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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Artigo: Avaliando a relação entre fatores dietéticos e a saúde capilar: uma revisão sistemática

Contexto

Alimentos e nutrientes específicos têm grande importância na manutenção de cabelos saudáveis, um aspecto crucial da identidade e autoestima do indivíduo.

Objetivo

Identificar, por meio de uma revisão da literatura, a associação entre o consumo de alimentos e/ou nutrientes específicos e a saúde capilar.

Métodos

Esta revisão seguiu as diretrizes PRISMA e foi registrada na plataforma PROSPERO (número de registro: CRD42024527250). As bases de dados Medline (PubMed), Web of Science e Scopus foram consultadas entre março e junho de 2024. Os critérios de inclusão considerados foram: indivíduos com idade ≥3 anos; consumo/ingestão de alimentos/nutrientes específicos; e artigos escritos em inglês e português. A expressão de busca combinou termos relacionados a “dieta”, “nutrição” e “saúde capilar” (n = 1287 artigos), aos quais foram aplicados filtros de idioma e remoção de duplicatas.

Resultados

A análise de 17 estudos envolveu 61.332 participantes, predominantemente mulheres (97%). A vitamina D destacou-se como o nutriente mais estudado (cinco estudos), enquanto alopecia e queda de cabelo foram os parâmetros de saúde capilar mais investigados (oito e cinco estudos, respectivamente). Níveis mais elevados de vitamina D e ferro apresentaram relação inversa com alopecia. Por outro lado, maior consumo de bebidas alcoólicas e açucaradas correlacionou-se positivamente com queda de cabelo.

Conclusão

A dieta e a nutrição desempenham um papel fundamental na saúde capilar, em especial a suplementação de vitamina D e ferro, enquanto a limitação do consumo de álcool e refrigerantes pode ser benéfica. Mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados.

Introdução

O cabelo é uma característica individual importante que desempenha um papel fundamental na autoestima e identidade de uma pessoa. Nas últimas décadas, tem havido um crescente interesse em investigar o papel da dieta e da nutrição na saúde capilar (Gokce et al., 2022). Embora os mecanismos precisos ainda não estejam totalmente esclarecidos, estudos indicam que certas vitaminas e minerais, como a vitamina D e o ferro, são essenciais para o desenvolvimento normal dos folículos pilosos (Cruz et al., 2020; O’Connor e Goldberg, 2021; Rajput, 2022).

Da mesma forma, é evidente que a deficiência de nutrientes específicos pode contribuir para o aparecimento da alopecia (Almohanna et al., 2019). Essa condição é definida pela ausência ou redução de cabelo em uma área onde normalmente ele seria esperado, afetando indivíduos de diferentes faixas etárias e gêneros (Al Aboud e Zito, 2024). Do ponto de vista clínico, a queda de cabelo é uma preocupação prevalente na prática dermatológica, com impacto psicológico e emocional significativo para os indivíduos afetados (Aşkın et al., 2022).

A relação entre dieta e saúde capilar permanece pouco explorada na literatura. Revisões recentes (2021–2022) concentraram-se principalmente no papel dos nutrientes na alopecia/queda de cabelo (Gokce et al., 2022; O’Connor e Goldberg, 2021; Rajput, 2022), destacando a necessidade de mais pesquisas nessa área. Entretanto, poucos estudos investigaram os efeitos combinados de alimentos, suplementos e nutrientes na saúde capilar. Este estudo sintetiza a literatura existente, oferecendo uma visão abrangente da associação entre dieta, nutrição e saúde do cabelo. Os achados podem servir como um recurso valioso tanto para indivíduos quanto para profissionais de saúde que buscam implementar intervenções mais eficazes (Gupta et al., 2021; Hailemariam et al., 2019; McKibbon, 1998).

Esta revisão teve como objetivo identificar associações entre alimentos e/ou nutrientes específicos e a saúde capilar com base na literatura existente. Para atingir esse objetivo, os critérios de elegibilidade dos estudos foram estruturados utilizando o modelo PICOS, que define população, indicador, comparador, desfecho e desenho do estudo.

Discussão

Os 17 artigos incluídos nesta revisão sistemática oferecem uma visão abrangente da relação entre alimentação, nutrição e saúde capilar. Os principais nutrientes e alimentos examinados foram vitamina D, ferro, proteína, soja, vegetais crucíferos, bebidas alcoólicas e açucaradas, além de suplementos específicos. Esses fatores foram mais frequentemente associados à gravidade e à ocorrência da alopecia, bem como a diversos parâmetros capilares, incluindo densidade, crescimento, espessura, brilho e queda de cabelo. De modo geral, a maioria desses fatores apresentou associação positiva com a saúde capilar, com exceção das bebidas alcoólicas e açucaradas, além do retinol.

A revisão sistemática incluiu um total de 61.332 indivíduos, revelando maior prevalência de alopecia em mulheres em comparação aos homens. Esse achado está em consonância com a literatura científica, que relata que a prevalência de alopecia em mulheres (11,4 milhões) é aproximadamente o dobro da observada em homens (6,1 milhões) (IHME). A ampla faixa etária incluída nesta revisão (7 a 77 anos) demonstra que a alopecia afeta indivíduos de diferentes idades. O Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) relata que, em 2021, 0,38% dos indivíduos entre 30–34 anos, 0,36% entre 35–39 anos e 0,31% entre 24–29 anos no mundo apresentavam alopecia (IHME, 2024). Essas estatísticas são consistentes com os achados desta revisão, uma vez que nove dos 17 artigos incluídos enfocaram indivíduos nessa faixa etária.

A revisão também inclui um artigo sobre alopecia pediátrica (Lin et al., 2023) e dois estudos com adolescentes. Apesar de a alopecia ser relativamente comum em crianças, a incidência e a prevalência na população pediátrica permanecem incertas (Griggs et al., 2021). Diante das evidências limitadas na literatura existente, mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados.

A alopecia androgenética (AGA) é a forma mais prevalente de alopecia, afetando aproximadamente 50% dos homens até os 50 anos de idade, sendo também comum em mulheres, especialmente após a menopausa (Ho et al., 2024). A literatura já estabeleceu uma relação entre AGA e dieta (Almohanna et al., 2019; Rajput, 2022). Os dois artigos incluídos nesta revisão estão em consonância com estudos anteriores, indicando que deficiências nutricionais podem contribuir para o desenvolvimento da AGA. Embora a alopecia areata (AA) não seja a forma mais prevalente de alopecia no mundo, sua natureza autoimune tem despertado grande interesse clínico e científico para a compreensão de seus mecanismos subjacentes e a exploração de possíveis abordagens terapêuticas (Bertolini et al., 2020; Paus, 2020). Isso explica o maior número de estudos sobre AA identificados nesta revisão em comparação com os de AGA.

Embora determinar com precisão a prevalência de outras formas de alopecia seja um desafio, está bem estabelecido que essas condições afetam uma parcela da população em resposta a estresse, doenças ou outros fatores (Kesika et al., 2023; Shimizu et al., 2022). Uma dessas condições é o eflúvio telógeno, caracterizado por queda difusa e frequentemente aguda dos cabelos, que pode estar relacionada à dieta, particularmente em casos de deficiência de ferro ou ingestão excessiva de vitamina A (Hughes et al., 2024). Dois estudos incluídos nesta revisão corroboram esses achados, indicando que esses nutrientes influenciam a queda capilar (Hagino et al., 2021; Lin et al., 2023). Estima-se que pelo menos 3,3 bilhões de pessoas em todo o mundo possam apresentar algum tipo de queda de cabelo (IHME, 2024; Nations, 2022), predominantemente devido à AGA. Esse número pode até estar subestimado, já que não contabiliza outras formas de alopecia ou a queda capilar temporária (Ho et al., 2024; Shimizu et al., 2022).

Vale destacar que os desfechos relacionados à saúde capilar nos estudos incluídos nesta revisão variaram de acordo com a exposição analisada. 

Especificamente, os estudos que investigaram o impacto de nutrientes isolados na alopecia concentraram-se principalmente nessa condição, enquanto aqueles que analisaram o consumo alimentar avaliaram sua influência sobre a queda e a densidade capilar. Essa distinção pode ser atribuída à participação de diferentes mecanismos. Os efeitos de nutrientes isolados na saúde capilar podem ser diretos e específicos (Chen et al., 2018). Por exemplo, a suplementação com ferro tem sido associada ao crescimento capilar e à prevenção da queda (Trost et al., 2006). Em contraste, os alimentos integrais contêm uma combinação de nutrientes que podem interagir de maneiras mais complexas, afetando a queda e a densidade do cabelo de forma mais geral. Além disso, a abordagem centrada em nutrientes específicos permite maior controle sobre os fatores de exposição nos estudos, enquanto a análise de alimentos integrais considera os efeitos combinados de diversos nutrientes e compostos bioativos (Braun e Heinrich, 2020).

A revisão sistemática revelou que a vitamina D foi o nutriente mais estudado, aparecendo em cinco dos nove artigos sobre nutrientes. Em geral, observou-se que a vitamina D apresentou correlação inversa com a gravidade da AA e da AGA, em consonância com estudos prévios que destacam a associação entre a deficiência de vitamina D e ambas as condições (Amor et al., 2010; Saini e Mysore, 2021; Zhao et al., 2020; Zubair et al., 2021). Os dados sugerem que o Receptor de Vitamina D (VDR) desempenha um papel significativo no ciclo do folículo piloso, regulando a iniciação da fase anágena por mecanismos independentes de ligante e interagindo com a via de sinalização Wnt/β-catenina e o receptor nuclear Hairless (Hr) para manter a homeostase adequada do folículo piloso. Isso destaca a participação crucial do VDR na regulação transcricional que ativa o crescimento capilar e sustenta as populações de células-tronco foliculares, reforçando a necessidade de mais pesquisas sobre o papel da vitamina D e do VDR no ciclo capilar para lidar de forma eficaz com essa questão (Amor et al., 2010). Nesse contexto, Seleit et al. (2020) demonstraram que polimorfismos desses receptores (Taq-1 e Cdx-1) influenciam a queda de cabelo e podem servir como fatores de risco para a duração da doença (Seleit et al., 2020).

Em relação ao ferro, a presente revisão sugere que a suplementação é benéfica, com relatos de melhora no crescimento capilar. Uma revisão de Trost et al. (2006) destacou que diversos estudos associaram positivamente a deficiência de ferro à queda de cabelo, especialmente em mulheres, o que pode ser explicado pelo papel essencial do ferro no metabolismo do folículo piloso como cofator de enzimas envolvidas na síntese de DNA e na proliferação celular — processos fundamentais para as células em rápida divisão presentes nos folículos. Nessa revisão, alguns estudos propuseram uma correlação entre deficiência de ferro e tanto AA quanto AGA, enquanto outros refutaram essa hipótese, concluindo que as evidências eram insuficientes para recomendar a suplementação de ferro em pacientes com alopecia (Trost et al., 2006). Mais pesquisas são necessárias para aprofundar a compreensão da relação entre suplementação de ferro e seus impactos na saúde capilar.

A revisão incluiu um estudo que constatou que a privação proteica estava associada à redução do diâmetro e da pigmentação dos bulbos capilares. Isso ocorre porque a haste capilar é composta principalmente por queratina, uma proteína estrutural que requer disponibilidade adequada de aminoácidos para a síntese adequada e para o bom funcionamento do folículo piloso (Bradfield, 1971). Esses achados estão alinhados com as conclusões da revisão de Guo e Katta (2017), que indicou que a desnutrição proteica, observada em condições como kwashiorkor e marasmo, pode levar a alterações capilares, incluindo afinamento e queda de cabelo. Além disso, a mesma revisão destacou um estudo sobre a L-lisina, um aminoácido essencial envolvido na absorção de ferro e zinco. A combinação da suplementação de ferro com L-lisina resultou em um aumento significativo da concentração sérica média de ferritina em algumas mulheres com queda crônica de cabelo que haviam apresentado resposta inadequada à suplementação com ferro isoladamente (Guo e Katta, 2017).

Os achados desta revisão sistemática sugerem uma correlação entre o consumo de álcool e o aumento da incidência de queda de cabelo, bem como um possível efeito inibitório sobre o crescimento capilar (Yi et al., 2020). A relação entre consumo de álcool e alopecia areata é complexa, conforme evidenciado na literatura. O álcool demonstrou aliviar o estresse psicológico (Minokawa et al., 2022; Wang et al., 2019), que é um fator importante no desenvolvimento da alopecia areata (Gupta et al., 1997). Nesse contexto, o estudo de Dai et al. (2020) constatou que bebedores sociais e regulares apresentaram risco significativamente menor de desenvolver AA em comparação àqueles que nunca consumiram álcool (Dai et al., 2020). No entanto, o conjunto atual de evidências não permite uma conclusão definitiva sobre o impacto do consumo de álcool na alopecia. Mais pesquisas são necessárias para esclarecer essa relação e compreender melhor os mecanismos subjacentes.

Em relação ao consumo de alimentos com alto teor de açúcar, um dos artigos incluídos indicou que a ingestão de bebidas açucaradas está associada a um risco aumentado de queda capilar em homens jovens (Shi et al., 2023). Esse achado é corroborado por Goluch-Koniuszy (2016), que relatou que o consumo de alimentos processados contendo açúcares simples é um fator indireto ligado à queda de cabelo. Esses alimentos estimulam a secreção excessiva de sebo, o que favorece o crescimento microbiano no couro cabeludo. Isso, por sua vez, agrava a irritação e a inflamação, contribuindo para a queda capilar (Goluch-Koniuszy, 2016).

Nesta revisão, um artigo indicou que uma maior ingestão de produtos de soja e vegetais crucíferos esteve associada à redução da queda de cabelo. Esse achado é consistente com o trabalho de Pham et al. (2020), que demonstrou que dietas ricas em vegetais e produtos de soja, particularmente aqueles que contêm isoflavonas, promovem a saúde e o crescimento capilar. Além disso, os fitoquímicos presentes nesses alimentos, como carotenoides e polifenóis, possuem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Essas propriedades ajudam a reduzir a produção de espécies reativas de oxigênio nas células da papila dérmica, levando à diminuição da secreção do fator de crescimento transformador β1 e ao aumento da estimulação do crescimento capilar (Pham et al., 2020). No entanto, mais pesquisas são necessárias para aprofundar a compreensão do papel desses alimentos na saúde capilar.

No contexto dos suplementos alimentares complexos, quatro artigos abordaram esse tema, e todos apresentaram evidências de melhora nos parâmetros capilares (Ablon, 2015; Ham et al., 2023; Jacquet et al., 2007; Kalman e Hewlings, 2020). Os efeitos sinérgicos de múltiplos nutrientes nessas formulações podem atuar em diversos aspectos do metabolismo do folículo piloso simultaneamente, desde o fornecimento de blocos estruturais até o suporte à produção de energia celular e aos mecanismos de defesa antioxidante. Uma revisão de Braun e Heinrich (2020) corrobora esses dados, afirmando que determinados suplementos alimentares complexos podem melhorar a queda de cabelo e enfatizando a importância de uma abordagem multifacetada no tratamento de certos parâmetros capilares (Braun e Heinrich, 2020).

As principais limitações desta revisão sistemática são que a maioria dos estudos possui delineamento transversal, o que impede o estabelecimento de relações de causa e efeito entre as associações observadas. Além disso, a heterogeneidade dos estudos, incluindo variações nos grupos etários, alimentos/nutrientes estudados, desfechos de saúde e métodos de avaliação, deve ser considerada. Devido a essa heterogeneidade e ao número limitado de artigos incluídos nesta revisão, não foi possível realizar uma meta-análise. Portanto, são necessários estudos adicionais para confirmar e fortalecer os dados apresentados.

Este estudo é a primeira revisão sistemática a explorar o impacto de nutrientes e alimentos na saúde capilar. A adesão à metodologia PRISMA garantiu uma avaliação minuciosa e sistemática dos dados. Em termos de saúde pública, esta revisão representa uma contribuição significativa para o corpo de conhecimento existente, oferecendo insights que podem auxiliar e orientar a prática dos profissionais de saúde nessa área. À medida que cresce a demanda por informações atualizadas, baseadas em evidências, sobre segurança, tolerabilidade e eficácia das terapias nutricionais para a queda de cabelo, esta revisão fornece orientação valiosa tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde.

Conclusão

Os achados desta revisão destacam o papel significativo que fatores dietéticos e nutricionais exercem na manutenção da saúde capilar. Os resultados sugerem que a ingestão de nutrientes e alimentos específicos pode influenciar a saúde do cabelo. Níveis séricos mais elevados de vitamina D e a suplementação de ferro mostraram impacto positivo na alopecia, reduzindo sua gravidade e promovendo o crescimento capilar, respectivamente. Também foi observada uma associação positiva entre a ingestão de proteínas, o consumo de produtos de soja, vegetais crucíferos e suplementos, com melhorias em parâmetros capilares como queda de cabelo e densidade. Por outro lado, o maior consumo de bebidas alcoólicas e açucaradas foi associado a um risco aumentado de queda capilar.

Os achados sugerem que intervenções dietéticas direcionadas podem ser importantes na prevenção e no manejo de condições capilares, como alopecia e queda de cabelo. No entanto, mais pesquisas são necessárias para aprofundar a compreensão dessas associações e para desenvolver recomendações baseadas em evidências que promovam a saúde capilar por meio da nutrição.

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Cabelos Fortes e Saudáveis: O que a ciência revela sobre a alimentação e a queda capilar




O cabelo não é apenas um detalhe estético: ele está diretamente ligado à identidade e à autoestima de cada pessoa. Por isso, entender como a alimentação influencia na saúde capilar pode ser a chave para fios mais fortes e bonitos. Pesquisadores realizaram uma revisão sistemática para avaliar quais alimentos e nutrientes estão ligados ao fortalecimento ou à queda de cabelo. Foram analisados mais de 60 mil participantes, a maioria mulheres, em estudos publicados entre 2020 e 2024.

Entre os nutrientes mais investigados, a vitamina D e o ferro se destacaram. Níveis adequados desses dois elementos mostraram-se associados a menor risco de alopecia (condição caracterizada pela queda capilar). A revisão mostrou que quem possui níveis mais altos de vitamina D tende a apresentar menor gravidade de alopecia. Esse nutriente tem um papel importante no ciclo do folículo piloso e pode até ajudar a estimular novas fases de crescimento.

O ferro, por sua vez, é essencial para a multiplicação celular dos folículos. Sua deficiência foi frequentemente relacionada à queda capilar, especialmente entre mulheres. Alguns estudos indicaram melhora significativa do cabelo após suplementação adequada. Além de vitaminas e minerais, a proteína mostrou ser indispensável. O cabelo é formado principalmente por queratina, uma proteína que depende da ingestão de aminoácidos. Dietas pobres em proteínas foram associadas a fios mais finos e quebradiços.

Outro destaque foi o papel da soja e dos vegetais crucíferos (como brócolis, couve e couve-flor). Essas fontes vegetais parecem contribuir para a saúde capilar por conter antioxidantes e compostos anti-inflamatórios que ajudam na proteção do couro cabeludo. Por outro lado, o consumo frequente de bebidas alcoólicas e refrigerantes açucarados mostrou relação direta com maior risco de queda de cabelo. Esses hábitos parecem aumentar processos inflamatórios e afetar negativamente o folículo piloso.

Um dado interessante é que a alopecia é mais prevalente em mulheres, mas também afeta homens em grande escala. A chamada alopecia androgenética chega a atingir metade dos homens até os 50 anos, e também muitas mulheres após a menopausa. Outras formas de queda, como a alopecia areata (de origem autoimune) e o eflúvio telógeno (queda difusa ligada a estresse, carências nutricionais ou doenças), também foram associadas ao estado nutricional.

No caso do eflúvio telógeno, a deficiência de ferro ou o excesso de vitamina A foram apontados como possíveis gatilhos para a perda capilar. Isso mostra como tanto a falta quanto o excesso de nutrientes podem prejudicar.

A revisão também destacou que suplementos alimentares complexos, que combinam diversas vitaminas e minerais, podem melhorar parâmetros como densidade e crescimento dos fios. Isso porque atuam de forma sinérgica em diferentes processos celulares. Apesar desses resultados promissores, os autores lembram que a maioria dos estudos é observacional, ou seja, não prova causa e efeito. Ainda assim, as associações encontradas são relevantes e apontam caminhos importantes.

Um exemplo é a interação entre vitamina D e seus receptores no couro cabeludo, que regulam a fase de crescimento dos fios. Alterações nesses receptores podem aumentar o risco de alopecia.

O ferro também merece destaque pela sua função de cofator em enzimas que ajudam a produzir DNA. Como as células do folículo se dividem rapidamente, qualquer deficiência impacta diretamente na produção de fios saudáveis.

Proteínas específicas, como a L-lisina, parecem potencializar a absorção de ferro e zinco, melhorando a resposta de mulheres que sofrem de queda crônica de cabelo. Esse é um bom exemplo de como nutrientes podem atuar em conjunto.

Outro alerta importante é sobre o excesso de açúcar na dieta. Bebidas adoçadas e alimentos ultraprocessados aumentam a produção de sebo e inflamação no couro cabeludo, fatores que favorecem a queda. Já os alimentos ricos em antioxidantes, como os vegetais verdes e produtos de soja, podem combater o estresse oxidativo, melhorando a vitalidade dos fios. Isso reforça o papel de uma alimentação equilibrada e variada.

No fim das contas, a mensagem é clara: a saúde do cabelo está intimamente ligada ao que colocamos no prato. Uma dieta rica em nutrientes essenciais ajuda a manter os fios mais fortes, enquanto hábitos nocivos, como álcool e açúcar em excesso, podem acelerar a queda.

Mais pesquisas ainda são necessárias, mas já está evidente que cuidar da alimentação é também cuidar da beleza e da autoestima. O segredo para cabelos saudáveis pode estar muito mais próximo do que imaginamos: na nossa própria rotina alimentar.

Resumo final
  • Vitamina D e ferro: fundamentais para prevenir a queda.
  • Proteínas e aminoácidos: base estrutural dos fios.
  • Soja e vegetais crucíferos: aliados antioxidantes.
  • Açúcar e álcool: inimigos da saúde capilar.
  • Suplementos: podem ser úteis em alguns casos.

domingo, 24 de agosto de 2025

GLP-1: O Segredo Não Está Só no Remédio: Como a alimentação e a atividade física fazem toda a diferença no emagrecimento


O que são os medicamentos GLP-1?

Os agonistas de receptor GLP-1 estão revolucionando o tratamento da obesidade. Eles ajudam a reduzir até 20% do peso corporal, sendo uma das terapias mais eficazes contra o excesso de peso. Mas há um detalhe importante… Grande parte da perda pode vir de massa muscular (até 40% e isso a gente percebe na prática quando solicitados a Densitometria de corpo inteiro), o que pode comprometer a saúde se não houver mudanças no estilo de vida.

A importância do estilo de vida no tratamento

O segredo para resultados sustentáveis está em combinar os medicamentos GLP-1 com boa alimentação e prática de atividade física. Recentemente a ANVISA determinou a retenção da receita dos análogos de GLP-1 e isso foi ótimo por 2 motivos: as medicações estavam em falta no mercado porque pessoas saudáveis estavam comprando a medicação e usando para fins estéticos. Além disso, fazendo automedicação, essas mesmas pessoas estavam sujeitas a vários efeitos colaterais dos análogos. Afinal, a medicação foi desenvolvida para tratamendo de diabetes e da obesidade. Ou seja, o acompanhamento médico é essencial, em especial com Nutrólogos ou Endocrinologistas, que são os profissionais mais habilitados para manejo da obesidade. 

Médicos recomendam monitorar o peso mensalmente durante os primeiros meses e depois a cada três meses, ajustando o tratamento quando necessário. Esse automonitoramento é uma das medidas que auxiliam a evitar o reganho. 

Quando a perda é insuficiente

Se após 12 a 16 semanas o paciente perder menos de 5% do peso, pode ser preciso ajustar doses ou trocar de medicamento.

Quando o emagrecimento é exagerado

Se o IMC cai abaixo de 18,5 ou há sinais de desnutrição, o médico deve investigar causas adicionais e reduzir a dose para proteger a saúde.

Alimentação adequada: o pilar do sucesso

O acompanhamento com nutricionista é o ideal, mas registros simples de refeições ou aplicativos também ajudam na reeducação alimentar. O paciente precisa se atentar que mais do que calorias, a  qualidade também importa. Ou seja, a prioridade deve ser alimentos nutritivos, ricos em fibras, vitaminas e minerais, e não apenas a contagem de calorias. E aqui faço um adendo, que repito exaustivamente para meus pacientes em uso de Análogo de GLP-1: as proteínas são as guardiãs dos músculos. Ou seja, devemos sempre tentar bater a meta protéica quando estamos em uso dessas drogas. Para preservar a massa magra, recomenda-se uma ingestão de 1,2-1,6g de proteína ao dia, podendo ser maior para idosos. Mas isso deve ser avaliado cautelosamente, afinal, muitos desses pacientes possuem hiperuricemia ou doença renal crônica, com isso a fonte protéica não deve ser baseada apenas em proteína de origem animal. 

Estratégias para lidar com efeitos colaterais

  1. Constipação: aumentar fibras e ingerir 2 a 3 litros de água/dia.
  2. Náusea: evitar frituras e refrigerantes.
  3. Refluxo: comer porções menores e evitar deitar logo após as refeições. Dar um intervalo de pelo menos 4 horas entre a última refeição e a hora que irá deitar. 

Micronutrientes em alerta

Como o apetite diminui, há risco de carência de vitamina D, ferro e vitaminas do complexo B. Suplementos podem ser necessários. Sendo que a suplementação deve ser norteada baseada no inquérito alimentar e nos exames laboratoriais

A atividade física como parceira

A recomendação é começar devagar e atingir 150 minutos semanais de atividade moderada ou 75 minutos de atividade intensa. Além disso, existe um papel crucial do treino de força. Os exercícios resistidos, como musculação, são fundamentais para manter a massa muscular e devem somar de 60 a 90 minutos semanais. O ideal é praticar de 30 a 60 minutos de atividade física todos os dias, mesclando aeróbicos e musculação.

O desafio do efeito sanfona

Ao suspender o medicamento, estudos mostram que pode haver reganho de 7% a 12% do peso perdido em apenas 1 ano. Por isso, quando iniciamos a medicação, salientamos que o "desmame" da medicação deverá ser gradual. Afinal, a obesidade é uma condição crônica e as chances de reganho de peso são altíssimas. Assim como hipertensão ou diabetes, a obesidade exige tratamento contínuo. Parar o remédio sem mudar hábitos aumenta o risco de recuperar peso. Assim como parar de praticar atividade física. 

A verdadeira defesa contra o reganho

Criar hábitos saudáveis desde o início do tratamento é a melhor forma de manter os resultados e evitar o famoso “efeito sanfona”. Conclusão: tratamento da obesidade (uma doença crônica) é um tratamento para toda a vida. Os GLP-1 são aliados poderosos, mas não fazem milagres sozinhos. O sucesso duradouro depende de três pilares:

  1. Medicação
  2. Alimentação equilibrada
  3. Movimento diário
Autor: Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Médico Nutrólogo

domingo, 17 de agosto de 2025

Métodos de Higiene do sono: o que auxilia e o que prejudica o sono

A qualidade do sono é sinônimo de qualidade de vida. Ano após ano surgem cada vez mais estudos mostrando a importância do sono na nossa homeostase, longevidade e qualidade de vida.  

O sono é um dos nosso pilares para ter uma boa vida. Portanto, se você apresenta algum sintoma relacionado sono, recomendamos fortemente que procure auxílio médico. De preferência um médico especialista em Medicina do sono. Inúmeras são as causas que podem levar a alterações no sono. 

Alguns estudos tem evidenciado que:
  • 23% dos adultos jovens têm uma qualidade ruim de sono;
  • 61% delas têm dificuldade em manter o sono, 
  • 7,7% têm dificuldade de iniciar o sono,
  • 2,2% despertam muito cedo;
  • 25% não têm sono reparador;
  • A prevalência da insônia entre mulheres é maior, tem início já na adolescência e se agrava na menopausa;
  • Sono não reparador está associado à obesidade, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, depressão e ansiedade, piora de doenças autoimunes e alteração na percepção da dor.


Medidas simples que podem te ajudar a ter melhor higiene do sono

14 Técnicas de Higiene do Sono para Dormir Melhor

Se você sofre com insônia, ansiedade noturna ou sono leve, aplicar algumas mudanças no dia a dia pode transformar suas noites.

1. Exposição à luz solar pela manhã

Ajuda a regular o relógio biológico e a produção de melatonina.

2. Reduzir telas à noite (celular, TV, computador)

A luz azul atrapalha a liberação da melatonina, hormônio do sono. Reduzir 3 horas antes de dormir

3. Praticar atividade física

Caminhadas, musculação ou yoga ajudam a dormir melhor, mas evite exercícios intensos após as 18h.  Yoga é uma atividade que vários pacientes relatam que ajuda no sono.

4. Controle do estresse

Práticas como meditação, mindfulness, respiração profunda, psicoterapia ou oração reduzem a ansiedade e ajudam a adormecer mais rápido.

5. Relações interpessoais saudáveis

Conflitos familiares e conjugais são fatores que agravam a insônia.

6. Alimentação equilibrada

Procure auxílio de um nutricionista que entenda de sono e faça uma dieta balanceada, sem muita gordura e carboidratos no período próximo de deitar. Refeições pesadas atrapalham o sono, evite. Ingestão de lácteos e alimentos protéicos (não volumosos) podem auxiliar em uma boa noite de sono. Nutrientes importantes: magnésio, ácido fólico, vitamina B12FerroVitamina B6 e vitamina D.

7. Chás naturais calmantes

Camomila, erva-cidreira, erva-doce e mulungu são ótimos aliados naturais contra insônia.

8. Banho morno antes de deitar

Relaxante e eficiente para desacelerar o corpo.

9. Aromaterapia com lavanda

Algumas gotas no travesseiro podem ajudar no relaxamento.

10. Acupuntura

Terapia complementar eficaz para insônia e ansiedade noturna.

11. Temperatura do quarto

A melhor faixa é entre 15,5°C e 19,4°C.

12. Rotina regular

Tente dormir e acordar sempre nos mesmos horários.

13. Evitar estimulantes

Café, álcool e nicotina atrapalham o sono se consumidos à noite.

14. Cochilos curtos

Limite os cochilos diurnos a 20-30 minutos.

Fontes: 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351 

Texto que a minha afilhada Dra. Helena Bacha preparou com minha orientação.

Vamos falar sobre SONO? 😴

Você sabia que muitos dos problemas de sono podem ser resolvidos com a adoção de bons hábitos chamados de "higiene do sono"? 💤

O termo "higiene do sono" foi cunhado pelo cientista e especialista em medicina do sono, Peter Hauri. Peter Hauri introduziu o conceito de higiene do sono na década de 1970, quando percebeu a importância de adotar comportamentos e práticas saudáveis relacionadas ao sono para promover uma noite de descanso adequada. 🌙

O termo "higiene do sono" foi escolhido porque faz uma analogia direta com a higiene pessoal. Assim como cuidamos da nossa higiene diária para mantermos nosso corpo limpo e saudável, a higiene do sono refere-se às práticas e rotinas que contribuem para um sono saudável e reparador.

Através de estudos e pesquisas, a higiene do sono tem se consolidado como uma abordagem eficaz para melhorar a saúde e o bem-estar a longo prazo. 🧘🏻‍♀️

Não negligencie o seu sono!

Como anda seu sono por aí? Me conta nos comentários! ❣️

📚 Referências bibliográficas:
1. American Academy of Sleep Medicine. (2020) Healthy sleep habits. Disponível em: http://sleepeducation.org/healthy-sleep/healthy-sleep-habits/
2. National Sleep Foundation. (2006). Sleep hygiene tips. Disponível em: https://www.sleepfoundation.org/articles/sleep-hygiene
3. Watson, N. F., et al. (2015). Recommended amount of sleep for a healthy adult: A joint consensus statement of the American Academy of Sleep Medicine and Sleep Research Society. Sleep, 38(6), 843-844.













sábado, 16 de agosto de 2025

Consenso europeu sobre má absorção

Embora as síndromes de má absorção estejam associadas a diversas doenças gastrointestinais, até recentemente não havia consenso específico sobre esse tema. 

Para mudar esse cenário, dez sociedades científicas europeias, incluindo a ESPEN, publicaram o primeiro consenso europeu sobre má absorção, com orientações voltadas à definição, diagnóstico, triagem e suporte nutricional em diferentes contextos clínicos. 

Como é definida a má absorção?

A má absorção é uma síndrome complexa, com manifestações clínicas múltiplas, caracterizada pela passagem defeituosa de um (ou seja, má absorção seletiva) ou mais (ou seja, má absorção parcial ou global) nutrientes através da mucosa intestinal para a corrente sanguínea/linfática.

Há a necessidade de esclarecimento de definição entre os termos:
  • Má digestão: hidrólise defeituosa de nutrientes de grandes moléculas em componentes de pequenas moléculas absorvíveis.
  • Má absorção: capacidade prejudicada de absorver nutrientes através da mucosa intestinal para a corrente sanguínea ou vasos linfáticos.
  • Malassimalação: combinação entre má digestão e má absorção.
No contexto clínico, o uso do termo “má absorção” é considerado suficiente para descrever os quadros em que há prejuízo na assimilação dos nutrientes.


Os sintomas da má absorção serão determinados pelo tipo e quantidade de substratos malabsorvidos, pela deficiência dos nutrientes malabsorvidos, pela doença de base e pelas consequências do acúmulo do substrato malabsorvido no lúmen do trato gastrointestinal.

Os sintomas de má absorção causados pela deficiência de nutrientes incluem:
Já os sintomas de má absorção causados pelo excesso de substrato no intestino incluem:
Causas e fisiopatologia da má absorção

A má absorção pode ser congênita, como nos defeitos primários de proteínas transportadoras na mucosa intestinal, ou adquirida, como resultado de procedimentos cirúrgicos ou de diversas doenças que afetam o intestino delgado, o pâncreas, o fígado, o trato biliar e o estômago.

Os mecanismos fisiopatológicos que levam à má absorção são classificados em três grupos principais: 
  • Alterações pré mucosas – como falhas na solubilização de gorduras e vitaminas lipossolúveis;
  • Alterações mucosas – como doenças inflamatórias ou infecciosas que afetam diretamente a mucosa intestinal;
  • Alterações pós-mucosas – como distúrbios no transporte intracelular, linfático ou vascular dos nutrientes.
Além disso, funções fisiológicas como a liberação de nutrientes dos alimentos, mudanças químicas necessárias para absorção (como a redução do ferro de Fe³⁺ para Fe²⁺), motilidade intestinal, sensibilidade entérica e regulação hormonal também desempenham papéis fundamentais. 

Alterações nesses processos podem comprometer a absorção de nutrientes específicos e contribuir para a má absorção.

Triagem, avaliação nutricional e diagnóstico da má absorção

Não existe um único teste que diagnostique a má absorção universalmente, mas uma combinação de exames e uma abordagem sistemática ajudam a identificar as causas e as deficiências nutricionais associadas.

A suspeita de má absorção geralmente surge a partir do histórico clínico do paciente, exames físicos e resultados de testes laboratoriais de rotina. Além disso, a presença de doenças gastrointestinais, pancreáticas, hepáticas ou biliares deve levantar a suspeita do quadro.

Manifestações da má absorção para cada nutriente

A má absorção de macronutrientes pode levar à desnutrição calórico-proteica.

A má absorção isolada de carboidratos frequentemente leva a sintomas digestivos, como inchaço, flatulência, dor abdominal, náusea ou diarreia

Já a deficiência de micronutrientes (vitaminas e minerais) pode causar manifestações clínicas específicas:

  • Xeroftalmia, membranas mucosas secas, úlceras de córnea, visão noturna prejudicada
Vitamina B1 (Tiamina):
Vitamina B2 (Riboflavina):
Vitamina B3 (Niacina):
  • Pelagra, erupção cutânea, diarreia, demência
Vitamina B6 (Piridoxina):
  • Lesões cutâneas, alterações neuropsiquiátricas e hematológicas (anemia microcítica)
Vitamina B9 (Folato):
  • Anemia megaloblástica, pancitopenia, alterações neurológicas e gastrointestinais, infertilidade, anormalidades fetais
Vitamina B12 (Cobalamina):
  • Anemia megaloblástica, degeneração subaguda da medula espinhal, alterações neuropsiquiátricas, glossite, infertilidade
Vitamina C:
  • Escorbuto, cicatrização de feridas retardada, hematomas
Zinco:
  • Ageusia (perda de paladar), alopecia, erupção cutânea, deficiência imunológica, diarreia
Ferro:
  • Anemia, astenia, alterações do paladar, retardo de crescimento
Cobre:
  • Anemia hipocrômica, arritmia cardíaca, neutropenia, ataxia
Iodo:
  • Hipotireoidismo, bócio
Selênio:
  • Cardiomiopatia (doença de Keshan), hipotireoidismo

Testes de diagnóstico

A escolha dos exames depende dos dados clínicos, do histórico médico, cirúrgico e familiar. Abaixo, destacamos alguns testes-chave:
  • Testes de fezes: a quantificação de gordura fecal (esteatorreia) e a medição de elastase pcreática fecal são usados para avaliar a má absorção de gordura, especialmente em casos de insuficiência pancreática exócrina. 
  • Sorologia e endoscopia: para pacientes com suspeita de doença celíaca, a sorologia (anticorpos IgA anti-transglutaminase tecidual 2) é o primeiro passo. Em adultos, o diagnóstico é confirmado com biópsias intestinal por endoscopia.
  • Testes respiratórios: embora o consenso desencoraje o uso de testes respiratórios para diagnosticar a supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO), eles podem ser úteis para investigar a má absorção de carboidratos e gorduras.
O consenso sugere um algoritmo passo a passo para diagnosticar a má absorção, com testes de primeira e segunda linha para adultos e crianças.

Suporte nutricional na má absorção

Necessidade e tipo de suplementação nutricional: para pacientes com má absorção e desnutrição (ou em risco de desenvolvê-la), recomenda-se o aconselhamento dietético que pode incluir modificações na dieta (conteúdo de macronutrientes, distribuição de refeições, textura) e fortificação alimentar. 

Pacientes com má absorção frequentemente se beneficiam de uma dieta rica em proteínas e calorias, e com teor de gordura baixo a moderado, para minimizar a esteatorreia (excesso de gordura nas fezes).

Quando a alimentação convencional não é suficiente, a terapia nutricional se torna necessária, seja por meio de suplementos nutricionais orais, nutrição enteral, ou nutrição parenteral para insuficiência intestinal grave.

Manejo das deficiências de micronutrientes

Em caso de deficiência de vitaminas ou minerais, a suplementação de micronutrientes deve ser feita por via oral ou enteral, se segura e eficaz. Caso contrário, outras vias (intramuscular, sublingual, parenteral) podem ser consideradas.

  • Vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K): o monitoramento e a suplementação regular são cruciais em distúrbios associados à má absorção de gordura, como fibrose cística, insuficiência pancreática exócrina, doença hepática colestática e síndrome do intestino curto, além de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.
  • Vitamina B12: deve ser monitorada em todos os pacientes com absorção comprometida devido à deficiência de fator intrínseco (como após gastrectomia total, gastrite atrófica autoimune) ou doença ileal distal (como doença de Crohn ou ressecção ileal prévia). Formulações orais e sublinguais estão disponíveis, mas a administração intramuscular pode ser necessária em casos de gastrectomia total, ressecção ileal extensa ou doença absortiva persistente. 
  • Minerais (ferro, magnésio, selênio, zinco, cobre): o monitoramento e a suplementação são recomendados em casos de má absorção crônica. 

Outras estratégias nutricionais

Embora o uso de prebióticos para o tratamento direto da má absorção não seja amplamente suportado por dados suficientes, a suplementação de butirato tem demonstrado um possível efeito benéfico em pacientes com DII.

A terapia de reidratação oral (TRO) pode ser benéfica para pacientes com insuficiência intestinal aguda devido à síndrome do intestino curto, especialmente aqueles sem cólon. 

Também recomenda-se a separação de líquidos e sólidos, ingerindo líquidos em pequenos goles, distanciados das refeições, para reduzir o trânsito intestinal rápido.


No material completo, os autores discorrem sobre o diagnóstico para condições específicas, bem como o tratamento com medicamentos, dentre outros tópicos relevantes.  

TDAH induzido - Dr. Andrey Rocca

Você acha que tem sintomas de TDAH?

Hoje em dia, muita gente tem se identificado com vídeos e memes de TDAH. A verdade é que a maioria dessas pessoas tem sintomas de desatenção induzidos pelo estilo de vida.

Somente 5% das crianças e 3% dos adultos de fato têm TDAH genético, o transtorno de desenvolvendo para o qual as mediações foram estudadas.

Muitos tem buscado esse diagnóstico, se definido a partir dele e isso pode inclusive confundir e atrapalhar a vida da pessoa. Além de ter muita gente vendendo essa “epidemia” aqui nas redes, que não é bem verdade pelos artigos.

Como estudo o tema há mais de 20 anos, desde que comecei o consultório de Nutrologia sempre atendi pacientes com suspeita de TDAH, visto que, muitos acreditam em uma abordagem Nutrológica para esse transtorno. O fato é, poucos nutrientes são efetivos para o TDAH, ou seja, apesar de termos alguns estudos, a maioria destes trabalhos são fracos e tem uma heterogeneidade nos resultados. Ou seja, não há evidência robusta que alguma vitamina, mineral, ácido graxo auxilie no TDAH. 

O que nos diz o OpenEvidence sobre o tema:

Há evidência clínica de que alguns suplementos, minerais e vitaminas podem exercer efeitos benéficos em sintomas do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), embora o grau de benefício e a robustez metodológica dos estudos variem consideravelmente.

Diversos ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas indicam que micronutrientes (misturas de vitaminas e minerais) podem promover melhora global do funcionamento, especialmente em aspectos como regulação emocional, agressividade e sintomas de desatenção, com perfil de segurança favorável e baixa taxa de eventos adversos.[1-3] 

No entanto, os efeitos sobre sintomas centrais de hiperatividade/impulsividade tendem a ser modestos ou inconsistentes entre diferentes avaliadores.[2-3]

Estudos específicos com vitamina D e magnésio sugerem que a suplementação combinada pode melhorar parâmetros comportamentais e de saúde mental em crianças com TDAH, incluindo redução de problemas emocionais, comportamentais e sociais, embora sejam necessários estudos maiores e mais robustos para confirmar esses achados.[4]

Revisões sistemáticas e meta-análises apontam que antioxidantes como ômega-3, ômega-6, vitamina D, zinco, fosfatidilserina, resveratrol, pycnogenol, quercetina e fitoterápicos (ex.: Bacopa monnieri, Ginkgo biloba) podem ter efeitos positivos em sintomas de atenção, hiperatividade e funcionamento global, mas os resultados devem ser interpretados com cautela devido à heterogeneidade metodológica e à qualidade variável dos estudos.[5-7] 

Por exemplo, ômega-3 e vitamina D aparecem entre os suplementos mais eficazes e seguros em algumas análises, enquanto Bacopa monnieri e Ginkgo biloba mostram benefícios principalmente em sintomas de desatenção, mas são menos eficazes que estimulantes tradicionais.[5-6]

É importante ressaltar que, apesar dos potenciais benefícios, os suplementos não substituem o tratamento farmacológico padrão (como estimulantes), cuja eficácia é amplamente superior e bem estabelecida.[6][8] 

O uso de suplementos pode ser considerado como abordagem complementar, especialmente em casos de comorbidades emocionais ou quando há contraindicação ou recusa ao tratamento farmacológico, sempre sob supervisão clínica.

Em resumo, há evidência de benefício modesto de micronutrientes, vitaminas e alguns suplementos em sintomas de TDAH, principalmente em desatenção e regulação emocional, mas não há consenso para recomendação universal. A heterogeneidade dos estudos e a ausência de efeitos robustos sobre todos os domínios do TDAH exigem cautela na interpretação dos resultados e reforçam a necessidade de mais pesquisas de alta qualidade.[1-7]

1. Micronutrients for Attention-Deficit/­Hyperactivity Disorder in Youths: A Placebo-Controlled Randomized Clinical Trial. Johnstone JM, Hatsu I, Tost G, et al. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. 2022;61(5):647-661. doi:10.1016/j.jaac.2021.07.005.

2. Vitamin-Mineral Treatment Improves Aggression and Emotional Regulation in Children With ADHD: A Fully Blinded, Randomized, Placebo-Controlled Trial. Rucklidge JJ, Eggleston MJF, Johnstone JM, Darling K, Frampton CM. Journal of Child Psychology and Psychiatry, and Allied Disciplines. 2018;59(3):232-246. doi:10.1111/jcpp.12817. Leading Journal 

3. Vitamin-Mineral Treatment of Attention-Deficit Hyperactivity Disorder in Adults: Double-Blind Randomised Placebo-Controlled Trial. Rucklidge JJ, Frampton CM, Gorman B, Boggis A. The British Journal of Psychiatry : The Journal of Mental Science. 2014;204:306-15. doi:10.1192/bjp.bp.113.132126.

4. The Effect of Vitamin D and Magnesium Supplementation on the Mental Health Status of Attention-Deficit Hyperactive Children: A Randomized Controlled Trial. Hemamy M, Pahlavani N, Amanollahi A, et al. BMC Pediatrics. 2021;21(1):178. doi:10.1186/s12887-021-02631-1.

5. Safety and Efficacy of Antioxidant Therapy in Children and Adolescents With Attention Deficit Hyperactivity Disorder: A Systematic Review and Network Meta-Analysis. Zhou P, Yu X, Song T, Hou X. PloS One. 2024;19(3):e0296926. doi:10.1371/journal.pone.0296926.

6. Efficiency of Different Supplements in Alleviating Symptoms of ADHD With or Without the Use of Stimulants: A Systematic Review. Al Shahab S, Al Balushi R, Qambar A, et al. Nutrients. 2025;17(9):1482. doi:10.3390/nu17091482.  New Research

7. Use of Non-Pharmacological Supplementations in Children and Adolescents With Attention Deficit/­Hyperactivity Disorder: A Critical Review. Rosi E, Grazioli S, Villa FM, et al. Nutrients. 2020;12(6):E1573. doi:10.3390/nu12061573.

8. Editorial: Accumulating Evidence for the Benefit of Micronutrients for Children With Attention-Deficit/­Hyperactivity Disorder. Stevenson J. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. 2022;61(5):599-600. doi:10.1016/j.jaac.2021.08.008.

Assista ao vídeo do meu colega psiquiatra Dr. Andrey Rocca.