Quantos % dos pacientes conseguem perder peso e sustentar essa perda de peso ?

 


Em 2013 o American College of Cardiology e o American Heart Association montaram uma força tarefa para entender aspectos epidemiológicos da obesidade. Nesse estudo, aproximadamente 35% a 60% dos pacientes portadores de sobrepeso ou obesidade que participam de programas intensivos de dieta e atividade física conseguem perder pelo menos 5% do peso inicial e manter essa perda por dois anos ou mais. 

60% é um valor razoável, né? Sim, mas 5% de perda de peso ao longo de 2 anos ou mais é um valor razoável? Obviamente melhor do que nada, melhor que uma curva ascendente de peso. Porém, ainda assim 5% é pouco, por mais que isso promova melhoras cardiometabólicas. 

Já em estudos populacionais, cerca de 40% dos pacientes com obesidade atingem uma perda de ≥5% do peso ao longo de vários anos, mas apenas uma minoria consegue manter perdas maiores (≥10% do peso inicial), geralmente entre 10% e 20% dos participantes de programas estruturados. Quanto mais os anos passam, mais essa porcentagem cai. Podendo ficar na ordem de 5-10% dos pacientes perdendo mais de 10% do peso corporal e sustentando essa perda por mais de 5 anos. 

Desanimador? Um pouco, porém, é a realidade. Uma doença multifatorial como a obesidade, não tem cura, mas tem controle. Esses dados epidemiológicos servem para a população leiga entender que na maioria das vezes somente dieta, atividade física, mudança do estilo de vida não bastam. A utilização da farmacoterapia antiobesidade é bem-vinda, ainda mais com a nova era de medicações. Além disso, temos também a cirurgia bariátrica. Essas terapias/intervenções aumentam consideravelmente a taxa de sucesso, seja em % de perda de peso ou de sustentação dessa perda. 

Mas por que isso ocorre?


Induzir o emagrecimento não é tão complicado, temos ferramentas para isso. Mas a manutenção da perda de peso é desafiador. Isso acontece devido à adaptação metabólica e hormonal, que favorece o reganho após o término das intervenções. Por isso sempre falo: não existe fim do tratamento. Obesidade não tem cura e a vigilância é até o último dia de vida do paciente. 

Os dados epidemiológicos mostram que o sucesso é maior em programas intensivos, com acompanhamento frequente e estratégias multicomponentes, incluindo educação nutricional, literácia em saúde (isso inclui compreeender as abordagens farmacológicas e cirúrgicas), suporte psicológico e atividade física regular. 

Independente do tipo de dieta, tipo de exercício e até mesmo tipo de medicamento, a adesão ao programa é o principal fator determinante do sucesso a longo prazo. Por isso sou categórico com pacientes que chegam expresando o desejo de seguir dietas altamente restritivas, ex. dieta cetogênica em longo prazo. Comecei consultório em 2010 e nesses anos todos, nunca vi isso funcionar. Então me sinto na obrigação de orientar o paciente. 

Quando lidamos há mais de 15 anos com obesidade, percebemos que a adesão é realmente o fator mais importante. E essa adesão passa  por:
1) Aceitação do doença. 
2) Literácia em saúde,
3) Compreensão das abordagens que ajudarão esse paciente a ficar em "remissão". 

Em resumo, menos de 20% dos pacientes mantém uma perda de peso clinicamente significativa apenas com dieta e atividade física, sendo fundamental o acompanhamento contínuo e intervenções estruturadas para aumentar as chances de sucesso.

O que realmente funciona no tratamento clínico da obesidade de acordo com as evidências?

  1. Programas eficazes que incluem pelo menos 12 sessões no primeiro ano (1 consulta ao mês), seguidos de fases de manutenção com contato mensal ou mais frequente por pelo menos um ano. O acompanhamento regular permite ajustes individualizados e reforço das mudanças de comportamento. Os planos devem ser individualizados, considerando fatores sociais, culturais e ambientais que influenciam escolhas alimentares e padrões de atividade.
  2. A automonitorização frequente do peso corporal, da ingestão alimentar e da atividade física é um dos principais determinantes do sucesso na manutenção. Ferramentas como diários alimentares, checklist de hábitos, apps de contagem de calorias auxiliam nesse processo.
  3. Técnicas de Terapia cognitivo comportamental como definição de metas, resolução de problemas, prevenção de recaídas e suporte familiar também são recomendadas.
  4. Níveis elevados de atividade física (≥200–300 minutos/semana) e manutenção de uma dieta hipocalórica são fundamentais para evitar o reganho de peso.
  5. Uso de medicação durante a fase de perda de peso e fase de manutenção. Com posterior redução das doses, gradativamente. Sempre deixando o paciente ciente que talvez a medicação será por toda a vida.  

E quem tem mais sucesso de acordo com os estudos?


Os grupos populacionais que apresentam maior sucesso na manutenção da perda de peso a longo prazo com intervenções incluem:
  • Adultos com pré-diabetes ou Diabetes mellitus tipo 2: Estudos como o Diabetes Prevention Program e o Look AHEAD mostraram que indivíduos com pré-diabetes ou diabetes tipo 2 têm taxas superiores de sucesso, provavelmente devido à motivação adicional para prevenir ou controlar complicações metabólicas e ao acompanhamento clínico mais frequente.
  • Mulheres de meia-idade: essa faixa etária também tendem a aderir melhor a intervenções comportamentais, possivelmente por maior preocupação com saúde e maior engajamento em grupos de apoio. Lembrando que a adesão feminina em tratamentos de saúde é maior que de homens em inúmeras patologias, Brinco que via de regra homem ri na cara do perigo ou só procuram auxílio quando o quadro já está avançado. 
  • Pacientes que participam de programas intensivos e estruturados, especialmente aqueles com suporte contínuo e automonitorização frequente. Tem estudos que mostram que pacientes que se submeteram a programas intensivos, com ≥14 sessões nos primeiros 6 meses e manutenção por pelo menos 12 meses, apresentam melhores resultados. O sucesso é maior em intervenções que incluem automonitorização, definição de metas, suporte entre pares e acompanhamento regular, independentemente do sexo, idade ou etnia.

Fatores indicativos de possível falha


Infelizmente, barreiras sociais, como insegurança alimentar e falta de acesso a ambientes saudáveis, podem limitar o sucesso em populações vulneráveis, mas adaptações culturais e suporte comunitário aumentam a efetividade.

Bibliografia

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Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 

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