domingo, 15 de maio de 2016

60% do risco de desenvolver Diabetes mellitus tipo 2 pode ser reduzido com dieta adequada e prática regular de exercícios

Você sabia que a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que 9% da população mundial tenha diabetes mellitus tipo 2 e que em 2035 ela seja a  sétima causa de morte no mundo? Dois hábitos relativamente simples podem ajudá-lo a não entrar para as estatísticas: alimentação adequada e prática de exercício físico ?

“Combater a obesidade ainda é o melhor método preventivo para o diabetes. Manter um controle nutricional adequado e praticar exercícios físicos regularmente são medidas capazes de reduzir em até 60% o risco de desenvolver a doença”, orienta a endocrinologista do HCor (Hospital do Coração) dra. Laura Frontana.

Válidas para todas as pessoas, como forma de prevenção, ou para aqueles que já receberam o diagnóstico de diabetes, algumas recomendações nutricionais são importantes aliadas para a busca de melhor qualidade de vida. O ideal é ingerir alimentos em quantidade e qualidade adequadas e fazer três refeições diárias intercaladas com pequenos lanches, dando preferência aos alimentos ricos em fibras e nas versões integrais.

“Um plano nutricional individualizado, considerando características como idade, nível de atividade física, peso, altura, o uso ou não de hipoglicemiantes e insulina é imprescindível para prevenir, tratar e até controlar a doença”, destaca a endocrinologista.

Atividade física pode ser feita sem restrições. Caminhada, dança, hidroginástica, corrida, natação e ciclismo, em intensidade moderada, três vezes por semana, são algumas das atividades físicas indicadas para prevenir complicações da doença e o controle dos níveis de glicemia, além de ajudar a baixar a pressão arterial e reduzir o risco de desenvolver doenças cardíacas.



Fonte: http://drauziovarella.com.br/diabetes/alimentacao-e-atividade-fisica-podem-reduzir-em-60-risco-de-diabetes/

É possível prevenir crise de herpes labial ? Por Juliana Conte


Herpes labial em geral começa com formigamento e ardência local e logo surgem pequenas vesículas agrupadas. Quem já teve crises de herpes, sabe o quanto as vesículas incomodam, doem e causam constrangimento.

Um dos gatilhos para a manifestação da doença é a exposição solar intensa (por isso recomenda-se o uso de protetor labial), baixa imunidade do organismo, estresse, cansaço físico e mental, além de vigência do período menstrual.

Infelizmente, não existe cura definitiva para o herpes labial. O tratamento convencional consiste em antivirais orais (o famoso aciclovir) e algumas pomadas específicas. O medicamento ajuda a inibir a replicação do vírus e a diminuir o tempo a intensidade dos sintomas.

Mas aqui vai um alerta: é necessário iniciar o tratamento o mais rápido possível, ou seja, de preferência no primeiro dia de manifestação da doença, para que o vírus não se replique. E mesmo que você já saiba decor o remédio a ser utilizado, não se automedique durante as crises, pois é fundamental procurar ajuda médica.

O inconveniente dos medicamentos, porém, é que sua ação  no controle das recidivas é limitada e seu uso frequente pode determinar casos de resistência viral.

Por isso, uma parcela relevante da população está propensa a ter reincidência das crises, com até seis episódios por ano. Mas é possível, então, pelo menos prevenir as crises?

Segundo o dr. Walmar Roncalli Pereira, dermatologista do HCFM/USP, sim. Para isso, é importante apostar em alimentos que contenham lisina, já que o corpo humano não é capaz de fabricar esse aminoácido. 

Os principais alimentos que contêm são:
 Queijo;
Soja;
Verduras;
Frango;
Peixe.

Também é indicado procurar diminuir o consumo de alimentos que contenham arginina, como:
 Castanhas;
Chocolates;
Laranja;
Uvas;
Amêndoas.

“O papel fundamental da lisina é inibir a arginina, aminoácido que ajuda na reprodução do vírus. Como elas competem dentro da célula, o aumento da lisina no organismo significa uma queda da arginina, e manter essa relação harmoniosa é muito importante como medida profilática para prevenir o herpes labial e sua reincidência, além de acelerar o processo de cicatrização”, esclarece Roncalli.

De acordo com o dr. Roncalli, uma alimentação bem balanceada, com consumo adequado de proteína, contém de 5 a 8 gramas de lisina. Entretanto, há uma redução de até 42% dessa proteína durante o processo digestivo e até no processo de preparo dos alimentos. Ou seja, mesmo que se consuma a quantidade correta de lisina, há sempre uma perda natural desse aminoácido.

Uma opção é utilizar a suplementação de lisina como medida profilática. Como ela não é um agente antiviral, sua utilização frequente e prolongada não causa resistência viral.

“Na verdade, para efeito de prevenção de recorrência de  herpes labial devemos ter no sangue uma concentração de 165 nmol/ml de lisina, o que pode ser atingido utilizando-se 1.500mg de cloridrato de lisina por 6 meses”, diz.


Fonte: http://drauziovarella.com.br/virus-e-bacterias/e-possivel-prevenir-crise-de-herpes-labial/

sábado, 14 de maio de 2016

Rótulos: quais são os limites diários e os riscos que os aditivos podem trazer? Por Tainah Medeiros

Em letras pequenas e bem escondida na embalagem está uma informação bastante importantes: os ingredientes. Para saber realmente o que está se ingerindo, deve-se olhar cuidadosamente para esse item. Tudo o que foi usado durante a fabricação está (ou devia estar) ali, em ordem de maior quantidade, incluindo os aditivos.

Como ler corretamente os rótulos?

A priori, o nome assusta, e com certa razão: são componentes químicos que em sua maioria não têm relevância nutritiva, sendo adicionados para conservar, conferir cor e sabor, como define a FAO/Who ( Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).

Mas calma, existe quantidade limite para tudo, principalmente para um componente fazer mal à saúde a ponto de provocar algum problema. O uso desses “aditivos” é permitido tanto pela FAO quanto pela Anvisa, empresas que estudam e investigam a seguridade dos produtos.

“A Anvisa é um dos órgãos de fiscalização mais cautelosos do mundo” enfatiza a nutricionista Dra. Carolina Godoy, membro da câmara técnica do Conselho Regional de Nutrição de São Paulo, quando questionada sobre o alarde em cima dos aditivos químicos. “Existem pessoas com restrições alimentares e estas precisam, de fato, respeitar e não consumir o alimento. Pessoas saudáveis que consomem os aditivos dentro da quantidade recomendada com uma alimentação equilibrada não precisam se preocupar.”

As quantidades recomendadas são rigorosamente investigadas por essas instituições e têm nome: a IDA (Ingestão Diária Aceitável ) é a porção considerada segura de um aditivo químico para que ele não faça mal à saúde, a qual é estabelecida pelo JECFA (Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives, comitê de especialistas em aditivos alimentares). “A IDA é estabelecida a partir de um fator de segurança para uma dose que não provoca nenhum efeito adverso no ser humano. O valor que temos hoje com a IDA é uma dose que não tem efeito adverso dividida 100 vezes, justamente considerando que alguns excessos podem ocorrer”, explica Godoy.

Como as embalagens geralmente não trazem a quantidade desses aditivos, o recomendado é: quando houver limite de quantidade diária, evite consumir mais de um produto com o mesmo aditivo ou ingerir além da porção estabelecida na tabela nutricional.

Acidulantes

– Para que servem: Como o nome já diz, os acidulantes têm função de intensificar ou atribuir gosto ácido aos alimentos, além de conseguir imitar o sabor de certas frutas.
 – Onde estão: Em balas, refrigerantes, sucos e, principalmente, em bebidas alcóolicas, como a cerveja. Em algumas embalagem estão identificados pela letra “H”, em outras pelo seu próprio nome.
 – No Brasil, segundo a IDA, são permitidos:

Adípico – limite de 5mg/Kg – ou seja, um indivíduo com 60 kg pode consumir 60 x 5 = 300 mg).
Cítrico – IDA não especificada – quando consta “não especificada”, quer dizer que não representa risco à saúde.
Fosfórico – limite de 70mg/kg.
Fumárico – IDA não especificada.
Lático – IDA não especificada.
Málico – IDA não especificada.
Tartárico- limite de 30mg/kg.
Glucona delta-lactona- IDA não especificada.
– O que o excesso pode provocar: O excesso ao longo da vida pode levar a descalcificação de ossos e dentes.

Adoçantes artificiais

– O que fazem: Também conhecidos como edulcorantes, são substâncias de valor energético nulo ou baixo que dão ao alimento o gosto doce.
– Onde estão: Produtos diet e light.
– No Brasil, segundo a IDA, são permitidos:

Acesulfame de potássio – limite de 15mg/Kg.
Aspartame – limite de 40 mg/Kg.
Ciclamato – limite de 11 mg/Kg.
Glicosídeos de Esteviol (Estévia) – limite de 4mg/Kg.
Neotame – limite de 2mg/Kg.
Sacarina – limite de 5 mg/Kg.
Sucralose – limite de 15 mg/Kg.
– O que o excesso pode provocar: Ao contrário do que dizem, os adoçantes não causam tumores (segundo a FDA, órgão dos Estados Unidos correspondente à Anvisa). Mas há suposições, ainda em estudo, de que o excesso de adoçantes pode aumentar o risco de desequilíbrio metabólico.

Antioxidantes

– Para que servem: Evita que o alimento oxide e apodreça, mantendo-o em boas condições de consumo por mais tempo.
– Onde estão: Óleos e gorduras, sorvetes, leite em pó instantâneo, leite de coco, produtos de cacau, conservas de carne, margarina e farinhas.
– No Brasil, segundo a IDA, são permitidos:

Ácido ascórbico – IDA não especificada.
Butil-hidroxianizol (BHA) – limite de 0,05 mg/KG.
Butil-hidroxitolueno (BHT) – limite de 0,03 mg/Kg.
Citrato de monoisopropila – limite de 14 mg/kg.
Lecitinas – IDA não especificada.
Galato de propila – limite de 1,4mg/Kg.
Tocoferóis – limite de 2mg/kg.
Acido eritórbico – IDA não especificada.
Palmitato de ascorbila- limite de 0,25 mg/Kg.
Terc-butil-hidroxiquinona – limite de 0,07 mg/Kg.

– O que o excesso pode provocar: O BHA e BHT, mesmo sendo permitidos dentro do limite considerado saudável, são derivados fenólicos, grupo químico com alto poder tóxico. Fique atento às embalagens e evite consumir muitos produtos com esse item, já que não se sabe ao certo a quantidade real presente nos alimentos. Os demais, em excesso, podem afetar as funções gastrointestinais, causar alergias e aumentar o nível de colesterol no sangue.

Conservantes

– O que fazem: Evitam a ação dos microrganismos que agem na deterioração dos alimentos, fazendo com que durem mais tempo sem estragar. Na embalagem, eles aparecem muitas vezes pelos códigos de P1 a P10.
– Onde estão: Na grande maioria dos alimentos industrializados, como refrigerantes, concentrados de frutas, chocolates, sucos, queijos fundidos, margarinas, conservas vegetais (como azeitonas e palmitos), carnes e pães.
– No Brasil, segundo a IDA, são permitidos:

Ácido benzoico (benzoato) – limite de 5mg/Kg.
Ácido propiônico – IDA não especificada.
P-hidroxibenzoico – limite de 10mg/Kg.
Nitrato (potássio ou sódio) – limite de 3,7 mg/kg.
Nitrito (potássio ou sódio) – limite de 0,06 mg/Kg.
Sulfato de sódio – limite de 0,7 mg/Kg.
– O que o excesso pode provocar: O limites de nitrato e nitrito são bem restritos, o que torna mais fácil extrapolar. O consumo excessivo por muitos anos pode ser cancerígeno, assim como os demais conservantes. Além disso, podem afetar as funções gastrointestinais, causar alergias e aumentar o nível de colesterol no sangue.

Corantes

– O que fazem: Colorem os alimentos, fazendo com que os produtos industrializados tenham uma aparência mais agradável e parecida com a de produtos naturais.
– Onde estão: Na maioria dos produtos industrializados, como massas, bolos, margarinas, sorvetes, bebidas, gelatinas, biscoitos, entre outros.
– Existem três tipos: corantes naturais, corantes artificiais e caramelos, mas aqui vamos focar apenas nos dois últimos.
– No Brasil, segundo a IDA, são permitidos:

 Artificiais
 Amaranto ou Bordeaux – limite de 0,5 mg/Kg.
Azorrubina – limite de 4 mg/Kg.
Vermelho – limite de 7 mg/Kg.
Amarelo crepúsculo – limite de 2,5 mg/Kg.
Azul brilhante – limite 12,5mg/Kg.
Eritrosína – limite de 0,01 mg/Kg.
Ponceau – limite de 4 mg/Kg.
Indigotina – limite de 5mg/Kg.
Tartrazina – limite de 7,5 mg/Kg .
Verde rápido – limite de 25 mg/Kg.
Caramelos

Corante natural obtido pelo aquecimento do açúcar. A IDA é 200mg/Kg.
– O que o excesso pode provocar: Os corantes podem causar reações alérgicas, dependo da pessoa. Uma vez diagnosticada essa relação, a pessoa não deve mais consumir o alimento que leva o aditivo. Também podem causar irritações intestinais.

Realçador de sabor

– O que faz: Torna mais perceptível o sabor de alimentos industrializados. É ele que dá um toque que aproxima o gosto ao de produtos naturais.
– Onde está: Sopas, sucos, carnes enlatadas, biscoitos, bolos, sorvetes, entre outros.
– No Brasil, segundo a IDA, são permitidos:

Glutamato monossódico – IDA não estipulada.
– O que o excesso pode provocar:Mesmo diante de todo o burburinho em cima desse componente, tanto a Anvisa, quanto a JECFA e a FAO consideram-no seguro, sem quantidade de risco estipulada.

“De qualquer forma, os valores estão estabelecidos, mas não são verdades absolutas. A todo momento novos estudos podem surgir e os valores podem mudar”, alerta Godoy. Portanto, ficar atento às informações mais recentes sobre o tema é sempre válido.

Hipotireodismo/hipertireoidismo/nódulos tireoidianos


A glândula tireoide é importantíssima para o funcionamento harmônico do organismo. Ela se situa na parte inferior do pescoço, bem perto de onde começa o osso esterno. Está apoiada na traqueia bem ao lado da artéria carótida.

A tireoide possui dois lobos, o esquerdo e o direito, que juntos assumem o formato de uma borboleta de asas abertas ou de um escudo. Na verdade, seu nome deriva da palavra grega thureós que significa escudo.

Os hormônios liberados pela tireoide são responsáveis por uma série de funções orgânicas. Eles garantem que coração, cérebro e muitos outros órgãos exerçam suas funções adequadamente. Superprodução dos hormônios tireoidianos provoca no organismo um distúrbio, o hipertireoidismo. Já, quando a produção não atinge os níveis hormonais necessários, o quadro recebe o nome de hipotireoidismo.

Os hormônios da tireoide chamam-se tireoxina (T4) e triiodotironina (T3). Eles são fundamentais para o metabolismo, ou seja, o conjunto de reações necessárias para assegurar todos os processos bioquímicos que ocorrem no nosso corpo.

Atualmente, parece haver uma epidemia de problemas da tireoide, especialmente um número aumentado de casos de hipotireoidismo e da incidência de nódulos na tireoide, que atinge especialmente as mulheres. Será isso verdade?

FALSA IDEIA DE EPIDEMIA

Drauzio – Existe realmente uma epidemia de problemas da tireoide no momento?

Marcello Bronstein – Quando se fala em epidemia, dá-se a impressão de que, de repente, se tornou mais comum o aparecimento de problemas da tireoide. Isso não é necessariamente verdade. Acontece que os métodos de diagnóstico – quer laboratoriais, quer por imagem – estão cada vez mais aperfeiçoados e pequenas alterações que não eram detectadas no passado, agora são percebidas com clareza. Com isso, o número de pessoas com alterações mínimas e subclínicas da tireoide aumentou. Por outro lado – e eu diria infelizmente – há um excesso de requisições de exames não necessários que leva ao diagnóstico de “problemas” que, na verdade, não são problemas.

Eu diria, então, que não há propriamente uma epidemia. O que há é um aumento considerável de pedido de exames e uma tecnologia mais avançada que permitem a detecção de situações subclínicas.

Drauzio – Somos do tempo em que os médicos examinavam a tireoide com as mãos. Eles mandavam o paciente engolir, sentiam o tamanho da glândula e, às vezes, surpreendiam alguns nódulos que já mediam, no mínimo, um centímetro. Que alterações o ultrassom trouxe para o diagnóstico e em que isso mudou a prática médica? 

Marcello Bronstein – Embora nódulos muito pequenos não sejam detectados pela palpação, também continuo sendo do tempo em que o exame clínico da tireoide é muito importante. Temos de admitir que apenas 5% dos nódulos tireoidianos são palpáveis no exame clínico, número que cresce muito se o ultrassom for utilizado. Só para ter uma ideia da frequência com que ocorrem no sexo feminino, mulheres com mais de 40 anos têm cerca de 40% de probabilidade de apresentar nódulos na tireoide; acima dos 50 anos, esse número sobe para 50% e depois dos 70 anos, praticamente 90% delas têm nódulos na tireoide, que podem estar localizados superficial ou profundamente. É claro que um nódulo superficial, mesmo que  pequeno, pode ser palpado mais facilmente do que outro de dimensões maiores, porém mais profundo. Por isso, o exame com ultrassom fez com que o número de casos diagnosticados aumentasse muito. O dilema é o que fazer depois de detectado o nódulo, uma vez que ele vai ser encontrado em praticamente metade da população acima dos 40 anos.

Isso é uma epidemia? Não é. É uma situação que veio à tona desencadeada pelo avanço da tecnologia. Nódulos não palpáveis são detectados atualmente na tireoide, porque se pediu um exame de ultrassom sem necessidade ou porque ele foi realizado com outro objetivo, por exemplo, o de avaliar a incidência ou não de aterosclerose nas carótidas, artérias que passam ao lado da tireoide.

A grande questão é se isso não representa um progresso no momento em que se prestigia a prevenção. Será que realmente a detecção precoce não traz a possibilidade de cura definitiva? Vou responder citando alguns números. Apenas de 15% a 20% dos nódulos de tireoide são malignos. Não é um índice desprezível, concordo. No entanto, quando se fala em câncer, faz muita diferença ser um câncer de pâncreas ou de tireoide. A agressividade do câncer de tireoide é, em geral, muito baixa, tanto que cerca de 5% da população que morreu de gripe, infarto, dengue ou atropelada, quando submetidos à autopsia, apresentam nódulos malignos assintomáticos na tireoide.

TUMORES DE TIREOIDE SÃO INDOLENTES

Drauzio – Um dos problemas que enfrentamos na clínica é atender pessoas que foram encaminhadas para biópsia, porque um ultrassom revelou a existência de nódulos na tireoide. Esse exame realmente deve ser sempre indicado?

Marcello Bronstein – Na maioria das vezes, o câncer de tireoide, quando existe, é indolente. A grande indicação do ultrassom e, eventualmente da punção para biopsia, são os nódulos palpáveis que, em geral, medem mais de um centímetro e estão mais sujeitos a desenvolver câncer. A probabilidade diminui nos nódulos menores Existem, no entanto, recursos ultrassonográficos que permitem dizer, através das características ecogênicas, se o nódulo apresenta maior ou menor possibilidade de ser maligno.

No exame por ultrassom, o som emitido produz um reflexo que projeta um desenho do órgão que está sendo analisado. No caso específico da tireoide, dependendo do formato desse desenho, pode-se saber qual a probabilidade de determinado nódulo ser ou não maligno. Desse modo, muitas vezes, é possível fechar o diagnóstico apenas com resultado do exame de ultrassom. A punção só deve ser indicada quando o ultrasssom não foi suficiente para esclarecer o caso ou para as pessoas de maior risco, com história familiar de câncer de tireoide ou exposição à radioatividade.

De modo geral, só peço ultrassom quando apalpo o nódulo. Se a pessoa já fez o exame a pedido de outro profissional, analiso um conjunto de dados – sexo, idade, tamanho e aspecto do nódulo no ultrassom – e decido sobre a necessidade da punção para identificar se o nódulo é maligno ou benigno.

IMPORTÂNCIA DA DOSAGEM DO TSH

Drauzio – Há anos li um artigo que me convenceu da necessidade de incluir o pedido de dosagem do hormônio TSH na lista de exames de rotina que as pessoas devem fazer especialmente depois dos 40 anos. O fato é que fiquei muito surpreso com a quantidade de pessoas absolutamente normais, sem sintoma algum da doença, que apresentam resultado compatível com hipotireoidismo ou hipertireoidismo. É mesmo importante pedir dosagem de TSH no sangue?

Marcello Bronstein – O TSH, sigla para Thyroid Stimulanting Hormone, ou Hormônio Estimulador da Tireoide, é um hormônio fabricado pela hipófise, uma glândula que fica no meio do cérebro, bem pequenininha, mas que controla o funcionamento de várias outras glândulas, entre elas os testículos, os ovários, as suprarrenais e a tireoide. Existe um sincronismo entre a produção de TSH e a tireoide semelhante ao funcionamento do termostato da geladeira, que liga e desliga automaticamente de acordo com a flutuação da temperatura interna do aparelho. Da mesma maneira, o TSH estimula a tireoide para produzir os hormônios T4 e T3 que, uma vez fabricados, inibem a produção de TSH.

Se a fabricação de hormônios pela tireoide for prejudicada por uma inflamação, por exemplo, haverá um aumento de TSH para tentar corrigir essa deficiência. Esse é o primeiro estágio de hipotireoidismo subclínico caracterizado pela manutenção do nível normal de hormônios da tireoide à custa da elevação do TSH.

Como você observou, a frequência dessa constatação é muito grande e ajuda a fortalecer a ideia de epidemia, visto que 3% dos homens, 7,5% das mulheres abaixo dos 45 anos, 10% delas acima dos 45 anos e 20% acima dos 75 anos manifestam esse tipo de problema. Como se pode notar, as doenças de tireoide acomentem mais as mulheres do que os homens numa proporção de cinco, seis ou sete mulheres para cada homem.

Drauzio – Você recomenda que esse exame de TSH seja feito de rotina em pessoas acima de 40 anos?

Marcello Bronstein – Sim, em todas as pessoas acima de 40 anos, principalmente porque, no hipotireoidismo subclínico, podem aparecer alguns sintomas como cansaço, depressão leve e adinamia (falta de iniciativa).

Quando a tireoide entra num processo de falência maior, a produção de TSH sobe, diminui a de hormônios tireoidianos e instala-se o hipotireoidismo clínico, que apresenta quadros bem manifestos de depressão, pele seca e fria, prisão de ventre, falta de vontade de levantar da cama e coração batendo mais lento. A pessoa fala devagar e sua voz engrossa, como se fosse um disco em baixa rotação. A presença desses sintomas, em geral, torna mais fácil o diagnóstico. O mais importante, porém, é que esse diagnóstico seja feito na fase subclínica.

SINTOMAS DO HIPOTIREOIDISMO E DO HIPERTIREOIDISMO

Drauzio – O perigo é que esses sintomas são sutis no início. A pessoa sente um pouco de cansaço, de indisposição, uma leve depressão e atribui tudo às vicissitudes da vida moderna. Como se trata de um processo gradativo, elas se acostumam com o que estão sentindo e não buscam ajuda.

Marcello Bronstein – Isso acontece mesmo, o que torna fundamental lembrar sempre da possibilidade de um distúrbio da tireoide. O hipotireoidismo clínico é bem menos frequente. Cerca de 1% dos casos atinge mulheres jovens; 2%, mulheres acima de 40 anos e 5% das que têm mais de 60 anos de idade. Então, à medida que envelhecemos, a tireoide deve ser avaliada.

Entretanto, é importante destacar a existência de um mito folclórico, segundo o qual as pessoas obesas não conseguem emagrecer por causa de problemas na tireoide. Isso não é verdade. O porcentual de hipotireoidismo subclínico é alto, mas ele não leva à obesidade. Embora o metabolismo fique mais lento, a pessoa come menos, pois sente menos fome. Seu peso aumenta, porque ela incha e forma o que chamamos de mixedema. Em vista disso, o tratamento para combater a obesidade com hormônios de tireoide deve ser rigorosamente condenado.

Drauzio – Vamos ressaltar os principais sintomas do hipotireoidismo?

Marcello Bronstein – No hipotireodismo, diminui a produção de hormônios da tireoide. Como eles são fundamentais para a ativação do metabolismo, ocorre uma diminuição geral da atividade do organismo. Decrescem a atividade cerebral e a frequência do batimento cardíaco. A pessoa pensa mais lentamente, tem tendência à depressão e à sonolência. Há também maior deposição de líquidos no corpo, o que provoca o edema característico do mixedema. O aumento de peso deriva mais desse edema do que propriamente do acúmulo de gordura. A pele fica fria e seca e os reflexos, mais vagarosos. Além disso, verificam-se alterações menstruais e na potência e libido dos homens.

Drauzio – Nas fases mais avançadas, o hipotireoidismo pode ser uma doença grave?

Marcello Bronstein – Pode ser grave e fatal. No estágio final da doença, os pacientes tornam-se mixedematosos, entram em coma e o tratamento pode ser infrutífero.

Drauzio – O hipertireoidismo também pode ser detectado pelo exame do TSH?

Marcello Bronstein – Nos casos de hipertireoidismo, o TSH está suprimido, porque o excesso de hormônios de tireoide inibe o funcionamento da hipófise. Os sintomas são opostos aos do hipotireoidismo. Há uma hiperativação do organismo. A pessoa fica nervosa e irritadiça, dorme pouco, tem taquicardia, seu coração bate rápido. Como apresenta intolerância ao calor, numa sala em que todos estão com frio, ela transpira muito. Além disso, perde peso, principalmente à custa de proteínas e dos músculos. Essa é mais uma razão para não usar hormônio da tireoide quando se quer emagrecer, porque é maior a queima dos músculos do que a da gordura.

HORMÔNIO TIREOIDIANO NOS REGIMES PARA EMAGRECER

Drauzio – É enorme o número de médicos que receita hormônio tireoidiano nos regimes para emagrecer, especialmente quando prescrevem as fórmulas aviadas em farmácia.

Marcello Bronstein – Na verdade, a composição da fórmula emagrecedora fica a critério do médico. Infelizmente, a maior parte inclui o hormônio tireoidiano.

Drauzio – Quais são as consequências de tomar esse hormônio por tempo prolongado?

Marcello Bronstein – Se a quantidade for pequena, simplesmente estaremos trocando seis por meia dúzia, uma vez que, se inibirmos o funcionamento da hipófise, a tireoide para de funcionar e a pessoa substitui os hormônios que seu organismo produz por aqueles que está recebendo na pílula.

Quantidade acentuada de hormônios ingeridos pode desencadear o hipertireoidismo, ou seja, um excesso de funcionamento farmacológico da tireoide chamado de tirotoxicose.

É importante lembrar que, acima dos 60 anos, as pessoas predispostas correm risco maior de fibrilação, arritmia cardíaca e infarto, uma vez que a aceleração do metabolismo aumenta a necessidade de oxigênio, sobrecarregando o coração. Também pode favorecer o desenvolvimento de osteoporose, sobretudo em mulheres menopausadas que não efetuam a reposição dos hormônios sexuais.

Drauzio – Você recomenda que os médicos peçam de rotina a realização do exame TSH para pessoas acima de 40 anos, especialmente para as mulheres pela maior prevalência de hipotireoidismo. Com que frequência esse exame deve ser feito?

Marcello Bronstein – Isso vai depender muito de cada caso.Mas, como é recomendável checar colesterol, triglicérides e glicemia anualmente, eu diria que o exame de TSH deve ser pedido uma vez por ano, junto com os outros exames.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO TRATAMENTO

Drauzio – Vamos falar um pouco do tratamento. Se o valor de TSH estiver elevado, o que se deve fazer?

Marcello Bronstein – Se o resultado for elevado, temos de pedir necessariamente o exame do T4, um dos hormônios da tireoide. Se ele estiver normal, o diagnóstico é hipotireoidismo subclínico ou inicial. Antes, havia muita controvérsia a respeito de começar o tratamento nesse estágio da doença, porque não havia dados suficientes de que ela pudesse ser prejudicial. Hoje, não há dúvida, principalmente se o TSH estiver acima de 8 ou 10, uma vez que o valor normal vai até 4. Resultado baixo no exame do hormônio T4 é característica de hipotireoidismo clínico ou manifesto e deve ser tratado da mesma forma que o subclínico, ou seja, com reposição de hormônios tireoidianos.

Minha experiência indica que, em geral, para o hipotireoidismo subclínico, uma dose muito pequena de hormônio é o bastante. No entanto, ela precisa ser maior nos quadros de hipotireoidismo clínico. O resultado do tratamento é gratificante, porque o que a pessoa toma não propriamente uma droga estranha ao organismo com possíveis efeitos colaterais. Ela toma exatamente o hormônio que a tireoide deixou de fabricar ou está fabricando em quantidade insuficiente. Portanto, não há reações indesejáveis e os resultados são excelentes, devendo o hormônio ser for tomado em jejum e com regularidade.

Drauzio – Esse hormônio deve ser tomado pela vida toda?

Marcello Bronstein – Em geral, pela vida toda. O hipotireoidismo, uma vez instalado, é permanente. Entretanto, existem algumas formas de hipotireoidismo, principalmente as que se manifestam no pós-parto, que são transitórias. Trata-se, porém, de uma minoria que consegue recuperar a função da tireoide.

Drauzio – E no caso de se encontrar o TSH muito baixo?

Marcello Bronstein – TSH baixo e hormônios da tireoide dentro dos limites normais podem ser considerados características do hipertireoidismo subclínico. O tratamento vai depender da causa do distúrbio e deve ser efetuado principalmente na terceira idade, por causa do risco de arritmias cardíacas e/ou osteoporose. É óbvio que níveis elevados dos hormônios da tireoide fazem parte do quadro de hipertireoidismo clínico que, obrigatoriamente, deve ser tratado.

Drauzio – Que precauções devem ser tomadas se há casos de hipertireoidismo ou hipotireoidismo na família?

Marcello Bronstein – É preciso dar ênfase maior ao exame de TSH e mesmo antecipá-lo no caso de pessoas mais jovens. A causa mais comum do hipotireoidismo é chamada de tireoidite de Hashimoto, nome do médico japonês que a identificou. Como o sufixo “ite” indica, trata-se de uma inflamação da tireoide que provoca a redução paulatina de seu tamanho até a glândula perder sua função. A tireoidite de Hashimoto é uma das doenças autoimunes, ou de autoagressão, que têm a incidência aumentada em pessoas da mesma família.

CARÊNCIA DE IODO E CRESCIMENTO DO BÓCIO

Drauzio – No passado, era frequente encontrar pessoas com bócio nos hospitais-escola. Hoje, esses casos são mais raros. Por quê?

Marcello Bronstein – Uma das substâncias fundamentais para a produção do hormônio da tireoide é o iodo presente na alimentação. Assim, se a pessoa viver numa zona onde haja carência de iodo, a tireoide não vai fabricar o hormônio e a hipófise vai estimulá-la para que supra essa deficiência. Resultado: crescimento do bócio indicativo do aumento de volume da glândula.

Felizmente, com a obrigatoriedade da iodação do sal de cozinha, a ocorrência desses quadros de bócio endêmico diminuiu muito, mas ainda ocorrem em algumas regiões centrais quer do Brasil, quer da Europa. É interessante notar que tanto a falta quanto o excesso de iodo podem levar ao hipotireoidismo. Existem inclusive evidências de associação da ingestão excessiva de iodo e tireoidite.

 Drauzio – Como se pode consumir exageradamente iodo?

Marcello Bronstein – Em geral, não há razão nenhuma para existir excesso de iodo na alimentação, embora o sal de cozinha esteja mais iodado, o que deve ser levado em conta. No entanto, casos esporádicos de consumo aumentado de iodo ou de hormônio da tireoide podem desencadear esse processo. Um deles, a síndrome do hambúrguer, aconteceu nos Estados Unidos. Ela se caracterizou por uma concentração maior de tecido tireoidiano contida na carne bovina empregada na fabricação desse alimento. Deve-se também considerar a ingestão proposital de hormônios tireoidianos por pessoas, em geral com o intuito de emagrecimento (tirotoxicose factícia), hábito que deve ser severamente condenado.

Autor: Marcello D. Bronstein é médico e professor de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo.

Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/t/hipotireodismohipertireoidismonodulos-tireoidianos/

O que fazer em caso de diarréia ?

Muita gente não sabe, mas a diarreia  é a segunda maior causa de morte de crianças no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). A cada dia, 15 crianças morrem vítimas da doença no Brasil.

O que caracteriza a diarreia são o número excessivo de evacuações e a mudança de consistência das fezes. Ir ao banheiro muitas vezes e apresentar  fezes muito amolecidas ou praticamente líquidas são sinais de diarreia.

Há vários tipos de diarreia, que pode ser causada por agentes nocivos ao organismo, como vírus, bactérias ou parasitas, pelo uso de determinados medicamentos e ainda por algumas doenças mais graves.

A diarreia aguda tende a cessar espontaneamente em poucos dias. O principal risco da diarreia é a desidratação. Para evitá-la, o paciente deve ingerir de 2 a 3 litros de líquido por dia.
Atenção: se os sintomas persistirem por mais de dois dias ou houver sangue nas fezes ou outro sintoma (como febre, por exemplo), procure orientação médica.

Em caso de diarreia:

1. Tome bastante líquido (cerca de 2 a 3 litros por dia). Dê preferência ao soro caseiro* ou a bebidas que contenham sódio e potássio, como água de coco. É importante ingerir de 50 a 100 ml (1 copo e meio) de líquido depois de cada ida ao banheiro. Atenção: pessoas com pressão alta, doenças renais ou cardíacas, glaucoma, entre outras não podem ingerir sódio em grandes quantidades. Se você tem alguma doença crônica e apresentar diarreia, consulte seu médico;

2. Mantenha o aleitamento materno, caso o paciente ainda seja lactente. Pessoas de outras faixas etárias devem manter a alimentação, mas evitar alimentos gordurosos e com resíduos, como bagaço de frutas e salada. (Veja a lista de alimentos mais adequados em caso de diarreia aqui);

3. Lave bem as mãos depois de usar o banheiro e antes das refeições;

4. Preste atenção às crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas, pois eles desidratam mais depressa.


*Modo de preparo do soro caseiro:
Em um litro de água mineral, filtrada ou fervida (mas já fria), misture uma colher pequena (café) de sal e uma colher grande (sopa) de açúcar. Mexa bem e ofereça ao doente em pequenas colheradas durante o dia.

Fonte: http://drauziovarella.com.br/crianca-2/durante-uma-crise-de-diarreia-voce-deve/

Por que ainda recomendamos o consumo de leite ?

Na página do Facebook do Dr. Drauzio Varella uma seguidora esbravejou: “Que tamanho desserviço com a população! Em pleno 2015 ter que explicar para adultos formados que leite de ser humano é para ser humano e leite de vaca é para bezerro. Meu Deus!”. O post era sobre o consumo de leite para a prevenção da osteoporose. Para ela e muitos outros dos mais de 500 comentários, o leite de vaca deveria entrar no ostracismo por não trazer nenhum benefício à saúde e não ser adequado para seres humanos.

Realmente, os seres humanos são os únicos animais que consomem leite na fase adulta, mas existem motivos para isso que vão além da discussão sobre saúde: 1)  desenvolvemos técnicas para domesticação do gado e, assim, conseguimos incorporar o leite animal em nossa dieta; e 2) não destinamos o leite à alimentação de outros animais adultos porque ele é considerado muito nobre e seu custo é alto demais para que ele seja um ingrediente de ração, embora alguns produtores de suínos utilizem soro de leite para a alimentação dos animais.

Esses apontamentos são da dra. Patrícia Blumer Zacarchenco, pesquisadora científica do TECNOLAT-ITAL (Centro de Tecnologia de Alimentos –Instituto de Tecnologia de Alimentos do Estado de São Paulo), que há mais de 18 anos anos estuda o alimento. “Quando o filhote se torna adulto, o desmame feito pelas fêmeas das diversas espécies ocorre não porque o leite deixa de ser adequado para a cria, mas sim para que o filhote passe a ingerir outros alimentos. Também serve para poupar energia da fêmea para um novo processo de gestação.”**

A mesma lógica pode ser aplicada às pessoas. O leite, mesmo o de origem animal, não deixa de ser nutritivo quando nos tornamos adultos, apenas incorporamos outros alimentos em nossa dieta, tanto por terem outros nutrientes que não estão presentes no leite quanto por aumentarem nossa capacidade gustativa. Por mais que exista uma vertente contrária ao seu consumo, o leite traz benefícios à saúde, sim. Ele ajuda na prevenção da síndrome metabólica, na redução da pressão arterial, na prevenção do diabetes tipo 2 e, claro, da osteoporose, pois quando o assunto é ingestão de cálcio, a bebida ainda é uma das fontes mais importantes.

Claro que existem outros meios de ingerir o mineral. As verduras verde-escuras (brócolis, espinafre e couve), assim como castanhas-do-pará, amêndoas e tofu, são excelentes fontes de cálcio (ver tabela abaixo). Muitas dessas, inclusive, têm teor mais elevado do mineral que o próprio leite. Por exemplo: 100 g de brócolis têm 513 mg de cálcio, enquanto 100 ml de leite têm 107 mg.

Por que, então, insistir no consumo de leite? “Alguns alimentos, principalmente os ricos em fibras, contêm fitatos (presentes nos farelos de cereais), oxalatos (presentes no espinafre e nas nozes) e taninos (presentes nos chás). Esses componentes diminuem a biodisponibilidade (a velocidade e extensão de absorção de um princípio ativo) do cálcio, o que pode comprometer a quantidade de mineral efetivamente aproveitada pelo organismo. Já o leite conta com a presença de caseinofosfopeptídeos, lactose e proteínas que facilitam a absorção do cálcio”,* explica a dra. Patrícia Blumer.




Recomendamos o leite, também, com base nos hábitos alimentares dos brasileiros

Quando falamos sobre hábitos alimentares de um país, é preciso não generalizar a partir dos costumes que temos em casa.

O ideal é que a alimentação e as vitaminas não sejam provenientes de apenas uma fonte. Quanto mais colorido o prato e mais variado o cardápio, melhor. O leite não serve para suprir todo o cálcio necessário diariamente, até porque para isso seria necessário ingerir perto de 1 litro do alimento (e poucos gostam do leite puro). Por outro lado, alguns fatores importantes contam para mantê-lo em nossa dieta: sua multifuncionalidade, o preço e, claro, o gosto da população.

O leite é um dos ingredientes mais versáteis da gastronomia (ainda mais que as hortaliças). Se eliminarmos seu consumo, deixaremos de ingerir, também, todos seus derivados: manteiga, queijo, requeijão, creme de leite, leite condensado, iogurte etc. Excluir todos esses alimentos significa abrir mão de inúmeras receitas, muitas enraizadas na nossa cultura, como pães, doce de leite, pão de queijo, brigadeiro e bolos. Até algumas receitas com legumes e verduras ficariam comprometidas: legumes na manteiga, purê de batata, brócolis gratinado, entre muitas outras.

Do ponto de vista econômico, as hortaliças ficam em desvantagem em relação ao leite. Os preços, é claro, podem variar dependendo do produto e do local de compra, mas tomando como referência valores do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo, em fevereiro de 2016 um maço de brócolis custava, em média, R$ 5,69, enquanto o litro do leite longa-vida (o mais consumido no país) saía por R$ 3,03.

A diferença entre os preços (R$ 2,66) pode parecer pequena, mas  quando pensamos no orçamento da maioria dos brasileiros, ela é significativa. Em 2015, dados do Banco Central sobre distribuição de renda mostraram que 28,2% da população recebia um salário mínimo, e 54,4%, de um a três salários. Nessa época, o salário era de R$ 788.

Vamos ao cálculo comparativo. Em média, 30% do salário é destinado à alimentação. Fazendo uma conta rápida, e nos baseando no atual salário mínimo, que é de R$ 880, grande parte dos brasileiros costuma gastar, em média, de R$ 264 a R$ 792 por mês com comida.

Para suprirem a necessidade de ingestão diária de cálcio, esses brasileiros precisariam comprar quase um maço de brócolis por dia, o que resultaria em um investimento mensal de aproximadamente R$170, enquanto com o leite o gasto seria quase metade dessa quantia, R$91. Com a primeira opção de compra e baseando-nos no menor salário, sobrariam R$ 94 para comprar os alimentos básicos (arroz, feijão, farinha, carne etc.). Isso se levarmos em conta apenas aos gastos individuais, sem contar famílias que têm dois ou mais integrantes e apenas uma renda.

Já em relação aos costumes alimentares, a maioria dos brasileiros não consome hortaliças e frutas. De acordo com o estudo mais recente Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), publicado em 2015, apenas 24% dos brasileiros ingerem a quantidade ideal recomendada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) desse tipo de alimento (400 g diários).

Se não consumimos nem o que é necessário para termos uma alimentação balanceada, imagine quantos conseguirão ingerir a quantidade diária de cálcio por meio das hortaliças. Por outro lado, o consumo do leite tem aceitação bem maior no país: 54% dos brasileiros consomem o alimento, segundo o mesmo estudo.

As recomendações da OMS para consumo de cálcio podem variar de 300 a 400 mg por dia nos primeiros meses de vida (período da amamentação) e até 1.300 mg/dia na adolescência, por exemplo. Isso equivaleria a comer, diariamente, 234 g de brócolis, 67 7g de couve-manteiga, 882 g de espinafre ou 250 g de sardinha, todos os dias. “Essas pessoas não têm o hábito de ingerir verduras, legumes nem peixes. Como compensar a falta de cálcio? Com o leite, claro”, explica a dra. Sônia Trecco, nutricionista responsável pelo atendimento ambulatorial do HC-FMUSP.

E é exatamente na adolescência que se inicia a prevenção contra danos futuros. Nessa fase, a massa óssea está em formação e segue assim até os 20 anos, quando a densidade óssea atinge o pico. Depois, a estrutura começa a enfraquecer.

A dra. Ana Hoff, endocrinologista do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, explica que uma boa ingestão de cálcio desde cedo é importante para prevenção da perda óssea que pode resultar em osteoporose, mesmo que isso só vá ocorrer décadas depois. “No caso de um consumo pobre do mineral, o organismo sacrifica o esqueleto (depósito de 99% do cálcio no corpo humano) para que suas funções sejam mantidas. A retirada de cálcio do esqueleto para suprir sua falta no sangue resulta em perda óssea.”

O grande desafio deveria ser incentivar a ingestão de cálcio no país sem condenar o leite. Mesmo quem consome a bebida garante a quantidade ideal de cálcio por dia. Apenas 20% das mulheres com 45 anos ingerem o necessário. Entre aquelas com menos de 45 anos, essa porcentagem não passa de 10%.

É claro que é necessário sempre promover uma alimentação diversificada, e também outros hábitos que interferem na saúde da população. “É importante lembrar que a prevenção à osteoporose só é efetiva quando há ingestão de vitamina D, pois essa vitamina ajuda o organismo a absorver o mineral. Para obtê-la, basta tomar dez minutos de sol diariamente”, afirma a nutricionista Sônia Trecco.

Quando recomendamos trocar o leite por outra fonte de cálcio

Não há discussão: a intolerância à lactose (hipolactasia primária) é um dos fatores que impõe restrição ao consumo de leite e laticínios. Segundo a dra. Ana Hoff, o problema causa sintomas desagradáveis após a ingestão desses produtos, tais como distensão do abdômen, acúmulo de gases e fezes amolecidas. “Neste caso, a necessidade de cálcio deve ser suprida por outros alimentos ou, se necessário, com suplementos”, afirma.

Rejane Matar, médica responsável pelo Laboratório de Provas Funcionais do Aparelho digestivo do HC-FMUSP, explica que parte da população apresenta declínio fisiológico e grande diminuição da ação da enzima lactase (responsável pela quebra da lactose, transformando-a em galactose e glucose, monossacarídeos que conseguem ser absorvidos pelo organismo). “Sem a produção abundante de lactase, o organismo não consegue ‘quebrar’ e absorver a lactose no intestino delgado e o manda direto para o grosso. Lá, existem bactérias que fermentam a lactose produzindo gás hidrogênio, que acaba provocando os sintomas desagradáveis.”

A intolerância à lactose é levantada por muitos que vilanizam o leite como uma prova de que ele não deveria ser consumido pelos humanos. Embora o organismo passe inevitavelmente a produzir menos enzima lactase ao longo do tempo, isso não significa que todos nos tornaremos intolerantes à lactose. De acordo com a dra. Rejane Matar, só é considerado intolerante quem apresenta os sintomas. Se não há sinais, não há intolerância à lactose. “O problema é que as pessoas inventaram essa história de que todo mundo precisa tirar o glúten e os produtos lácteos da dieta para emagrecer, enquanto na verdade eles só devem ser retirados em casos especiais e realmente confirmados”. Entretanto, a dra. Rejane ressalta: “Pacientes com genótipo de lactasia persistente num dado momento poderão ter intolerância à lactose.”

Segundo estudos epidemiológicos, as populações que nos seus primórdios dependiam da pecuária muito mais que da agricultura (e eram grandes consumidores de leite e laticínios em geral) apresentam menor prevalência de intolerância à lactose em relação àquelas que dependeram mais da agricultura para sobreviver. “No geral, a prevalência da hipolactasia primária do adulto varia no mundo. Na Dinamarca, 4% da população é intolerante. No nordeste europeu (próximo ao Mar Norte) e na Grã-Bretanha esse número é de 5%, e na Suécia,de  7%”,** explica a dra. Patrícia Blumer. Ou seja, a intolerância não é uma condição soberana.

“E mesmo sendo intolerante, é preciso ter cautela. Quando o paciente tem problemas de intolerância, ele não precisa necessariamente parar de consumir laticínios. É possível que ele seja intolerante apenas a uma determinada quantidade. Por isso, sempre recomendamos fazer um teste e diminuir a porção ingerida. Se ele consumia 3 copos de leite e apresentava sintomas, pedimos que reduza para 2, para 1 e observe como seu corpo reage”, explica dra. Rejane. Se mesmo assim houver desconforto, aí sim, o ideal é a total retirada do leite da dieta. “Nesses casos, o mais indicado é suprir a necessidade de cálcio por meio de outros alimentos”, completa.

A restrição ao consumo de leite também se estende a pessoas com determinadas doenças, como Doença de Crohn, enfermidades inflamatórias, úlcera, gastrite (a bebida estimula a produção de suco gástrico, o que pode piorar o quadro), entre outros problemas já existentes que possam ser agravados com o consumo da bebida. “O leite integral, por exemplo, pode agravar sintomas de refluxo em pessoas que já têm esse problema. A gordura, de um modo geral, retarda o esvaziamento gástrico e propicia o surgimento dos sintomas.”, afirma dra. Rejane.

E dá para confiar na qualidade do leite?

Para quem não se lembra, em 2014 testemunhamos um caso grave de adulteração de leite descoberto pela Operação Leite Compen$ado: cerca de um milhão de litros de leite adulterado ou fora dos padrões sanitários foi comercializado pelas empresas de laticínios Pavlat e Hollmann no Rio Grande do Sul. Nas dependências da empresa foram encontrados soda cáustica, formol e água oxigenada. Em São Paulo e no Paraná, 300 mil litros da bebida, das marcas Parmalat* e Líder, também estavam batizados e chegaram às casas dos consumidores.

No entanto, a fiscalização acontece e é por causa dela que produtos adulterados são retirados do mercado e tomamos conhecimento do que está sendo comercializado. O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) tem um Programa de Combate a Fraude no Leite, que por meio de análises laboratoriais monitora os estabelecimentos que recebem e processam a bebida. Caso seja detectada alguma adulteração no produto, são aplicadas as sanções administrativas previstas na legislação, incluindo o Regime Especial de Fiscalização.

Enquanto vigora este Regime, a inspeção é intensificada e nenhum produto é liberado para comercialização até que os resultados de análises oficiais demonstrem que ele está dentro dos padrões. Só assim é liberado para consumo. Uma vez descoberta nova fraude, as empresas responsáveis ficam obrigadas a incluir análises específicas dentro do seu programa de controle de qualidade.

Nos últimos três anos, o Programa de Combate à Fraude no Leite realizou em média quatro mil análises de leite pronto para consumo (leite pasteurizado, UHT – longa vida, leite em pó) por ano. Desde o início da operação no RS, em 2013, o percentual de amostras adulteradas passou de 37% para 26%. No primeiro trimestre de 2015, o índice caiu ainda mais, alcançando 22%, e depois chegando a 10%, segundo o promotor Mauro Rockenback, que estava à frente das investigações.

Questionar a qualidade e a confiabilidade do produto é de extrema importância, deve ser uma atitude tomada sempre e sem pudor pelos consumidores, em qualquer âmbito. Acompanhar o trabalho das fiscalizações também é salutar, mas não se passa a ser um hábito cego e sem critério. “Seguir nessa linha de raciocínio é colocar em cheque a confiabilidade de toda a indústria nacional, não apenas a de laticínios ou alimentos”, explica a dra. Patrícia Blumer, que há nove anos é pesquisadora científica do TECNOLAT-ITAL (Centro de Tecnologia de Alimentos-Instituto de Tecnologia de Alimentos).

 * A empresa Lactalis do Brasil entrou em contato com a nossa Redação para informar que o ocorrido aconteceu na época em que a Parmalat era gerida por outra empresa. Em 2015, quando adquiriram a licença da marca, modificaram os processos de certificação do leite por um método mais rigoroso.

Referências bibliográficas utilizadas pela dra. Patrícia Blumer

* Foram consultados 2 artigos científicos (Simone Correa Leite; Indiomara Baratto; Rosangela Silva. CONSUMO DE CÁLCIO E RISCO DE OSTEOPOROSE EM UMA POPULAÇÃO DE IDOSOS. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.8. n.48. p.165-174. Nov./Dez. 2014. E Brito, A.C.; Pinho, L.G. Relação entre a ingestão de leite e a osteopenia e osteoporose em mulheres acima dos 50 anos. Revista do INTO. Vol. 1. Núm. 1. 2008) e o livro “Leite para Adultos: Mitos e Fatos frente à Ciência” da Varela Editora e Livraria Ltda, lançado em 2009 das autoras Antunes, A.E.C.; Pacheco, M.T.B.

**Foi consultado o artigo científico Rejane Mattar, Daniel Ferraz de Campos Mazo. intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 230-6 e o livro “Leite para Adultos: Mitos e Fatos frente à Ciência” da Varela Editora e Livraria Ltda, lançado em 2009 das autoras Antunes, A.E.C.; Pacheco, M.T.B.

Fonte: http://drauziovarella.com.br/alimentacao/por-que-ainda-indicamos-o-leite/

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O mito da perda de peso rápida

Ted Kyle, parceria ConscienHealth para a revista da Abeso: Evidências em Obesidade e Síndrome Metabólica (edição 80)

Um dos mais inexpugnáveis mitos na obesidade é que se a perda de peso é rápida, ela não dura (if it is fast, it won´t last). Nas palavras do CDC (Centro de Controle de Doenças) americano, “pessoas que perdem peso gradualmente e devagar (400-800 gramas por semana) são mais bem sucedidos em manter esse peso perdido”. O problema é que esse conselho do CDC é um auto de fé que não passou pelo escrutínio científico. Um novo estudo randomizado e controlado, publicado na Obesity, mostra que, quando se compara o mesmo peso perdido, a velocidade de perda de peso, rápida ou lenta, não tem qualquer efeito no risco de reganho posterior.

Esse achado não deveria ser surpresa. Três anos atrás o mito “fast can´t last” foi um dos sete mitos identificados por Casazza e colaboradores numa revisão sobre mitos, presunções e fatos sobre obesidade, publicados no New England Journal of Medicine.

Fonte: http://www.abeso.org.br/

Alzheimer: a doença de uma sociedade | Fabiano Moulin

Mitos sobre T3, será que existe espaço para a terapia combinada de T3 e T4?


Tratamento para Hipotireoidismo, existe espaço para a reposição de T3?

A diminuição da produção de hormônio por parte da tireoide tem um tratamento simples, eficaz e barato: a reposição de T4 ou levotiroxina. No entanto, algumas pessoas (cerca de 10 por cento) ainda queixam sintomas mesmo quando a reposição parece estar adequada, com os níveis de TSH dentro da faixa terapêutica para o grupo etário do paciente. Esta observação levantou a hipótese que estas pessoas poderiam se beneficiar de outro tipo de abordagem, isto é, a reposição adicional de T3 ou liotironina. Alguns estudos já avaliaram este tratamento, vejamos os principais…

Uma extensa revisão da literatura selecionou 11 estudos com qualidade aceitável que comparavam reposição de T4 isolada a reposição de T4 + T3. Mais de 1200 pacientes foram avaliados quanto a dores no corpo, sintomas de depressão ou ansiedade, fadiga, qualidade de vida, peso, colesterol, triglicerídeos e efeitos adversos. Não houve diferença alguma entre os grupos, isto é, quanto a eficácia para alívio de sintomas, os tratamentos foram iguais.

Um estudo menor, com 141 pacientes, que também comparou a reposição de T4 isolada à reposição de T4 + T3, mostrou resultados parecidos com relação ao alívio de sintomas. No entanto, ao final do estudo, mais pacientes preferiram a terapia combinada. Uma análise detalhada dos dados mostrou que 44 por cento dos pacientes que preferiram a terapia combinada ficaram discretamente hipertireoideos e consequentemente perderam em média 1,8 quilos de peso. Isto é, o desenvolvimento de hipertireoidismo decorrente do tratamento combinado, levou a perda de peso e esta percepção de “emagrecimento” fez os pacientes preferirem o tratamento combinado de T4 + T3. Aqui cabe a ressalva que a perda de peso foi consequência de tratamento excessivo, o que pode ser prejudicial a saúde em longo prazo.

Além disso, as preparações de T3 comercialmente disponíveis são de absorção rápida, isto é, após ingeridas, atingem com facilidade a corrente sanguínea. Devido a isto, existe muita flutuação nos níveis séricos de T3, o que pode tornar difícil o ajuste de dose. Alguns pacientes podem em virtude disso apresentar queda nos níveis de T4 e elevação do TSH, ou seja, tendência a piorar o hipotireoidismo.

Por fim, apesar do uso de T3 combinado ao T4 não ser útil para o tratamento da maioria dos pacientes com hipotireoidismo, talvez algumas pessoas possam se beneficiar desta terapia. Alguns pacientes com polimorfismos no gene da deionidase tipo 2 têm dificuldade na conversão do T4 em T3 no organismo. A reposição combinada de T4 + T3 nestes indivíduos foi favorável no alívio de sintomas. No entanto, os dados ainda são preliminares e precisam ser replicados para que se formalize esta indicação. Além disso, os testes genéticos para pesquisa dos polimorfismos da deionidase tipo 2 são poucos disponíveis fora do contexto de pesquisa e o simples exame clínico e laboratorial convencional não conseguem identificar corretamente os portadores da mutação.

Fontes:

1- Grozinsky-Glasberg S, Fraser A, Nahshoni E, Weizman A, Leibovici L. Thyroxine-triiodothyronine combination therapy versus thyroxine monotherapy for clinical hypothyroidism: meta-analysis of randomized controlled trials. J Clin Endocrinol Metab. 2006;91(7):2592.

2- Appelhof BC, Fliers E, Wekking EM, Schene AH, Huyser J, Tijssen JG, Endert E, van Weert HC, Wiersinga WM. Combined therapy with levothyroxine and liothyronine in two ratios, compared with levothyroxine monotherapy in primary hypothyroidism: a double-blind, randomized, controlled clinical trial. J Clin Endocrinol Metab. 2005;90(5):2666.

3- Panicker V, Saravanan P, Vaidya B, Evans J, Hattersley AT, Frayling TM, Dayan CM. Common variation in the DIO2 gene predicts baseline psychological well-being and response to combination thyroxine plus triiodothyronine therapy in hypothyroid patients. J Clin Endocrinol Metab. 2009;94(5):1623.

Autor: Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576
www.facebook.com/drmateusendocrino


Fonte: http://www.drmateusendocrino.com.br/2016/02/28/tratamento-do-hipotireoidismo-existe-espaco-para-reposicao-de-t3/

Aproveitando bactérias do intestino para a saúde humana



São mais de 130 bactérias do intestino catalogadas, de acordo com um estudo publicado na revista Nature por cientistas do Wellcome Trust Sanger Institute UK. A intenção é aprofundar os conhecimentos sobre como elas podem ser benéficas para a saúde humana. Sabe-se que desequilíbrios na microbiota intestinal (conjunto de bactérias que “habita” nosso intestino) pode contribuir para condições complexas e para o desenvolvimento de doenças, tais como obesidade, doença inflamatória do intestino, síndrome do intestino irritável e alergias.

Os pesquisadores desenvolveram um processo para cultivar a maioria das bactérias do intestino, o que permitirá aos cientistas compreender como o nosso "microbioma 'bacteriano nos ajuda a nos mantermos saudáveis. Esta pesquisa permitiria aos cientistas começar a criar tratamentos sob medida, com bactérias benéficas específicas.

A pesquisa nesta área tem se expandido muito nos últimos anos. O microbioma intestinal vem sendo chamado de um "órgão esquecido", tal sua importância para a saúde humana. Muitas destas bactérias são sensíveis ao oxigênio e são de cultura difícil em laboratório, de modo que até agora tem sido extremamente difícil isolá-las e estudá-las.

Antibióticos são capazes de acabar com as nossas bactérias intestinais - matando ambos os alvos de agentes patogênicos e as bactérias benéficas também. Há, então, a possibilidade de bactérias menos desejáveis, tais como aquelas com resistência a antibióticos, repovoar o intestino mais rapidamente do que as bactérias benéficas, levando a outros problemas de saúde, tais como a infecção por Clostridium difficile.

O tratamento atual para a infecção pelo C. difficile pode envolver transplante de fezes de pessoas saudáveis para repovoar o intestino. No entanto, este tratamento está longe de ser ideal. Usando a biblioteca de novas bactérias, o Dr. Trevor Lawley, responsável pelo estudo, e sua equipe esperam criar uma pílula, que contenha um mix racionalmente selecionado de bactérias que poderiam ser tomadas pelos pacientes e substituir transplantes fecais.

Pela primeira vez, os pesquisadores também analisaram a proporção de bactérias que formam esporos dentro do intestino. Os esporos são uma forma de hibernação bacteriana, permitindo que algumas bactérias permaneçam dormentes por longos períodos de tempo. Eles descobriram que aproximadamente um terço da flora intestinal de uma pessoa produz esporos saudáveis que permitem que às bactérias sobreviver ao ar livre e, potencialmente, "mover-se" entre as pessoas. Isto proporciona um meio de transmissão da microbiota que não foi considerado antes e poderia implicar que a saúde afetada por certas doenças poderia ficar no passado, não apenas por meio da genética humana, mas também por meio da microbiota.

Publicação de referência:

Hilary P. Browne, Samuel C. Forster, Blessing O. Anonye, Nitin Kumar, B. Anne Neville, Mark D. Stares, David Goulding, Trevor D. Lawley. Culturing of ‘unculturable’ human microbiota reveals novel taxa and extensive sporulation. Nature, 2016; DOI: 10.1038/nature17645

Fontehttps://www.facebook.com/evidenciasemobesidade/photos/a.127569930742464.28696.127271097439014/604312953068157/?type=3&theater

Cinco fatos que você precisa saber sobre a cirurgia bariátrica no SUS

Qual é o primeiro passo para quem deseja fazer a cirurgia bariátrica no Sistema Único de Saúde (SUS)?

A cirurgia bariátrica deve ser considerada o último recurso para quem luta contra a obesidade. A intervenção cirúrgica é parte do tratamento integral da doença, mas que prioritariamente aborda a promoção da saúde e no cuidado clínico.

Para ser um paciente com indicação para a cirurgia, ele não deve ter respondido ao tratamento clínico. Ou seja, recebeu orientação e apoio para mudança de hábitos, realizou dieta, teve atenção psicológica, realizou atividade física e, em alguns casos, fez uso de medicamentos por, no mínimo, dois anos.

Esgotadas as possibilidades de tratamento clínico (medidas comportamentais e medicamentos), o paciente poderá ser avaliado para fazer a cirurgia bariátrica.

Confirmada a indicação da cirurgia, ele irá para o preparo pré-operatório, que inclui acompanhamento psicológico, nutricional e avaliação médica com especialistas, de acordo com a necessidade e avaliação da equipe multidisciplinar.

Dados do Ministério da Saúde mostram que houve um aumento no número de cirurgias bariátricas realizadas pelo SUS entre 2010 e 2015 - o aumento foi de 4.489 para 7.530 procedimentos.

Há alguma restrição de idade?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu a classificação do excesso de peso e da obesidade baseada no índice de massa corporal (lMC) para adultos de ambos os sexos. O lMC é obtido por meio da divisão do peso (quilogramas) pelo quadrado da altura (metros).

Pessoas com lMC de 25 a 29,9 kg/m² foram classificados como acima do peso ideal ou sobrepeso, já que o ponto de corte para a definição de obesidade é lMC≥ 30 kg/m². Quando este índice é igual ou superior a 40 kg/m², a obesidade é denominada mórbida ou grave, o que corresponde aproximadamente a 45 kg acima do peso ideal. O termo super obeso é usado para designar os pacientes com lMC≥ 50 kg/m².

Podem realizar o tratamento cirúrgico, segundo protocolo do Ministério da Saúde:

a. Pessoas que apresentem IMC ≥50 Kg/m2;

b. Pessoas que apresentem IMC ≥40 Kg/m², com ou sem doenças associadas, sem sucesso no tratamento clínico por no mínimo dois anos.

c. Indivíduos com IMC > 35 kg/m2 e com problemas de saúde como alto risco cardiovascular, Diabetes Mellitus e/ou Hipertensão Arterial Sistêmica de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas sem sucesso no tratamento clínico.

d. Nos jovens entre 16 e 18 anos, a cirurgia poderá ser indicada após avaliação de dois profissionais para que seja analisada a fase de crescimento.

A cirurgia bariátrica está disponível em todos os estados?

Atualmente, o SUS conta com 75 hospitais habilitados para atendimentodas pessoas com obesidade, em 21 estados: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.

O paciente que precisar da cirurgia onde não há oferta do tratamento poderá receber um encaminhamento para outro estado, através da Central Nacional, que irá encaminhá-lo para o hospital habilitado.

(Buscar contato, telefone) – importante colocar esse telefone, se houver

Por que é importante envolver outros profissionais de saúde no processo que antecede a cirurgia (psicólogo, nutricionista e fisioterapeuta)?

A obesidade é uma doença que envolve vários fatores e, por isso, seu tratamento necessita de uma equipe multiprofissional. É importante lembrar que a participação de uma equipe multiprofissional integrada é fundamental para compreender o indivíduo em sua totalidade. As orientações nutricionais são essenciais, uma parte essencial do tratamento, pois direcionam as escolhas alimentares do paciente. O tratamento psicológico é fundamental para cuidar do paciente por dentro e por fora. A atividade física é considerada parte integral da perda e manutenção do peso.

Fazem parte da equipe:

a) Médico especialista em cirurgia geral ou cirurgia do aparelho digestivo;

b) Nutricionista;

c) Psicólogo ou Psiquiatra;

d) Clínico geral ou endocrinologista.

No suporte dessa equipe ainda poderão contribuir, parte da equipe do hospital, os seguintes profissionais:

a) Clínico geral, cardiologista, pneumologista, endocrinologista, angiologista/cirurgião vascular e cirurgião plástico;

b) Anestesiologista;

c) Equipe de Enfermagem;

d) Assistente Social,

e) Fisioterapeuta.

Há alguma contraindicação à cirurgia?

Alguns pacientes, mesmo estando dentro dos critérios mencionados, podem apresentar situações específicas que devem ser avaliadas - o que pode ser motivo de contraindicação ao tratamento. Seguem algumas restrições:

1. Adolescentes: só podem ser operados pacientes com mais de 16 anos. Mesmo assim, pacientes que tenham entre 16 e 18 anos necessitam de avaliação clínica e psicológica especial, consentimento da família e aprovação de comissão de ética do hospital aonde será feita a cirurgia.

2. Idosos com mais de 65 anos: esses pacientes necessitam avaliação pré-operatória especial, de preferência com médico geriatra, para avaliação dos benefícios da cirurgia.

3. Pacientes com antecedentes de doença psiquiátrica, alcoolismo ou uso de drogas: esses pacientes necessitam de avaliação psiquiátrica detalhada para se estabelecer o controle ou não de doenças psiquiátricas pré-existentes e do vício.

4. Pacientes com cirurgias abdominais prévias: pode dificultar a realização da cirurgia e deve ser avaliado pelo cirurgião.

5. Portadores de doenças crônicas (anemia, insuficiência renal, doenças do fígado, doenças endócrinas entre outras): embora não se constituam em contraindicações absolutas, podem aumentar o risco cirúrgico ou interferir na escolha da técnica que será empregada.

Vale destacar: Em situações consideradas extremas, a exigência de dois anos de tentativa de tratamento clínico para indicação cirúrgica pode ser extinta. É o caso dos pacientes super obesos, ou seja, que têm IMC superior a 50 Kg/m².

No entanto, esta situação não exime o paciente de passar por todas as fases de avaliação pré-operatória, essenciais para a segurança e sucesso do tratamento e obrigatória para todos os pacientes, que incluem: avaliação clínica com endocrinologista e cardiologista, avaliação nutricional, avaliação psiquiátrica ou psicológica.

Fonte: http://www.blog.saude.gov.br/entenda-o-sus/50927-cinco-fatos-que-voce-precisa-saber-sobre-a-cirurgia-bariatrica-no-sushtml.html

Remoção de agrotóxicos: Iodo NÃO remove agrotóxico dos alimentos

Na internet proliferam “receitas milagrosas” para quase tudo, inclusive para remoção de resíduo de agrotóxico em alimentos. A mais recente delas é o uso de soluções contendo a substância química iodo.

Além de não haver dados científicos originados de análise laboratorial que confirmem a eficácia desta prática, é importante saber que o iodo possui ação oxidante. Assim, pode oxidar não somente os resíduos de agrotóxicos como também vitaminas, flavonoides e outros compostos benéficos presentes na superfície dos alimentos, o que levará à diminuição de seu conteúdo nutricional.

O iodo em tintura alcoólica está registrado na Anvisa como medicamento, por sua ação bactericida, de modo que seu uso deve ter finalidade exclusivamente terapêutica.

Então lembre-se: caso opte pela aquisição de alimentos produzidos pela agricultura convencional, a recomendação mais segura e correta para diminuição do nível residual de agrotóxicos da superfície é lavá-los bem em água corrente, com auxílio de uma esponja ou escovinha destinadas somente para esta finalidade.

O emprego de pequena quantidade de detergente ou sabão neutro não é contraindicado e pode auxiliar no processo de remoção. Assegure-se apenas de enxaguar devidamente o alimento em água corrente para que não ocorra simplesmente a troca de moléculas de agrotóxicos pelas de detergente ou sabão.

Já a imersão prévia dos alimentos por 20 min em água com hipoclorito de sódio (água sanitária) pode (e deve) ser feita, porém sua finalidade é diminuir a contaminação por germes e micróbios, devido a sua ação biocida.

Fonte: http://www.blog.saude.gov.br/promocao-da-saude/50367-residuos-de-agrotoxicos-evite-iodo-para-remover.html

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sobre utilização dos testes de Função Tireoidiana na Prática Clínica.


Qual a indicação de solicitar o TSH, T4 Total, T4 livre, T3 livre e T3 reverso?

A dosagem do hormônio tireo-estimulante (TSH) é o teste mais confiável para diagnosticar as formas primárias de hipotireoidismo e hipertireodismo, principalmente em regime ambulatorial (1,2). Não há diferenças significativas ao utilizar ensaios de segunda ou terceira geração, mas deve-se evitar dosagem do TSH com ensaios de primeira geração, pois fornece menor certeza diagnóstica em relação aos dois outros métodos já descritos. Ensaios de terceira geração com sensibilidade < ou = 0,002 mUI/L devem ser utilizados para avaliação inicial da função tireoidiana (3,4).

A mensuração do TSH tem sido utilizada como triagem no diagnóstico de disfunção tireoidiana, especialmente na insuficiência tireoidiana mínima (hipotireoidismo subclínico). A dosagem de TSH está recomendada a cada cinco anos em indivíduos com idade igual ou superior a 35 anos. Em função do hipotireoidismo não detectado na gravidez poder afetar o esenvolvimento neuropsicomotor e a sobrevida do feto, além de ser acompanhado de hipertensão e toxemia, também tem sido recomendada a dosagem de rotina do TSH em mulheres grávidas, porém ainda não existe consenso sobre esta indicação em gestantes (1,5,6,7).

A triagem também é apropriada para pacientes com risco aumentado de disfunção tireoidiana, como: história prévia de disfunção tireoidiana, presença de bócio, história prévia de cirurgia tireoidiana, história prévia de radioterapia cervical, presença de outras doenças autoimunes (por exemplo, diabetes mellitus tipo 1, vitiligo, anemia perniciosa, insuficiencia adrenal primária etc), uso de medicações: lítio, citocinas, amiodarona, agentes contrastados, história familiar de doença tireoidiana ou outra doença autoimune, presença de alterações laboratorias que sugerem hipotireoidismo: hipercolesterolemia, hiponatremia, anemia, elevações de creatinofosfoquinase e lactato disedrogenase, hiperprolactinemia e presença de comorbidades como apneia do sono, depressão e demência (1,4).

Na faixa pediátrica, são também condições clínicas que podem refletir risco de disfunção tireoideana e merecem triagem: crianças e adolescentes com baixa estatura e/ou baixa

velocidade de crescimento, crianças com distúrbios da evolução puberal, crianças e adolescentes
com suspeita de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou queda no rendimento escolar sem causa reconhecida (8,9,10).

Em todas as situações, deve-se confirmar a elevação de TSH, repetindo sua dosagem, antes de iniciar a reposição com levotiroxina (1,11). Além disso, a concentração de TSH reflete adequadamente a reposição de T4 em pacientes com hipotireoidismo primário, sendo o melhor marcador para avaliação da dose de T4 e controle de tratamento (12).

O TSH e o T4L são utilizados de rotina na avaliação da função tireoidiana e no seguimento do tratamento do hiper e do hipotireoidismo. O T4L não é suscetível às alterações nas proteínas transportadoras de hormônio tireoidiano e possui uma variação intra-individual muito pequena. O T4 total (T4T) deve ser avaliado quando há discordância nos testes anteriormente citados (13,4).

O T3 tem baixa acurácia para o diagnóstico de hipotireoidismo, já que a conversão aumentada de T4 para T3 mantém concentração sérica de T3 nos limites normais até o hipotireoidismo se tornar grave (13,4).

A dosagem do T3, em conjunto com a interpretação do T4L, tem utilidade no diagnóstico e monitoramento do hipertireoidismo (2,14,15).

Os métodos que são usados de rotina para medir T3 e T4 livre são dependentes de proteínas ligadoras de HTs. Portanto, estes métodos não são totalmente confiáveis quando utilizados em pacientes portadores de doença não tireoidiana, de alterações nas proteínas transportadoras (alterações de afinidade a globulina ligadora de tiroxina - TBG ou proteínas transportadoras anormais) e de anticorpos anti-T3 e T4 (2,16).

Os níveis séricos de T3 reverso estão baixos nos pacientes com hipotireoidismo e elevados nos pacientes com hipertireoidismo. O T3 reverso pode estar elevado em pacientes eutireoidianos com outras doenças, é controverso se o T3 reverso pode ser utilizado para diferenciar o paciente com outra doença com ou sem hipotireoidismo (17).

A dosagem sérica de TgAb e TPOAb auxilia na demonstração da natureza autoimune da disfunção tireoidiana e deve ser associada a dosagens do TSH e T4L. A prevalência de TPOAb é maior que TgAb, sendo o TPOAb o teste mais sensível para detectar DAT (Doença autoimune da tireoide). A dosagem de TgAb e TPOAb pode ser feita: a) na suspeita de DAT, b) para pacientes de risco para disfunção tireoidiana; c) para pacientes em uso de interferon, lítio, amiodarona; d) para pacientes com histórico de infertilidade ou falência em terapias de fertilização assistida. A mensuração de TPOAb pode ser utilizada para avaliar risco de tireoidite pós-parto (ATPO elevado). O TgAb deve ser dosado em conjunto com a Tg, no seguimento de pacientes com câncer diferenciado de tireoide, já que a presença de TgAb no soro do paciente, pode determinar resultados falsamente baixos de Tg (falso-negativo). Não há indicação de monitorizar os níveis dos anticorpos antitireoidianos durante o curso do tratamento do hipotireoidismo (18,19,4).

A dosagem do TRAb apresenta boa especificidade para o diagnóstico da DG (doença de Graves), porém não é fundamental para o diagnóstico na maioria dos casos. Em alguns casos, pode auxiliar no diagnóstico diferencial do hipertireoidismo. A avaliação do TRAb inicial é útil como um marcador de gravidade da doença e pode, em combinação com outros indicadores clínicos, contribuir para a decisão de tratamento. Avaliar níveis de TRAb antes de interromper o tratamento com drogas antitireoidianas pode auxiliar a identificar quais pacientes podem iniciar a retirada da medicação, uma vez que níveis normais de TRAb é indicativo de uma maior chance de remissão. Recomenda-se dosar o TRAb em gestantes com DG ou historia pregressa de DG, no início e no terceiro trimestre de gestação (entre a 20ª e 24ª. semanas de gestação), para avaliar risco de hipertireoidismo fetal e tireotoxicose neonatal transitória (20,21,4).

Quais exames devem ser solicitados no em pacientes assintomáticos?

A mensuração do TSH tem sido utilizada como triagem no diagnóstico de disfunção tireoidiana, especialmente na insuficiência tireoidiana mínima (hipotireoidismo subclínico). A dosagem de TSH está recomendada a cada cinco anos em indivíduos com idade igual ou superior a 35 anos. Em função do hipotireoidismo não detectado na gravidez poder afetar o desenvolvimento neuropsicomotor e a sobrevida do feto (30), além de ser acompanhado de hipertensão e toxemia, também tem sido recomendada a dosagem de rotina do TSH em mulheres grávidas, porém ainda não existe consenso sobre esta indicação em gestantes (1,5, 22,4).

A dosagem o TSH é o melhor método para triagem de disfunções tireoidianas e para monitoramento dos pacientes em tratamento do hipotireoidismo, sendo bom indicador da dose de reposição de levotiroxina (1,2, 3 e 4).

 O T4L é utilizado de rotina na avaliação da função tireoidiana e no seguimento do tratamento do hiper e do hipotireoidismo (2,13,14) .

 Não existe indicação de uso rotineiro da medida do T3 sérico no diagnóstico e seguimento do paciente com hipotireoidismo (13,4).

 A dosagem do T3 sérico, interpretada em conjunto com T4L, é útil na avaliação de quadros
de hipertireoidismo (2,14,15).


Dr. Alexandre Hohl
Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
.
Dra.Gisah Carvalho
Presidente do Departamento de Tireoide da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

Referências Bibliográficas
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Fonte: http://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/posicionamento_tireoide_atualizado.pdf

quinta-feira, 14 de abril de 2016

No dia internacional do café: 5 questões sobre o café

No dia internacional do café: 5 questões sobre o café

 Descoberto em 575 d.C. na Etiópia, o café é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo devido ao seu aroma e sabor intenso.
 Esta bebida tem origem nos grãos da planta do café, Coffea Rubiaceae. Existem muitas espécies desta planta equatorial, contudo as mais exploradas comercialmente são C. arabica e C. canephora.
A espécie C. arabica origina o café arábica, uma variedade com sabor suave e
aromático. A sua produção mundial é de 70 % e é cultivado na América, Quénia e Índia. Já a espécie C. canephora dá origem à variedade de café robusta, um café típico do sudeste asiático e Brasil. Este representa 30 % do mercado mundial e possui um sabor mais amargo e com mais 50 % de cafeína do que o café
arábica. Além do seu uso na forma de infusão, o café é um ingrediente de outros produtos alimentares, como são exemplos os preparados solúveis de bebidas de cereais, alguns molhos, bolachas ou gelados.
Hoje em dia, o café é reconhecido pela sua ação na melhoria do desempenho e pelo efeito protetor na saúde dos indivíduos. Todavia, é importante que o seu consumo seja moderado e integrado num estilo de vida ativo.
A Associação Portuguesa dos Nutricionistas, a partir deste guia, apresenta a resposta a 5 questões sobre o café.

1 - Quais os benefícios do consumo de café?
 O consumo de café tem sido associado a um conjunto de potenciais benefícios para a saúde e bem-estar, dos quais se destaca, redução da sensação de fadiga, aumento dos níveis de alerta e atenção, melhoria do raciocínio e memória e, pode ainda, proteger contra doenças como cancro do cólon, diabetes tipo 2, cirrose hepática, carcinoma hepatocelular e depressão. O café também parece ajudar a manter as funções cognitivas no envelhecimento, reduzindo o risco de doença de Alzheimer e Parkinson. Estes benefícios são atribuídos à presença de cafeína e compostos antioxidantes no café, apesar de ser necessária mais pesquisa científica nesta área para compreender os mecanismos subjacentes a estes efeitos protetores do café.


2 - Qual é a quantidade de cafeína de um café?
 O teor em cafeína no café depende de vários fatores, como por exemplo, a variabilidade da planta do café, o método de preparação (p.e. instantâneo, expresso), a quantidade de café utilizado na
preparação e o grau de torra e moagem. O teor médio em cafeína do café expresso consumido em Portugal, é de 74,5 mg de cafeína por chávena de café expresso. No café cheio há maior quantidade de
cafeína do que no café curto. Em média, os valores de cafeína por tipo de expresso são os seguintes.

3 - O que é o cafeinismo?
 O cafeinismo refere-se à intoxicação devido ao uso excessivo e
prolongado de café ou outras substâncias com cafeína (p.e. colas, chá, chocolate). Doses de cafeína acima de 400 mg/dia representam um consumo elevado, o qual pode causar riscos para a saúde. Como tal, o consumo contínuo (geralmente, mais de 5 dias) de doses altas de cafeína podem levar à intoxicação ou cafeinismo. Alguns sintomas relacionados com o consumo elevado são, por exemplo, ansiedade, nervosismo, insónias, taquicardia e náuseas.
 A dose letal de cafeína, no adulto normal, parece ser acima de 10g, de acordo com a literatura científica. Todavia, a maioria dos casos de morte devido ao consumo abusivo de cafeína deve-se à introdução de
suplementos alimentares à base de substâncias estimulantes (p.e. cafeína, taurina) que podem interagir entre si ou à associação destas substâncias estimulantes com o álcool.

4 - Qual o melhor horário
para beber café?
 Os momentos mais adequados para beber café são após os picos de produção de cortisol, uma hormona relacionada com a regulação do ciclo circadiano e com a manutenção do estado de alerta. Na verdade, a interação entre a consumo de cafeína e a produção da hormona pode induzir tolerância à cafeína. Atendendo a isto, o horário mais indicado para o consumo de café (cafeína) é entre as [9h30-11h30] e [13h30-17h00].


5 - Qual a dose de cafeína aconselhável?
A European Food Safety Authority (EFSA), em 2015, refere que doses diárias até 400mg de cafeína por dia são seguras em adultos saudáveis, à exceção de mulheres grávidas. O valor total diário de 400mg inclui todas as fontes de cafeína (p.e. café, bebidas energéticas, refrigerantes, chocolate). Atendendo a esta recomendação e ao teor médio de cafeína presente no café em Portugal, bem como aos diferentes alimentos onde esta poderá estar presente, aconselha-se um consumo médio de 2 a 3 cafés por dia, em adultos saudáveis consumidores de café. No entanto, deve ser sempre respeitada a suscetibilidade individual à cafeína.
Relativamente às mulheres que pretendem engravidar, grávidas oumulheres que estejam a amamentar as recomendações apontam para um valor total de 200mg de cafeína por dia. Visto que, a cafeína é uma substância que atravessa a barreira placentária, podendo afetar o feto.

No que respeita à toma de cafeína e outros estimulantes em crianças e adolescentes, desencoraja-se o seu consumo, uma vez que ainda não se encontram muito claros quais serão os níveis aceitáveis. Além disso, é necessário os pais atentarem para a presença de substâncias estimulantes em outros alimentos, além do café e, os quais estão ao alcance deste público alvo. Exemplos destes alimentos são o chocolate, os refrigerantes, os gelados e o chá.

Bibliografia
1. AICC. O café - origem. Associação Industrial e Comercial do Café. Disponível em: http://aicc.pt/origem/ [Acesso em 04-04-
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Industrial e Comercial do Café. Disponível em: http://cafeesaude.com/wp-content/uploads/2012/01/Booklet-001.pdf [Acesso a
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9. FDA. FDA to investigate added caffeine. Food and Drug Aministration. 2013. Disponível em:
http://www.fda.gov/downloads/ForConsumers/ConsumerUpdates/UCM350740.pdf [Acesso em 04-04-2013]
10. FDA. Select Committee on GRAS substances (SCOGS) opinion: caffeine. Food and Drug Administration. 2015. Disponível em:
http://www.fda.gov/Food/IngredientsPackagingLabeling/GRAS/SCOGS/ucm256650.htm [Acesso em 05-04-2016].
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Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Lisboa 2007; 355

Fonte: http://www.apn.org.pt/documentos/guias/5_questoes_sobre_o_cafe_Final_1.pdf