sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Definição e critérios diagnósticos de obesidade clínica

As medidas atuais de obesidade baseadas no IMC podem tanto subestimar quanto superestimar a adiposidade e fornecem informações inadequadas sobre a saúde no nível individual, prejudicando abordagens médicas fundamentadas para o cuidado à saúde e formulação de políticas. Esta Comissão buscou definir a obesidade clínica como uma condição de doença que, assim como a noção de doença crônica em outras especialidades médicas, resulta diretamente do efeito do excesso de adiposidade na função de órgãos e tecidos.

O objetivo específico da Comissão foi estabelecer critérios objetivos para o diagnóstico da doença, auxiliando na tomada de decisões clínicas, na priorização de intervenções terapêuticas e nas estratégias de saúde pública. Para isso, um grupo de 58 especialistas — representando diversas especialidades médicas e países — discutiu as evidências disponíveis e participou de um processo de consenso. Entre os membros da comissão estavam pessoas com experiência vivida em obesidade, para garantir a consideração das perspectivas dos pacientes.

A Comissão define a obesidade como uma condição caracterizada por excesso de adiposidade, com ou sem distribuição ou função anormal do tecido adiposo, cujas causas são multifatoriais e ainda não completamente compreendidas. Definimos a obesidade clínica como uma doença crônica e sistêmica caracterizada por alterações na função de tecidos, órgãos, do indivíduo como um todo, ou uma combinação destes, devido ao excesso de adiposidade. A obesidade clínica pode causar danos severos a órgãos-alvo, levando a complicações que alteram a vida e podem ser fatais (ex.: infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência renal).

Definimos a obesidade pré-clínica como um estado de excesso de adiposidade com função preservada de outros tecidos e órgãos e risco variável, mas geralmente aumentado, de desenvolver obesidade clínica e outras doenças não transmissíveis (ex.: diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, certos tipos de câncer e transtornos mentais). Embora o risco de mortalidade e doenças associadas à obesidade aumente de forma contínua com níveis crescentes de massa de gordura, diferenciamos obesidade pré-clínica e clínica (ou seja, saúde vs. doença) para fins clínicos e relacionados a políticas.

Recomendamos que o IMC seja usado apenas como uma medida substituta de risco à saúde em nível populacional, para estudos epidemiológicos ou triagem, em vez de uma medida individual de saúde. O excesso de adiposidade deve ser confirmado por medição direta de gordura corporal, quando disponível, ou por pelo menos um critério antropométrico (ex.: circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura), além do IMC, utilizando métodos e pontos de corte validados, apropriados para idade, sexo e etnia. Em pessoas com IMC muito elevado (ou seja, >40 kg/m²), o excesso de adiposidade pode ser pragmaticamente assumido sem necessidade de confirmação adicional.

Recomendamos também que pessoas com status de obesidade confirmado (ou seja, excesso de adiposidade com ou sem função anormal de órgãos ou tecidos) sejam avaliadas para obesidade clínica. O diagnóstico de obesidade clínica requer um ou ambos os seguintes critérios principais:
1. Evidências de função reduzida de órgãos ou tecidos devido à obesidade (ou seja, sinais, sintomas ou exames diagnósticos mostrando anormalidades na função de um ou mais sistemas de órgãos ou tecidos);
2. Limitações substanciais, ajustadas por idade, das atividades diárias, refletindo o efeito específico da obesidade na mobilidade, outras atividades básicas da vida diária (ex.: banho, vestir-se, higiene, continência e alimentação), ou ambos.

Pessoas com obesidade clínica devem receber tratamento baseado em evidências e em tempo adequado, com o objetivo de induzir melhorias (ou remissão, quando possível) nas manifestações clínicas da obesidade e prevenir a progressão para danos em órgãos-alvo.

Pessoas com obesidade pré-clínica devem passar por aconselhamento de saúde baseado em evidências, monitoramento de seu estado de saúde ao longo do tempo e, quando aplicável, intervenção apropriada para reduzir o risco de desenvolver obesidade clínica e outras doenças relacionadas à obesidade, conforme o nível de risco individual.

Políticos e autoridades de saúde devem garantir acesso adequado e equitativo a tratamentos baseados em evidências para indivíduos com obesidade clínica, como apropriado para pessoas com uma doença crônica e potencialmente fatal. Estratégias de saúde pública para reduzir a incidência e prevalência da obesidade em nível populacional devem basear-se em evidências científicas atuais, em vez de suposições não comprovadas que atribuem a responsabilidade exclusivamente ao indivíduo pelo desenvolvimento da obesidade.

O preconceito e o estigma relacionados ao peso são grandes obstáculos nos esforços para prevenir e tratar a obesidade de forma eficaz; profissionais de saúde e formuladores de políticas devem receber treinamento adequado para abordar essa questão importante.

Todas as recomendações apresentadas por esta Comissão foram acordadas com o mais alto nível de consenso entre os comissários (grau de concordância de 90–100%) e foram endossadas por 76 organizações em todo o mundo, incluindo sociedades científicas e grupos de defesa de pacientes.

* Introdução

A obesidade foi reconhecida pela primeira vez como uma doença pela OMS em 1948 e, mais recentemente, também por diversas sociedades médicas e países. A atual Classificação Internacional de Doenças da OMS classifica a obesidade como “uma doença crônica complexa” e lhe atribui um código específico (5B81).

No entanto, a ideia de considerar a obesidade como uma doença isolada continua sendo controversa, tanto dentro quanto fora da comunidade médica. Avaliar o mérito dessa ideia é um esforço oportuno e de grande impacto, pois definir a obesidade como uma doença tem profundas ramificações para a prática clínica, a saúde pública e a sociedade.

Aqueles que defendem o reconhecimento da obesidade como uma doença argumentam que, mesmo pessoas com evidências objetivas de problemas de saúde enfrentam barreiras substanciais para acessar serviços de saúde, além do estigma social amplamente disseminado relacionado ao peso. Reconhecer formalmente a obesidade como uma doença isolada — de acordo com os defensores dessa ideia — provavelmente proporcionaria maior legitimidade médica e cultural à condição, aumentaria o acesso ao cuidado para aqueles que necessitam e poderia reduzir o estigma social.

Por outro lado, muitos afirmam que definir a obesidade como uma doença pode ter ramificações negativas para os indivíduos afetados e para a sociedade como um todo. Um dos argumentos é que retratar a obesidade como uma doença poderia reduzir a atenção ao papel da responsabilidade individual, incentivando comportamentos pouco saudáveis e minando esforços para enfrentar o problema. Em nossa opinião, esse argumento, até certo ponto, pode refletir o viés e o estigma intrínsecos ao peso em nossa sociedade. Outros críticos apontam questões mais objetivas, como o fato de a obesidade ser uma condição altamente heterogênea e de que muitas pessoas com excesso de adiposidade não apresentam sinais de doenças em andamento.

Muitos argumentam que um fator de risco não é uma doença e que o IMC não fornece informações sobre a saúde de um indivíduo. Nesse contexto, atribuir o status de doença à obesidade de forma abrangente (como atualmente definida e medida [ou seja, IMC >30 kg/m² ou 27,5 kg/m² para populações asiáticas]) representa um risco objetivo de sobrediagnóstico, resultando no uso indevido de medicamentos, tecnologias e procedimentos cirúrgicos, com custos sociais exorbitantes e consequências negativas nos níveis clínico, econômico e político.

Com argumentos legítimos e aparentemente irreconciliáveis de ambos os lados da controvérsia, o debate permanece sem resolução. Contudo, essa disputa revela um elemento crucial que falta na forma como a obesidade é conceituada: como a doença causada diretamente pela obesidade ainda não foi definida, a obesidade carece de uma identidade clínica precisa.

De acordo com sua definição original como uma condição que representa um risco à saúde, a obesidade tem sido enquadrada e amplamente estudada como um precursor de outras doenças. No entanto, as manifestações da obesidade como uma enfermidade não foram adequadamente caracterizadas.

De fato, o fenótipo da obesidade ainda é definido apenas pela corpulência, apesar de evidências de que o excesso de adiposidade também pode ter manifestações clínicas e causar doenças ao induzir disfunções em diversos órgãos e tecidos. 

Normalmente, os sistemas de pontuação e estadiamento e os algoritmos de tratamento para a obesidade são baseados na presença de outras doenças (frequentemente chamadas de comorbidades), e não nas manifestações clínicas da obesidade em si. Essas narrativas e práticas reforçam ainda mais a noção da obesidade como uma condição de risco, mas não explicam a identidade clínica da obesidade propriamente dita.

Estados de doença são fundamentalmente definidos por sua capacidade de causar enfermidade, entendida como uma experiência humana tanto objetiva quanto subjetiva de problemas de saúde, decorrente de alterações contínuas na função de órgãos e tecidos.

Sem uma caracterização explícita da doença induzida intrinsecamente pela obesidade, independentemente das comorbidades — ou seja, sem um objeto claro para o diagnóstico da doença —, a questão de saber se a obesidade é uma doença torna-se objetivamente impossível de responder.

Além disso, o excesso de adiposidade (como a obesidade é atualmente definida) pode ter significados bastante diferentes no nível individual e até mesmo ser um sinal de outras doenças (por exemplo, síndrome de Cushing ou hipotireoidismo). 

Assim, a definição atual de obesidade carece, de forma inerente, de sensibilidade e especificidade suficientes para uso clínico, justificando preocupações sobre uma definição generalizada da obesidade como um estado de doença independente.

No entanto, a incapacidade de reconhecer a obesidade como uma causa direta de problemas de saúde pode comprometer tratamentos eficazes e políticas médicas sólidas por parte de agências reguladoras e seguradoras de saúde. É prática comum exigir a presença de outra doença (os chamados critérios de obesidade mais) como indicação e cobertura para o tratamento da obesidade. Essas práticas podem, de forma efetiva e injusta, negar acesso ao cuidado a muitas pessoas que já apresentam problemas objetivos de saúde devido exclusivamente à obesidade.

Há, portanto, uma necessidade urgente de definir a enfermidade que a obesidade induz especificamente, entendida como uma entidade clínica distinta na qual o risco de problemas de saúde associados ao excesso de adiposidade já se materializou e pode ser documentado de forma objetiva por sinais e sintomas específicos que refletem alterações biológicas contínuas em tecidos e órgãos (definimos essa enfermidade como obesidade clínica).

Essa reestruturação pode fornecer uma peça crucial que falta na maneira como conceituamos e abordamos a obesidade, com importantes implicações para a prática clínica, políticas de saúde pública e visões sociais sobre a obesidade.

Esta Comissão foi estabelecida para identificar critérios clínicos e biológicos para o diagnóstico de obesidade clínica que, à semelhança dos métodos diagnósticos para doenças crônicas em outras especialidades médicas, reflitam uma condição de enfermidade em curso. O objetivo geral é auxiliar na tomada de decisão por parte de clínicos e formuladores de políticas, facilitando a identificação de prioridades para intervenções clínicas e estratégias de saúde pública (painéis 1 e 2).

* Painel 1

O problema que a Comissão buscou abordar

Contexto

Apesar das evidências de que algumas pessoas com excesso de adiposidade apresentam problemas objetivos de saúde devido exclusivamente à obesidade, a obesidade é geralmente considerada um prenúncio de outras doenças, e não uma doença em si.
A ideia de obesidade como uma doença continua altamente controversa. O fenótipo clínico da obesidade ainda é unicamente definido pelo IMC, que não fornece informações sobre a saúde em nível individual. Nesse contexto, uma atribuição generalizada do status de doença à obesidade (como atualmente definida e medida) apresenta um risco objetivo de sobrediagnóstico, com potenciais consequências negativas nos âmbitos clínico, econômico e político.

Objetivo da Comissão

Buscamos definir a obesidade clínica e identificar critérios objetivos e pragmáticos para seu diagnóstico. Assim como a ideia de enfermidade em outras especialidades médicas, a obesidade clínica é entendida como um desvio substancial do funcionamento normal de tecidos, órgãos, do organismo como um todo ou de qualquer combinação desses elementos.
O objetivo desta Comissão é informar a tomada de decisão por clínicos e formuladores de políticas, facilitando a identificação de prioridades para intervenções clínicas e estratégias de saúde pública.

* Painel 2

As recomendações da Comissão em contexto

* Nosso novo modelo diagnóstico para obesidade

Embora a obesidade deva ser biologicamente concebida como um continuum, saúde e doença são tipicamente (e necessariamente) definidas como condições distintas e dicotômicas no nível clínico. Por isso, distinguimos pragmaticamente obesidade clínica da obesidade pré-clínica com base na presença ou ausência, respectivamente, de manifestações clínicas objetivas (ou seja, sinais e sintomas) de função orgânica alterada ou comprometimento da capacidade do indivíduo de realizar atividades diárias.
A definição de obesidade clínica preenche uma importante lacuna conceitual na noção de obesidade, pois fornece identidade clínica às alterações características da função orgânica causadas diretamente pelo excesso de adiposidade, independentemente de outras doenças relacionadas à obesidade. Essa reformulação oferece um mecanismo clinicamente relevante para orientar diagnósticos, decisões clínicas e políticas de saúde.

* Implicações conceituais para o cuidado e a política de saúde

A obesidade pré-clínica e clínica distinguem pragmaticamente condições em que o efeito negativo à saúde pode ocorrer (como na obesidade pré-clínica) ou já ocorreu (como na obesidade clínica). Assim, estratégias de manejo para obesidade pré-clínica devem visar à redução de risco (ou seja, com intenção preventiva ou profilática), enquanto as intervenções para obesidade clínica devem ter intenção corretiva (ou seja, terapêutica).

* Recomendações práticas para os clínicos

Para mitigar o risco de sobrediagnóstico e subdiagnóstico de obesidade, o excesso de adiposidade deve ser confirmado por pelo menos um outro critério antropométrico (como a circunferência da cintura) ou por medição direta de gordura, quando disponível. No entanto, em pessoas com níveis de IMC substancialmente elevados (ou seja, >40 kg/m²), o excesso de adiposidade pode ser pragmaticamente presumido. A confirmação do status de obesidade define um fenótipo físico, mas não representa, por si só, um diagnóstico de doença. Pessoas com obesidade confirmada (ou seja, com excesso de adiposidade clinicamente documentado) devem ser avaliadas para possível obesidade clínica com base em achados da história médica, exame físico e testes laboratoriais ou outros exames diagnósticos, conforme apropriado. Assim como em outras doenças crônicas, o tratamento baseado em evidências da obesidade clínica deve ser iniciado de maneira oportuna, com o objetivo de melhorar (ou, quando possível, reverter) as manifestações clínicas.

A obesidade pré-clínica geralmente não requer tratamento com medicamentos ou cirurgia, podendo exigir apenas monitoramento da saúde ao longo do tempo e aconselhamento em saúde, caso o risco de progressão para obesidade clínica ou outras doenças seja considerado suficientemente baixo. No entanto, intervenções profiláticas (como mudanças no estilo de vida, medicamentos ou cirurgia em circunstâncias específicas) podem ser necessárias em algumas pessoas com obesidade pré-clínica quando o risco de desfechos adversos de saúde for maior ou quando o controle da obesidade for necessário para facilitar tratamentos de outras doenças (como transplantes, cirurgia ortopédica ou tratamento do câncer).

* Implicações para políticas de saúde

Nossa caracterização de obesidade pré-clínica e clínica facilita a tomada de decisão política e a definição de prioridades, especialmente ao lidar com recursos limitados no sistema de saúde. O modelo de obesidade pré-clínica e clínica também distingue objetivamente cenários associados a diferentes prazos para avaliar os desfechos e a relação custo-efetividade das intervenções antiobesidade (por exemplo, prazo mais longo para obesidade pré-clínica e mais curto para obesidade clínica). Como uma doença crônica em si, a obesidade clínica não deve exigir a presença de outras doenças para definir indicação ou cobertura de tratamento (como ocorre atualmente nos critérios “obesidade mais” para cobertura de seguros de saúde).

* Obesidade como uma doença

Uma definição generalizada de obesidade como doença implicaria um risco inaceitavelmente alto de sobrediagnóstico. Nossa definição de obesidade clínica como uma doença sistêmica, crônica e diretamente causada por excesso de adiposidade fornece uma explicação mais coerente de por que a obesidade pode atender aos critérios geralmente aceitos de estado de doença em certas circunstâncias, mas não sempre. Ao definir a obesidade pré-clínica, também reconhecemos que o excesso de adiposidade pode coexistir com a preservação da saúde.

* Obesidade clínica ou pré-clínica versus obesidade metabolicamente saudável ou não saudável

Embora a obesidade metabolicamente não saudável represente uma condição com maior risco cardiometabólico, a obesidade clínica define uma doença em andamento, e não uma gradação de risco. Nosso modelo também reconhece que a obesidade pode causar doenças ao alterar a função de vários sistemas orgânicos, não apenas os envolvidos na regulação metabólica. Assim, uma pessoa com sinais e sintomas cardiovasculares, musculoesqueléticos ou respiratórios relacionados ao excesso de adiposidade teria obesidade clínica, mesmo com função metabólica normal. Por outro lado, uma pessoa com uma única alteração metabólica (como dislipidemia) não atenderia ao critério de cluster metabólico (hiperglicemia com baixo HDL e triglicerídeos elevados) para o diagnóstico de obesidade clínica. Essa pessoa, portanto, seria classificada como tendo obesidade pré-clínica.

A obesidade pré-clínica difere da obesidade metabolicamente saudável porque é definida pela preservação da função de todos os órgãos potencialmente afetados pela obesidade, e não apenas aqueles envolvidos na regulação metabólica.

* Obesidade pré-clínica versus chamada pré-obesidade

A pré-obesidade indica um estágio inicial da obesidade ao longo do continuum de aumento da adiposidade ou dos níveis de peso corporal, enquanto a obesidade pré-clínica implica um fenótipo de obesidade já existente.

A obesidade pré-clínica pode refletir condições heterogêneas associadas ao excesso de adiposidade, incluindo um sinal de outras doenças ou efeitos colaterais de medicamentos, uma adaptação parafisiológica a ambientes modernos (com baixo ou nenhum risco de progressão para obesidade clínica) ou um estágio inicial da obesidade clínica propriamente dita (apenas nesse último caso, poderia ser considerada equivalente a um estado pré-doença).

* Definição e diagnóstico de estados de doença e pré-doença na medicina

* Princípios gerais

Embora a noção de doença possa parecer óbvia, não existe uma definição clara e universalmente aceita para doença. Uma abordagem abrangente foi proposta por Stanley Heshka e David Allison, que definem doença como:
(A) uma condição do corpo, de suas partes, órgãos ou sistemas, ou uma alteração desses;
(B) resultante de infecção, parasitas, causas nutricionais, alimentares, ambientais, genéticas ou outras;
(C) caracterizada por um grupo de sintomas ou sinais identificáveis e marcantes; e
(D) um desvio da estrutura ou função normal (descrito de várias formas como estrutura ou função anormal; função incorreta; comprometimento do estado normal; interrupção, perturbação, cessação, desordem ou disfunção de órgãos ou sistemas corporais).

Pré-doença descreve condições que não atingiram o estágio ou nível que as classificariam como doença, mas que, ao mesmo tempo, não permitem declarar a pessoa como completamente livre de doença. Exemplos incluem infecção pelo HIV, pólipos adenomatosos do cólon, pré-diabetes e osteopenia. Essas condições podem ser detectadas por meio de programas de triagem e tratadas para evitar o estágio final da doença (por exemplo, AIDS, câncer de cólon, diabetes tipo 2 e osteoporose, respectivamente, para os exemplos mencionados).

A noção de doença é inerentemente ligada a uma patofisiologia distinta que pode causar alterações em um único órgão ou em vários órgãos (doenças sistêmicas). No entanto, as doenças são caracterizadas, fundamentalmente, pela sua capacidade de causar enfermidade, entendida como uma experiência objetiva e subjetiva de saúde prejudicada. A enfermidade implica um desvio do funcionamento saudável de órgãos, tecidos ou do indivíduo como um todo. Geralmente está associada a manifestações clínicas específicas — físicas e bioquímicas — que podem ser usadas como critérios para o diagnóstico da doença.

Embora um processo de doença possa existir na ausência de enfermidade manifesta (por exemplo, uma malignidade em fase inicial que ainda não apresenta sinais ou sintomas), a enfermidade é a característica distintiva de uma doença e ocorrerá como parte da evolução típica dessa doença. 

As manifestações clínicas específicas de uma enfermidade podem ser ou não únicas (patognomônicas) da doença, mas frequentemente se agrupam em um fenótipo clínico distintivo. As enfermidades também apresentam uma evolução típica ao longo do tempo, com agravamento da disfunção orgânica e complicações características, determinando, em última instância, o prognóstico da doença.

O reconhecimento das manifestações clínicas típicas de uma enfermidade (físicas ou bioquímicas) permite que uma doença seja detectada (ou seja, diagnosticada) e diferenciada de outras (diagnóstico diferencial).

Por exemplo, reconhecemos o diabetes como um estado de doença (com subtipos) devido à sua capacidade de causar uma enfermidade típica, caracterizada por um grupo distinto de sinais e sintomas físicos (como poliúria, polidipsia, fadiga ou fome excessiva) e alterações bioquímicas (como hiperglicemia, hiperinsulinemia ou deficiência de insulina), que refletem disfunção de órgãos específicos. Essa disfunção orgânica pode piorar ao longo do tempo, com uma evolução característica que leva a complicações específicas em órgãos-alvo (por exemplo, cegueira, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou insuficiência renal).

As doenças também podem ter um efeito clínico mais amplo, além de causar enfermidade específica. 

Devido aos seus mecanismos fisiopatológicos subjacentes, as doenças podem predispor, facilitar ou agravar outras doenças, especialmente aquelas com causas ou fisiopatologias parcialmente sobrepostas. Sinais e sintomas de uma doença podem ser comuns a outras, frequentemente representando desafios para o diagnóstico diferencial. Muitas vezes, a evolução temporal da enfermidade, com o desenvolvimento de sinais clínicos e bioquímicos adicionais e característicos, é o que facilita o diagnóstico diferencial (Painel 3).

Painel 3
Definição de doença e enfermidade na medicina

As doenças são caracterizadas por:
Uma patofisiologia distinta que pode causar alterações em um único órgão ou em múltiplos órgãos (doenças sistêmicas).
A capacidade de causar uma enfermidade específica, entendida como uma experiência objetiva e subjetiva de saúde prejudicada.

O que é uma enfermidade?
Enfermidade implica um desvio do funcionamento normal de órgãos, tecidos ou do indivíduo como um todo, e está tipicamente associada a manifestações clínicas específicas — físicas e bioquímicas — que podem ser usadas como critérios para o diagnóstico de uma doença.

É importante que os critérios diagnósticos para uma doença sejam suficientemente precisos para detectá-la (ou seja, sensibilidade) e distingui-la (ou seja, especificidade) de outras doenças. No entanto, algumas condições apresentam patofisiologia e manifestações clínicas semelhantes (por exemplo, lúpus e síndrome de Sjögren, ou doença de Crohn e colite ulcerativa), o que representa desafios para o diagnóstico diferencial.

* Doenças crônicas

Algumas doenças crônicas podem ter origem em um tecido ou órgão, mas sua patofisiologia pode afetar diretamente a estrutura, a função ou ambas, de vários outros órgãos e tecidos, gerando uma forma sistêmica da doença com múltiplas manifestações clínicas, além de evolução e prognóstico característicos.

As doenças crônicas geralmente progridem gradualmente ao longo de um período prolongado e persistem por um ano ou mais. Exemplos incluem doenças cardiovasculares, reumatológicas, neurológicas, gastroenterológicas e diabetes. Essas doenças frequentemente coexistem com outras condições de saúde, o que agrava seus efeitos na qualidade de vida, aumenta o risco de incapacidade e mortalidade prematura.

* Efeito do diagnóstico de doenças crônicas no indivíduo afetado

A natureza crônica e, frequentemente, incurável dessas condições gera a percepção de que a doença afetará todos os aspectos da vida de uma pessoa. Preocupações sobre o impacto da doença na capacidade de realizar atividades diárias normais e na qualidade de vida geral podem levar a uma ansiedade substancial quanto à habilidade do indivíduo de trabalhar, gerar renda e sustentar sua família, entre outras coisas. Pessoas diagnosticadas com doenças crônicas também costumam temer a mortalidade prematura. Assim, o diagnóstico de uma doença tem profundos efeitos psicológicos, que se somam aos impactos na saúde impostos pela condição.

Por todas essas razões, o diagnóstico preciso de doenças é fundamental. Os clínicos devem garantir que as doenças sejam detectadas de forma precisa para permitir o acesso oportuno aos cuidados. No entanto, devem evitar o sobrediagnóstico de doenças crônicas, já que isso pode acarretar consequências consideráveis e desnecessárias para o indivíduo afetado e para a sociedade em geral.

* Critérios para o diagnóstico de doenças em especialidades médicas além da obesidade

Analisar as definições e os diagnósticos de doenças crônicas em outras especialidades médicas pode destacar diferenças em relação à obesidade que dificultam sua conceituação como uma doença. Esse exercício também pode facilitar o desenvolvimento de modelos diagnósticos apropriados para a obesidade.

* Doenças mediadas pelo sistema imunológico

Muitas doenças mediadas pelo sistema imunológico (por exemplo, doenças reumatológicas) geralmente causam enfermidades crônicas e sistêmicas. Essas doenças têm origem ou inicialmente afetam o tecido conjuntivo, induzindo alterações estruturais e funcionais em vários órgãos, incluindo articulações, tendões, ligamentos, ossos, músculos, coração e pulmões. As doenças reumatológicas podem ter causas autoimunes, mas sua etiologia exata muitas vezes é desconhecida. As manifestações clínicas refletem alterações estruturais e funcionais nas articulações e outros órgãos, com sinais como sensibilidade, eritema, inchaço ou edema, alterações no movimento articular, função prejudicada e redução da qualidade de vida.

Embora diversas doenças mediadas pelo sistema imunológico possam apresentar manifestações clínicas sobrepostas, diferenças no início, local e tempo dos sintomas, bem como a presença ou ausência de alterações biológicas específicas e sua evolução típica ao longo do tempo, ajudam no diagnóstico diferencial. Por exemplo, as duas formas mais comuns de artrite (artrite reumatoide e osteoartrite) apresentam sinais clássicos de artropatia, o que frequentemente requer investigações diagnósticas adicionais, como exames de sangue e radiografias, para distingui-las.

* Condições de saúde mental

Os transtornos mentais são caracterizados por alterações na cognição, na regulação emocional e no comportamento.

Diversos tipos de transtornos mentais são definidos de acordo com critérios específicos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. O diagnóstico dessas condições exige a identificação de sintomas e sinais que indiquem a presença de disfunção interna.

Normalmente, vários sinais e sintomas, entre um conjunto de manifestações clínicas características, precisam estar presentes para confirmar o diagnóstico. Um exame detalhado desses sinais e sintomas é essencial para garantir um diagnóstico preciso.

* Opiniões dos comissários sobre obesidade como uma doença

A ideia de obesidade como uma doença também foi um tema controverso dentro desta Comissão. As opiniões iniciais divergiram substancialmente, indicando claramente que não seria possível alcançar um consenso sobre uma definição ampla de obesidade como doença, pelo menos da forma como está atualmente definida. Uma pesquisa específica pré-Delphi sobre a questão de se a obesidade é uma doença mostrou que mais da metade dos comissários rejeitou o cenário de “tudo ou nada” implícito na pergunta, mas apoiou a visão de que a obesidade é um fator de risco para outras doenças e, em alguns casos, uma doença por si só. Apenas cerca de um terço apoiou a ideia de obesidade como uma doença, enquanto o restante dos comissários não considerou a obesidade uma doença.

Os principais argumentos a favor da obesidade como uma doença incluíram:
Evidências de que o excesso de adiposidade está associado a mecanismos patogênicos claros (por exemplo, inflamação, desequilíbrios hormonais, alterações na regulação do apetite ou saciedade e resistência à insulina);
Aumento do risco de mortalidade;
Persistência e recorrência, mesmo após o tratamento, consistentes com um processo de doença crônica e recorrente;
Associação clara do excesso de adiposidade com complicações ou doenças relacionadas que comprometem a saúde.

Os principais argumentos contra a obesidade como uma doença, pelo menos como atualmente definida, incluíram:
Algumas pessoas com níveis de IMC iguais ou superiores aos limiares tradicionais de obesidade não possuem excesso de adiposidade (como atletas ou pessoas com maior massa magra que a média);
Um número substancial de indivíduos com excesso de adiposidade não apresenta sinais óbvios de doença em curso;
Embora exista uma relação clara entre IMC, adiposidade e prevalência de doenças em níveis populacionais, o IMC e a massa de gordura não fornecem informações sobre a saúde em nível individual.

Por essas razões, a definição atual de obesidade e os métodos centrados no IMC usados para sua detecção podem levar ao sobrediagnóstico de doenças em indivíduos que, de outra forma, seriam saudáveis (figura 1).

As evidências objetivas e a lógica por trás de ambas as perspectivas sugerem problemas fundamentais na forma como a obesidade é atualmente enquadrada e nos métodos utilizados para seu diagnóstico.

Os exemplos mencionados de outras doenças crônicas mostram que a noção de doença na medicina implica, essencialmente, na capacidade da doença de causar uma enfermidade, entendida como uma experiência humana de má saúde, caracterizada por manifestações clínicas distintas, secundárias a alterações contínuas no funcionamento de órgãos, tecidos ou ambos.

Em contraste com esses princípios médicos amplamente adotados, a definição atual de obesidade não fornece uma caracterização clara da enfermidade induzida pela própria obesidade. A narrativa sobre os efeitos clínicos da obesidade concentra-se, em vez disso, nos riscos relacionados à adiposidade de desenvolver outras doenças — ou seja, entidades clínicas distintas com sua própria fisiopatologia, manifestações clínicas, evolução e prognóstico.

A ausência de uma enfermidade claramente identificável causada pela obesidade não oferece um objeto para um diagnóstico preciso da doença, representando, assim, um grande obstáculo para a consideração da obesidade como uma doença (painel 4).

* Painel 4

* Doença ou não doença? Não é tudo ou nada

Como atualmente definida e medida, a obesidade não tem o mesmo significado em todos os indivíduos afetados. Nesse contexto, a questão de saber se a obesidade é uma doença é mal formulada, pois presume um cenário implausível de tudo ou nada, em que a obesidade é ou sempre uma doença, ou nunca uma doença.

De fato:

Algumas pessoas com obesidade têm saúde objetiva comprometida devido à obesidade sozinha (ou seja, sintomas graves ou limitações das atividades diárias devido aos efeitos da obesidade nos sistemas pulmonar, cardiovascular ou musculoesquelético).
Outras pessoas com obesidade podem ser capazes de manter o funcionamento normal dos órgãos e saúde substancialmente preservada a longo prazo.
A adiposidade excessiva também pode ser um sinal de outras doenças ou um efeito colateral de diversos medicamentos.
O IMC e outras medidas antropométricas podem subestimar e superestimar a adiposidade excessiva e não fornecem informações sobre o funcionamento dos órgãos e tecidos.

Implicações:
A obesidade é uma condição heterogênea, e um fenótipo de obesidade não reflete necessariamente uma doença em andamento.
As métricas de obesidade baseadas no IMC podem classificar incorretamente a adiposidade excessiva e poderiam tanto subdiagnosticar quanto sobre-diagnosticar a doença.
É necessária uma definição clinicamente relevante de obesidade para facilitar um debate mais racional sobre a obesidade como uma doença.

Uma análise detalhada das limitações relacionadas à atual concepção da obesidade e aos métodos utilizados para seu diagnóstico é necessária para abordar as questões que dificultam o debate sobre a obesidade.

* Limitações da concepção atual da obesidade

* Questões conceituais e práticas na definição atual da obesidade

A obesidade é atualmente concebida e definida como uma condição de adiposidade excessiva que apresenta “risco para a saúde”. O diagnóstico atual de obesidade em todo o mundo é baseado no IMC, calculado como o peso em quilos dividido pela altura em metros ao quadrado. De acordo com a OMS, um adulto com IMC de 30 kg/m² ou superior é considerado obeso.

Essa definição foi amplamente adotada e utilizada em estudos epidemiológicos, prática clínica e políticas de saúde pública. No entanto, vários estudos mostraram que o IMC não reflete a distribuição de gordura corporal ou a saúde metabólica, e medidas alternativas, como a circunferência da cintura ou a porcentagem de gordura corporal, poderiam ser mais apropriadas. No entanto, o IMC continua sendo a medida mais comumente usada para a obesidade em todo o mundo e ajuda na identificação de indivíduos com risco de comorbidades relacionadas à obesidade.

Em uma pesquisa sobre as opiniões iniciais dos comissários, uma grande maioria do grupo (~70%) concordou que a definição atual de obesidade (“acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta risco para a saúde”) não é consistente com a noção de um estado de doença independente.

Essa avaliação foi baseada principalmente em dois argumentos. Primeiro, o foco exclusivo no risco na definição de obesidade implica que a doença ainda não se manifestou (e pode, ao menos teoricamente, nunca se manifestar). Essa possibilidade é objetivamente verdadeira para algumas pessoas com obesidade, que parecem ser capazes de viver uma vida relativamente saudável por muitos anos ou até uma vida inteira. De fato, pode-se argumentar legitimamente que um fator de risco não é necessariamente uma doença, e que uma doença deve ser diagnosticada quando ocorre, não antes.

Muitas condições podem predispor alguém a uma doença futura, mas não são consideradas doenças em si. 

Por exemplo, embora a gamopatia monoclonal de significância indeterminada possa ser um precursor do mieloma múltiplo, não é considerada uma doença em si.

Segundo, o risco associado à obesidade não se refere a uma doença específica, mas a um grande número de outras doenças, incluindo diabetes tipo 2, câncer e distúrbios mentais. Independentemente da causalidade dessas associações, essas condições são doenças por si mesmas e não podem ser configuradas como expressões de um único processo patológico.

Assim, se a obesidade fosse apenas uma condição de risco para a saúde (conforme sua definição atual), seria difícil entender por que deveria ser considerada uma doença.

No entanto, há ampla evidência de que a adiposidade excessiva pode induzir diretamente alterações estruturais e funcionais em múltiplos tecidos e órgãos (por exemplo, fígado, coração, pulmões, rins e sistema musculoesquelético), causando um estado de saúde objetivamente comprometido, independentemente do aparecimento de outras doenças. Portanto, uma definição mais precisa de obesidade—consistente com a evidência de que o risco para outras doenças e a doença em curso podem estar associados à adiposidade excessiva—é necessária para explicar o efeito completo da obesidade sobre a saúde.

A Comissão também identificou outras limitações na definição atual de obesidade. Uma limitação importante é a falta de clareza sobre se a função anormal (metabólica, endócrina ou ambas) do tecido adiposo e a massa excessiva de tecido adiposo devem estar presentes para definir a obesidade. Houve um consenso geral entre os comissários de que a função anormal do tecido adiposo resulta em várias perturbações da fisiologia, como resistência à insulina, contribuindo crucialmente para as consequências metabólicas da obesidade. No entanto, as alterações na função do tecido adiposo nem sempre são necessárias para o efeito da obesidade na saúde, pois isso também pode ocorrer por meio de outros mecanismos. De fato, os efeitos físicos da massa de gordura excessiva sobre os órgãos (por exemplo, capacidade pulmonar restrita e complicações musculoesqueléticas) ou sobre o indivíduo como um todo podem afetar a saúde na ausência de alterações funcionais. Por outro lado, o tecido adiposo disfuncional pode induzir resistência à insulina e alterações metabólicas na ausência de adiposidade excessiva (por exemplo, lipodistrofia). Assim, uma definição precisa de obesidade deve deixar claro que a massa de gordura excessiva é a característica fundamental da obesidade, enquanto a função anormal do tecido adiposo pode ou não fazer parte da obesidade (ou seja, obesidade deve ser definida pela massa de gordura excessiva, com ou sem função anormal).

* A questão do IMC

A definição atual de obesidade com base no IMC apresenta várias limitações.

O IMC não diferencia entre massa gorda e massa magra, nem leva em conta as diferenças na distribuição de gordura corporal. Como resultado, alguns indivíduos com IMC na faixa considerada normal ou acima do peso (por exemplo, 18,5–29,9 kg/m² em indivíduos de descendência europeia) podem ter excesso de gordura corporal e estar em risco aumentado de morbidade relacionada à obesidade. Por exemplo, o IMC pode subestimar a massa de gordura em idosos, em indivíduos que perderam massa óssea ou muscular, e em pessoas de certas etnias (por exemplo, populações asiáticas), levando ao subdiagnóstico da obesidade.

Por outro lado, alguns indivíduos com IMC na faixa atualmente definidora de obesidade (>30 kg/m² em indivíduos de descendência europeia) não têm excesso de massa gorda e não estão em risco aumentado de morbidade ou mortalidade. Por exemplo, em pessoas com mais massa óssea ou muscular esquelética, como atletas, o IMC pode superdiagnosticar a obesidade; exemplos famosos de tais erros de classificação são boxeadores lendários e quarterbacks da National Football League dos EUA.

A associação entre obesidade baseada no IMC e mortalidade é, na verdade, em forma de U, com fatores como histórico de tabagismo, doenças ocultas, perda de peso não intencional recente, variabilidade de peso e padrão de distribuição de gordura corporal influenciando a forma da curva IMC versus mortalidade.

Além disso, a qualidade geral da dieta e o nível de atividade física ou aptidão são moduladores potentes do risco associado a qualquer valor de IMC, independentemente da composição corporal. No entanto, eliminar indivíduos da análise com base nesses fatores pode plausivelmente criar vieses.

Medidas alternativas, como a circunferência da cintura ou a porcentagem de gordura corporal, podem ser mais precisas para detectar o excesso de adiposidade e, portanto, como medidas dos riscos à saúde relacionados à obesidade. Por exemplo, muitos estudos populacionais mostraram que, dentro de cada categoria de IMC considerada, quanto maior a circunferência da cintura, maior o risco de morbidade ou mortalidade.

Além de potencialmente classificar erroneamente o excesso de adiposidade em si, o IMC não fornece informações sobre o estado funcional dos tecidos e órgãos, nem sobre a capacidade do indivíduo de realizar atividades diárias normais, que são dois critérios fundamentais para a avaliação da saúde de uma pessoa.

Assim, a definição atual de obesidade baseada no IMC pode subestimar ou superestimar tanto a adiposidade quanto a doença (figura 2).

O risco de subdiagnóstico pode atrasar ou até impedir o acesso ao tratamento; no entanto, o risco de superdiagnosticar a obesidade é particularmente preocupante devido às suas possíveis ramificações negativas para os sistemas de saúde e para a sociedade. 

Uma consequência prática de definir a obesidade como uma doença, sob a definição atual baseada no IMC, é que aproximadamente 30-40% das pessoas em alguns países seriam diagnosticadas com essa doença agora e, de imediato, se tornariam elegíveis para alegações de invalidez ou tratamentos caros (e potencialmente desnecessários). Tais alegações tornariam a obesidade uma questão financeiramente e socialmente intransponível.

Embora não seja apropriado usá-lo como parâmetro clínico, o IMC continua sendo uma medida universalmente aceita de obesidade no nível individual. De fato, os limites do IMC são rotineiramente usados na prática clínica para classificar a gravidade da obesidade (classe 1, 2 ou 3 [por exemplo, IMC de 30–34,9 kg/m², 35–39,9 kg/m² ou >40 kg/m², respectivamente, para indivíduos de descendência europeia]), estabelecer indicações para intervenções terapêuticas ou decidir a cobertura de seguros para tratamentos da obesidade. O mais crucial é que o IMC se tornou uma parte integral da definição atual de obesidade, pois a maioria dos serviços de saúde, organizações médicas e agências de saúde pública recomenda o uso de um limite de IMC (ou seja, 30 kg/m² em indivíduos de descendência europeia) para diagnosticar obesidade.

Por todas essas razões, o uso do IMC para o diagnóstico da obesidade representa uma barreira importante tanto para a compreensão quanto para a aceitação da obesidade como uma doença.

Diversas organizações profissionais, incluindo a American Association of Clinical Endocrinology e a European Association for the Study of Obesity, recomendaram a consideração de anomalias fisiopatológicas na massa, distribuição e função do tecido adiposo como mais apropriadas do que os critérios centrados no IMC para avaliar o efeito do excesso de adiposidade na saúde.

Houve um forte consenso entre os comissários (98%) de que o uso do IMC deve ser restrito ao rastreamento de pacientes com possível obesidade (tabela 1), enquanto medidas adicionais de adiposidade são essenciais para confirmar o status de obesidade (ou seja, excesso de adiposidade) no nível clínico. Além dessas medidas adicionais, critérios objetivos e clinicamente significativos para obesidade devem ser usados para a avaliação da saúde ou doença de um indivíduo.

* Limitações de outras medidas antropométricas de adiposidade

Outras medidas antropométricas, como circunferência da cintura, relação cintura-quadril e relação peso-altura, foram sugeridas como métodos alternativos ao IMC para diagnóstico da obesidade. No entanto, essas medidas antropométricas também apresentam limitações notáveis.

As medições da circunferência da cintura e da relação cintura-quadril podem variar entre populações e entre sexos. Essas medições podem não refletir com precisão a acumulação de gordura subcutânea e visceral, que está fortemente associada ao aumento do risco de doenças metabólicas.

Além disso, pessoas com acúmulo semelhante de gordura visceral podem apresentar perfis de fatores de risco diferentes. Outros depósitos de gordura ectópica, incluindo gordura no fígado, também contribuem para variações no risco à saúde.

Embora o uso de medidas antropométricas como alternativas ou em adição ao IMC possa melhorar a detecção do excesso de adiposidade e a previsão do risco cardiometabólico, assim como o IMC, elas não são uma medida robusta de doença em andamento.

As medidas antropométricas foram amplamente estudadas como preditores de risco metabólico, mas muito menos como um sinal de disfunção orgânica contínua causada pela obesidade. Assim, como no caso do IMC, métodos diagnósticos exclusivamente baseados em medidas antropométricas podem subdiagnosticar ou superdiagnosticar doenças.

Adicionar marcadores bioquímicos, como os níveis de triglicerídeos plasmáticos, à medição da circunferência da cintura—um fenótipo descrito como cintura hipertrigliceridêmica—foi sugerido como um método útil para identificação de indivíduos com excesso de tecido adiposo visceral e gordura ectópica.

Novamente, essa abordagem pode aumentar a precisão na identificação de indivíduos com maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares no futuro, mas preocupações permanecem quanto à sua validade como medida de doença em andamento.

Sem uma definição clara da doença causada pela obesidade, não é possível estabelecer quais biomarcadores e com quais limiares específicos têm validade clínica objetiva como medidas de doença na obesidade. Além disso, a disponibilidade e o custo dos testes bioquímicos podem limitar sua implementação em larga escala na prática clínica, especialmente no contexto da confiabilidade variável.

* Caracterização clínica atual da obesidade
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A narrativa tradicional sobre o efeito da obesidade na saúde enfatiza as associações entre o excesso de adiposidade e várias doenças e condições. Embora tal narrativa tenha mérito ao alertar clínicos, formuladores de políticas, pacientes e o público sobre a necessidade de levar a obesidade a sério, ela pode contribuir para equívocos na forma como a obesidade é abordada clinicamente, em comparação com outras doenças crônicas.

Descrever o efeito da obesidade na saúde por meio de outras doenças implica, de forma inerente, que o aparecimento de outras doenças seja necessário para que a obesidade cause problemas de saúde. De forma consistente, sistemas de pontuação e estadiamento da obesidade, assim como políticas de cobertura de tratamentos, estimam o efeito clínico da obesidade com base na presença de outras doenças, frequentemente chamadas de comorbidades.

Essas práticas levam efetivamente a um paradoxo, onde pessoas com problemas de saúde objetivos causados exclusivamente pela obesidade (ou seja, sintomas graves ou limitações nas atividades diárias devido aos efeitos da obesidade nos sistemas pulmonar, cardiovascular ou musculoesquelético) podem ser negadas acesso ao tratamento devido à falta das comorbidades supostas. Esse paradoxo é evidente nas políticas regulatórias e de seguro para medicamentos antiobesidade e cirurgias bariátricas ou metabólicas, que exigem a presença de uma ou mais comorbidades para indicar e cobrir o tratamento.

A narrativa convencional sobre os efeitos da obesidade na saúde também pode contribuir para a controvérsia sobre a ideia de obesidade como uma doença. Os defensores da ideia de obesidade como doença consideram as fortes e possivelmente causais ligações entre obesidade e diabetes tipo 2 ou câncer como uma demonstração razoável de que a obesidade em si é uma doença. No entanto, os críticos da ideia argumentam que, se o aparecimento de outra doença, com sua própria fisiopatologia e manifestações clínicas, for necessário para que a obesidade cause doenças, então a ideia de obesidade como uma doença independente é falha do ponto de vista lógico, fisiopatológico e clínico.

Esses argumentos aparentemente irreconciliáveis resultam de uma narrativa que destaca apenas evidências parciais e indiretas dos efeitos negativos do excesso de adiposidade na saúde, sem reconhecer as consequências diretas da obesidade em si sobre os tecidos e órgãos, com a consequente doença (figura 1).

Painel 5

Definição e diagnóstico da obesidade clínica

O que é obesidade clínica?

A obesidade clínica é uma doença crônica resultante de alterações na função de órgãos ou do organismo como um todo, induzidas diretamente pelo excesso de adiposidade, independentemente da presença de outras doenças relacionadas à adiposidade. Ela pode levar a complicações que alteram a vida ou que ameaçam a vida.

O que caracteriza a obesidade clínica?

Uma combinação de um fenótipo de obesidade com sinais, sintomas, limitações das atividades diárias ou qualquer combinação destes.

A obesidade clínica é a mesma que a obesidade metabolicamente não saudável?

Não: a obesidade clínica não é uma medida de risco cardiometabólico, mas uma doença em andamento causada diretamente pelo excesso de adiposidade. A obesidade clínica pode resultar de alterações em órgãos não envolvidos na regulação metabólica. Assim, uma pessoa com sinais e sintomas musculoesqueléticos ou respiratórios devido ao excesso de adiposidade tem obesidade clínica, mesmo na presença de função metabólica normal.

Como diagnosticar a obesidade clínica?

O diagnóstico de obesidade clínica requer o cumprimento de ambos os seguintes critérios principais:

* Critério antropométrico
* Confirmação do excesso de gordura corporal por pelo menos outro critério antropométrico (exemplo, circunferência da cintura) ou por medição direta de gordura, se disponível, além do IMC. Pragmaticamente, no entanto, é razoável assumir a presença de excesso de adiposidade em pessoas com níveis muito elevados de IMC (exemplo, >40 kg/m2).

* Critérios clínicos (inclui um ou ambos os seguintes)
* Sinais ou sintomas de disfunção contínua dos sistemas de órgãos (ver tabela 2)
* Limitações ajustadas pela idade na mobilidade ou em outras atividades básicas da vida diária (exemplo, tomar banho, vestir-se, usar o banheiro, continência e alimentação)

Como a obesidade clínica deve ser tratada?

Pessoas com obesidade clínica devem ter acesso oportuno a cuidados abrangentes e tratamentos baseados em evidências, conforme apropriado para indivíduos com uma doença crônica e potencialmente ameaçadora ou que altera a vida.

* Painel 6
Definição de obesidade pré-clínica

O que é obesidade pré-clínica?

A obesidade pré-clínica é essencialmente um fenótipo físico, caracterizado pelo excesso de adiposidade e ausência de sinais e sintomas importantes de disfunções dos órgãos devido à obesidade.

A obesidade pré-clínica é um estado pré-doença?

Não, a obesidade pré-clínica é uma condição altamente heterogênea: em algumas pessoas, pode representar um estágio inicial da obesidade clínica (nesse caso, poderia ser um estado pré-doença), enquanto em outras pessoas, pode ser um fenótipo com menor tendência a afetar diretamente a função dos órgãos, ou um sinal de outras doenças ou efeitos colaterais de medicamentos.

A obesidade pré-clínica é a mesma coisa que sobrepeso ou pré-obesidade?

Não, a definição de obesidade pré-clínica implica na confirmação de níveis de adiposidade típicos da obesidade (não apenas um nível de sobrepeso no IMC), mais uma avaliação clínica da função preservada dos órgãos.

A obesidade pré-clínica é a mesma coisa que obesidade metabolicamente saudável?

Não, a obesidade pode induzir doenças afetando múltiplos órgãos, não apenas aqueles envolvidos na regulação metabólica. Assim, a obesidade pré-clínica indica a função preservada de todos os órgãos potencialmente afetados pela obesidade, não apenas os envolvidos na regulação metabólica.

Quais são as implicações clínicas da obesidade pré-clínica?

Pessoas com obesidade pré-clínica devem ser consideradas como tendo um risco variável, mas geralmente elevado (dependendo de idade, etnia, predisposição familiar, distribuição de gordura corporal, etc.), de desenvolver doenças relacionadas à obesidade, obesidade clínica em si ou ambos.

Como a obesidade pré-clínica deve ser tratada?

Pessoas com obesidade pré-clínica devem ser submetidas a triagem e monitoramento apropriados para garantir o diagnóstico precoce de possível obesidade clínica e outras doenças relacionadas à adiposidade. Alguns indivíduos com obesidade pré-clínica também devem ter acesso a tratamentos apropriados quando necessário para reduzir um risco substancialmente elevado de desenvolver obesidade clínica e outras doenças e condições relacionadas à obesidade, ou quando a redução da obesidade pode facilitar o manejo de outras doenças (exemplo: transplante, cirurgia ortopédica para outras condições e tratamento de certos cânceres).

Embora a obesidade exista em um continuum biológico, saúde e doença são condições dicotômicas que podem ser objetivamente diferenciadas e intuitivamente compreendidas tanto por clínicos quanto por pacientes. Diferenciar entre obesidade pré-clínica e clínica é uma abordagem prática e medicamente significativa para simplificar um problema de saúde que, de outra forma, seria complexo e talvez intratável.

* Recomendações da Comissão: definições e critérios diagnósticos da obesidade clínica

As conclusões e recomendações desta Comissão foram alcançadas por meio de extensa discussão de evidências e pontos de vista, além de um processo formal de desenvolvimento de consenso para gerar recomendações respaldadas pela maior parte do grupo de especialistas. Todas as definições, recomendações e critérios diagnósticos foram acordados por um nível de consenso unânime ou quase unânime dentro do grupo de especialistas. Todas as conclusões e recomendações baseadas em consenso, cada uma com seu grau relacionado de concordância, estão apresentadas nas tabelas 1–3. Os critérios diagnósticos da obesidade clínica em adultos, crianças e adolescentes são apresentados de forma resumida nas figuras 6 e 7.




* A obesidade como uma doença

O trabalho desta Comissão focou em uma questão prática (e solucionável): a obesidade pode causar diretamente doenças crônicas, independentemente da presença de outras doenças relacionadas à obesidade? 

Para estabelecer se a obesidade é uma doença em si mesma, seria necessário primeiro saber se o excesso de adiposidade pode induzir diretamente disfunção nos órgãos e como seria a doença resultante.

* Definindo a doença na obesidade

Há evidências objetivas de que a obesidade pode causar doenças ao induzir diretamente disfunções em vários órgãos e tecidos. No entanto, reconhecemos que a obesidade não tem o mesmo significado em todos os indivíduos afetados. Nem todas as pessoas com excesso de adiposidade têm uma doença em andamento; algumas pessoas com obesidade podem ser capazes de manter a função normal dos órgãos e uma saúde substancialmente preservada a longo prazo. Além disso, o excesso de adiposidade pode ser um sinal de outras doenças ou um efeito colateral de diversos medicamentos. Portanto, a obesidade é uma condição heterogênea, e um fenótipo de obesidade não reflete necessariamente uma doença em andamento. O IMC e as medidas antropométricas não fornecem informações sobre a função dos órgãos ou limitações nas atividades da vida normal; portanto, não permitem discriminar entre saúde e doença no nível individual. Por essa razão, as medidas antropométricas da obesidade só podem ser usadas como medidas de risco para futuras doenças relacionadas à obesidade ou mortalidade, não como doença em andamento. Com o conhecimento atual, a doença causada pela obesidade só pode ser definida pela presença de manifestações clínicas de função orgânica anormal.

Portanto, os comissários concordaram que é necessário um reexame da obesidade para refletir a natureza complexa e heterogênea dessa condição e fornecer uma melhor caracterização de seu efeito sobre a saúde, incluindo a capacidade da obesidade de causar doenças como resultado direto do excesso ou da adiposidade anormal. 

Definimos tal doença como obesidade clínica e propomos critérios objetivos para seu diagnóstico.

* Definições gerais de obesidade e suas causas, e efeitos na saúde

A definição otimizada de obesidade proposta por esta Comissão — a obesidade é caracterizada pelo excesso de adiposidade, com ou sem distribuição ou função anormal do tecido adiposo (tabela 1) — esclarece que o excesso de adiposidade é a condição necessária para a presença de obesidade. 

Anormalidades na distribuição do tecido adiposo, função ou ambos, podem fazer parte da obesidade e desempenham papéis importantes na identificação do efeito da obesidade sobre a saúde, particularmente devido à sua associação com disfunção metabólica. A presença dessas anomalias, no entanto, não é suficiente para atender à definição de obesidade na ausência de excesso de adiposidade. No entanto, a obesidade pode existir na ausência de anomalias na distribuição de gordura ou função do tecido adiposo. Assim, a distribuição e a função anormais da gordura podem caracterizar subtipos de obesidade, mas a obesidade (ou seja, excesso de adiposidade) também pode existir apesar da distribuição e função normais da gordura.

Esse esclarecimento permite distinguir a obesidade de outros distúrbios do tecido adiposo, como as lipodistrofias, nas quais anormalidades da função e depósito do tecido adiposo podem causar doenças metabólicas na ausência de obesidade. A Comissão também reconhece que as causas da obesidade são multifatoriais, reconhecendo que permanecem incompletamente compreendidas, o que reflete a evidência científica de uma causa e fisiopatologia complexas, em contraste com a noção simplista e difundida da obesidade como uma mera questão de estilo de vida.

* Definições de obesidade clínica e pré-clínica

O excesso de adiposidade pode induzir diretamente a doenças (ou seja, obesidade clínica), além de ser um prenúncio de outras doenças e condições (ou seja, um risco para a saúde). Assim como outras doenças crônicas, a obesidade clínica resulta de alterações na função dos órgãos, do organismo como um todo ou de ambos, diretamente induzidas pelo excesso de adiposidade.

Essa definição de obesidade clínica (tabela 1) preenche uma lacuna conceitual importante e fornece uma identidade nosológica distinta à obesidade, definida por evidências objetivas de doença, e não apenas por um fenótipo físico.

Embora a obesidade deva ser concebida biologicamente como um contínuo, saúde e doença são tipicamente (e necessariamente) definidas como condições distintas e dicotômicas no nível clínico. Portanto, distinguimos pragmáticamente a obesidade clínica da obesidade pré-clínica, com base na presença ou ausência, respectivamente, de alterações sintomáticas na função dos órgãos ou comprometimento da capacidade do indivíduo de realizar atividades diárias. Na prática, essa reformulação fornece um mecanismo clinicamente significativo para informar o diagnóstico, a tomada de decisões clínicas e, de forma importante, as políticas de saúde.

Um diagnóstico de obesidade clínica deve ter as mesmas implicações que outros diagnósticos de doenças crônicas. Os pacientes diagnosticados com obesidade clínica devem, portanto, ter acesso oportuno e equitativo a cuidados abrangentes e tratamentos baseados em evidências.

A caracterização da obesidade pré-clínica e clínica nesta Comissão não tem a intenção de traçar uma linha exata entre um estado de doença e um estado não-doença ou entre diferentes estágios biológicos do mesmo processo de doença (ou seja, pré-doença e doença). Assim, embora o termo obesidade clínica identifique uma doença e possa ser considerado como um estado de doença, a obesidade pré-clínica não é equivalente a um estado de pré-doença da mesma forma que, por exemplo, o pré-diabetes. Essa diferença ocorre porque a obesidade pré-clínica (um fenótipo de obesidade) é uma condição heterogênea: ela pode representar um estágio inicial da obesidade clínica (e nesse caso poderia ser um estado de pré-doença), um fenótipo físico com menor tendência de afetar diretamente a função dos órgãos, ou um sinal de outras doenças ou efeitos colaterais de medicamentos. A probabilidade e a taxa de progressão da obesidade pré-clínica para a obesidade clínica são desconhecidas e precisam de investigação. Portanto, a obesidade pré-clínica confere um risco variável (dependendo da idade, etnia, predisposição familiar, distribuição de gordura corporal, etc.) de desenvolver doenças relacionadas à obesidade, obesidade clínica em si, ou ambos. Por essa razão, pessoas com obesidade pré-clínica merecem monitoramento do seu estado de saúde ao longo do tempo e podem precisar de intervenções apropriadas para reduzir o risco individual (veja a seção Gestão da obesidade pré-clínica).

É importante destacar que o significado de obesidade pré-clínica não coincide com os termos sobrepeso ou pré-obesidade (definidos como um IMC de 25,0–29,9 kg/m²). Na verdade, a definição de obesidade pré-clínica implica a confirmação de excesso de adiposidade (não apenas um nível de sobrepeso no IMC), além de uma avaliação clínica da função dos órgãos preservada. No entanto, como o IMC pode subestimar o excesso de adiposidade, alguns indivíduos tradicionalmente classificados como tendo sobrepeso ou pré-obesidade podem ter obesidade pré-clínica ou clínica.

Como saúde ou doença não são definidos exclusivamente por anomalias metabólicas, a obesidade pré-clínica e clínica não coincidem com as distinções previamente propostas de obesidade metabolicamente saudável ou metabolicamente não saudável. Por um lado, a obesidade pré-clínica é, de fato, definida pela ausência de disfunção substancial dos órgãos (não apenas anomalias metabólicas). Por outro lado, a obesidade clínica pode existir na ausência de disfunção metabólica, por exemplo, se outras disfunções não metabólicas, como disfunções cardiovasculares, respiratórias ou musculoesqueléticas, estiverem presentes.

* Definições de comorbidades, complicações e doenças relacionadas à obesidade

Os termos comorbidades, complicações e doenças relacionadas à obesidade são frequentemente considerados sinônimos de forma inadequada quando usados em relação à obesidade. Para facilitar a padronização da linguagem e a consistência com o uso dessa nomenclatura em outras áreas da medicina, distinguimos comorbidades de complicações e doenças ou distúrbios relacionados à obesidade (tabela 1). O termo comorbidades deve ser usado apenas para se referir a doenças e condições que coexistem incidentalmente com a obesidade, podendo complicar o manejo do paciente, mas que não são causadas ou facilitadas pela obesidade. Definimos doenças relacionadas à obesidade como outras condições para as quais há uma relação plausível de causa e efeito, ou pelo menos uma sobreposição ou interação fisiopatológica clara (por exemplo, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer). 

Embora o termo complicações se refira amplamente a qualquer evento adverso adicional que complique uma doença ou intervenção, no contexto de uma doença, o termo mais comumente indica o agravamento da disfunção de um órgão ou sistema de órgãos. Por exemplo, a pneumonia pode ser uma complicação de alterações no sistema respiratório superior causadas pela gripe, e a cegueira pode ser uma complicação de retinopatia causada por diabetes. Da mesma forma, propomos que as complicações da obesidade clínica se refiram ao agravamento da disfunção dos órgãos ou dano ao órgão final (por exemplo, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência renal).

* Remissão da obesidade clínica

Nossa definição de remissão da obesidade clínica é conceitualmente semelhante à ideia de remissão clínica para outras doenças (tabela 1) e se assemelha à definição atual de remissão do diabetes.

A obesidade clínica é definida pela presença de manifestações clínicas; assim, a remissão deve ser definida pela resolução dessas manifestações. É plausível supor que a resolução das manifestações da obesidade clínica (ou seja, a restauração da função normal dos órgãos) deva ter um efeito positivo na experiência de doença do indivíduo e na qualidade de vida. Se a remissão da obesidade clínica também coincide com uma menor probabilidade de progressão futura para danos nos órgãos finais ou complicações da obesidade clínica ainda é desconhecido. São necessários estudos para investigar a probabilidade e a frequência da remissão em resposta a vários tratamentos para obesidade e seu significado para o prognóstico. É importante observar que, assim como para o diabetes tipo 2 e outras doenças crônicas, a remissão da obesidade clínica não equivale a cura.

No entanto, a remissão ou melhoria da obesidade clínica deve representar um novo tipo de resultado de tratamento na obesidade, o que é provavelmente mais significativo do que a perda de peso em si.

* Avaliação clínica do status da obesidade

A obesidade é definida pelo excesso de adiposidade. Portanto, a verificação do excesso de adiposidade é necessária para confirmar o status da obesidade para fins de avaliação clínica. Como o IMC pode superestimar ou subestimar a presença de excesso de adiposidade, especialmente em níveis próximos aos limiares tradicionais usados para a definição de obesidade, recomendamos que o status da obesidade seja verificado por pelo menos uma medida antropométrica adicional (por exemplo, circunferência da cintura, razão cintura-quadril ou razão cintura-altura) ou, quando disponível, medição direta da massa de gordura (por exemplo, por DEXA ou bioimpedância; tabela 1). Essa abordagem reduz fortemente, embora não elimine, o risco de erro de classificação e tanto o diagnóstico excessivo quanto o subdiagnóstico do status da obesidade.

Na prática, em pessoas com um IMC que apresente valores iguais ou superiores aos limiares aceitos para idade, sexo ou país, obter pelo menos uma outra medida antropométrica do excesso de adiposidade mitiga o risco de diagnóstico excessivo da obesidade, especialmente em atletas ou pessoas com maior massa magra. No entanto, para pessoas com um valor de IMC próximo, mas abaixo, dos limiares para obesidade, a medição direta de gordura (quando disponível) ou o uso de duas outras medidas antropométricas consistentes com excesso de adiposidade pode confirmar o status da obesidade, independentemente do IMC. 

Da mesma forma, indivíduos que apresentem manifestações típicas de obesidade clínica podem ter valores de IMC abaixo dos limiares recomendados e devem ser diligentemente avaliados quanto à presença de excesso de adiposidade com medições alternativas.

Para todas as medidas antropométricas, assim como para o IMC, recomendamos o uso de métodos validados e pontos de corte apropriados para idade, sexo e etnia ou país (veja o apêndice 2, pp 13–15).

Embora o risco de erro de classificação da obesidade seja menos relevante em pessoas com IMC muito alto (por exemplo, >40 kg/m²), é difícil, com o conhecimento atual, recomendar limiares específicos de IMC para verificação do excesso de adiposidade entre indivíduos de diferentes idades, etnias ou níveis de condicionamento físico. O status da obesidade, no entanto, pode ser razoavelmente assumido em pessoas com IMC muito alto, obviando, de forma pragmática, a necessidade de avaliação demorada de múltiplas medidas antropométricas.

* Princípios para o diagnóstico da obesidade clínica

A definição de obesidade clínica implica a combinação de um fenótipo de obesidade com evidências objetivas e específicas de doença em andamento devido à obesidade (tabela 1). Assim, o diagnóstico de obesidade clínica requer a confirmação do status de obesidade por meio do cumprimento dos critérios antropométricos (um componente antropométrico) mais sinais ou sintomas de anomalias na função de um ou mais sistemas de tecidos ou órgãos, limitações substanciais (ajustadas por idade) das atividades diárias ou ambos (um componente clínico). As limitações das atividades diárias devem refletir o efeito específico da obesidade sobre a mobilidade, outras atividades básicas da vida diária (por exemplo, tomar banho, vestir-se, usar o banheiro, continência e alimentação) ou ambos. As limitações ajustadas por idade das atividades da vida diária requerem um processo de diagnóstico diferencial, avaliando o papel relativo da obesidade e outras causas, incluindo a própria idade.

* Critérios diagnósticos para obesidade clínica

Critérios diagnósticos propostos para a obesidade clínica em adultos e em crianças e adolescentes estão detalhados na tabela 2 e apresentados de forma sinótica nas figuras 6 e 7.

É importante notar que todos os critérios diagnósticos de obesidade clínica assumem a exclusão de causas óbvias de disfunção orgânica ou sinais e sintomas. De forma semelhante ao diagnóstico de outras doenças crônicas, os critérios diagnósticos para obesidade clínica não incluem todas as possíveis manifestações clínicas ou complicações da obesidade clínica.

Essa abordagem visa proporcionar uma sensibilidade robusta para a detecção de doenças (ou seja, funcionamento fisiológico anormal de um ou mais órgãos) e especificidade de tal doença, como sendo causada pela obesidade (excluindo causas óbvias de disfunção).

Semelhante aos princípios usados no diagnóstico de outras doenças, os critérios diagnósticos da Comissão para obesidade clínica incluem apenas alterações individuais da função orgânica, não doenças em si mesmas. Os critérios recomendados por esta Comissão são uma diferença chave em relação aos métodos tradicionalmente usados para avaliar o efeito da obesidade sobre a saúde. Sistemas tradicionais de classificação e pontuação da obesidade e políticas de seguro de saúde tipicamente incluem uma mistura de alterações individuais na estrutura ou função dos órgãos (por exemplo, MASLD) e doenças em si mesmas (por exemplo, diabetes tipo 2, osteoartrite e câncer)—todas incorretamente referidas como comorbidades ou complicações. Embora esses métodos tenham mérito, pois refletem a saúde geral de um indivíduo e o risco de mortalidade futura, eles implicitamente carecem de especificidade como métodos diagnósticos da obesidade como uma doença em si mesma. Toda doença é caracterizada por sua distinta fisiopatologia, manifestações clínicas, evolução e prognóstico. Portanto, usar um estado de doença como critério diagnóstico para outra doença seria contraditório do ponto de vista lógico e também prejudicaria o diagnóstico diferencial, pois tornaria as doenças indistinguíveis entre si.

Essa questão foi um ponto importante de discussão para os comissários, especialmente em relação à consideração do diabetes tipo 2 como um possível critério diagnóstico para obesidade clínica. O diabetes tipo 2 está fortemente associado à obesidade, tem sido tradicionalmente usado como um marcador do efeito clínico e da gravidade da obesidade, e é um critério usado em algoritmos de tratamento da obesidade e em políticas de acesso ao cuidado da obesidade. No entanto, o diabetes tipo 2 é diferente da hiperglicemia, que é um dos componentes do cluster metabólico que propomos como diagnóstico da obesidade clínica.

Embora o diagnóstico de diabetes tipo 2 atualmente se baseie na hiperglicemia como um biomarcador único (HbA1c ou glicemia), esse diagnóstico reflete um estado de doença caracterizado por sua própria fisiopatologia e manifestações clínicas distintas (por exemplo, fadiga, poliúria e polidipsia). No entanto, é importante notar que o diabetes tipo 2 é uma doença altamente heterogênea (alguns estudos sugerem que múltiplos subtipos podem existir), e sua fisiopatologia pode, portanto, incluir mecanismos adicionais de doença além daqueles diretamente associados à obesidade. Nesse contexto, a inclusão do diabetes tipo 2 (como doença) nos critérios diagnósticos para obesidade clínica reduziria a especificidade e potencialmente incluiria subtipos de diabetes que não podem ser totalmente justificados como relacionados ao excesso ou à adiposidade anormal.

De forma coerente com os princípios acima, os efeitos do excesso de adiposidade sobre os sistemas orgânicos envolvidos no metabolismo podem ser pragmaticamente detectados, com especificidade suficiente, por um conjunto de alterações bioquímicas que refletem os efeitos subsequentes da resistência à insulina e do acúmulo ectópico de gordura—mecanismos patogenéticos típicos da obesidade. O conjunto de critérios metabólicos recomendados por esta Comissão para diagnóstico de obesidade inclui tanto níveis diabéticos quanto não diabéticos de hiperglicemia, altas concentrações de triglicerídeos e baixos níveis de colesterol HDL.

Como qualquer outra doença crônica, nem todas as possíveis manifestações clínicas da obesidade clínica ocorrem no mesmo indivíduo, e diferentes manifestações clínicas têm efeitos distintos sobre a qualidade de vida e o prognóstico. Assim, a obesidade clínica é uma doença sistêmica e heterogênea com uma ampla gama de gravidade e prognóstico. A classificação da obesidade clínica, para refletir o efeito relativo dos critérios diagnósticos sobre a qualidade de vida e o prognóstico, estava além do escopo desta Comissão. O desenvolvimento futuro de sistemas específicos de classificação para obesidade clínica pode informar ainda mais a tomada de decisões clínicas e a priorização do tratamento.

* Recomendações para a prática clínica

Pessoas com adiposidade excessiva confirmada devem ser avaliadas para obesidade clínica a fim de descartar doenças em curso (painel 7). 

A avaliação para obesidade clínica deve incluir, em um primeiro momento, uma avaliação completa do histórico médico da pessoa, um exame físico e exames laboratoriais padrão (incluindo hemograma completo, glicemia, perfil lipídico e testes de função renal e hepática). O histórico médico e os exames físicos devem incluir uma revisão dos sistemas para investigar a presença de sinais ou sintomas que possam sugerir obesidade clínica. 

Exames diagnósticos adicionais devem ser realizados conforme apropriado, caso o histórico médico do paciente, o exame físico ou os exames laboratoriais padrão, ou qualquer combinação deles, sugiram a possibilidade de uma ou mais disfunções orgânicas ou de tecidos induzidas pela obesidade (figura 8; apêndice 2, pp 27–39).

* Painel 7
Recomendações para a prática clínica

Um diagnóstico de obesidade clínica deve ter as mesmas implicações que outros diagnósticos de doenças crônicas.

* Avaliação clínica

Pessoas com adiposidade excessiva confirmada devem ser avaliadas para obesidade clínica. Esta avaliação deve incluir:
* Histórico médico da pessoa
* Exame físico
* Exames laboratoriais padrão, incluindo hemograma completo, glicemia, perfil lipídico e testes de função renal e hepática
* Exames diagnósticos adicionais conforme apropriado, caso o histórico médico ou exame físico do paciente, ou exames laboratoriais padrão, ou ambos, sugiram a possibilidade de uma ou mais disfunções orgânicas ou de tecidos induzidas pela obesidade (para critérios diagnósticos, consulte a tabela 2, e as figuras 6 e 7)

Objetivos do tratamento na obesidade clínica

* Melhora (ou remissão quando possível) das manifestações clínicas da obesidade
* Prevenção da progressão para complicações adicionais ou danos a órgãos terminais

Resultados desejáveis do tratamento (para prática clínica e ensaios clínicos)

* Melhora objetiva, remissão, ou ambos, das manifestações clínicas (em vez de medidas substitutas de risco ou redução de peso per se)
* Plausivelmente, diferentes manifestações clínicas da obesidade clínica (ex: cardiovascular, metabólica ou musculoesquelética) podem exigir diferentes intensidades de tratamento, responder a diferentes graus de redução de peso, ou ambos

Intervenções para obesidade clínica (princípios)

* A escolha da intervenção para obesidade clínica (ou seja, estilo de vida, farmacológica, psicológica ou cirúrgica) deve ser baseada em:
* Avaliação individual de risco-benefício
* Evidência clínica disponível de que a intervenção tem chances razoáveis de melhorar as manifestações clínicas e a qualidade de vida ou reduzir o risco de progressão da doença e mortalidade

Os métodos para avaliação da obesidade clínica representam atividades típicas da prática clínica, que devem ser viáveis em ambientes de atenção primária, mas podem exigir consulta especializada quando apropriado. Como a obesidade pode causar doenças, a avaliação da obesidade — e qualquer orientação médica para seu manejo — deve sempre ser fornecida por profissionais de saúde qualificados.

Os clínicos devem estar cientes do risco de erro de diagnóstico da obesidade clínica. As condições indicadas aqui como critérios diagnósticos representam alterações da função orgânica que não são exclusivas da obesidade clínica e podem ser causadas por outras doenças e condições. Deve-se enfatizar que os critérios para o diagnóstico de obesidade clínica só são atendidos quando é possível excluir outras causas plausivelmente. Este problema precisa ser abordado pelo processo de diagnóstico diferencial, que se aplica não apenas à obesidade clínica, mas a todas as outras doenças.

* Objetivos do tratamento da obesidade clínica

As recomendações sobre indicações específicas para tratamentos da obesidade clínica, ou da obesidade em geral, estão além do escopo desta Comissão.

No entanto, a definição de obesidade clínica tem implicações práticas para o tratamento e foi expressamente elaborada para facilitar a tomada de decisões clínicas e políticas. A distinção entre obesidade clínica e pré-clínica é baseada pragmaticamente na presença ou ausência de evidências contínuas de doença. 

Portanto, os objetivos do tratamento e as medidas dos resultados do tratamento devem refletir tal distinção. A tomada de decisões clínicas, no entanto, é sempre uma escolha individualizada; assim, o cuidado da obesidade clínica e pré-clínica deve fazer parte de uma avaliação mais ampla dos pacientes individuais, como para qualquer outra doença.

Pessoas com obesidade clínica devem ter acesso oportuno a cuidados abrangentes e tratamentos baseados em evidências. O objetivo da terapia na obesidade clínica deve ser a melhora (ou remissão quando possível) das manifestações clínicas da obesidade e a prevenção da progressão para complicações adicionais ou danos a órgãos terminais. 

Com o conhecimento atual, não é possível identificar a quantidade de perda de peso necessária para alcançar tais objetivos, sendo plausível que diferentes manifestações clínicas da obesidade clínica (por exemplo, cardiovasculares, metabólicas e musculoesqueléticas) possam exigir diferentes intensidades de tratamento, responder a diferentes graus de redução de peso ou ambos.

Como em qualquer tratamento de doença, o tratamento bem-sucedido da obesidade clínica deve ser definido com base na melhoria real das manifestações clínicas, e não em medidas substitutas de risco ou redução de peso per se. As escolhas quanto aos tipos de intervenção para a obesidade clínica (ou seja, estilo de vida, farmacológica, psicológica ou cirúrgica) devem ser decisões individualizadas, e devem ser baseadas em avaliações de risco-benefício individuais e em evidências clínicas disponíveis de que qualquer intervenção tem chances razoáveis de melhorar as manifestações clínicas e a qualidade de vida ou reduzir o risco de progressão da doença e mortalidade.

Sistemas de estadiamento para obesidade clínica, refletindo o efeito da doença sobre a qualidade de vida e o prognóstico, são necessários para facilitar as escolhas de tratamento e devem ser o foco de futuros trabalhos.

* Manejo da obesidade pré-clínica

Pessoas com obesidade pré-clínica devem receber orientações de saúde baseadas em evidências e ter acesso equitativo a cuidados de saúde quando necessário para reduzir o risco de desenvolvimento de obesidade clínica e outras doenças e condições relacionadas à obesidade (figura 9). 

O aconselhamento em saúde, o nível de cuidado e o tipo de intervenção para obesidade pré-clínica (ou seja, estilo de vida, farmacológica, psicológica ou cirúrgica) devem ser baseados em uma avaliação individual de risco-benefício, considerando a gravidade do excesso ou anormalidade da adiposidade e a presença ou ausência de outros fatores de risco e doenças ou distúrbios relacionados à obesidade que provavelmente se beneficiariam de um tratamento específico.

A obesidade pré-clínica identifica pessoas com um nível variável de risco à saúde, mas com saúde substancialmente preservada no momento. Portanto, a abordagem para o manejo da obesidade pré-clínica deve visar a redução do risco (ou seja, intenção profilática). 

Como o nível individual de risco varia substancialmente com vários fatores (por exemplo, etnia, histórico familiar ou distribuição de gordura), a intervenção profilática de escolha deve ser decidida com base no perfil de risco-benefício do indivíduo. Por exemplo: quando o risco de um indivíduo for considerado suficientemente baixo, pessoas com obesidade pré-clínica não necessitam de tratamento com medicamentos ou cirurgia; o aconselhamento apropriado deve ser fornecido para oferecer tranquilidade e orientação sobre estilo de vida saudável, e os indicadores de saúde devem ser monitorados ao longo do tempo.

Para algumas pessoas com obesidade pré-clínica e risco global de saúde mais elevado, outras intervenções (farmacológicas ou cirúrgicas) podem ser justificadas, proporcionalmente ao nível de risco e à presença de outras condições que poderiam se beneficiar da redução de peso ou adiposidade. Nesse caso, o cuidado da obesidade pré-clínica pode exigir o uso profilático de medicamentos (como na dislipidemia e hipertensão), ou, às vezes, até cirurgia, quando for necessária uma redução rápida de risco para agilizar ou facilitar outros tratamentos (por exemplo, transplante, cirurgia ortopédica ou tratamentos para câncer).

Embora essas decisões clínicas devam ser baseadas nas características dos indivíduos, a obesidade pré-clínica geralmente exigirá menor urgência e intensidade de cuidados em comparação com a obesidade clínica. De forma consistente, os resultados do tratamento para obesidade pré-clínica devem ser baseados em medidas de redução de risco, enquanto a melhoria objetiva das manifestações clínicas deve ser considerada um resultado adequado do tratamento na obesidade clínica. Essa distinção tem implicações de importância crucial tanto para a prática clínica quanto para os ensaios clínicos.

Sistemas específicos de pontuação ou classificação para obesidade pré-clínica também devem ser desenvolvidos para avaliar objetivamente o risco e auxiliar na tomada de decisões clínicas ou na escolha do tratamento quando for necessária intervenção ativa para reduzir o risco.

Painel 8
Recomendações para políticas de saúde e educação médica

A implementação das recomendações desta Comissão requer ações coordenadas por profissionais de saúde, organizações médicas, instituições acadêmicas, seguradoras de saúde e agências reguladoras.

Recomendações para formuladores de políticas e reguladores

* Indivíduos com obesidade clínica devem ter acesso oportuno e equitativo a cuidados abrangentes, incluindo tratamentos baseados em evidências disponíveis, conforme apropriado para pessoas com uma doença crônica e potencialmente ameaçadora à vida.
* Indivíduos com obesidade pré-clínica devem ter acesso a aconselhamento, triagem e monitoramento da saúde ao longo do tempo, e cuidados apropriados quando necessário, para reduzir o risco substancialmente elevado de obesidade clínica e outras doenças relacionadas à adiposidade.
* O uso de critérios diagnósticos para obesidade clínica deve se tornar um requisito na avaliação da obesidade na prática clínica.
* A melhoria documentada ou remissão das manifestações de obesidade clínica deve ser considerada como resultados de tratamento apropriados em futuros ensaios clínicos de intervenções antiobesidade existentes e novas.

Recomendações para organizações profissionais e instituições acadêmicas
* Sociedades profissionais internacionais e específicas de cada país e instituições acadêmicas devem se engajar em iniciativas educacionais para profissionais de saúde, a fim de facilitar a implementação dos critérios diagnósticos para obesidade clínica na prática clínica.
* A educação de profissionais de saúde e de saúde pública sobre preconceito em relação ao peso e a ciência moderna da obesidade deve ser uma prioridade importante.

Recomendações para saúde pública
* Estratégias de saúde pública para abordar a obesidade em nível populacional devem ser baseadas em evidências científicas atuais, em vez de suposições que culpam a responsabilidade individual pelo desenvolvimento da obesidade.
* O reconhecimento da obesidade clínica como uma doença crônica deve facilitar um uso mais racional de estratégias de prevenção versus tratamento, e resultar em uma alocação mais apropriada e custo-efetiva de recursos.

Nossa caracterização da obesidade pré-clínica e clínica oferece um quadro pragmático e medicalmente significativo para simplificar a compreensão do escopo e da urgência relativa das intervenções para obesidade, facilitando, assim, a tomada de decisões políticas e a priorização, especialmente ao lidar com recursos limitados de saúde (tabela 1).

A distinção entre obesidade pré-clínica e clínica é, de fato, semelhante ao quadro conceitual de risco versus problema, utilizado para facilitar o gerenciamento de problemas. Semelhante a essas noções de risco e problema, a obesidade pré-clínica e clínica distingue condições nas quais o evento negativo (neste caso, o efeito negativo na saúde do indivíduo) pode ocorrer (como no risco, ou obesidade pré-clínica) ou já ocorreu (como no problema, ou obesidade clínica).

Portanto, as estratégias de manejo para obesidade pré-clínica devem ter como objetivo a redução do risco, enquanto as intervenções para um problema em andamento, como a obesidade clínica, devem ter um propósito corretivo (terapêutico). Assim, o modelo de obesidade pré-clínica e clínica permite distinguir objetiva e pragmaticamente cenários que exigem temporizações e intensidades substancialmente diferentes de intervenção; esses cenários também estão associados a diferentes prazos para avaliar os resultados de saúde e a relação custo-benefício dessas intervenções (por exemplo, prazos mais longos para obesidade pré-clínica e prazos mais curtos para obesidade clínica).

Dadas as implicações da obesidade clínica e pré-clínica, é importante que os formuladores de políticas e as autoridades de saúde garantam acesso adequado e equitativo aos tratamentos baseados em evidências disponíveis para a obesidade clínica, conforme apropriado, para pessoas com uma doença crônica e potencialmente ameaçadora à vida.

Para pessoas com obesidade pré-clínica, os formuladores de políticas devem garantir acesso adequado e equitativo à avaliação diagnóstica do risco à saúde, monitoramento do estado de saúde ao longo do tempo e tratamento apropriado quando necessário devido ao risco elevado à saúde do indivíduo, presença de outros fatores de risco e condições que se beneficiariam das intervenções para perda de peso, ou ambos. As estratégias para o manejo da obesidade pré-clínica devem, portanto, ter a intenção de reduzir o risco de desenvolver obesidade clínica e outras doenças e condições associadas.

* Conclusão

A ideia da obesidade como uma doença está no centro de um dos debates mais controversos e polarizadores da medicina moderna, com implicações amplas e de longo alcance para as pessoas afetadas e para a sociedade como um todo.

Consistente com sua definição original como uma “condição que representa um risco para a saúde”, a obesidade tem sido enquadrada e amplamente estudada como um prenúncio de outras doenças. No entanto, as manifestações da obesidade como uma doença não foram adequadamente caracterizadas. Essa falta de caracterização clínica tem dificultado, até o momento, a aceitação da obesidade como um estado de doença, ao mesmo tempo em que mina abordagens racionais para o cuidado e as políticas.

No entanto, as evidências mostram que o excesso de adiposidade também pode exercer efeitos diretos e negativos no funcionamento dos órgãos, no indivíduo como um todo ou em ambos, produzindo as manifestações clínicas típicas de uma doença.

Esta Comissão define a obesidade clínica como uma condição em que o risco à saúde associado ao excesso de adiposidade já se materializou e pode ser objetivamente documentado por sinais e sintomas específicos que refletem alterações biológicas nos tecidos e órgãos, consistentes com uma doença existente. A obesidade pré-clínica é definida como excesso de adiposidade com função preservada dos órgãos e tecidos, acompanhada por um risco aumentado de progressão para obesidade clínica ou outras doenças não transmissíveis.

Embora uma consideração geral da obesidade como doença possa levantar preocupações legítimas sobre o risco de sobre-diagnóstico, com consequências prejudiciais tanto para os indivíduos quanto para a sociedade, a obesidade clínica reflete objetivamente uma doença em andamento, fornecendo, assim, um alvo racional e medicalmente significativo para diagnóstico e priorização de tratamento.

Esperamos que esse novo enquadramento possa informar políticas de saúde pública, facilitar a identificação de alvos apropriados para estratégias de prevenção versus tratamento, e contribuir para superar equívocos que reforçam o preconceito e o estigma baseados no peso.


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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Consumo de café (horário) e risco de mortalidade

Introdução e Objetivos

Identificar os padrões de consumo de café ao longo do dia na população dos EUA e avaliar suas associações com mortalidade por todas as causas e causas específicas.

Métodos

Este estudo incluiu 40.725 adultos do National Health and Nutrition Examination Survey (1999–2018) com dados dietéticos completos e 1.463 adultos do Women’s and Men’s Lifestyle Validation Study com registros alimentares completos de 7 dias. Foi realizada uma análise de cluster para identificar padrões de consumo de café ao longo do dia.

Resultados

Neste estudo observacional, dois padrões distintos de consumo de café ao longo do dia foram identificados: o padrão matutino (36% dos participantes) e o padrão ao longo de todo o dia (14% dos participantes). Esses padrões foram validados no Women’s and Men’s Lifestyle Validation Study. Durante um acompanhamento mediano (intervalo interquartil) de 9,8 (9,1) anos, foram registradas 4.295 mortes por todas as causas, 1.268 mortes por doenças cardiovasculares e 934 mortes por câncer. Após ajuste para as quantidades de café com e sem cafeína, horas de sono e outros fatores de confusão, o padrão matutino, em comparação com o padrão ao longo de todo o dia, foi significativamente associado a riscos menores de mortalidade por todas as causas (razão de risco: 0,84; intervalo de confiança de 95%: 0,74–0,95) e mortalidade específica por doenças cardiovasculares (razão de risco: 0,69; intervalo de confiança de 95%: 0,55–0,87) em comparação com aqueles que não consumiam café. O momento do consumo de café modificou significativamente a associação entre a quantidade de café ingerida e a mortalidade por todas as causas (P-interação = 0,031); maiores quantidades de café foram significativamente associadas a um menor risco de mortalidade por todas as causas em participantes com padrão matutino, mas não naqueles com padrão ao longo de todo o dia.

Conclusões

Beber café pela manhã pode estar mais fortemente associado a um menor risco de mortalidade em comparação com o consumo de café em outros momentos do dia.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Leite e Consumo de Cálcio Associados a Menor Risco de Câncer de Cólon

O consumo de laticínios, especialmente leite, apresentou uma associação significativa com a redução do risco de câncer colorretal (CCR) em mulheres, de acordo com dados de um grande estudo de coorte britânico.

Para cada 300 mg de cálcio consumidos diariamente, o risco de CCR diminuiu em 17%, sendo essa a associação inversa mais forte identificada entre quase 100 fatores dietéticos analisados. Uma análise baseada em genética sobre o consumo de leite reforçou a associação significativa com a redução do risco de CCR.

O estudo, que incluiu dados de 542.778 mulheres, também confirmou evidências substanciais pré-existentes que vinculam o consumo de álcool a um maior risco de CCR, relataram Keren Papier, PhD, da Universidade de Oxford, Inglaterra, e coautores na Nature Communications.

“Neste grande estudo prospectivo sobre dieta e câncer colorretal, encontramos uma associação positiva marcante para o álcool e uma associação inversa robusta para o cálcio”, escreveram os autores. “Associações inversas também foram observadas com outros fatores relacionados a laticínios, como leite de vaca, iogurte, riboflavina, magnésio, fósforo e potássio, que, em análises posteriores, pareceram ser primariamente decorrentes da associação desses fatores dietéticos com o cálcio.”

“Evidências adicionais de um possível papel causal do cálcio na incidência de câncer colorretal foram fornecidas por uma análise complementar do consumo de leite geneticamente previsto, que provavelmente também reflete a ingestão de cálcio”, acrescentaram.

Segundo especialistas em dieta e câncer, o estudo forneceu as evidências mais robustas até hoje de um efeito protetor do cálcio no risco de CCR.

“Este importante estudo com mais de meio milhão de mulheres no Reino Unido fornece evidências convincentes de que o consumo de laticínios, particularmente leite e iogurte, está associado à redução do risco de câncer colorretal, com o cálcio presente no leite sendo um dos principais fatores”, afirmou Ian Givens, PhD, da Universidade de Reading, em Berkshire, Inglaterra. “Os achados estão alinhados com pesquisas anteriores e, notavelmente, utilizaram marcadores genéticos de consumo de leite para fortalecer as conclusões. O que é particularmente preocupante é que muitas mulheres no Reino Unido, especialmente entre os grupos mais jovens, estão consumindo menos laticínios e têm uma ingestão de cálcio abaixo dos níveis recomendados.”

Embora limitado pela natureza observacional do estudo, os resultados fornecem orientação sobre modificações dietéticas que podem reduzir ou aumentar o risco de CCR, observou Tom Sanders, DSc, PhD, do King’s College London.

“Na minha opinião, as mensagens principais deste artigo são que consumir álcool acima dos limites seguros (mais de 14 unidades por semana) aumenta o risco de câncer colorretal em mulheres, mas que beber cerca de meio litro de leite de vaca por dia (o que fornece cerca de 300 mg de cálcio) é provavelmente protetor”, disse ele.

Andrew Prentice, PhD, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, acrescentou que “os resultados enfatizam que o consumo de leite é particularmente benéfico e mostram evidências de que esse efeito pode ser amplamente devido ao cálcio presente no leite, levantando a questão de saber se suplementos de cálcio também podem ser protetores. Ainda não há consenso sobre isso, mas, como nutricionista, continuarei a obter meu cálcio de leite e alimentos lácteos, que são ricos em muitos nutrientes.”

Para indivíduos que não consomem leite, o estudo identificou outras fontes de cálcio que podem ajudar a reduzir o risco de câncer colorretal (CCR), como brócolis ou tofu, destacou Lisa Wilde, PhD, da Bowel Cancer UK.

Apesar de inúmeras investigações, o papel dos fatores dietéticos no risco de CCR permanece incerto, observaram Papier e coautores na introdução do estudo. A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer classificou o álcool e as carnes processadas como carcinogênicas e a carne vermelha como “provavelmente carcinogênica”, em parte com base em achados sobre CCR.

O terceiro relatório de especialistas do Fundo Mundial de Pesquisa sobre Câncer/Instituto Americano para Pesquisa sobre Câncer também concluiu que há “evidências convincentes” de associações entre maior consumo de álcool e carnes processadas e aumento do risco de CCR, continuaram os autores. Além disso, os especialistas descobriram que laticínios, leite de vaca, cálcio, suplementos de cálcio, grãos integrais e alimentos ricos em fibras “provavelmente” reduzem o risco de CCR, enquanto maior consumo de carne vermelha “provavelmente” aumenta o risco.

Para esclarecer as relações entre fatores dietéticos e o risco de CCR, os pesquisadores realizaram uma análise sistemática de 97 fatores dietéticos e suas associações com o risco de CCR em 542.778 participantes do Million Women Study, que documentou 12.251 casos de CCR durante um acompanhamento médio de 16,6 anos. Todos os participantes completaram um questionário alimentar detalhado, e 7% também realizaram uma avaliação alimentar online de 24 horas.

A análise identificou 17 fatores dietéticos com associações positivas ou negativas significativas com o risco de CCR (P<0,009). Entre esses, o consumo de álcool e cálcio teve as associações mais fortes. Cada 20 g/dia de álcool foi associado a um aumento de 15% no risco de CCR (IC 95% 1,09–1,20, P<0,0000001). Em contraste, cada 300 mg/dia de cálcio foi associado a uma redução significativa no risco de CCR (RR 0,83; IC 95% 0,77–0,89, P<0,000001).

O consumo de carne vermelha e processada também aumentou o risco de CCR. Os outros fatores tiveram associações negativas com o risco de CCR, incluindo leite de vaca, fósforo, riboflavina, grãos integrais, magnésio, iogurte, folato, carboidratos, açúcares totais, vitamina C, frutas, cereais matinais, potássio e fibras alimentares, que apresentaram valores de risco relativo entre 0,07–0,83.

Papier e colegas também realizaram uma análise de randomização mendeliana sobre o consumo de leite, um método estatístico que utiliza variantes genéticas para avaliar relações causais. Com base em dados de três grandes estudos populacionais, a análise mostrou que o risco de qualquer CCR diminuiu 40% para cada 200 g/dia de leite de vaca consumidos (IC 95% 0,46–0,74), incluindo uma redução de 40% para câncer de cólon (IC 95% 0,43–0,77) e 51% para câncer retal (IC 95% 0,31–0,67).

“Além de confirmar as bem-estabelecidas associações positivas do consumo de álcool, carne vermelha e carnes processadas com o risco de câncer colorretal, esta grande análise prospectiva fornece evidências robustas que apoiam o papel protetor do cálcio dietético”, concluíram os autores. “Pesquisas adicionais são necessárias para investigar os benefícios ou riscos gerais à saúde associados a maiores ingestões de cálcio.”

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Frutas, verduras e legumes: Janeiro

   


Por que consumir alimentos da safra? Existem vantagens?

Motivo 1: Se está na safra, provavelmente o preço está menor. Mais economia para o seu bolso.

Motivo 2: Tendem a ter maior densidade nutricional, a quantidade de nutrientes, em especial antioxidantes é maior, visto que, utiliza-se menos agrotóxicos e o vegetal precisa se adaptar a situações inóspitas (pragas, calor, frio, umidade, radiação solar, ventos). Ou seja, ele produz mais "defesas", nesse caso os polifenóis, que são antixodantes. Os alimentos da safra são colhidos no momento ideal de maturação, o que significa que estão no auge do seu sabor, textura e valor nutricional. Consumí-los garante que você esteja recebendo produtos frescos e de melhor qualidade.

Motivo 3: Safra = maior abundância. Provavelmente terá menos agrotóxicos (eu disse menos, não que não tenham). Se a está na safra, naturalmente naquela época do ano aquele alimento desenvolve mais facilmente. Não sendo necessário uso de agrotóxicos ou caso o agricultor utilize, a quantidade tende a ser menor. Menos agrotóxico, menos veneno. Em breve o Ministério da saúde publicará um guia sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Tema totalmente negligenciado na Medicina. 

Motivo 4: Os vegetais na safra são encontrados mais facilmente nas feiras e mercados. O Brasil é um país vasto e diversificado, com diferentes regiões climáticas que possibilitam o cultivo de uma grande variedade de alimentos ao longo do ano. Consumir alimentos da safra permite que você experimente uma ampla gama de frutas, legumes e verduras, aproveitando a diversidade da culinária brasileira.

Motivo 5: Sustentabilidade e apoio ao agricultores locais.  Consumir os alimentos da safra vigente é um ato de sustentabilidade, pois respeita o tempo da natureza e economiza energia e recursos extras de forma intensiva ou no transporte por diferentes distâncias. Escolher alimentos da safra muitas vezes significa apoiar práticas agrícolas mais sustentáveis. Como esses alimentos estão disponíveis localmente e não precisam ser transportados por longas distâncias, há uma redução significativa na pegada de carbono associada ao seu consumo. Além disso, os produtores locais que cultivam alimentos da safra geralmente empregam técnicas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente.  Comprar alimentos da safra de produtores locais contribui para fortalecer a economia da sua região. Ao apoiar os agricultores locais, você ajuda a manter empregos na comunidade e a promover um sistema alimentar mais justo e sustentável. 


Frutas de Janeiro
Abacaxi havaí
Ameixa
Carambola
Cupuaçu
Figo
Goiaba
Graviola
Jaca
Laranja pera
Limão taiti
Mamão formosa e havaí
Manga palmer
Maracujá azedo e doce
Melancia
Nectarina estrangeira
Pêssego estrangeiro
Pinha
Pitaia
Sapoti
Uva itália e niágara



Verduras e Legumes de Janeiro
Abóbora 
Abobrinha 
Batata 
Berinjela
Beterraba
Cenoura
Cogumelo
Jiló
Mandioquinha
Pepino
Pimenta 
Pimentão quiabo
Tomate
Alface
Aspargo
Couve
Escarola
Salsāo


Autores
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915, CRM-SC 32.949, RQE 22.416
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Feliz 2025

Esse ano estou sem inspiração. Isso é dificil acontecer, mas como vcs me acompanham desde 2010, seria injusto da minha parte não desejar um 2025 para vcs. 


domingo, 15 de dezembro de 2024

Jejum intermitente pode favorecer queda de cabelo?

A popular dieta de jejum intermitente desacelera o crescimento capilar tanto em humanos quanto em camundongos, mostram experimentos.

Um regime de perda de peso amplamente adotado parece inibir o crescimento capilar, segundo dados coletados de camundongos e humanos. O estudo revela que o jejum intermitente, caracterizado por períodos curtos de privação alimentar, desencadeia uma resposta de estresse que pode inibir ou até matar células-tronco dos folículos capilares, responsáveis pelo crescimento do cabelo.

Os resultados, publicados hoje na revista Cell, sugerem que, embora o jejum de curto prazo possa trazer benefícios à saúde, como o aumento da longevidade em camundongos, nem todos os tecidos e tipos celulares se beneficiam.

“Fiquei chocado ao ouvir esses resultados”, diz Ömer Yilmaz, biólogo de células-tronco do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Cambridge, que não participou do estudo. “Estamos acostumados a pensar que o jejum é benéfico para a maioria, se não todos, os tipos celulares, e bom para as células-tronco. Isso é o oposto do que esperávamos, e parece ser verdadeiro também em humanos.”

Privação deliberada

Na última década, o jejum intermitente tornou-se um dos regimes de dieta mais populares; segundo estimativas, cerca de 12% dos adultos nos Estados Unidos o praticaram em 2023. Uma das formas mais comuns é a alimentação com restrição de tempo, que consiste em comer apenas dentro de um intervalo limitado de horas por dia.

As células-tronco parecem ser particularmente vulneráveis às mudanças na dieta. Por exemplo, Yilmaz e seus colegas relataram em agosto que as células-tronco no intestino de camundongos mostraram um aumento de atividade durante o período de alimentação pós-jejum, ajudando a reparar danos nos intestinos dos animais.

Para investigar se o jejum afeta o crescimento capilar, que pode ser influenciado pelo estresse, Bing Zhang, biólogo regenerativo da Universidade Westlake em Zhejiang, China, e seus colegas rasparam camundongos e os submeteram a dois regimes de jejum intermitente: alimentação com restrição de tempo e jejum em dias alternados, em que os animais jejuavam por 24 horas e, no dia seguinte, consumiam sua dieta normal. Ao final do estudo, que durou três meses, os camundongos em dieta não haviam recuperado tanto pelo quanto os animais do grupo controle, que consumiram um número semelhante de calorias, observaram os autores.

Os pesquisadores atribuíram esse efeito à morte das células-tronco dos folículos capilares. Experimentos adicionais mostraram que o jejum intermitente desencadeou uma comunicação entre as glândulas adrenais, responsáveis pela produção de hormônios do estresse, e as células de gordura na pele. Essa interação levou as células de gordura da pele a liberarem moléculas chamadas ácidos graxos, que prejudicaram o metabolismo das células-tronco e causaram danos que, em alguns casos, resultaram na morte das células-tronco. No entanto, a aplicação de um creme antioxidante antes e durante a dieta preveniu o comprometimento do crescimento capilar, sugerindo que esse efeito não é inevitável.

Para verificar se esse efeito também ocorre em humanos, os pesquisadores randomizaram 49 pessoas em dois grupos: um seguiu um regime de jejum intermitente, e o outro (grupo controle) consumiu alimentos sem restrições de tempo. O crescimento capilar no grupo de jejum foi 18% mais lento em comparação com o grupo controle. Testes moleculares identificaram evidências de que um mecanismo semelhante ao observado em camundongos poderia ser responsável por esse efeito.

É “intrigante” que esses efeitos não tenham se estendido às células-tronco relacionadas à produção e reparação da camada externa da pele, que forma uma barreira imunológica essencial, diz Elaine Fuchs, pesquisadora de células-tronco da Universidade Rockefeller, em Nova York, que não participou do estudo. “Pelo menos alguns de nós concordariam que, a menos que você seja um boi-almiscarado vivendo na tundra do Alasca, o cabelo é dispensável”, afirma Fuchs. “No jejum intermitente, o corpo não sabe quando será a próxima refeição, e a prioridade torna-se proteger os órgãos centrais, dispensando aqueles que não são essenciais.”

Yilmaz e seus colegas também identificaram outro ponto negativo do jejum intermitente: a dieta pode estimular o desenvolvimento de lesões intestinais pré-cancerígenas caso os camundongos apresentem uma mutação genética causadora de câncer durante o período pós-jejum. Esses achados, segundo Yilmaz, devem motivar mais investigações sobre os efeitos do jejum nas células do cérebro e do fígado.

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Carta aberta à ANVISA e Sociedade civil brasileira

É notório que, nas últimas décadas, a Endocrinologia tem sido agraciada por inúmeras evoluções tecnológicas, principalmente no desenvolvimento de fármacos com alta potência para o controle do peso e, consequentemente, melhorando diversos parâmetros metabólicos, cardiovasculares, inflamatórios, renais, hepáticos, dentre outros.

Dito isso, enormes desafios têm sido impostos a nós, formadores de opinião e divulgadores da boa prática clínica, de forma ética e compreensível tanto para os colegas de profissão quanto para a sociedade civil.

Tem nos preocupado a crescente autoprescrição e a ausência da necessidade de receituário médico retido no que concerne aos análogos do receptor de GLP-1, com ênfase na semaglutida, gerando consequências gravíssimas à saúde pública no Brasil, a citar:
1. Muitos efeitos colaterais por uso abusivo em altas doses, sem qualquer tipo de orientação médica especializada.
2. O uso meramente recreativo dessas medicações por indivíduos que não possuem indicação clínica prevista em bula, aumentando os riscos de efeitos colaterais e maximizando a chance de desabastecimento nas farmácias para aqueles pacientes que realmente se beneficiariam dos análogos de GLP-1.
3. Indivíduos com baixo peso e transtornos alimentares graves, como anorexia nervosa, utilizando principalmente semaglutida, aumentando muito os riscos de desnutrição e internações hospitalares.
4. A falta de orientação médica para suspensão dessas medicações em casos de procedimentos anestésicos com necessidade de sedação, conforme recente orientação das diversas sociedades de anestesiologia por todo o mundo, aumentando o risco de broncoaspiração, uma vez que, sem orientação clínica, muitas vezes pode haver omissão por parte do paciente, já que este tende a desconhecer suas possíveis complicações.
5. Aplicação dos fármacos por profissionais médicos e não médicos em seus próprios consultórios, sem qualquer fiscalização ou adequação de armazenamento, cobrando altos valores, lesando o código de ética médica, que proíbe a venda de medicações nesse contexto.
6. Aumento do risco de falsificações e propaganda enganosa, inclusive de produtos ainda não disponíveis no Brasil, como a tirzepatida, podendo cursar com efeitos adversos graves, conforme foi noticiado pela imprensa nas últimas semanas, causando, inclusive, hospitalizações de pacientes submetidos a essa má prática clínica.

Devemos ter, portanto, como objetivo principal, mudar, via ANVISA, o tipo de receituário necessário para o uso dos análogos de GLP-1 e coagonistas GLP-1/GIP para o tratamento de diabetes mellitus e/ou obesidade:

a) Semaglutida via subcutânea 0,25; 0,5; 1,0; 1,7 ou 2,4 mg/semana.
b) Liraglutida via subcutânea 0,6; 1,2; 1,8; 2,4 ou 3,0 mg/dia.
c) Dulaglutida via subcutânea 0,75 ou 1,5 mg/semana.
d) Semaglutida via oral 3, 7 ou 14 mg/dia.
e) Tirzepatida via subcutânea 2,5; 5; 7,5; 10; 12,5; 15 mg/semana.

Acreditamos que a obrigatoriedade de receituário comum retido para esses fármacos trará muito mais segurança para os pacientes, da mesma forma que, no começo do século, isso ocorreu na prescrição de antibioticoterapia, sendo uma grande vitória para a Medicina no Brasil. É válido destacar também que a necessidade de prescrição médica e receituário para os análogos de GLP-1 e coagonistas GLP-1/GIP já é uma prática no mundo inteiro, sem reduzir seu acesso à população, inclusive incentivando uma maior frequência de seguimento com o especialista. Temos profunda convicção de que o caminho em nosso país deverá ser o mesmo.

A tendência é que, nos próximos anos, novos fármacos de alta potência no controle do peso cheguem ao mercado, e temos que estar preparados para evitar maiores complicações para nossos pacientes, protegendo-os de prescrições inadequadas e aumentando a capacidade de fiscalização desses receituários, coibindo falsificações e vendas fora do contexto das farmácias.

Enfatizamos que a ausência de necessidade de receituário retido para os análogos de GLP-1 é um grave problema de saúde pública, e uma solução célere é mandatória.

Salada 23: Salada guirlanda (Natalina)

Essa salada é ideal para se utilizar no natal e apesar de ser simples, fica esteticamente apresentável. Dois itens são essenciais: Para dar o contraste, o prato no qual a salada ficará disposta deve ser de cor clara, preferencialmente branco. Precisará de um Bowl ou tigela de aproximadamente 15cm de diâmetro, para colocar ao centro e ir montando a salada. A idéia é que a salada pareça uma guirlanda natalina. 

Ingredientes:
20 tomates bem vermelhos e arredondados (se não encontrar, pode ser o cereja)
Ramos de alecrim para colocar na lateral, para dar aspecto de pinheiro
Alface crespa cortada em tiras de 1 cm
Alface roxa cortada em tiras de 1 cm
Repolho roxo cortado em tiras de 0,5cm
20 bolinhas de muçarela de bufala ou queijo de cabra em bolinhas
1/2 xícara de Oleaginosas trituradas, da sua preferência
Sal a gosto

Para o molho:
4 col de sopa de vinagre balsâmico
2 colheres de sopa de azeite
2 colheres de sopa de mel
 
Modo de Preparo:
Posicione o bowl ou a tigela no centro do prato.
Vá distribuindo as folhagens ao redor do bowl para formar a guirlanda. Salpique sal a gosto. 
Pegue os ramos de alecrim e vá colocando na lateral, para dafr aspecto de pinheiro natalino.
A ideia é que as bolinhas de queijo e os tomates imitem as bolinhas de natal. Então, distribua uniformemente ao longo da "guirlanda".
Depois espalhe as oleaginosas da sua preferência.

O molho é simples. Basta emulsionar o vinagre balsâmico com azeite e depois o mel.  Separe e coloque para ser servido à parte. 


Para quem ainda não leu os posts publicados:

Introdução à salada: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada.html

Princípios básicos da salada: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada-post-1-principios.html

Salada 1: Berinjela com castanha do Pará (ou castanha do Brasil), uva-passa e hortelã: 

https://www.nutrologogoiania.com.br/salada-1-berinjela-com-castanha-do-para-ou-castanha-do-brasil-uva-passa-e-hortela

Salada 2: Salada de inverno de abacate com frango cítrico: 

http://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-2-salada-de-inverno-de-abacate.html?m=0

Salada 3: Salada de inverno de rúcula: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-3-salada-de-inverno-de-rucula.html

Salada 4: Salada com legumes assados: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/07/salada-4-salada-de-legumes-assados.html

Salada 5: Salada de Picles de pepino com molho de alho:

 https://www.ecologiamedica.net/2023/04/salada-5-salada-de-picles-de-pepino-com.html

Salada 6: Salada vegana de lentilha crocante: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-6-salada-vegana-de-lentilha.html

Salada 7: Salada cítrica de grão de bico: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-7-salada-de-grao-de-bico-citrica.html

Salada 8: Salada de frango com molho pesto de abacate: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/08/salada-8-salada-de-frango-com-molho-de.html

Salada 9: Salada de berinjela com passas e amêndoas: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-9-salada-de-berinjela-com-passas.html?m=0

Salada 10: Salada com molho homus

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-10-salada-com-molho-homus.html

Salada 11: Salada de atum crocante: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/12/salada-11-salada-crocante-de-atum.html

Salada 12: Trigo cozido com especiarias

https://www.ecologiamedica.net/2024/02/salada-12-trigo-cozido-com-especiarias.html

Salada 13: Salada de Pequi com molho de mostarda e mel

https://www.ecologiamedica.net/2024/04/salada-13-salada-de-pequi-ao-molho-de.html

Salada 14: Salada de Quinoa com frango dourado

https://www.ecologiamedica.net/2024/05/salada-14-salada-de-quinoa-com-frango.html

Salada 15: Salada Waldorf

https://www.ecologiamedica.net/2024/05/salada-15-salada-waldorf.html

Salada 16: Salada de inverno cítrica

https://www.ecologiamedica.net/2024/06/salada-16-salada-de-inverno-citrica.html

Salada 17: Salada de inverno de cogumelos

https://www.ecologiamedica.net/2024/06/salada-17-salada-de-inverno-de-cogumelos.html

Salada 18: Salada Grega

https://www.ecologiamedica.net/2024/07/salada-18-salada-grega.html

Salada 19: Salada de Chicória (escarola) com páprica defumada

https://www.ecologiamedica.net/2024/08/salada-19-salada-de-chicoria-escarola.html

Salada 20: Salada de chicória com tahine

https://www.ecologiamedica.net/2024/08/salada-20-salada-de-chicoria-com-tahine.html

Salada 21: Salada de chicória com tofu amassado

https://www.ecologiamedica.net/2024/09/salada-21-salada-de-escarola-com-tofu.html

Salada 22: Tabule tradicional

https://www.ecologiamedica.net/2024/09/salada-22-tabule-tradicional.html

Salada 23: Salada Natalina em formato de guirlanda

https://www.ecologiamedica.net/2024/12/salada-23-salada-guirlanda-natalina.html

sábado, 14 de dezembro de 2024

Presente de Natal - Banco de questões de Nutrologia, resumos, guidelines

Preparei para alguns amigos um banco com mais de 1000 questões de Nutrologia, centenas de questões de provas de título anteriores. Na íntegra as de 2022, 2023 e 2024... Os guidelines mais recentes, editais passados, bem como a lista de aprovados desde 2014. Todos para download gratuitamente. Ao longo do ano alimentarei o drive com mais materiais. Objetivo: os alunos se preparem melhor para a prova de 2025. 

Para ter acesso ao drive: https://encurtador.com.br/qAJhs e solicite a senha no direct do meu instagram: @drfredericolobo

Para saber mais sobre o apadrinhamento, acesse: https://www.provadetitulodenutrologia.com.br/apadrinhamento-e-mentoria/


Para saber mais sobre o e-book: Tô na Nutro e agora, acesse: https://www.provadetitulodenutrologia.com.br/to-na-nutro-e-agora/

att

Dr. Frederico Lobo

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Parabéns aos aprovados na prova de título de Nutrologia de 2024

Foi publicado hoje o resultado dos aprovados na prova de título de Nutrologia de 2024. Esse ano somente duas afilhadas prestaram, porém, ambas foram aprovadas. http://abran.org.br/media/files/lista-de-aprovados-2024.pdf

Dra. Ana Gabriela Magalhães - Divinópolis - MG

Dra. Esthefânia Garcia de Almeida - Araxá - MG

Muito feliz pela aprovação de ambas. Participaram de praticamente todas as mentorias que realizei em 2023/2024. Destrincharam o edital, resolveram todo o banco de questões (mais de 1500 questões). Leram os mais de 600 Flashcards. Resultado: aprovação.

Em 2025 pelo menos 8 afilhados prestarão e espero novamente 100% de aprovação. O Brasil precisa de bons Nutrólogos.

Elaborei um drive com banco de questões, editais passados e lista de aprovados. Acesso gratuito. Clique aqui: https://encurtador.com.br/qAJhs

Att

Dr. Frederico Lobo


domingo, 1 de dezembro de 2024

Frutas, verduras e legumes: Dezembro

   


Por que consumir alimentos da safra? Existem vantagens?

Motivo 1: Se está na safra, provavelmente o preço está menor. Mais economia para o seu bolso.

Motivo 2: Tendem a ter maior densidade nutricional, a quantidade de nutrientes, em especial antioxidantes é maior, visto que, utiliza-se menos agrotóxicos e o vegetal precisa se adaptar a situações inóspitas (pragas, calor, frio, umidade, radiação solar, ventos). Ou seja, ele produz mais "defesas", nesse caso os polifenóis, que são antixodantes. Os alimentos da safra são colhidos no momento ideal de maturação, o que significa que estão no auge do seu sabor, textura e valor nutricional. Consumí-los garante que você esteja recebendo produtos frescos e de melhor qualidade.

Motivo 3: Safra = maior abundância. Provavelmente terá menos agrotóxicos (eu disse menos, não que não tenham). Se a está na safra, naturalmente naquela época do ano aquele alimento desenvolve mais facilmente. Não sendo necessário uso de agrotóxicos ou caso o agricultor utilize, a quantidade tende a ser menor. Menos agrotóxico, menos veneno. Em breve o Ministério da saúde publicará um guia sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Tema totalmente negligenciado na Medicina. 

Motivo 4: Os vegetais na safra são encontrados mais facilmente nas feiras e mercados. O Brasil é um país vasto e diversificado, com diferentes regiões climáticas que possibilitam o cultivo de uma grande variedade de alimentos ao longo do ano. Consumir alimentos da safra permite que você experimente uma ampla gama de frutas, legumes e verduras, aproveitando a diversidade da culinária brasileira.

Motivo 5: Sustentabilidade e apoio ao agricultores locais.  Consumir os alimentos da safra vigente é um ato de sustentabilidade, pois respeita o tempo da natureza e economiza energia e recursos extras de forma intensiva ou no transporte por diferentes distâncias. Escolher alimentos da safra muitas vezes significa apoiar práticas agrícolas mais sustentáveis. Como esses alimentos estão disponíveis localmente e não precisam ser transportados por longas distâncias, há uma redução significativa na pegada de carbono associada ao seu consumo. Além disso, os produtores locais que cultivam alimentos da safra geralmente empregam técnicas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente.  Comprar alimentos da safra de produtores locais contribui para fortalecer a economia da sua região. Ao apoiar os agricultores locais, você ajuda a manter empregos na comunidade e a promover um sistema alimentar mais justo e sustentável. 


Frutas de Dezembro
Abacaxi Pérola
Acerola
Ameixa nacional
Amora
Cereja estrangeira
Coco Verde
Figo
Framboesa
Graviola
Kiwi Estrangeiro
Laranja Pera
Lichia
Limāo Taiti
Maçã Fuji, Red Del e Granny Smith
Manga Haden, Palmer, Tommy
Maracujá Doce
Melancia
Melāo Amarelo
Nectarina nacional e estrangeira
Pêssego nacional
Romā
Uva Itália, Niagara, Rubi



Verduras e Legumes de Dezembro
Alho-poró
Abobrinha
Aspargos
Beterraba
Brócolis
Cenoura
Couve-bruxelas
Cogumelo
Endívias
Hortelã
Manjericão
Maxixe
Mostarda
Nabo
Palmito
Pepino
Pimentões
Rabanete
Rúcula
Salsa
Salsāo
Tomate

Autores
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915, CRM-SC 32.949, RQE 22.416
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Diagnóstico de diabetes é atualizado- Por Dra. Natália Jatene - Endocrinologista


O diabetes é uma condição de saúde crônica que tem impactado cada vez mais pessoas em todo o mundo, inclusive no Brasil, de acordo com a endocrinologista Dra Natália Jatene. 

A doença é caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose (açúcar) no sangue, que ocorre devido a problemas na produção ou ação da insulina, um hormônio essencial para o metabolismo energético do organismo. A insulina é responsável por permitir que a glicose entre nas células, onde será usada como fonte de energia. Quando há um desequilíbrio nessa função, os níveis de glicose no sangue ficam altos, gerando uma série de complicações ao longo do tempo.

Incidência e Prevalência

A incidência e a prevalência do diabetes têm crescido de forma alarmante nos últimos anos. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), atualmente mais de 16 milhões de brasileiros vivem com essa condição, e estima-se que cerca de 8% da população adulta seja afetada pela doença. Esse aumento é atribuído principalmente a mudanças no estilo de vida, como sedentarismo, má alimentação e aumento da obesidade, que são fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.

O diabetes é uma das principais causas de complicações como doenças cardiovasculares, amputações, cegueira e insuficiência renal. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com diabetes quadruplicou nas últimas décadas, com cerca de 422 milhões de adultos afetados globalmente. Isso mostra a necessidade urgente de medidas preventivas e de conscientização, além de um cuidado médico adequado para os que já convivem com a doença.

Sinais e Sintomas

Os sintomas podem variar dependendo do tipo da doença e da gravidade. No entanto, alguns sinais clássicos e iniciais podem indicar a presença da condição:
1. Poliúria (aumento da frequência urinária)
2. Polidipsia (sede excessiva):
3. Polifagia (fome excessiva):
4. Perda de peso inexplicável
5. Cansaço e fraqueza
6. Infecções frequentes

Além desses sinais, o diabetes tipo 2 pode ser assintomático em suas fases iniciais, o que torna o diagnóstico precoce mais difícil. Por isso, muitas vezes o diabetes tipo 2 só é descoberto quando surgem complicações mais graves, como problemas cardíacos, renais ou visão prejudicada.

Principais Tipos de Diabetes

Diabetes Tipo 1: É uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. A causa exata do diabetes tipo 1 não é conhecida, mas acredita-se que fatores genéticos e ambientais estejam envolvidos. Esse tipo é mais comum em crianças, adolescentes e jovens adultos, e os sintomas costumam aparecer rapidamente.


Diabetes Tipo 2: Este é o tipo mais comum, representando cerca de 90% dos casos. Ele ocorre devido à resistência à insulina, onde as células não respondem adequadamente ao hormônio, além de uma produção insuficiente de insulina. O tipo 2 está fortemente associado ao excesso de peso, sedentarismo e fatores genéticos.

Diabetes Gestacional: Esse tipo ocorre durante a gravidez e é caracterizado pela hiperglicemia (alta concentração de glicose no sangue) que surge pela primeira vez durante a gestação. Ele aumenta o risco de complicações tanto para a mãe quanto para o bebê, e a mulher que teve diabetes gestacional tem mais chances de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro.

Outros Tipos de Diabetes: Há outros tipos menos comuns, que podem ser causados por condições genéticas, uso de medicamentos como corticosteroides, doenças do pâncreas e algumas síndromes endócrinas.

Fisiopatologia do Diabetes

A fisiopatologia do diabetes varia de acordo com o tipo. No diabetes tipo 1, o sistema imunológico destrói as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Com isso, há um déficit absoluto de insulina, o que impede o transporte da glicose para as células. No diabetes tipo 2, o problema é a resistência das células à insulina e uma secreção inadequada do hormônio pelo pâncreas. A insulina é produzida, mas as células do corpo não conseguem responder a ela adequadamente, o que resulta na permanência de glicose elevada no sangue.

No diabetes gestacional, acredita-se que os hormônios da placenta criem uma resistência temporária à insulina, comprometendo o controle da glicose durante a gravidez. O controle inadequado desses níveis pode trazer consequências graves tanto para a mãe quanto para o bebê, como macrossomia fetal (bebês muito grandes), hipertensão e risco de pré-eclâmpsia.

Diagnóstico do Diabetes

As novas diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) de 2024 introduziram mudanças importantes nos critérios diagnósticos do diabetes mellitus (DM) e pré-diabetes, destacando avanços para uma detecção mais precoce da condição:

Principais atualizações:
Incorporação do TTGO-1h:
A glicemia de 1 hora após a ingestão de 75 g de glicose no Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG, agora chamado TTGO) foi incluída nos critérios diagnósticos:
Diabetes: ≥ 209 mg/dL.
Pré-diabetes (hiperglicemia intermediária): 155-208 mg/dL.
Este critério é mais sensível e prático que o de 2 horas, permitindo diagnóstico precoce e intervenções mais eficazes.

Critérios diagnósticos revisados:
Glicemia de jejum: ≥ 126 mg/dL.
HbA1c: ≥ 6,5%.
Glicemia ao acaso com sintomas típicos: ≥ 200 mg/dL.
Glicemia após 2h no TTGO: ≥ 200 mg/dL.

Recomendações para rastreamento do Diabetes:
Indicado a partir dos 35 anos ou em indivíduos mais jovens com sobrepeso/obesidade e ao menos um fator de risco adicional (ex.: histórico familiar, hipertensão, dislipidemias, sedentarismo, SOP, entre outros).
Uso do questionário FINDRISC para avaliar o risco de diabetes tipo 2 em pessoas com menos de 35 anos, complementando a triagem.

Reforço na confirmação diagnóstica:
Exige-se a repetição de qualquer exame alterado, salvo em casos específicos (ex.: combinação de glicemia de jejum elevada e HbA1c ≥ 6,5%).
Essas mudanças visam ampliar a precisão e a praticidade no diagnóstico, além de permitir intervenções preventivas mais cedo, reduzindo riscos de complicações graves associadas a condição

Tratamento e Importância do Endocrinologista

O tratamento da doença varia conforme o tipo e a gravidade da condição. Para o diabetes tipo 1, a única opção de tratamento é a insulina, que pode ser administrada por injeções ou bombas de insulina. Já o diabetes tipo 2 pode ser tratado com mudanças no estilo de vida, medicamentos orais (como metformina) e, em alguns casos, com insulina ou outros injetáveis, caso o controle glicêmico não seja atingido com as medicações orais.

Nos últimos anos houve um grande avanço no tratamento da hiperglicemia , com medicamentos que trazem benefícios além do controle glicêmico como a redução do peso , mortalidade cardiovascular, impedir progressão de doença renal e também em tratar a doença gordurosa do fígado

O desconhecimento dos sintomas, e os inúmeros mitos e estigmas que envolvem a doença muitas vezes levam o paciente a não buscar atendimento especializado em tempo hábil de se prevenir as complicações

O médico endocrinologista é de fundamental importância no diagnóstico e acompanhamento da doença pois o tratamento requer monitorização contínua e a realização de exames periódicos para avaliar o controle glicêmico e a presença de complicações. O endocrinologista também orienta o paciente sobre a importância de aderir ao tratamento, manter uma alimentação saudável, praticar atividade física e realizar a automonitorização da glicose, especialmente para os que usam insulina.

A Importância do Estilo de Vida e Prevenção

Para prevenção as mudanças no estilo de vida são essenciais. Uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais e grãos integrais, ajuda a manter o peso adequado e reduz o risco de resistência à insulina. A prática regular de atividade física, de preferência 150 minutos semanais de atividades aeróbicas, também é recomendada. Para aqueles com histórico familiar ou que apresentem fatores de risco, como obesidade ou hipertensão, a realização de exames periódicos pode ajudar a identificar precocemente a condição e prevenir complicações.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

No Brasil, ultraprocessados causam perda anual de pelo menos R$ 10 bilhões - Por Meghie Rodrigues (O Joio e O Trigo)

Novo estudo calcula custos relativos a mortes e doenças relacionadas ao consumo de biscoitos, salgadinhos, macarrão instantâneo, sorvete e companhia O aumento no consumo de produtos ultraprocessados está gerando um custo bilionário à economia brasileira. 

Mais especificamente, o Brasil perde R$ 10,4 bilhões todos os anos com mortes e doenças agravadas pela ingestão contínua de ultraprocessados. Esta é a principal conclusão de um relatório lançado nesta quinta-feira (21) pela ACT Promoção da Saúde, organização que atua na defesa de políticas de saúde pública. 

Segundo o estudo, quase o total desse montante (R$ 9,2 bilhões) responde pelas perdas econômicas causadas pela morte prematura de pessoas em idade produtiva, o que gera uma baixa no mercado de trabalho. 

O número reforça os achados de um estudo publicado em 2022 no American Journal of Preventive Medicine, que estimou a morte de 57 mil brasileiros por ano por doenças intimamente ligadas com o consumo de ultraprocessados. 

O número corresponde a 10,5% das mortes por todas as causas no país. Os achados foram novidade até para quem esteve à frente do estudo. “A parte dos custos nos surpreendeu bastante porque estamos falando de apenas 20% das calorias vindo de ultraprocessados — o impacto que isso tem no aumento de fatores de risco é muito maior proporcionalmente falando,” diz o biólogo Eduardo Nilson, autor do relatório e pesquisador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) e da Fiocruz Brasília. Ele também é autor do estudo que estimou as 57 mil mortes. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2017-2018 mostram que cerca de 20% calorias consumidas pelo brasileiro adulto — ou 400 em uma dieta de 2.000 calorias diárias — vêm de produtos ultraprocessados. 

O consumo desses produtos entre os brasileiros aumentou 5,5% na última década. “Quando se fala de consumo de ultraprocessados, falamos da proporção em média que estes produtos ocupam na dieta do brasileiro”, explica Deborah Carvalho Malta, professora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em inquéritos epidemiológicos, Malta coordenou o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) entre 2006 e 2015.[1]  

Fechando a conta dos R$ 10,4 bilhões em perdas, o estudo também estimou que hospitalizações, procedimentos ambulatoriais e farmácia popular geram um custo de quase R$ 1 bilhão por ano (R$ 933,5 milhões) ao Sistema Único de Saúde, o SUS. Além disso, ainda há os custos previdenciários — de aposentadorias precoces e licenças médicas — e os custos por absenteísmo, causados por internações e licenças médicas: somam R$ 263,2 milhões ao ano. 

O prejuízo totalizado, segundo o estudo, é duas vezes o valor investido anualmente no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e 300 vezes o que é investido no programa de Cozinhas Solidárias.

Para ler a reportagem completa acesse o site do O Joio e O trigo: https://ojoioeotrigo.com.br/2024/11/no-brasil-ultraprocessados-custam-r-10-bilhoes-aos-cofres-publicos/


terça-feira, 19 de novembro de 2024

Ozempic e Mounjaro ganham versão manipulada: é seguro? Pode ou não pode?

Mas antes de explicar, sugiro que você me siga no instagram: @drfredericolobo para mais informações de qualidade em Nutrologia e Medicina. Lá, posto principalmente nos stories, informação de qualidade e no feed, junto com meus afilhados postamos sobre vários temas. Caso queira agendar consulta presencial ou por telemedicina, clique aqui.

 

Link para a reportagem: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2024/11/11/versoes-manipuladas-de-ozempic-e-mounjaro-sao-cercadas-de-polemica-entenda.htm

Horas sentado, anos perdidos: malefícios do comportamento sedentário

 Quando se fala em evolução da espécie, a primeira imagem que vem à cabeça de muita gente é aquela representação em fileira que vai do macaco até o homem moderno, da esquerda para a direita.

Nos últimos tempos, porém, artistas resolveram atualizar a figura que encerra a linha, colocando um sujeito à frente de um computador. 

O desenho contém imprecisões científicas, mas tem lá seu fundinho de verdade, ao menos ao expor um dos hábitos mais frequentes do ser humano no século 21: ficar sentado.

Se olharmos pelo retrovisor da história biológica, veremos que nosso corpo não foi projetado para o imobilismo.

Pois é, pode parecer um tanto mais cômodo, mas horas e horas numa cadeira cobrarão um preço da saúde. E aí, já parou para pensar como anda sua rotina de trabalho e lazer e como ela repercute no organismo?




Medicamentos para obesidade podem ajudar a reduzir o consumo de álcool

Pontos principais:

Medicamentos para obesidade, juntamente com um programa de telessaúde, podem reduzir o consumo de álcool dos pacientes.

A redução no consumo de álcool foi especialmente notada entre aqueles com maior peso corporal e aqueles que bebiam mais no início do estudo.

SAN ANTONIO — Medicamentos para obesidade, independentemente da classe ou geração, foram associados à redução do consumo de álcool entre indivíduos participantes de um programa de perda de peso por telessaúde, de acordo com uma apresentação feita por uma palestrante.

Durante o evento ObesityWeek, Michelle I. Cardel, PhD, MS, RD, FTOS, diretora de nutrição da Weight Watchers e professora adjunta da Universidade da Flórida, apresentou dados indicando que pessoas envolvidas em um programa de manejo da obesidade por telessaúde que receberam prescrição de medicamentos para perda de peso relataram beber menos álcool. A redução foi especialmente observada entre mulheres, indivíduos com maior peso corporal e aqueles que apresentavam altos níveis de consumo de álcool no início do estudo.

“Anedoticamente, ouvimos de pacientes que eles simplesmente não tinham mais interesse em álcool. Seus desejos haviam diminuído. Quando bebiam, sentiam-se muito mal e relataram que estavam bebendo muito menos do que antes de iniciar os medicamentos para obesidade. Principalmente, isso foi relatado por pacientes em medicações GLP-1, como semaglutida ou tirzepatida,” disse Michelle I. Cardel ao Healio. “Então, ficamos curiosos. Avaliamos o consumo de álcool em nosso protocolo clínico inicial. E se começarmos a avaliá-lo após o início do tratamento e verificarmos as mudanças? 

Quando analisamos os dados, ficamos realmente surpresos ao ver que a maioria das pessoas estava reduzindo o consumo de álcool. Isso ocorreu em todas as classes de medicamentos para obesidade. Achávamos que veríamos isso apenas com os GLP-1 devido ao efeito nos centros de adição no cérebro. Ficamos muito surpresos ao observar esse efeito também com medicamentos como naltrexona ou metformina.”

Todos os participantes desta análise estavam inscritos em um programa de manejo de peso por telessaúde e iniciaram um medicamento para obesidade entre janeiro de 2022 e agosto de 2023, com reposição do mesmo medicamento entre outubro e novembro de 2023.
No início do estudo, 14.053 participantes forneceram informações sobre idade, sexo, raça, altura, peso e consumo semanal de álcool, sendo novamente avaliados no momento da reposição da medicação.

No geral:
4% dos participantes estavam usando metformina.
5% estavam em bupropiona/naltrexona (Contrave, Nalpropion Pharmaceuticals).
Menos de 7% estavam usando agonistas de receptor GLP-1 de primeira geração, como liraglutida (Saxenda ou Victoza, Novo Nordisk) ou dulaglutida (Trulicity, Eli Lilly).
A maioria usava GLP-1 de segunda geração:
44% em tirzepatida para diabetes (Mounjaro, Eli Lilly).
13% em semaglutida injetável 0,5 mg, 1 mg ou 2 mg (Ozempic, Novo Nordisk).
Menos de 1% em semaglutida oral 7 mg ou 14 mg (Rybelsus, Novo Nordisk).
28% em semaglutida injetável 2,4 mg (Wegovy, Novo Nordisk).
Menos de 1% em tirzepatida para perda de peso (Zepbound, Eli Lilly).

Cardel e colegas observaram uma redução significativa no consumo semanal de álcool em todas as classes de medicamentos para obesidade, com 45% a 51% dos participantes relatando menor consumo semanal de álcool (P para todos < .0001).

Comparados às mulheres, os homens tiveram menor probabilidade de reduzir o consumo semanal de álcool (OR ajustada = 0,74; IC 95%, 0,64-0,85; P < 0,0001), mas não houve diferenças de acordo com idade ou raça/etnia, de acordo com a apresentação.

Em comparação com indivíduos classificados como sobrepeso, maior classe de obesidade inicial foi associada a uma maior probabilidade de reduzir o consumo de álcool:
classe de obesidade I (OR ajustada = 1,26; IC 95%, 1,07-1,48; P = 0,0045);
classe de obesidade II (OR ajustada = 1,49; IC 95%, 1,26-1,77; P < 0,0001); e
classe de obesidade III (OR ajustada = 1,63; IC 95%, 1,36-1,96; P < 0,0001).

Além disso, em comparação com indivíduos que bebiam menos no início do estudo — uma a três doses por semana para mulheres e uma a seis doses por semana para homens — aqueles que relataram maior consumo de álcool inicial tiveram maior probabilidade de reduzir o consumo enquanto usavam um medicamento para obesidade (OR ajustada = 5,97; IC 95%, 5,17-6,91; P < 0,0001), especialmente os com níveis mais altos de consumo semanal (OR ajustada para pelo menos sete doses por semana para mulheres e 15 doses por semana para homens = 19,18; IC 95%, 13,25-28,86; P < 0,0001).

“Ficamos muito surpresos ao ver essa redução em todas as diferentes classes de medicamentos para obesidade,” disse Cardel ao Healio. “Isso levanta a questão: será que é um efeito fisiológico exclusivo dos medicamentos ou é o fato de que, quando as pessoas estão em uma jornada de manejo de peso, as estratégias de mudança comportamental incorporadas para reduzir a ingestão calórica acabam também diminuindo o consumo de álcool? Ou seria uma combinação de ambos? Precisamos de pesquisas futuras com estudos randomizados e controlados por placebo para realmente conseguir diferenciar os efeitos dos medicamentos isoladamente das estratégias que as pessoas adotam ao tentar perder peso.”

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Minha experiência com o Vipassana

Novembro de 2018 embarquei em uma aventura com meu melhor amigo. Somos amigos desde 2003 e há anos planejávamos participar do Vipassana no interior de São Paulo. 

Mas afinal, o que é Vipassana e por que resolvemos fazer?

O Vipassana é uma técnica de meditação redescoberta por Buda (Gotama) há mais de 2.500 anos. Significa “ver as coisas como realmente são”, que busca erradicar o sofrimento humano por completo, trata-se de uma arte de viver.

Já tinha feito alguns cursos de meditação ao longo da vida, mas fazer Vipassana era um desafio. Mas por qual motivo? Porque para aprender vipassana é necessário um curso completo de 10 dias! Ou seja, eu tive que decidir abdicar de 10 dias da minha vida, e, além disso, 10 dias em silêncio em um Centro de Meditação em Santana de Parnaíba. 

Mas mais do que apenas silêncio, no Vipassana não podemos nos comunicar com gestos e nem olhares. Ou seja, cada um em sua vivência. 

Então fomos. Saímos de Goiânia e descemos em Guarulhos. De lá um Uber nos levou para Santana de Parnaíba. Uma propriedade rural em meio a uma mata fechada. Entregamos nossos pertences, incluindo celular, livros ou qualquer forma de distração. 

A programação diariamente era essa:

4:00 -  Tocava o sino para acordamos.
05:00 - Sentavamos na cama e ficávamos meditando no quarto
6:30 - 8:00h - Nos dirigíamos para tomar o café da manhã vegetariano;  
8:00 - 9:00h - Dirigíamos para a sessão de meditação em grupo no salão coletivo. Mulheres de um lado e homens do outro.
11:00 - 12:00h - Almoçávamos no refeitório, lavávamos os pratos e depois nos dirigíamos para a meditação no quarto ou na sala, segundo instruções do professor;
13:00 - 14:30h - Meditávamos na sala ou no quarto;
14:30 - 15:30h - Sessão de meditação em grupo no salão;
15:30 - 17:00h -  Meditação na sala ou no quarto segundo instruções do professor;
17:00 - 18:00h - Pausa para o chá no refeitório. Lanche vegano, sendo a última refeição do dia;
18:00 - 19:00h  - Sessão de meditação em  grupo no salão;
19:00 - 20:15h - Palestra;
20:15 - 21:00h - Sessão de meditação em  grupo no salão;
21:00 - 21:30h  - Horário para perguntas públicas no salão de meditação (sobre a palestra da noite e também sobre a técnica);
21:30h - Hora de se recolher para o quarto;
22:00h - Apagar das luzes.  

Alimentação vegetariana muito saborosa, com pouco sal, sem cebola e sem alho. Sendo que a última refeição era o lanche às 17:00. Depois somente no outro dia, no café da manhã. Ou seja, jejum em média de 14 horas. 


Algumas regras do espaço, ou seja, diretrizes (silas) que todos os alunos concordam em seguir:
  • Não matar qualquer ser (incluindo insetos e outros animais);
  • Abster-se de roubar;
  • Abster-se de qualquer atividade sexual;
  • Abster-se de mentir;
  • Abster-se de usar qualquer intoxicante (salvo remédios prescritos).
  • Observar o nobre silêncio: não é permitido conversar, fazer gestos, comunicar com olhares ou mandar bilhetes para os outros colegas. Qualquer problema deveríamos conversar com os instrutores. 
  • Durante a meditação, tínhamos que seguir as instruções e orientações exatamente como eram dadas. 
  • Não podíamos ter nenhuma outra prática espiritual ou religiosa. A justificativa era que assim sentiríamos os benefícios de Vipassana de forma justa e pura. Aqui se inclui canto de mantras, queima de incensos, Yoga, jejum, orações.
  • Separação de homens e mulheres, isso ocorria em todos os ambientes, começando no 1º dia e terminando no último.  
  • Abster-se de contato físico com qualquer pessoa;
  • Não podíamos praticar nenhum exercício físico além da caminhada. 
  • Não podíaos usar objetos religiosos: terços, japamalas, cristais, imagens.
  • Proibido tabaco ou qualquer substância. 
  • A nossa vestimenta tinha que ser simples, confortavel e com cores claras. 
Os alunos antigos (aqueles que já concluíram o curso de 10 dias) devem seguir mais três preceitos:
Não comer após o meio-dia;
Não usar adereços;
Não dormir em camas elevadas.


E por que resolvi fazer?

Testar meus limites e aprender uma nova técnica de meditação. Ver como meu corpo e cérebro funcionaria. 

O que achei?

Experiência incrível. Pensei que fosse enlouquecer com aquele silêncio. O jejum me fez perder muito líquido. O sono ficou muito profundo. Insights surgiram da hora que eu acordava até a hora de dormir. Refleti sobre o meu propósito de vida, sobre meus planos. Foi uma experiência surreal. Porém, na noite do 5º dia, após o instrutor dar uma coordenada da técnica, achei que não fosse conseguir e desisti. 

Informei o instrutor, comuniquei meu amigo, pedi o Uber, 23:00 já estava em Goiânia. 

Vale a pena?

Muito. Quero tentar concluir os 10 dias, pois, descobri que a coordenada não era tão impossível. Meu amigo terminou os 10 dias e achou burrice eu ter desistido. 

Qual o custo?

Não tem valor específico. Cada um dá o quanto pode. 

Como participar?

Fazer a inscrição no site, meses antes e aguardar. https://www.dhamma.org/pt-BR/schedules/schsarana

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Afilhados aprovados na seleção de 2025

Os afilhados aprovados na seleção de apadrinhamento em 2025 foram:

1) Caroline Abbud - Médica 
2) Gabriel Barbosa - Médico

Ambos serão treinados até passarem na prova de título de Nutrologia.

Próxima seleção: de 10/10/2025 a 13/11/2025

Link para participar da seleção: https://forms.gle/RfoBAy8StUMwNo9YA

No momento os meus afilhados são:

1. Adrielly Cunha – Médica em Goiânia – GO: @adriellyocunha

2. Alexis Souza – Especializando em Nutrologia (USP) em São Paulo – SP

3. Aline Rocha Lima - Médica Oncologista em São Paulo - SP

4. Ana Carolina Baminger – Médica em Ji-Paraná – RO: @Anacarolinabaminger

5. Ana Gabriela De Magalhães – Médica especialista em Clínica Médica em Divinópolis – MG: @Draanagabriela_Magalhaes

6. Ana Carolina Miranda – Médica especialista em Endocrinologia em Recife – PE

7. Ana Paula Pires Lázaro – Médica especialista em Clínica Médica e Endocrinologia em Fortaleza – CE: @Dra_Anapaulalazaro

8. Camila Duarte Froehner (Monitora) – Médica especialista em Clínica Médica e Nutróloga em Lages – SC – @dra.camila_froehner

9. Carla Letícia Rigo Grzybowski – Médica especialista em Clínica Médica e Medicina Intensiva em Porto Alegre – RS: @Carlagrzybowski

10. Caroline Abbud – Médica em São Paulo – SP: @carolineabbud

11. Edite Magalhães (Monitora) – Médica especialista em Clínica Médica e Nutróloga em Recife – PE – @draeditemagalhaes

12. Emanoel Junio Eduardo – Médico especialista em Medicina de família e comunidade e especializando em Nutrologia USP – São Paulo – DF: @Emanoelje

13. Esthefânia Garcia De Almeida – Médica especialista em Clínica Médica e Endocrinologia em Araxá – MG: @Draesthefaniagalmeida

14. Fausto Mota – Médico e Nutricionista em Curitiba – PR

15. Gabriel Henrique Barbosa – Médico em São Paulo – SP: @drgabrielhbarbosa

16. Harla Dalferth – Médica Nutróloga em São Paulo – SP

17. Helena Bacha (Monitora) – Médica especialista em Nutrologia – São Paulo SP

18. Jhony Willians – Médico Endocrinologista em Maceió – AL – @drjhonywgusmao

19. Lara Virginia Lordello Melo – Médica especialista em Clínica Médica em São Paulo – SP: @Lara_Lordello_Melo

20. Lia Bataglini – Médica especialista em Nutrologia – São Paulo SP

21. Lourdes Menezes – Médica especialista em Clínica Médica em São Paulo – SP: @Lourdes.Menezes__

22. Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional de Educação física - Joinville - SC

23. Marta Maria Coelho De Sousa –Médica em São Paulo – SP: @Marta.Coelhoo

24. Rodrigo Serrano – Médico em João Pessoa – PB – @rodserranoandrade

25. Paulo Victor Quinan – Médico Residente de Oncologia clínica – Goiânia – GO

26. Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional de Educação física - Goiânia - GO

27. Vanessa Sinnott Esteves – Médica Nutróloga e especialista em Clínica Médica em Porto Alegre – RS: @Dravanessanutro


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Grupo NUTROpdfs

Grupo de educação continuada em Nutrologia, criado pelos membros do Movimento Nutrologia Brasil: https://t.me/+QbffHC2qvqxhODkx

Nosso site: https://movimentonutrologiabrasil.com.br/

Instagram: @nutrologiabrasil

Curso de Nutrologia para acadêmicos: @cursodenutrologia