terça-feira, 20 de maio de 2025
A relação entre a alimentação e o ganho de músculos: mitos e dicas
Assim como boa parte das disciplinas da saúde, a nutrição padece de grande vulnerabilidade a evidências anedóticas. Como todos nós nos alimentamos, a crença comum de que “se funcionou para mim, funcionará para você também” se intensifica, facilitando a propagação dos tão disseminados “mitos da nutrição”. Contribui para isso, um importante viés de confirmação presente em boa parte da população, que opta por seguir o caminho mais fácil e buscar informações em fontes que validem seus comportamentos ou crenças, independente do embasamento científico ou da qualificação profissional de quem as propaga.
Além disso, há outro problema: a nutrição não é uma ciência exata, o que significa que novas diretrizes são periodicamente revistas e/ou estabelecidas em função do avanço da ciência, gerando ainda mais confusão entre a população geral. Isso reforça o comportamento de consumo de conteúdos paralelos e menos confiáveis, aumentando ainda mais o descrédito dos profissionais da área, frequentemente vistos como inacessíveis ou excessivamente complexos.
Um dos tópicos mais estudados na nutrição é justamente o que mais atrai pessoas às academias ao redor do mundo: o papel da nutrição no ganho de massa muscular. Dentro e fora dos consultórios e academias, o objetivo predominante é sempre o mesmo: perder gordura e ganhar massa muscular. É importante destacar que a massa muscular desempenha papel fundamental na nossa saúde, longevidade e qualidade de vida, embora boa parte das pessoas limite-se ao seu impacto estético subjetivo.
Independentemente disso, o ganho de massa muscular sofre influência de vários fatores, destacando-se dois principais: o estímulo mecânico provido pelo exercício e a alimentação adequada. Partindo do pressuposto de que o indivíduo está sendo bem orientado em relação ao seu programa de exercícios, o próximo passo é avaliar e ajustar a alimentação. Cabe enfatizar que cada um dos macronutrientes da nossa dieta, conhecidos como carboidratos, gorduras e proteínas, desempenham um papel específico e igualmente fundamental; nenhum é “vilão ou mocinho”. Um bom planejamento alimentar contemplará a quantidade, distribuição, formas de preparo, fontes, entre outros desses macronutrientes, sempre levando em conta crenças, rotinas, cultura e preferências pessoais. Em casos específicos, avaliar a necessidade de suplementos alimentares que podem ajudar nos ajustes necessários para a adequada ingestão destes nutrientes pode ser necessário.
Boa parte das dúvidas surgem justamente nessa última etapa. É, por exemplo, na distribuição dos macronutrientes que aparecem alguns dos modismos nutricionais, as novas tendências e as dietas da vez. A seguir, abordaremos os principais mitos propagados atualmente, explicando de forma simplificada as limitações que os tornam falsos.
Veganos e Proteínas
A afirmação de que “veganos não consomem proteínas suficientes para o ganho de massa muscular” é amplamente difundida, mas incorreta. Embora a dieta vegana exclua fontes de proteína animal, ela oferece uma ampla variedade de fontes vegetais ricas em proteínas que, quando combinadas adequadamente, podem suprir plenamente as necessidades de quem busca o ganho de massa muscular.
É verdade que as fontes animais tendem a ter um perfil de aminoácidos mais completo, ou seja, contêm todos os aminoácidos essenciais em proporções adequadas para a construção muscular. Por outro lado, muitas fontes vegetais, quando avaliadas isoladamente, podem não ser tão completas. No entanto, é nesse ponto que o planejamento nutricional se torna essencial. Ao combinar diferentes fontes vegetais, como arroz e feijão, é possível obter um perfil completo de aminoácidos, garantindo que as necessidades proteicas sejam atendidas, permitindo que veganos ganhem massa muscular.
Recentemente, um estudo publicado por um grupo de pesquisa da USP demonstrou que em comparação a onívoros (indivíduos que consomem produtos animais), veganos não tem qualquer desvantagem para ganhar músculos em resposta a um programa de exercícios, uma vez que suas dietas sejam adequadas para atender a demanda total de proteína. O mesmo grupo também mostrou, ao avaliar a dieta de mais de 700 veganos no Brasil, que a grande maioria deles atende às recomendações básicas de consumo proteico e de aminoácidos essenciais.
Jejum Intermitente
Há anos, o jejum intermitente tem sido promovido como uma estratégia milagrosa para alcançar a tão desejada perda de gordura e o ganho simultâneo de massa muscular. No entanto, a ideia de que ele é superior a outros métodos ou dietas para esses objetivos não encontra respaldo na literatura científica. Veja, não se afirma que o jejum intermitente seja ineficaz, mas sim que ele não se destaca em relação a outras abordagens.
A ciência parece congruente em apontar que a principal razão para a perda de peso em qualquer estratégia nutricional é o déficit calórico – ou seja, consumir menos calorias do que se gasta. O jejum intermitente pode facilitar esse processo ao restringir a janela de alimentação, mas o mecanismo de perda de gordura não difere significativamente de outras estratégias, como a restrição calórica contínua.
No que se refere ao ganho de massa muscular, além de não ser superior, o jejum intermitente pode ser até menos eficaz que outras abordagens. Isso ocorre porque a limitação da janela de alimentação pode dificultar o consumo adequado de proteínas e calorias, essenciais para otimizar o ganho muscular, especialmente em indivíduos que buscam hipertrofia. Portanto, apesar de ser uma estratégia válida em alguns casos, o jejum intermitente pode impor obstáculos ao ganho de massa muscular, tornando o processo menos prazeroso, eficiente e duradouro, caso haja restrições alimentares por longos períodos.
Suplementos Proteicos e BCAA
Há décadas os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs: leucina, isoleucina e valina) têm sido amplamente comercializados sob a premissa de aumentar a síntese proteica e, consequentemente, otimizar o ganho de massa muscular. No entanto, as evidências científicas não sustentam essas alegações, já que grande parte desse argumento se baseia na extrapolação das propriedades bioquímicas desses aminoácidos, e não sobre seus efeitos clínicos.
Os BCAAs — em particular a leucina -, podem, de fato ativar vias de crescimento muscular. No entanto, a ingestão de proteínas completas não só é significativamente mais eficaz na ativação destes mecanismos quanto necessária para a construção muscular, pois fornecem todos os aminoácidos essenciais, e não apenas os três que compõem os BCAAs. Sem uma quantidade adequada e variada de TODOS os aminoácidos essenciais, não é possível, de fato, construir músculos.
Já sobre os suplementos proteicos (por exemplo whey, albumina, caseína ou soja), é importante destacar que seu consumo só se justifica em situações onde o consumo de proteínas não pode ser alcançado via dieta, ou há necessidade específica de complementação da alimentação habitual. Mesmo assim, e ao contrário do que os “influencers” de plantão gostariam que você acreditasse, o aumento do consumo proteico não possui propriedades miraculosas. Ele, sozinho, não é responsável por ganhos “instagramáveis” de massa muscular, servindo muito mais como adjuvante ao processo e com resultados bem mais modestos do que os rótulos de suplementos, e boa parte dos profissionais, normalmente sugerem.
Creatina e ganho de massa muscular
A creatina, ao contrário da maioria dos produtos comercializados, é um suplemento amplamente respaldado por evidências científicas e tem ganhado destaque por seus efeitos positivos no desempenho físico, especialmente em modalidades que dependam de força e potência. Ao aumentar a disponibilidade de fosfocreatina, um composto essencial para a rápida regeneração de energia, a suplementação com creatina permite que sustentemos esforços de alta intensidade por períodos ligeiramente mais longos, ou que consigamos manter maiores intensidades médias de exercício em condições de intermitência (esforços caracterizados por múltiplos estímulos de exercício de alta intensidade intercalados por intervalos de recuperação). Esse mecanismo pode potencializar indiretamente os ganhos de massa muscular, já que otimiza o estímulo do exercício, este sim responsável direto pelos ganhos de massa muscular. Desta forma, a creatina se torna uma opção atrativa para aqueles que desejam aumentar tanto o desempenho como o volume muscular.
Apesar de sua eficácia comprovada, muitos mitos sobre a creatina ainda são disseminados. Um dos mais comuns é a ideia de que a creatina causa danos aos rins. A literatura científica mostra, porém, que o uso de creatina nas doses recomendadas, de 3 a 5 gramas por dia, é seguro, mesmo a longo prazo, não se associando a problemas renais ou a qualquer outra piora de parâmetros clínicos. Cumpre destacar que o uso de creatina por pacientes portadores de doenças renais não é indicado, já que não há estudos sobre sua segurança para essa população. Outro mito bastante difundido é que a creatina pode causar desidratação, cãibras musculares ou problemas gastrointestinais. Entretanto, esses efeitos também foram refutados por diversas pesquisas e tais alegações não encontram respaldo científico. O que de fato ocorre, mas que não deve ser compreendido como um efeito negativo, é um possível e esperado aumento do volume hídrico dentro da célula muscular já que a creatina é lá armazenada. Esse efeito pode refletir no aumento de peso corporal que pode variar desde poucos gramas até 1-3 kg. Entretanto, esse aumento de peso não deve ser confundido com aumento de massa muscular ou de gordura, sendo resultado apenas do aumento da incorporação de água dentro da célula muscular a fim de equilibrar a osmolaridade do meio.
Embora muitos dos mitos populares sobre nutrição e treinamento sejam atraentes ao grande público, é crucial basear as condutas clínicas sobre Nutrição em evidências científicas. A nutrição esportiva, quando bem aplicada, pode otimizar o desempenho e os resultados desejados, seja no contexto de uma alimentação vegana, com o ajuste correto de proteínas, ou no uso de estratégias como o jejum intermitente e a escolha de suplementos específicos. Compreender os princípios da alimentação e treinamento e desmistificar as informações errôneas são passos fundamentais para alcançar objetivos de forma eficaz e saudável. Portanto, a educação contínua e o acompanhamento com profissionais qualificados são essenciais para uma abordagem bem-sucedida e informada para o ganho saudável de massa muscular.
Referências bibliográficas
1. Hevia-Larraín V, Gualano B, Longobardi I, Gil S, Fernandes AL, Costa LAR, et al. High-Protein Plant-Based Diet Versus a Protein-Matched Omnivorous Diet to Support Resistance Training Adaptations: A Comparison Between Habitual Vegans and Omnivores. Sports Med. 1o de junho de 2021;51(6):1317–30.
2. Leitão AE, Esteves GP, Mazzolani BC, Smaira FI, Santini MH, Santo André HC, et al. Protein and Amino Acid Adequacy and Food Consumption by Processing Level in Vegans in Brazil. JAMA Netw Open. 24 de junho de 2024;7(6):e2418226.
3. Calorie Restriction with or without Time-Restricted Eating in Weight Loss | New England Journal of Medicine [Internet]. [citado 18 de setembro de 2024]. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2114833
4. Jackman SR, Witard OC, Philp A, Wallis GA, Baar K, Tipton KD. Branched-Chain Amino Acid Ingestion Stimulates Muscle Myofibrillar Protein Synthesis following Resistance Exercise in Humans. Front Physiol [Internet]. 7 de junho de 2017 [citado 18 de setembro de 2024];8. Disponível em: https://www.frontiersin.org/journals/physiology/articles/10.3389/fphys.2017.00390/full
5. Kreider RB, Kalman DS, Antonio J, Ziegenfuss TN, Wildman R, Collins R, et al. International Society of Sports Nutrition position stand: safety and efficacy of creatine supplementation in exercise, sport, and medicine. J Int Soc Sports Nutr. 13 de junho de 2017;14(1):18.
Autores:
Felipe Marticorena
Hamilton Roschel
Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da Escola de Educação Física e Esporte e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
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Dr. Frederico Lobo
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segunda-feira, 5 de maio de 2025
Qual o melhor exercício físico para o diabético ? Por Dra. Lia Bataglini (Nutróloga)
O exercício físico é uma parte essencial do manejo do diabetes, sendo importante tanto para o controle glicêmico quanto para a redução dos riscos cardiovasculares e melhora do bem-estar geral. Além disso, o exercício auxilia na perda de peso e na prevenção de complicações relacionadas ao diabetes.
Recomendações gerais
Adultos com Diabetes Tipo 1 e Tipo 2: Devem realizar ao menos 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada a vigorosa por semana, distribuídos em pelo menos três dias, sem mais de dois dias consecutivos sem atividade. Para indivíduos fisicamente aptos, 75 minutos semanais de exercício vigoroso ou intervalado podem ser suficientes.
Treinamento Resistido: Deve ser realizado 2–3 vezes por semana, em dias não consecutivos.
Flexibilidade e Equilíbrio: São recomendados especialmente para idosos, incluindo atividades como yoga e tai chi.
Atividades Cotidianas: Pessoas que não atingem as recomendações mínimas devem ser incentivadas a aumentar gradualmente o nível de atividade física (caminhadas, jardinagem, natação, dança etc.). Longos períodos sedentários devem ser interrompidos a cada 30 minutos para melhorar o controle glicêmico.
Benefícios do Exercício
Redução do risco cardiovascular, melhora da aptidão cardiorrespiratória, melhora da sensibilidade à insulina, força muscular e controle do peso. Também auxilia na redução dos níveis de HbA1c, triglicerídeos, colesterol LDL e circunferência abdominal. Melhora na mobilidade, especialmente em pessoas com excesso de peso.
População Jovem
Crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 ou 2 devem realizar pelo menos 60 minutos diários de atividade aeróbica moderada a vigorosa, além de atividades de fortalecimento muscular e ósseo pelo menos três vezes por semana. O tempo sedentário, como uso recreativo de telas, deve ser limitado a menos de 2 horas por dia.
Exercícios e Complicações
Retinopatia: Atividades vigorosas podem ser contra indicadas para pacientes com retinopatia proliferativa ou grave. A consulta com um oftalmologista é recomendada antes de iniciar atividades intensas.
Neuropatia Periférica: É importante garantir o uso de calçados adequados e a inspeção diária dos pés. Exercícios de intensidade moderada como caminhadas podem ser seguros.
Neuropatia Autonômica: A avaliação cuidadosa do risco cardiovascular é essencial, especialmente para pacientes com respostas cardíacas reduzidas ou hipotensão postural.
Hipoglicemia
Pacientes em uso de insulina ou secretagogos devem monitorar os níveis de glicose antes e após o exercício. Caso os níveis de glicose estejam abaixo de 90 mg/dL, a ingestão de carboidratos pode ser necessária para evitar hipoglicemia.
Exercício em Tratamentos com Fármacos para Controle de Peso e Cirurgia Metabólica
Indivíduos tratados com farmacoterapia ou submetidos a cirurgia metabólica devem priorizar exercícios de fortalecimento muscular para manutenção da massa magra.
Por fim,
O exercício físico é parte essencial do manejo do diabetes e deve ser recomendado para todos os indivíduos com a condição, salvo contra indicações específicas. A adesão às recomendações deve ser incentivada e adaptada às necessidades e capacidades individuais.
(disponível: https://doi.org/10.2337/dc25-S005)
#nutrologiadeverdade #nutrologabauru #nutrologalaranjal #NutrologoBauru #NutrologoLaranjal #alimentaçãosaudável #alimentaçãoequilibrada #exerciciofisico #musculatura saudavel
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sábado, 3 de maio de 2025
O que você precisa saber sobre a Tirzepatida (Mounjaro, Zepbound)?
A Tirzepatida é um medicamento inovador no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. Foi aprovado recentemente pela ANVISA no Brasil para Diabetes, mas não para obesidade, ainda. Ou seja, para o tratamento da obesidade é off label.
É uma molécula desenvolvida pela Eli Lilly (um grande laboratório farmacêutico) e ela combina dois mecanismos de ação em uma única molécula, oferecendo vantagens em relação a outros medicamentos da mesma classe, como a Semaglutida (Ozempic/Wegovy) e a Liraglutida (Victoza/Saxenda).
Mecanismo de Ação
A Tirzepatida é um agonista dual dos receptores de GLP-1 (glucagon-like peptide-1) e GIP (glucose-dependent insulinotropic polypeptide). Mas o que essas substâncias fazem?
- GLP-1:
- Aumenta a secreção de insulina dependente de glicose.
- Reduz a liberação de glucagon (diminuindo a produção hepática de glicose).
- Retarda o esvaziamento gástrico, aumentando a saciedade.
- GIP:
- Potencializa os efeitos do GLP-1.
- Melhora a sensibilidade à insulina.
- Contribui para a redução do apetite e da gordura visceral.
Essa dupla ação faz com que a Tirzepatida seja mais eficaz no controle glicêmico e na perda de peso quando comparado às suas antecessoras: Liraglutida e Semaglutida, já que elas agem apenas em GLP-1.
Indicações de Uso
- Diabetes tipo 2:
- Como terapia adjuvante a dieta e exercícios em adultos.
- Indicada para pacientes com obesidade ou resistência à insulina.
- Obesidade (em alguns países, como EUA, sob o nome Zepbound®): No Brasil, ainda não é liberado para obesidade.
- Para pacientes com IMC ≥ 30 kg/m² (obesidade).
- Ou IMC ≥ 27 kg/m² + comorbidades (hipertensão, dislipidemia, apneia do sono).
Contraindicações para o uso
- Histórico de carcinoma medular de tireoide (CMT) ou neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN2).
- Alergia à Tirzepatida ou qualquer componente da fórmula.
- Gravidez e lactação (não há estudos suficientes em humanos; recomenda-se evitar).
- Pancreatite aguda prévia ou risco aumentado.
Doses, formas farmacêuticas e via de administração:
Vendido somente com receita médica, a Tirzepatida não está disponível na forma oral, somente injetável para aplicação no subcutânea.
Deve-se fazer escalonamento da dose para evitar os efeitos colaterais. Assim como a semaglutida,a aplicação é semanal.
Efeitos Colaterais Mais Comuns
Gastrointestinais (mais frequentes):
- Náuseas (30-40% dos casos).
- Vômitos (10-20%).
- Diarreia ou constipação (15-25%).
- Dor abdominal (5-10%).
Metabólicos:
- Hipoglicemia (principalmente se combinada com insulina ou sulfonilureias).
Outros:
- Diminuição do apetite.
- Fadiga.
- Reações no local da injeção (leve vermelhidão ou coceira).
Riscos e Precauções
- Pancreatite: Suspender se houver dor abdominal intensa e persistente.
- Doença da vesícula biliar: Relacionada à perda de peso rápida.
- Retinopatia diabética: Monitorar em pacientes com histórico.
Preço no Brasil (2025)
Os preços do tratamento com a Tirzepatida variam conforme o canal de compra e a adesão ao programa de suporte da Lilly. Para pacientes cadastrados no “Programa Lilly Melhor Para Você”, os valores são:
- 2,5 mg: R$ 1.406,75 (e-commerce) / R$ 1.506,76 (lojas físicas)
- 5 mg: R$ 1.759,64 (e-commerce) / R$ 1.859,65 (lojas físicas)
Já fora do programa, os preços podem chegar até R$ 2.384,34 para a dosagem de 5 mg, considerando o ICMS de 18%.
Ainda não há previsão de chegada das doses de 10 e 15mg no Brasil.
Comparativo com Semaglutida e Liraglutida
A Tirzepatida é considerada superior em vários aspectos:
Apesar da superioridade sobre as suas "primas", ainda não prescreverei a medicação. Motivo: Prefiro ter prudência e aguardar os efeitos colaterais e formas de manejá-los. Estudar mais sobre o mecanismo de ação, como fazer um escalonament eficaz. Não estou falando que nunca prescreverei, mas por agora não. Talvez daqui 6 meses.
Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
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Dr. Frederico Lobo
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quinta-feira, 1 de maio de 2025
Frutas, legumes e verduras da temporada: Maio
Por que consumir alimentos da safra? Existem vantagens?
Motivo 1: Se está na safra, provavelmente o preço está menor. Mais economia para o seu bolso.
Motivo 2: Tendem a ter maior densidade nutricional, a quantidade de nutrientes, em especial antioxidantes é maior, visto que, utiliza-se menos agrotóxicos e o vegetal precisa se adaptar a situações inóspitas (pragas, calor, frio, umidade, radiação solar, ventos). Ou seja, ele produz mais "defesas", nesse caso os polifenóis, que são antioxidantes. Os alimentos da safra são colhidos no momento ideal de maturação, o que significa que estão no auge do seu sabor, textura e valor nutricional. Consumi-los garante que você esteja recebendo produtos frescos e de melhor qualidade.
Motivo 3: Safra = maior abundância. Provavelmente terá menos agrotóxicos (eu disse menos, não que não tenham). Se a está na safra, naturalmente naquela época do ano aquele alimento desenvolve mais facilmente. Não sendo necessário uso de agrotóxicos ou caso o agricultor utilize, a quantidade tende a ser menor. Menos agrotóxico, menos veneno. Em breve o Ministério da saúde publicará um guia sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Tema totalmente negligenciado na Medicina.
Motivo 4: Os vegetais na safra são encontrados mais facilmente nas feiras e mercados. O Brasil é um país vasto e diversificado, com diferentes regiões climáticas que possibilitam o cultivo de uma grande variedade de alimentos ao longo do ano. Consumir alimentos da safra permite que você experimente uma ampla gama de frutas, legumes e verduras, aproveitando a diversidade da culinária brasileira.
Motivo 5: Sustentabilidade e apoio ao agricultores locais. Consumir os alimentos da safra vigente é um ato de sustentabilidade, pois respeita o tempo da natureza e economiza energia e recursos extras de forma intensiva ou no transporte por diferentes distâncias. Escolher alimentos da safra muitas vezes significa apoiar práticas agrícolas mais sustentáveis. Como esses alimentos estão disponíveis localmente e não precisam ser transportados por longas distâncias, há uma redução significativa na pegada de carbono associada ao seu consumo. Além disso, os produtores locais que cultivam alimentos da safra geralmente empregam técnicas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente. Comprar alimentos da safra de produtores locais contribui para fortalecer a economia da sua região. Ao apoiar os agricultores locais, você ajuda a manter empregos na comunidade e a promover um sistema alimentar mais justo e sustentável.
Frutas de Maio
Abacate fortuna/quintal
Banana maçã e nanica e prata
Caqui
Carambola: atenção para quem tem problema renal
Goiaba
Graviola
Kiwi nacional
Laranja lima, baia e pera
Maçã nacional gala e estrangeira
Mamão formosa e hawaí
Maracujá doce e azedo
Melancia
Pêra estrangeira
Tangerina cravo e ponkan
Verduras e legumes de Maio
Abóbora japonesa e seca
Abobrinha brasileira e italiana
Acelga
Agrião
Alface
Almeirāo
Batata-doce amarela
Berinjela
Cará
Cebola estrangeira
Chuchu
Ervilha torta
Espinafre
Gengibre
Inhame
Jiló
Mandioca
Mandioquinha
Nabo
Rabanete
Repolho
Rúcula
Salsa
Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915.
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Congelando alimentos
📌 Regras gerais para congelar alimentos:
- Lave e seque bem os alimentos antes de congelar.
- Corte em pedaços (se necessário) para facilitar o uso posterior.
- Use embalagens herméticas (sacos de freezer, potes vedados) para evitar queimaduras pelo frio.
- Anote a data no pacote para controle.
🥦 VERDURAS E LEGUMES (CRUS)
Muitos vegetais precisam de branqueamento (mergulhar em água fervente por 1-3 min, depois resfriar em água gelada) antes de congelar para preservar cor, textura e nutrientes.
🍓 FRUTAS
Podem ser congeladas cruas, mas algumas perdem textura ao descongelar (melhor para smoothies, sucos ou receitas).
🌿 ERVAS FRESCAS
Para evitar oxidação, congele em azeite, água ou forminhas de gelo.
As principais técnicas para congelado de ervas são:
- Congelar inteiras: Modo de fazer: Lave, seque bem e guarde em sacos herméticos (retire o ar). Esse método é ideal para as ervas resistentes como alecrim, tomilho, sálvia.
- Picadas em azeite: Modo de fazer: Pique as ervas, coloque em forminhas de gelo e cubra com azeite. Congele. Ideal para: Manjericão, orégano, salsinha (para cozinhar).
- Cubos de água: Modo de fazer: Bata as ervas com água, despeje em forminhas de gelo e congele. Ideal para Salsinha, coentro, cebolinha (para sopas).
- Pasta de alho/ervas: Modo de fazer: Misture ervas picadas com alho e azeite, congele em porções. Ideal para temperos prontos para refogar.
Principais ervas que podem ser congeladas:
- Manjericão: Congelar as folhas em azeite (cubos) ou purê. Durará por até 4–6 meses. Desvantagem: Escurece facilmente; adicione limão.
- Salsinha: Congelar picada em água ou azeite. Durará por até 6–8 meses. Dica: Congele em porções pequenas.
- Coentro: Congelar picado em cubos de água. Durará por até 6 meses. Dica: Evite congelar talos grossos.
- Cebolinha: Congelar cortada em rodelas. Durará por até 8–10 meses.
- Hortelã: Congelar as folhas inteiras ou picadas. Durará por até 6 meses. Ótima para chás e drinks.
- Alecrim: Congelar os falhos inteiros. Durará por até 12 meses.
- Tomilho: Congelar os galhos inteiros ou folhas soltas. Durará por até 12 meses: Dica, ainda congelado com o galho, esfregue para liberar as folhinhas.
- Sálvia: Congelar as folhas inteiras (secas). Durará por até 12 meses. Dica: pode ser congelada sem azeite.
- Orégano: Congelar as folhas em azeite ou secas. Durará por até 6–8 meses. Dica: a versão em azeite é ideal para pizzas.
Algumas especiarias também podem ser congeladas para preservar o aroma:
- Gengibre: Ralado ou em pedaços (sem casca). Durará por até 6 meses. Descongele apenas a parte necessária.
- Alho: Dentes inteiros ou picado em azeite. Durará por até 6 meses. Cuidado por que pode ficar com textura mole.
- Pimentas frescas: Inteiras ou cortadas (sem sementes). Durará por até 8 meses
💡 DICAS PARA USO APÓS CONGELAR:
Ervas em azeite/água: Adicione diretamente em sopas, molhos ou refogados.
Ervas inteiras: Descongele na geladeira e use em pratos quentes (não ficam crocantes).
Para decorar: Ervas congeladas não mantêm a textura fresca; use apenas em preparações cozidas.
⚠️ O QUE NÃO CONGELAR BEM:
- Pepino, alface, rabanete (ficam moles e aquosos).
- Tomate inteiro (pode ser congelado como polpa para molhos).
- Batata crua (escurece; prefira congelar cozida ou em purê).
💡 DICAS:
- Descongele na geladeira ou use diretamente em preparações quentes (sopas, refogados).
- Frutas congeladas são ótimas para vitaminas ou sobremesas.
- Quer uma versão mais detalhada ou com instruções para algum alimento específico?
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sexta-feira, 18 de abril de 2025
Poluição da água com ansiolítico afeta o salmão e torna peixes 'destemidos
Usado para tratar a ansiedade, um medicamento comum que vem poluindo os cursos d'água mundo afora parece agora estar influenciando o comportamento migratório do salmão selvagem do Atlântico, concluiu um estudo realizado na Suécia.
Publicado na revista Science, o estudo descobriu que o salmão selvagem se tornou menos avesso a riscos quando exposto ao medicamento psicoativo clobazam (nomes comerciais: Frisium, Urbanil). Isso, por sua vez, teria mudado forma como os peixes migram.
Para ler a reportagem na íntegra acesse: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2025/04/18/poluicao-da-agua-com-ansiolitico-afeta-o-salmao-e-torna-peixes-destemidos.htm
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segunda-feira, 14 de abril de 2025
Gestação e aspectos nutrológicos
Minha afilhada, Dra. Lia Bataglini está grávida e aproveitando esse momento único, decidiu abordar o tema em suas redes sociais e site.
Para acompanhar, acese: https://liabataglini.com.br/blog/ e o Instagram: https://www.instagram.com/liabataglini
Vídeo 2: Quais suplementos são imprescindíveis na gestação?
Vídeo 3: Intestino preso na gestação
Vídeo 4: Diabetes Gestacional
Vídeo 5: Controle de carboidratos na gestação
Vídeo 6: Controle de proteínas na gestação
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sexta-feira, 11 de abril de 2025
Uma forma atípica de diabetes em pacientes com baixo IMC (Diabetes tipo 5)
OBJETIVO
A diabetes em indivíduos com baixo IMC (<19 kg/m²) é reconhecida há mais de 60 anos como uma condição prevalente em países de baixa e média renda (PBMR), tendo sido formalmente classificada como “diabetes mellitus relacionado à desnutrição” pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1985. Desde que a OMS retirou essa categoria em 1999, nosso objetivo foi definir as características metabólicas desses indivíduos para estabelecer que se trata de uma forma distinta de diabetes.
DESENHO DO ESTUDO E MÉTODOS
Estudos metabólicos de ponta foram utilizados para caracterizar indivíduos indianos com “diabetes de baixo IMC” (LD), nos quais todas as formas conhecidas de diabetes foram excluídas por meio de análise imunogenética. Eles foram comparados com grupos demograficamente pareados: um grupo com diabetes tipo 1 (DM1), um grupo com diabetes tipo 2 (DM2) e um grupo sem diabetes. A secreção de insulina foi avaliada por desconvolução do peptídeo C. A sensibilidade hepática e periférica à insulina foi analisada com estudos de clamp hiperglicêmico-euglicêmico pancreático em etapas. O conteúdo de lipídios hepáticos e miocelulares foi avaliado por espectroscopia de ressonância magnética nuclear de hidrogênio (¹H-RMN).
RESULTADOS
A resposta secretória total de insulina foi menor no grupo LD em comparação com o grupo magro sem diabetes e com o grupo DM2. A produção endógena de glicose foi significativamente menor no grupo LD em relação ao grupo DM2 (média ± erro padrão da média: 0,50 ± 0,1 vs. 0,84 ± 0,1 mg/kg·min; P < 0,05). A captação de glicose foi significativamente maior no grupo LD em comparação com o grupo DM2 (10,1 ± 0,7 vs. 4,2 ± 0,5 mg/kg·min; P < 0,001). O tecido adiposo visceral e os lipídios hepatocelulares foram significativamente menores no grupo LD do que no grupo DM2.
CONCLUSÕES
Este é o primeiro estudo a demonstrar que indivíduos com LD em PBMR apresentam um perfil metabólico único, sugerindo que se trata de uma entidade distinta que merece investigação adicional.
Introdução
A diabetes e suas complicações atingiram proporções epidêmicas em todo o mundo. A estimativa é que a carga global de diabetes em adultos aumente de 537 milhões de casos em 2021 para 783 milhões até 2045, com cerca de 80% dos afetados vivendo em países de baixa e média renda (PBMR). A existência de uma forma única de diabetes em indivíduos com baixo IMC foi relatada pela primeira vez por Hugh-Jones em 1955, ao encontrar um grupo de pacientes na Jamaica que não se encaixavam nas descrições clássicas de diabetes tipo 1 (DM1) ou tipo 2 (DM2). Desde então, casos de indivíduos com baixo IMC e diabetes (LD) foram documentados em diversos outros PBMR, incluindo Bangladesh, Nigéria, Índia, Etiópia, Coreia, Tailândia e Uganda, com relatos iniciais da Índia sugerindo uma prevalência de aproximadamente 23%. Essa entidade foi formalmente reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1985 como uma forma distinta de diabetes, denominada “diabetes mellitus relacionado à desnutrição” (MRDM, na sigla em inglês).
Relatos iniciais dessa forma de diabetes documentaram uma série de características comuns, incluindo histórico de desnutrição na infância ou durante a gestação, com persistência de IMC baixo (tipicamente <19 kg/m²) na vida adulta; início precoce da diabetes (idade <30 anos); predominância masculina (~85%); ausência de cetonúria ou cetose, apesar de hiperglicemia descontrolada (glicemia de jejum >200 mg/dL); altas necessidades de insulina (>60 UI/dia ou 2,0 UI/kg/dia); e aumento do risco de complicações relacionadas à diabetes. Embora as elevadas necessidades de insulina nesses indivíduos muito magros sugiram resistência à insulina, isso nunca foi estudado de forma rigorosa.
O relatório da OMS de 1999 recomendou a exclusão do MRDM da classificação oficial da diabetes, por falta de evidência robusta de que a desnutrição ou a deficiência proteica, por si só, causem diabetes. No entanto, dados epidemiológicos subsequentes continuaram a apoiar essa entidade como uma forma única e relativamente prevalente da doença. As estimativas de MRDM entre pacientes com diabetes na Índia e no Irã variam entre ~6% e 21%, após exclusão de casos com patologias pancreáticas visíveis . Maiti et al. relataram recentemente que indivíduos com baixo peso (IMC <18,5 kg/m²) e diabetes em áreas rurais da Índia apresentavam o dobro de chances de glicemia >270 mg/dL em comparação com aqueles com IMC normal ou elevado. Entre mais de 4.700 indivíduos com diabetes insulino-dependente em áreas rurais da Etiópia, o IMC médio foi de 16,7 kg/m² para homens e 16,5 kg/m² para mulheres, com uma predominância masculina de 2 para 1, e quase todos os pacientes eram resistentes à cetose. Os investigadores sugeriram que a maioria dos indivíduos estudados na Etiópia provavelmente tinha uma forma não autoimune de diabetes, proposta como MRDM.
Em uma revisão sistemática recente sobre formas atípicas de diabetes, os autores observaram que a prevalência de DM1 pode estar sendo superestimada entre indivíduos com baixo peso em PBMR, cujas características clínicas seriam consistentes com a definição original de MRDM. Isso sugere que muitos desses indivíduos podem estar sendo tratados de forma inadequada e destaca a necessidade de mais estudos para caracterizar melhor a diabetes em contextos com poucos recursos.
Pacientes com LD oriundos de PBMR frequentemente têm acesso limitado a testes apropriados, podendo ser erroneamente classificados como portadores de DM1. Isso tem implicações terapêuticas relevantes, considerando que o tratamento para DM1 é complexo, requer múltiplas aplicações diárias de insulina e manejo intenso de diversos parâmetros clínicos. Isso é especialmente relevante diante de dificuldades comuns nesses países, como o custo, o acesso e o armazenamento adequado da insulina. Além disso, a insulinoterapia pode levar à hipoglicemia, principalmente em pacientes com insegurança alimentar. Assim, uma avaliação correta dos defeitos metabólicos desses pacientes permitiria aos profissionais de saúde personalizar o tratamento de forma mais apropriada e, possivelmente, evitar o uso desnecessário de insulina.
Neste estudo, portanto, utilizamos metodologias de ponta para definir as características metabólicas dessa entidade ainda pouco compreendida, o MRDM, realizando uma caracterização fenotípica rigorosa de um grupo de indivíduos (LD) que atendem aos critérios da OMS para essa condição. Esse estudo foi viabilizado de forma única no Christian Medical College, em Vellore, na Índia, onde tais avaliações sofisticadas puderam ser realizadas em pacientes com suspeita de MRDM. Pesquisas como essa são essenciais para o desenvolvimento futuro de estratégias terapêuticas adequadas para essa condição ainda pouco compreendida.
Conclusões
Este é o primeiro estudo a utilizar técnicas de ponta para caracterizar de forma abrangente a secreção de insulina, a sensibilidade hepática e periférica à insulina, a composição corporal total, o volume de tecido adiposo abdominal e os teores lipídicos hepáticos e intramiocelulares em indivíduos com LD. Também comparamos indivíduos com LD com sujeitos com DM1, DM2 e controles sem diabetes com IMC semelhante.
Antes do procedimento, o controle glicêmico nos grupos LD e DM2 era semelhante, conforme indicado pelos níveis de frutosamina, sugerindo ausência de glucotoxicidade aguda. No entanto, a capacidade secretória de insulina foi substancialmente menor no grupo LD em comparação aos indivíduos com DM2 e aos controles sem diabetes, embora ainda maior do que nos sujeitos com DM1. É relevante destacar que o grupo LD apresentou valores médios significativamente mais baixos do índice de Matsuda, do índice insulinogênico e dos índices de disposição em comparação com o grupo magro sem DM. Consistente com relatos anteriores, os indivíduos com DM2 demonstraram perda da secreção de insulina de primeira fase e retorno lento aos níveis basais. Os valores médios do ISI e do índice de Matsuda foram maiores no grupo LD do que no grupo DM2, o que pode ser atribuído a um defeito predominante na secreção de insulina e à provável ausência de resistência endógena à insulina no grupo LD. Notavelmente, no grupo com DM2, a característica predominante é a resistência à insulina, levando a valores médios significativamente mais baixos de ISI e índice de Matsuda e a valores mais altos no HOMA-IR.
No procedimento de clamp hiperinsulinêmico-euglicêmico, foi observada uma correlação positiva significativa entre o tecido adiposo subcutâneo (SAT) e a produção endógena de glicose (EGP) na fase de baixa insulina, fornecendo evidências sobre o possível papel do SAT na redução da sensibilidade à insulina no grupo LD. Notavelmente, a sensibilidade periférica à insulina (valor de Rd) no grupo LD não diferiu da observada no grupo DM1 nem nos controles magros, sugerindo que o grupo LD era mais sensível à insulina do que o grupo com DM2.
Dada a escassez de estudos que tenham seguido rigorosamente a definição de MRDM, a taxa de prevalência, a fisiopatologia e o perfil metabólico dessa condição permanecem mal compreendidos . Observações clínicas anteriores caracterizavam pacientes magros com diabetes como resistentes à insulina, com base na necessidade de altas doses de insulina, apesar do baixo IMC. Uma característica marcante descrita nesses estudos é a completa ausência de cetose ou cetonúria, atribuída à mobilização tardia de ácidos graxos livres (AGLs) do tecido adiposo e à supressão do glucagon pós-prandial, independentemente da deficiência periférica de insulina.
Outros estudos sugeriram um defeito na secreção de insulina, com valores reduzidos de insulina e peptídeo C em jejum, e resposta comprometida após sobrecarga oral de glicose ou após administração intravenosa de tolbutamida, embora as metodologias rigorosas aplicadas sejam exclusivas deste estudo. Em um estudo recente conduzido em uma coorte sueca, voltado à identificação de subgrupos de diabetes de início na idade adulta, pesquisadores relataram um novo agrupamento de pacientes com diabetes severamente deficiente em insulina (SIDD), caracterizado por títulos negativos de anticorpos anti-GAD-65, IMC relativamente baixo (~28,9 kg/m²), baixa secreção de insulina, início mais precoce da doença e controle metabólico ruim.
Esses pacientes necessitavam de insulinoterapia, além de medicamentos orais para controle glicêmico, e a maioria era resistente à cetose.
No entanto, nesse estudo, não foram avaliados os padrões de resistência à insulina com técnicas fisiológicas específicas, nem os perfis de composição corporal, e os mecanismos etiológicos do SIDD ainda precisam ser esclarecidos.
Embora nossos sujeitos com LD também apresentassem defeitos predominantes na secreção de insulina, foram caracterizados por IMC muito baixo (média de 18,3 kg/m²) e pertenciam à etnia indo-asiática. Os resultados de nossas avaliações rigorosas da ação da insulina e da composição corporal total, incluindo lipídios hepáticos e volumes de tecido adiposo abdominal, revelaram um fenótipo metabólico único, distintamente diferente do DM2. Esse fenótipo de LD provavelmente também difere do que foi recentemente chamado de SIDD em uma coorte de indianos asiáticos, que apresentava um IMC bem mais alto (24,9 kg/m²). No entanto, tanto as observações de Ahlqvist et al. quanto os resultados atuais reforçam a necessidade de revisitar a classificação do diabetes e identificar novos subgrupos da doença.
As metodologias de ponta utilizadas neste estudo avançam em relação a relatos anteriores que sugeriam uma capacidade secretória de insulina reduzida e resistência à cetose em indivíduos com LD. Os sujeitos com LD neste estudo apresentaram níveis basais e pós-carga glicêmica médios mais altos de insulina e peptídeo C, além da ausência de cetose, quando comparados aos indivíduos com DM1. Isso sugere que a secreção de insulina nesses indivíduos era suficiente para inibir a cetogênese, mas insuficiente para evitar excursões glicêmicas pós-prandiais.
Especula-se que esse defeito na capacidade secretória de insulina possa estar relacionado à redução da massa de células β, uma vez que padrões epidemiológicos mostram que o LD predomina entre populações de baixa renda e áreas rurais de países em desenvolvimento, onde dietas pobres em proteína são comuns. Em nosso estudo, os participantes eram índios asiáticos recrutados de áreas rurais, onde a dieta básica é à base de arroz e trigo, sendo que o grupo LD apresentou uma ingestão proteica significativamente menor em comparação com o grupo magro sem DM.
A desnutrição proteica materna já foi estudada em roedores, com relatos de que os filhotes dessas mães apresentam menor massa de células β e reduzida capacidade de regeneração dessas células. Notavelmente, embora a desnutrição ou inanição nos primeiros anos de vida possa predispor ao DM2 na idade adulta, o que distingue o LD do DM2 é que os indivíduos com LD permanecem com baixo peso ao longo do desenvolvimento. Em humanos, recém-nascidos pequenos para a idade gestacional tendem a ter menor fração de células das ilhotas pancreáticas e menos vascularização pancreática.
Embora alguns relatos clínicos tenham sugerido que pacientes com LD são resistentes à insulina, há escassez de estudos dinâmicos e sofisticados avaliando essa sensibilidade nesse grupo. Garg et al. (52) realizaram previamente clamps hiperinsulinêmico-euglicêmicos em indivíduos com LD no norte da Índia, mas sem corrigir a glucotoxicidade ou utilizar traçadores de glicose para medir a sensibilidade hepática e periférica à insulina. Como há fortes evidências em animais e humanos de que a correção da hiperglicemia melhora a secreção e a resistência à insulina, corrigimos a hiperglicemia para eliminar o efeito da toxicidade da glicose. Os resultados indicam que a sensibilidade hepática e periférica à insulina no grupo LD foi semelhante à dos grupos com DM1 e não diabéticos magros, enquanto os sujeitos com DM2 eram mais resistentes à insulina.
A análise da composição corporal revelou que a massa magra total e a massa magra troncular foram significativamente menores no grupo LD em comparação com o grupo magro sem DM, motivo pelo qual corrigimos a captação de glicose com base na massa magra. Os triglicerídeos séricos e a razão VAT/SAT foram mais altos no grupo LD do que no grupo magro sem DM, e o volume de gordura visceral (VAT) foi mais alto do que no grupo com DM1. Além disso, o conteúdo de lipídios hepáticos no grupo LD foi variável, mas significativamente menor que no grupo DM2, sendo semelhante ao dos grupos DM1 e não DM. Também observamos considerável variabilidade nas medidas de composição corporal no grupo LD, embora o estudo não tenha sido dimensionado para investigar correlações entre essas medidas e a sensibilidade à insulina no próprio grupo LD.
Em um estudo com indivíduos normoglicêmicos e baixo IMC (média de 21,8 kg/m²) que haviam sofrido desnutrição no primeiro ano de vida, esses sujeitos apresentaram menor sensibilidade à insulina e maior volume de gordura abdominal. Estimou-se que a gordura abdominal explicava 65% da variância na sensibilidade à insulina desses indivíduos. Hipotetiza-se que a desnutrição fetal leve a um acúmulo de gordura visceral em indivíduos magros, promovendo maior reserva de glicose nesse tecido e em outros tecidos sensíveis à insulina. No entanto, são necessários estudos funcionais com biópsias de gordura visceral para determinar se os volumes aumentados de VAT contribuem para a menor sensibilidade periférica à insulina em alguns indivíduos com LD.
Embora a associação entre VAT e disfunção de células β e resistência à insulina seja bem documentada em sujeitos com DM2 com sobrepeso ou obesidade, seu papel potencial no LD deve ser explorado em estudos futuros, incluindo avaliação de adipocinas, citocinas inflamatórias e biópsias de gordura.
Este estudo fornece insights importantes e únicos sobre as características metabólicas da pouco compreendida entidade MRDM, por meio de uma rigorosa “fenotipagem” com metodologias de ponta, em indivíduos que atendem à classificação da OMS para essa condição. Foi realizado no CMC, o único centro na Índia com capacidade para executar esses estudos sofisticados. A complexidade dos estudos metabólicos limitou o tamanho da amostra e impediu a realização simultânea de estudos genéticos de grande escala. Análises futuras com amostras maiores podem ajudar a explorar a base genética dessa condição. Também são necessários estudos adicionais para caracterizar melhor esse fenótipo único e formular estratégias terapêuticas baseadas em evidências. Considerando os desafios de custo e acesso à insulina, especialmente em países de baixa e média renda, minimizar ou evitar o uso de insulina quando clinicamente apropriado seria benéfico. Dada a deficiência secretória de insulina, ainda é incerto se, e em que medida, os secretagogos de insulina seriam eficazes no controle glicêmico desses indivíduos.
Apesar dos pontos fortes, este estudo apresenta várias limitações. As observações foram transversais, não permitindo estabelecer relações de causa e efeito. Além disso, a amostra incluiu apenas participantes do sexo masculino, o que impede avaliar o perfil metabólico de mulheres com LD. Estudar os hormônios incretínicos e os níveis de glucagon nesse grupo provavelmente também traria mais insights sobre a etiologia metabólica do fenótipo. A comparação entre os pesos ao nascimento dos grupos do estudo não foi possível, já que a maioria dos sujeitos era de áreas rurais da Índia e nascidos em casa ou em centros de saúde primários há mais de três décadas, sem documentação oficial do peso ao nascer. Ainda assim, este é o primeiro estudo a oferecer uma avaliação abrangente das características metabólicas únicas de pacientes com LD.
Em resumo, este estudo é o primeiro a avaliar de forma abrangente o perfil metabólico de indivíduos com LD, negativo para autoanticorpos, resistentes à cetose e sem complicações microvasculares ou macrovasculares significativas, em comparação com indivíduos com DM1 e DM2 bem definidos na Índia. Após a correção da toxicidade glicêmica, esse grupo único apresentou um fenótipo fundamentalmente distinto de DM1 ou DM2. Especificamente, os resultados demonstram que a principal característica fisiológica do LD é um defeito na capacidade secretória de insulina — e não resistência à insulina, como sugerido anteriormente. Além disso, o DM2 é caracterizado por aumento da produção hepática de glicose e redução da captação periférica, o que não é observado no LD, reforçando que o LD provavelmente não é um subtipo de DM2. Ainda há muito a ser aprendido sobre essa entidade metabólica distinta — incluindo sua epidemiologia, fisiopatologia, história natural e estratégias terapêuticas ideais — especialmente em contextos clínicos de poucos recursos nos países de baixa e média renda.
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Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde
By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
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Embaixador das Comunidades Médicas de Endocrinologia - EndócrinoGram e DocToDoc
Artigo original: https://diabetesjournals.org/care/article/45/6/1428/146920/An-Atypical-Form-of-Diabetes-Among-Individuals
Postado por
Dr. Frederico Lobo
às
17:42
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Marcadores:
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