terça-feira, 16 de setembro de 2025

Ômega-3 e risco de doença de Alzheimer de acordo com as evidências

Uma deficiência marcada de lipídios altamente insaturados (como os ácidos graxos ômega-3) foi observada em mulheres com doença de Alzheimer, mas não em mulheres com a cognição preservada. Essa alteração está associada a piores desfechos cognitivos e a biomarcadores mais desfavoráveis de neurodegeneração e inflamação, segundo nova pesquisa.

Os pesquisadores descreveram ausência de diferenças significativas nos perfis lipídicos em homens com doença de Alzheimer em comparação com seus pares saudáveis. Além disso, os efeitos dos fosfolipídios insaturados não foram mediados por colesterol, lipoproteína de baixa densidade (LDL, sigla do inglês low-density lipoprotein) ou apolipoproteína B.

“O estudo revelou que a biologia lipídica da doença de Alzheimer é diferente entre os sexos, abrindo novos caminhos para a pesquisa”, afirmou em comunicado a Dra. Cristina Legido-Quigley, Ph.D. do King's College London, no Reino Unido, e autora sênior do estudo.

“Nossos achados sugerem que as mulheres devem garantir ingestão adequada de ácidos graxos ômega na dieta, por meio de peixes ricos em gorduras ou suplementos. No entanto, são necessários ensaios clínicos para determinar se a alteração da composição lipídica pode influenciar a trajetória biológica da doença”, explicou.

O estudo foi publicado on-line em 20 de agosto no periódico Alzheimer’s & Dementia.

Diferenças claras entre os sexos


A doença de Alzheimer afeta desproporcionalmente as mulheres, mas as explicações biológicas para essa disparidade ainda não estão bem definidas. Os lipídios são essenciais para as membranas neuronais, a plasticidade sináptica e a sinalização celular, e trabalhos anteriores com metabolômica sugeriram padrões específicos ligados ao sexo no risco de demência.


Para aprofundar essa questão, a equipe analisou o perfil lipídico em amostras de plasma de 306 homens e mulheres com doença de Alzheimer, sendo 165 com comprometimento cognitivo leve, além de 370 controles saudáveis do ponto de vista cognitivo. A média de idade da coorte geral foi de 76 anos.

Em mulheres com Alzheimer, observou-se redução de famílias lipídicas contendo ácidos graxos altamente insaturados e aumento das que continham lipídios saturados. Em homens, não foram encontradas associações semelhantes.

Após ajuste para múltiplos testes, 32 lipídios foram associados à doença de Alzheimer em mulheres: 17 correspondiam a gorduras altamente insaturadas, em níveis mais baixos, e 15 a gorduras mais saturadas ou monoinsaturadas, em níveis mais elevados.


“Em particular, triglicerídeos grandes e altamente insaturados estavam significativamente reduzidos em mulheres com a doença, indicando um possível papel da suplementação alimentar para mitigar sua progressão”, descreveram os autores.

Associação causal?


Os pesquisadores também identificaram uma associação positiva entre lipídios altamente insaturados, sobretudo triglicerídeos, e as pontuações do Miniexame do Estado Mental (MEEM). As gorduras saturadas apresentaram associação negativa.

Os achados destacam "como a diminuição dos lipídios insaturados está diretamente relacionada a piores desfechos clínicos, como desempenho mais baixo no MEEM", concluíram os autores.

"Quando [controlamos] estatisticamente as características das partículas, os resultados indicaram que essas partículas portadoras de ômega atuam no cérebro por meio de vias ligadas ao fornecimento de ácidos graxos ômega ou interações na barreira hematoencefálica, em vez de mecanismos relacionados ao colesterol ruim", afirmou a Dra. Cristina ao Medscape.

Segundo ela, "esse achado pode reformular as estratégias de tratamento, deslocando o foco de simplesmente reduzir os níveis de colesterol para otimizar os tipos de partículas lipídicas séricas".

A pesquisadora alertou, porém, que, embora o estudo "ajude a mapear como a causalidade pode funcionar, se existir, [ainda] são necessárias outras evidências, como um ensaio clínico, para confirmar se esse é realmente um fator determinante na doença de Alzheimer".

Recomendações de lipídios para doença de Alzheimer precoce


Julia Dudley, chefe de pesquisa da Alzheimer’s Research, do Reino Unido, também alertou contra conclusões definitivas sobre a causalidade.

"Embora este estudo mostre que mulheres com doença de Alzheimer apresentaram níveis mais baixos de algumas gorduras insaturadas em comparação com os homens, mais pesquisas são necessárias. É preciso compreender os mecanismos por trás dessa diferença e avaliar se mudanças no estilo de vida, como a dieta, podem ter algum papel. Entender como a doença se manifesta de forma diferente em mulheres pode ajudar os médicos a individualizar futuros tratamentos e orientações de saúde", afirmou em comunicado.

A Dra. Heather M. Snyder, Ph.D. e vice-presidente sênior de relações clínicas e científicas da Alzheimer's Association, nos Estados Unidos, disse ao Medscape que "compreender a biologia dos lipídios na doença de Alzheimer é uma área ativa de pesquisa".

A sugestão de que os lipídios podem ter papéis diferentes na causa e progressão da doença conforme o sexo é relevante e requer mais estudos, comentou ela.

"Por exemplo, precisamos saber mais especificamente quais são as diferenças e por que os papéis variam em homens e mulheres. Essa é a essência da medicina de precisão", pontuou.

Estudos futuros também devem incluir coortes que reflitam melhor a diversidade da população acometida pela doença de Alzheimer e por outras demências.

A Dra. Heather observou ainda que não está claro se o Alzheimer ou outra demência causa a redução dos níveis lipídicos em mulheres, se a depleção antecede a doença ou se há outro fator envolvido.

"Quanto mais soubermos sobre como a doença funciona, e como ela difere entre indivíduos e grupos, mais preparados estaremos para diagnosticá-la e tratá-la de forma personalizada", pontuou ela. "No entanto, com base neste estudo, não há recomendação específica sobre lipídios e/ou suplementos que possa ser feita neste momento".

Fonte: Ácidos graxos ômega-3 e risco de doença de Alzheimer: o que os dados mostram? - Medscape - 15 de setembro de 2025.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Apadrinhamento e E-books

Mentoria prova de título

Desde que encerrei a Mentoria preparatória para a prova de título, recebi  inúmeros e-mails e mensagens perguntando se teria nova turma nos próximos ano. Infelizmente não. A mentoria que está disponível para os meus afilhados é a com duração de 1 ano, que foi gravada e está em um grupo no Telegram. Ou seja, não farei nova mentoria. O que farei eventualmente é atualizar as mentorias e enviar o PDF caso surja alguma atualizado sobre determinado tema. Ex. Novos Guidelines, novos resumos ou flashcards, Bem como atualização do banco de questões. 

Com relação aos e-book:

  • O Tô na Nutro e agora, continuo vendendo e a aquisição dele é pre-requisito para tentar a vaga de apadrinhamento. Clique aqui.
  • O e-book: Quero ser Nutrólogo, continua disponível para download, gratuitamente. Clique aqui.

Apadrinhamento: novos afilhados

Apadrinhamento, devido a grande quantidade de afilhados (30), em decisão com os outros afilhados, só apadrinharei 5 por ano. Caso queira participar da seleção, clique aqui. 

No momento meus afilhados são:

  1. Adrielly Cunha – Médica em Goiânia – GO: @adriellyocunha
  2. Alexis Souza – Especializando em Nutrologia (USP) em São Paulo – SP
  3. Aline Rocha Lima – Médica Oncologista em São Paulo – SP
  4. Ana Carolina Baminger – Médica em Ji-Paraná – RO: @Anacarolinabaminger
  5. Ana Gabriela De Magalhães – Médica Nutróloga e especialista em Clínica Médica em Divinópolis – MG: @Draanagabriela_Magalhaes
  6. Ana Carolina Miranda – Médica especialista em Endocrinologia em Recife – PE
  7. Ana Paula Pires Lázaro – Médica especialista em Clínica Médica e Endocrinologia em Fortaleza – CE: @Dra_Anapaulalazaro
  8. Camila Duarte Froehner (Monitora) – Médica especialista em Clínica Médica e Nutróloga em Lages – SC – @dra.camila_froehner
  9. Carla Letícia Rigo Grzybowski – Médica especialista em Clínica Médica e Medicina Intensiva em Porto Alegre – RS: @Carlagrzybowski
  10. Caroline Abbud – Médica em São Paulo – SP: @carolineabbud
  11. Claudia Pereira – Médica especialista em Clínica Médica em Brasília – DF.
  12. Edite Magalhães (Monitora) – Médica especialista em Clínica Médica e Nutróloga em Recife – PE – @draeditemagalhaes
  13. Emanoel Junio Eduardo – Médico especialista em Medicina de família e comunidade e especializando em Nutrologia USP – São Paulo – DF: @Emanoelje
  14. Esthefânia Garcia De Almeida – Médica Nutróloga e especialista em Clínica Médica,  Endocrinologia em Araxá – MG: @Draesthefaniagalmeida
  15. Fausto Mota – Médico e Nutricionista em Curitiba – PR
  16. Gabriel Henrique Barbosa – Médico em São Paulo – SP: @drgabrielhbarbosa
  17. Harla Dalferth – Médica Nutróloga em São Paulo – SP
  18. Helena Bacha (Monitora) – Médica especialista em Nutrologia – São Paulo SP
  19. Jhony Willians – Médico Endocrinologista em Maceió – AL – @drjhonywgusmao
  20. Joana Gama do Valle – Médica cirurgiã geral em Vitória – ES. 
  21. Lara Virginia Lordello Melo – Médica especialista em Clínica Médica em São Paulo – SP: @Lara_Lordello_Melo
  22. Lia Bataglini – Médica especialista em Nutrologia – São Paulo SP
  23. Lilian Rocha – Médica especialista em Clínica Médica e Medicina Intensiva no Rio de Janeiro – RJ. 
  24. Lourdes Menezes – Médica especialista em Clínica Médica em São Paulo – SP: @Lourdes.Menezes__
  25. Márcio José de Souza – Nutricionista e Profissional de Educação física – Joinville – SC
  26. Marta Maria Coelho De Sousa –Médica em São Paulo – SP: @Marta.Coelhoo
  27. Rodrigo Serrano – Médico em João Pessoa – PB – @rodserranoandrade
  28. Rodrigo Lamonier – Nutricionista e Profissional de Educação física – Goiânia – GO. @rodrigolamoniernutri
  29. Paulo Victor Quinan – Médico Residente de Oncologia clínica – Goiânia – GO
  30. Theresa Cristina Leo – Médica Ginecologista/Obstetra e Nutróloga – Vitória – ES

Salada 30: Salada Vietnamita da Carol Morais




Primeiramente, quem é Carol Morais ?

Carol Morais é uma nutricionista, culinarista, que trocou o jaleco pelo avental nos idos de 2012. Natural de Goiânia, com forte influência da culinária Goiânia, porém, lapidada pelo Recipease de Jamie Oliver,  em Brighton na Inglaterra, posteiormente foi fez curso no Natural Institute Gourmet de Nova York - EUA. Com seu projeto de viagens e gastronomia particiou de oficinas no Blue Elephant e Bangkok - Thailandia, HOI AN, Historic Hotel noVietnã e na Cooking and Nature  de Alvados - Portugal. 

Foi a primeira nutricionista com quem trabalhei. Nos conhecemos em 2009 através do finado Twitter e foi amor à primeira vista. Virou minha sócia, aprendi muito sobre Nutrição comportamental com ela. Dividimos consultório até ela trocar o jaleco pelo avental. Seguimos amigos. 

Em 2014 lançou o seu livro Projeto Verão para a vida toda pela editora Memória visual. Um livro cheio de fotos, receitas, insights. E algo que aprendi com a Carol na época do consultório, foi sobre o poder da crocância. Então, antes de apresentar a salada da Carol, vamos conversar sobre algo viciante? A crocância. 

Nutricionista Carol Morais

O poder do Croc

A crocância tem um poder desproporcional na experiência de uma salada e foi isso que a Carol me ensinou e reforçava com os pacientes. O primeiro impacto é sensorial: a "fratura" rápida dos alimentos crocantes gera micro-vibrações percebidas pelos mecanorreceptores dos dentes e do periodonto, sinalizadas pelo trigêmeo. Esse estímulo tátil intenso “acorda” a boca, amplificando a percepção de frescor e vitalidade do prato. Não é só “barulho”: é uma via somatossensorial que aumenta atenção e prazer.

A via auditiva vem logo atrás. O som nítido do “croc” funciona como um marcador de qualidade, provavelmente o nosso cérebro associa sons secos a alimentos frescos e seguros, ou seja, não estão murchos. Esse acoplamento som-sabor (crossmodalidade) intensifica doçura, acidez e aromas, tornando a salada mais interessante sem precisar de mais sal, açúcar ou gordura. Ou seja, a crocância ajuda a modular sabor com menos calorias.

Há também uma via cognitiva de expectativa. Texturas crocantes comunicam “feito na hora”, “hortaliça tenra” e “ingrediente bem cuidado”, reduzindo a sensação de dieta restritiva. Essa narrativa positiva abaixa resistência hedônica e aumenta adesão: o paciente que gosta da salada repete o hábito. Em nutrição comportamental dizemos que prazer é terapia, prazer é terapêutico.

Pelo lado fisiológico, a crocância estende o tempo de mastigação e de exposição oral (oro-sensory exposure). Mastigar mais ativa respostas cefálicas: salivação, liberação antecipatória de enzimas e um começo de saciedade antes mesmo de o alimento chegar ao estômago. Quem mastiga mais, come mais devagar e, em média, come um pouco menos. Come com mais prazer.

A via mecânica e gástrica complementa esse efeito. Partículas maiores e com estrutura mais rígida exigem trituração mais longa e formam um bolo alimentar que promove distensão gástrica progressiva. Isso favorece sinais de plenitude via vago e hormônios como CCK, contribuindo para parar no “suficiente”. Crocância, aqui, vira ferramenta de controle de porção.

40 dicas de Crocantes

Do ponto de vista metabólico, os elementos crocantes certos sementes, nozes, grãos tostados, leguminosas assadas ou desidratadas, trazem fibras e gorduras insaturadas. Essa dupla desacelera o esvaziamento gástrico, modula a resposta glicêmica e mantém saciedade por mais tempo. Em vez de croutons ultraprocessados, pense em alguma das 40 dicas abaixo:

  1. Milho crocante
  2. Nozes trituradas 
  3. Amêndoas trituradas ou laminadas
  4. Castanha de caju trtiruada
  5. Baru triturado
  6. Grão-de-bico crocante
  7. Croutons integrais com os mais diversos temperos
  8. Chips: abobrinha, batata doce, mandioca, beterraba, batata inglesa, cenoura, berinjela, maçã
  9. Lentilha assada crocante
  10. Edamame torrado
  11. Quinoa puff (quinoa crocante)
  12. Nozes Pecãs picadas
  13. Pistache sem casca
  14. Amendoim torrado
  15. Sementes de abóbora (pepitas)
  16. Sementes de girassol
  17. Gergelim tostado
  18. Coco chips sem açúcar
  19. Cebola crispy (assada)
  20. Alho laminado crocante
  21. Rabanete fatiado fino (cru)
  22. Pepino (em cubos ou lâminas)
  23. Cenoura (em palitos ou fitas)
  24. Aipo/salsão (em bastões)
  25. Pimentão cru (tiras finas)
  26. Maçã verde (cubos finos)
  27. Pera firme (lâminas)
  28. Repolho roxo fatiado bem fino
  29. Acelga (principalmente os talos)
  30. Brócolis cru (talos cortados em cubos)
  31. Couve-flor crua (floretes pequenos)
  32. Ervilha-torta crua
  33. Broto de feijão (moyashi)
  34. Nabo (lâminas finas)
  35. Endívia ou radicchio (folhas)
  36. Alga nori torrada (tiras)
  37. “Fricco” de parmesão (queijo crocante)
  38. Provolone crocante
  39. Tofu crocante assado ou feito na irfryer
  40. Tempeh crocante em cubinhos

Dica saudável: muitos desses crocantes podem ser feitos na air fryer, a uma temperatura menor, porém com tempo maior. Há também a opção de usar desidratador. 

Existe também a via da variedade e da saciedade específica por sabor. A monotonia sensorial acelera a “fadiga” do paladar; contrastes de crocante-cremoso, ácido-doce e frio-morno mantêm o interesse até a última garfada. Isso reduz a busca por “compensações” calóricas logo após a refeição. Textura é estratégia contra o tédio alimentar. Ou seja, croc faz toda diferença. 

Snap e dressing

Na engenharia culinária da crocância, falamos em atividade de água (aw) e em estrutura. Folhas bem secas antes do molho preservam a rigidez; tostar sementes a baixa-média temperatura cria paredes celulares firmes sem queimar. Empanar em farinha de aveia integral, usar pão 100% integral para croutons ou polvilhar gergelim ou oleaginosas tostadas garantem “snap” mesmo com dressing.

Mas o que é Snap?

Consiste na quebra seca e audível (o croc) que sentimos ao morder. 

E o que seria o dressing? 

“Dressing” em culinária é o molho da salada, a mistura que dá sabor, suculência e “liga” aos ingredientes. 

Já falamos sobre isso na parte introdutória da séria de séries, em 2022, mas vale relembrar. Um molho tem como função na salada: temperar, umedecer sem encharcar, ajudar a aderir temperos e aromáticos, equilibrar acidez/doçura/sal/umami e melhorar a textura da salada na boca. Sendo que a estrutura clássica de um molho é composta geralmente por gordura + ácido + temperos.

  • Gordura: azeite, óleos de sementes, maionese, iogurte, tahine.
  • Ácido: vinagre (vinho, maçã, arroz), suco de limão/lima, tamarindo.
  • Temperos: sal, pimenta, ervas, alho, mostarda, mel, missô, parmesão, anchova etc.

A tostagem cria uma estrutura quebradiça e concentra óleos naturais do gergelim (hidrofóbicos) e das outras oleaginosas, que retardam a umidade do molho. Como são peças pequenas e rígidas, mantêm o “snap” mais tempo do que, por exemplo, croutons finos já molhados.

Como fazer e usar (rápido) uma tostagem para manter a crocância:

  • Aqueça frigideira sem óleo em fogo médio.
  • Adicione o gergelim (branco e/ou preto) e mexa sempre até perfumar e começar a dourar.
  • Esfrie completamente (fica mais crocante).
  • Polvilhe por último, já com a salada montada e temperada.

Dicas extras pra preservar a crocância:
  • Seque bem as folhas antes do molho.
  • Use um molho espesso/emulsionado e coloque só na hora.
  • Combine com outros “crocantes resilientes”: semente de abóbora, amêndoas laminadas tostadas ou trituradas, castanha de caju na forma de xeren, amendoim triturado,  todos mantêm “snap” mesmo após o tempero com o dressing. 

Há ainda a via de contraste térmico e de revestimento. Elementos crocantes adicionados na hora e não misturados muito cedo, evitam hidratação e perda de textura da salada. Servir a salada fria com um dressing morno e  com crocantes (castanhas tostadas na frigideira, cubinhos de tofu selado) intensifica percepção e satisfação com pouca quantidade.

Por fim, crocância educa o paladar. Ao treinar o comer atento (mindful eating) com texturas que “falam” à boca e ao ouvido, o paciente aprende a valorizar sinais de frescor e qualidade. O resultado é uma salada mais saciante, saborosa e nutriente-densa, construída por múltiplas vias: tátil, auditiva, cognitiva, mastigatória, gástrica e metabólica. 

Crocância não é enfeite é ferramenta clínica e culinária que todo Nutrólogo e Nutricionista tem obrigação de conhecer. Então hoje vamos de salada com crocância.  Nada melhor que a salada Vietnamita que está no livro da minha amiga Carol Morais.

Ingredientes: 
1 pires de manga verde cortada espaguetada
1 pires de cenoura espaguetada
1 pires de pepino fatiado em meia lua ou espaguetado
1 colher de sopa de cebola roxa fatiada em meia lua
1 colher de sopa de amendoim torrado sem casca
Sal a gosto
Mel ou açúcar de coco ou mascavo
Limão tahiti
Água filtrada 2 colheres de sopa
Molho de peixe ou Shoyo sem glutamato monossodico

Modo de preparo: 
É importante ao fazer o molho ir adicionando aos poucos cada ingrediente, de maneira a equilibrar os sabores. Na boca se deve perceber um pouquinho de cada ou o seu preferido. 

Misturar os ingredientes de tempero com a água separadamente e reservar. 
Misturar os vegetais , a manga e a cebola, regar com o molho, mexer para ele "banhar" os ingredientes e só depois finalizar com o amendoim torrado, favorecendo o Snap.

Para acessar todo o arquivo de salada: 

Salada 1: Berinjela com castanha do Pará (ou castanha do Brasil), uva-passa e hortelã:

https://www.nutrologogoiania.com.br/salada-1-berinjela-com-castanha-do-para-ou-castanha-do-brasil-uva-passa-e-hortela

Salada 2: Salada de inverno de abacate com frango cítrico:

http://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-2-salada-de-inverno-de-abacate.html?m=0

Salada 3: Salada de inverno de rúcula:

https://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-3-salada-de-inverno-de-rucula.html

Salada 4: Salada com legumes assados:

https://www.ecologiamedica.net/2022/07/salada-4-salada-de-legumes-assados.html

Salada 5: Salada de Picles de pepino com molho de alho:

https://www.ecologiamedica.net/2023/04/salada-5-salada-de-picles-de-pepino-com.html

Salada 6: Salada vegana de lentilha crocante:

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-6-salada-vegana-de-lentilha.html

Salada 7: Salada cítrica de grão de bico:

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-7-salada-de-grao-de-bico-citrica.html

Salada 8: Salada de frango com molho pesto de abacate:

https://www.ecologiamedica.net/2023/08/salada-8-salada-de-frango-com-molho-de.html

Salada 9: Salada de berinjela com passas e amêndoas:

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-9-salada-de-berinjela-com-passas.html?m=0

Salada 10: Salada com molho homus

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-10-salada-com-molho-homus.html

Salada 11: Salada de atum crocante:

https://www.ecologiamedica.net/2023/12/salada-11-salada-crocante-de-atum.html

Salada 12: Trigo cozido com especiarias

https://www.ecologiamedica.net/2024/02/salada-12-trigo-cozido-com-especiarias.html

Salada 13: Salada de Pequi com molho de mostarda e mel

https://www.ecologiamedica.net/2024/04/salada-13-salada-de-pequi-ao-molho-de.html

Salada 14: Salada de Quinoa com frango dourado

https://www.ecologiamedica.net/2024/05/salada-14-salada-de-quinoa-com-frango.html

Salada 15: Salada Waldorf

https://www.ecologiamedica.net/2024/05/salada-15-salada-waldorf.html

Salada 16: Salada de inverno cítrica

https://www.ecologiamedica.net/2024/06/salada-16-salada-de-inverno-citrica.html

Salada 17: Salada de inverno de cogumelos

https://www.ecologiamedica.net/2024/06/salada-17-salada-de-inverno-de-cogumelos.html

Salada 18: Salada Grega

https://www.ecologiamedica.net/2024/07/salada-18-salada-grega.html

Salada 19: Salada de Chicória (escarola) com páprica defumada

https://www.ecologiamedica.net/2024/08/salada-19-salada-de-chicoria-escarola.html

Salada 20: Salada de chicória com tahine

https://www.ecologiamedica.net/2024/08/salada-20-salada-de-chicoria-com-tahine.html

Salada 21: Salada de chicória com tofu amassado

https://www.ecologiamedica.net/2024/09/salada-21-salada-de-escarola-com-tofu.html

Salada 22: Tabule tradicional

https://www.ecologiamedica.net/2024/09/salada-22-tabule-tradicional.html

Salada 23: Salada Natalina em formato de guirlanda

https://www.ecologiamedica.net/2024/12/salada-23-salada-guirlanda-natalina.html

Salada 24: Salada coleslaw (salada de repolho americana)

https://www.ecologiamedica.net/2025/03/salada-24-salada-coleslaw-salada-de.html

Salada 25: Salada Thai de bifum (salada oriental)

https://www.ecologiamedica.net/2025/03/salada-25-salada-thai-de-bifum-salada.html

Salada 26: Salpicão vegano com veganese

https://www.ecologiamedica.net/2025/03/salada-26-salpicao-vegano-com-veganese.html

Salada 27: Salada de salmão grelhado com rúcula e feijão branco

https://www.ecologiamedica.net/2025/04/salada-27-salada-de-salmao-grelhado-com.html

Salada 28: Salada Niçoise ou Salada Francesa

https://www.ecologiamedica.net/2025/05/salada-28-salada-nicoise-ou-salada.html

Salada 29: Salada italiana de batatas

https://www.ecologiamedica.net/2025/08/salada-29-salada-italiana-de-batatas.html

Salada 30: Salada Vietnamita da Carol Morais:

https://www.ecologiamedica.net/2025/09/salada-vietnamita_15.html

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE11915
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No dia do Nutrólogo: A história da Nutrologia na América Latina



Hoje é comemorado o dia do Nutrólogo, essa especialidade linda que escolhi seguir. Mesmo com todas as dificuldades.

Então para comemorar esse dia, trago para vocês um vídeo que meu amigo Dr. Pedro Dal Bello fez sobre a História da Nutrologia. Pouca gente sabe que ela foi reconhecida oficialmente como especialidade médica em 1978 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). Nosso orgão órgão representativo é a ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia), fundada em 1973 por um grupo de médicos interessados em difundir a ciência da nutrição aplicada à prática clínica. Desde então, a Nutrologia se consolidou como área dedicada a:

  • Diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças relacionadas à ingestão inadequada de nutrientes.
  • Orientação sobre suplementação, dietas especiais e terapias nutricionais.
  • Apoio em casos de obesidade, desnutrição, doenças crônicas, envelhecimento e performance esportiva.

Caso você tenha interesse em saber mais sobre a história da Nutrologia, te convido a ler um texto da minha autoria, que está no site do Movimento Nutrologia Brasil

https://movimentonutrologiabrasil.com.br/a-historia-da-nutrologia/


domingo, 14 de setembro de 2025

Pular o café da manhã e jantar tarde estão associados ao risco de fratura

Pular o café da manhã, já associado a várias implicações potenciais para a saúde, e o jantar tarde estão associados a outro risco importante: fratura óssea, mostrou uma nova pesquisa.

“Nosso estudo é o primeiro a sugerir que pular o café da manhã e jantar tarde foram independentemente associados a um maior risco de fratura osteoporótica, além dos fatores de risco convencionais, usando um banco de dados de sinistros em larga escala”, relataram os autores no estudo , publicado este mês no Journal of the Endocrine Society .

As descobertas são de um grande estudo de coorte que avaliou hábitos de estilo de vida e dados de fraturas de 927.130 participantes, com idade média de 66,6 anos, em um grande banco de dados de alegações de saúde japonês.

Durante um acompanhamento médio de 2,6 anos, no geral, ocorreram 28.196 fraturas osteoporóticas graves na coorte, para uma taxa de incidência de 10,8 fraturas por 1.000 pessoas-ano.

Após o ajuste para fatores de risco multivariados e convencionais, a omissão do café da manhã foi significativamente associada a um risco aumentado de diagnóstico de fratura osteoporótica, incluindo fraturas de quadril, antebraço distal, vertebral e umeral (razão de risco [HR], 1,18), assim como jantar tarde (HR, 1,08).

Os hábitos de café da manhã e jantar, juntamente com o tabagismo (HR, 1,11), tiveram as associações mais fortes com fratura osteoporótica em comparação com outros hábitos de estilo de vida, incluindo exercícios (HR, 0,99), sono adequado (HR, 0,95), uso de álcool (HR, 0,91) e marcha rápida (HR, 0,84).

Vale ressaltar que os participantes que relataram pular o café da manhã e jantar tarde representaram os participantes mais jovens do estudo, com uma idade média de 52,3 anos, enquanto aqueles que relataram não pular o café da manhã ou jantar tarde foram os mais velhos, com uma idade média de 67,2 anos.

Aqueles que omitiram o café da manhã e jantaram tarde também apresentaram o IMC mediano mais alto (23,7), enquanto aqueles que não relataram nenhum dos hábitos apresentaram o IMC mediano mais baixo, de 22,9.

Pessoas que pulam o café da manhã apresentam taxas mais altas de outros hábitos de vida pouco saudáveis
O grupo que pulou o café da manhã/jantou tarde apresentou outros hábitos de vida pouco saudáveis, incluindo a maior proporção de fumantes atuais (42,6%) e bebedores diários (56,3%), e a menor proporção de indivíduos com hábitos regulares de exercícios (23,2%) e sono suficiente (56,3%) em comparação com os outros grupos.


Pesquisas anteriores sugeriram que pular o café da manhã e jantar tarde estão associados à obesidade , diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, e pular o café da manhã também foi associado à menor densidade mineral óssea e ao risco de fratura.

No entanto, o novo estudo é o primeiro a relacionar hábitos de jantar tarde a um risco maior de fratura osteoporótica.

Com estudos anteriores avaliando alimentação com restrição de tempo mostrando que uma janela de alimentação de 12 horas resulta em maior estresse oxidativo e menor sensibilidade à insulina em comparação com uma janela de alimentação de 6 horas, os autores especularam que “jantares tardios podem contribuir para níveis elevados de cortisol e estresse oxidativo, afetando potencialmente o metabolismo ósseo e contribuindo para o risco de osteoporose ”.

Vale ressaltar que outros estudos mostraram que aqueles que pulam o café da manhã têm menor ingestão de vitamina D e cálcio e níveis séricos mais baixos de 25-hidroxivitamina D do que aqueles que consomem café da manhã, sugerindo que a deficiência de vitamina D devido à falta de ingestão de café da manhã pode influenciar no aumento do risco de fraturas osteoporóticas, disseram os autores.

Considerando a pesquisa existente, o primeiro autor Hiroki Nakajima, MD, PhD, do Departamento de Diabetes e Endocrinologia da Universidade Médica de Nara em Kashihara, Japão, observou que “não fiquei surpreso porque estudos anteriores mostraram que [pular o café da manhã] pode afetar a densidade mineral óssea”.

“Por outro lado, foi surpreendente que jantar tarde fosse prejudicial à saúde óssea”, disse Nakajima ao Medscape Medical News , acrescentando que “é fácil imaginar que também seja ruim para obesidade e diabetes”.

Teorias sobre como o hábito regular de jantar tarde pode ter um papel no risco de fratura incluem que "jantar tarde pode deteriorar a qualidade do sono e o ritmo circadiano, que é essencial para manter a saúde óssea", explicou Nakajima.

Embora o estudo tenha envolvido uma coorte japonesa, Nakajima disse que as descobertas poderiam ser aplicadas a populações mais amplas.

“Considerando tais mecanismos, o impacto de hábitos alimentares pouco saudáveis ​​pode ser universal entre diferentes raças”, disse Nakajima. “É claro que a magnitude desse impacto pode ser influenciada por fatores como composição alimentar e histórico genético.”

Além disso, "esses padrões alimentares muitas vezes se combinam com outros comportamentos adversos — como fumar, baixa atividade física e sono insuficiente, por isso é importante manter a conscientização sobre a melhoria gradual dos hábitos gerais de estilo de vida, mesmo que pouco a pouco", disse Nakajima.

Mais estudos necessários

Comentando sobre a pesquisa, Emma Billington, MD, professora assistente adjunta na Escola de Medicina Cumming, Universidade de Calgary, em Alberta, Canadá, observou que, embora muitos estudos observacionais tenham vinculado padrões alimentares saudáveis ​​com a densidade mineral óssea e benefícios no risco de fraturas, "até onde sei, este é o primeiro grande estudo observacional que demonstra que o horário das refeições também pode estar associado ao risco de fraturas".

Embora levantem algumas questões complexas, as descobertas sugerem uma possível ligação entre o horário das refeições e a reabsorção óssea, ela especulou.

"Como foi demonstrado que o consumo de uma refeição suprime marcadores de reabsorção óssea (como o C-telopeptídeo), pode-se levantar a hipótese de que intervalos maiores de jejum entre as refeições, e particularmente antes do café da manhã, podem estar associados ao aumento da renovação óssea", disse Billington, que também é médico avaliador e médico líder da Associação Médica de Alberta.

“No entanto, sem mais informações sobre a ingestão de nutrientes da população neste estudo, não é possível saber se as associações com o risco de fratura são devidas ao horário das refeições ou talvez relacionadas à ingestão diferente de nutrientes entre aqueles que frequentemente pulam o café da manhã e/ou jantam tarde.”

No geral, “este é um estudo interessante e gerador de hipóteses, embora seja importante confirmar as descobertas em outras populações e outros grupos grandes”, disse ela.

O estudo foi financiado pelo Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão. Os autores não tinham interesses a declarar. Billington recebeu uma bolsa da Dairy Farmers of Canada, com financiamento administrado pela Universidade de Calgary.

Artigo: Hiroki Nakajima, Yuichi Nishioka, Yuko Tamaki, Fumika Kamitani, Yukako Kurematsu, Sadanori Okada, Tomoya Myojin, Tatsuya Noda, Tomoaki Imamura, Yutaka Takahashi, Dietary Habits and Osteoporotic Fracture Risk: Retrospective Cohort Study Using Large-Scale Claims Data, Journal of the Endocrine Society, Volume 9, Issue 9, September 2025, bvaf127, https://doi.org/10.1210/jendso/bvaf127

Fermentados na prática clínica: kefir, iogurte e kombucha





Os alimentos fermentados como kefir, iogurte e kombucha têm ganhado destaque devido ao seu potencial impacto na saúde, especialmente pela modulação da microbiota intestinal e efeitos metabólicos

O termo “prebiotic sodas” também está se popularizando, mas ele não é reconhecido na literatura médica tradicional; trata-se de uma denominação comercial recente para bebidas que alegam conter fibras prebióticas e culturas vivas, mas não há consenso ou padronização científica sobre sua composição ou benefícios, diferentemente dos alimentos fermentados clássicos.

O kefir e o iogurte são os fermentados mais estudados. Ambos contêm culturas vivas de bactérias e leveduras, capazes de sobreviver ao trânsito gastrointestinal e exercer efeitos benéficos, como aumento da diversidade microbiana, reforço da barreira epitelial e modulação da resposta imune. 

Estudos clínicos indicam benefícios em parâmetros metabólicos (glicemia, perfil lipídico, pressão arterial) e redução de marcadores inflamatórios em populações com síndrome metabólica, hipertensão e síndrome do intestino irritável. 

O kefir, especificamente, mostrou melhor tolerabilidade em pacientes com intolerância à lactose e potencial aumento da taxa de erradicação do Helicobacter pylori quando associado à terapia antibiótica, com menos efeitos adversos gastrointestinais.

No entanto, apesar dos achados promissores, a literatura destaca que os estudos clínicos disponíveis são heterogêneos, de curta duração e com amostras pequenas, o que limita a generalização dos resultados. 

Não há evidências robustas para recomendar o uso de fermentados exclusivamente para tratamento de condições gastrointestinais comuns, e os efeitos benéficos parecem ser mais consistentes em modelos experimentais e estudos observacionais do que em ensaios clínicos randomizados de alta qualidade.

O kombucha, embora amplamente consumido e associado a propriedades antimicrobianas, imunomoduladoras e antioxidantes em estudos in vitro e animais, carece de ensaios clínicos randomizados em humanos que comprovem benefícios específicos para saúde gastrointestinal ou metabólica. A literatura aponta a necessidade de estudos clínicos bem desenhados para confirmar os efeitos observados em modelos experimentais.

Epidemiologicamente, dietas ricas em alimentos fermentados estão associadas a menor risco de doenças metabólicas, cardiovasculares e mortalidade, mas essas associações não estabelecem causalidade. Por outro lado, há evidências de que o consumo elevado de fermentados de soja pode aumentar o risco de câncer gástrico, destacando a importância do tipo de alimento fermentado e do contexto populacional.

Em resumo, kefir e iogurte apresentam evidências clínicas moderadas de benefícios metabólicos e gastrointestinais, enquanto o kombucha e bebidas comercialmente denominadas “prebiotic sodas” ainda carecem de validação científica robusta. O consenso atual é que alimentos fermentados podem ser parte de uma estratégia nutricional saudável, mas não substituem terapias convencionais e não devem ser recomendados como tratamento exclusivo para doenças gastrointestinais ou metabólicas até que haja evidências clínicas mais sólidas.

Conclusão 


Eequilíbrio. Kefir e iogurte têm evidência clínica moderada e segurança favorável. Kombucha permanece promissor, porém com lacunas em humanos. “Prebiotic sodas” carecem de padronização e base robusta. Adote fermentados como parte de uma dieta de qualidade. Evite promessas terapêuticas além dos dados disponíveis hoje. 

Maneiras de incorporar esses alimentos:

  • Café da manhã: iogurte natural com mamão, aveia e castanha-do-pará; ou kefir batido com banana e canela.
  • Lanches: copo de kefir com cacau em pó; iogurte comfrutas. 
  • Refeições principais: molho de iogurte com limão e ervas para saladas; marinada de frango ou peixe com iogurte, alho e açafrão. Acompanhamentos: coalhada seca com azeite e zaatar para legumes assados; vinagrete de kefir para acompanhar quibe.
  • Sobremesas leves:  iogurte com granola caseira pouco açucarada; kefir gelado com morango amassado.
  • Culinária regional: iogurte em substituição parcial da maionese no salpicão; kefir em panquecas integrais; kombucha pasteurizado como “spritz” sem álcool diluído com água com gás e rodelas de limão.

Estratégia de adesão: orientar porções diárias, preferir versões naturais, ler rótulos, e iniciar gradualmente para avaliar tolerância, já que é comum na minha prática clínica, relatos de pacientes que tem sintomas digestivos agravados com a utilização, principalmente de Kombucha. 


Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 

Referências:

1. Non-Prescription Therapeutics. Weingarden AR, Ko CW. The American Journal of Gastroenterology. 2024;119(1S):S7-S15. doi:10.14309/ajg.0000000000002578.

2. Fermented Dairy Products as Precision Modulators of Gut Microbiota and Host Health: Mechanistic Insights, Clinical Evidence, and Future Directions. Gao Y, Liu Y, Ma T, et al. Foods (Basel, Switzerland). 2025;14(11):1946. doi:10.3390/foods14111946.

3. Yogurt and Other Fermented Foods as Sources of Health-Promoting Bacteria. Kok CR, Hutkins R. Nutrition Reviews. 2018;76(Suppl 1):4-15. doi:10.1093/nutrit/nuy056.

4. Fermented Foods: Definitions and Characteristics, Impact on the Gut Microbiota and Effects on Gastrointestinal Health and Disease.
Dimidi E, Cox SR, Rossi M, Whelan K. Nutrients. 2019;11(8):E1806. doi:10.3390/nu11081806.

5. Fermented Foods: An Update on Evidence-Based Health Benefits and Future Perspectives.
Diez-Ozaeta I, Astiazaran OJ. Food Research International (Ottawa, Ont.). 2022;156:111133. doi:10.1016/j.foodres.2022.111133.

6. Biological Significance of Probiotic Microorganisms From Kefir and Kombucha: A Review. da Anunciação TA, Guedes JDS, Tavares PPLG, et al. Microorganisms. 2024;12(6):1127. doi:10.3390/microorganisms12061127.

7. Traditional Fermented Foods and Beverages From Around the World and Their Health Benefits. Cuamatzin-García L, Rodríguez-Rugarcía P, El-Kassis EG, et al. Microorganisms. 2022;10(6):1151. doi:10.3390/microorganisms10061151.

Saúde mental e doenças cardiovasculares (Consenso Europeu da Sociedade Europeia de Cardiologia)



A relação entre saúde mental e saúde cardiovascular é bidirecional, contínua e com impacto clínico mensurável. Depressão, ansiedade e TEPT elevam risco de DCV incidente e pioram desfechos em quem já tem doença estabelecida. 

O documento pede mudança cultural: integrar a saúde mental ao cuidado CV centrado na pessoa. Recomenda também avaliar risco CV de quem trata transtornos mentais, e rastrear sintomas mentais em quem está na cardiologia. 

É um Consenso Clínico da ESC, publicado no European Heart Journal em 2025 e endossado por sociedades de psiquiatria e psicologia. A diretriz não substitui julgamento clínico, mas orienta caminhos práticos. Sociedade Europeia de Cardiologia+3Sociedade Europeia de Cardiologia+3Oxford Academic+3

A fisiopatologia do “eixo mente-coração” envolve hiperatividade HHA, hiper-reatividade simpática e variabilidade autonômica reduzida. Somam-se inflamação de baixo grau, ativação plaquetária e disfunção endotelial, que facilitam aterogênese e arritmias. Dor, dispneia e limitação funcional alimentam ruminação e hipervigilância somática. 

Polifarmácia, interações e efeitos colaterais psiquiátricos ou cardiometabólicos aumentam a complexidade do cuidado. Adesão fragilizada, isolamento e barreiras de acesso pioram prognóstico. Por isso a ESC propõe integrar avaliação, prevenção e tratamento em fluxos coordenados.

No nível populacional, fatores psicossociais perigosos isolamento social, pressões financeiras, estresse no trabalho, desemprego e discriminação elevam risco de DCV. O Consenso orienta reconhecer e pesquisar ativamente tais fatores durante consultas, informar e encaminhar quando necessário, e advogar por mudanças sistêmicas. Em paralelo, indicadores de saúde mental positiva otimismo, felicidade, alta satisfação com a vida associam-se a um menor risco CV. Integrar promoção de bem-estar aos programas de prevenção é parte do escopo. Sociedade Europeia de Cardiologia

Em indivíduos sem DCV conhecida, depressão, ansiedade e TEPT estão associados a maior risco de desenvolver DCV. A recomendação prática é incorporar o rastreio desses transtornos à avaliação de risco cardiovascular. 

Assim, prevenção CV não deve se limitar a fatores “clássicos”, mas incluir estressores psicossociais e sintomas psiquiátricos. Isso ajuda a adaptar mensagens, intensificar intervenções de estilo de vida e, quando indicado, encaminhar para manejo especializado. Profissionais têm responsabilidade compartilhada de reconhecer, pesquisar e agir. Sociedade Europeia de Cardiologia

Nos portadores de DCV, condições de saúde mental são altamente prevalentes e clinicamente relevantes. O documento ressalta que depressão e ansiedade são frequentes, frequentemente subdiagnosticadas e associadas a maior mortalidade, reinternação e pior qualidade de vida. TEPT induzido por evento cardíaco também é significativo e vincula-se a piores desfechos. Estresse crônico e solidão devem ser pesquisados e motivar encaminhamento quando presentes. Em suma, avaliar e tratar saúde mental melhora adesão e pode influenciar desfechos duros. Sociedade Europeia de Cardiologia

Cuidadores informais também adoecem: sobrecarga, ansiedade, depressão e TEPT ocorrem e repercutem na trajetória do paciente. O Consenso orienta que fluxos assistenciais incluam triagem e suporte ao bem-estar de cuidadores. 

Avaliar demandas, educar sobre sinais de alerta e ofertar intervenções breves ou encaminhamento especializado pode reduzir estresse e melhorar a adesão do binômio paciente-cuidador. Essa abordagem sistêmica favorece mudanças sustentáveis de estilo de vida e o seguimento terapêutico. Sociedade Europeia de Cardiologia

Para operacionalizar a integração, a ESC propõe a “Psycho-Cardio Team”: equipe multidisciplinar que inclui cardiologia, enfermagem, psicologia e/ou psiquiatria. O objetivo é orientar triagem, apoio e manejo, garantindo continuidade com a Atenção Primária. Como guia prático, adotar os princípios ACTIVE: Acknowledge, Check, Tools, Implement, Venture, Evaluate. Eles ajudam a transformar o cuidado diário, tornando-o centrado na pessoa, com monitoramento de progresso em desfechos psicológicos e cardiovasculares. Sociedade Europeia de Cardiologia+2Sociedade Europeia de Cardiologia+2

Rastreamento

Rastreamento: “o quê, quando e com quais instrumentos?”. O Consenso sugere baixa barreira para triagem em cardiologia. Após novo diagnóstico CV, evento/procedimento, pelo menos uma vez no seguimento e sempre que o julgamento clínico indicar. Como porta de entrada, medidas de 2 itens (Whooley, PHQ-2, GAD-2) e, se positivas, instrumentos mais longos validados (PHQ-9, GAD-7). Essa rotina padroniza o reconhecimento precoce e orienta a intensidade do manejo. Sociedade Europeia de Cardiologia+1

Quanto ao desempenho dos instrumentos breves, a ESC sumariza propriedades psicométricas úteis à prática. Os dois itens de Whooley oferecem alta sensibilidade para depressão, enquanto PHQ-2 e GAD-2 também têm sensibilidade elevada, com especificidades moderadas. Em ambientes cardiológicos, prioriza-se não perder casos; por isso, a estratégia em dois passos é adequada: triagem sensível, seguida de escala diagnóstica/gravidade para confirmar e estratificar. Definir ferramenta padrão melhora reprodutibilidade e fluxo. Sociedade Europeia de Cardiologia

O manejo recomendado segue um modelo de “stepped care”, graduando intensidade segundo preferência, gravidade e recursos. Degraus podem ir de psicoeducação e autotratamento guiado até psicoterapias estruturadas e farmacoterapia, com revisões programadas e referência a especialistas quando necessário. A equipe define quem avalia, quando e como, pactua metas e acompanha sintomas e adesão. Evidência para reduzir MACE é limitada, mas há ganhos consistentes em depressão, ansiedade e qualidade de vida. Sociedade Europeia de Cardiologia+1

Intervenções não farmacológicas são pilares: psicoeducação, terapia cognitivo-comportamental, manejo do estresse (mindfulness, relaxamento), higiene do sono e prescrição social (arte, música, natureza). Na reabilitação cardíaca, exercício supervisionado melhora sintomas depressivos/ansiosos e bem-estar. Cessação do tabagismo exige combinação de farmacoterapia e suporte comportamental. Abordagens multimodais e iterativas, ancoradas na aliança terapêutica, aumentam aderência e manutenção de mudanças. 

Tratamento Farmacológico

Farmacoterapia: ISRS/IRSN são preferidos como primeira linha em depressão/ansiedade/TEPT em pacientes com DCV, balanceando riscos, interações e efeitos sobre ritmo e condução. Evitar tricíclicos quando possível, pelo potencial de prolongar QTc e efeitos anticolinérgicos. Benzodiazepínicos devem ser usados com cautela e por curto prazo, para evitar sedação, quedas e dependência. A decisão é individualizada, coordenada entre cardiologia e psiquiatria, com ECG quando houver risco de QTc. 

Transtorno mental grave (TMG) esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão maior recorrente grave implica risco CV substancialmente maior. O documento recomenda rastrear sistematicamente fatores de risco CV em todas as fases, avaliar risco antes de antipsicóticos e monitorar arritmias. Diferentes antipsicóticos variam na propensão a ganho ponderal, dislipidemia e hiperglicemia; alguns prolongam QTc, exigindo ECG antes e após início. A gestão requer vias assistenciais específicas e colaboração estreita. Sociedade Europeia de Cardiologia+1

O Consenso traz fluxos para TMG e arritmias: excluir causas médicas, tratar arritmias conforme diretrizes ESC, checar fatores pró-arrítmicos e monitorar QT se usar fármacos que o prolonguem. Em taquicardia sinusal persistente e sintomática, considerar betabloqueador; para FA, seguir profilaxia tromboembólica e controle de ritmo/frequência com cautela a interações. O foco é minimizar riscos iatrogênicos sem privar pacientes de tratamentos psiquiátricos eficazes. Sociedade Europeia de Cardiologia

Populações e situações específicas demandam personalização. Mulheres apresentam gatilhos de estresse mais ligados a SCA e maior prevalência de Takotsubo. Idosos e frágeis sofrem com multimorbidade, polifarmácia e maior risco de interações; recomenda-se avaliação geriátrica multidomínio e de-prescrição quando possível. Privação socioeconômica, migração/refúgio e cardio-oncologia trazem barreiras adicionais; intervenções comunitárias e de política pública são parte da solução. Sociedade Europeia de Cardiologia

Lacunas de evidência permanecem: falta definir protocolos ótimos de triagem (timing/frequência), algoritmos baseados em screening e custo-efetividade. Precisamos de ECRs para intervenções psicológicas e de atividade física em DCV + transtornos mentais, estratégias efetivas de mudança comportamental e modelos colaborativos escaláveis. Segurança/eficácia de antidepressivos e antipsicóticos em IC e cardio-oncologia merecem pesquisa, assim como recalibrar escores para TMG. Sociedade Europeia de Cardiologia

Implementação prática no consultório/serviço:

1) Adote ACTIVE como “checklist” de cultura e processo.
2) Institua triagem em dois passos (Whooley/PHQ-2/GAD-2 → PHQ-9/GAD-7 se positivo) após eventos CV, anualmente e sob suspeita clínica.
3) Estruture “stepped care” com psicoeducação, TCC, reabilitação cardíaca, cessação tabágica e, quando indicado, farmacoterapia compartilhada.
4) Mapeie e apoie cuidadores.
5) Formalize a Psycho-Cardio Team com papeis definidos e vias de referência.
6) Monitore desfechos psicológicos e CV. Sociedade Europeia de Cardiologia+1

Referências: Consenso Clínico ESC 2025 (EHJ, doi:10.1093/eurheartj/ehaf191), slides e Essential Messages oficiais, press-release da ESC