terça-feira, 6 de outubro de 2015

Orientações nutrológicas para distúrbios labirínticos

Os hábitos alimentares inadequados e a indisciplina alimentar demonstram ser as principais causas do aumento dos problemas metabólicos. Os sinais e sintomas da disfunção labiríntica parecem estar entre as primeiras queixas dos pacientes com diabetes latente ou diminuição da tolerância à glicose. Observa-se que, uma parcela significativa dos indivíduos atendidos em nossa população ambulatorial, com queixas de sintomas relacionados ao equilíbrio e audição, são  portadores de distúrbios no metabolismo dos carboidratos.

Ao longo dos anos, vêm-se observando que o tratamento dietético pode reduzir de forma acentuada, os sintomas da disfunção labiríntica. Com base nesta observação, buscamos revisar a literatura de forma a avaliar a relação entre o manejo dietético e o controle da função labiríntica. De forma geral, a literatura concorda com a nossa observação de que o tratamento dietético pode diminuir os sintomas da disfunção labiríntica, proporcionando o alívio para o paciente e melhorando a sua qualidade de vida.

As queixas vestibulares e auditivas têm, freqüentemente, sido associadas ao metabolismo anormal dos carboidratos e dos lipídios. Estima-se que a ocorrência dos distúrbios do metabolismo dos carboidratos, esteja entre 42% a 80% dos pacientes portadores de zumbidos e tonturas e, se percebe a nítida necessidade de demonstrar o impacto destes distúrbios sobre o funcionamento da orelha interna, pois nos parece evidente a melhora dos sintomas com a instituição da dieta.

LABIRINTOPATIA METABÓLICA

Diversas condições metabólicas afetam intensamente o funcionamento do ouvido interno. Estas são capazes de determinar o aparecimento de alterações labirínticas que, na maioria dos casos, são decorrentes de distúrbios no metabolismo de carboidratos (SILVA, 2000).

A condição metabólica mais freqüentemente relacionada à disfunção da orelha interna refere-se aos distúrbios na secreção da insulina, com ou sem hipoglicemia reativa concomitante.

As estruturas labirínticas apresentam atividade metabólica intensa, sendo altamente sensíveis aos níveis de oxigênio, glicose e ATP (Adenosina Trifosfato). O labirinto é particularmente sensível a pequenas variações nos níveis plasmáticos de glicose e insulina.  Tanto a hipoglicemia quanto a presença de altos níveis de insulina interferem na atividade enzimática responsável pelo potencial endococlear (BITTAR, 2004).

Nas labirintopatias ou afecções vestibulococleares, os sintomas mais freqüentes, em pacientes com hiperinsulinemia, são a vertigem típica, associada a sintomas auditivos, como tinnitus, sensação de plenitude auricular, disacusia e cefaléia, limitando a qualidade de vida do indivíduo. É notável que os antecedentes pessoais e familiares dos portadores de labirintopatia metabólica revelam hábitos de alimentação inadequados, sedentarismo e tendência familiar para doenças como diabetes, hipertensão arterial e distúrbios hormonais (SILVA, 2000). De acordo com Ganança (1995), dois terços dos casos ocorrem em pessoas do sexo feminino, na faixa etária compreendida entre os 35 e 55 anos (80% dos casos), com tendência à obesidade , queixa de crises vertiginosas, já tendo sido submetidas a diversos especialistas, apresentando melhora parcial no início, porém sem resultado a longo prazo.

É evidente que, nos distúrbios metabólicos sistêmicos, o labirinto é atingido precocemente, sinalizando a necessidade de intervenção. Em relação à orientação terapêutica, o distúrbio deve ser diagnosticado e corrigido. Na maioria das vezes a correção requer orientação alimentar.

A HIPERINSULINEMIA COMO FATOR DESENCADEANTE DA LABIRINTOPATIA

Os carboidratos constituem a fonte mais importante de energia do organismo sendo que o principal carboidrato é a glicose (CINGOLANI, 2004). Os carboidratos são ingeridos com a dieta, principalmente na forma de polissacarídeos (amido) e dissacarídeos (sacarose e lactose). Após a sua digestão, os carboidratos passam para a circulação como monossacarídeos. Os monossacarídeos glicose, frutose e galactose são absorvidos, através da mucosa intestinal, e chegam até o fígado através da veia porta (CINGOLANI, 2004). O fígado libera glicose na corrente sangüínea, onde seu nível é mantido por ações dos hormônios. A elevação dos níveis séricos de glicose estimula insulina, que retira glicose da corrente sangüínea para as células (LIPPINCOTT, 2004).

Dentre os distúrbios do metabolismo do açúcar aceitos atualmente como responsáveis por alterações labirínticas, estão as disfunções metabólicas da glicose, incluindo diabetes, hipoglicemia reativa e hiperinsulinemia (BITTAR, 2004). A secreção de insulina, que é constante, pode ser modificada de acordo com estímulos específicos que podem aumentar ou diminuir sua taxa secretória (DOUGLAS, 2002). Além dos neurotransmissores e hormônios, os nutrientes constituem-se estímulo para a secreção insulínica. Os níveis aumentados de insulina resultam na redução da oferta de oxigênio para as células, o que induz prejuízo à função auditiva (BITTAR, 2003).

A  insulina e, secundariamente, a glicose, seriam fundamentais na produção energética e ao adequado funcionamento da bomba de sódio e potássio. Ao nível celular e bioquímico isto se explica pela composição dos líquidos labirínticos: a endolinfa, é rica em potássio e pobre em sódio. A perilinfa, ao contrário, é rica em sódio e pobre em potássio (FERREIRA JÚNIOR, 2000).  Como os líquidos são separados por uma membrana permeável,  existe uma tendência às trocas dos líquidos gerando hipernatremia na endolinfa, deslocando água para este compartimento, provocando  vertigem, zumbido, hipoacusia e plenitude auricular (FERREIRA JÚNIOR, 2000).

Com o adequado fornecimento de energia,  obtida pela oxidação da glicose,  o sódio retorna à perilinfa em troca de potássio, evitando as alterações clínicas citadas. Portanto,  para manter o equilíbrio da bomba de sódio e potássio é necessário um aporte adequado de glicose e oxigênio, pois é através dessas duas substâncias que haverá a liberação de energia essencial para o funcionamento adequado do ouvido interno.

Do contrário, o aporte insuficiente de energia, gerado pela hiperinsulinemia, provoca a inativação da bomba de sódio e potássio o que, segundo Silva (2000), resulta também em  queixas relativas à intolerância a sons, dificuldade de concentração, tendência à obesidade, irritabilidade, sonolência matinal e migrânea.

OS ALIMENTOS NO CONTROLE DA INSULINEMIA

Quando nos alimentamos, o processo de absorção dos nutrientes ocorre de forma  gradual e contínua, aproximadamente 20 minutos após o início da refeição (POIAN, 2005). Após uma refeição, podem ser observados níveis plasmáticos de glicose alcançando o dobro dos níveis basais. Daí a importância de que a secreção de insulina ocorra também de forma gradual, acompanhando as oscilações dos níveis plasmáticos de glicose (POIAN, 2005).

O estímulo à secreção de insulina se dá por diversos fatores e qualquer desequilíbrio na concentração fisiológica de glicose plasmática pode determinar alterações e danos em vários tecidos/órgãos (POIAN, 2005).

O aumento na incidência de diabetes evidencia uma inabilidade gradual do pâncreas na produção de elevadas concentrações de insulina ao longo da vida.

Segundo Fukuda (2003), o consumo de sacarose tem sido exagerado nas últimas décadas e nosso organismo não teve o tempo necessário para adaptar-se às elevadas quantias ingeridas. O resultado dessa inadequação é a hiperinsulinemia com conseqüente hipoglicemia reativa e sintomas como cefaléia, sonolência, tonturas, etc (BITTAR, 2004).

A absorção de alimentos contendo carboidratos depende de sua complexidade estrutural, seu teor de fibras e sua apresentação. Isto resulta em graus variáveis de absorção da glicose neles contidos (COSTA, 2004).   A intervenção nutricional nos distúrbios do metabolismo dos carboidratos, prevê o controle tanto do índice glicêmico dos alimentos utilizados na dieta quanto da carga glicêmica presente em cada refeição. O índice glicêmico de um alimento está relacionado ao impacto de sua composição na glicemia (alto, moderado ou baixo) após a sua ingestão. Já a carga glicêmica está relacionada ao impacto resultante do volume ingerido (alto, médio ou baixo). Um alimento que apresenta alto índice glicêmico, não necessariamente vai representar alta carga glicêmica na refeição, se a quantidade ingerida estiver sob controle. Na prática clínica, observa-se que, uma dieta com baixa carga glicêmica reduz os lipídios sangüíneos em indivíduos hipertrigliceridêmicos; reduz a secreção de insulina e melhora o controle global da glicemia em pacientes diabéticos insulino-dependentes e não insulino-dependentes.

O incremento de alimentos ricos em fibras solúveis e o adequado fracionamento das refeições, também buscam retardar a taxa de liberação de nutrientes no organismo, com repercussão positiva no controle dos distúrbios metabólicos. Quanto maior o teor de fibras do alimento e o retardo do esvaziamento do estômago, menor será a elevação da glicose no sangue após sua ingestão.  Por outro lado, de acordo com Costa, 2004,   a “pré-digestão” dos alimentos (amassar, triturar, esmagar, ralar e o excessivo cozimento) pode facilitar e aumentar a absorção da glicose. Neste caso, a alteração do índice glicêmico, é dependente dos outros alimentos ingeridos na mesma refeição e do modo de preparo dos mesmos.

Além do controle da quantidade, da qualidade, da freqüência e da combinação dos alimentos, é fundamental que sejam excluídos dos hábitos alimentares e de vida o consumo de álcool, da cafeína e o uso do tabaco, por conterem substâncias estimulantes da liberação da insulina.

Shils  (2003) afirma que diferentes indivíduos podem ter respostas glicêmicas vastamente diferentes a um alimento, dependendo do seu estado de tolerância à glicose, idade e peso.  Uma das mais eficazes opções terapêuticas parece ser a utilização de dietas nutricionais adequadas a cada caso, para que o tratamento seja dirigido à causa do distúrbio.

A PARTICIPAÇÃO DA DIETA NO CONTROLE DA LABIRINTOPATIA METABÓLICA

A dieta é a principal arma no combate aos sintomas causados por alterações do metabolismo da glicose ou da insulina. Está bem estabelecido que 90% dos pacientes submetidos a orientações dietéticas têm alívio ou cura dos sintomas (BITTAR, 1998 apud Mangabeira-Albernaz (1984).
Na prática clínica,  observa-se  que, durante o tratamento, os indivíduos com distúrbio labiríntico e alterações na curva insulinêmica, têm os sintomas reduzidos, em diferentes graus de intensidade. Entre três e seis meses de acompanhamento os mesmos desaparecem, quase em sua totalidade.

Nota-se, também,  que os sintomas mais freqüentes e mais beneficiados com o uso da dieta são a cefaléia, a tontura, a sonolência e a plenitude auricular. Após a avaliação dos indivíduos, conclui-se que a maioria dos casos está relacionada a vícios nutricionais comuns.

Acredita-se que a intervenção nutricional precoce, em indivíduos que apresentam  distúrbios da audição e do equilíbrio de origem metabólica, pode ser eficaz na redução ou mesmo no desaparecimento dos sintomas, contribuindo para o alívio do paciente e para uma melhor qualidade de vida.   Um controle metabólico adequado pode retardar o aparecimento ou a progressão de complicações crônicas.

REFERÊNCIAS

BITTAR, R. S. M.; BOTTINO, M. A.; VENOSA, A.  et al. 2004. Vestibular impairment secondary to glucose metabolic disorders: reality or myth? Revista Brasileira de Otorrinolaringologia,  v.70, n.6, nov/dez. São Paulo. 801-6.

BITTAR, R. S. M.; BOTTINO, M. A.; ZERATI, F.E. et al. 2003. Prevalência das alterações metabólicas em pacientes portadores de queixas vestibulares. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v.69, n.1 jan/fev. São Paulo.

BITTAR, R. S. M; SANCHEZ, T. G.; SANTORO, P.P  et al. 1998. O metabolismo da glicose e o ouvido interno. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia. V.2 Ed.1. São Paulo. 112-20.

CINGOLANI, G. C. 2004. Metabolismo dos carboidratos. In:  CINGOLANI, H. E.; HOUSSAY, A. B. Fisiologia humana de Houssay. 7. ed. Porto Alegre: Artmed. 508-16.

COSTA,  A. A; ALMEIDA NETO, J. S. 2004. Manual de diabetes: educação, alimentação, medicamentos, atividades físicas. 4. ed. São Paul Sarvier.

DOUGLAS, Carlos R.  2002. Tratado de fisiologia aplicada à nutrição. São Paul Robe Editorial.

LIPPINCOTT, W. & W. 2004. Nutriçã incrivelmente fácil. Rio de Janeir GUANABARA KOOGAN.

FERREIRA JÚNIOR, C. A.; GUIMARÃES, R. E. S.; BECKER, H. M. G et al. 2000. Avaliação metabólica do paciente com labirintopatia. Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia, São Paulo, v.4, n.1 jan/fev/mar.

FUKUDA, Y. 2003. Otorrinolaringologia. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar.  São Paul Manole.

GANANÇA, M. M.; FUKUDA, Y. 1995.  Labirintopatias vasculares e metabólicas. In: HUNGRIA H. Otorrinolaringologia. 7 ed.  393-401. Rio de Janeir GUANABARA KOOGAN. 393-401.

MANGABEIRA-ALBERNAZ, P. L. M. 1995. Doenças metabólicas da orelha interna. RBM. 2(1): São Paulo. 18-22.

POIAN,  A. T.; CARVALHO-ALVES P. C. 2005. Hormônios e metabolism integração e correlações clínicas. São Paul Atheneu.

SHILS, M. E et al. 2003.Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença.  9. ed. São Paul Manole.

SILVA, M. L. G et al. 2000. Labirintopatias de origem metabólica. In: SILVA M. L. G; MUNHOZ M. S. L; GANANÇA M. M; CAOVILLA, H. H. Quadros clínicos otoneurológicos mais comuns.  37-45. São Paul Atheneu.


Fonte: http://www.brasilclinicas.com.br/artigos/ler.aspx?artigoID=67

ORIENTAÇÕES NUTROLÓGICAS PARA LABIRINTOPATIAS

- Não permaneça mais de três horas sem se alimentar, sendo que deve-se evitar refeições apenas com carboidratos, portanto sempre acrescente algo que altere a carga glicêmica (gordura, proteína, fibras);
- Procure comer devagar e mastigar bem os alimentos;
- Coma frutas (com baixo índice glicêmico) e legumes e verduras pelo menos duas vezes ao dia;
- É recomendado a suspensão do consumo de álcool e cigarro;
- Beba no minimo 40ml/kg/dia de água:
- Faça atividades físicas e descubra a qual você se adapta mais, a prática de atividade física é crucial no tratamento, em especial musculação;
- Evite bebidas estimulantes como café, chá preto, chá verde e chocolates;
- Evite açúcares, trocando-o pelos adoçantes;
- Diminua o consumo de sal;
- Evite na medida do possível, de situações de estresse, aumentando o tempo de lazer;
- Substitua a fritura por alimentos assados;
- Consuma fontes de zinco, potássio, magnésio, complexo B e omega 3.

sábado, 3 de outubro de 2015

A contaminação das águas e a disseminação de doenças de proliferação hídrica

“Ainda coletamos ao redor de 50% do esgoto doméstico que produzimos nas cidades (no ambiente rural a situação é ainda mais grave) e tratamos menos de 30% disso antes de lançar aos rios esses dejetos”, comenta o virologista.


“As causas da contaminação da água no Brasil estão intrinsecamente ligadas a um processo de rápida e expressiva expansão dos centros urbanos, especialmente na segunda metade do século XX”, diz Fernando Spilki à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail.

Segundo o pesquisador, a expansão urbana foi feita sem planejamento e os corpos d’água foram “considerados meros receptores e canais de escoamento de resíduos domésticos e industriais. Era forte a ideia (e ainda é) da máxima de que a ‘diluição é a solução’, quanto maior ou mais caudaloso um corpo hídrico, mais contaminação se poderia jogar nele. O irônico é que justamente desses mananciais é que advém a maior parte da água destinada ao consumo nas grandes cidades”, pontua.

Na entrevista a seguir, Spilki comenta que além da falta de tratamento do esgoto, as águas contaminadas são um potencial para o desenvolvimento de uma série de vírus causadores de doenças. “Há uma gama de doenças de veiculação hídrica (especialmente diarreias e hepatites) e de doenças indiretamente relacionadas ao manejo da água (Dengue, Chikungunya, Zika, Febre Amarela) das quais ainda não nos livramos, ou pelo contrário, que recém chegaram e já com grande impacto em saúde pública. Temos que mirar sim o futuro, mas sem esquecer que temos uma situação no Brasil que mescla doenças de uma população desenvolvida e mais idosa com outras típicas dos países em desenvolvimento”.

Fernando Spilki é graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, com mestrado em Ciências Veterinárias pela UFRGS, na área de Virologia Animal, e doutorado em Genética e Biologia Molecular, área de Microbiologia, pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente leciona na Universidade Feevale.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Quais são as causas da contaminação das águas brasileiras? A água de todas as regiões brasileiras está contaminada?

Fernando Spilki – As causas da contaminação da água no Brasil estão intrinsecamente ligadas a um processo de rápida e expressiva expansão dos centros urbanos, especialmente na segunda metade do século XX. Essa expansão se deu de forma fragmentada, sem planejamento adequado. Justamente por isso, pela falta de planejamento, e por uma óptica que já podia ser considerada anacrônica mesmo para a época, os corpos d’água foram em muitos momentos considerados meros receptores e canais de escoamento de resíduos domésticos e industriais. Era forte a ideia (e ainda é) da máxima de que a “diluição é a solução”, quanto maior ou mais caudaloso um corpo hídrico, mais contaminação se poderia jogar nele. O irônico é que justamente desses mananciais é que advém a maior parte da água destinada ao consumo nas grandes cidades.

Outros determinantes históricos importantes foram a concepção dos militares de que governo e desenvolvimento estavam ligados a grandes obras de distribuição de água potável, sem considerar a necessária expansão na outra via de coleta e tratamento de esgoto e o foco do crescimento baseado na indústria e na revolução verde, em muitos casos a qualquer custo do ponto de vista ambiental. De alguns destes males não estamos livres até hoje, mesmo passadas décadas do processo de redemocratização. Ainda coletamos ao redor de 50% do esgoto doméstico que produzimos nas cidades (no ambiente rural a situação é ainda mais grave) e tratamos menos de 30% disso antes de lançar aos rios esses dejetos. Ainda que esforços tenham sido feitos pelas indústrias, muito em virtude da evolução dos processos de fiscalização, em todo o Brasil ainda são notificados em grande número problemas relacionados ao descarte inadequado de efluentes industriais. E ainda há a questão dos dejetos de produção animal e agrícola, que não são de modo algum negligenciáveis.

Quanto à segunda questão, os dados da Agência Nacional de Águas – ANA e de inúmeros pesquisadores mostram que lamentavelmente em todas as regiões pode-se sim observar problemas quanto à qualidade da água. Alguns problemas como a eutrofização (crescimento de algas que afeta a viabilidade dos corpos hídricos em sustentar a vida), a contaminação por diferentes microrganismos e poluentes químicos podem ser notadas em diversas regiões, praticamente onde quer que se busque.

IHU On-Line – O que a análise microbiológica da Baía de Guanabara revela sobre a qualidade da água da Baía?

Fernando Spilki – Essa análise que conduzimos junto à agência de notícias Associated Press não revela algo desconhecido, os problemas de qualidade da água no contexto da Baía da Guanabara são descritos de longa data, mas infelizmente parece que sempre temos de avisar sobre questões que vão sendo deixadas de lado. A própria presença de vírus causadores de doenças de veiculação hídrica na Lagoa Rodrigo de Freitas e nas praias mais frequentadas tem antecedentes. A Fiocruz produziu, num passado recente, excelentes estudos sobre o mesmo tema. Aquela situação nada mais é que o resultado dessas questões de um processo de crescimento dos grandes centros urbanos não acoplados a um plano de desenvolvimento que contemplasse a questão do esgoto doméstico. São hoje em torno de 13 milhões de pessoas que vivem naquele entorno, com um sistema de tratamento de esgoto muito aquém do ideal.

Não é uma questão exclusiva do Rio de Janeiro, está em todo o Brasil, mas é emblemático, pois trata-se de um cartão postal maravilhoso do país, com um povo alegre e hospitaleiro como poucos, daí o impacto que teve esse estudo, claro que associado à questão olímpica.

O que esperamos é que toda essa polêmica gerada tenha reflexos para depois e além da Olimpíada: que se repense o manejo do esgoto doméstico naquele ambiente e que seja de fato beneficiada a população residente no Rio de Janeiro. E tomara que toda essa discussão sirva também de alerta no resto do Brasil. Outra questão relevante é de trazer à tona a questão de parâmetros e medidas mais adequados ao século XXI para monitoramento da segurança e qualidade da água.


“Esses patógenos de veiculação hídrica podem causar conjuntivites, hepatites, doenças respiratórias e mesmo doenças ainda mais graves”

IHU On-Line – Quais são as principais doenças associadas à água contaminada e como essa questão é vista em termos de saúde pública?

Fernando Spilki – Quando pensamos em doenças de veiculação hídrica, o foco está principalmente relacionado às gastroenterites (vômito e diarreia). Essas doenças são uma das principais causas de atendimento de crianças nos serviços de saúde dos países em desenvolvimento, são especialmente importantes nessa faixa etária, bem como em idosos e imunossuprimidos e, para piorar o quadro, muitas vezes os adultos saudáveis transmitem esses agentes aos corpos d’água pelos dejetos sem apresentar qualquer sintoma, o que permite a perpetuação desse ciclo onde o sistema de saneamento básico for ineficiente. Nesse âmbito, diferentes microrganismos estão envolvidos com diarreia, mas os vírus sem dúvida têm grande importância, em parte por que não são monitorados e os atuais indicadores de qualidade microbiológica da água (coliformes fecais) não são capazes de apontar sua presença. Um copo d’água livre de coliformes fecais pode conter vírus, ou mesmo outras bactérias e protozoários.

Além das gastroenterites, esses patógenos de veiculação hídrica podem causar conjuntivites, hepatites, doenças respiratórias e mesmo doenças ainda mais graves.

IHU On-Line – O que são os vírus entéricos e como se dá a proliferação e contaminação deles pela água?

Fernando Spilki – São vírus com uma característica estrutural peculiar (ausência de envelope lipídico) que os torna muito resistentes no ambiente, desse modo evoluíram para essa via de transmissão fecal-oral e por se multiplicarem nas células do trato digestivo, chamados entéricos.

Um indivíduo sadio ou doente pode excretar bilhões de partículas desses vírus em uma defecação. Sem o devido tratamento do esgoto, mesmo que uma parte desses vírus seja destruída no caminho até os corpos hídricos, sobraram milhões de partículas virais capazes de contaminar a água e causar infecções em outros indivíduos. Imagine isso replicado para milhões de pessoas em uma bacia hidrográfica.

IHU On-Line – Em que consiste sua pesquisa sobre a detecção de vírus da Hepatite E em amostras de água? Quais são as principais constatações da pesquisa até o momento?

Fernando Spilki – A hepatite E é causada por um desses vírus entéricos. É uma doença muito especial, pois expressa bem algo contemporâneo em saúde: a necessidade de entender o processo de saúde como algo único, não podemos mais dissociar em muitos casos a saúde humana, animal e ambiental. Esse vírus da hepatite E causa infecções assintomáticas em suínos, pode ser transmitido aos seres humanos pela água contaminada pelos dejetos desses animais ou mesmo alimentos de origem suína não devidamente cozidos. Em pessoas pode causar desde infecções subclínicas (sem nenhum sinal visível) até hepatites graves. É uma doença emergente em nível mundial. Na nossa Bacia dos Sinos ainda não detectamos o vírus na água, mas em outras regiões do Rio Grande do Sul, onde há maior presença de atividade suinícola, detectamos o vírus de forma muito frequente em amostras de dejetos suínos e de efluentes de suinocultura.

IHU On-Line – Uma das suas pesquisas investigou quais doenças foram possivelmente transmitidas pela água na região da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. Quais são as conclusões da pesquisa? Que doenças estão associadas à contaminação da água do Rio dos Sinos?

Fernando Spilki – Fizemos um enorme esforço de pesquisa em conjunto com a CORSAN, onde monitoramos durante 24 meses para vírus e centenas de outros parâmetros a água captada pela companhia no Sinos e afluentes para tratamento. Ao mesmo tempo acompanhamos os atendimentos notificados pelos órgãos de saúde para doenças de veiculação hídrica na nossa região. Pudemos observar que há um forte impacto da falta de tratamento adequado do esgoto na qualidade da água nessa bacia hidrográfica e que as doenças de veiculação hídrica sofrem variação ao longo do tempo conforme o ciclo hidrológico (mais ou menos chuva por exemplo), o que já foi observado em outros locais.

IHU On-Line – Quais são as principais dificuldades ou problemas dos sistemas de tratamento biológico de esgoto doméstico e água para consumo no sentido de tratar a água e torná-la potável e livre de vírus, por exemplo?

Fernando Spilki – Em primeiro lugar, antes de discutirmos a eficiência dos processos, devemos elevar de forma expressiva os índices de tratamento de esgoto instalados. Tomemos em conta que na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos ainda convivemos com uma taxa de tratamento de esgoto doméstico ínfima, da ordem de 4,5% de tudo que é produzido. Em um segundo momento, deveremos sim lidar com a adoção de tecnologias que levem a uma efetiva degradação de microrganismos mais resistentes, tais como vírus e protozoários, pois as estações de tratamento de água e esgoto convencionais usualmente não dão conta desta tarefa. Todo o sistema atual está baseado na resistência dos coliformes fecais aos processos de desinfecção, que infelizmente é muito mais baixa que a desses patógenos emergentes. Desse modo, o que é eficaz para os coliformes pode ser inócuo para esses outros agentes. Daí a necessidade de desenvolvermos novas soluções para degradação e remoção desses agentes em esgoto e água, sem perder a noção de que há a necessidade de essas novas tecnologias terem um custo baixo e serem de adoção fácil.


“Na bacia hidrográfica do Rio dos Sinos ainda convivemos com uma taxa de tratamento de esgoto doméstico ínfima, da ordem de 4,5% de tudo que é produzido”

IHU On-Line – Por outro lado, quais são as dificuldades do sistema de saúde brasileiro no que se refere ao tratamento de doenças causadas pela água contaminada?

Fernando Spilki – Isso é de fato preocupante. Há todo um sistema de trabalho baseado na ideia de uma nova configuração da população, de seu envelhecimento e do aumento da frequência de doenças crônicas e um maior preparo dos sistemas de ensino, pesquisa e mesmo de atendimento para lidar com essas situações. Isso está sem dúvida correto, mas não podemos esquecer que não vencemos no Brasil a etapa de controlar e tratar as doenças transmissíveis. Há uma gama de doenças de veiculação hídrica (especialmente diarreias e hepatites) e de doenças indiretamente relacionadas ao manejo da água (Dengue, Chikungunya, Zika, Febre Amarela) das quais ainda não nos livramos, ou pelo contrário, que recém chegaram e já com grande impacto em saúde pública. Temos que mirar sim o futuro, mas sem esquecer que temos uma situação no Brasil que mescla doenças de uma população desenvolvida e mais idosa com outras típicas dos países em desenvolvimento.

IHU On-Line – Os padrões estipulados para a qualidade da água, pela resolução CONAMA 274 de 29 de novembro de 2000, são adequados ou precisariam ser revistos?

Fernando Spilki – Esta e outras portarias e regulamentações, incluindo a Portaria MS Nº 2914 de 2011, que versa sobre a água potável, ainda foram formuladas sob uma óptica de restrições técnicas e orçamentárias para a adoção de marcadores mais fidedignos de segurança para a saúde dos consumidores e do ambiente. Essas normativas estão mais adequadas às necessidades e capacidades instaladas de órgãos reguladores e das próprias concessionárias de produção de água e tratamento de esgoto. Não só no caso de vírus, mas também para outros microrganismos, poluentes orgânicos emergentes e outros parâmetros notavelmente importantes hoje, a adoção foi em muitos casos negligenciada, seja em virtude de custos, dificuldade na implantação de protocolos ou mesmo inabilidade ou morosidade dos sistemas de vigilância e produção em renovar suas abordagens.

Considero grande parte desse pensamento anacrônico; grande parte dessas metodologias especialmente de monitoramento teve custo muito reduzido nessa última década e há hoje muito mais pessoal treinado para execução dessas análises. Há sim que haver uma revisão constante desses parâmetros. Da parte da investigação científica, uma preocupação que devemos ter é buscar inovação no sentido de desenvolver protocolos mais simples, robustos e baratos, seja para monitoramento ou tratamento dessas novas ameaças presentes na água. Só assim lograremos um conjunto de parâmetros de qualidade da produção de água e tratamento de esgoto que esteja de fato focado nas pessoas e nos ecossistemas e não apenas nas limitações técnicas ou orçamentárias dos entes envolvidos.

Por Patricia Fachin para o portal Ecodebate

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2015/10/02/a-contaminacao-das-aguas-e-a-disseminacao-de-doencas-de-proliferacao-hidrica/

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Leite: Mitos

Está circulando no facebook e instagram, um vídeo do Dr. Paulo Gentil, ironizando os mitos do leite. https://www.facebook.com/drpaulogentil/videos/1054560121229855/
O vídeo mostra gato bebendo leite de outra espécie e um cachorro já adulto bebendo leite. Argumentos utilizados por alguns, com a finalidade de justificar o porquê do leite "não" ser um bom alimento.

Antes de repostar o post, quero deixar claro: Leite assim como inúmeros alimentos, é bom para alguns e prejudicial para outros. Se você tem intolerância à lactose,  MAS não tem intolerância ao leite de vaca, pode utilizar tranquilamente leite sem lactose, coalhada caseira, queijos gordos pois não terão quantidades significativas de lactose. SE você tem alergia à proteína do leite de vaca: Não use leite, nem derivados. Se você sente-se mal com leite mas não com os derivados, evite o leite mas consuma os derivados por conta do cálcio.

Fala-se muito que há outras fontes de cálcio. O que os estudos mostram é que o leite AINDA é a melhor fonte de cálcio que existe. E não me venham com esse papo fajuto de que é a indústria de laticínios que patrocina os estudos, pois são estudos independentes, de entidades sérias, pós-doutores que trabalham a favor da ciência e da verdade. Vegetais possuem cálcio? Sim. Mas um cálcio de baixa biodisponibilidade. A presença da lactose no leite, favorece a absorção do cálcio. A presença de fibras, fitatos e substâncias antinutricionais presente nos vegetais, dificultam a absorção do cálcio. Associa-se a isso a epidemia de deficiência de vitamina D. Portanto, os laticínios continuam sendo a melhor fonte de cálcio. A dosagem de cálcio (seja total ou ionizável) em nada auxilia para se conhecer o status do cálcio no osso. Apenas a densintometria óssea poderá auxiliar.

Abaixo o texto com as referências

Leite, por Dr. Paulo Gentil 

E assim, com um argumento falho e até certo ponto ridículo, começa a demonização do leite! Qualquer um que tenha criado gatos ou cachorros sabe que eles dificilmente dispensam leite, eles só não tomam mais porque não conseguem ordenhar!

A condenação do leite tem muito de terrorismo. Dados da World Allergy Organization revelam que apenas 0,25 a 4,9% da população do Planeta Terra seja alérgica ao leite. Por mais que a intolerância seja mais comum, a restrição deve ser feita com base em análises individuais ao invés de se criar um pânico generalizado!

Dizer que leite é veneno, ou mesmo que não faz bem algum, é disparate! Estudo desse ano do Journal of the American Geriatics Society revela que a ingestão de leite é associada com menor incidência de fragilidade em idosos. Antes disso, estudos publicados no American Journal of Clinical Nutrition associaram o consumo de laticínios com menor incidência de doenças cardiovasculares. Para galera da maromba, há artigos científicos mostrando efeitos positivos do consumo do leite em praticantes de musculação (e sem engrossar a pele).

E sem viajar com relação à pasteurização, pois isso é uma exigência para garantir a segurança do consumidor. Obviamente que corremos o risco de sermos vítimas da má fé dos que adulteram os produtos, mas isso não é culpa da vaca e sim da falta de caráter dos humanos! E falta de caráter é um problema, como no caso dos hormônios, que podem ter ótimas finalidades terapêuticas, mas estão sendo vendidos sob alegações falsas, induzindo consumidores a arriscarem sua saúde.

Laticínios são queridos por muito e fazem parte da rotina de muitos habitantes do Planeta Terra. Eles não fazem milagres, mas também não são venenos para todos! Chega de acreditar em discursos sensacionalistas. Se você seguir gurus de YouTube vai acabar ficando com medo de usar filtro solar, de tomar água mineral, comer glúten e até mesmo frutas... mas, olha que legal, vai se encher de hormônios e de Vitamina D, mesmo que não tenha deficiência! Tá sssserto!!

PS: não venham falar de lobby da indústria do leite, pois a indústria do terrorismo nutricional e do falso guruismo também é bem forte, e vem fazendo um belo trabalho criando medo para empurrar panaceias no povo!

(Paulo Gentil)

Oliveira Otto MC, Mozaffarian D, Kromhout D, Bertoni AG, Sibley CT, Jacobs DR Jr, Nettleton JA. Dietary intake of saturated fat by food source and incident cardiovascular disease: the Multi- thnic Study of Atherosclerosis. Am J Clin Nutr. 2012 Aug;96(2):397-404. doi: 10.3945/ajcn.112.037770. pub

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Fonte: https://www.facebook.com/drpaulogentil/videos/1054560121229855/

O perigo do óleo de Canola é real?

Mensagens que circulam pela web alertam para o perigo mortal do consumo do óleo de Canola! Mas será que esse alerta é verdadeiro ou falso?

O texto não é novo, mas sempre volta a circular através das redes sociais e em blogs e sites. De acordo com o alerta, a Canola seria um produto transgênico, pertencente à mesma família da mostarda e é a fonte por trás do gás mostarda!

A descoberta ainda afirma que o consumo contínuo desse óleo acabaria por corroer o revestimento de proteção no cérebro, causando inúmeras doenças e que os altos níveis de ácido erúcico presentes no produto seria altamente mortal.

Será que esse alerta é verdadeiro ou falso?



Como já dissemos ali em cima, o texto alarmista não é novo! Circula pela web desde, pelo menos, o ano de 2001 e sempre volta a aparecer por aí. No alerta, o autor tenta de todas as formas mostrar que o óleo de canola é um veneno e, no entanto, até hoje não há nenhuma comprovação de que tais afirmações tenham algum fundamento.

Tanto aqui no Brasil quanto em diversos outros países a venda de óleo de canola é liberdado pelos órgãos reguladores como a ANVISA (aqui no Brasil) e a FDA (nos EUA). Aliás, em 2006, o FDA aprovou a alegação dos benefícios que o óleo de canola para o organismo em relação aos óleos tradicionais de milho e de semente de girassol.

É claro que fritura em excesso faz mal pra saúde (como tudo em exagero, né?), mas o óleo de canola não é esse vilão que pintam sobre ele.

As primeiras variedades de canola foram feitas nos anos 1970, através de cruzamentos e melhoramento de sementes. E isso foi muito antes da engenharia genética e, diferente do que é alegado por aí, o óleo de canola não é trangênico no sentido “satânico” que muitos têm medo até hoje.

Variação “boa” da colza

O site Canola Concil Of Canadá explica que a canola é uma variação da colza (Brassica napus), criada para produzir mais sementes e apresentar menores quantidades de ácido erúcico.

Ela é da mesma família da mostarda, mas isso não tem nada a ver com o gás mostarda (que é um gás tóxico e sintético, que só possui esse nome por apresentar uma cor semelhante à mostarda, mas que não é feito de mostarda. Entendeu?). Se fosse verdade o que o autor afirma, a mostarda também seria venenosa!

O doutor Carl Albrecht, chefe de pesquisa da da Associação do Câncer da África do Sul (CANSA), explica que a colza original já era utilizada há muito tempo como óleo combustível, mas como ela apresentava grandes quantidades de ácido erúcico, foram feitos vários melhoramentos genéticos para se desenvolver uma variedade com um pouco menos de 2% desse ácido em relação ao total de ácidos graxos, para que o óleo pudesse ser utilizado para consumo humano sem problemas.

Em 1978, todos os colzas canadenses produzidos para uso alimentar já continham ácido erúcico inferior a 2% e, foi em 1990 que os Estados Unidos começaram a consumir o óleo de canola, mas o FDA só permitiu que o produto fosse introduzido no país desde que os níveis de ácido erúcico presentes no óleo não ultrapassassem 1,0%.

O doutor Albrecht também explica que o óleo de colza é utilizado na Europa há muitos anos para cozinhar, na margarina e como alimentos para pássaros e se ele fosse tão terrivelmente tóxico, as pessoas teriam parado de usar óleo de colza e sementes há tempos. Além disso, não há nenhuma evidência de que o óleo de canola ou óleo de colza interfira na visão ou o no sistema nervoso central, como os textos alarmistas espalham por aí.

A CANSA também ressalta que foram feitos vários estudos com humanos saudáveis, que ​​foram alimentados com 75 gramas de óleo de canola, durante 21 dias, não havendo nenhuma queixa dos voluntários sobre quaisquer efeitos negativos de qualquer natureza!

Jogada de marketing

Diferente do que o boato alardeia, o nome “canola” vem de “CANadian Oil Low Acid” por apresentar baixos níveis de ácido erúcico. E, conforme explicado pelo blog Alimentando a Discussão, em 2014, a mudança do nome para Canola foi feita como parte de uma jogada de marketing, pois o nome da semente em inglês (rapeseed) poderia remeter a algo ligado a um crime (pois rape significa “estupro”, em inglês) e isso não pegava bem.

Aqui no brasil, a Embrapa explica que:

“O óleo de canola é um dos mais saudáveis, pois possui elevada quantidade de Ômega-3 (reduz triglicerídios e controla arteriosclerose), vitamina E (antioxidante que reduz radicais livres), gorduras mono-insaturadas (reduzem LDL) e o menor teor de gordura saturada (controle do colesterol) de todos os óleos vegetais. Médicos e nutricionistas indicam o óleo de canola como o de melhor composição de ácidos graxos para as pessoas interessadas em dietas saudáveis.”
Nesse link há vários estudos a respeito do óleo de canola que ajudam a desmentir esse boato alarmista!

Apelo à autoridade

Em 2007, um aluno da Universidade Federal de Lavras – MG – publicou esse mesmo texto falso sobre o “perigo da canola” no portal da instituição, dando uma certa credibilidade ao assunto, mas o artigo foi retirado do ar e a universidade se pronunciou a respeito, explicando que o texto foi publicado sem o conhecimento da instituição!

Fonte: http://www.e-farsas.com/o-perigo-do-oleo-de-canola-e-real.html

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Melhorando a concentração com os alimentos



Alguns nutrientes têm papel importante no funcionamento do cérebro e que podem ajudar tanto pessoas com TDAH quanto aquelas sem o diagnóstico, mas que sofrem com problemas de concentração. Mas lembre-se: nem todos respondem a modificações na dieta, e nem todos os especialistas recomendam a medida. Um profissional deve avaliar as necessidades de cada um!

Proteínas: Trabalhos feitos pelo neurocientista Richard Wurtman, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), mostram que as proteínas são a principal matéria-prima dos neurotransmissores que nos deixam mais alertas e motivados, como a dopamina e a noradrenalina. Com base nisso, muitos especialistas defendem que uma refeição ou lanche que inclua ao menos um tipo de alimento proteico, como ovo, carne ou leite, pode ser útil antes de assistir a uma aula, palestra ou executar uma tarefa que exija atenção. A nutricionista funcional Denise, no entanto, alerta que muita gente pode reagir negativamente ao leite e seus derivados.

Ferro: Um pequeno estudo publicado em 2004 no Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine mostrou que 84% dos jovens com TDAH possuem níveis baixos de ferro no sangue, em comparação com 18% dos que não possuem o diagnóstico. O trabalho também mostrou que os pacientes que receberam suplementação apresentaram melhora nos sintomas cognitivos. Alimentos como fígado, vitela, cordeiro, ovos, feijão, lentilha e ervilha são boas fontes de ferro.

Probióticos: Alguns especialistas, como o nutrólogo José Alves Lara Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), e a nutricionista Denise , defendem que o uso de probióticos pode beneficiar pacientes com TDAH. A explicação é que um desequilíbrio nas bactérias que protegem o intestino pode levar à proliferação de fungos e outras substâncias que, em excesso, são tóxicas para o sistema imunológico, além de provocar hipoglicemia e outros sintomas que interferem no humor e na atenção. "Não é à toa que o intestino hoje é chamado de segundo cérebro", fala Denise. Alterações na sua flora podem ser causadas pelo uso de antibióticos, laxantes e antiácidos, e pelo excesso de proteínas mal digeridas, carboidratos refinados ou longos períodos de estresse.

Zinco: Além de importante para o sistema imunológico, esse mineral também ajuda a melhorar a resposta à dopamina. Um pequeno estudo publicado em 2004 no periódico BMC Psychiatry mostrou que crianças que utilizaram metilfenidato (princípio ativo da Ritalina®, um dos remédios mais conhecidos para TDAH) em conjunto com suplementos de zinco apresentaram melhora mais acentuada nos sintomas em relação àquelas que só tomaram o medicamento. Alimentos como ostras, nozes, castanhas, carne bovina e frango são ricos em zinco. Vale lembrar que o consumo excessivo desse mineral leva à perda de cobre e pode fazer mal à saúde

Magnésio: O magnésio está envolvido em diversos processos metabólicos e também na formação de neurônios e neurotransmissores, o que torna esse mineral fundamental na comunicação entre as células do cérebro. O magnésio também está presente em carnes, oleaginosas, lentilha, aveia e arroz integral.

Carboidratos complexos: Carboidratos simples, como o açúcar e as farinhas refinadas, provocam picos de açúcar no sangue, exigindo uma produção maior de insulina. Isso inclui certas substâncias que encontramos nos rótulos dos alimentos industrializados, como xarope de milho, dextrose e maltodextrina. Assim que o alimento é consumido, pode haver uma sensação de bem-estar e euforia. Mas logo em seguida, o nível de glicose cai bruscamente, provocando mal-estar, desatenção e até confusão mental em pessoas mais sensíveis. "Embora açúcar e farinha branca não provoquem TDAH, podem aumentar a glicose no sangue e sabemos que níveis estáveis de açúcar trazem benefícios ao cérebro", diz o nutrólogo José Alves Lara Neto. O ideal, portanto, é dar preferência aos cereais integrais, que evitam os picos de glicose e promovem saciedade por mais tempo.


Vitaminas do complexo B: Praticamente todas as vitaminas do complexo B são importantes para o sistema nervoso e para a atividade dos neurônios. A falta de vitamina B6, por exemplo, pode causar fadiga e irritabilidade, assim como baixos níveis de vitamina B12 podem causar depressão e outros problemas. As principais fontes de B12 são produtos de origem animal, como carnes, peixes, ovos e laticínios. Já a vitamina B6 também é encontrada em cereais integrais e leguminosas.

Ômega-3: Alguns estudos indicam que crianças com TDAH apresentam baixos índices de ômega-3 e que esse tipo de gordura "boa" poderia atuar na redução de sintomas. "A ingestão de ômega-3 é importante na formação do cérebro e melhora a concentração", afirma o nutrólogo José Alves Lara Neto. Esse ácido graxo, encontrado em abundância em peixes gordurosos e de água fria como o salmão, tem sido indicado também para outros problemas, como triglicérides alto. Para o TDAH, contudo, ainda são necessárias mais pesquisas: "Alguns resultados foram positivos e outros, negativos: precisamos de mais estudos antes de pedir que todos comprem esses suplementos", avisa a professora Maria Conceição.

Fonte: http://revistavivasaude.uol.com.br/guia/dieta-para-ter-mais-concentracao/3627/#

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Alimentos que auxiliam na prevenção de alguns tipos de câncer









sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Fadiga adrenal NÃO existe, por Dr. Flávio Cadegiani (Endocrinologista e Metabologista, doutorando em Adrenal pela UNIFESP)

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O termo fadiga adrenal tem apresentado crescente utilização na mídia, entre leigos e principalmente no meio médico. Contudo, essa condição jamais foi oficialmente reconhecida e comprovada por qualquer sociedade de endocrinologia. Em pesquisa no “Google” no dia 04/07/2014, a expressão fadiga+adrenal apresentou 114.000 resultados e adrenal+fatigue apresentou 2.370.000, mostrando a relevância destas terminologias na internet, principal fonte de busca de informações mundial hoje em dia.
Hoje, somente no Brasil, existem mais profissionais de saúde que recebem formação com a existência da doença através de “cursos” e “palestras”. Pelo contrário, são em bem menor número a quantidade de medicos da área que escutam que a doença não foi comprovada. Por isso, o numerous de ppacientes expostos a profissionais que farão o suposto diagnostic e tratamento é maior do que o número de pessoas que não serão avaliadas para a existência desta enfermidade não comprovada. De acordo com a prática da maioria dos médicos que conduzem casos de “fadiga adrenal”, a pesquisa da suposta enfermidade ocorre a partir de um questionário com indagações sobre o bem-estar global, incluindo questões sobre fadiga, bem-estar, qualidade de sono, disposição e humor. Aqueles que forem enquadrados como “suspeitos” para “fadiga adrenal” serão diagnosticados com cortisol sérico basal ou ritmo de cortisol salivar, ambos incaracterísticos de acordo com a Endocrinologia. Aqueles que estiverem com os valores abaixo dos considerados como mínimos (valores que diferem completamente da prática endocrinológica usual) são diagnosticados como portadores de “fadiga adrenal” e logo recebem tratamento com corticoterapia em doses “fisiológicas”. Existem algumas variações desse fluxograma, porém em geral respeita-se esta sequência.
Entre os argumentos sustentados pelos médicos que sustentam a teoria da existência desta doença (esta não reconhecida pelas sociedades de endocrinologia) está o fato de o paciente apresentar uma vasta e prolongada clínica antes de apresentar qualquer sinal bioquímico ou hormonal de depleção adrenal, e que respondem muito bem do ponto de vista clínico com a reposição.
Contudo, existem contra-argumentos muito lógicos. Primeiro, o início de corticoterapia, mesmo em baixas doses, desencadeia uma sensação temporária de bem-estar e de disposição em grande parte dos pacientes, com aparente melhora dos sintomas. Segundo, é bem estabelecido que mesmo em doses “fisiológicas”, a utilização de corticoterapia aumenta diversos riscos, como cardiovascular e de osteoporose.
Após uma ampla revisão acerca do assunto, que fora realizado da forma mais imparcial possível, várias conclusões foram tomadas.
Primeiro, embora muito utilizado na mídia leiga e nos chamarizes da internet, o termo “fadiga adrenal”, como ele é citado, foi pouquíssimo publicado. Além disso, a qualidade metodológica associado aos trabalhdos que utilizam esta expressão são de baixa qualidade. Também, nenhum dos artigos discorre ou cita a etiologia da chamada “fadiga adrenal”. Ou seja, nenhum trabalho de qualidade até agora. Lembrem-se, trabalho científico não significa evidência.
Embora amplamente utilizado na prática médica em vários locais do mundo, o questionário do Dr. Wilsom para diagnóstico de “fadiga adrenal” não teve absolutamente nenhum estudo para validação ou utilização como escore de fadiga, ao menos indexado. Por outro lado, o questionário SF-36 Vitality Scale, um escore bem validado e com real grau de correspondência com o grau de fadiga, foi o método utilizado por boa parte dos trabalhos que visaram correlacionar fadiga e alterações do cortisol.
Sabendo-se que o eixo corticotrófico pode estar seriamente comprometido como consequência de alguma doença ou alteração, é recomendado que se avaliem, diagnósticos diferenciais, entre eles os principais para “fadiga adrenal” são: (1) síndrome da apneia obstrutiva do sono, (2) insuficiência adrenal, (3) trabalho excessivo, (4) diagnósticos mentais, (5) inversão e irregularidade de turno no trabalho, (6) deficiências hormonais de outros eixos, (7) hepatopatias, (8) cardiopatias, (9) nefropatias, (10) DPOC, (11) doenças auto-imunes. Normalmente, estas doenças ou outros problemas justificam praticamente a quase totalidade dos casos.
A maior parte dos trabalhos foi excluída devido a falta de qualidade da metodologia e de caráter unicamente descritivos, sem referências de qualidade Dada a heterogenia e diversidade da qualidade e dos tipos de dados e das respostas, poucos dados são analisáveis - o cortisol ao acordar e 30min após foi um dos dados mais reproduzidos. O grande número de trabalhos que correlacionou fadiga e cortisol ao levantar e ao ritmo de cortisol salivar se deve ao fato de que estudos prévios iniciais foram utilizando ambos dados como marcadores. Um estudo somente realizou uma tentativa de validação. Contudo, é importante ressaltar que a atenuação do cortisol ao levantar, ou seja, o não aumento ou o aumento inadequado em relação ao esperado tende a ser uma consequência, e não causa, da fadiga.
A insuficiência adrenal absoluta pode ser avaliada como cortisol basal abaixo de 3,5mg/dL, na ausência de medicamentos orais, tópicos, nasais, oftalmológicos ou de quaquer outra espécie. A insuficiência adrenal pode ser de origem primária, cuja deficiência é na própria glândula adrenal, ou secundária, quando a deficiência adrenal decorre da baixa produção de ACTH (que estimula a liberação de cortisol) pela glândula hipófise. Contudo, a forma mais adequada de se avaliar reserva adrenal é por testes funcionais, bem estabelecidos e praticados por endocrinologistas. Para tais avaliações, pode-se realizar teste de cortrosino, um ACTH sintético, seja na dose usual (250mcg), seja o teste de baixa dose (1mcg),que avalia diretamente reserva adrenal. A falha da resposta ao teste da cortrosina pode denotar insuficiência adrenal primária relativa ou insuficiência adrenal central (hipofisária ou hipotalâmica). Para o teste de avaliação da funcionalidade do eixo HHA por completo, a avaliação padrão-ouro é o teste de tolerância a insulina, cujo objetivo é provocar hipoglicemia e criar uma situação de estresse onde um indivíduo saudável irá liberar invariavelmente uma certa quantidade de cortisol. A não liberação adequada demonstra, em algum grau, um comprometimento do eixo HHA. Outro potencial teste é com lipossacarídeos, que são pirógenos, que induzem hipertermia (febre), outra situação de estresse. Contudo, este teste é pouco realizado na prática. Estes testes descritos são as formas que as sociedades de Endocrinologia reconhecem para avaliação do eixo HHA.
Importante ressaltar que, mesmo numericamente grande, a maior parte dos estudos é exclusivamente descritiva, ou que não buscaram referências, ou fizeram revisões de outros estudos, e todos estes trabalhos não acrescentam em termos de evidência ou qualidade de informação acerca da suposta “fadiga adrenal”. Com isso, exclui-se muito do que verdadeiramente
Embora não tenham utilizado critérios adotados pela Endocrinologia, grande parte dos trabalhos mostrou correlações claras e significativas entre pessoas com maior fadiga e alterações da homeostase e do ritmo de cortisol. Independente do grau de validação dos exames realizados, o encontro da associação, direta ou inversa entre determinado exame e alguma alteração clínica, chama atenção para que o mesmo seja melhor investigado. Contudo, por não se tratar dos testes clássicos e bem estabelecidos de reserva adrenal, é possível que as alterações nos exames encontrados sejam consequência, e não causa do quadro de fadiga, pois os mesmos exames não foram correlacionados com verdadeiros testes que mostram a real reserva adrenal. Cabe ressaltas que diferentes populações, como doentes de diversas patologias, poderiam eventualmente ser sub-grupos que particularmente teriam as alterações descritas.
Existe uma importante lacuna em termos de qualidade de informação no que tange a estudos de diminuição de resposta do eixo HHA para indivíduos saudáveis, fadigados (ou burnout) e que não se encaixam em nenhuma doença, e também para doenças.
Observa-se que foram criados “novos critérios” que foram fracamente validados, pois não houve correlação com o padrão-ouro vigente e nem com histopatológico ou atividade/liberação direta de cortisol. Nenhum dos autores dos artigos revisados tem formação em Endocrinologia, o que resultou em ausência de trabalhos que eventualmente utilizariam os critérios padrão-ouro da Endocrinologia. A falta de comunicação ou de co-autoridade com a Endocrinologia poderia imprimir uma melhroa considerável na qualidade dos estudos e no poder dos achados, pois em se tratando de utilizar os critérios aceitos pelas sociedades de endocrinologia para diagnósticos do eixo corticotrófico, pouquíssimo se encontra. O “n”para o “cortisol ao levantar” é, sob o ponto de vista de validação, muito aquém do mínimo requerido.
O cortisol ao levantar (30 minutos após) apresentou um grau de validação ainda não 100%. O mais importante aqui é lembrar novamente que o cortisol ao levantar mais baixo pode representar uma consequência, e não ser causa, do burnout. Ele não expressa a reserva adrenal e por isso não pode ser definidor como fator ou causador, somente como marcador, o que implica em que o uso de hidrocortisona não corrigirá o problema (embora possa causar melhroa temporária devido a ação do próprio fármaco)
O cortisol urinário de 24h é o método que permite “enxergar” a liberação continuada em um período de 24h, porque a sua concentração é diretamente proporcional e linear com o cortisol sérico, e poderia ser um critério no futuro.
Antes de se avaliar a existência do diagnóstico de “fadiga adrenal”, importante separar diferentes grupos populacionais. Pelos estudos até agora realizados
Uma revisão sistemática de 2011 (Danhof-Pont et al) identificou 31 estudos e 38 marcadores, entre eles cortisóis salivares e plasmáticos, além do SDHEA, e não encontrou alteração potencial para nenhum deles. Uma revisão sobre pessoas “com burnout do trabalho” de Doornen LJ, de 2011, encontrou resultados inconsistentes sobre o cortisol.
Todos os estudos que estudaram o “perfil” de cortisol “foram para um caminho distinto” do caminho da Endocrinologia.
Usar cortisol ou qualquer dado apresentado pela maioria dos estudos não denota necessariamente uma alteração do eixo HHA como etiologia para total ou parte dos sintomas Portanto, não se pode concluir, e nem sugerir, que o uso de corticoterapia vá corrigir o fator contribuinte. É importante ter muito cuidado em avaliar "resposta terapêutica" com cortisol, pois a melhora ocorrerá pela ação decorrente do próprio fármaco (corticite a curto prazo aumenta disposição), sem que isso signifique uma real resposta a doença. Em suma, as alterações descritas acerca do cortisol podem tanto ser uma das gêneses dos problemas, por falhar aos estímulos gerados, como pode ser consequência a falta de estímulos para a ativação do eixo corticotrófico. Um exemplo claro de alteração do eixo HHA com oconsequência, e não causa de problemas, é a depressão maior, que torna o ciclo circadiano aberrante, com diminuição da queda esperada ao longo do dia. Portanto, é importante que se conheça a relação entre o eixo liberador de cortisol e os sintomas ou doença estudados, para que não se atribuam problemas às aleterações que na realidade são consequências, com odescrito na depressão maior.
Em conclusão, teorias acerca do eixo HHA na gênese de fadiga sempre tiveram um grande espaço na literatura. Contudo, poucos trabalhos pesquisaram e contraram de fato dados que aumentassem a robustez destas informações. A relação causa-efeito muitas vezes pode ser um viés confundidor que gera conclusões precipitadas.
A "fadiga adrenal" não foi comprovada, é improvável que exista da forma como é descrita, e se existir, deve ser devidamente avaliada com o que a endocrinologia oferece de critérios diagnósticos para reserva adrenal, e não por critérios "inventados". Alguns grupos, como pacientes expostos a quimioterapia e os fadigados por "overtraining" podem apresentar alterações, porém mais trabalhos são necessários. É um momento importante para que os "divulgadores" desviem seus esforços para realização de estudos de qualidade para demonstrar as suas afirmações. Em momento algum digo que não existe, porém digo sim que é necessário estudar. Mais estudo, menos divulgação, por enquanto, é apalavra de ordem.
E enquanto isso, se alguém desconfiar de insuficiência adrenal relativa, favor realizar os testes que avaliam esta alteração.
Autor principal: Dr. Flávio A. Cadegiani (endocrinologista e metabolista de Brasilia - DF - CRM/DF 16.219 / CREMESP 160.400) - É DOUTORANDO em Adrenal pela UNIFESP, sendo orientado por uma das maiores autoridades do mundo no tema, o Dr. Cláudio Elias Kater.
Colaboradores do post:
Dr. Ricardo Martins Borges (Nutrólogo de Ribeirão Preto - SP, mestre em medicina pela FMRP - USP) @clinicaricardoborges,
Dra. Tatiana Abrão (endocrinologista e nutróloga de Sorocaba - SP) @tatianaabrao,
Dra. Elza Daniel de Mello (pediatra, gastropediatra, nutróloga em Porto Alegre - RS, mestre e doutora em Ciências médicas - Pediatra pela UFRGS),
Dr. Frederico Lobo (Clínico geral de Goiânia - GO) @drfredericolobo,
Dr. Daniella Costa (nutróloga de Uberlândia - MG) @dradaniellacosta,
Dr. Reinaldo Nunes (endocrinologista e nutrólogo de Campos - RJ, mestre em endocrinologia pela UFRJ) @drreinaldonunes,
Dr. Mateus Severo (endocrinologista de Santa Maria - RS, Mestre em Ciências Médicas - Endocrinologia pela UFRGS e doutorando em Ciências médicas - Endocrinologia pela UFRGS) @drmateusendocrino,
Dr. Pedro Paulo Prudente (médico do esporte de Gramado - RS) @drpedropauloprudente,
Dra. Patricia Salles (endocrinologista de São Paulo - SP, mestranda em endocrinologia pela FMUSP), @endoclinicdoctors,
Dra. Camila Bandeira (endocrinologista de Manaus - AM) @endoclinicdoctors,
Dr. Walter Nobrega (clínico Geral do Rio de Janeiro - RJ) @drwalternobrega,
Dra. Deborah Carneiro (pediatra de Goiânia - GO) @dehcarneirolima,
Dr. Yuri Galeno (endocrinologista de Natal - RN) @dryuri_insyde,
Dra. Flávia Tortul (endocrinologista de Campo Grande - MS) @flaviatortul

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POTELIAKHOFF, AT. Adrenocortical activity and some clinical findings in acute and chronic fatigue.J Psychosom Res. 1981;25(2):91-5.
KUDIELKA, BM; et al. Exhaustion is associated with reduced habituation of free cortisol responses to repeated acute psychosocial stress. Biol Psychol. 2006 May;72(2):147-53. Epub 2005 Oct 19.

TEXTO 2

Estresse e fadiga: cuidado para não receber o diagnóstico de uma doença falsa

Entre os sintomas mais comuns nos dias de hoje estão a fadiga e o estresse. Quando percebe-se que os níveis de energia estão baixos, as pessoas buscam por respostas e soluções. Algumas procuram por uma “bala mágica” e acreditam que o complexo vitamínico correto será capaz de restabelecer o vigor. Outras querem saber se existem medicamentos ou estimulantes para tratar o quadro. A verdade é que a avaliação de sintomas vagos pode ser um verdadeiro desafio. Muitos de nós temos vidas movimentadas, que por vezes não nos permitem praticar exercícios ou mesmo dormir de forma adequada. A alimentação também acaba prejudicada pela falta de tempo e pela conveniência. A fadiga e o estresse podem fazer parte da vida, mas também podem ser sintomas de doenças mais graves. É justamente o fato de serem sintomas inespecíficos que tornam sua avaliação e tratamento, algumas vezes, não tão fáceis.

Para alguns defensores de “práticas alternativas”, esses sintomas vagos e inespecíficos foram agrupados em uma “doença inventada”, a “fadiga adrenal”. Contudo, não há até o momento qualquer evidência de que a “fadiga adrenal” exista como patologia. A Endocrine Society, uma das mais respeitadas organizações médicas do mundo, posicionou-se sobre o assunto recentemente:

“A fadiga adrenal não é uma condição médica real. Não existem fatos científicos para suportar a teoria que estresse físico, mental ou emocional esgotem as glândulas adrenais e causem sintomas.”
  
Palavras inequívocas! Mas a medicina baseada em evidências é ainda mais categórica em refutar uma doença falsa…

As adrenais são um par de glândulas localizadas uma sobre cada rim e produzem diversos hormônios, entre eles os hormônios do estresse adrenalina, noradrenalina e cortisol. Será que estas glândulas podem cansar se estimuladas em excesso? Mesmo na ausência de qualquer fato científico, o naturopata James Wilson cunhou o termo “fadiga adrenal” em um livro publicado em 1998. 

Dê uma olhada no questionário de Wilson abaixo. Você apresenta algum destes sintomas?

1- Cansado sem razão aparente.
 2- Dificuldade em acordar de manhã.
 3- Necessidade de café, refrigerantes tipo cola, doces ou salgadinhos para ter energia.
 4- Sentindo-se para baixo ou estressado.
 5- Fissurado em doces ou salgadinhos.
 6- Lutando para manter as tarefas de rotina.
 7- Não consegue se desenvencilhar do estresse e da doença.
 8- Não se diverte.
 9- Não tem vontade em manter relações sexuais.

Segundo Wilson, se você convive com qualquer um desses sintomas, você tem “fadiga adrenal”, a “doença falsa” mais prevalente no mundo, já que dificilmente alguém já não apresentou algum desses sintomas.

Porém, este questionário jamais foi validado, não existem provas nem literatura pertinente que possam embasá-lo. Uma busca detalhada na base de estudos médicos Pubmed com os termos “adrenal” AND “fatigue” retorna apenas um resultado relevante, que é uma revisão que não cita as fontes revisadas!

Doenças falsas são agrupamentos de diferentes sintomas dentro de condições sem nenhum embasamento científico. É da natureza do ser humano querer entender os padrões das doenças para propor tratamentos. Porém, definir um simples grupo de sintomas é o primeiro erro nesse processo de compreensão. Isto porque os sintomas precisam ser organizados de uma maneira racional para fazerem sentido dentro de uma síndrome clínica. No caso da “fadiga adrenal”, não existe esta explicação racional da progressão e gravidade dos diferentes sintomas, apenas um agrupamento simples. O segundo grande erro é usar uma lista desorganizada de sintomas para identificar pacientes com a doença. O terceiro erro é usar testes laboratoriais em sangue ou saliva, com suas diversas complicações metodológicas, para diagnosticar uma patologia que não é ao menos descrita de forma apropriada. Por fim, o pior de todos os erros é propor tratamento, seja ele qual for, para algo pobremente definido. Como saber se algo tão “amorfo” está melhorando ou piorando com um tratamento? Como saber se o próprio tratamento não está fazendo mal?

Enquanto a “fadiga adrenal” não existe, os sintomas que muitas pessoas apresentam são sim reais. Estes mesmos sintomas podem ser causados por doenças verdadeiras como apneia do sono, hipotireoidismo, diabetes, depressão, anemia, insuficiência adrenal, neoplasias, entre outras. Ao aceitar o diagnóstico de uma “doença falsa” perde-se tempo em realizar o diagnóstico correto de algo que pode ser potencialmente grave. Por fim, pode ser frustrante apresentar sintomas e após uma avaliação médica pormenorizada não se identificar uma causa. Mas esta situação é melhor do que ter a distração de tratar uma condição fictícia.

Fonte: http://www.drmateusendocrino.com.br/2015/12/13/estresse-e-fadiga-cuidado-para-nao-receber-o-diagnostico-de-uma-doenca-falsa/



quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sobre a polêmica do óleo de coco


A Polêmica do Óleo de Coco
Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) sobre o uso do óleo de coco para perda de peso.
Considerando que muitos nutricionistas e médicos estão prescrevendo óleo de côco para pacientes que querem emagrecer, alegando sua eficácia para tal propósito;
Considerando que não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico de que o óleo de côco leve à perda de peso;
Considerando que o uso do óleo de côco pode ser deletério para os pacientes devido à sua elevada concentração de ácidos graxos saturados, como ácido láurico e mirístico;
A SBEM e a ABESO posicionam-se frontalmente contra a utilização terapêutica do óleo de coco com a finalidade de emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde.
A SBEM e a ABESO também não recomendam o uso regular de óleo de coco como óleo de cozinha, devido ao seu alto teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias. O uso de óleos vegetais com maior teor de gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação, é preferível para redução de risco cardiovascular.
Dr. Alexandre Hohl
Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Dra. Cintia Cercato
Presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica


sábado, 22 de agosto de 2015

Óleo de Coco X Óleo de Canola - Desvendando mitos



Essa semana, um tema que dividiu opiniões, quando uma nutricionista estudiosa na área de ácidos graxos, foi ao programa bem-estar e deixou claro que o óleo de coco além de caro, pode ser inflamatório. Que o ideal seria optar pelo óleo de canola. Abominável foi a opinião de algumas pessoas, que sequer conhecem o currículo da nutricionista e acusam-na de trabalhar para a indústria. Como se prestar consultoria para a indústria de alimentos fosse crime. É abominável quando leigos e até mesmo profissionais da saúde saem do campo da ciência e partem para ataques pessoais.

Sou o princípio da moderação e da individualidade bioquímica.
Se você é saudável, não apresenta alterações nos níveis de colesterol ou triglicérides, nem risco cardiovascular aumentado: o consumo moderado de óleo de coco associado ao consumo de outros fontes de gorduras (colesterol, gorduras polinsaturadas e monoinsaturadas) é recomendado.
Se você tem dislipidemia, deseja emagrecer ou tem risco cardiovascular aumentado: evite as gorduras saturadas e dê preferência para as monoinsaturadas, polinsaturadas e colesterol.

Não existe vilão e nem mocinho quando se trata de nutrição. Ninguém morre do dia pra noite porque comeu banha de porco e ninguém vive até os 120 anos só porque consome azeite diariamente.

Os estudos na área são preliminares e poucos mostram desfechos conclusivos. Ainda temos muito o que estudar e observar desfechos, com número significativo de pacientes, por um tempo considerável.

Se me perguntarem: BASEADO em ciência, qual óleo mais saudável?  Dados do estudo europeu PREDIMED publicado em 2013 na revista médica New England Journal of Medicine apontam para um forte candidato: o azeite de oliva. Neste estudo, pacientes com alto risco cardiovascular que consumiram dieta mediterrânea associada a azeite de oliva apresentaram uma redução de problemas cardíacos e vasculares de cerca de 30 porcento. Ou seja, não estamos falando apenas de hipóteses, mas de desfechos. Em Medicina, isso serve para respaldar e determinar qual o melhor tratamento ou prevenção. E até agora, o azeite de oliva saiu na frente. Mas devemos deixar de consumir manteiga, peixes ricos em ômega 3, canola ? Compartilho da mesma opinião da nutricionista (que admiro muito) Dra. Sophie Deram. Ela postou essa semana em sua página no facebook (que por sinal indico que sigam):

"- Dra Sophie, você é contra o a favor do uso do óleo de coco, e o de canola? Nossa quanta vezes recebi esta pergunta esses dias!

Vou responder aqui:
Eu sou pró:
Saúde, bem-estar, relação tranquila com a comida, respeitando a fome, saciedade e vontade. Fazer as pazes com a comida e o corpo.
Eu dedico 90% de meu tempo a ajudar pessoas a retomar uma atitude tranquila com o comer, se recuperando de medo, exageros e as vezes transtornos alimentares, tudo isso tem como consequência um peso mais saudável.

Eu sou contra:
Terrorismo nutricional, achar que tem alimentos milagrosos que vão salvar o mundo e alimentos venenosos que vão de repente causar obesidade, diabetes ou infarto.
Alimento é alimento, pode comer de tudo um pouco!
Eu recomendo comer mais caseiro e mais natural, respeitando as suas vontades sem demonizar os alimentos processados que são alimentos também. O prazer de comer é essencial no processo de fazer as pazes com você e até foi mostrado que previne o excesso de peso!

Sobre gorduras, respeito as crenças dos meus pacientes e desmistifico os modismos e demonizações.
Eu sempre vou pelo lado mais natural e menos processado: azeite, manteiga e óleo de coco são mais naturais do que óleo de canola, mas não quer dizer que pode se entupir de óleo de coco porque dizem que emagrece! É uma gordura, tem que ser consumida com moderação e é muito cara por sinal.

Óleo de canola não é veneno (por favor!) mas também não indico como se fosse uma solução mágica contra as doenças cardiovasculares.

Eu pessoalmente como muito simples e cozinho frequentemente. As gorduras que uso mais em casa são azeite e manteiga.
Bon appétit!"


Abaixo o posicionamento do Conselho Federal de Nutricionistas, sobre o assunto, postado aqui:http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/

Saiba mais sobre óleos de coco e de canola

ÓLEO DE COCO

De acordo com a I Diretriz sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o coco e o óleo de coco, são importantes fontes naturais de gorduras saturadas, especialmente de ácido láurico. Em relação aos demais tipos de gorduras saturadas, o ácido láurico apresenta maior poder em elevar LDL-C, bem como HDL-C. Apesar de estudos mostrarem redução da relação LDL:HDL, aumento do HDL-C e redução da circunferência abdominal em grupos que utilizam óleo de coco, outros comprovam seu efeito hipercolesterolêmico – grupos tratados com óleo de coco apresentam aumento significativo da fração não HDL e triglicérides.

Diante disso, considerando a influência dos ácidos graxos ingeridos sobre os fatores de risco das doenças cardiovasculares e sobre as concentrações plasmáticas de lípides e lipoproteínas, e o preço para a aquisição desse tipo de produto, o óleo de coco, quando utilizado, deve seguir os princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer. A recomendação é de que seja usado em pequenas quantidades e em preparações culinárias, preferencialmente compostas por alimentos in natura ou minimamente processados, não sendo recomendado para tratamento da hipercolesterolemia.

REFERÊNCIAS
  1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular; ISSN-0066-782X. Volume 100, nº 1, supl.3, 2013;
  2. Turpeinen O, Karvonen MJ, Pekkarinen M, Miettinen M, Elosuo R, Paavilainen E. Dietary prevention of coronary heart disease: the Finnish Mental Hospital Study. Int J Epidemiol. 1979;8(2):99-118.
  3. Assunção ML, Ferreira HS, dos Santos AF, Cabral CR Jr, Florêncio TM. Effects of dietary coconut oil on the biochemical and anthropometric profiles of women presenting abdominal obesity. Lipids. 2009;44(7):593-601.
  4. 76. Lecker JL, Matthan NR, Billheimer JT, Rader DJ, Lichtenstein AH. Impact of dietary fat type within the context of altered cholesterol homeostasis on cholesterol and lipoprotein metabolism in the F1B hamster. Metabolism. 2010;59(10):1491-501

ÓLEO DE CANOLA

A canola (Brassica napus L. e Brassica rapa L.) planta da família das crucíferas (como o repolho e as couves), pertence ao gênero Brassica. No Brasil cultiva-se apenas canola de primavera, da espécie Brassica napus L. var. oleifera, que foi desenvolvida por melhoramento genético convencional de colza. Segundo a Embrapa, na América do Sul ainda não se empregam variedades ou híbridos de canola transgênicos ou gerados por mutação, utilizando-se apenas variedades geradas através de melhoramento genético convencional. A maioria das sementes de canola empregadas no Brasil são importadas, e para que as sementes tenham sua entrada liberada nos portos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento exige laudo de análise para cada lote de 1000 kg.

O óleo de canola tem mostrado efeitos cardioprotetores devido ao conteúdo de ácidos graxos monoinsaturados, que promovem a regulação de lipídios plasmáticos, lipoproteínas e aumento da sensibilidade à insulina. Vale ressaltar que os efeitos saudáveis dos óleos comestíveis podem ser suscetíveis a alterações segundo o método culinário utilizado (frituras em profundidade ou superficiais) e em cocções de longo tempo, o que gera mudanças físico químicas que podem repercutir na saúde devido à produção de substâncias indesejáveis ou tóxicas (acroleína).

Estudos recentes evidenciam que o ômega-6, presente também nos óleos, quando consumido em excesso pode promover doenças inflamatórias.

Dessa forma, o nutricionista deve manter-se atualizado para as recomendações e diretrizes de condutas dietéticas a serem adotas.

REFERÊNCIAS
  1. Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Canola – aspectos nutricionais. Disponível em  . Acesso em 21 de agosto de 2015.
  2. Lawrence GD. Dietary Fats and Health: Dietary Recommendations in the Context of Scientific Evidence. Advances in Nutrition. 2013;4(3):294-302. doi:10.3945/an.113.003657.
  3. Lin L, Allemekinders H, Dansby A, et al. Evidence of health benefits of canola oil. Nutrition Reviews. 2013;71(6):370-385. doi:10.1111/nure.12033.
  4. Samuel Durán Agüero, Jairo Torres García; Julio Sanhueza Catalán. Aceites vegetales de uso frecuente en Sudamérica: características y propriedades. Nutr Hosp.32:11-19, 2015.
Fonte: Conselho Federal de Nutricionistas http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Nutrólogo x Nutricionista - As diferenças


Talvez essa seja uma das perguntas que mais ouço ao longo do meu dia, seja no consultório particular, seja no ambulatório de Nutrologia clínica que coordeno no SUS. Importante salientar que ainda não sou Nutrólogo. Somente após ser aprovado na prova de título de especialista, que será em 2016.

Muitos pacientes estão optando ir ao nutrólogo ao invés de ir ao nutricionista, apenas porque a maioria dos planos cobrem consultas ilimitadas com o nutrólogo, ou porque o mesmo prescreve medicações para emagrecer. Alguns ilusoriamente acreditam que médico entende mais de alimentos e dietas do que nutricionistas ou que nutricionistas entendem mais de doenças nutricionais que médicos nutrólogos titulados. O melhor caminho é ir em qual? Na minha opinião e baseado na minha prática clínica de quase 10 anos:
  1. Se você é um paciente saudável, não apresenta doenças e deseja um plano alimentar: vá a um nutricionista, tranquilamente. Ele será o profissional mais habilitado para atender suas necessidades.
  2. Mas se você apresenta sintomas ou alguma doença específicaprimeiro ao nutrólogo ou qualquer médico e posteriormente ao nutricionista para receber um plano alimentar. O nutrólogo pode até saber montar um plano alimentar, mas o profissional mais habilitado é o nutricionista. O importante é que se faça a investigação do sinal/sintoma e/ou diagnóstico correto da doença. Isso quem tem competência e dever por lei é o médico, baseado na Lei do Ato Médico e até mesmo na própria Lei que regulamenta a profissão de Nutricionista. 

Primeira diferença: A graduação

O nutrólogo é médico e o nutricionista é nutricionista. Graduações diferentes. A formação apesar de ser dentro da área da saúde e correlata à alimentação (no caso do médico que faz Nutrologia), possui enfoque diferente.

O médico estudou 6 anos para se formar em medicina, posteriormente fica de 3 a 5 anos se especializando. O nutricionista estuda 4 anos para formar (na maioria das particulares o curso dura 4 anos e nas Federais dura 5 anos em período integral). Posteriormente faz pós-graduações ou residência multiprofissional com duração média de 2 anos.

É importante ressaltar que na maioria das Universidades, até o momento (exceto USP, Unifesp, UFRJ, UERJ, UFTM, UFRGS) os acadêmicos de medicina não possuem nenhum módulo de nutrição. Apenas aulas sobre macro e micronutrientes. O pouco que vemos é em pediatria e nas cadeiras clínicas estudamos as orientações nutricionais  (bem superficiais) que devem ser dadas em algumas patologias:
Exemplo:
  1. dieta DASH na hipertensão arterial; 
  2. dieta sem irritantes gástricos nos portadores de dispepsia, 
  3. restrição de alimentos que favorecem o refluxo na Doença do refluxo gastroesofágico,
  4. restrição a alérgenos nas alergias alimentares
  5. restrição de proteína e potássio em nefropatas,
  6. restrição de sódio e água em portadores de insuficiência cardíaca,
  7. restrição de alimentos ricos em purinas, frutose e álcool em portadores de gota.
Resumindo: se vê muito pouco ou quase nada de nutrição durante a graduação de medicina. Porém esse panorama está mudando com o novo método de ensino adotado nas universidades, o Problem Based Learning (Aprendizado baseado em problemas - PBL). Com os inúmeros avanços na área da nutrição e dada sua importância na manutenção da saúde, os médicos tenderão a receber mais informações sobre o tema. Várias universidades ja estão colocando Nutrologia na sua grade anual e várias ja acrescentam módulo de abordagem nutricional nas disciplinas clínicas e cirurgicas. 

Exemplo: O médico nutrólogo faz 6 anos de graduação de medicina, 2 anos de residência de clínica médica (ou cirurgia) e 2 anos de residência de nutrologia.
Ou então o médico tem outra formação de base, como por exemplo endocrinologia. Ele fez 6 anos de graduação em medicina, 2 anos de residência em clínica médica, 2 anos de residência em endocrinologia, 2 anos de residência em nutrologia OU pós-graduação da ABRAN, com posterior aprovação na prova de título de nutrologia.

A Nutrologia é uma das áreas que mais tem atraído médicos na atualidade. Médicos de diversas áreas estão migrando para nutrologia ou complementando suas áreas com conhecimentos nutrológicos. Ainda são poucos nutrólogos titulados no Brasil. Segundo o último censo demográfico do CFM (2014), são cadastrados 1536 nutrólogos em todo o país.

Uma nutricionista clínica faz 5 anos de graduação em nutrição e depois 2 anos de pós-graduação em nutrição clínica. Ou então uma nutricionista com pós-graduação em hematologia. Ela faz 5 anos de graduação em nutrição e posteriormente residência multiprofissional em hematologia. Há nutricionistas que optam por fazer residência em oncologia, nefrologia, cardiologia. Outros optam por fazer pós de fitoterapia.

Se partirmos do pressuposto de tempo de estudo, obviamente e inquestionavelmente o nutricionista é o profissional mais habilitado para a PRESCRIÇÃO DE DIETA e orientações nutricionais.

Enquanto o médico é o mais habilitado para DIAGNOSTICAR e orientar sobre a fisiopatologia, prognóstico e como se dá o tratamento das doenças nutricionais.

Segunda diferença: as áreas de atuação

A Nutrologia é uma das especialidades dentro da medicina. Dividindo-se em 2 sub-especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina:
  1. Nutrologia pediátrica e 
  2. Nutrologia Parenteral e enteral. 
Porém a nutrologia pode adentrar em praticamente todas as especialidades médicas: nutrologia geriátrica, nutrologia cardiológica, nutrodermatologia, nutrologia em doenças infecto-parasitárias, nutrologia em ginecologia e obstetrícia.

Já o nutricionista é um profissional com formação generalista, humanista e crítica. É capacitado a atuar visando à segurança alimentar e à atenção dietética, em todas as áreas do conhecimento em que a alimentação e nutrição se apresentem fundamentais. Sua atuação visa a promoção, manutenção e recuperação da saúde através da nutrição. Além disso é parte essencial no processo de prevenção de doenças (em nível coletivo ou individual). A nutrição possui as seguintes áreas de atuação estabelecidas de acordo com a Resolução CFN nº 380/2005.

I - Alimentação Coletiva que se subdivide em:
1) Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN)
2) Alimentação Escolar
3) Alimentação do Trabalhador

II - Nutrição Clínica: Compete ao nutricionista, no exercício de suas atribuições em Nutrição Clínica, prestar assistência dietética e promover educação nutricional a indivíduos, sadios ou enfermos, em nível hospitalar, ambulatorial, domiciliar e em consultórios de nutrição e dietética, visando à promoção, manutenção e recuperação da saúde. Podendo o nutricionista clínico atuar em: 1) Hospitais, clínicas em geral, clínicas em hemodiálises, instituições de longa permanência para idosos e SPA; 2) Ambulatórios/consultórios; 3) Banco de leite humano (BLH); 4) Lactários/centrais de terapia nutricional; 5) Atendimento domiciliar.

III - Saúde Coletiva: Compete ao nutricionista, no exercício de suas atribuições na área de Saúde Coletiva, prestar assistência e educação nutricional a coletividades ou indivíduos sadios, ou enfermos, em instituições publicas ou privadas e em consultório de nutrição e dietética, através de ações, programas, pesquisas e eventos, direta ou indiretamente relacionados à alimentação e nutrição, visando à prevenção de doenças, promoção, manutenção e recuperação da saúde.

IV - Docência:

V - Atuação nas indústrias de alimentos:

VI - Nutrição Esportiva: necessita ser aprovado na prova de título de especialista.

VII - Marketing na Área de Alimentação e Nutrição:

VIII - Fitoterapia

Quando se fala em Terapia Nutricional em ambiente hospitalar, temos no Brasil o que se denomina: Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN). Ela é basicamente composta por:
  • Médico (sempre o chefe da equipe, de acordo com a resolução da ANVISA)
  • Nutricionista
  • Enfermeiro
  • Farmacêutico.
Cada membro da EMTN tem suas funções bem estabelecidas na resolução RCD N° 63, DE 6 DE JULHO DE 2000. A EMTN deve preferencialmente ser chefiada por um médico titulado em Nutrologia, com curso de pós-graduação na área, de no minimo 360h. Os cálculos da nutrição enteral são feitos por nutricionistas e geralmente os cálculos da parenteral são feitos por nutrólogos. Porém quem assina e prescreve no prontuário é o médico. Quem manipula é o farmacêutico e quem monitora a infusão é o enfermeiro. Ou seja, nutricionista não pode fazer cálculos de parenteral e prescrição, quando há médico nutrólogo na EMTN. 

Terceira diferença: o tipo de diagnóstico 

Legalmente o nutricionista fica restrito ao diagnóstico nutricional (de acordo com a Lei nº 8234 de 17/09/1991 que regulamenta a  nutrição), enquanto o médico ao diagnóstico nosológico (de doença) e instituição da terapêutica.  Ou seja, nutricionista não dá diagnóstico de doença

Quem determina se o tratamento de determinada doença será apenas dietético ou terá intervenção medicamentosa ou cirúrgica é o médico. 


Quarta diferença: solicitação de exames

Ambos os profissionais podem solicitar exames laboratoriais para elucidação diagnóstica.
Entretanto o nutricionista não podem solicitar exames de imagem, eletrocardiograma, teste ergométrico, monitorização ambulatorial da pressão arterial, holter, exames laboratoriais que necessitem de monitoração médica durante a realização, polissonografia.

Mas os nutricionistas possuem competência legal para solicitar exames laboratoriais?  A resposta é Sim. Ele podem solicitar os exames necessários ao diagnóstico nutricional, à prescrição dietética e ao acompanhamento da evolução nutricional. Isso está prescrito nas seguintes normatizações: Lei Federal 8.234/91, artigo 4º, inciso VIII, Resolução CFN nº 306/03, Resolução CFN nº 380/05 e Resolução CFN nº 417/08. Exames que geralmente nutricionistas solicitam: Hemograma, Uréia, Creatinina, Ácido úrico, Glicemia de jejum, Insulina, Perfil lipídico, Transaminases, Gama-GT, Proteínas totais e frações, Dosagem sérica ou urinária de vitaminas, minerais, marcadores inflamatórios que tenham correlação com nutrientes como a homocisteína.

Mas porque o meu plano de saúde não libera os exames solicitados pelo seu nutricionista? Ao que me foi orientado por duas operadoras de saúde, existe uma resolução do Conselho Federal de Medicina no qual proíbe médicos patologistas (geralmente os donos de laboratórios) de executarem solicitações de exames de não-médicos (isso incluiria nutricionistas, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas). Com isso o plano de saúde consegue legalmente vetar a solicitação de exames por parte dos nutricionistas. É errado? Sim. Mas legalmente o patologista tem amparo do CFM. E nessa brecha os planos de saúde aproveitam e economizam.

Enquanto a solicitação de exames por parte dos nutricionistas é limitada aos aspectos nutricionais, para o médico, ela é totalmente abrangente. Sendo importante salientar que quase sempre exames não-laboratoriais são cruciais para a conclusão de alguns diagnósticos.

Quinta diferença: o arsenal terapêutico 

O nutricionista tem como arsenal terapêutico:
  1. Orientações nutricionais com educação em saúde (um dos papéis mais nobres quando se fala em prevenção);
  2. Plano dietético;
  3. Prescrição de suplementos orais desde que respeitem as doses estabelecidas pela Agência nacional de vigilância sanitária (ANVISA). Os Níveis Máximos de Segurança de Vitaminas e ou Minerais estão dispostos no anexo da Portaria SVS MS 40/1999. 
  4. Prescrição de plantas medicinais, drogas vegetais e fitoterápicos: a prescrição de fitoterápicos e preparações magistrais, a partir de 2016, será uma atribuição exclusiva do nutricionista portador de título de especialista em Fitoterapia pela ASBRAN. Quem iniciou pós-graduação na área até Maio de 2015 poderá prescrever sem título, os demais apenas com prova de título de especialista.
É vedado ao nutricionista a prescrição de:
  1. Produto que use via de administração diversa do sistema digestório; PORTANTO nutricionista não pode prescrever NADA que seja de uso tópico (pele), nasal, ocular, endovenoso, intramuscular. É importante salientar isso pois temos vistos nutricionistas prescrevendo Citoneurim Intramuscular para correção de anemia megaloblastica, Noripurum endovenoso e Victoza; 
  2. Medicamentos ou produtos que incluam em sua fórmula medicamentos; SOMENTE médico e dentista podem prescrever medicamentos. A nutricionista que prescreve qualquer tipo de medicamento, seja ele uma simples dipirona ou um hormônio, está infringindo o código de ética médica e isso pode ser considerado exercício ilegal da profissão; 
  3. Medicamentos à base de vitaminas e minerais sujeitos a prescrição médica; Algumas doses de vitaminas e minerais deixam de ter efeito de suplementação e passam a ter ação medicamentosa como altas doses de Vitamina B12, Vitamina B6, Ácido fólico, Vitamina D3, Vitamina A. Nesse caso somente médicos podem prescrever. 
  4. Suplementos com quantidades de nutrientes superiores aos níveis máximos regulamentados pela Anvisa ou na falta destes o Tolerable Upper Intake Levels – UL;
  5. Prescrição de fitoterápicos que necessitem de receita médica conforme a Instrução Normativa nº 5, de 12 de dezembro de 2008 da ANVISA
  6. Produtos que não atendam às exigências para produção e comercialização regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (exemplo suplementos importados que não foram aprovados pela ANVISA, por exemplo DHEA, Melatonina etç).
médico nutrólogo tem além do arsenal citado acima:
  1. Prescrição de suplementos em doses mais altas ou exclusivos para prescrição médica;
  2. Prescrição de vitaminas, minerais e ácidos graxos em doses medicamentosas, que muitas vezes excedem as doses estabelecidas pela ANVISA. Exemplo: Citoneurim fornecendo 1mg de vitamina B12. Ácido fólico de 5mg prescrito na gestação. Ácido alfa-lipóico de 600mg prescrito para neuropatia diabética.
  3. Prescrição de: antibióticos, antiinflamatórios, analgésicos, antitérmicos, corticóides, hipoglicemiantes, anti-hipertensivos, antiarritmicos, antiulcerosos, psicotrópicos, medicações endovenosas, intramusculares, nasais ou tópicas.
  4. Prescrição de fitoterápicos que necessitem de receita médica conforme a Instrução Normativa nº 5, de 12 de dezembro de 2008 da ANVISA :
  • Arctostaphylos uva-ursi (uva-ursina)
  • Cimicifuga racemosa (cimicífuga)
  • Echinacea purpurea (equinácea)
  • Ginkgo biloba (ginkgo)
  • Hypericum perforatum (hipérico)
  • Piper methysticum (kava-kava)
  • Serenoa repens (saw palmeto)
  • Tanacetum parthenium (tanaceto)
  • Valeriana officinalis (valeriana)
Aqui faço um adendo a um tema recorrente e que frequentemente vejo na prática clínica. Nutricionistas que trabalham com médicos que prescrevem anabolizantes e estimulam o uso. A prescrição, sugestão ou incentivo de medicamentos do grupo terapêutico dos esteróides ou peptídeos anabolizantes, quando realizada por nutricionista, pode ser enquadrada como CRIME contra a saúde pública, crime de exercício ilegal da medicina e crime de tráfico ilícito de drogas. Conforme: artigos 278 e 282 do Código Penal Brasileiro; Lei nº 11.343/2006 que define drogas como “substâncias ou produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”; Portaria SVS/MS nº 344/1998, que incluem os esteroides e anabolizantes na lista de drogas e entorpecentes; e Lei nº 9.965/2000, que restringe a venda de esteroides ou peptídeos anabolizantes e dá outras providências e estabelece que estes só devem ser prescritos por médicos ou odontólogos em situações especificas.

Sexta diferença: prescrição de dietas (diferença que gera polêmica)

O nutrólogo trata das doenças ligadas à ingestão alimentar (doenças nutricionais ou como a ABRAN prefere denominar, doenças nutroneurometabólicas). O diagnóstico destas doenças deve ser feito por médicos e tratadas por médicos. Só depois de um diagnóstico, o médico encaminhará o paciente ao nutricionista para solicitar o acompanhamento nutricional. É importante salientar que o paciente é livre para ir em quem quiser, entretanto o diagnóstico deve ser firmado antes.

O bom médico diagnostica e encaminha para o nutricionista montar o cardápio. É assim que eu prefiro trabalhar e tenho tido bons resultados. Tenho parceria com várias nutricionistas e trabalhamos de forma harmônica. Faço inquérito alimentar, solicito os exames necessários, detecto as deficiências nutricionais laboratoriais e só então encaminho para que eles com todo conhecimento do curso de Nutrição e pós-graduação em Nutrição clínica possam montar o plano alimentar conforme as diretrizes por mim sugeridas.

Faço avaliação por bioimpedância, calorimetria indireta, ergoespirometria, cineantropometria (em parceria com um profissional da educação física que trabalha comigo dentro do consultório). Faço o cálculo do volume calórico total de acordo com as particularidades do paciente. Calculo a necessidade de proteína por kilo de peso,  a quantidade de carboidratos, lipídios. De acordo com os achados laboratoriais, com anamnese e inquérito alimentar (recordatório de 7 dias que todos são obrigados a trazer antes do retorno), determino quais nutrientes a nutricionista deve ter mais atenção. Faço uma pequena redação com diretrizes e explicando minha conduta caso eu tenha feito alguma suplementação ou prescrição de medicamentos. Enfim, um tem liberdade para discutir com o outro e agregar benefícios para o paciente. Acredito que essa é a melhor forma de trabalhar.  Nem todos os médicos trabalham dessa maneira. Eu os respeito do mesmo jeito. Tenho colegas que preferem montar o plano alimentar e muitas vezes o paciente pede o plano alimentar.

Segundo parecer jurídico do Conselho Federal de Medicina (CFM), o médico está habilitado a prescrever dietas apenas em casos de doenças. Ou seja, quando envolve estética, é vetado a ele.

O Conselho Federal de Nutrição (CFN) não entende dessa forma e defende que a prescrição de dieta via oral seja atividade privativa da nutriçãoconforme a lei federal que regulamenta a profissão. Alega que uma resolução não pode transpor uma lei federal.

Essa discussão na minha humilde opinião, acabará no Supremo Tribunal de Federal (STF), já que há quase 1 século e meio, o primeiro item da prescrição médica é a dieta. Médicos vinham fazendo isso nos últimos 150 anos. A Nutrição surgiu assim como a fisioterapia, com a função de auxiliar a medicina e hoje caminha com as próprias pernas. Tornou-se uma grande ciência e que quando bem praticada pode mudar a vida dos pacientes, seja curando ou mudando o prognóstico de doenças.

Não nego (e jamais negarei) que o profissional mais habilitado para manejar alimentos e a prescrição deles sejam os colegas nutricionistas

Assim como reconheço que o profissional mais habilitado para diagnosticar e manejar doenças nutricionais seja o nutrólogo.

Mais habilitado e com abordagem mais complexa (pois o diagnóstico de doenças é algo complexo), visto que inúmeras doenças nutroneurometabólicas dependem de intervenção medicamentosa e como já citado acima, apenas o médico poderá prescrever a medicação.

Em Maio de 2015 mais um Conselho Regional foi questionado sobre a legalidade da prescrição de dietas. Abaixo a resposta do parecer.

EMENTA: a prescrição de dieta é atribuição não privativa do médico. Compete aos médicos e nutricionistas, possuindo cada profissional suas atribuições específicas.

CONSULTA: médico ginecologista solicita deste Conselho parecer sobre os seguintes questionamentos:

É permitido ao médico, sob o ponto de vista legal, a prescrição de dietas?

Como deve proceder o médico que recebe algum documento advertindo-o da ilegalidade da prescrição de dietas, vindo de outros Conselhos como o Conselho Regional de Nutrição?
Como deve proceder o médico que recebe algum documento ou intimação proveniente de autoridade legal como juiz, advertindo-o da ilegalidade da prescrição de dietas por médico?

FUNDAMENTAÇÃO:  Há mais de um lustro, o CFM, através da Resolução CFM nº 826/78 reconhece Especialidade de Nutrologia, em âmbito nacional.

Em toda a prática médica a nutrição tem papel preponderante, sendo indispensável que ele conheça bem a nutrologia, para praticá-la no benefício de seus pacientes, sendo esta uma prerrogativa do exercício da medicina. Outros profissionais da saúde, em ação multiprofissional, como os nutricionistas, atuam sob orientação do médico, e, neste caso em particular, colabora na elaboração de dieta personalizada ao paciente. O Conselho de Nutrição, em que pese a Lei 8.234/1991, que regulamenta a profissão do Nutricionista, caso negue ao médico esta prerrogativa de prescrição médica de dietas, pratica cerceamento do exercício profissional do médico, que ficaria impossibilitado de tratar grande parte dos seus pacientes.


De acordo com a citada Lei, são atividades dos nutricionistas: artigo 3º,  inciso VIII “assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e a nível de consultórios de nutrição e dietética, prescrevendo, planejando, analisando, supervisionando e avaliando dietas para enfermos”, e artigo 4º,  inciso VII “prescrição  de  suplementos nutricionais, necessários à complementação da dieta”.
Portanto, a prescrição de dietas cabe aos dois profissionais − médicos e nutricionistas, cada, um, contudo, com suas atribuições especificas.
A responsabilidade da indicação e prescrição médica da terapia nutricional de paciente hospitalizado ou em regime ambulatorial, quer seja enteral ou parenteral, por se tratar de ato que envolve tanto o diagnóstico quanto o tratamento, e por isso ser ato de competência médica, é de responsabilidade do médico assistente. Ao nutricionista, cabe também a prescrição de dietas, sob orientação médica, e dentro de sua competência, a elaboração de cardápio personalizado.

O consulente não se refere a uma dieta específica, o que leva esta parecerista acrescentar que em casos de nutrição parenteral (NP), equipe mínima multiprofissional deve ser composta por um  médico  (coordenador  e  responsável  técnico), uma  nutricionista,  uma  enfermeira  e  um  farmacêutico.  Outros  profissionais  podem ser  acrescidos  conforme  a  necessidade e abrangência do Serviço de Nutrição Parenteral, tendo cada membro sua atribuição bem definida na Portaria nº 272/MS – SNVS/1998.


Destaco, as atribuições do médico e do nutricionista:

São atribuições do médico:

  • Estabelecer o acesso intravenoso central, para a administração da NP;
  • Proceder o acesso intravenoso central, assegurando sua correta localização;
  • Orientar o paciente, os familiares ou o responsável legal quanto aos riscos e benefícios do procedimento;
  • Participar do desenvolvimento técnico-científico relacionado ao procedimento;
  • Garantir os registros da evolução e dos procedimentos médicos.
São atribuições do nutricionista:
  • Avaliar os indicadores nutricionais subjetivos e objetivos, com base em protocolo preestabelecido, de forma a identificar o risco ou a deficiência nutricional e a evolução de cada paciente, até a alta nutricional estabelecida pela equipe multiprofissional de terapia nutricional;
  • Avaliar qualitativa e quantitativamente as necessidades de nutrientes baseadas na avaliação do estado nutricional do paciente;
  • Acompanhar a evolução nutricional dos pacientes em terapia nutricional, independente da via de administração;
  • Garantir o registro, claro e preciso, de informações relacionadas à evolução nutricional do paciente;
  • Participar e promover atividades de treinamento operacional e de educação continuada, garantindo a atualização dos seus colaboradores.

CONCLUSÃO: é permitido ao médico, sob o ponto de vista legal, a prescrição de dietas. Todavia esta atribuição não é privativa do médico.

É o parecer, SMJ.


Recife, 05 de maio de 2015.

Maria Luiza Bezerra Menezes

Consª Parecerista

Fonte: http://cremepe.org.br/2015/08/28/prescricao-medica/

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Recentemente o STF proferiu a seguinte decisão:

"DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Atividades privativas de nutricionista e livre exercício profissional

É constitucional a expressão “privativas”, contida no “caput” do art. 3º (1) da Lei 8.234/1991, que regulamenta a profissão de nutricionista, respeitado o âmbito de atuação profissional das demais profissões regulamentadas.

Com base nessa orientação, o Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada contra o referido dispositivo legal.

O Tribunal afirmou que a Constituição, ao admitir que lei restrinja o exercício das profissões, especificando requisitos mínimos ao exercício de atividades técnicas, apresenta-se como exceção à regra geral da liberdade de exercício profissional. Essas restrições legais precisam ser proporcionais e necessárias e estão restritas às “qualificações profissionais” — formação técnico/científica indispensável para o bom desempenho da atividade.

O caso da profissão de nutricionista requer conhecimentos técnicos e científicos específicos para o desempenho de suas funções.

O Colegiado ressaltou que as atribuições dos profissionais de nível médio são essencialmente diversas daquelas atribuídas com exclusividade aos profissionais de nível superior.

A norma impugnada enumerou como privativas dos nutricionistas atividades eminentemente técnicas que não se confundem com aquelas desempenhadas por outros profissionais de nível médio.

Portanto, não há inconstitucionalidade na exigência de nível superior em nutrição para atividades eminentemente acadêmicas, a exemplo da direção, coordenação e supervisão de cursos de graduação; planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de estudos dietéticos; ensino das matérias profissionais dos cursos de graduação em nutrição; e ensino das disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de graduação da área de saúde e outras afins.

Por outro lado, as atividades de planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de serviços pertinentes à alimentação e nutrição, consultório de nutrição e dietética, e de assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e em consultório de nutrição não impedem nem prejudicam aquelas pertinentes a outras áreas de nível superior, notadamente referentes a bioquímicos e médicos nutrólogos.

Assim, é imperativo destacar que existem ressalvas com relação a outras categorias profissionais, tais como gastroenterologistas, nutrólogos, bioquímicos e demais profissões que, conquanto lidem com atividades correlatas, não têm seu exercício tolhido pela regulamentação da profissão de nutricionista.

Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade do vocábulo “privativas”, constante do art. 3º da referida lei. Pontuou que o art. 5º, XIII (2) da CF revela a liberdade no exercício de qualquer trabalho, ofício, ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

(1) Lei 8.234/1991: “Art. 3º São atividades privativas dos nutricionistas: I - direção, coordenação e supervisão de cursos de graduação em nutrição; II - planejamento, organização, direção, supervisão e avaliação de serviços de alimentação e nutrição; III - planejamento, coordenação, supervisão e avaliação de estudos dietéticos; IV - ensino das matérias profissionais dos cursos de graduação em nutrição; V - ensino das disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de graduação da área de saúde e outras afins; VI - auditoria, consultoria e assessoria em nutrição e dietética; VII - assistência e educação nutricional e coletividades ou indivíduos, sadios ou enfermos, em instituições públicas e privadas e em consultório de nutrição e dietética; VIII - assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e a nível de consultórios de nutrição e dietética, prescrevendo, planejando, analisando, supervisionando e avaliando dietas para enfermos”.
(2) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.

ADI 803/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 28.9.2017. (ADI-803)"

Fonte: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo879.htm


Sétima diferença: o número de consultas pelos planos de saúde

Infelizmente os planos de saúde não são obrigados a cobrir consultas ilimitadas com nutricionistas. Sendo assim, conforme as normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o plano de saúde possui um teto MINIMO no número de consultas com nutricionistas. Totalizando em 12 consultas anuais, desde que sejam respeitados os seguintes critérios

"São obrigatórias 12 consultas/sessões com nutricionistas, quando preenchidos os seguintes critérios pelos pacientes:
a) Diagnóstico confirmado de diabetes
b) Duas consultas médicas especializadas nos últimos 12 meses (endocrinologista /ou oftalmologista e/ou cardiologista e/ou nefrologista);
c)1 EGC (Eletrocardiograma) nos últimos 12 meses;
d) 2 exames de hemoglobina glicosilada nos últimos 12 meses;"

Já com médicos nutrólogos, o número de consultas é ilimitado. Caso o paciente queira ir semanalmente ou quinzenalmente pode comparecer. A nutrologia é uma especialidade médica, a ANS obriga que os planos disponibilizem nutrólogos para os pacientes. Apesar de que a cada dia está mais difícil encontrar nutrólogos pelos planos de saúde.

Abrangência da nutrologia e o que o nutrólogo trata

A abrangência de atuação dos nutrólogos envolve:
  1. diagnosticar e tratar as doenças nutricionais (que incluem as doenças nutroneurometabólicas)
  2. Identificar possíveis “erros” alimentares, hábitos de vida ou estados orgânicos que estejam contribuindo para o quadro nutricional do paciente, já que as interrelações entre nutrientes-nutrientes, nutrientes-medicamentos e de mecanismos regulatórios orgânicos são complexas;
O nutrólogo pode atuar tanto em nível ambulatorial (consultório) quanto em nível hospitalar (pacientes em enfermaria ou na Unidade de terapia intensiva).

Podendo também atuar em nível de domicílio, no caso dos pacientes acamados.

Quando a atuação se dá no ambulatório denominamos de nutrologia clínica, enquanto dentro de hospitais, de hospitalar.

As principais doenças tratadas na nutrologia clínica/hospitalar são:
  1. Obesidade infanto-juvenil e no Obesidade do adulto;
  2. Desnutrição do adulto, da criança e do idoso;
  3. Acompanhamento pré e pós-cirurgia bariátrica;
  4. Dificuldade para ganho de massa magra (adolescentes, adultos e idosos);
  5. Sarcopenia (baixa quantidade de massa magra),
  6. Osteopenia e Osteoporose do idoso e em jovens;
  7. Anorexia nervosa;
  8. Bulimia nervosa;
  9. Vigorexia;
  10. Ortorexia;
  11. Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP),
  12. Síndrome do Comer Noturno;
  13. Aspectos nutricionais da ansiedade; depressão; insônia;
  14. Intolerância à glicose e Diabetes mellitus tipo 2;
  15. Dislipidemias: hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia;
  16. Síndrome metabólica;
  17. Esteatose hepática não-alcóolica (fígado gorduroso);
  18. Alergias alimentares;
  19. Intolerâncias alimentares (lactose, frutose);
  20. Anemias carenciais (Ferropriva, por deficiência de B12, ácido fólico, cobre, zinco, complexo B, vitamina A);
  21. Deficiência e excessos de macronutrientes e micronutrientes;
  22. Constipação intestinal (intestino preso);
  23. Diarréia crônica;
  24. Dispepsias correlacionadas à ingestão de alimentos específicos (má digestão);
  25. Distensão abdominal crônica (gases intestinais);
  26. Disbiose intestinal e Síndrome de Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO);
  27. Síndrome do intestino irritável;
  28. Fadiga crônica;
  29. Fibromialgia (aspectos nutrológicos);
  30. Acompanhamento nutricional pré-gestacional (preparo pré-gravidez), acompanhamento nutricional durante a gestação e amamentação;
  31. TPM (causas ligadas a nutrientes);
  32. Orientações nutrológicas para nefropata (insuficiencia renal aguda, doença renal crônica, cálculo renal),
  33. Orientações nutrológicas para hepatopatas (insuficiência hepática, encefalopatia hepática, esteatose hepática),
  34. Orientações nutrológicas para pneumopatas (Asma, enfisema, fibrose cistica, bronquite crônica, sindromes restritivas, cor pulmonale),
  35. Orientações nutrológicas para cardiopatas (infarto agudo, insuficiência coronariana, insuficiência cardíaca, valvulopatias, arritimias),
  36. Orientações nutrológicas para portadores de doenças autoimunes (artrite reumatóide, lúpus, hashimoto, psoríase, vitiligo);
  37. Infertilidade (aspectos nutrológicos).

Portanto, se você tem alguma dessas condições eu te oriento primeiro a procurar um nutrólogo para fechar o diagnóstico e determinar o tipo de terapêutica a ser utilizada. Mas por que ? O nutricionista não tem nem formação acadêmica e nem competência legal para diagnosticar doença, e sim  competência legal e acadêmica para o diagnóstico nutricional.


Posteriormente procurar um nutricionista de preferência com experiência em nutrição clínica, para que ele possa instituir uma abordagem nutricional para o seu caso e acompanhá-lo paralelamente com o nutrólogo. A abordagem multidisciplinar é de suma importância. Bons profissionais dialogam e buscam o melhor para o paciente. 

Exemplos de atuação do nutrólogo

Uma forma  simples de explicar a diferença é através de exemplos. Imaginemos um paciente:
Sexo masculino, 25 anos, 1,80 110kg. Com queixa de obesidade, irritabilidade, deita tarde, sonolência durante o dia, sensação de que o sono não foi reparador, cansaço, diminuição da libido, alta ingestão de álcool nos finais de semana, baixa ingestão de água, hábitos alimentares errôneos.
História familiar de doenças cardiovasculares e diabetes tipo II. Tem apresentado elevação da pressão arterial ocasionalmente e aumento da frequência cardíaca.

A primeira conduta seria verificar quais as possíveis patologias podem estar presentes. Além da solicitação de exames para verificar como está a pressão arterial e atividade eletrofisiológica cardíaca. Isso um nutricionista conseguiria fazer? Não.

Ou seja, o básico e essencial já estaria prejudicado caso o paciente recorresse primeiramente ao colega nutricionista. O risco cardiovascular desse paciente seria subestimado e isso poderia culminar em um desfecho desfavorável.

A questão do sono é de suma importância. A solicitação de uma polissonografia é crucial para determinar se o sono apresenta alterações como apnéia. Pois se o mesmo apresentar uma apnéia de moderada a grave, tanto a oscilação da pressão, quanto alteração na libido como irritabilidade podem ter uma justificativa. A apnéia deve ser corrigida. A pergunta é: o colega nutricionista vai intervir nisso? Ele sabe manejar isso? Não ! Ele pode indicar o uso de CPAP? Não.

Ele sabe manejar parcialmente a obesidade, dentro do biônimo dieta + atividade física.

Aí entram inúmeras perguntas:
  1. E se esse paciente não responde bem (como é o caso de uma grande parcela dos pacientes) apenas à dieta combinada com atividade física? 
  2. E se esse paciente apresenta associado ao quadro, episódios de compulsão alimentar e faz-se necessário um tratamento medicamentos? Ele vai conseguir intervir? Mais uma vez, a resposta é não.
  3. E se esse paciente tem como obesidade um efeito adverso de alguma medicação que ele ja faz uso? O nutricionista pode retirar? Não. 
  4. E se esse paciente por conta da obesidade vem apresentando Esteatose hepática e ela está evoluindo para esteatohepatite. O nutricionista saberá diagnosticar, ou melhor, ele pode diagnosticar ? Não. 
  5. E se essa apnéia do sono está levando a uma elevação dos níveis de cortisol no período noturno, além de uma diminuição da produção de testosterona decorrente de uma diminuição dos pulsos de LH. O nutricionista saberá diagnosticar sem a Polissonografia? Não. 
Vejam (antes que me crucifiquem nos comentários) que em nenhum momento retiro a importância crucial do colega nutricionista no tratamento. A correção dos hábitos alimentares assim como a educação em saúde são fundamentais, sendo pilares no tratamento. Mas até que se institua o tratamento, várias coisas devem ser investigadas. Não apenas a ponta do iceberg (sinais e sintomas), como muitos nutricionistas e nutrólogos exercem. Em momento nenhum desse texto eu fugi à legislação. O que me irrita é ver nutricionista querendo invadir a medicina (achando que pode diagnosticar doença, por mais que tenha feito pós-graduação em alguma área) e médico querendo invadir a nutrição (realizando o que é função privativa do nutricionista). Cada um no seu quadrado.

Se nutricionista quer diagnosticar e tratar doença, curse medicina. Se o médico quer passar dieta de forma adequada, mais aprofundada, com todos os cálculos, gradue-se em nutrição. 

Medicina nutricional se faz assim, com investigação minuciosa, compreensão das interrelações entre vias bioquímicas. Assim como nutrição clínica se faz com abordagem holística. Um profissional complementa o outro e quem ganha com isso é o paciente.


Autor: Dr. Frederico Lobo (CRM-GO 13192) Médico

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