sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Existe uma associação entre mortalidade por câncer e uso de agrotóxicos? Uma contribuição ao debate


Is there an association between cancer mortality and agrotoxics use? A contribution to the debate
Paulo Fernandes Costa JobimI; Luciana Neves Nunes II; Roberto GiuglianiI,IV; Ivana Beatrice Manica da CruzIII
IPrograma de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Ramiro Barcelos 2400, Bairro Santana. 90035-003 Porto Alegre RS. pjobim@uol.com.br
IIDepartamento de Estatística, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
IIIDepartamento de Morfologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Maria
IVDepartamento de Genética, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul



RESUMO
O uso crônico de agrotóxicos em regiões rurais no Estado do Rio Grande do Sul (RS) tem sido tentativamente relacionado a um possível aumento na incidência de câncer nos trabalhadores rurais. Foi realizado um estudo ecológico de série temporal (1979 a 2003) na microrregião (MI) de Ijuí, no Estado do Rio Grande do Sul e no Brasil, com dados anuais do Sistema do Departamento de Estatística do Sistema Único de Saúde (DATASUS), para avaliar o comportamento do coeficiente de mortalidade por câncer, padronizado por idade e sexo. Utilizou-se um modelo de regressão linear simples e múltipla para estimar, respectivamente, as taxas de mortalidade e as diferenças entre as três regiões estudadas. A MI e o RS apresentam maior taxa média de mortalidade tanto em homens quanto em mulheres, sendo significativamente diferentes das observadas para o Brasil como um todo.
Palavras-chave: Agrotóxicos, Câncer, Agricultura, Medicina do trabalho, Riscos ocupacionais

ABSTRACT
The chronic use of agrotoxics in rural regions of Rio Grande do Sul State (RS) has been tentatively associated to a possible increase in the incidence of cancer in rural areas. A time-trend ecological study was performed in the micro region of Ijuí County (MI), in RS and Brazil, with data of the 1979 to 2003 period. Data was collected from the Mortality Information System, Brazilian Ministry of Health (DATASUS), to evaluate the cancer mortality rate, standardized by gender and age – corrected mortality ratios. Linear regression for mortality time-trend analysis and multiple regressions for mortality differences among three regions were calculated. The highest average mortality rate in men and also women were observed in RS and MI and they were significantly higher
Key words: Agrotoxics, Cancer, Agriculture, Occupational medicine, Occupational risks



Introdução
De acordo com a Organização das Nações Unidas, o número de pessoas, em 2025, dependentes de alimentos provenientes do meio rural no mundo será de 7,9 bilhões1. Esta necessidade crescente faz com que o processo de produção agrícola esteja sendo, cada vez mais, submetido a fortes mudanças tecnológicas e organizacionais, visando à produtividade2.
No Brasil, parte da agricultura passa por um processo contínuo de modernização, via incorporação de novas tecnologias, com a perspectiva de aumentar a competitividade no mercado internacional3. A “modernização agrícola”, se por um lado gera crescimento econômico, por outro tem riscos potenciais ao ambiente e à saúde humana. Entre esses riscos, se incluem efeitos prejudiciais associados ao uso massivo e crônico de agrotóxicos, como são chamadas as substâncias químicas que têm por finalidade controlar ou eliminar plantas e animais (conhecidos como pragas) prejudiciais à agricultura4.
A cultura do uso de agrotóxicos no Brasil começou partir da década de sessenta, quando o chamado Plano Nacional do Desenvolvimento (PND) adotado pelo governo obrigou os agricultores a comprar uma cota definida de agrotóxicos para que pudessem obter crédito rural. Com essa obrigatoriedade, a utilização de agrotóxicos aumentou de modo exponencial, contribuindo para a quase extinção de práticas alternativas e ecologicamente saudáveis de manejo de pragas5.
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população rural corresponde a quase 32 milhões de pessoas e a população rural economicamente ativa, a 12 milhões de pessoas6. Por ano, são produzidos no mundo 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos, sendo 39% de herbicidas, 33% de inseticidas, 22% de fungicidas e 6% de outros grupos químicos. No Brasil, a produção de agrotóxicos é de 250 mil toneladas por ano, sendo nosso país o oitavo consumidor de agrotóxicos do mundo7.
Cada vez mais casos de pessoas contaminadas diretamente por agrotóxicos no meio rural são relatados. Entretanto, moradores de áreas próximas e, eventualmente, pessoas do meio urbano também se encontram sob risco, devido à contaminação dos alimentos como carne, peixe, laticínios, frutas e vegetais, tornando assim a exposição crônica8. Desta forma, os riscos à saúde humana associados ao uso e à exposição crônica a agrotóxicos têm sido objeto de grande interesse científico.
Em termos populacionais, os efeitos crônicos podem ser tão prejudiciais quanto os agudos, uma vez que existem sugestões fortemente apoiadas por evidências que apontam consequências deletérias na fertilidade, na etiologia de danos neurológicos e possivelmente no aumento da suscetibilidade a neoplasias9. Assim, indivíduos que participam da produção industrial ou aplicação em larga escala destes compostos podem estar sujeitos a uma maior contaminação do que a população em geral.
O efeito crônico ocorre principalmente porque existem três principais vias de absorção de agrotóxicos (dérmica, digestiva e respiratória), o que aumenta a área biológica de exposição a estes agentes químicos. Adicionalmente, alguns pesticidas permanecem armazenados nos tecidos de organismos vegetais e animais, incluindo o homem, como é o caso dos agrotóxicos que usam organoclorados. Tais pesticidas são lipossolúveis e têm grande estabilidade, o que os torna geralmente resistentes à degradação biótica ou abiótica10.
Alguns estudos vêm demonstrando que tais agentes podem realmente estar relacionados com o desenvolvimento de morbidades crônico não-transmissíveis, como as neoplasias9,11,12.
Entretanto, sob o ponto de vista epidemiológico, a avaliação do potencial carcinogênico dos agrotóxicos com organoclorados e demais agrotóxicos com o câncer é extremamente complexa. As dificuldades são inúmeras, face à heterogeneidade dos compostos utilizados, à diversidade de métodos de aplicação e à ausência de dados adequados sobre a natureza da exposição. Além do que, o nível de exposição a agrotóxicos estimados em estudos epidemiológicos nem sempre representa a sua intensidade real. Como a abordagem quantitativa precisa é difícil de ser realizada, acabam sendo utilizadas medidas subjetivas como, por exemplo, tempo de exposição, área geográfica ou frequência de uso13.
Apesar de existirem áreas do território brasileiro que são fortemente voltadas a agricultura há mais de quarenta anos, o número de estudos que identifiquem ou acompanhem populações cronicamente expostas a defensivos agrícolas é muito incipiente. Uma vez que, demograficamente, o Brasil está envelhecendo e isto significa aumento de indivíduos idosos e de doenças crônico não-transmissíveis associadas, investigações relacionadas a fatores de risco e proteção destas doenças são de grande interesse para a saúde pública. A identificação de grupos suscetíveis, e seus fatores etiológicos principais, permite a criação de programas de saúde voltados a sua prevenção.
Neste sentido, o presente artigo tem como finalidade contribuir para o debate de quanto as áreas cronicamente expostas a agrotóxicos poderiam apresentar uma prevalência maior de neoplasias e se, com os dados governamentais hoje disponíveis, esta relação pode ser de fato sugerida. Para tanto, o trabalho utilizou como referência de área geográfica agrícola a Região Noroeste Colonial do Estado do Rio Grande do Sul, que historicamente concentra sua economia na produção da monocultura da soja.

Métodos
Um estudo ecológico foi conduzido comparando-se as taxas de mortalidade do Brasil, Rio Grande do Sul e da microrregião de Ijuí, que está localizada na Região Noroeste Colonial (RS). O período de análise foi de 1979 a 2003. As principais características demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas dos quinze municípios que compõe a MI são apresentadas na Tabela 1, incluindo a percentagem estimada de área geográfica que é utilizada no plantio de soja.


Em termos geográficos, a Região Noroeste Colonial é um extenso planalto, que se inclina, num plano, para o rio Uruguai, que, por sua vez, recorta o estado ao norte e ao oeste, na fronteira com a Argentina. Esta região concentra uma área extensa de plantio de soja. Considerando-se a produção média de 2001 a 2003, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de soja do Brasil, com 16,8% do total produzido, média semelhante a do período de 1998 a 2000, que era de 16,5%. Esta região produz soja intensivamente e outras culturas agrícolas, com destaque ao trigo e milho. A intensificação do modelo de monocultura baseado em métodos convencionais de cultivo que inclui o uso de agrotóxicos começou durante a década de setenta e se estende até os dias de hoje14.
Esta região foi escolhida porque, segundo resultados apresentados no Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul15, organizado e publicado pelo Governo do Estado, e disponível via Internet, além de ser produtora agrícola (Tabelas 1 e 2), em termos epidemiológicos, a mesma apresenta alta prevalência de neoplasias. Esta sugestão foi oriunda da análise da proporção de óbitos por neoplasias, baseada no ano de 2002, tendo como fonte de dados o DATASUS.

Os resultados mostraram que existem quatro áreas geográficas organizadas por Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS), que apresentam uma prevalência de morte por neoplasias mais alta que as demais regiões do estado (entre 20,1 a 23,2%): a 7ª CRS, cuja coordenação é localizada no município de Bagé, a 5ª CRS, no município de Caxias do Sul, a 6ª CRS, no município de Passo Fundo e a 17ª CRS, no município de Ijuí. Porque então se optou por estudar a microrregião de Ijuí como um possível local que apresente maior susceptibilidade a neoplasias associada ao uso crônico de agrotóxicos?
Responder esta questão é metodologicamente importante para o estudo uma vez que:
(1) A alta prevalência observada poderia ser consequência de uma proporção maior de indivíduos idosos na população em relação aos grupos etários mais jovens, causado principalmente pela migração continuada de adultos produtivos da região para outras, com maior oferta de emprego. Esta condição explicaria o maior número proporcional de mortes por neoplasias. Para minimizar este problema, o estudo realizou as análises comparativas entre o padrão de mortalidade por neoplasias da MI, do RS e do Brasil, utilizando a padronização dos dados etários baseada em uma população padronizada proposta pela Organização Mundial de Saúde (Word Health Organization (OMS) Standard Population), cujo referencial está baseado em Ahmad et al.16. Optou-se por eliminar o viés da idade em vez de se realizar uma análise multivariada incluindo a idade, pelo número populacional relativamente baixo da MI (Tabela 1), o que limitaria os testes estatísticos relacionados. Adicionalmente, uma comparação entre a distribuição etária da MI com a do RS e do Brasil, utilizando dados censitários do IBGE para 1996 e 2000 mostrou tendência similar;
(2) Outro possível efeito relacionado com uma taxa mais elevada de óbitos por neoplasia poderia ser o desenvolvimento regional. Dados epidemiológicos têm mostrado uma tendência de ocorrer aumento na prevalência da mortalidade por neoplasias em países altamente desenvolvidos, como é o caso do Japão17. Uma vez que o Rio Grande do Sul apresenta características similares a países desenvolvidos, estas regiões, incluindo a MI, poderiam apresentar esta tendência em relação a outras regiões do próprio estado e do país. A OMS, a fim de comparar os países quanto ao seu desenvolvimento, criou um índice conhecido Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)18. Baseado neste índice, a Fundação de Economia Estatística do Estado do Rio Grande do Sul (FEE) organizou o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico para o Rio Grande do Sul (IDESE). Segundo a FEE, IDESE é um índice sintético, inspirado no IDH, que abrange um conjunto amplo de indicadores sociais e econômicos classificados em quatro blocos temáticos: Educação; Renda; Saneamento e Domicílios e Saúde. Ele tem por objetivo mensurar e acompanhar o nível de desenvolvimento do Estado, de seus municípios e Coredes, informando a sociedade e orientando os governos (municipais e estadual) nas suas políticas socioeconômicas.
O IDESE varia de zero a um e, assim como o IDH, permite que se classifique o Estado, os municípios ou os Coredes em três níveis de desenvolvimento: baixo (índices até 0,499), médio (entre 0,500 e 0,799) ou alto (maiores ou iguais que 0,800)19. Optou-se pelo uso do IDESE para responder a questão se a área apresentaria maior desenvolvimento do que outras regiões, uma vez que o IDH é usado para o estado como um todo. A comparação do IDESE da microrregião de Ijuí com a do estado (Tabela 3) e com as demais regiões mostrou que esta apresentou o índice mais baixo que as demais (Caxias = 0,801, Passo Fundo= 0.779 e Bagé=0,751), o que não corrobora esta hipótese;
(3) Diferenças étnicas inter-regionais, ou mesmo fortemente associadas a determinados grupos étnicos específicos, poderiam também influenciar a taxa de mortalidade por neoplasias. Esta condição parece ser improvável, uma vez que na MI, ainda que exista uma contribuição européia significativa em relação à indígena e africana, a mesma foi originada a partir de diferentes etnias. Isto porque as levas migratórias européias que povoaram o Rio Grande do Sul tenderam a formar, no final do século XVIII, os chamados “núcleos étnicos puros”, que dificultavam a integração estadual. Assim, com a intenção de misturar imigrantes de várias etnias, para não causar conflitos nas colônias, foram enviados para a MI diversos grupos étnicos. Neste período, historiadores chegaram a detectar dezenove idiomas entre italianos, alemães, poloneses, letos, austríacos, holandeses, suecos, espanhóis, libaneses, árabes, lituanos, rutenos, checos, finlandeses e até gregos. Apesar da predominância de alemães e italianos, a MI ainda hoje é conhecida como a Europa do Rio Grande do Sul. Apesar da resistência inicial à miscigenação, hoje a tendência de casamentos interétnicos é uma realidade20.
Caracterizada a área do estudo e resolvida às questões pertinentes relacionadas, a seguir foram coletados dados anuais de óbitos por câncer do Sistema do Departamento de Estatística do Sistema Único de Saúde (DATASUS)21, para o período entre 1979 e 2003, do Brasil, do estado do RS e MI. Foram calculadas as taxas de mortalidade por 100 mil habitantes por ano para cada região, separadas por sexo. Essas taxas foram padronizadas por faixas etárias, pelo método direto22, utilizando-se como referência os dados de população residente em cada região, sendo estes obtidos através de pesquisa do DATASUS, referentes ao Censo 2000. Foram utilizadas seis faixas etárias, sendo a primeira 20-29 anos e a última 60-79 anos. Para a análise estatística, foi utilizado modelo de regressão linear simples, a fim de estimar os coeficientes das taxas de mortalidade padronizadas em cada uma dos locais, separados por sexo. A fim de comparar as diferenças entre os três locais, utilizou-se um modelo de regressão linear múltipla, em que se considerou como variável dependente a taxa de mortalidade padronizada e como variáveis independentes, o tempo e os locais. O modelo utilizado teve a seguinte expressão:
Para todos os modelos, foram feitos diagnósticos através da análise de resíduos. Os dados obtidos foram tratados nos programas Microsoft Excel 2000 e SPSS 13.0. Para as análises estatísticas, o nível de significância utilizado foi de 5%. As análises foram realizadas separadamente por gênero. Não foram realizadas análises separadas segundo o tipo de neoplasia, por ser uma população pequena.
A seguir, buscou-se identificar indicadores de exposição e contaminação por agrotóxicos que poderiam influenciar os resultados obtidos. Para tanto, foram realizadas consultas nos bancos de dados de instituições governamentais como o IBGE, DATASUS e FEE sem que se encontrassem dados quantitativos sobre quantidade de defensivos comercializados nas regiões estudadas ao longo da série histórica. Adicionalmente, foram realizados contatos com a Secretaria de Agricultura, Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), sem que se conseguisse documentação apropriada para a coleta destas informações. Deste modo, optou-se por realizar um estudo indireto a partir de resultados e tabela de dados disponíveis no Censo Agropecuário do IBGE. A realização do Censo Agropecuário 1995-1996 teve como referência o período de 01.08.1995 a 31.07.1996 e as datas de 31.12.1995 e 31.07.1996. As seguintes informações foram utilizadas, nas quais a conceituação proposta pelo IBGE foi mantida:
(1) Área total – compreendeu a totalidade das terras que formavam cada município, considerada a situação existente na data do censo;
(2) Área de lavouras (temporárias e permanentes);
(3) Número de estabelecimentos que usavam agrotóxicos;
(4) Relação entre a população ocupada na atividade agrícola e população total das áreas investigadas;
(5) Quantidade de hectares para cada um dos principais tipos de culturas plantadas, (milho, soja e trigo), destacando a proporção da área plantada de soja em relação à área total.
Estes resultados foram expressos em hectares (ha). Os dados foram coletados para cada município, MI, RS e Brasil.

Resultados
Tabela 2 mostra os dados das populações masculinas, femininas e taxas médias de mortalidade padronizadas por idade para as áreas selecionadas: Brasil, RS e MI, sendo que nos dados do Brasil foram excluídos os dados do RS e nos dados do RS foram excluídos os dados da MI.
Na Figura 1, estão apresentados os dados das taxas de mortalidade por câncer para os homens. Pode-se perceber que o RS e MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizada em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Provavelmente porque a Região Sul exibe altos níveis de industrialização e sua população revela os melhores indicadores de qualidade de vida do país, sendo o RS o estado brasileiro com maior expectativa de vida (73,4 anos), superior à média brasileira de 69,0 anos. Os idosos (360 anos) representam aproximadamente 10% da população19. Já a MI tem as taxas de mortalidade abaixo das taxas do RS até metade da década de noventa, quando se torna semelhante, e a partir de 2000 passa a ter taxa mais alta que a do Rio Grande do Sul. Também pode ser observado que a tendência dos três locais é o aumento da taxa de mortalidade. Em todos os modelos de regressão simples ajustados, a variável tempo foi significativa (p<0 ajustes="" bastante="" bons="" coeficientes="" de="" determina="" foram="" o="" os="" quando="" se="" style="margin: 0px; padding: 0px;" sup="" verifica="">2
), sendo estes 0,973, 0,988 e 0,825, respectivamente, para Brasil, RS e MI. Na Figura 2, são apresentados os dados das taxas de mortalidade por câncer para as mulheres. Pode-se perceber que o RS e MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizada em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Já a MI tem as taxas de mortalidade abaixo das taxas do RS até o início da década de noventa (1992), quando rapidamente torna-se maior que a do RS. Também pode ser observado que a tendência dos três locais é o aumento da taxa de mortalidade. Em todos os modelos de regressão simples ajustados, a variável tempo foi significativa, sendo estes 0,976, 0,988 e 0,899, respectivamente, para Brasil, RS e MI.




Também foram ajustados dois modelos de regressão simples (para sexo masculino e sexo feminino), considerando como variável dependente a taxa de mortalidade padronizada e como variável independente o tempo. Tais modelos apresentaram R2 de 0,977 e 0,979, indicando bons ajustes. Para o sexo masculino, o modelo teve a expressão taxa=55,25+2,89 ano e para o sexo feminino, taxa=41,33+2,41 ano, sendo que “ano” foi significativo em ambos modelos (p<0 span="">
Nos modelos de regressão múltipla ajustados para sexo separadamente (Tabela 2), é possível se verificar que as interações tempo e local foram significativas.
A seguir, alguns indicadores indiretos de exposição e contaminação foram avaliados. Os resultados são descritos na Tabela 3. Como pode ser observado, cerca de 2/3 da área da MI é ocupada pela agricultura. No caso, Chiapetta chegou a apresentar mais de 80% da sua área destinada à produção agrícola. Estes valores foram extremamente elevados quando se compara esta área com o Rio Grande do Sul e o Brasil, do qual menos de 3% das suas áreas estão comprometidas com a agricultura. O número de estabelecimentos que afirmam utilizar defensivos agrícolas também pareceu ser relativamente grande. Em termos populacionais, 24% da população da MI está ocupada com atividades agrícolas, sendo que esta proporção cai para 14 a 11% no RS e Brasil. Dos três produtos principais que são cultivados, a soja aparece em destaque, sendo utilizado quase o dobro de hectares plantados por soja na MI em relação ao RS. Chama a atenção que 80% da área plantada de Coronel Barros está destinada à soja.

Discussão
Os resultados sugerem que existe maior prevalência de mortalidade por neoplasias na microrregião de Ijuí em comparação ao RS e Brasil. Na ordem em que os mesmos são apresentados, os homens têm uma mortalidade média por câncer maior do que as mulheres no Brasil, RS e MI. Considerando que este gênero possui uma exposição ocupacional maior do que a mulher no que diz respeito ao trabalho na agricultura (plantio, aplicação de defensivos, adubos, etc.), tal resultado seria esperado.
Pode-se perceber que o Rio Grande do Sul e a MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizadas, tanto em homens quanto em mulheres, em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de que a Região Sul exibe altos níveis de industrialização e sua população revela os melhores indicadores de qualidade de vida do país. O RS é o estado brasileiro com maior expectativa de vida (73,4 anos), superior à média brasileira de 69,0 anos. Os idosos (360 anos) representam aproximadamente 10% da população. Quanto às taxas de mortalidade da MI estarem abaixo das taxas do RS até metade da década de noventa e, a partir de 2000, passar a ter taxa mais alta que a do RS, pode estar associado ao aumento significativo na demanda de alimentos, fazendo com que a produção aumente também. Quando foram vistos separadamente os sexos, as interações tempo e local, o sexo masculino diferiu do Brasil quanto à taxa de mortalidade por câncer no RS e na MI pela semelhança demográfica epidemiológica do RS com países desenvolvidos.
É importante ressaltar que, neste estudo, o RS, apesar de partir de um patamar mais elevado, apresenta uma taxa média de mortalidade para homens e mulheres, respectivamente 47,7 e 38,2, sendo significativamente maior que os outros dois estados.
Apesar de serem indicativos leves, a comparação da área plantada, o número de estabelecimentos que usam defensivos e a proporção da população ocupada na agricultura, quando comparados entre a MI e as outras áreas, revelam uma situação na qual não se descarta uma possível influência da exposição/contaminação crônica aos defensivos agrícolas na maior prevalência de mortalidade de neoplasias observada. Neste caso, os resultados obtidos apontam para a necessidade da realização de estudos adicionais que aprofundem esta perspectiva e caracterizem os grupos com maior risco. Inicialmente, um estudo que mereceria ser conduzido é a comparação da morbimortalidade relacionada a intoxicações agudas por agrotóxicos entre todas as microrregiões do RS e o Brasil. É claro que tal estudo também apresenta limitações, mas serviria como um indicativo mais robusto da exposição aos agrotóxicos.
É importante comentar que o presente estudo é preliminar, uma vez que está calcado em um estudo ecológico, limitado a dados de grupo que não permitem análises mais aprofundadas de correlação. Entretanto, tais estudos geralmente são empregados para averiguar se existe uma indicação de associação entre causa e morbidade. Esta estratégia (a de se realizar inicialmente uma investigação ecológica) está condicionada à minimização dos esforços de tempo e recursos humanos, necessários para a realização de investigações com metodologias mais robustas. Por outro lado, trabalhar dentro da perspectiva de que somente tais estudos seriam cientificamente válidos acaba se tornando reducionista e impedindo o reconhecimento de grupos populacionais que podem estar sendo expostos a riscos crônicos e de interesse em saúde pública. Neste sentido, acredita-se que os resultados aqui descritos fornecem os subsídios iniciais para que investigações adicionais, mais aprofundadas e metodologicamente mais robustas, sejam posteriormente realizadas.
Um outro aspecto limitante do estudo diz respeito à própria condição etiológica do grupo de doenças conhecido como “neoplasias”. Neoplasias são morbidades multifatoriais, em que interações gene-ambiente estão presentes em maior ou menor grau, o que influi tanto no seu estabelecimento, quanto no tempo de duração pré-clínico e clínico. Esta heterogeneidade dificulta os estudos populacionais associativos por que indivíduos podem estar expostos a um agente carcinogênico em um dado período de tempo e esta morbidade se manifestar em diferentes períodos conforme o modo de vida e material genético da pessoa afetada. Neste sentido, estudos experimentais, principalmente que envolvem aspectos nutrigenômicos, do envelhecimento, da interação entre fatores protetores e ambientais, de desenvolvimento de marcadores diagnósticos de suscetibilidade, etc., estão cada vez mais sendo produzidos. Por outro lado, há também que se intensificar os estudos das variáveis ambientais, como é o caso da ação crônica de defensivos agrícolas, uma vez que, em nível de saúde pública, é o conjunto de evidências produzidas que permite o reconhecimento de grupos suscetíveis.

Conclusão
Apesar das limitações metodológicas relacionadas a estudos ecológicos, os resultados obtidos não descartam a influência de exposição de agrotóxicos como um fator contribuinte a maior taxa de mortalidade de neoplasias observadas na microrregião de Ijuí em relação ao Rio Grande do Sul e ao Brasil. Estudos adicionais necessitam ser conduzidos para corroborar esta hipótese.

Colaboradores
PFC Jobim coordenou a confecção do artigo, buscando os dados para a análise, fazendo a revisão da literatura e colocando nos moldes para publicação, além de revisar. LN Nunes realizou as análises estatísticas e confecção dos resultados. R Giugliani auxiliou na revisão do artigo. IBM Cruz coordenou a confecção do artigo, revisando periodicamente o trabalho do primeiro autor e auxiliando na revisão.

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Ciência & Saúde Coletiva
versão impressa ISSN 1413-8123
Ciênc. saúde coletiva vol.15 no.1 Rio de Janeiro jan. 2010
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000100033

Os vegetarianos sofrem menos doenças cardíacas, revela um amplo estudo britânico



Ser vegetariano é melhor para saúde cardiovascular – Os vegetarianos sofrem menos doenças cardíacas, revela um amplo estudo britânico publicado esta quarta-feira, o que parece confirmar as conclusões de recentes pesquisas americanas que vinculam o consumo de carne vermelha a um risco maior de mortalidade.

No estudo britânico [Risk of hospitalization or death from ischemic heart disease among British vegetarians and nonvegetarians: results from the EPIC-Oxford cohort study] , publicado nos Estados Unidos, cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, descobriram que as pessoas que seguem a dieta vegetariana têm reduzido em 32% o risco de hospitalização e morte por doenças cardiovasculares em comparação com as que consomem carne e peixe. Matéria da AFP, no Yahoo Notícias.

“Grande parte da diferença se deve provavelmente aos efeitos do colesterol e da pressão sanguínea”, geralmente mais altos nos consumidores de carne e peixe e “mostram o importante papel da dieta na prevenção de doenças cardíacas”, disse a doutora Francesca Crowe, da Universidade de Oxford, principal autora do trabalho.

Publicado na revista American Journal of Clinical Nutrition, este é o estudo mais amplo feito até agora no Reino Unido que compara a incidência de doenças cardiovasculares entre os vegetarianos e os não vegetarianos.

A análise se concentrou em 45.000 voluntários com idades entre 50 e 70 anos na Inglaterra e na Escócia, incluídos em um estudo sobre câncer e nutrição denominado “European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC)”.

Neste grupo, 34% eram vegetarianos, um número anormalmente alto para estudos deste tipo, o que permitiu aos cientistas fazer estimativas mais precisas sobre os fatores de risco cardiovascular em ambos os grupos.
Baixo índice de massa corporal e menos casos de diabetes

“Os resultados mostram claramente que o risco de doenças cardiovasculares é inferior em cerca de um terço dos vegetarianos”, disse o professor Tim Key, diretor adjunto da Unidade de Epidemiologia do Câncer da Universidade de Oxford e co-autor do estudo.

Os cientistas levaram em conta vários fatores para calcular o risco: idade, tabagismo e consumo de álcool, prática de atividade física, nível educacional e desenvolvimento socioeconômico.

Os participantes, recrutados ao longo da década de 1990, responderam a questionários detalhados sobre sua saúde e seu estilo de vida.

Durante o período de acompanhamento, que durou quase 12 anos, em média, os autores do estudo identificaram 1.235 casos de doenças cardiovasculares nos registros hospitalares, incluindo 169 óbitos.

Eles descobriram que os vegetarianos geralmente têm pressão arterial mais baixa e registram níveis de colesterol menores do que os não vegetarianos.

Os vegetarianos também apresentavam índices de massa corporal (IMC) menores e menos casos de diabetes, ambos resultado da dieta que seguiam.

Os vegetarianos não só se beneficiaram do impacto positivo de registrar menor índice de massa corporal, como também viam reduzido em 28% o risco de sofrer de doenças cardiovasculares.

Esta pesquisa confirma os resultados de um estudo com mais de 121 mil homens e mulheres americanos, publicado em março de 2012, na revista Archives of Internal Medicine, que mostrou uma forte relação entre o consumo diário de carne vermelha e um risco de mortalidade maior por todas as causas (12%), por doenças cardiovasculares (16%) e por câncer (10%).

Citando outro estudo americano de 2009, Crowe informou à AFP, no entanto, que o risco de desenvolver câncer é similar entre os vegetarianos e os não vegetarianos.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos países desenvolvidos: provocam 65 mil mortes por ano só no Reino Unido e cerca de 600 mil nos Estados Unidos, ou seja, uma em cada quatro.

Risk of hospitalization or death from ischemic heart disease among British vegetarians and nonvegetarians: results from the EPIC-Oxford cohort study
Francesca L Crowe, Paul N Appleby, Ruth C Travis, and Timothy J Key
Am J Clin Nutr March 2013 ajcn.044073; First published online January 30, 2013. doi:10.3945/ajcn.112.044073

Abstract

Background: Few previous prospective studies have examined differences in incident ischemic heart disease (IHD) risk between vegetarians and nonvegetarians.
Objective: The objective was to examine the association of a vegetarian diet with risk of incident (nonfatal and fatal) IHD.
Design: A total of 44,561 men and women living in England and Scotland who were enrolled in the European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC)–Oxford study, of whom 34% consumed a vegetarian diet at baseline, were part of the analysis. Incident cases of IHD were identified through linkage with hospital records and death certificates. Serum lipids and blood pressure measurements were available for 1519 noncases, who were matched to IHD cases by sex and age. IHD risk by vegetarian status was estimated by using multivariate Cox proportional hazards models.
Results: After an average follow-up of 11.6 y, there were 1235 IHD cases (1066 hospital admissions and 169 deaths). Compared with nonvegetarians, vegetarians had a lower mean BMI [in kg/m2; −1.2 (95% CI: −1.3, −1.1)], non-HDL-cholesterol concentration [−0.45 (95% CI: −0.60, −0.30) mmol/L], and systolic blood pressure [−3.3 (95% CI: −5.9, −0.7) mm Hg]. Vegetarians had a 32% lower risk (HR: 0.68; 95% CI: 0.58, 0.81) of IHD than did nonvegetarians, which was only slightly attenuated after adjustment for BMI and did not differ materially by sex, age, BMI, smoking, or the presence of IHD risk factors.
Conclusion: Consuming a vegetarian diet was associated with lower IHD risk, a finding that is probably mediated by differences in non-HDL cholesterol, and systolic blood pressure.

Dossiê da Abrasco reúne pesquisas e relatos de comunidades diretamente atingidas pelos agrotóxicos



Conhecimento científico e popular na luta pela saúde – Dossiê da Abrasco reúne pesquisas e relatos de comunidades diretamente atingidas pelos agrotóxicos para denunciar impactos do agronegócio na saúde e no meio ambiente

“Trabalhava com flores em Atibaia, São Paulo. Usava muito veneno. Passava muito mal por causa disso. Sentia dor de dente, tremor nos lábios, aceleração no coração, escurecimento de vista, dor de cabeça, e não só eu, mas toda minha família. Todos os meus amigos também passavam mal. Meu amigo Nivaldo está com infecção no fígado por causa dos venenos e foi proibido de trabalhar no meio das flores. Sem falar nos animais que bebem a água que tem o veneno e morrem. Peixes na represa morrem também. Vendo isso, tomei a decisão de vir embora para o Sul de Minas Gerais. Chegando aqui, comecei a trabalhar com café, mas vi que também usava veneno. Tomei a decisão de trabalhar numa chácara. Porém na chácara também se usam o mata-mato, Roundup, glifosato e Gramossil”.

O depoimento acima foi feito pelo agricultor Domingos Rodrigues da Silva, do Sindicato dos Empregados Rurais de Eloi Mendes, de Minas Gerais, e retrata uma realidade comum a muitos produtores rurais brasileiros atingidos diretamente pelo uso intensivo de agrotóxicos. O depoimento de Domingos integra o Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) intitulado ‘Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde’, cuja terceira e última parte foi lançada durante o 10° Congresso Nacional da entidade, realizado em Porto Alegre em novembro. Durante a cerimônia de lançamento da última parte do dossiê, Luiz Augusto Facchini, então presidente da Abrasco, ressaltou a importância do documento e os fatores que motivaram a entidade a concebê-lo. “O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Gostaríamos de reverter esse quadro. Além de aumentar a dependência dos agricultores pelas multinacionais, os agrotóxicos envenenam a população e os trabalhadores brasileiros. Para fortalecer as bases de uma sociedade saudável e desenvolvida, o Brasil deve investir na agricultura familiar e na agroecologia, aumentar a escolaridade e o conhecimento técnico-científico dos agricultores, e ao mesmo tempo valorizar os seus conhecimentos tradicionais”, afirmou.

O dossiê começou a ser pensado durante o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências, em setembro de 2011, como explica Raquel Rigotto, pesquisadora do núcleo Tramas da Universidade Federal do Ceará (UFC). “A Abrasco se organizou para participar do encontro, e construímos uma articulação entre vários grupos de trabalho. Durante o evento tivemos contato com movimentos sociais que trouxeram uma reflexão acerca das implicações para a saúde dos agrotóxicos e pensamos que a melhor forma de contribuirmos seria elaborando um dossiê”. Com um total de 469 páginas, o documento fez uma revisão bibliográfica do trabalho de pesquisadores de várias universidades e instituições públicas de pesquisa do país, incluindo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele foi lançado em três etapas, cada uma focando aspectos diferentes da temática dos agrotóxicos. A primeira foi lançada em abril deste ano, durante o World Nutrition, congresso internacional de nutrição no Rio. Por conta disso, focou na questão da segurança alimentar e nutricional. A segunda parte, intitulada ‘Agrotóxicos, saúde, ambiente e sustentabilidade’, procurou dialogar com os debates da Cúpula dos Povos, onde o documento foi lançado. “Nesse, o foco foi a questão do modelo de desenvolvimento e a sustentabilidade, para problematizar a vinculação entre a agricultura químico-dependente e os monocultivos para a exportação, que é um modelo de desenvolvimento agrícola e pecuário que vem sendo imposto pela divisão internacional do trabalho e pelo governo na medida em que o Ministério da Agricultura o incorpora, financia e apoia, assim como o legislativo”, aponta Raquel.

Intitulada ‘Agrotóxicos, conhecimento científico e popular: construindo a ecologia de saberes’, a 3ª parte procurou problematizar o modo de fazer ciência hegemônico que, segundo Raquel Rigotto, contribui para a legitimação de um modelo agrícola calcado na intensa utilização dos agrotóxicos, ao mesmo tempo em que escamoteia os agravos à saúde e ao meio ambiente causados por ele. “Focamos o próprio conhecimento e fizemos isso com uma reflexão sobre o paradigma epistemológico que norteia a ciência moderna, que se por um lado trouxe vários avanços, por outro contribuiu com o processo histórico do capital, com a dominação da natureza, a exploração da força de trabalho”, pontua. O documento também teve como preocupação central aliar conhecimento científico, saber popular e militância política. Para isso foram convidados a participar da sua elaboração membros da Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela Vida e de entidades de fomento à agricultura agroecológica, como a Articulação Nacional da Agroecologia (ANA). Além disso, integram o dossiê 19 depoimentos e relatos escritos por trabalhadores e comunidades que vivem diretamente os efeitos da contaminação por agrotóxicos e as que estão construindo alternativas à agricultura químico-dependente.

Teor e localização das pesquisas sobre agrotóxicos no Brasil

“A ideia do dossiê foi provocar uma reflexão crítica no campo da saúde coletiva e levantar uma bandeira, de que a produção do conhecimento não é neutra, a saúde coletiva tem de produzir conhecimento engajado que faça avançar o projeto do Sistema Único Saúde (SUS) e seus princípios”, diz André Burigo, professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/ Fiocruz), que participou da elaboração do dossiê. Para dar conta de fornecer um panorama sobre a produção científica acerca dos agrotóxicos no Brasil, a equipe do dossiê fez um levantamento, com base na Plataforma Lattes, do número de pesquisadores que possuem em seus currículos pesquisas sobre o tema, analisando também o teor da pesquisa e a localização geográfica dos estudos. Segundo o levantamento, dos mais de 158 mil currículos cadastrados na plataforma, 4.896 citaram o termo ‘agrotóxicos’ (ou variações como ‘defensivos agrícolas’ e ‘pesticidas’), o que não é pouco, como ressalta o dossiê. No entanto, o mapeamento mostra que os estudos “não têm abordado a temática saúde e ambiente, que deveria ser de grande interesse, tanto dos pesquisadores, das suas instituições e dos órgãos de fomento”. Segundo o levantamento, dos currículos que mencionaram agrotóxicos, apenas 4,6% citaram o termo toxicidade aguda e 5% citaram os efeitos crônicos na saúde humana, como a toxicidade dos agrotóxicos para o sistema nervoso, imunológico e endócrino, bem como sua capacidade de provocar más formações fetais e alterações genéticas. Para André Burigo, chama a atenção o fato de que a maioria da produção científica sobre agrotóxicos em geral não foca as áreas de saúde pública e meio ambiente, e se concentra na área da agronomia, “que de certa forma legitima o modelo de agricultura convencional, dependente de agrotóxicos”. Ele também chama atenção para a concentração sobre os estudos nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, presente em mais da metade dos currículos identificados. “É provável que esses pesquisadores também estejam estudando mais os impactos dos agrotóxicos nessas regiões. Há regiões do Brasil completamente descobertas de produção de conhecimento dos impactos dos agrotóxicos na saúde pública e no meio ambiente, como o Norte e o Nordeste. De uma forma geral, há pouca pesquisa no Brasil como um todo, mas essas regiões são muito mais descobertas, o que indica um ocultamento ainda maior dos impactos dos agrotóxicos nesses lugares”, analisa Burigo.

Contaminação da água

Segundo ele, a produção científica brasileira sobre agrotóxicos nas áreas de saúde pública e meio ambiente que abordam o tema de maneira mais crítica, embora escassas, como mostrou o levantamento na Plataforma Lattes, já dão conta de evidenciar os riscos e agravos à saúde e ao meio ambiente provocados pelos agrotóxicos e justificar uma maior fiscalização e controle do poder público sobre a questão. Burigo destaca, por exemplo, o estudo realizado no âmbito do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2011. “Contando as 20 culturas analisadas, apenas 37% das amostras não apresentaram resíduos de agrotóxicos”, conta. Dados de pesquisas realizadas em locais com intensa utilização de agrotóxicos, como a Chapada do Apodi, no Ceará, e a cidade de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, também apontaram a presença de resíduos de agrotóxicos na chuva e na água sendo utilizada para consumo humano. Em Lucas do Rio Verde, aponta o dossiê, a pulverização aérea de agrotóxicos vinha sendo feita a menos de dez metros de fontes de água potável, córregos e residências. Foram identificados resíduos de agrotóxicos em 83% dos poços de água potável das escolas, em 56% das amostras de chuva e em 25% das amostras de ar, além de resíduos de vários tipos de agrotóxicos em sedimentos de lagoas, “semelhantes”, afirma o dossiê, “aos tipos de resíduos encontrados no sangue de sapos, sendo que a incidência de malformação congênita nestes animais foi quatro vezes maior do que na lagoa controle”. Em Lucas do Rio Verde também foram realizadas pesquisas que mostraram a presença de resíduos de agrotóxicos no leite materno. “Todas as amostras de leite materno de uma amostra de sessenta e duas nutrizes de Lucas do Rio Verde apresentaram contaminação com pelo menos um tipo de agrotóxico analisado. Os resultados podem ser oriundos da exposição ocupacional, ambiental e alimentar do processo produtivo da agricultura que expôs a população a 136 litros de agrotóxico por habitante na safra agrícola de 2010”.

Legalização da contaminação

Segundo o dossiê, paralelo ao aumento da contaminação do meio ambiente pelos agrotóxicos – e também por resíduos industriais -, há um movimento de legalização da contaminação pelo Estado brasileiro, como apontam, por exemplo, as mudanças feitas ao longo do tempo nas normas de potabilidade da água, que determinam a quantidade de resíduos de agrotóxicos, substâncias químicas e solventes permitida na água para consumo humano. Na primeira, de 1977, era permitida a presença de 12 tipos de agrotóxicos, de dez metais pesados, de nenhum solvente e de nenhum produto químico de desinfecção domiciliar. Ao longo dos anos, foram sendo emitidas novas portarias ampliando a quantidade permitida. Na última portaria, emitida em 2011, é permitida a presença de 27 tipos de agrotóxicos, de 15 produtos metais pesados, de 15 produtos solventes, de sete produtos químicos de desinfecção domiciliar e o uso de algicidas nos mananciais e estações de tratamentos. Isso, conclui o dossiê, reflete, ao longo do tempo, “a crescente poluição do processo produtivo industrial que utiliza metais pesados e solventes, do processo agrícola que usa dezenas de agrotóxicos e fertilizantes químicos e da poluição residencial que utiliza muitos produtos na desinfecção doméstica. Esta ampliação pode levar a uma cultura de naturalização e consequente banalização da contaminação, como se esta grave forma de poluição fosse legalizada”. Como aponta André Burigo, o dossiê “mostra que os alimentos que ingerimos estão contaminados, a água que bebemos está contaminada e até o leite materno apresenta agrotóxicos. Isso mostra que esse modelo de desenvolvimento agrícola esta colocando em xeque o conceito de alimento, porque justamente os alimentos mais importantes, cuja ingestão a saúde pública recomenda estão contaminados por agrotóxicos”.

Intoxicações por agrotóxicos

O aumento na utilização destes venenos no Brasil reflete no crescimento do número de intoxicações agudas por agrotóxicos registradas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde (MS): de 2.071 notificações em 2007, esse número passou para 3.466 em 2011, um aumento de 67,3%. Já o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) registrou, no ano de 2009, 5.253 casos de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola um total de 188 óbitos por estes quatro tipos de intoxicações registradas. “Há de se ressaltar que existe um grande sub-registro das intoxicações por agrotóxicos no Brasil. Esta é uma das grandes vulnerabilidades institucionais do país, entre outras relacionadas ao controle e monitoramento do uso de agrotóxicos em todo território nacional que é um aspecto a ser levado em consideração nos processos de registro e reavaliação desses produtos”, pontua o dossiê, que ainda afirma que existem muitas lacunas de conhecimento quando se trata de avaliar a multiexposição ou a exposição combinada de agrotóxicos. “A grande maioria dos modelos de avaliação de risco servem apenas para analisar a exposição a um princípio ativo ou produto formulado, enquanto que no mundo real as populações estão expostas a mistura de produtos tóxicos cujos efeitos sinérgicos (ou de potencialização) são desconhecidos ou não são levados em consideração”, mostra o estudo. Segundo o dossiê, o SUS não tem contado com estímulos políticos, técnicos e financeiros para implantar a vigilância da saúde de populações expostas aos agrotóxicos. “O Ministério da Saúde discute há cinco anos um Plano de Vigilância e Atenção a Saúde para populações Expostas a Agrotóxicos e, até o momento, não conseguiu pactuar com estados e municípios a forma e os recursos a serem direcionados para implementar o mesmo. Será que essa questão não mereceria prioridade?”, indaga.

Em sua conclusão, o dossiê cobra a elaboração de um Plano Nacional de Enfrentamento ao Uso dos Agrotóxicos e Seus Impactos na Saúde e no Ambiente, com bandeiras como: o banimento no Brasil dos agrotóxicos já banidos em outros países; a proibição da pulverização aérea; o fim das isenções fiscais para os agrotóxicos — já que as empresas que comercializam e produzem os venenos recebem isenções, inclusive de impostos que financiam a seguridade social (que inclui a Previdência Social, Saúde e Assistência Social) como o PIS/Pasep e o COFINS; o fim do crédito para os agrotóxicos; a reavaliação dos agrotóxicos autorizados; a fiscalização das condições de trabalho das populações expostas e dos danos ao meio ambiente, entre outras.

Acesse o Dossiê Abrasco: http://greco.ppgi.ufrj.br/DossieVirtual/

Reportagem de André Antunes, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), publicada pelo EcoDebate, 31/01/2013

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/01/31/dossie-da-abrasco-reune-pesquisas-e-relatos-de-comunidades-diretamente-atingidas-pelos-agrotoxicos/

O desperdício de comida equivale a um terço da produção tota


Em todo o mundo joga-se fora ou perde-se, por ano, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, o equivalente a um terço da produção total e a mais da metade da colheita de cereais. Num cenário em que a população do planeta deve saltar dos atuais 7 bilhões para 9 bilhões de habitantes até 2050, impõe-se a revisão urgente dos padrões de consumo e de produção alimentar. Assim, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) decidiram lançar uma campanha de conscientização para tentar reduzir o desperdício que se verifica, em maior ou menor grau, em todos os países.

Segundo a FAO, a perda total em nações ricas e em desenvolvimento é mais ou menos a mesma, variando de 630 milhões a 670 milhões de toneladas. Só o que é desperdiçado pelos consumidores dos países industrializados equivale à produção alimentar da África Subsaariana, algo em torno de 230 milhões de toneladas por ano.

A FAO faz uma distinção entre perda e desperdício de alimentos. A perda está ligada à fase da colheita e da produção, e se verifica muito mais em países em desenvolvimento, que enfrentam defasagem tecnológica e falta de investimento em infraestrutura, em transporte e em especialização de mão de obra. No Brasil, que está entre os dez países que mais perdem alimentos, 35% da produção agrícola fica pelo caminho. Já o desperdício é aquele observado tanto na comercialização quanto no consumo, quando o alimento ainda comestível é jogado no lixo. Trata-se, nesse caso, de um fenômeno mais comum nos países desenvolvidos. Dados da FAO mostram que os consumidores europeus e americanos se desfazem de algo entre 95 e 115 quilos per capita de comida por ano, enquanto no Sudeste Asiático, na África Subsaariana e na África Meridional esse volume não passa de 11 kg per capita.

A campanha da FAO e do Pnuma salienta que se dá importância excessiva à aparência dos alimentos, o que se traduz nas rigorosas normas aplicadas pelas grandes redes de supermercados, resultando no descarte de comida ainda própria para o consumo. Além disso, esse alimento descartado poderia ser entregue a organizações humanitárias ou entidades de caridade, e não simplesmente jogado no lixo.

No que diz respeito a questões de comportamento, a FAO mostra que o consumidor, nos países ricos e nos emergentes, muitas vezes compra mais alimentos do que realmente necessita, apenas para aproveitar promoções, ou então come mais do que precisa em restaurantes que oferecem comida à vontade a preço fixo. Além disso, o consumidor em geral não costuma fazer um cardápio semanal para conseguir planejar a compra dos alimentos, de modo que muitos produtos comprados por impulso acabam esquecidos na geladeira, perdem a validade e são jogados fora. No Brasil, as famílias desperdiçam, em média, 20% do que compram em uma semana.

A campanha aposta na reeducação, ao convidar o consumidor a planejar suas compras no supermercado, a não rejeitar frutas cuja aparência não seja perfeita, a entender que a data de validade dos alimentos industrializados é apenas uma sugestão do fabricante, a reaproveitar os alimentos e a pedir porções menores nos restaurantes, entre outras medidas. Além disso, a FAO pede que restaurantes e supermercados façam auditorias para verificar onde está o desperdício, que ofereçam descontos para produtos cujo prazo de validade esteja próximo de vencer, que reduzam a variedade do cardápio e que ofereçam porções menores.

É fato que não se mudam comportamentos arraigados somente pelo desejo bem-intencionado de algumas organizações internacionais. No entanto, há um argumento que pode ajudar a deslanchar esse processo: o prejuízo com o desperdício não se limita à questão alimentar. Ao se jogar comida fora, estão sendo perdidos também recursos naturais, força de trabalho e muito dinheiro investido para produzir esses alimentos. A FAO calcula que nada menos que US$ 1 trilhão por ano simplesmente vai para o lixo.

Pesquisa com resíduos de romã sugere sua potencialidade como aliado na prevenção da doença de Alzheimer


Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, uma pesquisa com resíduos de romã constatou sua potencialidade como aliado na prevenção da doença de Alzheimer. O trabalho foi realizado pela pesquisadora Maressa Caldeira Morzelle, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN), sob a orientação da professora Jocelem Mastrodi Salgado.

Inúmeros estudos indicam que, entre pessoas que consomem frutas e verduras regularmente, é raro o diagnóstico de doenças degenerativas decorrentes da idade avançada. “Isso se deve ao fato de que a quantidade de antioxidante presente nesses alimentos é elevada”, comenta a autora do estudo.

De acordo com a pesquisa, em se tratando da romã, apenas na casca da fruta é possível encontrar mais antioxidante do que em seu suco e sua polpa. Os antioxidantes são essenciais para a prevenção contra os radicais livres que matam as células do nosso corpo, o que acarreta em doenças degenerativas em geral.

Sabendo disso, Maressa buscou alternativas que pudessem concentrar todo o extrato da casca em pó, para ser diluído como suco, ou adicionado a sucos de outros sabores, levando em consideração os desafios do processamento e armazenagem, e o fato de que a adição do composto bioativo não poderia afetar as propriedades sensoriais do produto final.

Ação antioxidante

A conclusão do trabalho foi bastante satisfatória em relação ao desempenho do extrato de casca de romã elaborados com etanol e água, que não teve sua atividade anticolinesterásica (inibição de enzimas associadas ao Alzheimer) e sua capacidade antioxidante afetada por esta forma de armazenamento. Observou-se também, resultados positivos em relação ao preparado em pó para refresco, que não teve suas características sensoriais alteradas.

“Desta forma, verifica-se o potencial para a indústria no emprego das microcápsulas a base do extrato casca de romã como um ingrediente a ser incorporado na dieta, sendo um aliado na prevenção da doença de Alzheimer”, conclui a pesquisadora.

O mau de Alzheimer, doença degenerativa e atualmente incurável, atinge na maioria dos casos, idosos com idade entre 60 e 70 anos. No Brasil cerca de 900 mil pessoas já foram diagnosticadas com a doença.

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/02/06/pesquisa-com-residuos-de-roma-sugere-sua-potencialidade-como-aliado-na-prevencao-da-doenca-de-alzheimer/

Poluição do ar eleva risco de recém-nascidos com menor peso, indica estudo internacional


Mulheres grávidas que residem em áreas expostas a níveis significativos de poluição atmosférica têm mais chance de dar à luz a bebês abaixo do peso, indica um novo estudo [Maternal Exposure to Particulate Air Pollution and Term Birth Weight: A Multi-Country Evaluation of Effect and Heterogeneity] realizado por uma rede internacional de cientistas.

Bebês que nascem com menos de 2,5 kg, considerados de baixo peso, correm maior risco de morrer porque são mais suscetíveis a desenvolverem doenças como diabetes ou cardiopatias quando adultos, dizem os especialistas.

A pesquisa, a maior do tipo já realizada, considerou dados de mais de 3 milhões de nascimentos em nove países. As conclusões indicam que, ainda que o impacto da poluição sobre o peso de um bebê isoladamente seja pequeno, em relação ao conjunto da população a influência é significativa.
Partículas

O estudo, divulgado na publicação científica Environmental Health Perspectives, se concentrou nos efeitos de dois tipos de pequenas partículas com carbono chamadas PM10 e PM2,5, que são associadas pelos cientistas a problemas nos pulmões e no coração, além de morte prematura.

Os pesquisadores analisaram o impacto sobre gestantes de um aumento de dez microgramas por metro cúbico em exposição média a partículas de poluição no decorrer da gravidez.

A conclusão foi que, com o aumento da concentração das partículas PM10, houve um aumento na possibilidade do recém-nascido ter peso abaixo do normal em 0,03%. No caso das PM 2,5, menores que as PM10, foi constatado um aumento de 10% nessa possibilidade.

As descobertas indicam ainda que a relação entre o peso do bebê e o nível de poluição é inversamente proporcional. Ou seja, quanto maior a poluição, menor é o peso médio do bebê.

“O que é significativo é que todo mundo está exposto a tais níveis de poluição atmosférica”, disse Tracey Woodruff, pesquisadora da Universidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, e uma das responsáveis pelo estudo.

Para Tony Fletcher, professor de Epidemiologia Ambiental da London School of Hygiene and Tropical Medicine, “o estudo é de excelente qualidade, e as conclusão são claras”.

“Ainda que o efeito médio (da poluição) sobre cada bebê seja pequeno e não seja algo que deva preocupar futuros pais, se considerarmos a população como um todo, esse pequeno risco se multiplica por milhares de pessoas.”

Citation: Maternal Exposure to Particulate Air Pollution and Term Birth Weight: A Multi-Country Evaluation of Effect and Heterogeneity

Dadvand P, Parker P, Bell ML, Bonzini M, Brauer M, Darrow L, Gehring U, Glinianaia SV, Gouveia N, Ha EH, Leem JH, van den Hooven EH, Jalaludin B, Jesdale BM, Lepeule J, Morello-Frosch R, Morgan GG, Pesatori AC, Pierik FH, Pless-Mulloli T, Rich DQ, Sathyanarayana S, Seo J, Slama R, Strickland M, Tamburic L, Wartenberg D, Nieuwenhuijsen MJ, Woodruff TJ. Environ Health Perspect (): .doi:10.1289/ehp.1205575

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/02/07/poluicao-do-ar-eleva-risco-de-recem-nascidos-com-menor-peso-indica-estudo-internacional/

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

93% da variedade de alimentos foi extinta em 80 anos.


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Cientistas identificam espécie de bactéria ligada à obesidade


Um estudo chinês apresentou a confirmação de que uma espécie de bactéria está ligada à obesidade.

O trabalho, que envolveu humanos e camundongos, conseguiu levar um obeso de 26 anos a perder 51,4 kg em 23 semanas. O indivíduo, com 1,72 m de altura, começou o tratamento com 174,8 kg.

Ele se alimentava quatro vezes ao dia, com direito a 1.344 calorias diárias. Mas, além da restrição calórica, a alimentação foi planejada para cortar a multiplicação de bactérias enterobacter no intestino do sujeito.

Exames mostraram que ela representava 35% das bactérias no intestino dele antes do estudo. Após nove semanas com o mingau especialmente preparado para o experimento, essa proporção caiu para 1,8% (com perda de peso de 30,1 kg). Em 23 semanas, a bactéria passou a níveis indetectáveis.

Até aí, no entanto, havia apenas uma correlação entre a bactéria e a perda de peso. Para tirar a prova, os cientistas usaram camundongos. Em alguns, eles introduziram a enterobacter do paciente, em outros, não.

Então, passaram a alimentar os animais com uma dieta de alta caloria. Os que tinham a bactéria logo desenvolveram obesidade e resistência à insulina. Os que estavam livres do micro-organismo, não.

O resultado vem a corroborar estudos recentes, conduzidos inclusive no Brasil, que já indicavam que a composição da flora intestinal é determinante no desenvolvimento da obesidade.

E agora há um tipo específico de bactéria a culpar: a cepa Enterobacter cloacae B29, isolada pelos cientistas.

"Nossa pesquisa não para aqui", disse à Folha Liping Zhao, da Universidade Jiao Tong de Xangai, um dos autores do estudo. "A B29 não é a única com esse efeito na obesidade.
Nosso trabalho estabeleceu um protocolo para descobrir mais delas."

Espera-se que o conhecimento das bactérias maléficas à digestão ajude a moldar as dietas. Além disso, o resultado pode explicar por que há pessoas que comem bastante mas engordam muito menos que outras.

Zhao admite que o trabalho também pode levar a novas drogas antiobesidade, mas sugere que a melhor solução é eliminar as bactérias ruins por meio da alimentação. "A dieta é a ferramenta mais poderosa para moldar a saúde, parcialmente pela forma como muda a composição da microbiota intestinal."

O trabalho foi publicado no periódico da Sociedade Internacional para Ecologia Microbiana, o "Isme Journal".


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1221385-cientistas-identificam-especie-de-bacteria-ligada-a-obesidade.shtml

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Novas provas da ligação entre pesticidas e Mal de Parkinson...


Há vários anos, uma equipe da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA) tem traçado as ligações entre os pesticidas e o Mal de Parkinson.

Até o momento, haviam sido encontradas ligações entre os pesticidas paraquat, maneb e zirame e um aumento na incidência de Parkinson. Os dados revelam que esses agrotóxicos afetam não apenas os trabalhadores rurais, mas também indivíduos que vivem nas proximidades das lavouras onde eles são aspergidos.

Agora, a equipe descobriu que outro pesticida - o fungicida benomil - pode aumentar o risco de Parkinson até 10 anos depois de ter sido aplicado. E, o que é mais preocupante, a cadeia de eventos disparada pelo benomil pode afetar pessoas com Parkinson que nunca foram diretamente expostas ao pesticida.

Benomil e Parkinson

A exposição ao benomil, segundo os pesquisadores, dispara uma cadeia de eventos celulares que pode resultar no surgimento do Mal de Parkinson. O pesticida impede que uma enzima, chamada ALDH (aldeído desidrogenase) controle a DOPAL, uma toxina que ocorre naturalmente no cérebro. Quando deixada sem controle pela ALDH, a DOPAL se acumula, danificando neurônios e aumentando o risco de que a pessoa desenvolva o Mal de Parkinson.

Fatores ambientais

Arthur Fitzmaurice e seus colegas afirmam que, embora tenham sido identificadas algumas variações genéticas que causam uma forma hereditária de Parkinson, apenas uma pequena fração da doença pode ser atribuída aos genes.

"Por decorrência, os fatores ambientais quase certamente desempenham um papel importante nessa desordem," diz ele. "Entender os mecanismos relevantes, particularmente o que causa a perda seletiva de neurônios dopaminérgicos, pode dar importantes informações sobre como essa doença se desenvolve."

Os pesquisadores acreditam que novos medicamentos que protejam a atividade da ALDH possam eventualmente ajudar a retardar a progressão da doença.


Fonte: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=ligacao-entre-pesticidas-mal-parkinson&id=8478