sábado, 13 de setembro de 2025

Hara hachi bu na prática clínica




Conceito clínico 

Hara hachi bu” é uma heurística alimentar tradicional de Okinawa que recomenda parar de comer quando se está 80% satisfeito. Não é “dieta”, mas uma regra prática para moderar a ingestão e cultivar atenção plena às pistas de fome e saciedade.

Na prática clínica, pode ser enquadrada como intervenção comportamental para reduzir ingestão energética sem contagem rígida de calorias. Na qual o objetivo é evitar a saciedade tardia (quando o estômago já distendeu demais) e, com isso, o excesso calórico. Definição e origem cultural são descritas por centros clínicos e por literatura de longevidade japonesa. 

É uma técnica simples, flexível e cabe no seu cotidiano. Não é dieta da moda: é um hábito que melhora com treino. E, por ser fácil de lembrar, vira um aliado no controle do peso. 

Por que isso importa tanto hoje?

Vivemos cercados por porções grandes, lanches a toda hora e alimentos ultraprocessados que estimulam o “comer no automático”. Um ambiente obesogênico. O resultado costuma ser excesso de calorias sem perceber. 

Hara hachi bu funciona como um “freio de mão” gentil: você come, aprecia, e para antes de ficar estufado, empachado, cheio. Isso reduz a chance de ganhar peso com o tempo. E melhora bem-estar sem sensação de privação.

Um segredo antigo com cara de novidade mas que tem recebido o olhar da ciência

A prática nasceu em Okinawa, no Japão, onde a população sempre valorizou moderação e pratos simples. Em vez de comer até não aguentar mais, a ideia é terminar com leveza. O interessante é que essa regra combina com qualquer estilo alimentar equilibrado. Você pode usá-la com comida brasileira do dia a dia. O foco é como comer, não proibir alimentos para sempre.

Conceitualmente, a prática se apoia em três pilares: 

  1. Ritmo da refeição: Comer mais devagar dá tempo para a integração de sinais mecânicos (distensão gástrica) e hormonais.
  2. Tamanho da porção: Porções menores reduzem a carga calórica mesmo quando o volume percebido é semelhante.
  3. Densidade energética: Alimentos de menor densidade energética (kcal/grama) permitem maior volume com menos calorias.

Esses pilares dialogam com diretrizes de manejo de ingestão e saciedade. No plano fisiológico, a saciedade é produto da integração de aferências vagais e de hormônios intestinais. 

Entre eles, destacam-se CCK, GLP-1 e PYY, liberados em resposta a nutrientes no lúmen intestinal. A velocidade de ingestão modula o tempo de exposição e a liberação hormonal pós-prandial. Comer muito rápido tende a encurtar a janela para esses sinais “chegarem” à consciência.

Já do ponto de vista comportamental, “parar aos 80%” é uma âncora simples para evitar “comer até ficar cheio”. Na prática clínica, isso é traduzível em psicoeducação com escalas subjetivas de fome/saciedade. O foco acaba sendo menos “o que” e mais “como” comer. Ainda assim, a qualidade da dieta sustenta a adesão e os resultados cardiometabólicos. O hara hachi bu funciona melhor quando acoplado a escolhas alimentares densas em nutrientes. 

Estudos clínicos

No Japão, estudos populacionais associaram “comer até ficar cheio” e “comer rápido” com excesso de peso. A combinação desses dois comportamentos mostrou efeito supra-aditivo para sobrepeso em adultos. São dados transversais/coorte, úteis como sinal epidemiológico de risco comportamental. Eles não provam causalidade, mas sustentam a recomendação clínica de reduzir velocidade e volume.

Em coortes japonesas, comer rápido também se associou a piores desfechos cardiometabólicos. Há ligação com maior incidência de diabetes tipo 2 e com maior resistência à insulina. O efeito persiste após ajuste para idade, IMC e outros fatores de confusão. Isso reforça a relevância de intervenções no ritmo da refeição. Tais dados ancoram a plausibilidade clínica do hara hachi bu

Ensaios não testaram “80% vs. 100%” diretamente, mas testaram restrição calórica moderada. O CALERIE (fase 2), RCT multicêntrico de 2 anos em adultos não obesos, reduziu diversos riscos cardiometabólicos. Houve queda sustentada de pressão arterial, LDL-C e relação CT/HDL, entre outros marcadores. A intervenção visou ~25% de restrição e obteve ~12% em média, com segurança global adequada. Análises do CALERIE também avaliaram desfechos de “ritmo de envelhecimento” por epigenética. O ensaio mostrou discreta desaceleração do Pace of Aging por DNAm (DunedinPACE). É efeito pequeno, mas potencialmente significativo em escala populacional. Trata-se de biomarcadores substitutos, ainda sem prova direta de maior longevidade.

No campo do comportamento alimentar, o mindful eating tem meta-análises com efeito modesto em peso. Comparado a não intervenção, há perda pequena mas significativa; frente a dietas convencionais, não difere. O valor surge como suporte à regulação de impulsos e à prevenção de episódios de comer em excesso. Isso encaixa com a ideia do hara hachi bu como “freno” atencional à hiperpalatabilidade.

Ensaios fisiológicos indicam que comer devagar eleva PYY e GLP-1 pós-prandiais em indivíduos saudáveis. Esse perfil hormonal favorece maior saciedade e menor ingestão subsequente. O efeito não é universal, variando por população e desenho experimental. Ainda assim, dá suporte mecanístico ao aconselhamento sobre ritmo da refeição.

Outros estudos mostram heterogeneidade hormonal, mas melhora consistente na percepção de saciedade. Em pessoas com T2D, comer devagar pode aumentar plenitude sem alterar PYY/GLP-1. A literatura converge para “comer devagar reduz ingestão” mesmo com hormônios inconsistentes. O mecanismo pode incluir memória da refeição e sinais corticais de recompensa. 

Manipular densidade energética é alavanca prática para sustentar hara hachi bu. Aumentar água/fibra do prato permite maior volume com menos calorias. Reduzir densidade da refeição seguinte a um “preload” saciante diminui a energia total consumida.

Como o corpo avisa que já chega?

A saciedade não acontece instantaneamente: ela depende de sinais do estômago e do intestino que “conversam” com o cérebro. Esses sinais demoram alguns minutos para aparecer. Se você come muito rápido, a mensagem chega tarde — e a gente passa do ponto. Ao desacelerar, o corpo tem tempo de avisar “estou satisfeito”. Hara hachi bu aproveita exatamente esse timing natural.

Fome, vontade e hábito: não são a mesma coisa

Fome é um sinal físico: estômago roncando, energia baixa, irritação. Vontade é emocional: cheiro bom, imagem atraente, tédio. Hábito é rotina: “sempre repito o prato” ou “sempre como sobremesa”. Quando você distingue esses estados, fica mais fácil parar perto dos 80%. A atenção ao corpo ajuda a fazer escolhas mais conscientes. E isso se melhora com prática.

Passo 1: comece checando sua fome

Antes de cada refeição, pare por 10 segundos e avalie de 0 a 10 quanta fome você sente. Entre 6 e 8, você provavelmente precisa comer uma refeição completa. Entre 3 e 5, talvez um lanche seja suficiente. Abaixo de 3, pode ser só sede ou hábito. Esse mini-ritual coloca você no comando. E inicia o hara hachi bu desde o primeiro garfo.

Passo 2: monte o prato com estratégia

Pense no seu prato como um “projeto de saciedade”. Metade dele pode ser de baixa densidade calórica: saladas, legumes, verduras. Um quarto com proteínas (feijão, ovos, frango, peixe, carne magra, tofu). O último quarto com carboidratos de qualidade (arroz, batata, mandioca, grãos). Esse equilíbrio ajuda a chegar aos 80% de forma confortável. E reduz a vontade de repetir.

Passo 3: mastigue e desacelere

A regra é simples: mastigue mais, fale menos ao comer, e pouse os talheres entre as garfadas. Desligue telas e distrações, porque elas fazem a gente comer sem perceber. Sinta cheiro, textura e temperatura dos alimentos. Quanto mais presença, mais rápido você reconhece a saciedade chegando. Comer devagar não é frescura: é ciência aplicada ao dia a dia.

Passo 4: faça uma pausa consciente

Quando sentir que “está quase”, pare 5 a 10 minutos. Beba água, converse, respire. Essa pausa permite que o cérebro receba os sinais de plenitude. Se depois dela você ainda tiver fome, coma mais um pouco. Se a fome tiver passado, finalize. Essa simples pausa é o coração do hara hachi bu. Ela transforma um impulso em decisão consciente.

Passo 5: segundo serviço só se precisar

Em vez de encher o prato, sirva 70–80% do que você costumaria comer. Depois da pausa, avalie se realmente quer repetir. Muitas vezes, a vontade some. E quando não some, você repete com calma e sem culpa. Essa abordagem evita o “já que coloquei, vou comer”. O controle volta para você — e não para a porção servida.

Dica visual: reduza o tamanho do prato

Pratos menores criam a sensação de porção completa com menos comida. Copos altos parecem “mais líquidos” do que copos baixos, mesmo com o mesmo volume. Aproveite esses truques a seu favor. Eles diminuem a necessidade de força de vontade. Em casa, reorganize a cozinha para facilitar as escolhas boas. Ambiente certo = hábito mais fácil.

A força das proteínas

Proteína dá saciedade, preserva massa muscular e reduz beliscos. Inclua uma fonte de proteína em cada refeição: ovos, frango, peixe, laticínios, feijões, lentilha, tofu. Ao fazer isso, você naturalmente tende a comer menos calorias totais. E fica satisfeito por mais tempo. Hara hachi bu funciona melhor quando a proteína aparece com regularidade.

Fibras: volume com poucas calorias

Fibras “ocupam espaço” no estômago, modulam a digestão e alimentam o intestino. Verduras, legumes, frutas inteiras, feijões e grãos integrais são aliados da saciedade. Eles ajudam você a parar perto dos 80% sem sofrer. E ainda melhoram colesterol, glicemia e trânsito intestinal. É saúde por todos os lados.

Densidade energética: a chave escondida

Densidade energética é a quantidade de calorias por grama de comida. Alimentos com água e fibra têm poucas calorias por volume, então enchem mais. É por isso que salada, sopa, legume e fruta “forram” sem exagero de energia. Ao priorizar esses itens, você se sente satisfeito com menos. E o hara hachi bu acontece quase sozinho.

Ultraprocessados: como lidar com eles

Ultraprocessados são feitos para serem hiperpalatáveis, crocantes, cremosos, salgados e doces ao mesmo tempo. Eles enganam os sinais de saciedade, pedem repetição e passam do ponto com facilidade. Não precisa “nunca mais comer”: basta reduzir frequência e porção. Use hara hachi bu para reconhecer quando já foi suficiente. E volte ao seu plano sem drama.

E a ordem dos alimentos no prato?

Uma tática útil é começar pelos vegetais e pela proteína, deixando o carboidrato por último. Isso costuma reduzir o pico de glicose e dar saciedade mais cedo. Na prática, você come com mais calma e sente a plenitude chegar antes. O resultado é terminar a refeição no ponto certo. Simples, sem cálculos complicados.

Água, caldos e sopas a seu favor

Beber água ao longo do dia ajuda a diferenciar sede de fome. Incluir sopas leves, caldos e preparações ricas em água aumenta o volume com poucas calorias. Essa combinação favorece o hara hachi bu naturalmente. Você sente conforto no estômago, mastiga tranquilo e para antes do excesso. Pequenas escolhas somam grande resultado.

Comer fora: como não perder o controle

Restaurantes e delivery trazem porções generosas e muitos estímulos. Comece pedindo salada ou caldo leve. Divida o prato ou peça meia porção quando possível. Deixe a sobremesa para ocasiões especiais ou compartilhe. Pausa de 5–10 minutos continua valendo. Você pode aproveitar sem sair do seu plano.

Lanches que sustentam a saciedade

Lanche não é “refeição menor”: é ponte entre horários. Priorize opções com proteína e fibra: iogurte natural com fruta, queijo com tomate, frutas com castanhas, homus com palitos de cenoura. Esses lanches seguram a fome e evitam “atacar” a próxima refeição. Eles mantêm o hara hachi bu fácil de praticar.

Emoções e comida: um diálogo necessário

Ansiedade, tristeza, cansaço e tédio podem virar gatilhos de comer sem fome. Reconheça esses padrões com carinho, sem julgamento. Tenha uma pequena lista de alternativas: banho quente, caminhada breve, música, respiração. Se ainda assim a vontade de comer persistir, coma consciente e apliqe a pausa. Você continua no comando.

Rotina conta (e muito)

Durma o suficiente: pouco sono aumenta fome e desejo por ultraprocessados. Mantenha horários regulares para comer, sem longos períodos de “pular e exagerar”. Faça compras com lista e evite ir ao mercado com fome. Cozinhe porções planejadas e congele. Quanto mais organizada a rotina, mais natural vira o hara hachi bu.

E com a família, dá certo?

Sim, desde que o foco seja incluir alimentos de qualidade e não impor restrições rígidas. Para crianças e adolescentes, a prioridade é crescimento saudável; evite falar em “80%” de forma literal. Ensine a perceber a fome e a saciedade de modo leve. Use o exemplo: comer com calma, à mesa, sem telas. A casa toda ganha.

Quem deve ter cuidado extra

Gestantes, lactantes, idosos frágeis, pessoas com histórico de transtornos alimentares e atletas em treinos intensos precisam de orientação personalizada. Nessas situações, o objetivo é garantir energia e nutrientes adequados. Hara hachi bu pode ser adaptado, mas com acompanhamento. Quando em dúvida, procure um profissional.

Como medir seu progresso

Peso e medidas são úteis, mas não são tudo. Observe energia ao longo do dia, sono, disposição e humor. Repare se está beliscando menos, se come mais devagar e se a pausa de 5–10 minutos já virou hábito. Esses sinais mostram que você está no caminho. E ajudam a manter a motivação.

“Vou passar fome?”

Essa é uma preocupação comum — e a resposta costuma ser não. Ao priorizar proteína, fibras e água, você se sente satisfeito com menos. A pausa consciente evita extrapolar. E a flexibilidade permite ajustar porções em dias mais ativos. Hara hachi bu é para promover conforto, não sofrimento.

“Posso combinar com jejum ou low-carb?”

Pode, desde que faça sentido para você e seja equilibrado. Hara hachi bu é um “como comer” que funciona com diferentes estilos alimentares. O importante é manter variedade de nutrientes e evitar extremos. Se tiver condições de saúde específicas, converse com um profissional. Personalizar é sempre melhor.

“E quando eu sair da linha?”

Ninguém é perfeito, e isso não invalida o seu progresso. Registre o que aconteceu, entenda o gatilho e retome na próxima refeição. Consistência vale mais que perfeição. Cada prática é uma oportunidade de aprender sobre o próprio corpo. Hara hachi bu é um caminho, não um teste.

Transforme curiosidade em conhecimento

Se este tema te despertou interesse, aprofunde-se: observe sua fome em diferentes horários, teste a ordem dos alimentos, brinque com sopas e saladas, perceba o efeito de dormir melhor. Quanto mais você entende o próprio corpo, mais fácil praticar. E mais natural fica parar nos 80% de saciedade.

Monte seu plano pessoal hoje

Escolha duas refeições do dia para aplicar o hara hachi bu por uma semana. Combine com proteína e vegetais em todas elas. Faça a pausa de 5–10 minutos antes de repetir. Anote o que sentiu e ajuste no dia seguinte. Em pouco tempo, o hábito estará mais firme — e os resultados, aparecendo.

Conclusão: simples, gentil e eficaz

Hara hachi bu é uma forma elegante de comer com consciência, sem listas proibitivas. Ele reduz exageros, melhora o bem-estar e cabe na rotina real. O segredo está no conjunto: proteína, fibras, alimentos pouco processados, ritmo mais calmo e pausa consciente. Comece hoje e sinta a diferença nas próximas semanas.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 

Bibliografia:

  1. https://health.clevelandclinic.org/dont-eat-until-youre-full-instead-mind-your-hara-hachi-bu-point
  2. Karl JP, Roberts SB. Energy density, energy intake, and body weight regulation in adults. Adv Nutr. 2014 Nov 14;5(6):835-50. doi: 10.3945/an.114.007112. PMID: 25398750; PMCID: PMC4224224.
  3. Maruyama K, Sato S, Ohira T, Maeda K, Noda H, Kubota Y et al. The joint impact on being overweight of self reported behaviours of eating quickly and eating until full : cross sectional survey BMJ 2008; 337 :a2002 doi:10.1136/bmj.a2002
  4. Willcox BJ, Willcox DC, Todoriki H, Fujiyoshi A, Yano K, He Q, Curb JD, Suzuki M. Caloric restriction, the traditional Okinawan diet, and healthy aging: the diet of the world's longest-lived people and its potential impact on morbidity and life span. Ann N Y Acad Sci. 2007 Oct;1114:434-55. doi: 10.1196/annals.1396.037. PMID: 17986602.

Reportagem do fantástico sobre Soroterapia - Por. Dra. Ana Gabriela Magalhães

 

O que é Fibremaxxing?




O termo “Fibremaxxing” vem da junção de fibre (fibra) e maxxing (do inglês “maximizar”) e se popularizou em 2024–2025 como uma tendência de nutrição voltada para aumentar a ingestão diária de fibras.

O que significa na prática


Meta de fibras: o foco é chegar em 30–40 g/dia (ou até mais, em alguns protocolos) bem acima da média consumida pela população.

Fontes principais: frutas, verduras, legumes, leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico), cereais integrais, sementes (chia, linhaça, gergelim), castanhas e alimentos ricos em amido resistente (banana verde, arroz “dormido”, batata resfriada).

Objetivo central: usar fibras para melhorar saciedade, controle glicêmico, saúde intestinal e microbiota, além de ajudar na perda de peso e no metabolismo.

Por que Fibremaxxing ficou em alta em 2025


Estudos recentes mostraram que aumentar fibras pode ser tão eficaz quanto certas estratégias farmacológicas para modular saciedade. A cultura da saúde intestinal ganhou força: prebióticos, pós-bióticos, “prebiotic sodas” e fermentados.

A estratégia é vista como um “atalho nutricional” para quem busca emagrecer sem cortar grupos alimentares.

Como aplicar o Fibremaxxing?


Trocas simples: pão branco → integral, arroz branco → integral, snacks → frutas/sementes.

Adicionar em camadas: aveia na vitamina, linhaça no iogurte, feijão todo dia.

Fermentados + fibras: kombucha, kefir e iogurte ajudam as bactérias a fermentar essas fibras.

Hidratação obrigatória: beber água suficiente é essencial para evitar constipação.

Em resumo: Fibremaxxing é a estratégia de maximizar fibras no dia a dia para colher benefícios metabólicos, intestinais e de saciedade.

Recentemente escrevi alguns textos sobre fibras: 


Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 

Liraglutida, Semaglutida e Tirzepatida: como emagrecer sem perder massa magra



Usar agonistas de GLP-1 (como semaglutida e liraglutida) ou duais GIP/GLP-1 (como tirzepatida) pode acelerar o emagrecimento, porém, também pode reduzir massa magra se a estratégia nutricional e o treino não estiverem alinhados. 

A boa notícia: dá para eliminar gordura preservando (ou até ganhando) músculo com um plano elaborado por profissionais especialistas na área. 

Ou seja, sempre bato nessa tecla aqui, jamais faça utilização das "canetas" para tratamento da obesidade sem supervisão de um profissional capacitado. Procure profissinais sérios e que tenham expertise em manejo da obesidade/sobrepeso. 

Aqui eu explico, de forma prática, metas de proteína, um treino de força minimalista e ajustes inteligentes que aplico no consultório em Goiânia.

Por que GLP-1 pode reduzir massa magra e como evitar?


Medicamentos da classe dos análogos de GLP-1 reduzem apetite e ingestão calórica ( de macronutrientes, vitaminas, minerais). Se você come menos proteína e não treina estímulos mecânicos suficientes, o corpo tende a consumir também tecido magro (músculo e até mesmo osso), não só gordura. Então nesses pacientes, eu e meu nutricionistas sempre deixamos claro para eles, que devemos dar atenção a 4 pontos: 
  1. Bater proteína diária e por refeição
  2. Treinar força 2–4x/semana (corpo todo)
  3. Dormir bem e manter hidratação/eletrólitos
  4. Monitorar exames e ajustar dosagens com acompanhamento médico de um bom nutrólogo, ético e responsável, que não prescreverá substâncias proibidas pela ANVISA ou CFM

Proteína por dia e por refeição: metas que funcionam


Meta diária: em geral acima de 1,2g/kg/dia (ajustamos conforme exames, idade, composição corporal e objetivos). Importante salientar que o Nutrólogo não é o profissional mais habilitado parar elaborar o plano alimentar. O nutricionista é peça chave para isso. Aqui puxo "sardinha pra minha brasa". Treinei o Rodrigo (nosso nutricionista na clínica) desde 2018. Hoje ele trabalha com quase 20 endócrinos e nutrólogos. Tem vastíssima experiência clínica no tratamento da obesidade, reconhece a importância do tratamento farmacológico da obesidade e sabe contornar os percalços no campo nutricional, principalmente quando se trata dos efeitos adversos do uso de análogos de GLP-1/GIP. 

Meta por refeição: distribuir em 3–4 refeições que atinjam o “gatilho de leucina” (tipicamente 25–40 g de proteína de alto valor biológico por refeição).

Priorize fontes: ovos, peixes, aves, cortes magros, laticínios (se bem tolerados), whey. Mas dr. eu sou vegano ! Aí será necessário aumentado a ingestão de leguminosas combinadas com cereais, tofu/tempeh e/ou proteínas veganas. Há varias opções no mercado. O que não pode é ficar com baixo aporte protéico. 

Treino de força minimalista (3x/semana) que preserva músculo


Você não precisa viver na academia, precisa de progressão estruturada e que respeite o seu corpo. Devendo os ajustes serem feitos à medida que o corpo vai acostumando com o estímulo ou quando os resultados estagnam. Estrutura base (30–45 min). Aqui entra o profissional da educação física. No mundo ideal sempre terá a presença de um personal trainer. No mundo real a gente sabe que nem sempre isso é po$$ível, justamente por fatores financeiros. Então adaptaivos. 

Não tem condições de pagar um personal, treine em academia e exija o mínimo de supervisão dos professores locais. Existe a opção de comprar Treinos prontos de Consultoria especializada, por um preço reduzido. 

Mas Dr, eu não quero treinar em academia! 
R: Treine em casa, mas o ideal é que seja sob supervisão, para evitar lesões. 

Mas Dr, eu não quero fazer musculação, eu quero fazer beach tenis!
R: Você quer ciência ou quer apenas se movimentar? A gente tem que ter em mente o seguinte: você está gastando com uma medicação cara, eficaz. Precisa ter estínulo muscular adequado para minimizar um efeito colateral que é a perda de músculo oriunda do medicamento. O beach tenis vai ajudar? Vai, mas pouco. 

Mas Dr, eu li que atividade física ajuda pouco no emagrecimento e eu não tenho tempo pra fazer. 
R: Sim, baixo impacto quando se trata de gerar déficit calórico, mas nesse caso ela é utilizada para melhorar (mesmo que pouco) o seu gasto energético basal, minimizar a perda de músculo e osso, melhorar a composição corporal, reduzir a resistência insulínica. Ou seja, com sedentarismo não negocio. O paciente tem que estar ciente que precisará fazer algo. Eu sou Nutrólogo, o Rodrigo Nutricionista e profissional da Educação física, ainda não fomos canonizados pela igreja católica. Não fazemos milagres. Não nos procure com essa expectativa. 

Suplementos que potencializam resultados


Esses suplementos são para todos? Não ! Definitivamente NÃO ! Porém, pode ser que você precise.

Como saberemos? Só após anamnese, exame físico, exame de imagem, análise da composição corporal, dinamometria, exames laboratoriais. Entendeu a complexidade? Não basta chegar no balcão da loja de suplementos ou pedir pela internet. Evite desperdiçar dinheiro.

Quais são eles: 
  1. Creatina monohidratada: segura, barata, melhora força e ajuda a preservar massa magra.
  2. Proteína em pó (whey/isolado/ proteína vegana): complemento, não substituto de comida.
  3. Vitamina D.
  4. Ômega-3 caso não atinja as necessidades básicas pela alimentação
  5. Magnésio: também, caso você não atinga as necessidades através da dieta. 
  6. Eletrólitos: úteis se você transpira muito, tem cãibras ou reduz carboidratos.
Como citado acima, eles são idicados conforme anamnese dirigida e exames.  É importante lembrar que suplementos não substituem dieta adequada e treino, multiplicam o efeito do que você já faz de forma adequada.

Sono, estresse e hidratação: os “multiplicadores silenciosos”


Multiplicadores pilares para evitar a perda de massa magra:
  1. Sono: 7–9 h/noite. Déficit de sono aumenta fome, aumento da avidez por carboidratos e gorduras e piora a recuperação muscular.
  2. Estresse: técnicas simples (respiração, exposição solar manhã, caminhadas) já ajudam a melhorar o manejo do estresse. Assim como a psicoterapia tem papel primordial na compressão do que que está levando a esse estresse ou ansiedade. 
  3. Hidratação: 30–35 mL/kg/dia como referência: ajuste por clima da cidade, treino e medicação. Em dias quentes, avalie solução de eletrólitos.

Biomarcadores e exames: o que acompanhar no consultório


A lista exata de exames é individual, mas com frequência monitoro:
  1. Hemograma, marcadores bioquímicos
  2. Vitaminas dosáveis
  3. Minerais dosáveis
  4. TSH/T4L
  5. Composição corporal (bioimpedância por protocolo ou DEXA) e medidas (cintura, circunferência de braço/coxa).
  6. Dinamometria

Erros comuns que fazem você perder músculo

  1. Proteína insuficiente (ou concentrada só no almoço e jantar).
  2. Excesso de aeróbico com déficit calórico grande e sem treino de força.
  3. Pular treino por “cansaço do remédio”: reduza volume, não zere estímulo.
  4. Dormir pouco: a recuperação despenca.
  5. Suplementar sem estratégia (ou esperar milagre dos suplementos).
  6. Cortar carboidrato demais e prejudicar performance/adesão.

Quando pausar, ajustar e solicitar orientação médica

Há situações que existem análise, cautela e muitas vezes mudança de rumos, são elas:
  • Perda de peso muito acelerada com queda de performance e fadiga extrema.
  • Tonturas, taquicardias, hipoglicemias.
  • Constipação, efeito comum dos análogos de GLP1
  • Náuseas persistentes, refluxo: adotamos medidas para reduzir, tratar os sintomas. 
  • Dor abdominal: tentar buscar a causa
  • Cãibras frequentes: revisar hidratação e eletrólitos.
  • Alterações em exames (renal/hepático) ou pressão arterial.

Checklist rápido (copie e salve)

Abaixo um checklist rápido que entrego para os meus pacientes, para ficarmos atento à perda de músculo:
  • Proteína diária alcançada
  •  3–4 refeições com quantidade adequada de proteína em cada.
  • Treino de força 3×/sem 
  • Sono 7–9 h
  • Hidratação adequada: 30-35ml/kg/dia de líquidos
  • Creatina: se indicado
  • Whey ou proteína vegana: se indicado
  • Exames atualizados e acompanhamento.

Perguntas frequentes (FAQ) sobre análogos de GLP-1

Análogos de GLP-1 sempre causa perda de músculo?
Não. A perda de massa magra não é inevitável: proteína certa, treino de força e boa recuperação preservam (ou aumentam) músculo mesmo com GLP-1. Mas na prática vemos que alguns pacientes são mais ou menos propensos a perder músculo. Como saberemos? Tentativa de erro e acerto. Por isso batemos na tecla de proteína e treino de força. 

Preciso de creatina?
Na maioria dos casos, ajuda força/recuperação para quem faz treino de força. Avaliamos histórico médico, exames e tolerância individual.

Posso fazer jejum intermitente com GLP-1?
Pode, mas não é obrigatório. Mais importante é bater proteína e treinar. Se o jejum atrapalhar o treino, preferimos janelas alimentares que sustentem performance.

Qual o melhor horário para treinar?
O horário que você cumpre. Em se tratado de uso de análogos de GLP-1, muitos preferem treinar quando a energia está mais alta. Se náusea aparecer, ajuste a refeição pré-treino (menor volume, mais proteína).

Quanto tempo até ver resultados de composição corporal?
Com adesão, 4–8 semanas já mostram melhora de força, medidas e bem-estar; composição mais evidente surge ao longo de 12+ semanas. Importante frisar que não adianta ficar fazendo bioimpedância semanalmente, principalmente em mulheres. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 
Revisor: Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Fake News em Nutrologia oncológica - Por Dr. Pedro Dal Bello

 

Anabolizantes e risco de suicídio: sintomas, perigos e como buscar ajuda agora




O que são anabolizantes e quando são indicados


Os anabolizantes, também chamados esteroides androgênicos anabólicos (EAA), são hormônios sintéticos derivados da testosterona. Na medicina, sua indicação clássica é o hipogonadismo masculino, situação em que há deficiência comprovada na produção de testosterona. Fora desse contexto, o risco supera o benefício. O que promete força pode abrir portas para uma queda emocional profunda. É por isso que informação, avaliação e cautela salvam vidas.

E aqui faço um adendo, Nutrólogo NÃO É o profissional mais habilitado para prescrição de hormônios. Caso o paciente realmente precise fazer reposição, deve preferencialmente procurar um Endocrinologista para descobrir a causa da deficiência. 

Recentemente escrevi sobre saúde mental e anabolizantes, já que estou assustado com a quantidade de casos que estou recebendo no consultórios, de pacientes que viram a saúde mental ruir por prescrição iatrogênica de alguns "portadores de diplomas de Medicina". Para ler o texto acesse: https://www.ecologiamedica.net/2025/08/o-lado-sombrio-do-shape-perfeito.html

O uso estético e esportivo que adoece


Há uma crescente comercialização para fins estéticos, hipertrofia e melhora de desempenho. Em atletas, é doping; em não atletas, é proibido, impróprio e danoso. O marketing do “corpo perfeito” esconde custos físicos e psíquicos altos. O desejo de mudar o espelho não pode custar sua saúde mental. Nenhuma vaidade vale a sua vida.

“Modulação hormonal” sem diagnóstico: um falso atalho


Também entram nessa conta as chamadas prescrições de “modulação hormonal” sem hipogonadismo diagnosticado. Ajustar hormônios sem critério vira uma roleta com a sua mente e seu coração. O risco de colapsos emocionais aumenta. Lembre: hormônio não é suplemento. É medicamento com efeitos imprevisíveis fora da indicação correta.

Saúde física e saúde mental: dois lados do mesmo risco


Quando falamos de EAA, não é só o fígado ou o coração que sofrem. A mente também sangra. Além de inúmeras consequências físicas, existem impactos severos na saúde mental. O brilho do músculo pode vir acompanhado de noites sem dormir, impulsos agressivos e um vazio que assusta. O custo emocional costuma aparecer quando já é tarde.

Transtornos depressivos: a sombra que se aproxima


A literatura descreve maior prevalência de quadros depressivos entre usuários. O humor cai, a motivação some, a culpa aumenta. Projetos perdem cor, relações se desgastam. O espelho mostra volume, mas por dentro cresce a sensação de inutilidade. Depressão não é fraqueza: é doença que precisa de tratamento profissional.

Impulsividade suicida: quando o impulso vira perigo


O uso inadequado de EAA está associado à impulsividade suicida. É uma combinação perigosa: agitação emocional, redução do sono e tolerância ao risco. Uma discussão vira gatilho, uma frustração vira abismo. Sem ajuda, a pessoa pode tomar decisões irreversíveis em minutos. Reconhecer isso é prevenção.

Hipomania e instabilidade do humor


Os EAA podem precipitar quadros de hipomania, forma do transtorno bipolar. A pessoa fica eufórica, confiante, com necessidade reduzida de sono. Depois, vem a queda abrupta para a tristeza profunda. Essa montanha-russa corrói vínculos, trabalho e autoestima. A instabilidade contínua aumenta o perigo de comportamentos autodestrutivos.

Insônia e privação de sono: gasolina no fogo


Insônia não é apenas incômodo; é combustível para ansiedade, irritabilidade e impulsividade. Com EAA, dormir menos parece “normal”, mas o cérebro cobra a conta. A falta de sono piora julgamentos, aumenta riscos e desregula emoções. Dormir é tratamento, e ignorar o sono é se colocar no limite.

Agressividade e violência: rupturas que doem


Relatos citam impulsividade agressiva e violenta, com brigas, demissões e perdas afetivas. O que começa na academia termina em delegacia, isolamento e culpa. Famílias se desconstroem sob ataques de raiva que “não parecem seus”. Procure ajuda ao primeiro sinal: agressividade não é normalização de masculinidade.

Episódios psicóticos: quando a realidade racha


Também há episódios psicóticos descritos, com delírios e alterações de percepção. O corpo forte não protege a mente do colapso. A pessoa pode perder a noção do perigo e expor-se a situações letais. Psicose é urgência médica; não espere. Terapia e psiquiatria podem estabilizar o quadro e devolver segurança.

A armadilha da suspensão: abstinência que machuca


Os sintomas podem surgir durante o uso prolongado e na suspensão. Na abstinência, aparecem queda brusca de humor, irritabilidade, fadiga e desesperança. O corpo pede mais, a mente se desespera. Sem acompanhamento, esse período vira o pico do risco. Planeje a saída com profissionais qualificados.

Nem sempre dá para prever a predisposição


As publicações sugerem que sintomas psiquiátricos e conflitos decorrentes do uso prolongado podem contribuir para o suicídio em indivíduos predispostos. O problema: nem sempre é possível prever quem é vulnerável. Ao usar EAA sem indicação, você assume um risco que pode custar sua vida. Precaução é proteção.

A face mais dura: mortalidade em usuários


Estudos que investigaram mortes entre usuários de EAA encontraram maioria de homens jovens. As causas mais frequentes foram intoxicação acidental, suicídio e homicídio. São histórias interrompidas no auge, famílias em luto, sonhos abandonados. Treinar o corpo não pode treinar a roleta da morte. Escolha viver.

Fertilidade em xeque: o preço invisível


Quase metade dos usuários avaliados apresentaram atrofia testicular. Também foram observadas fibrose testicular e espermatogênese interrompida. O resultado é infertilidade, queda de libido e vergonha silenciosa. O shape do verão pode roubar a paternidade do futuro. Pense antes de arriscar.

Coração sob ataque: cardiomiopatia e artérias estreitas


Foram encontrados problemas na musculatura cardíaca e estreitamento moderado a grave das artérias coronárias. Isso significa menos sangue para o coração, mais arritmias e risco de eventos. Dor no peito não é “pump”; é alerta. Não ignore taquicardia, falta de ar e pressão alta. O coração também pede socorro.

Corpo forte, relações frágeis


Os EAA frequentemente destroem relações pessoais e trabalho. Agressividade, isolamento e conflitos crônicos levam a demissões, separações e perda de rede de apoio. Sem vínculos, o risco de depressão e suicídio aumenta. A vida não é só treino e dieta; é pertencimento e cuidado.

O ciclo da vergonha: calar aumenta o risco


Muitos escondem o uso por medo e estigma. Esse silêncio atrasa o diagnóstico e piora os desfechos. Vergonha não cura; conversa honesta sim. Profissionais de saúde não estão aqui para julgar, e sim para cuidar. Falar cedo diminui danos e salva histórias.

Sinais de alerta que pedem ajuda imediata


Procure ajuda se surgirem tristeza persistente, ideias de morte, impulsividade, insônia, paranoia ou agressividade fora do seu padrão. Amigos e familiares, levem a sério. Se houver risco, não deixem a pessoa sozinha. A vida tem prioridade absoluta. A intervenção precoce é decisiva.

Tratamento funciona: caminhos seguros


A saída passa por psicoterapia, avaliação psiquiátrica e manejo médico da suspensão quando necessário. O objetivo é estabilizar o humor, tratar comorbidades e reconstruir rotina e vínculos. Cada caso é único, mas há tratamento. Com orientação certa, é possível retomar o controle.

A decisão corajosa: pedir ajuda


Pedir ajuda é um ato de coragem e amor-próprio. O que está em jogo não é só estética; é o seu futuro. Procure nutrólogo, clínico, psicólogo e psiquiatra para um plano conjunto. Abandonar o ciclo sem suporte é arriscar recaídas. Com equipe, você não caminha sozinho(a).

Informação que protege: escolhas conscientes


Antes de aceitar “protocolos” prontos, questione indicação, dose, tempo e riscos. Não existe bioquímica mágica que cancele efeitos mentais. Se a promessa parece perfeita, desconfie. Informação séria, baseada em ciência, é o melhor suplemento. Conhecimento é prevenção.

Suporte à família e aos amigos


Quem convive com o usuário sofre junto. Aprenda a identificar mudanças bruscas de humor, isolamento e comentários de desesperança. Ofereça escuta, estimule atendimento profissional e ajude na adesão ao tratamento. A rede de apoio é um fator protetor fundamental.

Academia e saúde: parceria possível


Treinar é saúde; distorção corporal e atalho hormonal não são. Construa força com treino estruturado, nutrição adequada e descanso. Resultados reais levam tempo e preservam a mente. Respeite seus limites e procure acompanhamento qualificado. Seu corpo agradece; sua mente também.


Profissionais que realmente ajudam


Psicólogos e psiquiatras têm formação para escuta especializada e manejo de risco de suicídio. Endocrinologistas e Urologistas avaliam impactos orgânicos e planejam estratégias seguras. Personal trainner, Coachs, influenciadores e “protocolos” da internet não substituem equipe de saúde. Profissionalismo salva vidas.

O mito do controle


“Eu controlo” é frase comum antes do colapso. O corpo cria tolerância, a mente fica instável, e a vida desorganiza. Controle real é admitir o risco e buscar orientação. Não espere a crise bater. Agir agora é mais fácil do que reconstruir depois.

Planeje a saída com segurança


Se você decidiu parar, não faça sozinho(a). A suspensão exige plano terapêutico, monitorização e, às vezes, medicação. Sem isso, a chance de depressão e ideação suicida aumenta. Combine com sua equipe passos, prazos e sinais de alarme. Segurança primeiro, sempre.

Compromisso com a vida


Você vale muito mais do que um antes e depois. Há projetos, afetos e futuros esperando por você. O caminho exige paciência, mas há luz possível. Procure ajuda hoje e dê o primeiro passo. Viver bem é o melhor resultado.

Onde buscar ajuda agora


Se houver risco imediato, acione 190/192. Para apoio emocional, CVV – 188 (24h). Se precisar, posso indicar profissionais presenciais e on-line. Não minimize sinais; sua vida importa. Compartilhe este texto com quem precisa ouvir que há saída.

Mensagem final


Anabolizantes sem indicação médica custam caro: mente em frangalhos, coração em risco, laços rompidos. Transforme a preocupação em ação. Marque uma consulta, converse com quem você ama e priorize a sua saúde mental. O melhor shape é aquele que preserva sua vida.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 

Setembro Amarelo: sinais, fatores de risco e onde buscar ajuda: prevenção do suicídio



Uma data que não se apaga

Por quase 15 anos relutei em adentrar esse tema. Perdi meu pai em 10 de setembro de 2003 e  ironicamente, no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Foi um assunto espinhoso, cercado de silêncio e tabu. Escrevo com o coração apertado para que outras famílias não conheçam esse mesmo vazio.

Como nasceu o Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo começou nos Estados Unidos, em 1994, após a morte por suicídio de Mike Emme, 17 anos. Talentoso, ele restaurou um Mustang 68, pintando-o de amarelo — daí o apelido “Mustang Mike”. Familiares e amigos não perceberam seu sofrimento psíquico a tempo. No velório, distribuíram cartões com fitas amarelas e a mensagem: “Se você precisar, peça ajuda.” O gesto se espalhou e o laço amarelo virou símbolo mundial de prevenção.

A campanha no Brasil: falar é necessário

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente a campanha Setembro Amarelo. Durante todo o mês, o objetivo é conscientizar, reduzir estigma e prevenir. Falar sobre suicídio com responsabilidade salva vidas.

O que vi na prática clínica

Ao longo dos anos, colecionei histórias dolorosas: médicos, familiares de colegas, amigos, profissionais de saúde, professores e alguns pacientes. Por isso, sempre rastreio ideação suicida nas consultas — às vezes pessoalmente, às vezes em questionários. A realidade surpreende: muita gente já pensou em morrer ao menos uma vez. Isso não significa que a pessoa irá morrer por suicídio, mas é um sinal de alerta que pede atenção imediata.

Números que doem

Segundo a OMS (2019), são registrados mais de 700 mil suicídios por ano no mundo — e o número real pode ser ainda maior por subnotificação. No Brasil, são aproximadamente 14 mil casos anuais, em média 38 mortes por dia. O impacto é imenso e atinge famílias, comunidades e serviços de saúde.

“Falar é a melhor solução” — e identificar é o primeiro passo

A campanha da ABP insiste: identificar ideações e falar com responsabilidade podem evitar a maioria dos atos. Informação de qualidade, acolhimento e acesso a tratamento reduzem risco e devolvem esperança.

Doenças mentais e o acesso ao cuidado

Grande parte dos casos envolve transtornos mentais — muitas vezes não diagnosticados ou tratados de forma inadequada. Após a pandemia, o cenário ficou mais desafiador para muita gente. Tratamento psiquiátrico e psicoterapia são pilares que salvam vidas; quando faltam, o sofrimento se aprofunda.

Escuta especializada: por que isso importa

Sim, falar importa e ouvir importa. Mas, em risco de suicídio, é crucial uma escuta especializada. Psicólogos e psiquiatras possuem formação, técnicas e protocolos para transformar a fala em cuidado terapêutico. Boas intenções nas redes sociais não substituem acompanhamento profissional.

Barreiras no caminho e o que precisa mudar

No SUS e na saúde suplementar, o acesso pode ser difícil e demorado. A ANS (2022) ampliou a cobertura de sessões para psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional em doenças listadas pela OMS — avanço importante, mas ainda insuficiente diante da demanda. Precisamos de mais serviços de saúde mental, menos filas e menos estigma.

Estigma não trata dor

Por motivos religiosos, morais e culturais, o suicídio foi por muito tempo encarado com culpa e julgamento. O resultado é silêncio e solidão para quem sofre. O comportamento suicida é multifatorial: envolve fatores psicológicos, biológicos (inclusive genéticos), culturais e socioambientais. É a consequência de um processo, não de um único evento.

Fatores protetores que salvam

  • Ausência de doença mental ativa
  • Autoestima fortalecida
  • Bom suporte familiar e social
  • Capacidade de adaptação e resolução de problemas
  • Vínculo terapêutico positivo
  • Emprego/ocupação, sentido existencial e participação religiosa/espiritual para quem valoriza
  • Responsabilidade com a família e ter crianças em casa
  • Pré-natal e cuidados de rotina bem feitos

Fatores de risco que exigem vigilância

  • Abuso sexual na infância.
  • Maus-tratos, violência, conflitos familiares, uso de substâncias, depressão, desempenho escolar ruim, bullying, incerteza sobre orientação sexual, exposição ao suicídio de pessoas próximas ou figuras públicas.
  • Alta recente de internação psiquiátrica.
  • Impulsividade/agressividade.
  • Isolamento social (agravado na pandemia) e comportamentos antissociais.
  • História familiar de tentativa ou morte por suicídio.
  • Tentativa prévia (maior preditor individual).
  • Transtornos mentais: depressão, bipolaridade, abuso/dependência de álcool e outras drogas, transtornos de personalidade, esquizofrenia, comorbidades múltiplas.
  • Doenças clínicas graves/crônicas: câncer, HIV, doenças neurológicas (esclerose múltipla, Parkinson, Huntington, epilepsia), cardiovasculares (IAM, AVC), DPOC, doenças reumatológicas (como lúpus). Meses iniciais após o diagnóstico e sintomas refratários aumentam o risco.

O que cada um pode fazer hoje

  • Buscar e seguir tratamento para doenças mentais.
  • Ampliar vínculos com família e amigos.
  • Reduzir/evitar álcool e outras drogas.
  • Retomar atividades com significado (hobbies, voluntariado, espiritualidade).
  • Construir um plano de segurança com seu(a) terapeuta/psiquiatra.
  • Crises passam; com apoio certo, a vida pode reencontrar propósito e cor.

Mitos que machucam

Erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, contribuindo para formação de um estigma em torno da doença mental e do comportamento suicida.  O estigma resulta de um processo em que pessoas são levadas a se sentirem envergonhadas, excluídas e discriminadas. A tabela 1 ilustra os mitos sobre o comportamento suicida. O conhecimento pode contribuir para a desconstrução deste estigma em torno do comportamento suicida.


Onde buscar ajuda agora

Caso precise de indicação de Psiquiatra e/ou Psicólogo, tenho uma lista aqui. Todos atendem presencial e online. 

Se chegou a esse texto por estar apresentando ideação suicida (nesse momento), sugiro ligar para o CVV – Centro de Valorização da Vida. O CVV é um serviço de apoio emocional gratuito e realizado por voluntários. Em 2017, foram cerca de 2 milhões de atendimentos. 

O modelo é sigiloso e não diretivo, ou seja, não há aconselhamento ou julgamento. Realizam suporte emocional e prevenção do suicídio, atendendo gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone (nº188), e-mail e chat. 

O serviço está disponível 24 horas por dia. Link: https://www.cvv.org.br/ 

Uma outra opção é procurar auxílio em algum pronto-socorro psiquiátrico. 


Fontes:

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui. 


Alimentos da safra de Setembro - Por que consumir e quais as vantagens de consumí-los ?



Por que consumir alimentos da safra de Setembro? Existem vantagens?


Motivo 1: Se está na safra, provavelmente o preço está menor. Mais economia para o seu bolso.

Motivo 2: Tendem a ter maior densidade nutricional, a quantidade de nutrientes, em especial antioxidantes é maior, visto que, utiliza-se menos agrotóxicos e o vegetal precisa se adaptar a situações inóspitas (pragas, calor, frio, umidade, radiação solar, ventos). Ou seja, ele produz mais "defesas", nesse caso os polifenóis, que são antixodantes. Os alimentos da safra são colhidos no momento ideal de maturação, o que significa que estão no auge do seu sabor, textura e valor nutricional. Consumí-los garante que você esteja recebendo produtos frescos e de melhor qualidade.

Motivo 3: Safra = maior abundância. Provavelmente terá menos agrotóxicos (eu disse menos, não que não tenham). Se a está na safra, naturalmente naquela época do ano aquele alimento desenvolve mais facilmente. Não sendo necessário uso de agrotóxicos ou caso o agricultor utilize, a quantidade tende a ser menor. Menos agrotóxico, menos veneno. Em breve o Ministério da saúde publicará um guia sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Tema totalmente negligenciado na Medicina. 

Motivo 4: Os vegetais na safra são encontrados mais facilmente nas feiras e mercados. O Brasil é um país vasto e diversificado, com diferentes regiões climáticas que possibilitam o cultivo de uma grande variedade de alimentos ao longo do ano. Consumir alimentos da safra permite que você experimente uma ampla gama de frutas, legumes e verduras, aproveitando a diversidade da culinária brasileira.

Motivo 5: Sustentabilidade e apoio ao agricultores locais.  Consumir os alimentos da safra vigente é um ato de sustentabilidade, pois respeita o tempo da natureza e economiza energia e recursos extras de forma intensiva ou no transporte por diferentes distâncias. Escolher alimentos da safra muitas vezes significa apoiar práticas agrícolas mais sustentáveis. Como esses alimentos estão disponíveis localmente e não precisam ser transportados por longas distâncias, há uma redução significativa na pegada de carbono associada ao seu consumo. Além disso, os produtores locais que cultivam alimentos da safra geralmente empregam técnicas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente.  Comprar alimentos da safra de produtores locais contribui para fortalecer a economia da sua região. Ao apoiar os agricultores locais, você ajuda a manter empregos na comunidade e a promover um sistema alimentar mais justo e sustentável. 


Frutas de Setembro
Abacate Prince e Wagner
Acerola
Banana prata e maçã
Caju
Graviola
Jabuticaba
Laranja pêra
Maçã Fuji e Del Rey
Mamão formosa 
Maracujá azedo
Sapoti
Tamarindo
Tangerina Murcot



Verduras e Legumes de Setembro
Agrião
Aspargos
Brócolis
Coentro
Couve
Couve-flor
Escarola
Espinafre
Palpito
Rabanete
Abóbora paulista
Abobrinha italiana
Alcachofra
Berinjela 
Cará
Chuchu
Ervilha comum e torta
Inhame
Jiló
Mandioca

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Se você gostou desse texto e deseja saber como incorporar esses alimentos na sua alimentação, clique aqui. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Bebidas Diet: O Que a Ciência Revela Sobre Seu Consumo



Bebidas adoçadas artificialmente: realmente seguras?


O consumo de refrigerantes e bebidas adoçadas artificialmente (diet ou light) tem crescido muito nas últimas décadas, principalmente entre pessoas que buscam reduzir calorias. No entanto, a literatura científica aponta que o uso frequente dessas bebidas pode estar associado a potenciais riscos à saúde. Estudos observacionais sugerem aumento discreto do risco de mortalidade geral e por doenças cardiovasculares, ainda que com baixo grau de certeza. Isso mostra que o tema precisa ser analisado com cautela.

Riscos cardiovasculares associados às bebidas diet


Pesquisas em grandes coortes europeias identificaram que um consumo diário elevado de bebidas dietéticas está relacionado a maior risco de morte por doenças circulatórias. O aumento médio observado foi de 4% no risco de mortalidade a cada 250 mL ingeridos por dia. Apesar do impacto absoluto ser pequeno, os resultados chamam atenção para o uso contínuo dessas bebidas. Isso reforça a importância de repensar estratégias de prevenção em saúde pública.

Síndrome metabólica e alterações no metabolismo


Outra preocupação frequente é a associação entre bebidas adoçadas artificialmente e síndrome metabólica. Estudos indicam que consumidores regulares apresentam maior circunferência abdominal, glicemia de jejum mais elevada e maior prevalência de resistência insulínica. Ainda assim, há a possibilidade de causalidade reversa: pessoas já em risco metabólico tendem a optar pelas versões diet como forma de prevenção. Mesmo assim, a dúvida sobre um efeito negativo independente persiste.

Bebidas diet e risco de câncer: o que sabemos até agora?


No campo oncológico, os dados ainda são limitados. Algumas meta-análises sugerem associação discreta entre o consumo de refrigerantes dietéticos e maior risco de leucemia. No entanto, não há consistência em relação a outros tipos de câncer. A certeza dessas evidências é considerada baixa, e não se observou aumento significativo da mortalidade por câncer em estudos de larga escala. Portanto, o risco oncológico permanece incerto e precisa de mais investigação.

Bebidas diet ajudam a emagrecer?


Muitas pessoas substituem refrigerantes tradicionais por versões dietéticas com o objetivo de emagrecer. De fato, ensaios clínicos apontam que essa troca pode auxiliar na redução da ingestão calórica e contribuir para evitar ganho de peso. No entanto, faltam evidências de longo prazo sobre os efeitos do consumo contínuo de adoçantes artificiais. O que sabemos é que, isoladamente, a mudança não garante emagrecimento duradouro, pois o contexto alimentar como um todo é determinante.

Devemos evitar ou moderar o consumo?


O conjunto das evidências aponta que o consumo frequente de bebidas adoçadas artificialmente pode trazer riscos à saúde, ainda que em pequena magnitude. Por outro lado, substituir refrigerantes açucarados por versões diet pode representar uma escolha menos nociva. A recomendação mais equilibrada é a moderação: reduzir o consumo de todas as bebidas adoçadas, sejam elas açucaradas ou artificiais, priorizando sempre água, chás e sucos naturais sem adição de adoçantes.

Conclusão: equilíbrio e escolhas conscientes


As bebidas diet não devem ser vistas como soluções inofensivas. A ciência mostra que, embora possam ser menos calóricas, ainda carregam potenciais riscos metabólicos, cardiovasculares e, possivelmente, oncológicos. O ideal é utilizá-las com parcimônia e não como parte da rotina diária. A melhor estratégia para saúde a longo prazo é adotar um padrão alimentar equilibrado, com foco em alimentos naturais, evitando tanto bebidas açucaradas quanto as adoçadas artificialmente.

Bibliografia

1. Association of Soft Drink and 100% Fruit Juice Consumption With All-Cause Mortality, Cardiovascular Diseases Mortality, and Cancer Mortality: A Systematic Review and Dose-Response Meta-Analysis of Prospective Cohort Studies. Pan B, Ge L, Lai H, et al.  Critical Reviews in Food Science and Nutrition. 2022;62(32):8908-8919. doi:10.1080/10408398.2021.1937040.

2. Association Between Soft Drink Consumption and Mortality in 10 European Countries. Mullee A, Romaguera D, Pearson-Stuttard J, et al. JAMA logoJAMA Internal Medicine. 2019;179(11):1479-1490.  Doi:10.1001/jamainternmed.2019.2478.

3. Diet Soft Drink Consumption Is Associated With the Metabolic Syndrome: A Two Sample Comparison. Crichton G, Alkerwi A, Elias M. Nutrients. 2015;7(5):3569-86. doi:10.3390/nu7053569.

4. Nonnutritive Sweeteners: Current Use and Health Perspectives: A Scientific Statement From the American Heart Association and the American Diabetes Association. Gardner C, Wylie-Rosett J, Gidding SS, et al. Diabetes Care. 2012;35(8):1798-808. doi:10.2337/dc12-9002.

5. Diet Beverages and the Risk of Obesity, Diabetes, and Cardiovascular Disease: A Review of the Evidence. Pereira MA. Nutrition Reviews. 2013;71(7):433-40. doi:10.1111/nure.12038.

6. Association of Soft Drinks and 100% Fruit Juice Consumption With Risk of Cancer: A Systematic Review and Dose-Response Meta-Analysis of Prospective Cohort Studies. Pan B, Lai H, Ma N, et al. The International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity. 2023;20(1):58. doi:10.1186/s12966-023-01459-5.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica (presencial/telemedicina), clique aqui.

A Tirzepatida queima gordura?



A tirzepatida é um medicamento que ativa dois hormônios do intestino, o GIP e GLP-1 e com isso, muda o modo como o corpo usa energia. Além de reduzir o apetite, ela orienta o organismo a preferir gordura como combustível. Esse redirecionamento metabólico ajuda a diminuir a adiposidade. O resultado não depende apenas de comer menos, mas de usar melhor o que já está armazenado.

Talvez esse seja o grande diferencial da Tirzepatida quando comparada à Semaglutida, que tem ação apenas em GLP-1. 

Um “twincretin” que reprograma o combustível: ação bi-agonista


Ao estimular simultaneamente os receptores de GIP e GLP-1, a tirzepatida amplia a comunicação entre intestino, pâncreas, cérebro e tecido adiposo. O GLP-1 melhora a saciedade e a resposta de insulina; o GIP conversa diretamente com as  células de gordura (adipócito). Essa sinergia ajusta quando guardar e quando liberar energia. Na prática, o corpo passa a “buscar” gordura para gerar  (energia = ATP). Ou seja, ele além de ter uma ação na quebra da gordura, pode ajudar na queima dessa gordura. 


Lipólise inteligente: liberar gordura na hora certa


Em jejum, quando a insulina está baixa, a ativação de GIP favorece a lipólise, ou seja, a quebra de triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol. No estado alimentado, o sistema se comporta de forma cooperativa com a insulina, facilitando a entrada de glicose e a produção de glicerol. Esse balanço fino evita extremos: nem estocar tudo, nem desperdiçar combustível.

Da gordura branca à marrom: ligando a termogênese


Modelos experimentais mostram que a tirzepatida aumenta a capacidade lipolítica do tecido adiposo branco. Ao mesmo tempo, “acende” a termogênese nas gorduras marrom e bege, que funcionam como fornos metabólicos. Com mais termogênese, parte da energia é dissipada como calor. Isso contribui para reduzir estoques e preservar massa magra.

Em humanos: mais beta-oxidação de ácidos graxos


Ensaios clínicos em portadores de obesidade mostram aumento do uso de gordura durante o tratamento. Mesmo que a “adaptação metabólica” do emagrecimento não desapareça, a tirzepatida eleva a parcela de energia vinda da beta-oxidação. Em termos simples, mais ácidos graxos entram na mitocôndria para virar ATP, sustentando a perda de gordura.

Do adipócito à mitocôndria: o caminho da energia


A lipólise libera ácidos graxos da célula de gordura. Esses ácidos são transportados, entram em outros tecidos e são queimados nas mitocôndrias. A tirzepatida ajuda a abrir essas “portas” bioquímicas. Resultado: menos gordura circulando sem destino e mais gordura sendo efetivamente utilizada.

O efeito final nasce da combinação de três frentes: 
(1) mais liberação de gordura (lipólise), 
(2) mais uso dessa gordura como energia (beta-oxidação) 
(3) melhor organização do “trânsito” lipídico no corpo. 

Quando essas vias atuam juntas, a tendência é reduzir a adiposidade total e melhorar marcadores metabólicos. Ou seja, emagrecimento mais eficiente.

Triglicerídeos em queda e sangue “mais limpo”


Em estudos com pessoas com diabetes tipo 2, a tirzepatida reduz triglicerídeos e melhora perfis de metabólitos ligados ao risco cardiometabólico. Isso sugere maior catabolismo lipídico e menor acúmulo de gordura “sobrando” na circulação. Na prática, o sangue carrega menos partículas ricas em triglicerídeos.

Lipoproteínas mais favoráveis ao coração


Pesquisas também apontam melhora de biomarcadores de lipoproteínas associados à resistência à insulina e a risco cardiovascular. Observam-se reduções em colesterol total e LDL, com aumento de HDL, em análises agrupadas de ensaios clínicos. Para o leigo, isso se traduz em um perfil mais protetor para vasos e coração.

Fígado “mais leve”: impacto na saúde hepática


O fígado é central no destino da gordura. Em pessoas com MASH (esteato-hepatite metabólica), a tirzepatida mostrou superioridade ao placebo para resolver inflamação e esteatose sem piorar a fibrose. Esse dado reforça que a droga não age só no peso da balança, mas também na qualidade do metabolismo interno. Entretanto, os estudos mostram que a Semaglutida tem esse efeito mais pronunciado. Inclusive já abordei o estudo aqui: https://www.ecologiamedica.net/2025/08/semaglutida-recebe-aprovacao-do-fda.html

Não é só comer menos: é usar melhor a energia


A perda de peso com tirzepatida nasce da dupla via: menos ingestão calórica, graças à saciedade promovida pelo GLP-1, retardo do esvaziamento gástrico, e mais utilização de gordura, graças ao redirecionamento do combustível. Essa combinação ajuda a manter o emagrecimento mais estável. O corpo aprende a recorrer aos próprios estoques de maneira eficiente.

O que o paciente costuma perceber


No dia a dia, muitos relatam menos fome, queda de medidas e melhora de exames de sangue. O controle glicêmico tende a ficar mais estável, e o “inchaço” associado a triglicerídeos altos pode diminuir. Esses ganhos aparecem melhor quando o tratamento vem acompanhado de orientação nutricional.

Como potencializar os resultados com hábitos simples


E será que é válido o paciente tomar a medicação sem acompanhamento de um profissional? Jamais. O profissional habilitado (Nutrólogo ou Endócrino) saberá conduzir o caso, escalonar as doses, corrigir eventuais efeitos colaterais que surgem comumente. Os mais comuns são do sistema gastrointestinal: náuseas, diarreia, vômitos e prisão de ventre. Eles tendem a surgir no início ou quando a dose aumenta. Temos estratégias para a maioria deles. 

Já o Nutricionista elaborará o plano alimentar com proteínas adequadas, fibras e comida de verdade, o que favorecerá a lipólise e a saciedade.

Recentemente foi publicado um estudo com sugerindo diretrizes nutricionais para pacientes utilizando análogos de GLP-1, ou seja, há particularidades na dieta desses pacientes. Sendo assim, o mais prudente e correto é fazer acompanhamento com um nutricionista que tenha experiência com a droga. Leia esse texto: https://www.ecologiamedica.net/2025/08/glp-1-o-segredo-nao-esta-so-no-remedio.html

Treino de força preserva músculo, enquanto exercícios aeróbios aumentam a capacidade de oxidar gordura. Sono suficiente e manejo do estresse ajustam hormônios que regulam fome e gasto energético. Ou seja, trabalho multidisciplinar. 

Então ressalto: toda medicação potente exige monitorização, TODA. A tirzepatida mexe em vias que influenciam apetite, glicemia, pressão e gorduras. O acompanhamento médico individualiza dose, observa efeitos colaterais e integra o tratamento a mudanças de estilo de vida estratégia que maximiza benefícios e minimiza riscos. Importante salientar que nem todos os pacientes terão resposta com a Tirzepatida isolada, sendo necessário utilizar outras drogas para tratamento da obesidade, o Nutrólogo e o Endocrinologista são os profissionais mais habilitados para manejar esses casos.

Autores:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
Dra. Thereza Leo - Médica Nutróloga - CRM-ES 8903 RQE 15007
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e profissional da educação física

Bibliografia

1. Tirzepatide Modulates the Regulation of Adipocyte Nutrient Metabolism Through Long-Acting Activation of the GIP Receptor. Regmi A, Aihara E, Christe ME, et al. Cell Metabolism. 2024;36(7):1534-1549.e7. doi:10.1016/j.cmet.2024.05.010. 

2. Tirzepatide Reduces Body Weight by Increasing Fat Utilization via the Central Nervous System-Adipose Tissue Axis in Male Mice. Zhang A, Liu Q, Xiong Y, et al. Diabetes, Obesity & Metabolism. 2025;27(5):2844-2856. doi:10.1111/dom.16294. 

]3. Tirzepatide Did Not Impact Metabolic Adaptation in People With Obesity, but Increased Fat Oxidation. Ravussin E, Sanchez-Delgado G, Martin CK, et al. Cell Metabolism. 2025;37(5):1060-1074.e4. doi:10.1016/j.cmet.2025.03.011. 

4. Tirzepatide for Metabolic Dysfunction–Associated Steatohepatitis with Liver Fibrosis. Loomba R, Hartman ML, Lawitz EJ, et al. The New England Journal of Medicine. 2024;391(4):299-310. doi:10.1056/NEJMoa2401943. 

5. Effects of Tirzepatide, a Dual GIP and GLP-1 RA, on Lipid and Metabolite Profiles in Subjects With Type 2 Diabetes. Pirro V, Roth KD, Lin Y, et al. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism. 2022;107(2):363-378. doi:10.1210/clinem/dgab722. 

6. The Dual Glucose-Dependent Insulinotropic Peptide and Glucagon-Like Peptide-1 Receptor Agonist, Tirzepatide, Improves Lipoprotein Biomarkers Associated With Insulin Resistance and Cardiovascular Risk in Patients With Type 2 Diabetes. Wilson JM, Nikooienejad A, Robins DA, et al. Diabetes, Obesity & Metabolism. 2020;22(12):2451-2459. doi:10.1111/dom.14174. 

7. Effect of Tirzepatide on Blood Pressure and Lipids: A Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Kanbay M, Copur S, Siriopol D, et al. Diabetes, Obesity & Metabolism. 2023;25(12):3766-3778. doi:10.1111/dom.15272.