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sábado, 14 de junho de 2025

Níveis muito altos ou muito baixos de vitamina D parecem aumentar o risco de quedas e fraturas

Tanto níveis muito baixos quanto muito altos de vitamina D parecem aumentar o risco de quedas e fraturas, afirmou uma palestrante durante a Conferência Científica e Clínica Anual da American Association of Clinical Endocrinology.

O nível ideal de 25-hidroxivitamina D no plasma para prevenção de quedas e fraturas parece estar entre 20 ng/mL e 40 ng/mL, mas “mais estudos são necessários para confirmar os limites da zona de menor risco de quedas”, disse Dra. Bess Dawson-Hughes, cientista sênior do Departamento de Dieta e Prevenção de Doenças Crônicas no Envelhecimento Saudável do Jean Mayer USDA Human Nutrition Research Center on Aging, na Universidade Tufts, e professora de medicina na divisão de endocrinologia do Tufts Medical Center, em uma palestra principal.

Os grandes estudos VITAL, ViDA e D-HEALTH, embora não tenham sido projetados com quedas e fraturas como desfechos primários, não demonstraram que a suplementação com vitamina D aumente ou reduza o risco de quedas, disse Dawson-Hughes.

No entanto, ela observou que esses estudos usaram métodos subótimos para detectar quedas. Obter dados de qualidade sobre quedas exige contato frequente entre os coordenadores do estudo e os participantes, o que não é viável em estudos de grande escala. Além disso, esses ensaios geralmente incluíram participantes com níveis adequados de 25-(OH)D no início, com menor possibilidade de benefício com a suplementação.

Segundo Dawson-Hughes, que recebeu o prêmio Frontiers in Science and Distinction in Endocrinology durante o congresso, não é inesperado que a curva de risco de quedas e fraturas seja em U, pois “níveis abaixo de 20 ng/mL são amplamente considerados insuficientes”, e, acima de aproximadamente 40 ng/mL, o risco de quedas volta a subir — sendo as quedas o principal fator de risco para fraturas.

O mecanismo que liga concentrações altas de vitamina D ao risco de quedas e fraturas pode envolver o fator de crescimento de fibroblastos 23 (FGF23), já que doses elevadas de vitamina D aumentam significativamente os níveis circulantes de FGF23, que estão associados à fragilidade, explicou ela.

“Desequilíbrio postural em níveis baixos de 25-(OH)D e FGF23 elevado em níveis altos provavelmente contribuem para o aumento do risco de quedas e fraturas”, disse Dawson-Hughes. “O FGF23 elevado promove um aumento do hormônio da paratireoide e redução do fosfato, ambos acompanhados por miopatia.”

Outro fator envolvido pode ser a epidemia de obesidade, pois os níveis atingidos de 25-(OH)D são reduzidos em pessoas com obesidade devido à sequestração da vitamina D3 no tecido adiposo e à diluição volumétrica. “O tempo necessário para alcançar um aumento pleno nos níveis de 25-(OH)D é pouco estudado, mas parece ser prolongado, possivelmente porque a obesidade inibe a 25-hidroxilação hepática.”

Há uma deficiência generalizada de vitamina D e cálcio em todo o mundo, e “são necessários ensaios clínicos focados para documentar o efeito de doses de reposição de vitamina D e cálcio sobre quedas e fraturas em adultos mais velhos com deficiência que vivem na comunidade”, afirmou. “Ensaios clínicos positivos podem ter implicações políticas significativas para estratégias de fortificação alimentar e outras abordagens para aumentar os níveis de 25-(OH)D e a ingestão de cálcio em populações carentes.”

sexta-feira, 23 de maio de 2025

No estudo VITAL a suplementação de Vitamina D mostrou proteção nos telômeros



"Aqui é a Dra. JoAnn Manson, professora de medicina na Escola Médica de Harvard e no Hospital Brigham and Women's. Gostaria de conversar com você sobre um relatório recente publicado no American Journal of Clinical Nutrition que sugere que a suplementação de vitamina D tem um papel promissor na proteção dos telômeros e na desaceleração do encurtamento dos telômeros, de acordo com os resultados do estudo randomizado VITAL.

Os telômeros são estruturas especializadas da cromatina localizadas na extremidade dos cromossomos e desempenham um papel na manutenção da estabilidade e da integridade dos cromossomos durante a divisão celular. Pessoas com telômeros muito curtos têm maior probabilidade de apresentar células em processo de senescência e apoptose, além de maior probabilidade de apresentar condições relacionadas ao envelhecimento, como doenças cardiovasculares, câncer e mortalidade prematura. 

Quero reconhecer que sou coautor e coinvestigador deste estudo. Estávamos interessados ​​em analisar o efeito da suplementação de vitamina D no comprimento dos telômeros porque pesquisas anteriores sobre essa relação haviam sido promissoras, e vimos que a suplementação de vitamina D no VITAL teve um efeito na redução dos riscos de doenças selecionadas relacionadas ao envelhecimento. No VITAL, vimos que a suplementação de vitamina D reduziu o risco de cânceres avançados, câncer metastático fatal e doenças autoimunes, e reduziu alguns biomarcadores inflamatórios, como a proteína C-reativa. Em um estudo separado, nossos colegas também descobriram que 2.000 UI por dia de vitamina D estavam associadas a níveis aumentados de telomerase, que têm um papel na preservação do comprimento dos telômeros. No entanto, não havia estudos anteriores em larga escala e longo prazo avaliando o efeito da suplementação de vitamina D na preservação do comprimento dos telômeros.

Para abordar isso, conduzimos um estudo com 1.071 participantes cuja idade média era de cerca de 65 anos. A maioria dos participantes teve coletas de sangue no início do estudo, 2 anos e 4 anos, e o comprimento do telômero foi medido usando PCR quantitativa. O que descobrimos foi que a suplementação de vitamina D, de fato, retardou o encurtamento do telômero. No grupo placebo, houve encurtamento substancial ao longo dos 4 anos; e no grupo da vitamina D, houve encurtamento mínimo no mesmo período. Ao longo da intervenção de 4 anos, houve uma diferença significativa no encurtamento do telômero entre os grupos, com um valor de P  de 0,037. Estimamos que essa diferença equivaleu a uma diminuição de 3 anos no envelhecimento, com base em outros estudos longitudinais que analisaram a quantidade de perda de telômero com o envelhecimento.

Certamente precisamos replicar essas descobertas e gostaríamos de vê-las avaliadas em outros estudos. Gostaríamos também de analisar se a suplementação de vitamina D pode afetar outras vias biológicas envolvidas no envelhecimento, como os relógios epigenéticos e os relógios proteômicos. No entanto, essas descobertas são promissoras e indicam que a vitamina D pode ter um papel no combate ao envelhecimento celular e na desaceleração de pelo menos uma das vias biológicas do envelhecimento. Para a suplementação de ômega-3, não observamos um efeito significativo da intervenção no encurtamento do comprimento dos telômeros."


domingo, 6 de abril de 2025

O que o diabético pode comer? Por Dra. Lia Bataglini (Nutróloga)


Isso é muito comum, mas essa pergunta é mais fácil de ser respondida do que vocês imaginam. A alimentação no paciente diabético deve manter, assim como de todo mundo, um padrão saudável, que seria sem excessos calóricos, evitando o consumo de ultraprocessados, rica em folhas, vegetais e frutas, priorizando alimentos in natura e com consumo reduzido de açúcares. Como um extra, recomenda-se priorizar vegetais não ricos em amido e preferir o consumo de frutas inteiras.

Para continuar esse texto, eu vou utilizar de base um documento da ADA (American Diabetes Association), que se chama “Facilitando comportamentos positivos de saúde e bem-estar para melhorar os resultados de saúde: Padrões de cuidados em diabetes — 2025”.

A ADA enfatiza que não existe uma proporção ideal de carboidratos, proteínas ou gorduras para pessoas com diabetes, e sua distribuição deve ser individualizada considerando padrões alimentares atuais, preferências e metas metabólicas.

Diversos padrões alimentares podem ser eficazes no manejo do diabetes, incluindo a dieta Mediterrânea, DASH, com baixo teor de gordura, com restrição de carboidratos, vegetarianas e veganas. A recomendação é focar em aspectos comuns entre essas dietas, como consumo de vegetais sem amido, frutas inteiras, legumes, grãos integrais, nozes, sementes e laticínios com baixo teor de gordura, e minimizar o consumo de carne vermelha, bebidas adoçadas, doces, grãos refinados e alimentos ultraprocessados.

Em relação às abordagens de planejamento alimentar, estudos indicam que não há diferença significativa na eficácia da contagem de carboidratos comparada a outros métodos como índice glicêmico e porções fixas de carboidratos. O método do prato para diabetes, que sugere dividir um prato de 9 polegadas em vegetais sem amido (metade), proteínas (um quarto) e carboidratos (um quarto), é uma abordagem prática e eficaz para muitos pacientes.

Novas tecnologias, como aplicativos e monitorização contínua da glicose, podem facilitar o planejamento alimentar individualizado, diminuindo a necessidade de contagem precisa de carboidratos e permitindo abordagens mais personalizadas.

A alfabetização alimentar e a numeracia em saúde são elementos importantes a serem considerados na escolha da abordagem de planejamento alimentar adequada para cada pessoa com diabetes.

No próximo texto falaremos especificamente sobre carboidratos, proteínas, gorduras, sódio, alguns micronutrientes e álcool. 

(disponível: https://doi.org/10.2337/dc25-S005)


Como disse, continuaremos o tema sobre diabetes e alimentação, mas agora dividiremos em tópicos de macronutrientes, micronutrientes e outros, começando pelo: 

Carboidratos (CHO)

Estudos não são conclusivos sobre a quantidade ideal de ingestão de carboidratos para pessoas com diabetes. Contudo, o monitoramento da ingestão de carboidratos é essencial para o controle glicêmico em diabetes tipo 1 e tipo 2.

Dieta com baixo ou muito baixo teor de carboidratos pode reduzir a hemoglobina glicada (HbA1c) e diminuir a necessidade de medicamentos em diabetes tipo 2, principalmente a curto prazo. Porém, os resultados são menos consistentes a longo prazo e algumas dietas, como a cetogênica, podem aumentar o colesterol LDL sem melhorar significativamente a HbA1c quando comparadas à dieta mediterrânea com baixo carboidrato.

É importante destacar que planos alimentares com muito baixo teor de carboidratos devem ser supervisionados por profissionais de saúde, especialmente em indivíduos com uso de insulina ou outras medicações como inibidores de SGLT2, e não são recomendados para grávidas, lactantes, crianças, pessoas com doença renal ou transtornos alimentares.

Independentemente da quantidade de carboidratos, recomenda-se focar em carboidratos de alta qualidade, ricos em fibras e minimamente processados. A ingestão adequada de fibras (mínimo de 14g/1.000 kcal) está associada à menor mortalidade e risco de diabetes tipo 2.

Por fim, o uso do índice glicêmico e carga glicêmica como ferramenta é complexo, com resultados variados. Contudo, dietas ricas em fibras e alimentos de baixo índice glicêmico são recomendadas.

Proteínas (PTN)

Não há evidências conclusivas de que ajustar a ingestão diária de proteína acima ou abaixo das recomendações gerais (0,8–1,5 g/kg de peso corporal/dia ou 15–20% das calorias totais) melhore o controle glicêmico ou reduza o risco cardiovascular. Contudo, ingestões ligeiramente mais altas de proteína (20–30%) podem favorecer o controle do diabetes tipo 2 por promover maior saciedade.

A restrição proteica para indivíduos com doença renal crônica (DRC) relacionada ao diabetes não é recomendada abaixo de 0,8 g/kg, pois pode aumentar o risco de desnutrição sem beneficiar o controle glicêmico ou cardiovascular.

A substituição de proteínas animais por vegetais é associada a menor risco de mortalidade cardiovascular e por todas as causas, com pequenas melhorias na HbA1c e glicemia de jejum. Proteínas vegetais são mais ricas em fibras e pobres em gorduras saturadas.

Gorduras (Lipídios - LIP)

Não há uma porcentagem ideal de calorias provenientes de gordura para pessoas com diabetes. O tipo de gordura é mais relevante que a quantidade total para o controle glicêmico e o risco cardiovascular. É recomendado limitar o consumo de gorduras saturadas e evitar gorduras trans.

O padrão alimentar mediterrâneo, rico em azeite de oliva, frutas, vegetais, grãos integrais e oleaginosas, mostrou benefícios no controle glicêmico e melhora do perfil lipídico.

A substituição de gorduras saturadas por gorduras poliinsaturadas ou monoinsaturadas, e não por carboidratos refinados, é benéfica para a saúde cardiovascular. Suplementos de ácidos graxos ômega-3 não mostraram benefícios claros para o controle glicêmico.

Sódio (Na)

O consumo de sódio deve ser limitado a menos de 2.300 mg/dia, pois sua ingestão pode interferir no metabolismo da glicose e afetar a função renal. A principal fonte de sódio na dieta são os alimentos processados e ultraprocessados, cujo consumo deve ser evitado.

Micronutrientes e outros suplementos:

O uso de suplementos alimentares é comum entre pessoas com diabetes, embora não haja evidências de benefícios sem deficiências específicas. Suplementos antioxidantes, como vitaminas E e C, não são recomendados, e o β-caroteno pode aumentar o risco de câncer de pulmão e mortalidade cardiovascular. A suplementação universal de vitamina D não é indicada sem deficiência comprovada. Além disso, não existem evidências suficientes para justificar o uso rotineiro de ervas e micronutrientes, como canela, curcumina, aloe vera e cromo, para controle glicêmico. No caso da metformina, é importante monitorar os níveis de vitamina B12 em pacientes com anemia ou neuropatia periférica. Multivitamínicos podem ser necessários para grupos específicos, como gestantes, idosos e vegetarianos. 


Lembre-se: o diabetes é uma condição séria, mas com acompanhamento médico adequado, é possível mantê-lo bem controlado, prevenindo complicações a curto, médio e longo prazo. Em alguns casos, é possível até alcançar a remissão da doença. Conte com um bom nutrólogo ao seu lado nessa jornada.

(disponível: https://doi.org/10.2337/dc25-S005)


Conforme prometido, tínhamos combinado um resumo das principais orientações nutricionais, certo?!

Antes, vou deixar as principais orientações gerais:

  • Fornecer tratamento de controle de peso com base em nutrição, atividade física e terapia comportamental para todas as pessoas com sobrepeso ou obesidade, visando perda de peso de pelo menos 3–7%.
  • Para prevenção e controle do diabetes em pessoas com pré-diabetes ou diabetes, recomende planos de refeições individualizados que levem em consideração a qualidade dos nutrientes, o total de calorias e as metas metabólicas, pois os dados não dão suporte a um padrão específico de macronutrientes.
  • Os padrões alimentares devem enfatizar os princípios nutricionais essenciais (inclusão de vegetais sem amido, frutas inteiras, legumes, proteínas magras, grãos integrais, nozes e sementes, e laticínios com baixo teor de gordura ou alternativas não lácteas) e minimizar o consumo de carne vermelha, bebidas adoçadas com açúcar, doces, grãos refinados, alimentos processados ​​e ultraprocessados ​​em pessoas com pré-diabetes e diabetes.
  • Considere reduzir a ingestão geral de carboidratos para adultos com diabetes para melhorar a glicemia, pois essa abordagem pode ser aplicada a uma variedade de padrões alimentares que atendem às necessidades e preferências individuais. 
  • Os profissionais de saúde devem perguntar sobre a ingestão de suplementos alimentares e aconselhar conforme necessário. A suplementação com micronutrientes (por exemplo, vitaminas e minerais, como magnésio ou cromo) ou ervas ou especiarias (por exemplo, canela e aloe vera) para benefícios glicêmicos não é recomendada.
  • Aconselhe contra a suplementação de β-caroteno, pois há evidências de danos para certos indivíduos e não confere nenhum benefício. 
  • Aconselhe adultos com diabetes e aqueles em risco de diabetes que consomem álcool a não exceder os limites diários recomendados.
  • Aconselhe as pessoas com diabetes a limitar o consumo de sódio a <2.300 mg/dia, conforme clinicamente apropriado, e que a melhor maneira de conseguir isso é limitando o consumo de alimentos processados.
  • Aconselhe pessoas com pré-diabetes e diabetes que água é recomendada em vez de bebidas adoçadas nutritivas e não nutritivas. Aconselhe pessoas com diabetes e aquelas em risco de diabetes que adoçantes não nutritivos podem ser usados ​​em vez de produtos adoçados com açúcar se consumidos com moderação e a curto prazo para reduzir a ingestão geral de calorias e carboidratos.
  • Rastrear pessoas com diabetes e aquelas em risco de diabetes para desnutrição, especialmente aquelas que passaram por cirurgia metabólica e aquelas que estão sendo tratadas com terapias farmacológicas para perda de peso. “

E aqui são os comportamentos nutricionais para incentivar:

• Vegetais — especialmente vegetais sem amido, de cor verde-escura, vermelha e laranja; frescos, congelados ou enlatados com baixo teor de sódio são opções de vegetais aceitáveis. 

• Leguminosas — feijões secos, ervilhas e lentilhas. 

• Frutas — especialmente frutas inteiras — frescas, congeladas ou enlatadas em suco próprio (ou sem adição de açúcar) são todas opções de frutas aceitáveis. 

• Alimentos integrais — quando culturalmente apropriado, versões integrais de alimentos comumente consumidos, como pães ou massas 100% integrais e arroz integral. Quando não for culturalmente apropriado, concentre-se mais no controle das porções. 

• Alimentos com pelo menos 3 g de fibras por porção, o que geralmente indica um alimento mais rico em fibras. 

• A água deve ser a principal bebida de escolha. 

• Para indivíduos que não preferem água pura, alternativas sem calorias são a próxima melhor escolha. As opções incluem adicionar fatias de limão, lima ou pepino à água; água com gás sem calorias ou águas saborizadas sem calorias; bebidas carbonatadas sem calorias, etc. 

• Proteínas de origem vegetal podem incluir leguminosas (por exemplo, soja, feijão-fradinho, feijão-preto, grão-de-bico, ervilhas secas e lentilhas), nozes e sementes. 

• Carnes e aves devem ser frescas, congeladas ou enlatadas com baixo teor de sódio e em formas magras (por exemplo, peito de frango e peru moído). 

• Peixes gordurosos selvagens saudáveis ​​para o coração, como salmão, atum, sardinha e cavala. Frescos, congelados ou enlatados com baixo teor de sódio são todas opções aceitáveis. 

• Use ervas (por exemplo, manjericão, erva-doce, hortelã, salsa, alecrim e tomilho) e especiarias (por exemplo, canela, garam masala, gengibre, pimenta e açafrão) para temperar alimentos em vez de sal ou preparações que contenham sal. 

• Incorpore cebola, alho, aipo, cenoura e outros vegetais como base para preparar vários alimentos caseiros. 

• Cozinhe com óleo vegetal (por exemplo, canola e azeite) no lugar de gorduras ricas em gordura saturada (por exemplo, manteiga, gordura vegetal, banha de porco e óleo de coco). 

• Prepare as refeições planejando as refeições da semana, fazendo compras de supermercado com uma lista e cozinhando em um dia de folga para que haja refeições caseiras prontas para comer e reaquecer esperando na geladeira ou no freezer. 

• Inclua a família ou colegas de quarto na preparação das refeições; divida as responsabilidades de fazer compras e cozinhar. 

E aí, o que acharam? Já dá pra salvar como colinha, né?!


#nutrologiadeverdade #nutrologabauru #nutrologalaranjal #NutrologoBauru #NutrologoLaranjal #alimentaçãosaudável #alimentaçãoequilibrada

segunda-feira, 3 de março de 2025

Abordagem nutrológica da Dor

Nos últimos 7 anos tenho recebido vários pacientes com dor, principalmente ortopedica/reumatológica. Um dos meus melhores amigos (Dr. Pedro Paulo Prudente - Médico do esporte e Acupunturiatra, neuromodulação funcional) é quem me encaminha a maioria desses pacientes. Como o Dr. Pedro já atua na área da dor há mais de 11 anos, ele sabe que a abordagem nutricional pode agregar muito no tratamento da dor, dos mais diversos tipos. Bem como, abordagem fisioterapêutica, psicoterápicas e do profissional de educação física. 

Sendo assim, eu e meu nutricionista (Rodrigo Lamonier) nos vimos obrigados a debrucar sobre esse vasto tema. O tipo de abordagem dietética para alívio da dor e as particularidades de cada tipo de dor. Afinal, uma coisa é a dor abdominal na síndrome do intestino irritável, outra coisa é a dor da fibromialgia, dor articular na síndrome de Ehlers Danlos, dor neuropática, dor da enxaqueca. Ou seja, há particularidades de acordo com a causa. 

O que percebemos ao longo dos anos com a nossa prática clínica e olhando na literatura as evidências, é que existem abordagens nutricionais e dietéticas que podem auxiliar no alívio da dor, dependendo da causa subjacente. Já que a nutrição desempenha um papel importante na modulação da inflamação, na saúde do sistema nervoso e na promoção da recuperação geral, o que pode influenciar diretamente a percepção da dor. Abaixo estão algumas estratégias nutricionais que podem ser úteis:

1. Dieta rica em alimentos com ação antiinflamatória:
Alimentos ricos em ômega-3: Peixes gordurosos (salmão, sardinha, atum), sementes de linhaça, chia e nozes, semente de girassol têm propriedades anti-inflamatórias que podem ajudar a reduzir a dor associada a condições inflamatórias, como na osteoartrite e na artrite reumatoide. Principalmente quando combinado com atividade física específica, acupuntura, tratamento por onda de choque, fisioterapia.
Frutas e vegetais: Ricos em antioxidantes (como vitamina C, E e polifenóis), ajudam a combater o estresse oxidativo (produção excessiva de radicais livres gerado pela inflamação) e o processo inflamatório. Exemplos: frutas vermelhas, cítricas, crucíferas como couve, brócolis, repolho. Romã, açaí.
Especiarias: Cúrcuma (curcumina) e gengibre têm efeitos anti-inflamatórios e ja há produtos da indústria farmacêutica com o extrato de ambos. A dose deverá ser avaliada pelo médico.
Gorduras saudáveis: Azeite de oliva extravirgem, abacate e oleaginosas contêm gorduras monoinsaturadas e compostos bioativos que pode auxiliar na redução da inflamação.


2. Redução de Alimentos Pró-inflamatórios:
Evitar alimentos ultra-processados, ricos em açúcares refinados e principalmente em gorduras saturada e gordura trans.  Visto que, eles podem aumentar o processo inflamatório e risco cardiovascular. Alterando também a percepção da dor, além de alterar a microbiota intestinal. Existe um ponto controverso que é a redução do consumo de carnes vermelhas e laticínios gordurosos (devido a quantidade de gordura saturada), que podem contribuir para processos inflamatórios em algumas pessoas. Isso não é válido para todos os pacientes, ou seja, a retirada de tais alimentos deve ser feita de forma programada e depois uma reintrodução com observação de sintomas (quantificando por escalas a melhora ou piora da dor). Qualquer coisa fora disso consideramos iatrogenia médica. O mesmo vale para glúten. Há pacientes que possuem sensibilidade não celíaca ao glúten e que quando consomem glúten apresentando piora da dor. Por isso, faz-se necessária a abordagem com nutrólogo e nutricionista que saibam o que estão fazendo e mais do que isso, consigam ensinar para o paciente, como ter uma autopercepção de melhora ou piora da dor. 

3. Nutrientes Específicos para o Controle da Dor
Magnésio: Encontrado em folhas verde-escuras, sementes de abóbora, amêndoas e grãos integrais, o magnésio ajuda a relaxar os músculos e pode aliviar dores musculares e cãibras. A dosagem sanguínea não deve ser feita rotineiramente, pois, o nível sanguineo não representa os níveis intracelulares (níveis reais). Além disso, há vários tipos de sais de magnésio e podem surgir efeitos colaterais com a utilização deles. Nunca autossuplemente.
Vitamina D: A deficiência de vitamina D está associada a dores crônicas, como fibromialgia e dores musculoesqueléticas. Exposição solar moderada e consumo de peixes gordurosos, ovos e suplementos (se necessário) podem ajudar.
Vitamina B12 e ácido fólico: Importantes para a saúde do sistema nervoso, podem ajudar em casos de dor neuropática. Fontes: carnes, ovos, laticínios e folhas verde-escuras. Aqui vale um adendo, as pessoas acreditam que B12 ou Ácido fólico não são deletérios. São. Não se autossuplemente. Há trabalhos que mostram que ambos podem aumentar risco de tumores sólidos, bem como risco cardiovascular. O déficit aumenta o risco de infarto, avc, mas o excesso também. Além disso, B12 e ácido fólico podem reduzir os níveis de ferro e B6.



4. Controle do Açúcar no Sangue:
Manter níveis estáveis de glicose no sangue pode prevenir dores associadas a neuropatias diabéticas. Priorize alimentos com baixo índice glicêmico, como grãos integrais, legumes e vegetais.

5. Hidratação Adequada:
A desidratação pode piorar dores de cabeça e dores musculares. Beber água suficiente e consumir alimentos ricos em água (como melancia, pepino, chuchu, tomate e abobrinha) é essencial.

6. Dietas Específicas para Condições Específicas

Dieta Low FODMAP: Pode ajudar pacientes com síndrome do intestino irritável (SII) a reduzir dores abdominais e desconforto gastrointestinal. Bem como, alguns trabalhos mostram benefício da Fibromialgia.

Dieta sem Glúten: Para pacientes com doença celíaca ou sensibilidade ao glúten não celíaca, a exclusão do glúten pode aliviar dores articulares e abdominais.

Dieta Cetogênica: Em alguns casos, como enxaquecas ou dores neuropáticas, a dieta cetogênica (rica em gorduras e pobre em carboidratos) pode ser benéfica. Também tem mostrado benéfica em alguns casos de lipedema. 


7. Suplementação

Em alguns casos, suplementos como ômega-3, curcumina, glucosamina, condroitina podem ser recomendados para alívio da dor, mas sempre sob supervisão do Nutrólogo e/ou Nutricionista. 

8. Acompanhamento Individualizado

Cada paciente responde de maneira diferente às intervenções nutricionais. É essencial que o Nutrólogo (com ênfase em Nutroterapia na Dor) avalie as necessidades individuais, considerando a doença de base, o tipo de dor, condições de saúde (comorbidades), história médica prévia, história patológica familiar, uso de medicações, hábitos de vida. 

Uma abordagem nutricional adequada pode ser uma ferramenta importante (mas não única) no manejo da dor, especialmente quando combinada com outros tratamentos médicos e mudanças no estilo de vida. No entanto, é fundamental que qualquer alteração na dieta seja feita por um Nutrólogo e nutricionista para garantir segurança e eficácia

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915

Nutricionista NÃO pode receitar remédio

Mensalmente alguém me pergunta no direct do instagram isso. Nutricionista pode receitar/prescrever remédio? A resposta é NÃO, baseado na Lei do ato médico de 2013. Mas no caso dos nutricionistas, o próprio código de ética dos Nutricionistas, além de normativas do Conselho Federal de Nutrição deixam bem claros que Nutricionistas não podem prescrever nada fora do tubo digestivo. 

Ou seja, Nutricionista não pode prescrever:

  • Produto que use via de administração diversa do sistema digestório; ou seja, injetáveis via intramuscular ou endovenosa são proibidos para nutricionistas. 
  • Medicamentos ou produtos que incluam formulações magistrais sujeitos à prescrição médica. Ou seja, não podem prescrever qualquer tipo de medicação para emagrecimento como Sibutramina, Orlistate, Liraglutida, Semaglutida, Tirzepatida ou medicamentos à base de vitaminas e minerais sujeitos a prescrição médica;
  • Suplementos com quantidades de nutrientes superiores aos níveis máximos regulamentados pela Anvisa ou na falta destes o Tolerable Upper Intake Levels – UL. Ex. Vitamina D acima de 4.000ui, B12 acima de 1.000mcg, Ferro acima de 60mg, etc.
  • Produtos que não atendam às exigências para produção e comercialização regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Mas o que nutricionista pode prescrever? 

Em 2020 o CFN publicou no DOU a Resolução CFN n° 656/2020, que dispõe sobre a prescrição dietética de suplementos alimentares pelo nutricionista e dá outras providências. A norma contempla a prescrição de produtos manipulados isentos de prescrição médica e mantém as diretrizes dos anexos I e II da IN Anvisa n° 28/2018, incluindo os limites de UL (tolerable upper intake levels – nível superior tolerável de ingestão) para nutrientes.

A prescrição dietética de suplementos alimentares pelo nutricionista inclui nutrientes; substâncias bioativas; enzimas; prebióticos; probióticos; produtos apícolas como mel, própolis, geleia real e pólen; novos alimentos e novos ingredientes e outros autorizados pela Anvisa para comercialização, isolados ou combinados, bem como medicamentos isentos de prescrição à base de vitaminas, minerais, aminoácidos e proteínas, isolados ou associados entre si. Ou seja, nutricionista não pode prescrever medicamentos alopáticos e nem homeopáticos. Também não são todos fitoterápicos que ele podem prescrever. Nem todas as doses de vitaminas e minerais.

O nutricionista pode prescrever produtos manipulados isentos de prescrição médica e contemplados no anexo da Resolução CFN n° 656/2020;

Para prescrição dietética de suplementos alimentares, o nutricionista deve respeitar os limites de UL (Tolerable Upper Intake Levels – nível superior tolerável de ingestão) para nutrientes e, em casos não contemplados, considerar critérios de eficácia e segurança com alto grau de evidências científicas; respeitar as listas de constituintes autorizados para uso em suplementos alimentares prevista nos anexos I e II da IN Anvisa n° 28/2018 e suas atualizações, e os insumos autorizados pela Anvisa para comercialização, disponíveis nas farmácias de manipulação; na prescrição de enzimas, indicar a atividade enzimática em unidades (U) e na de probiótico, em Unidades Formadoras de Colônias (UFC);

Dados a serem informados na receita: nome do paciente/cliente/usuário; via, composição e posologia dos suplementos alimentares; data de prescrição; assinatura, carimbo do profissional com nome, número de registro no conselho profissional e respectiva jurisdição; fone, endereço completo ou outro meio de contato profissional.

Autor: Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192 RQE 11915 - Médico Nutrólogo

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Consenso Brasileiro de Lipedema (metodologia Delphi)


O lipedema, historicamente sub-reconhecido, tem ganhado destaque devido aos avanços na pesquisa e ao aumento da conscientização. O Consenso Brasileiro de Lipedema, promovido pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, visa estabelecer diretrizes claras para diagnóstico, tratamento e manejo. Utilizando a metodologia Delphi, o estudo envolveu a criação de 90 afirmações sobre lipedema por especialistas, seguida pela avaliação de 113 profissionais adicionais. Essas afirmações foram analisadas via SurveyMonkey, com um limiar de 75% de concordância necessário para sua inclusão no consenso. A maioria das afirmações atingiu um consenso significativo, exceto nove, que precisam de mais pesquisa. O estudo enfatiza a complexidade do lipedema, a eficácia do tratamento conservador sobre a cirurgia, a necessidade de abordagens multidisciplinares e a importância da conscientização para reduzir o subdiagnóstico e o estigma. Ressalta-se também a contínua necessidade de pesquisas para desenvolver estratégias de manejo mais efetivas.

Na última semana foi publicado no Jornal Vascular Brasileiro o primeiro consenso de Lipedema. Liderado pelo Dr. Alexandre Amato, pesquisador de Lipedema. Para acessar clique em: 

É importante ressaltar que e momento nenhum os autores citam:
Implante de gestrinona ou de testosterona para tratamento do Lipedema
Soroterapia com qualquer nutriente para alívio dos sintomas
Suplementos com finalidade de melhorar a parte funcional dos portadores de Lipedema. O único nutriente citado foi a vitamina D.

O que o consenso evidenciou foi:
  • A abordagem multidisciplinar é fundamental no tratamento do lipedema. Cirurgiões vasculares podem gerenciar complicações linfáticas associadas.
  • Endocrinologistas ajudam a otimizar o perfil hormonal e metabólico dos pacientes. 
  • Ortopedistas podem ser consultados para lidar com as questões musculoesqueléticas decorrentes do excesso de peso nos membros.
  • Cirurgiões plásticos podem realizar procedimentos para reduzir o acúmulo de gordura e melhorar a funcionalidade e a estética. 
  • Psiquiatras e profissionais de saúde mental são essenciais para o acompanhamento dos aspectos emocionais e psicológicos, frequentemente negligenciados. 
  • Ginecologistas também desempenham um papel importante, particularmente no manejo de mulheres com lipedema que apresentam problemas hormonais e questões ginecológicas concomitantes.
  • Personal trainer auxiliará na prática de exercício físico, já que ele é um componente importante no manejo do lipedema, ajudando na melhoria da mobilidade, na redução do risco de complicações, como o linfedema, e na manutenção da saúde cardiovascular. No entanto, a atividade física deve ser adaptada para cada indivíduo, considerando a dor e a mobilidade. Um profissional de educação física com conhecimento específico sobre o lipedema pode elaborar programas de exercícios que minimizem o risco de lesões e maximizem os benefícios terapêuticos, considerando as limitações e necessidades específicas de cada paciente.
  • Nutrologia, Nutrição e Endocrinologia: A nutrição é um aspecto mais controverso, porém, ainda com alta concordância e evidência, diz respeito à relação entre carboidratos e proteínas na alimentação, que foi incluído na Fase 3 do Consenso. É fundamental que nutricionistas, nutrólogos, endocrinologistas e todos os profissionais envolvidos no tratamento do lipedema tenham acesso a programas de nutrição específicos e realizem uma abordagem consensual entre a equipe e o paciente, uma vez que o desacordo entre os profissionais dificulta a já difícil adesão a programas alimentares.
  • Tipo de dieta: dietas balanceadas podem ajudar a reduzir a inflamação sistêmica e os sintomas associados ao lipedema, além de potencialmente aumentar a eficácia de outras intervenções terapêuticas. Dietas específicas, como as anti-inflamatórias e cetogênicas, têm sido exploradas em relação ao lipedema e podem oferecer benefícios sintomáticos a alguns pacientes. Tais abordagens dietéticas devem ser consideradas cuidadosamente e adaptadas individualmente, dada a variabilidade de resposta entre os indivíduos. Pessoas com lipedema podem apresentar mudanças nos hábitos intestinais, muitas vezes como resultado de uma dieta com alimentos pró-inflamatórios e alterações na flora intestinal, que podem contribuir para um estado inflamatório sistêmico. 
  • A vitamina D, um nutriente com múltiplas funções biológicas, incluindo a modulação do sistema imunológico e da inflamação, é frequentemente encontrada em níveis deficientes em mulheres com lipedema. Portanto, a monitorização e a suplementação adequadas são essenciais para garantir a saúde óssea e possivelmente influenciar positivamente a progressão do lipedema. A adequação dos níveis de vitamina D pode desempenhar um papel no alívio dos sintomas e na prevenção de complicações associadas à condição.

Para ler o texto que escrevi com minha afilhada Esthefânia Almeida acesse: https://www.ecologiamedica.net/2024/06/lipedema-conceito-diagnostico.html

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Cerca de 50% dos pacientes com diabetes apresentam déficit de micronutrientes

Quase metade dos pacientes com diabetes tipo 2 (DM 2) apresentam deficiências de micronutrientes, com as mulheres apresentando essas deficiências com mais frequência do que os homens, e a situação é particularmente preocupante na América. 

Estudos anteriores relataram taxas de prevalência variáveis ​​de deficiências de micronutrientes em pacientes com DM 2, o que representa um desafio significativo para médicos e formuladores de políticas na formulação de recomendações nutricionais para o controle do diabetes.

Pesquisadores conduziram uma meta-análise de estudos publicados em vários idiomas entre 1998 e 2023 para estimar a prevalência de deficiências de micronutrientes em pacientes com DM 2.

Foram incluídos pacientes com DM 2( ≥ 18 anos) de todos os sexos e etnias, com ou sem complicações; a análise foi realizada em estudos transversais, longitudinais e de coorte e ensaios clínicos randomizados.

Foram avaliadas deficiências de minerais ou eletrólitos e vitaminas (A, complexo B, C, D, E e K).
As análises de subgrupos examinaram variações na prevalência de deficiências de micronutrientes entre os sexos, complicações diabéticas, ambientes hospitalares versus comunitários e regiões da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo Américas, Europa, Região do Mediterrâneo Oriental, Sudeste Asiático, Região do Pacífico Ocidental e África.

Os pesquisadores identificaram 132 conjuntos de dados de 127 estudos elegíveis (incluindo 52.501 pacientes no total).
Entre os pacientes com DM 2, a prevalência combinada de deficiência de micronutrientes foi de 45,30%, com notável heterogeneidade observada entre os estudos; entre aqueles com complicações diabéticas, 40% apresentaram deficiência de micronutrientes.

Uma análise específica por sexo (62 estudos para homens e 63 para mulheres) mostrou que a prevalência de deficiência de micronutrientes foi ligeiramente menor em homens do que em mulheres (42,53% vs 48,62%, respectivamente).

Entre nutrientes específicos, a prevalência de deficiência foi maior para vitamina D (60,45%; 66 estudos), seguida por magnésio (41,95%; 16 estudos), ferro (27,81%; três estudos) e vitamina B12 (22,01%; 34 estudos).

A prevalência de deficiência de micronutrientes variou entre as regiões da OMS, com a maior prevalência encontrada nas Américas (54,04%).

“O tratamento do diabetes tipo 2 geralmente tende a se concentrar no metabolismo energético e nos macronutrientes, mas a identificação de uma prevalência maior de deficiências específicas de micronutrientes nos afetados é um lembrete de que otimizar a nutrição geral deve ser sempre uma prioridade”, escreveu Shane McAuliffe, associado acadêmico sênior visitante, em um comunicado à imprensa relacionado .

“As descobertas devem ajudar a focar pesquisas e iniciativas políticas destinadas a aprofundar nossa compreensão das causas e efeitos dessas deficiências e do potencial para intervenções direcionadas e personalizadas”, acrescentou.

Este estudo foi liderado por Daya Krishan Mangal, International Institute of Health Management Research University, Jaipur, Índia. Foi publicado online no BMJ Nutrition, Prevention & Health .

A maioria dos estudos foi baseada em hospitais, com viés de seleção inerente, o que limitou a generalização para a população mais ampla. A natureza transversal dos estudos incluídos tornou desafiador estabelecer causalidade entre deficiência de micronutrientes e controle glicêmico ruim. Nenhum dos estudos avaliou o efeito de vários fatores de confusão decorrentes da distribuição de lugar, pessoa e tempo de pacientes com DT2.

Este estudo foi apoiado por uma bolsa da Abbott Nutrition Research and Development. Um autor relatou ser funcionário da Abbott, a patrocinadora do estudo.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Soroterapia ou suplementação com injetáveis

  


Com a popularização da denominada Soroterapia, praticamente todos os dias algum paciente/seguidor/colega me pergunta sobre o tema. Na maioria das vezes querendo saber a minha opinião sobre o tema. Se vale a pena fazer infusão endovenosa de nutrientes ou se é só uma modinha.

Começo do ano, escrevi um texto bem detalhado junto com amigos nutrólogos. Nele explicamos de forma detalhada quando está indicada esse tipo de terapia. Quando há indícios de infração ética. 

Mas antes de ler o texto abaixo sugiro que você me siga no instagram: @drfredericolobo para mais informações de qualidade em Nutrologia e Medicina. Lá, posto principalmente nos stories, informação de qualidade e no feed, junto com meus afilhados postamos sobre vários temas.

Aguardamos ansiosos uma resolução nova do CFM sobre o tema. Passou da hora.

att

Dr. Frederico Lobo


Soroterapia - Modinha repaginada, aspectos éticos e legais

Recentemente, temos percebido uma confusão sobre o tema “terapia com injetáveis em Nutrologia”, ou vulgarmente chamada de Soroterapia.

Classicamente, na Nutrologia/Nutrição temos a Terapia Nutricional Parenteral (inclusive é uma área de atuação dentro da Medicina). De acordo com a Portaria 120/2009 (ANVISA), consiste em uma solução ou emulsão composta por carboidratos, lipídeos, aminoácidos, vitaminas e minerais destinada à administração intravenosa, para suprir as necessidades metabólicas e nutricionais de pacientes impossibilitados de alcançá-las pela via oral ou pela via enteral. Vejam bem, IMPOSSIBILITADOS !

Há indicações bem estabelecidas na literatura e é uma prática que salva vidas, devendo ser prescrita somente por médicos (de acordo com a lei do ato médico de 2013, a infusão endovenosa de qualquer substância é um ato privativo dos médicos).

Atualmente, temos visto aplicação de aminoácidos, vitaminas, minerais e nutracêuticos por via intramuscular ou por via intravenosa, realizadas em consultórios. Alguns dermatologistas prescrevendo o denominado “Soro da beleza”. Médicos fazendo promessas de acelerar o metabolismo através de soros ou até mesmo de “desinflamar’. Qualquer tipo de infusão deve ser baseada em literatura robusta, visto que, se o paciente tiver alguma complicação, o médico terá algum respaldo.

Isso é proibido? Não, se seguir as normativas da vigilância sanitária. Ou seja, precisa ter carrinho de parada? Sim. Uma estrutura mínima, de acordo com as normas da ANVISA.

Isso é área de atuação do nutrólogo? Sim, se tiver indicação com evidência científica, mas será considerado antiético se o médico exagerar no diagnóstico do paciente, praticando atos médicos desnecessários. Nesse caso, ele pode infringir os artigos 14 e 35 do Código de Ética Médica (CEM), citados a seguir:

Art. 14. [É vedado ao médico] Praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela legislação vigente no País.

Art. 35. [É vedado ao médico] Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedimentos médicos.

Caso o paciente apresente alguma complicação decorrente do tratamento prescrito, o médico também pode responder por infração referente ao artigo 1º do CEM:

Art. 1º [É vedado ao médico] Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.

E quais seriam as situações em que se justifica a aplicação dessas substâncias por uma via que não seja a via oral?

1º: Se:

A) O trato gastrointestinal (TGI ) não está funcionante,

B) O TGI está inacessível,

C) O TGI está com dificuldade absortiva,

C) Quando a demanda metabólica é superior a capacidade de tolerância do TGI

Aí opta-se pela nutrição parenteral, plena ou suplementar.

Temos como exemplos pacientes:

  • Portadores de síndrome do intestino curto, 
  • Oncológicos com deficiência nutricional grave, 
  • Portadores de doença inflamatória intestinal em atividade que não toleram dieta oral ou dieta enteral,
  • Dentre outras inúmeras condições clínicas e cirúrgicas. 
Vejam bem, são situações específicas, pacientes com doenças e não indivíduos saudáveis.

2º: Situações de falhas no tratamento após tentativas de reposição por via oral/enteral de eletrólitos, vitaminas ou minerais. Exemplo: pacientes pós bariátricos que podem não responder a reposição de ferro, vitamina B12 por via oral. 

Ou seja, a via de escolha inicialmente sempre deve ser a via oral, seja através da alimentação, seja através da suplementação nos casos das deficiências nutricionais.

Um adendo, raríssimas vezes faz-se necessária a reposição de vitamina D intramuscular, primeiro porque por mais baixa que seja essa deficiência, ela não é uma emergência médica, segundo, que há apenas 01 guideline recomendando essa prática e mesmo assim, apenas em casos refratários a doses altas via oral. Ou seja, vitamina D, 99% das vezes subirá com a reposição via oral ou sublingual. Para piorar a situação, na indústria não temos nenhuma apresentação de vitamina D injetável, somente manipulada. Ou seja, se tiver complicação, o médico prescritor não tem respaldo científico e o advogado especialista em direito médico terá que fazer malabarismo para evitar a condenação, seja ela no CRM ou na esfera civil. 

Recentemente, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) publicou nota de esclarecimento sobre a administração de soroterapia e o novo coronavírus onde esclarece que não faz parte de seus rol de procedimentos a administração de soroterapia endovenosa para a prevenção de doenças infectocontagiosas, bem como, não há nenhuma evidência científica de que a infusão de soros, com qualquer dose de vitaminas, minerais, aminoácidos, antioxidantes ou outros nutrientes, tenha efeito preventivo contra o novo Coronavírus.

https://abran.org.br/2020/03/16/nota-de-esclarecimento-relacao-entre-a-administracao-de-soroterapia-e-o-coronavirus/

Em Julho de 2022 a ABRAN também publicou em seu instagram um comunicado sobre práticas que não constam no rol de procedimentos da Nutrologia. Nessa lista incluem a Soroterapia da Beleza:

https://abran.org.br/2018/03/14/rol-de-procedimentos/

Dias antes publicaram também um comunicado sobre a Soroterapia.

https://abran.org.br/2022/07/04/%EF%BF%BCcomunicado-associacao-brasileira-de-nutrologia-abran-sobre-a-soroterapia-da-beleza/


E o pior é que as pessoas pensam que a soroterapia é novidade, mas esquecem que desde final da década de 90 essa prática já acontecia nos consultórios médicos.

Cerca de 20 anos após, em 2010 o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução regulamentando a prática ortomolecular (vale ressaltar que tal resolução não reconhece a ortomolecular como uma especialidade médica) e regulamenta os procedimentos diagnósticos e terapêuticos desta prática. Criando princípios norteadores baseados em postulados científicos, tais como:

A avaliação de nutrientes, vitaminas, minerais, ácidos graxos ou aminoácidos que faz parte da propedêutica médica (ciência que estuda os sinais e sintomas de uma doença) e os tratamentos das eventuais deficiências ou excessos “devem obedecer às comprovações embasadas por evidências clínico-epidemiológicas que indiquem efeito terapêutico benéfico”, diz a resolução.

O documento também veda os métodos destituídos de comprovação científica, entre eles a prescrição de megadoses de vitaminas, proteínas, sais minerais e lipídios para a prevenção primária e secundária, e o uso de ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) para a remoção de metais tóxicos, fora do contexto das intoxicações agudas e crônicas.

Veda também o uso de EDTA e procaína como terapia antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose e para o tratamento de doenças crônico-degenerativas. Proíbe, ainda, a análise do tecido capilar fora do contexto do diagnóstico de contaminação ou intoxicação por metais tóxico

Fonte: https://sistemas.cfm.org.br/normas/arquivos/resolucoes/BR/2010/1938_2010.pdf

Em 2012 essa resolução foi revogada e o CFM na nova resolução em 2012 ( https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2012/2004 ), considerando os riscos potenciais de doses inadequadas de produtos terapêuticos, tais como algumas vitaminas e certos sais minerais, decidiu:

Art. 2ºA avaliação de nutrientes, vitaminas, minerais, ácidos graxos ou aminoácidos que podem, eventualmente,  estar  em  falta  ou  em  excesso  no  organismo  humano,  faz  parte  da  propedêutica médica.
§  1º A  identificação  de  alguma  das  deficiências  ou  excessos  só  poderá  ser  atribuída  a  erro nutricional ou distúrbio da função digestiva após terem sido investigadas e/ou tratadas as doenças de base concomitantes.
§  2º Os  tratamentos  das  eventuais  deficiências  ou  excessos  devem  obedecer  às  comprovações embasadas por evidências clínico-epidemiológicas que indiquem efeito terapêutico benéfico. 

Art. 3º – A reposição medicamentosa em comprovadas deficiências de vitaminas, minerais, ácidos graxos ou aminoácidos será feita de acordo com a existência de nexo causal entre a reposição de nutrientes e a meta terapêutica ou preventiva;

Ou seja, o médico deve comprovar a real necessidade da utilização do soro. Na prática não é existe nexo causal na maioria das prescrições que recebemos na nossa prática clínica. 

Art. 4º – Medidas higiênicas, dietéticas e de estilo de vida não podem ser substituídas por qualquer tratamento medicamentoso, suplementos de vitaminas, sais minerais, ácidos graxos ou aminoácidos

Além de comprovar a nexo causal, a via de escolha deve ser sempre a alimentação. Se o caso é refratário à mudança na alimentação, aí instituímos a reposição do suplemento Via Oral.

Se a suplementação não funciona, aí sim, pode-se postular em aplicar o nutriente por dia endovenosa ou intramuscular.

Infelizmente a grande totalidade dos casos que recebo no meu consultório (e os membros do movimento Nutrologia Brasil também vivenciam dessa forma), a grande maioria dos casos, os pacientes recebem indicação de terapias endovenosas ou intramusculares por comodidade de via. Ou seja, pode existir aí indícios de uma infração ética ao código de ética médica. Cabendo ao CRM abrir sindicância para averiguar se houve ou não infração ética.

Além disso, cobram preços exorbitantes em produtos que geralmente custam 15 vezes menos no mercado comum. Exemplo: 3 ampolas de vitamina B12 em uma drogaria custa cerca de 20 reais. As mesmas 3 ampolas em clínicas de soroterapia, cada aplicação custa cerca de 300 reais. 20:300 = 15. 5 ampolas de ferro endovenoso em uma farmácia comum custa no máximo R$ 100, 20 reais por ampola de ferro. A mesma aplicação em clínicas de soroterapia podem custar até 300 reais. Obviamente aqui cabe discussão de preço e valor.

A maioria afirmam que pacientes pós-bariátricos necessitam de soroterapia. No ambulatório de Nutrologia que (eu Frederico Lobo) coordeno no SUS temos mais de 600 pacientes e afirmo categoricamente, uma grande parte não precisa. Exceto de Ferro ou B12. Quase todos respondem ao uso de polivitamínicos/poliminerais disponíveis no mercado. Sendo assim, conseguem atingir bons níveis de vitamina D apenas com reposição convencional, bem como a maioria dos minerais e vitaminas.

Ou seja, a prática já existia, só repaginaram a terapia.

É importante deixar claro que da forma que está sendo feito, não faz parte da Nutrologia e a própria Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) já se posicionou contra em suas redes sociais e site. Para se aplicar um nutriente faz-se necessário ter nexo causal e a via digestiva deve ser prioridade. Dieta e suplemento via oral são mandatórios e a primeira escolha: https://abran.org.br/2022/07/04/%ef%bf%bccomunicado-associacao-brasileira-de-nutrologia-abran-sobre-a-soroterapia-da-beleza/

A BRASPEN (Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral) também emitiu parecer sobre a utilização de micronutrientes endovenosos em adultos.


De acordo com a ANVISA, esse tipo de prática não é proibida, desde que a clínica siga as normativas da vigilância. Mas perante o CFM, será considerado antiético se o médico exagerar no diagnóstico do paciente, praticando atos médicos desnecessários: Infração dos artigos 14 e 35 do Código de ética médica.

Acreditamos que logo a modinha passa e será repaginada. Percebam que nada explanado aqui é sem fundamento, é baseado nas resoluções do próprio CFM.

Autores:

Dra. Karoline Calfa – Médica Nutróloga, com título de especialista na área de atuação em Nutrição Enteral e Parenteral, Especialista em Clínica Médica – CRM-ES 6411 | RQE Nº: 6156, RQE Nº: 10585, RQE Nº: 10584. Conselheira do CRM-ES. Responsável pela Câmara técnica de Nutrologia do CRM-ES.

Dr. Frederico Lobo – Médico Nutrólogo – CRM-GO 13192 – RQE 11915 e CRM-SC 32949 RQE 22416.

Dr. Pedro Dal Bello – Nutrólogo e Oncologista clínico.

Dr. Rafael Iazetti – Médico Nutrólogo.

Dra. Edite Melo Magalhães – Médica Nutróloga, com título de especialista na área de atuação em Nutrição Enteral e Parenteral, Especialista em Clínica Médica

Dra. Camila Froehner – Médica Nutróloga, com título de especialista na área de atuação em Nutrição Enteral e Parenteral, Especialista em Clínica Médica

Dra. Aritana Alves – Médica Nutróloga

Em tempo: 20/03/2024

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) se posicionou sobre a Soroterapia, bem como o CREMESP.


A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) vem a público se manifestar quanto a prática da SOROTERAPIA devido aos inúmeros questionamentos que temos recebido de veículos de imprensa e dos próprios pacientes nos consultórios dermatológicos.

Nos últimos anos, observamos uma crescente divulgação entre a população de novos métodos terapêuticos baseados no emprego de suplementos (como vitaminas, minerais, aminoácidos e outros compostos) para fins estéticos, de melhora da imunidade e desempenho esportivo, além de tratamentos, que deveriam ser prescritos por médicos dermatologistas, como o tratamento de alopecias (calvície). É importante dizer que esses métodos não possuem evidências clínico-científicas consistentes que comprovem a sua segurança e eficácia.

A soroterapia não faz parte do rol de procedimentos médicos. A prática da soroterapia com fins dermatológicos carece de estudos científicos na literatura médica.

Os medicamentos e nutrientes endovenosos podem ser muito úteis em casos específicos de prescrição para reposição em pacientes com deficiências. A reposição de vitaminas e minerais endovenosa deve ser realizada apenas quando o paciente não responde à reposição oral, sendo um procedimento aplicado em pacientes crônicos portadores de má absorção intestinal, além de outras condições e doenças clinicas e laboratorialmente diagnosticadas. O emprego de doses em excesso pode ser tóxico ao organismo do paciente, causando uma série de efeitos adversos indesejáveis.

As intervenções médicas sempre devem ter por base as melhores evidências clínico-epidemiológicas disponíveis, que indiquem que o efeito terapêutico benéfico é superior a potenciais efeitos adversos, preferencialmente através de estudos prospectivos e controlados. É vedado ao médico usar experimentalmente qualquer tipo de terapêutica ainda não liberada para uso em nosso país sem a devida autorização dos órgãos competentes e sem o consentimento do paciente ou de seu responsável legal, que devem estar devidamente informados da situação e das possíveis consequências.



domingo, 23 de junho de 2024

Lipedema - Conceito, diagnóstico, tratamento e como o nutrólogo pode te auxiliar?

 

Lipedema: muito além do hype

Que o tema está na moda, todo mundo sabe, o que não te contam é que pouco se sabe ainda, sobre o tratamento realmente eficaz para o Lipedema.

Mas o que é lipedema? Como diferenciar lipedema de obesidade? Como se faz o diagnóstico de lipedema? Quais os tratamentos disponíveis para o lipedema?

Essas são apenas algumas das perguntas que recebo diariamente no meu consultório e no direct do instagram: @drfredericolobo e @draesthefaniagalmeida Se você não nos segue, sugerimos que siga. Sempre postamos informações confiáveis sobre saúde e bem-estar. 

Antes de tudo, é preciso salientar que a doença não é nova, mas ganhou "fama" por conta de profissionais que querem vender soluções milagrosas. Se tem o esperto para vender solução, tem o bobo para comprá-la.

O lipedema (ou lipofilia membralis) é uma patologia inflamatória (de baixo grau) e crônica do sistema linfático e gorduroso. Nele há um acúmulo desproporcional de gordura, nas extremidades (membros, porém, especialmente nos membros inferiores). 

Além desse acúmulo de gordura, o paciente queixa-se de desconforto na região do acúmulo, como por exemplo sensação de peso nas pernas, inchaço, dor e hematomas que surgem facilmente.

Por ter uma característica inflamatória (quando a biópsia dessa gordura é vista pelo patologista), vários profissionais postularam que uma dieta antiinflamatória e uso de nutracêuticos (antiiflamatórios e antioxidantes) poderiam auxiliar no tratamento.

Prevalência e confusão no diagnóstico

Descrito pela primeira vez na medicina nos anos 1940 nos Estados Unidos, o lipedema afeta 1 a cada 10 mulheres, o que soma cerca de 5 milhões de brasileiras. Ou seja, é uma doença de alta prevalência, porém de baixo reconhecimento e diagnóstico, sendo frequentemente subdiagnosticado ou confundido com obesidade ginecoide, linfedema ou mesmo insuficiência venosa. No mundo todo, acredita-se que acometa mais de 10% das mulheres.

Por levar a alterações na silhueta corporal, o quadro é frequentemente rotulado de questão estética, o que não é, pois trata-se de uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Sua inclusão na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) passou a vigorar em janeiro de 2022:  EF02.2

Qual a fisiopatologia? Como surge?

Ainda não sabemos ao certo o mecanismo fisiopatológico do lipedema, porém, sabemos que há envolvimento de fatores hormonais e forte componente genético. Sendo mais comum em mulheres que em homens.

É comum o relato que o acúmulo iniciou na puberdade, após gravidez, uso de anticoncepcionais ou até mesmo após menopausa. Alguns pesquisadores correlacionam as alterações nos níveis de estrogênio e progesterona como gatilho para o desencadeamento. Esses hormônios estimulariam certos grupos de células de gordura a inflar de um modo anormal. Daí a condição ser praticamente exclusiva das mulheres. 
 
Sabe-se que além do acúmulo de gordura (hiperplasia e hipertrofia dos acipócitos), existe uma maior prevalência de substâncias (citocinas) pró-inflamatórias. Isso provavelmente leva a alteração nos capilares, tornando-os frágeis, o que pode facilitar o surgimento dos hematomas. A infiltração gordurosa acaba alterando os vasos linfáticos e com isso ocorre uma hiperpermeabilidade, levando a uma retenção de líquidos. Além disso ocorre uma privação de oxigênio o que ocasiona dor e posteriormente fibrose local, o que torna a doença progressiva. Também há uma redução da mobilidade do membro, o que perpetua o processo.

Diagnóstico 

Os critérios diagnósticos do lipedema, descritos por Wold et al. (1951) e modificados por Herbst, envolvem tendência a hematomas, aumento de volume dos membros simétrico e bilateral poupando pés e mãos e hipersensibilidade local.    É importante salientar, que diferente da obesidade, no lipedema a circunferência dos membros não reduz após a perda de peso.

Critérios clínicos para o diagnóstico de lipedema:
  • Distribuição DESPROPORCIONAL da gordura corporal. Ou seja, acumulando mais em membros superiores ou inferiores
  • Nenhuma ou limitada influência da perda de peso na distribuição da gordura nos membros
  • Hipertrofia dos adipócitos bilateral, simétrica e desproporcional nos membros
  • Poupa preservação das mãos e pés (fenômeno do manguito)
  • Envolvimento dos braços aproximadamente 30%
  • Sinal de Stemmer negativo
  • Sensação de peso e tensão nos membros afetados
  • Dor à pressão e ao toque nos membros
  • Edema sem depressões
  • Tendência acentuada para formação de hematomas
  • Piora dos sintomas ao longo do dia
  • Não é melhora da dor ou do desconforto com a elevação dos membros
  • Telangiectasias e marcas vasculares visíveis ao redor dos depósitos de gordura
  • Hipotermia da pele
Ao exame físico a paciente pode apresentar:
Parte proximal do membro inferior:
Distribuição desproporcional de gordura
Gordura cutânea circunferencialmente espessada
Parte distal do membro inferior: 
Espessamento proximal da gordura subcutânea
Espessamento distal da gordura subcutânea, acompanhado de peito do pé delgado (sinal do manguito)
Parte proximal do braço:
Gordura subcutânea significativamente espessada em comparação com a vizinhança
Parada repentina no cotovelo
Parte distal do braço: 
Gordura subcutânea espessada, acompanhada de dorso da mão delgado (sinal do manguito)

Alguns autores propuseram a criação de um questionário de rastreamento.

Doenças que podem coexistir com o Lipedema

Dentre as doenças associadas ao lipedema pode-se citar: linfedema, obesidade, doenças venosas,  doenças articulares e o Transtorno do espectro de hipermobilidade (hipermobilidade articular) ou TEh. 
Até 58% dos casos podem cursar com TEh Sendo muito comum em portadoras de Síndrome de Ehlers Danlos do tipo Hipermóvel. Essa coexistência reforça a contribuição de um distúrbio em tecido conectivo na fisiopatologia do lipedema. Para conhecer mais sobre a Síndrome de Ehlers Danlos (SEDh) clique aqui: https://www.ecologiamedica.net/2023/03/sindrome-de-ehlers-danlos.html

Classificação do lipedema e os estágios

Pode-se classificar o lipedema em 5 subtipos, a depender da distribuição de tecido adiposo: 
  • Tipo I (aumento da deposição em quadris e coxas), 
  • Tipo II (extensão até joelhos, principalmente em face interna), 
  • Tipo III (até tornozelo), t
  • Tipo IV (acometimento de membros superiores): 30% dos casos
  • Tipo V (apenas porção inferior das pernas é afetada). 

Também pode ser estratificado em 4 estágios considerando a gravidade: 
  • Estágio 1 (pequenos nódulos subcutâneos palpáveis sem alterações cutâneas), 
  • Estágio 2 (lipoesclerose nodular com irregularidades cutâneas), 
  • Estágio 3 (pele com textura irregular em aspecto “casca de laranja”  com macronodulações subcutâneas palpáveis),
  • Estágio 4 (lipolinfedema).  




E qual o tratamento?

Alguns médicos e nutricionistas alardeiam por aí que existem protocolos de dietas, suplementos e até tratamentos hormonais para o lipedema. Entretanto, até o presente momento, não há evidências científicas que recomendam um tratamento medicamentos ou suplementos específicos para a patologia.

Apesar de existir um componente inflamatório, não existe uma dieta do lipedema. 

As abordagens conservadoras (sem cirurgia), envolvem:
1) Controle do peso,
2) Alimentação saudável (nutricionalmente equilibrada, com boa ingestão de vegetais),
3) Medidas de alívio dos sintomas locais, 
4) Evitar os fatores que pioram como por exemplo o uso de pioglitazona e prevenir a progressão da doença.

Os grandes artigos mais recentes de revisão sobre o tema, os autores são unânimes em informar que não existe medicamentoso, suplemento específico para lipedema. 

Infelizmente, nem sempre a Medicina terá todas as respostas que precisamos para todas as doenças. Mas isso não significa que possamos inventar tratamentos e protocolos apenas para lucrar com o desespero alheio. Necessitamos de mais pesquisa na área. O que não precisamos é de profissionais que tentam lucrar em cima de uma patologia de difícil tratamento e que ainda não é bem elucidada.

Cirurgia redutora de lipedema é atualmente a  única técnica disponível para remover os tecidos anormais presentes no lipedema como: adipócitos, nódulos, matriz extra celular fibrótica e outros componentes não adipócitos. Ele também é o único  tratamento que reduz a progressão da doença e idealmente deve ser instituído antes das complicações do lipedema surgirem. Portanto, mais um motivo para tomar cuidado com terapias alternativas, sob risco de perder o momento ideal para o tratamento respaldado, que até hoje ainda é o tratamento cirúrgico.

Estratégias terapêuticas propagadas nas redes sociais
  • Antioxidantes com N-acetilcisteína (NAC), Zinco, Selênio, Resveratrol, Ácido alfa lipóico (endovenoso): Ainda sem evidência. Não é citado no Consenso Brasileiro de Lipedema.
  • Antiinflamatórios com o ômega 3, quercetina, pycnogenol, curcumina: Ainda sem evidência. Não é citado no Consenso Brasileiro de Lipedema.
  • Tratamento do intestino com Glutamina, Cúrcuma, prebióticos, probióticos e enzimas digestivas: Ainda sem evidência. A importância da microbiota é citada no Consenso Brasileiro de Lipedema, mas não indicam nada que faça suporte gastrintestinal. Além disso, sensibilidades alimentares e alterações nos hábitos intestinais podem indicar uma resposta inflamatória sistêmica que exacerba os sintomas. A ocorrência de alergias respiratórias e distúrbios do sono também é relatada com frequência e pode estar relacionada ao estado inflamatório crônico. A ingestão inadequada de água e fibras pode contribuir para as dificuldades intestinais e para o manejo geral da doença. Portanto, é essencial que os pacientes com lipedema mantenham uma dieta balanceada e atendam às recomendações diárias de ingestão de nutrientes para ajudar a mitigar esses efeitos.
  • Dieta mediterrânea: devido o padrão "antiinflamatório" há alguns estudos mostrando melhora nos quadros leves, reduzindo a dor, melhorando a mobilidade e o inchaço.  
  • Dieta cetogênica: melhora na composição corporal, relatos de caso evidenciando melhora da dor. Há alguns trabalhos com a VLCKD: Very low calorie ketogenic diet: Baixa evidência
  • Uso de vitamina D e B12: Ainda sem evidência, só repor nas deficiências e quando os níveis estiverem no limite inferior. De acordo com o Consenso Brasileiro de Lipedema, a vitamina D, um nutriente com múltiplas funções biológicas, incluindo a modulação do sistema imunológico e da inflamação, é frequentemente encontrada em níveis deficientes em mulheres com lipedema. Portanto, a monitorização e a suplementação adequadas são essenciais para garantir a saúde óssea e possivelmente influenciar positivamente a progressão do lipedema. A adequação dos níveis de vitamina D pode desempenhar um papel no alívio dos sintomas e na prevenção de complicações associadas à condição.
  • Aminas simpaticomiméticas como Venvanse e ritalina: teoricamente fariam contração de arteríolas levando a uma menor pressão intracapilar: sem evidência. Não é citado no Consenso Brasileiro de Lipedema.
  • Uso de hormônios como a gestrinona: Sem evidência de melhora e o tratamento hormonal pode agravar o quadro. De acordo com a Associação Brasileira de Lipedema não há evidências: https://lipedema.org.br/uso-da-gestrinona-no-tratamento-do-lipedema-uma-perspectiva-cautelosa/
  • Suplementos que teoricamente alterariam a composição corporal: quitosana, L-carnitina, Cromo, Efedrina, Sinefrina, Piruvato e Ácido linoleico conjugado: Ainda sem evidência
  • Terapias de compressão e abordagens fisioterapêuticas, como a terapia física descongestionante complexa (CTD), têm se mostrado eficazes na redução do desconforto e do edema, embora a variação individual na resposta ao tratamento seja comum.  De acordo com o  Consenso Brasileiro de Lipedema, a massagem manual se destaca como uma técnica valiosa, capaz de promover o alívio sintomático do inchaço e da dor. Essa abordagem terapêutica é fundamentada na melhoria da circulação e na estimulação do fluxo linfático, proporcionando benefícios tanto físicos quanto psicológicos aos pacientes. A CDT é um pilar fundamental no tratamento do lipedema, mesmo nas fases iniciais da doença. Composta por várias estratégias, como cuidados com a pele, massagem linfática manual, exercícios e compressão, a CDT pode proporcionar um controle significativo sobre a progressão do lipedema, ajudando a prevenir a acumulação de líquidos e o avanço do inchaço. 
  • Exercício físico: parte primordial do tratamento, desde que de baixo impacto, como exercícios aquáticos, caminhada e ioga, são recomendadas para a manutenção da mobilidade e o manejo do peso em pacientes com lipedema. Essas práticas oferecem o benefício adicional de serem gentis para as articulações, o que é especialmente importante em uma condição que pode causar dor e fragilidade articular. O fortalecimento muscular, particularmente dos músculos posteriores da coxa, demonstrou ser uma estratégia eficaz no manejo do lipedema, contribuindo para o alívio dos sintomas e para a melhoria da funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes. A prática do autocuidado é um componente essencial no manejo do lipedema. Técnicas como a automassagem com escovas de cerdas macias, o uso de plataformas vibratórias e a aplicação regular de meias elásticas podem oferecer autonomia ao paciente e um controle adicional sobre os sintomas, reforçando as medidas de tratamento aplicadas pelos profissionais de saúde. 
  • Uso de meias de compressão: Com a progressão do lipedema, o uso de terapias de compressão, através de meias elásticas, pode se tornar desafiador devido à desproporção dos membros e ao desconforto potencial. Por isso, a personalização desses dispositivos é crucial para assegurar a eficácia do tratamento e o conforto do paciente, sobretudo durante episódios de inflamação acentuada. Alguns trabalhos mostram que as meias podem aliviar o quadro, reduzir a dor e melhorar a mobilidade. 
  • Controle do estresse: As práticas de gerenciamento do estresse, como mindfulness e técnicas de respiração, são reconhecidas por sua capacidade de melhorar o bem-estar geral. No contexto do lipedema, elas podem ter um papel valioso, não apenas aliviando o estresse psicológico, mas também mitigando a dor crônica e facilitando a adesão ao tratamento. 
  • Lipoaspiração tumescente: Tratamento com maior evidência, nos quadros moderados a graves. Feita por cirurgião plástico experiente. Promove melhora significativa da mobilidade, da dor e do inchaço. O Consenso Brasileiro de Lipedema afirma que a cirurgia, como uma opção de tratamento para o lipedema, não deve ser realizada de forma precipitada e é geralmente aconselhável explorar totalmente as opções de tratamento clínico por pelo menos 1 ano antes de considerar o procedimento. A compreensão da paciente sobre sua condição e a resposta ao tratamento clínico são essenciais para orientar essa decisão. Em casos de lipedema avançado, em que a mobilidade é significativamente afetada, a cirurgia pode ser considerada mais precocemente. 
Deixo aqui a excelente aula de uma grande amiga endocrinologista e nutróloga, Dra. Tatiana Abrão


Fontes:
Autores:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 RQE 11915 @drfredericolobo
Dra. Esthefânia Garcia de Almeida - Médica Endocrinologista, Nutróloga. CRM MG 65050 RQE 44779 e RQE 40100 @draesthefaniagalmeida

Abaixo alguns vídeos que minha afilhada Dra. Lia Bataglini fez sobre o tema.  Acesse também o texto que ela escreveu sobre o tema: https://liabataglini.com.br/lipedema-tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-doenca/