essa associação ao longo de um período de oito anos (2011 a 2019). Segundo a pesquisadora, neste estudo, o aumento de peso após a cirurgia não ficou associado à presença dos transtornos psiquiátricos. “Observamos que os transtornos psiquiátricos – incluindo depressão e compulsão alimentar – tiveram uma tendência a aumentar após a cirurgia bariátrica, porém, o tempo decorrido pós-cirúrgico teve maior impacto na manutenção do peso do que os transtornos psiquiátricos. O aumento de peso ocorreu ao longo do tempo, independentemente dos transtornos psiquiátricos”, relata.

A pesquisa com os pacientes do HC foi orientada pelo professor Wang Yana Pang, médico psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital da Clínicas da FMUSP, e supervisão do professor Francisco Lotufo Neto, do Instituto de Psicologia.

Comorbidades psiquiátricas

Sobre o resultado do estudo realizado com pacientes no hospital na Paraíba, a psicóloga diz que, apesar da compulsão alimentar ser frequente entre pacientes com reganho de peso, ela não responde sozinha pelo problema porque os transtornos psiquiátricos são comórbidos.

“A compulsão alimentar é uma condição complexa e multifatorial e pode incluir diversos fatores, como emocionais, biológicos, ambientais, sociais, padrões alimentares disfuncionais e dietas restritivas. Cada indivíduo pode ter uma combinação única de causas subjacentes à sua compulsão alimentar”, diz.

“O acompanhamento de longo prazo e o suporte são cruciais para otimizar os resultados de perda de peso e tratar as comorbidades psiquiátricas em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica”, reforça.

A tese de doutorado Aspectos psicológicos associados ao reganho e excesso de peso tardios em pessoas submetidas a cirurgia bariátrica teve orientação do professor Francisco Lotufo Neto, do Instituto de Psicologia da USP, e foi defendida em julho deste ano. Um artigo de revisão foi publicado na Research Society and Development. Outro artigo, sobre perfil clínico de pacientes bariátricos, foi submetido à revista ABCD Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva.

sábado, 5 de agosto de 2023

Aula sobre Obesidade: O baralho: Obesidade, cartas sobre a mesa

 


Esse baralho, elaborei em parceria com o meu nutricionista (Rodrigo Lamonier) e utilizamos na primeira consulta, dos pacientes portadores de obesidade. Espero que gostem das explicações sobre as cartas. 

domingo, 6 de março de 2022

Obesidade e a gordofobia: percepções em 2022

Elaborada pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a iniciativa é parte da campanha pelo Dia Mundial da Obesidade, de 4 a 10 de março de 2022. Mais de 3.5600 pessoas de todo o país responderam ao questionário divulgado pelos sites e mídias sociais das duas instituições.

“Conhecimento, cuidado e respeito”: este é o mote da campanha do Dia Mundial da Obesidade, dia 4 de março, para o ano de 2022. O foco é a ampliação do conhecimento sobre a obesidade, o caminho para a redução do preconceito e a melhoria no cuidado às pessoas.

A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) têm agido há mais de 30 anos no combate à obesidade. E combater a obesidade não é combater a pessoa com obesidade. E sim tratar a doença
e respeitar quem convive com ela, acolhendo, ouvindo, estudando, andando junto. Foi o que nos levou a ABESO e SBEM a lançarem a  pesquisa “Obesidade e a Gordofobia 2022 - Percepções”. 

O levantamento feito por meio digital chega ao cerne da questão: o cuidado dispensado a pessoas acima do peso precisa ser revisto. Os sistemas de saúde, tanto público quanto privado, precisam se atentar para o impacto que o acolhimento dessas pessoas pode ter no resultado do tratamento. 

Abriram com a pesquisa, um espaço para escuta e para entenderem como podemos agir em busca de uma mudança que possa refletir em resultados concretos. Esperavam sim, um número maior de participação deste público, mas não na proporção que se apresentou na pesquisa. 

A excelente pesquisa da ABESO/SBEM deixou claro que nós profissionais da área da saúde, precisamos agir contra a gordofobia para tratar a obesidade sem estigmas. 

E, para isso, precisa-se investir em conhecimento (é inadmissível vermos profissionais da área da saúde falarem que obesidade é falta de atividade física e de "fechar a boca"), cuidado e respeito (acolhimento principalmente por parte de médicos). Algo que não se vê na prática. Falo isso, como médico que atua diretamente com obesidade em um ambulatório municipal de Nutrologia. Médico que convive diariamente com endocrinologistas, nutrólogos e nutricionistas. É assustador ver alguns posicionamentos de colegas, tamanha gordofobia e falta de compaixão pelo sofrimento alheio. 

Abaixo as projeções do Atlas de Obesidade 2022 da World Obesity, ou seja, os números são alarmantes e a pergunta que fica: 
  1. Toda esse população ficará a mercê de gordofobia praticada por profissionais da área da saúde.
  2. Parte dessa população ficará sem tratamento adequado devido um péssimo acolhimento por profissionais da saúde ?
Fonte: www.worldobesity.org 


Para acessar as conclusões da pesquisa clique aqui: https://campanhaobesidade.abeso.org.br/ebook_gordofobia.pdf

Obesidade: não tem causa única

 


E-book: Conhecimento, cuidado e respeito

No dia Mundial da obesidade (04/03) do ano de 2022 a Associação Brasileira para estudos da obesidsde e síndrome metabólica (ABESO) juntamente com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabologia (SBEM)  prepararam uma publicação de 12 páginas com sobre o tema do Dia Mundial da Obesidade de 2022: “Obesidade: conhecimento, cuidado e respeito!”. O foco é a ampliação do conhecimento sobre a obesidade, o caminho para redução do preconceito e a melhora do cuidado das pessoas.

Guia de atividade física e obesidade (ABESO)

O Departamento de Atividade Física da ABESO (Associação Brasileira para estudos da obesidade e síndrome metabólica), elaborou um guia sobre a importância da atividade física na obesidade.

De forma didática ele trata de conceitos básicos relacionados ao tema, a começar pela própria diferença entre atividade física e exercício físico e a inter-relação entre sedentarismo e obesidade. 

Mostra como o sedentarismo pode levar ao surgimento de inúmeras doenças e o que ocorre da cabeça aos pés quando seu corpo se exercita. Há ainda orientações sobre o tipo de exercício,  a frequência e a intensidade para quem está acima do peso.

Atividade física e exercício físico são ferramentas fundamentais não apenas para ajudar no processo de emagrecimento e manutenção do peso, mas para prevenir e tratar inúmeras doenças além da obesidade.

Ano após ano o sedentarismo vem aumentando na zona urbana em todo mundo (tema já tratado aqui no blog). Mesmo com a tentativa do ministério da saúde estimulando o combate a ele. Muitas vezes, as pessoas com sobrepeso e obesidade não se sentem estimuladas à prática do exercício físico, porque não entendem todos os males provocados por sua falta no dia a dia, nem enxergam em maior profundidade os seus inúmeros benefícios.  Ou, ainda, até querem se movimentar, mas fazem isso sem a devida orientação de um profissional de Educação Física, por exemplo, e sem terem o conhecimento de considerações muito importantes quando alguém com excesso de peso decide treinar. 

Para acessar clique aqui: https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2021/08/GuiaAtividadeV4-CapaB.pdf

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O aumento da prevalência de obesidade nas capitais

Em 2006 o Ministério da saúde iniciou uma pesquisa denominada Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico). Ocorre anualmente em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. 

As entrevistas ocorrem via inquérito por telefone, realizado anualmente em amostras da população adulta (>18) residente em domicílios com linha de telefone fixo. Quais temas o Vigitel aborda? 

Os indicadores avaliados pelo Vigitel estão dispostos nos seguintes assuntos: 
  • Tabagismo;
  • Excesso de peso e obesidade;
  • Consumo alimentar;
  • Atividade física;
  • Consumo de bebidas alcoólicas;
  • Condução de veículo motorizado após consumo de qualquer quantidade de bebidas alcoólicas;
  • Autoavaliação do estado de saúde;
  • Prevenção de câncer;
  • Morbidade referida. 
A duração média para responder ao questionário é de 12 minutos. Importante destacar, também, que algumas perguntas realizadas não são diretamente sobre saúde, mas são muito importantes para serem relacionadas com a situação da saúde da população.

No Vigitel de 2020, a prevalência de obesidade nas capitais ficou da seguinte maneira, conforme a figura abaixo.


E o que isso nos fazer refletir ?

Que a obesidade tem se tornado cada vez mais prevalente nas capitais brasileiras. Em 2020, foram registrados 21,5% dos adultos com obesidade, contra 20,3% em 2019. Manaus (24,9%), Cuiabá (24%) e Rio de Janeiro (23,8%) lideram a incidência de obesidade nas capitais. E o que preocupa a ciência é que até 2011, nenhuma capital tinha uma prevalência de obesidade acima de 20%, enquanto em 2020 o Vigitel levantou 16 capitais com prevalência de obesidade acima de 20%. 

Quais fatores estão envolvidos ?

Há quem acredite que isso tenha piorado com a pandemia. Sim, estamos em uma pandemia há 2 anos mas a prevalência já vinha aumentando. A pandemia pode ter exacerbado o que já vinha piorando. E falar de fatores de riscos, gatilhos em obesidade é bem complexo.

Centenas de fatores podem estar relacionados mas na nossa reflexão hoje abordaremos temas pouco discutidos e que geram uma grande contribuição.

A poluição ambiental
O estresse crônico
A violência
O sedentarismo

A princípio esses gatilhos parecem desconectados, mas a medida que se analisa de forma "sociológica" percebemos uma inter-relação entre eles. 

A poluição ambiental engloba tanto a poluição do ar (obviamente maior em capitais) quando poluição do solo, poluição sonora, poluição visual. 

A poluição do ar está relacionada a piora de várias patologias (Alzheimer, doenças pulmonares, cardiovasculares, alérgicas) e também obesidade. Mecanismos ainda não bem elucidados mas acredita-se que seja por disrupção endócrina e/ou exacerbaçao da inflamação subclínica. 

A poluição do solo inclui também a poluição da água. Metais tóxicos, poluentes orgânicos persistentes (POPs), disruptores endócrinos. Ou seja, substâncias que de forma direta ou indireta podem ocasionar doenças, exacerbar outras e com isso alterar a parte endócrina. Tema há décadas negligenciado no Brasil e que na Europa ganha cada vez mais força. 
 
A poluição sonora assim como a poluição visual favorecem uma hiperativação do eixo pituitária-adrenal e com isso elevação crônica e persistente dos níveis de cortisol e noradrenalina. O que de forma indireta poderiam influenciar os adipócitos, desbalanço nos níveis de hormônios relacionados ao apetite (Grelina) e saciedade e gasto energético (leptina). 

O estresse crônico pode ter inúmeros fatores causais:
Trânsito
Desigualdade social
Violência
Apreensão quanto ao futuro
Menor contato com a natureza
Menor tempo disponível para lazer
Alta carga de trabalho
Redução do número de horas de sono

Tudo isso interage e favorecem hiperativação do eixo pituitária-adrenal. Ou seja, elevação crônica do cortisol. 

Combina-se a tudo isso, um maior sedentarismo, influenciado pela violência, distância entre pontos dentro das cidades, transporte público precário e/ou ineficaz, comodidade. 

Os fatores acima ainda facilitam o consumo de alimentos ultraprocessados: cereja do bolo!

Ou seja, os fatores que vem favorecendo maior prevalência da obesidade nas capitais são inúmeros. Enquanto autoridades sanitárias não se atentarem a isso, veremos os índices subirem. Com consequente estrangulamento do sistema público/privado de saúde. 

Autores:
Dr. Frederico Lobo - CRM 13192, RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Dra. Edite Magalhães - CRM , RQE - Médica especialista em Clínica Médica
Dr. Leandro Houat - CRM 27920 , RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de Família e comunidade
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.

Fontes:

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Crianças obesas superarão as com baixo peso pela primeira vez na história da humanidade

Na Espanha, eles não puderam sair ao ar livre por seis semanas. Em Wuhan, eles ficaram presos por 76 dias. O pior foi nas Filipinas, onde as crianças foram proibidas de deixar suas casas por mais de um ano. Estes foram alguns dos bloqueios pandêmicos mais draconianos que os jovens tiveram que suportar. Mas ainda mais curtos e menos restritivos deixaram cicatrizes na vida das crianças—com consequências que se tornarão cada vez mais aparentes em 2022.

Uma das tendências mais deprimentes é o aumento da obesidade infantil, que acelerou em muitos países durante a pandemia, já que as crianças ficaram em casa por mais tempo, muitas vezes na frente de uma tela. Um estudo global publicado em 2017 na Lancet projetou que, se as tendências vistas na época continuassem, até 2022 a obesidade em crianças e adolescentes de 5 a 19 anos superaria a parcela de que estavam abaixo do peso pela primeira vez. Essa previsão agora parece certa de se tornar realidade.

Muitas pessoas pensam que as crianças com peso extra são encontradas apenas em países ricos, e que a crise nutricional dos países pobres assume a forma apenas de uma abundância de crianças emagrecidas. Na verdade, 27% das crianças com excesso de peso do mundo com menos de cinco anos vivem na África e 48% estão na Ásia. De fato, em algumas partes da África e da Ásia, o número de crianças com excesso de peso é duas a quatro vezes maior do que o número de crianças que são muito magras para sua altura (uma medida de desnutrição aguda conhecida como “desperdício” “wasting”)

Nos últimos dez anos, a proporção de crianças com excesso de peso aumentou, enquanto a proporção de crianças desnutridas diminuiu.  Em 2020, 5,7% das crianças menores de cinco anos estavam com sobrepeso e 6,7% com emaciação.

A pandemia fez tudo girar. As rupturas em países pobres afetaram as famílias que viviam mais duramente. Muitos deles acharam mais difícil colocar comida na mesa - então seus filhos provavelmente emagreceram. Mas a perda de massa muscular e de gordura de uma criança pode ser revertida rapidamente quando a nutrição melhora. Como resultado, espera-se que qualquer aumento relacionado à pandemia na tendência de queda observada para o número de crianças abaixo do peso tenha vida curta.

Não é assim com a obesidade. A má alimentação e os hábitos de atividade física formados na primeira infância tendem a persistir na adolescência e na idade adulta. Para milhões de crianças presas em casa durante os bloqueios de pandemia de 2020-21, esses hábitos cruciais mudaram para pior. Na Alemanha, por exemplo, 28% das crianças de três a cinco anos praticavam menos atividades físicas e 20% consumiam mais lanches açucarados durante a pandemia.

Nos países ricos, a obesidade infantil está concentrada nas famílias pobres.  Nos países pobres, entretanto, é um problema da classe média - então, à medida que a renda média aumenta, mais crianças estão se mudando para a zona de excesso de peso. As coisas pioram pelo fato de que a fome no início da vida aumenta o risco de uma criança ganhar peso rapidamente mais tarde, o que os cientistas acreditam ser em parte devido à mudança metabólica. Muitos países pobres estão enfrentando agora uma “dupla epidemia” de desnutrição e obesidade, que muitas vezes coexistem na mesma comunidade e até mesmo no mesmo domicílio.

Em 2022 e além, esperamos ver mais países se esforçando para mudar os ambientes “obesogênicos” em que vivem as crianças. Os legisladores introduzirão mais impostos sobre bebidas e lanches açucarados, reformularão os programas escolares de exercícios e nutrição e começarão a tratar a obesidade como uma doença (o que é, de acordo com a Organização Mundial de Saúde), em vez de um fracasso pessoal.

Para os sofredores mais jovens, quanto mais cedo as coisas podem ser revertidas, maiores são as chances de que crescerão para desfrutar de uma vida mais longa, saudável e feliz.

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Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Crianças que ingerem mais alimentos ultraprocessados ganham peso mais rapidamente



Crianças que comem mais alimentos ultraprocessados são mais propensas a estar acima do peso ou obesas quando adultas, sugere um novo estudo de 17 anos com mais de 9.000 crianças britânicas nascidas na década de 1990. Os pesquisadores também descobriram que alimentos ultraprocessados - incluindo pizzas congeladas, bebidas gasosas, pão produzido em massa e algumas refeições prontas - representaram uma proporção muito alta de dietas infantis - mais de 60% das calorias em média.

"Uma das principais coisas que descobrimos aqui é uma relação dose-resposta", disse o Dr. Eszter Vamos, professor clínico sênior de medicina de saúde pública no Imperial College London e autor do estudo que publicou na revista JAMA Pediatrics na segunda-feira, em um comunicado à imprensa.
"Isso significa que não são apenas as crianças que comem os alimentos mais ultraprocessados (que) têm o pior ganho de peso, mas também quanto mais comem, pior isso fica", disse Vamos.

O processamento industrial de alimentos modifica os alimentos para alterar sua consistência, sabor, cor e vida útil, usando alternância mecânica ou química para torná-los mais palatáveis, baratos, atraentes e convenientes - processos que não acontecem em refeições caseiras, observou o estudo. 

Alimentos ultraprocessados tendem a ser mais densos em energia e nutricionalmente mais pobres.
Eles geralmente têm altos níveis de açúcar, sal e gorduras saturadas, mas baixos níveis de proteína, fibra dietética e micronutrientes, e são agressivamente comercializados pela indústria de alimentos, disse o estudo.

Gunter Kuhnle, professor de nutrição e ciência de alimentos na Universidade de Reading, no Reino Unido, disse que a ligação entre a saúde infantil e alimentos ultraprocessados era complexa, e fatores socioeconômicos provavelmente desempenharam um grande papel. Ele não estava envolvido na pesquisa.

"Os resultados deste estudo não são surpreendentes: crianças que consomem muitos alimentos 'ultraprocessados' são mais propensas a serem menos saudáveis e mais obesas do que seus pares com menor ingestão. A interpretação desses resultados é, no entanto, muito mais difícil", disse ele ao Science Media Centre em Londres.

“O resultado do estudo é fortemente confundido por fatores socioeconômicos: crianças residentes em áreas mais carentes e de famílias com menor escolaridade e menor nível socioeconômico tiveram o maior consumo de alimentos ultraprocessados. 

Infelizmente, essas crianças também estão em maior risco de obesidade e problemas de saúde, pois ainda existem desigualdades consideráveis de saúde no Reino Unido e o nível socioeconômico é um determinante importante da saúde."

Os pesquisadores acompanharam um grupo de 9.000 crianças, que estavam participando de um estudo mais amplo, dos 7 aos 24 anos. 

Os diários alimentares foram concluídos aos 7, 10 e 13 anos, registrando os alimentos e bebidas consumidos pelas crianças ao longo de três dias. 

Medidas do índice de massa corporal (IMC), peso, circunferência da cintura e gordura corporal também foram coletadas ao longo do período do estudo.

As crianças foram divididas em cinco grupos com base na quantidade de alimentos ultraprocessados que comeram. 

No grupo mais baixo, os alimentos ultraprocessados representaram um quinto da sua dieta total, enquanto no grupo mais alto eles representaram mais de dois terços.

Os pesquisadores descobriram, em média, que as crianças dos grupos que comiam mais alimentos ultraprocessados viram um aumento mais rápido no IMC, peso, circunferência da cintura e gordura corporal à medida que cresciam.

Aos 24 anos de idade, os do grupo mais alto tinham, em média, um nível mais alto de IMC em 1,2 kg/m2, maior gordura corporal em 1,5%, peso em 3,7 kg e aumento da circunferência da cintura em 3,1 cm.

Embora o estudo mostre uma ligação entre comer alimentos ultraprocessados e aumentos no IMC e na gordura corporal, ele definitivamente não mostra causa e efeito

“O problema é que as crianças que comeram diferentes quantidades de alimentos ultraprocessados aos 7 anos e suas famílias teriam diferido de outras maneiras, não apenas na quantidade de alimentos ultraprocessados que comeram", disse Kevin McConway, professor emérito de estatística aplicada da The Open University que não estava envolvido no estudo, ao SMC. "As associações entre medidas de gordura corporal e consumo de alimentos ultraprocessados podem ser causadas por essas outras diferenças, e não pelo consumo de alimentos ultraprocessados."

Os pesquisadores usaram ajustes estatísticos para levar em conta outros fatores que poderiam explicar a ligação, como sexo, etnia, peso ao nascer e atividade física, disse McConway. 

Isso "aumentou a confiança no que está causando as diferenças entre os grupos", disse ele.

Estudos anteriores sobre o mesmo assunto haviam produzido achados inconsistentes, mas envolveram menos crianças e curtos períodos de acompanhamento, disseram os pesquisadores.
Segundo os pesquisadores, medidas mais radicais e eficazes são necessárias para reduzir a exposição e o consumo de alimentos ultraprocessados pelas crianças.

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Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde

Fonte: Chang K, Khandpur N, Neri D, et al. Association Between Childhood Consumption of Ultraprocessed Food and Adiposity Trajectories in the Avon Longitudinal Study of Parents and Children Birth Cohort. JAMA Pediatr. Published online June 14, 2021. doi:10.1001/jamapediatrics.2021.1573

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Vantagens de se estar acima do peso - alegadas pelos pacientes




Muito se fala sobre as desvantagens e as consequências de se estar acima do peso. Mas pouco se fala sobre as "vantagens" que os pacientes alegam. Soa estranho, eu, um nutrólogo escrever sobre isso, afinal deveria "amedrontar" os pacientes com o que a ciência vem mostrando nas últimas décadas. A lista de desvantagens é quilométrica. 

Então por que escrever sobre isso ? Por que colocar a obesidade ou sobrepeso como algo com vantagens ?

Simplesmente porque existem "vantagens" e elas são inegáveis (do ponto de vista do paciente). Queiramos ou não, elas existem na concepção do paciente! Se elas não existissem, a grande maioria dos pacientes não estariam acima do peso e perpetuando um processo. 

Obviamente que existem fatores genéticos, bioquímicos, emocionais, comportamentais e até mesmo sociais que auxiliam nessa perpetuação da obesidade.

Em um dos questionários que aplico nos pacientes que atendo, questiono:
- Quais as vantagens e desvantagens de se estar acima do peso. 

Então ao longo dos anos, anotei as principais vantagens que os pacientes alegam. Na maioria das vezes eles esquecem que a maioria dessas vantagens continuam existindo mesmo quando atingem um peso saudável.  Abaixo algumas relatadas por pacientes:
  • Comer o que se gosta. Não ter limites quanto à qualidade (tipo) da comida. Gostam de comer algo mais palatável ou se é algo com sabor mais comum e que não estimula tanto as papilas gustativas e a produção de dopamina). 
Consideração: estando acima do peso ou magro, as comidas hiperpalatáveis continuarão existindo. Há magros que possuem paladar infantilizado ou com preferência por alimentos hiperpalatáveis. 
  • Comer o quanto se quer, na hora que quer, como quer. Não ter limites quanto à quantidade da comida. 
Consideração: o limite sempre vem, cedo ou tarde. Seja ele voluntário ou imposto por uma doença como um diabetes mellitus tipo 2 ou uma retirada do estômago por câ ncer gástrico. Então é melhor aceitar que a nossa alimentação também precisa de limite. 
  • Não precisar sofrer com limites (dieta é uma restrição, é uma limitação e por isso quanto mais restritiva, maiores as chances do paciente abandonar o tratamento). 
Consideração: entra no tópico anterior. 
  • Conhecer novos estabelecimentos de comida. Comer novidades. Há pacientes afoitos por novidades, a novidade leva a uma maior produção de dopamina. No fim, garimpar novos lugares pode se tornar um hobby e fonte de prazer. 
Consideração: a não ser que o Brasil afunde em uma crise econômica sem precedentes e a maioria dos estabelecimentos de comida fechem as portas, sempre haverá novidades "alimentícias". A tendência é a variedade aumentar, produtos mais "limpos" irem surgindo, com a finalidade de atender a um consumidor cada vez mais exigente e que se preocupa com a própria saúde. Brincamos no consultório: as sobremesas não deixarão de existir e alegrar almoços. Fast-foods vão continuar existindo, assim como bons restaurantes. Então é melhor os pacientes tentarem ser mais longevos para conhecer o futuro promissor que temos no ramo da alimentação.
  • Não precisar "sofrer" em academia/estúdios, sentindo dor muscular, cansando, abdicando de uma hora do dia. Por mais que na prática percebamos que a dor dá lugar a um prazer (talvez por reação bioquímica no cérebro), a idéia que os pacientes sedentários possuem é: malhar dói ! 
Consideração: O nosso corpo é repleto de articulações e a finalidade é permitir que nos movamos. O movimento é inerente à nossa natureza. Quando paramos de nos movimentar a nossa energia fica estagnada e nosso corpo adoece. Sempre falamos no consultório uma frase que diz: Escolha o exercício que você menos odeie. Faça-o. Crie o hábito. O prazer pode surgir depois. Nosso corpo precisa de movimento. Músculos precisam de estímulo, o sangue precisa circular e o cérebro funciona melhor quando abandonamos o sedentarismo.
  • Evitar relacionamentos amorosos e com isso evitar sofrimentos de uma vida a dois. É inegável que portadores de obesidade podem ter uma maior dificuldade para acharem parceiros (as). Com isso evitam sofrer em relacionamentos.  
Consideração: estando acima do peso ou magro, conflitos amorosos sempre existirão. E o mais engraçado é que muitos pacientes acreditam piamente que os problemas relacionados à esfera afetiva desaparecerão como uma passe de mágica. Indicação: Psicoterapia. Notícia triste: problemas sempre teremos, mas a gente evolui e aprende a manejar sem gerar tanta dor em sí próprio ou no outro.

  • A comida é um anestésico diante dos sofrimentos cotidianos, diante de situações que incomodam ou causam dor emocional. Mesmo o efeito anestésico sendo de curta duração e o prazer proporcionado por ela também. A comida pode ser uma válvula de escape. 
Consideração: muitas vezes o que queremos após um dia complicado é chegar em casa e comer algo que gostamos. Isso é comida emocional e faz parte da vida. Não há nada de errado em utilizar a comida como anestésico. O que não se pode permitir é que isso se torne uma constante, a maioria dos dias da semana. O preço a se pagar é caro e a sobremesa chamar-se-á: Culpa. 
  • Sendo portador de obesidade, o paciente não precisa ficar se preocupando com a saúde. Ou seja, ele se esquiva de procurar auxílio ao médico anualmente, para realizar exames que podem escancarar uma verdade difícil de ser vista. Isso também é uma vantagem, mesmo sabendo que lá no fundo isso é mentira, que todos nós temos medo de adoecer. Muitas vezes uma negação da realidade na qual o paciente está inserido. 
Consideração: A conta chega e as vezes o preço é exorbitante. 
  • Viver em sociedade é prazeroso mas pode ser doloroso. Relações interpessoais podem ser fonte de angústia, raiva, aflição. Quando você se torna obeso, você pode voluntariamente evitar eventos sociais em que terá que relacionar com pessoas que você não tem afinidade. Ou seja, o isolar-se socialmente e com isso reduzir atritos também pode ser uma das vantagens da obesidade. 
Consideração: vale o mesmo que explicamos nas relações amorosas. Problemas nas relações interpessoais existirão sempre, em maior ou menor grau. É assim que evoluimos, é assim que aprendemos a viver em sociedade. 
  • Mas para outros, viver em sociedade é prazeroso e a comida é um dos meios de agrupar pessoas queridas. Ou seja, se uns tiram vantagem ao evitar o contato, outros veem isso como uma forma de socializar. Socializar, confraternizar, comemorar, "resenhar" geralmente envolve comes e bebes. 
Consideração: pode-se comemorar, celebrar a vida, reunir amigos, beber, comer. Mas o prazer principal não pode ser a comida. Estar com familiares, amigos, parceiro(a) pode ser tão prazeroso quanto uma comida apetitosa.
  • Fuga da auto-responsabilidade e de autocuidados. Ter consciência de que está acima do peso e assumir a responsabilidade de parte disso é um ato que demonstra maturidade emocional e até mesmo intelectual. Quando o portador de obesidade se nega a assumir isso, ele traz à tona um lado rebelde, infanto-juvenil, no qual ele se exime de se responsabilizar por parte do problema. Menos peso no ombro, mesmo que isso custe mais peso no corpo.
Consideração: novamente afirmamos que a conta chega e as vezes é alta e vem acompanhada de dor: física e emocional. Com um punhado de culpa (sensação de que poderia ter sido diferente).
  • Ser portador de obesidade, faz com que algumas pessoas se vejam na obrigação de ser legal com as pessoas, boazinhas, engraçadas, inteligentes e mais competente que as demais. Um fato de compensação pois se acha inferior por estar acima do peso. Ser uma pessoa mais legal e querida pela maioria (mesmo que essa maioria seja veladamente preconceituosa) pode ser uma vantagens para alguns. 
Consideração: utilizamos várias máscaras para viver em sociedade. Nada que uma boa psicoterapia não seja capaz de fazer o paciente enxergar as máscaras que ele utiliza para ser aceito.
Entenderam as inúmeras vantagens? O porquê de tanta gente perpetuar o processo ?

Obesidade é muito mais complexo do que se pensa. Não é apenas chegar e cuspir as desvantagens. Muitas vezes precisamos entender o que a pessoa ganha com o excesso de peso. Essas vantagens como citei acima existem e devem ser levadas em conta. Barganhas inconscientes. 

Explicar ao paciente o quanto elas são ilusórias e superficiais. Tais "vantagens" devem ser detectadas e o paciente encaminhado para a psicoterapia. Tratamento da obesidade deve ser multidisciplinar para que se obtenha êxito. Médico + Nutricionista + Psicólogo + Profissional da educação física. 

Obviamente a lista de desvantagens é infinitamente maior, com eficácia comprovada através de inúmeros estudos publicados nas ultimas 3 décadas, mas isso é assunto para o próximo texto: A dor da obesidade. 

Autor: Frederico Lobo (Médico Nutrólogo)
Revisor: Rodrigo Lamonier (Nutricionista e Profissional da Educação física).

sábado, 29 de agosto de 2020

O Ministério da saúde adverte, seu Junk food é prejudicial à saúde

Extraí o texto abaixo do Site: Corpo em foco. Vale a pena ler. Bem interessante.

Hoje vou abordar um dos temas mais discutidos na mídia, nas academias, na roda de amigos que é sobre alimentação, parece que sempre vai existir dúvidas sobre isso, porém algo mudou, estão comentado e muito sobre um projeto de lei para que as embalagens de alimentos industrializados tragam estampados os perigos de seu consumo, bem como as possíveis restrições para algumas pessoas.

Basta mencionar a palavra “obesidade” diante de pesquisadores de saúde para perceber que o único ponto em que há consenso a esse respeito é o fato de que a questão atingiu proporções críticas. A obesidade, é considerada uma epidemia generalizada que afeta crianças e adultos, e não apenas nos EUA e na Europa Ocidental, mas também em países como a África do Sul, China e Brasil. Os órgãos responsáveis pela saúde pública advertem sobre a iminência de uma crise nos sistemas de saúde, que deverão receber em breve uma quantidade imensa de pacientes com diabetes, pressão alta, problemas cardíacos e outras enfermidades associadas ao excesso de peso. Mas de onde vem toda essa problemática, o que está acontecendo com nosso hábito alimentar? Se tudo que precisamos para ter uma vida saudável, duradoura, cheia de energia vem dos alimentos.

Devo ressaltar que esse tipo de problema que estamos enfrentando principalmente pelo estilo de vida corrida, vem atingindo as crianças que crescem recebendo de seus pais o mau hábito alimentar, e estão herdando doenças que não são típicas dessa faixa etária. É só andar pela rua com um olhar um pouco mais crítico para perceber a enorme quantidade de crianças obesas, e isso acarretará a um adulto obeso e cheio de doenças.

Como diz o Personal Trainer Flávio Settanni, famoso pelas celebridades, “devemos encarar alguns produtos como verdadeiras drogas, na mesma linha adotada com cigarro e álcool”, porém a informação que nos é apresentada não é a verdadeira que devemos obter, e não basta ter informação, mas principalmente a consciência do que aquele tipo de produto nos causa. Creio que a culpa não seja somente dos pais que assim como as crianças são vítimas da falta de informação, mas também, da mídia, do governo, das escolas enfim, para o consumidor, o que é apresentado nas embalagens é uma verdadeira “sopa” de letras e números (P.I, EPX, A-I, CT II, etc.) de difícil compreensão para o público leigo que compõem a quase totalidade dos consumidores. Considerando que o Código do Consumidor garante a este o direito a uma informação clara e precisa no rótulo a respeito do que contém no produto. Esses alimentos, se consumidos em excesso, principalmente por pessoas predispostas a sofrer danos com seu consumo, têm o potencial de uma droga sim. Uma droga que engorda, entope artérias e provoca envelhecimento precoce, além de outros prejuízos. Veja aqui alguns aditivos que são acrescentados nos alimentos industrializados para que eles possam durar mais, ter uma aparência mais sedutora para o consumo e que devem ser consumidos com restrição ou até evitados:

1.Gorduras Hidrogenadas: riscos de doenças cardiovasculares e obesidade.
2.Corantes Artificiais para alimentos: alergias, asma, hiperarividade, possibilidade de serem substâncias carcinogênicos (que induzem o aparecimento de cânceres) (Quem quiser ler mais, postei no começo do ano sobre o tema)
3.Nitritos e Nitratos: essas substâncias podem gerar nitrosaminas no organismo, que podem ser cancerígenas.
4.Sulfitos (dióxido de enxofre, metabisulfito, e outros): reações alérgicas e asmáticas.
5.Açúcares e Adoçantes: obesidade, cáries, diabetes, hipoglicemia, incremento de triglicerídeos (gordura na corrente sanguínea) ou candidíase.
6.Adoçantes artificiais (Aspartame, Acesulfame K e Sacarina): problemas de comportamento, hiperativiade, alergias e possivelmente carcinogênicos. O governo desaconselha o uso de adoçantes artificiais para crianças e mulheres grávidas. Qualquer pessoa com fenilcetonúria (com incapacidade para metabolizar o aminoácido “fenilalanina” presente nas proteínas) não deve usar o aspartame.
7.Glutamato monosódico: alergias e reações como dores de cabeça e depressão, também pode agir como uma neurotoxina por ter ação neuroestimulante.
8.Conservantes (Butil Hidroxitolueno – BHT; Butil Hidroxianisol – BHA; Cálcio Dissódico – EDTA, entre outros): reações alérgicas, hiperatividade, possibilidade de causar câncer. O BHT pode ser tóxico para o sistema nervoso.
9.Flavorizantes Artificiais: alergias e alterações no comportamento.
10.Farinhas refinadas: baixo teor de calorias, desbalanceamento de carbohidratos, alterações na produção de insulina, perda de vitaminas do complexo B devido o refino.
11.Sal (excesso): retenção de líquidos no corpo e aumento da pressão arterial. Não ultrapassar o permitido: 1,5g de Sódio por dia.
12.Olestra (um tipo de gordura artificial): diarréia e distúrbios digestivos.

Conheço pessoas que levam a obesidade somente pelo aspecto estético que já é muita coisa e não levam em consideração o que acontece com nosso corpo, lá dentro com o consumo de alimentos industrializados. A importância deve ser dada principalmente por nós, porém cada vez mais posso perceber que as empresas já estão mudando de estratégia ou mascarando ainda mais a problemática, como por exemplo a empresa General Mills que em janeiro, anunciou que substituiria os grãos refinados de vários cereais por grãos integrais. No mesmo mês, a empresa lançou uma nova versão do chocolate da marca Chocolate Lucky Charms (com alto teor de açúcar e grande quantidade de marshmallow).

“As pessoas gostam de ter opção.” E havendo opções, as empresas não precisam se impor aos clientes. Não é interessante que o marketing diga aos consumidores o que devem comer ou fazer. Não há lugar para paternalismos. Médicos e nutricionistas, ou talvez o governo, podem desempenhar esse papel, mas não o profissional de marketing.” Diz Barbara Kahn, professora de Marketing da Wharton.

Algo que devemos levar muito em consideração é que “as pessoas não sabem quanto comer. Elas não comem mais apenas para satisfazer seu apetite. Os adultos não conhecem limites. Não é o que acontece com as crianças. Quando não sentem fome, elas não comem. Param no meio de uma mordida, uma atitude que os adultos desaprenderam”.

E nesta situação o que nós adultos costumamos fazer é forçar a criança a comer mais. A decisão de cortar o excesso, ou de mudar o hábito alimentar, de modo geral, supõe que o consumidor está disposto a assumir “pessoalmente a responsabilidade” por suas ações — conforme mais uma frase sempre citada no debate em torno da obesidade. Shelley Rosen, membro da Equipe Global de Estilos de Vida Equilibrados do McDonald’s, observa que as pessoas são responsáveis pelas “decisões que tomam na vida. Nós e outras marcas procuramos oferecer opções, de modo que as pessoas possam tomar as decisões corretas com base nas suas necessidades — levando em conta, entre outras coisas, preço, portabilidade e conveniência. Se as pessoas não se interessam pelas opções que oferecemos, nós as retiramos do cardápio. Todos dizem que deveríamos ter um hambúrguer vegetariano. Nós temos [em alguns de nossos mercados], porém a taxa de ‘consumo’ desse tipo de hambúrguer não é a mesma de outros produtos. Apesar disso, continuamos a testá-lo”.

Com isso podemos observar que não é somente a falta de informação, pois nós sabemos o quanto prejudicial é consumir este tipo de alimento, o que falta mesmo é mais amor pela vida, pela sua própria vida.

“Os gordinhos que não se controlam, os hipertensos que sofrem com o consumo excessivo de sal e as pessoas com altos índices de colesterol deveriam ser proibidas de comprar alguns produtos, ou, ao menos, deveriam ser aterrorizadas com imagens do mal que eles podem fazer, como nos maços de cigarros” diz Flávio. Talvez devessem ter até sua propaganda proibida, principalmente nos programas e materiais infantis. O problema, porém, é que muitos anúncios são dirigidos a uma parcela vulnerável da população — as crianças. No momento em que se recorre a personagens do desenho animado, associando-se produtos a filmes infantis, por exemplo, a pergunta passa a ser outra: será que o consumidor é capaz de escolher com base em informações detalhadas ou será que ele está sendo inundado com material de marketing capaz de modificar seu comportamento? As empresas podem retrucar com o argumento de que as crianças não são responsáveis pelas decisões de compra; cabe aos pais decidir comprar ou não, mas todos sabemos do enorme poder de persuasão das crianças.

Não sei exatamente quais produtos estarão sujeitos a essa legislação, mas posso dizer qual é minha lista de alimentos que deveriam ser banidos de qualquer alimentação, principalmente pelos candidatos a problemas sérios:

- Salgadinhos de pacote: quase todos! Farinha refinada frita, muitas vezes com gordura trans e lotado de sal. Consumir isso todos os dias provavelmente fará mais mal do que fumar alguns cigarros ou beber um pouco. Faço uma pequena exceção para alguns novos que são assados e feitos sem gordura trans, que, embora não sejam recomendados, provocam menos prejuízos.

- Bolachas e biscoitos: novamente a farinha refinada, preparada com gordura, açúcar e/ou sal em abundância. Esse é o lanchinho da tarde preferido nos escritórios, talvez por isso homens e mulheres engordem tanto quando começam a trabalhar e compartilhar essas tranqueiras.

- Refrigerantes com açúcar: é quase burrice tomar refrigerante com açúcar quando se pode tomar um diet.

Existem outros produtos perigosos, mas os que citei acima lideram o ranking dos alimentos que deveriam ter seu uso controlado ou conter drásticas advertências na embalagem.

Mais uma vez a escolha é só sua. Continue comendo e engordando, comendo e prejudicando sua saúde, comendo e envelhecendo mais depressa, se pelo menos não existisse outras opções eu até entenderia, mais existe e com certeza aquele tempinho que você gastou cozinhando algo ou refletindo melhor no que ingerir será recompensado com um corpo saudável e uma vida mais tranqüila. Nada vai adiantar se o governo ir lá nas embalagens colocar o quanto aquele alimento pode fazer mau e mesmo assim, irmos lá e comprá-lo, levar para casa, para mesa de nossa família uma refeição mascarada de bomba atômica. Fica para todos aquela frase mágica:

VOCÊ É O QUE VOCÊ COME.

Ah, quero agradecer a participação de todos! Aos poucos vamos atendendo aos pedidos de temas enviados e também estamos procurando responder rapidamente as dúvidas e esclarecer as verdades e mitos do universo fitness