segunda-feira, 30 de junho de 2025

Mazdutida uma vez na semana em aultos chineses com obesidade ou sobrepeso - Nova droga

Evidências sugerem que a farmacoterapia dual agonista baseada em incretinas é eficaz em pessoas com obesidade. A mazdutida, um agonista dual do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e do receptor do glucagon, pode ter eficácia em pessoas com sobrepeso ou obesidade.

Métodos

Em um estudo de fase 3, duplo-cego, controlado por placebo, realizado na China, randomizamos, na proporção de 1:1:1, adultos de 18 a 75 anos com índice de massa corporal (IMC; peso em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros) de pelo menos 28, ou com IMC de 24 a menos de 28 com pelo menos uma condição coexistente relacionada ao peso, para receber 4 mg de mazdutida, 6 mg de mazdutida ou placebo durante 48 semanas. Os dois desfechos primários foram a variação percentual do peso corporal em relação ao início do estudo e a redução de pelo menos 5% do peso na semana 32, conforme análise por estimand de política de tratamento (que avalia os efeitos independentemente da descontinuação precoce da mazdutida ou placebo e da introdução de novas terapias antiobesidade).

Resultados

Entre os 610 participantes, o peso corporal médio era de 87,2 kg e o IMC médio era de 31,1 no início. Na semana 32, a variação percentual média do peso corporal em relação ao início foi de –10,09% (intervalo de confiança [IC] de 95%, –11,15 a –9,04) no grupo mazdutida 4 mg, –12,55% (IC 95%, –13,64 a –11,45) no grupo mazdutida 6 mg e 0,45% (IC 95%, –0,61 a 1,52) no grupo placebo; 73,9%, 82,0% e 10,5% dos participantes, respectivamente, apresentaram redução de peso de pelo menos 5% (P<0,001 para todas as comparações com o placebo). 

Na semana 48, a variação percentual média do peso corporal em relação ao início foi de –11,00% (IC 95%, –12,27 a –9,73) no grupo 4 mg, –14,01% (IC 95%, –15,36 a –12,66) no grupo 6 mg e 0,30% (IC 95%, –0,98 a 1,58) no grupo placebo; 35,7%, 49,5% e 2,0% dos participantes, respectivamente, apresentaram redução de peso de pelo menos 15% (P<0,001 para todas as comparações com o placebo). 

Efeitos benéficos em todas as medidas cardiometabólicas predefinidas foram observados com mazdutida. 

Os eventos adversos mais frequentemente relatados foram gastrointestinais e, em sua maioria, de intensidade leve a moderada. A incidência de eventos adversos que levaram à descontinuação do tratamento foi de 1,5% com mazdutida 4 mg, 0,5% com mazdutida 6 mg e 1,0% com placebo.

Conclusões

Em adultos chineses com sobrepeso ou obesidade, a mazdutida semanal nas doses de 4 mg ou 6 mg por 32 semanas levou a reduções clinicamente relevantes no peso corporal. (Financiado por Innovent Biologics; GLORY-1 ClinicalTrials).

Introdução

A obesidade é uma pandemia crescente em todo o mundo. De acordo com os critérios chineses, aproximadamente metade da população da China vive com sobrepeso (definido como índice de massa corporal [IMC; peso em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros] de 24 a <28) ou obesidade (IMC ≥28). A obesidade e o sobrepeso são fatores de risco bem reconhecidos para uma ampla variedade de doenças, entre as quais a doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica (MAFLD), dislipidemia, hipertensão e pré-diabetes são as mais comuns na China.

As diretrizes chinesas para obesidade recomendam farmacoterapia para adultos com obesidade ou com sobrepeso acompanhado de condições coexistentes relacionadas ao peso, caso intervenções no estilo de vida não consigam controlar adequadamente o peso corporal. Nos últimos anos, as terapias farmacológicas baseadas em incretinas para obesidade têm sido associadas a reduções clinicamente relevantes no peso corporal, bem como a efeitos benéficos sobre fatores de risco cardiometabólicos e desfechos cardiorrenais. Até o momento, beinaglutida, liraglutida, semaglutida e tirzepatida foram aprovadas para o tratamento de pessoas com obesidade ou sobrepeso com condições coexistentes na China.

O glucagon promove a produção hepática de glicose e estimula a lipólise e a oxidação de ácidos graxos. Embora o antagonismo do glucagon reduza efetivamente os níveis de glicose em pessoas com diabetes, ele está associado à dislipidemia, ganho de peso e aumento do conteúdo de gordura hepática. Esses achados levaram à hipótese de que o agonismo do glucagon poderia promover perda de peso e lipólise hepática, desde que o efeito hiperglicemiante do glucagon seja eficazmente contrabalançado. Participantes com obesidade ou sobrepeso em diversos estudos preliminares com coagonistas dos receptores de GLP-1 e de glucagon apresentaram reduções acentuadas de peso corporal e benefícios metabólicos.

A mazdutida (também conhecida como IBI362 ou LY3305677), um peptídeo sintético análogo da oxintomodulina mamífera, é um agonista dual dos receptores de GLP-1 e de glucagon de administração semanal, em desenvolvimento para o tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2. Em estudos de fase 2, o tratamento com mazdutida em doses de até 6 mg levou a uma redução acentuada de peso corporal em adultos chineses com obesidade ou sobrepeso, além de proporcionar controle glicêmico eficaz e redução de peso em pacientes chineses com diabetes tipo 2.

Em um estudo de fase 3, duplo-cego, randomizado e controlado por placebo com 48 semanas de duração, avaliamos a terapia com agonista dual dos receptores de GLP-1 e de glucagon em pessoas com obesidade ou sobrepeso (GLORY-1), com o objetivo de avaliar a eficácia e a segurança da mazdutida no manejo do peso a longo prazo. Avaliamos a eficácia e a segurança da mazdutida em comparação ao placebo na redução do peso corporal e na melhora de fatores de risco cardiometabólicos em adultos chineses com obesidade ou com sobrepeso e pelo menos uma condição coexistente.

Discussão

Este estudo demonstrou que a terapia com mazdutida, nas doses de 4 mg e 6 mg, induziu reduções clinicamente significativas e relevantes no peso corporal ao longo de 32 semanas em adultos chineses com obesidade ou sobrepeso. 

Reduções significativas também foram observadas na semana 48. Essas reduções foram acompanhadas de melhorias em múltiplos fatores de risco cardiometabólicos. 

Nossos achados fornecem evidências clínicas robustas sobre a aplicabilidade dos agonistas baseados em GLP-1 como tratamento em adultos chineses com obesidade ou sobrepeso com condições coexistentes, e apoiam o uso da mazdutida como uma nova opção terapêutica para o manejo do peso na população chinesa.

Nossa população de estudo difere da de outros ensaios realizados até o momento. A China adotou pontos de corte mais baixos de IMC para sobrepeso e obesidade do que os utilizados pela Organização Mundial da Saúde. Os participantes do nosso estudo apresentavam IMC mais baixo e eram mais jovens do que aqueles incluídos em estudos de obesidade com predominância de participantes brancos. A menor idade dos participantes pode refletir a alta prevalência de sobrepeso e obesidade entre jovens na China, provavelmente causada pelo aumento rápido da obesidade entre crianças e adolescentes nas últimas três décadas, associado a estilos de vida pouco saudáveis entre os mais jovens — embora se observe, nesse grupo etário, maior consciência da doença e maior disposição para buscar assistência médica do que entre adultos mais velhos. Os participantes do nosso estudo eram relativamente jovens e apresentavam alta prevalência de doenças cardiometabólicas relacionadas ao peso, destacando-se dislipidemia (em 62,3%), MAFLD (em 48,9%), hiperuricemia (em 40,2%) e hipertensão (em 22,8%). Nossos resultados são consistentes com os de um estudo recente envolvendo adultos jovens chineses, que demonstrou uma prevalência alarmante das mesmas condições cardiometabólicas relacionadas ao peso. Esses achados reforçam a importância do manejo eficaz do peso corporal em adultos chineses com obesidade ou sobrepeso.

O efeito de perda de peso da mazdutida no nosso estudo foi semelhante ao observado em um ensaio de fase 3 com tirzepatida em uma população chinesa. A perda de peso ocorreu independentemente do IMC basal, o que apoia o uso da mazdutida no manejo do peso em adultos chineses com obesidade ou sobrepeso. Além disso, a redução do peso corporal e as melhorias na maioria dos fatores de risco cardiometabólicos foram relacionadas à dose neste estudo, o que sugere maiores benefícios com doses mais elevadas de mazdutida. Em um estudo de fase 2 com adultos chineses com IMC ≥30, a dose de 9 mg de mazdutida resultou em uma redução de peso ajustada pelo placebo de 15,4% em 24 semanas e de 18,6% em 48 semanas. Um estudo de fase 3 avaliando a dose de 9 mg de mazdutida em adultos chineses está em andamento (ClinicalTrials número NCT06164873).

Os possíveis e únicos efeitos metabólicos da mazdutida que a diferenciam dos agonistas do receptor de GLP-1 e de outros agonistas duais baseados em GLP-1 parecem resultar do agonismo do glucagon. Embora uma comparação direta entre mazdutida e agonistas do receptor de GLP-1 seja importante para uma conclusão definitiva, especulamos que as melhorias aparentemente mais pronunciadas no metabolismo lipídico — como reduções nos níveis de triglicerídeos, alanina aminotransferase e, mais notavelmente, no conteúdo de gordura hepática — possam ser atribuídas à oxidação lipídica mediada pelo glucagon no fígado e no tecido adiposo. Essas observações podem ser relevantes, considerando a alta prevalência de fígado gorduroso e dislipidemia entre adultos chineses com obesidade ou sobrepeso. Além disso, em estudos de fase 1 e 2 para essas indicações, o tratamento com mazdutida foi associado a reduções marcantes nos níveis séricos de ácido úrico, resultado que foi confirmado neste estudo. Embora faltem evidências clínicas claras sobre o efeito do GLP-1 na redução dos níveis séricos de ácido úrico, os potenciais efeitos do glucagon sobre o metabolismo de purinas no fígado e sobre a excreção urinária de ácido úrico podem explicar as reduções observadas com a terapia com mazdutida. Resultados de um estudo em andamento comparando mazdutida com semaglutida em pessoas com diabetes tipo 2 e obesidade (NCT06184568) poderão ajudar a esclarecer o papel do agonismo do glucagon.

Os eventos adversos mais comuns com a terapia com mazdutida foram gastrointestinais; a maioria desses eventos ocorreu durante o período de escalonamento de dose, foi de intensidade leve a moderada e transitória, e se resolveu sem intervenção. Para garantir comunicação eficaz entre os pesquisadores e os participantes e facilitar o manejo oportuno de eventos adversos, três visitas adicionais (nas semanas 1, 5 e 9) foram programadas, uma semana após cada mudança de dose durante o período de escalonamento. Assim, a incidência de eventos adversos que levaram à descontinuação da mazdutida ou à redução de dose foi relativamente baixa, o que indica um perfil de segurança geralmente favorável.

Devido ao efeito cardioestimulante do glucagon, era esperada uma elevação notável da frequência cardíaca, como já foi observada com diversos poliagonistas baseados em incretinas que envolvem agonismo do receptor do glucagon. Neste estudo, o aumento médio da frequência cardíaca atingiu o pico durante o período de escalonamento de dose e diminuiu durante o período de manutenção; os aumentos médios da frequência cardíaca foram semelhantes aos observados com outros agonistas do receptor de GLP-1. Com exceção da taquicardia sinusal, a incidência de outros eventos cardíacos foi baixa, sem associação clara com a terapia com mazdutida. Ainda assim, os potenciais benefícios cardiovasculares a longo prazo dos agonistas duais de GLP-1 e glucagon aguardam investigação adicional.

Este estudo apresenta algumas limitações. Primeiro, todos os participantes eram chineses, o que limita a generalização dos resultados para pessoas de outras origens. Segundo, o estudo excluiu pessoas com diabetes tipo 2. Estudos sobre a eficácia e segurança da mazdutida em participantes com sobrepeso ou obesidade e diabetes tipo 2 são necessários. Por fim, o período de acompanhamento de 12 semanas após o término do tratamento foi relativamente curto para avaliar o reganho de peso após a descontinuação da mazdutida ou do placebo.

Neste estudo com adultos chineses com obesidade ou sobrepeso, o tratamento com mazdutida nas doses de 4 mg e 6 mg levou a reduções clinicamente relevantes no peso corporal após 32 semanas.


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domingo, 29 de junho de 2025

Intolerância à frutose - Conceito, dianóstico e tratamento



Intolerância à Frutose: Aspectos Fisiopatológicos, Diagnóstico e Manejo Clínico
 

Como a maior demanda no consultório quando se fala em frutose é a má absorção da frutose, vamos nos ater mais à essa condição. Porém, é impossível falar de má absorção de frutose, sem explicar a Intolerância hereditária a frutose.

A intolerância à frutose é um distúrbio metabólico que pode se manifestar de duas formas principais: a intolerância hereditária à frutose (IHF), um erro inato do metabolismo causado por deficiência da aldolase B, e a má absorção de frutose (Intolerância à frutose), uma condição funcional relacionada à absorção intestinal deficiente. Ambas as condições apresentam mecanismos fisiopatológicos distintos, manifestações clínicas variáveis e exigem estratégias diagnósticas e terapêuticas específicas. 

 

1) Intolerância Hereditária à Frutose (IHF)
 
A IHF é uma doença autossômica recessiva causada por mutações no gene ALDOB (localizado no cromossomo 9q22.3), que codifica a enzima aldolase B. Essa enzima é expressa principalmente no fígado, rins e intestino delgado, sendo responsável pela quebra da frutose-1-fosfato em diidroxiacetona fosfato (DHAP) e gliceraldeído, etapas críticas no metabolismo da frutose. 
Nunca tivemos casos de IHF, nem no ambulatorio de Nutrologia no SUS. 
 
Mecanismo Molecular e Toxicidade da frutose: Quando a aldolase B está deficiente, a frutose-1-fosfato acumula-se no citoplasma, levando à depleção de fosfato inorgânico (Pi) e ATP.  Essa inibição da gliconeogênese e da glicólise resulta em hipoglicemia pós-prandial. Com isso o acúmulo de frutose-1-fosfato causa dano ao fígado com elevação de transaminases (ALT/AST) e possível progressão para hepatopatia crônica (cirrose hepática). 

 

Genética e Epidemiologia: Mais de 60 mutações patogênicas no gene ALDOB foram descritas, sendo a p.A150P e p.A175D as mais comuns em populações europeias. A prevalência estimada é de 1:20.000 a 1:30.000 nascidos vivos, com variações geográficas significativas. Países com maior prevalência reportada: Reino Unido, Alemanha e Itália (onde estudos genéticos são mais frequentes). Estima-se que exista uma subnotificação global, no qual apenas 10% dos casos sejam diagnosticados. Em relação aos aspectos epidemiológicas no Brasil temos o seguinte panorama: 
Dados de Triagem Neonatal: O Brasil não inclui a IHF no teste do pezinho básico (PNTN), ao contrário de países como Alemanha e Portugal. Um estudo piloto no RS (2018 a 2020) analisou 12.000 recém-nascidos para erros inatos do metabolismo, mas sem casos de IHF detectados. Já centros de referência: APAE-SP e Instituto Jô Clemente reportam <5 casos/ano (dados não publicados). E revisão sistemática nas bases SciELO e PubMed (2000-2023) identificou: 11 casos publicados em relatos isolados. E dados do DATASUS (2008 a 2022), CID-10 E74.1 (Distúrbios do metabolismo da frutose) teve uma média de 12 notificações/ano (provavelmente subestimado em >90%). Ou seja, é bem rara. 
Achados Clínicos 
- Lactentes: Após introdução de frutas ou fórmulas contendo sacarose: vômitos, letargia, convulsões (hipoglicemia). Hepatomegalia, icterícia, coagulopatia (disfunção hepática). 
- Crianças e adultos: Aversão espontânea a doces. História de falência de crescimento, doença hepática crônica ou tubulopatia renal. 
Manifestações agudas:  Crises hipoglicêmicas graves (tremores, sudorese, convulsões). Vômitos profusos, desidratação. Hepatotoxicidade (elevação de transaminases, coagulopatia). 
- Manifestações crônicas: Hepatomegalia progressiva, cirrose. Nefropatia (síndrome de Fanconi renal). Atraso de crescimento e desenvolvimento. 
 
Exames Laboratoriais: Hipoglicemia pós-prandial (após ingestão de frutose);  Elevação de ALT/AST, hiperbilirrubinemia, hipofosfatemia; Acidose metabólica (devido à inibição da gliconeogênese). 
O padrão-ouro é o Teste genético (sequenciamento do gene ALDOB). 
 
Biópsia Hepática: Em casos raros, pode-se medir a atividade da aldolase B em tecido hepático. 
  
2) Má Absorção de Frutose (MAF) ou Intolerância à frutose (IF)
 
Diferente da IHF, a má absorção de frutose ou intolerância à frutose (IF) ocorre devido à deficiência do transportador GLUT5, responsável pela captação de frutose no enterócito. Quando a capacidade de absorção é excedida (geralmente acima de 25g por refeição), a frutose não absorvida, cairá no  intestino grosso (cólon), local onde é fermentada pela microbiota intestinal. Com essa fermentação ocorrerá uma produção de hidrogênio (H₂), metano (CH₄) e dióxido de carbono (CO₂), causando distensão abdominal e flatulência (gases). Também ocorrerá geração de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que podem levar a diarreia osmótica (queixa comum dos pacientes) 


Dentre grupos de risco para intolerância frutose temos:

 

a) Indivíduos com Polimorfismos no Transportador GLUT5: O principal mecanismo de absorção da frutose no intestino delgado ocorre via transportador GLUT5, codificado pelo gene SLC2A5. Polimorfismos nesse gene podem reduzir a eficiência do transporte, aumentando o risco de má absorção. O polimorfismo 42G>A no promotor do SLC2A5 está associado a menor expressão de GLUT5 e maior prevalência de má absorção. Populações com histórico de intolerância a carboidratos fermentáveis (FODMAPs) apresentam maior frequência de variantes genéticas que comprometem a absorção de frutose. Grupo de risco para esse polimorfismo: Pacientes com história familiar de intolerância a frutose ou outros açúcares e pacientes de ascendência europeia, onde certas variantes de SLC2A5 são mais prevalentes. 
 
b) Pacientes com Síndrome do Intestino Irritável (SII): A associação entre má absorção de frutose e SII é bem estabelecida, com estudos sugerindo que até 30-40% dos pacientes com SII têm má absorção de frutose. Essa coexistência é muito comum no consultório e é fator de confusão, as vezes o paciente vem somente com o diagnóstico de SII e as vezes somente com a suspeita de IF. Acredita-se que os mecanimos propostos nesses casos sejam 2: 
- Hiperalgesia visceral: A fermentação de frutose não absorvida aumenta a produção de gases e metabólitos bacterianos, exacerbando a sensibilidade intestinal. 
- Alteração da microbiota: Disbiose intestinal (ex.: redução de Bifidobacterium) piora a tolerância à frutose.  
Grupo de risco: Pacientes com SII do tipo diarreico (SII-D) ou SII com predominância de gases e distensão. E indivíduos que relatam piora dos sintomas após consumo de frutas, mel ou xarope de milho. 
 
c) Crianças Pequenas (Especialmente <5 Anos): O sistema de transporte de frutose no intestino imaturo é menos eficiente, tornando crianças mais susceptíveis. Dados clínicos: Estudos com teste do hidrogênio expiratório (THE) em crianças mostraram que 35-45% das crianças <6 anos têm má absorção de frutose. Aqui vale ressaltar que a introdução precoce de sucos de fruta (ricos em frutose) pode desencadear sintomas como diarreia e dor abdominal. Grupo de risco nessa faixa etária: o lactentes alimentados com fórmulas contendo xarope de milho (alto teor de frutose). Crianças com história de cólicas intestinais ou alergias alimentares. 
 
d) Portadores de Supercrescimento Bacteriano no Intestino Delgado (SIBO): Condição até então pouco elucidada até 10 anos, hoje tornou-se prevalente devido à popularização do THE. A SIBO altera a fermentação de carboidratos no intestino delgado, agravando a má absorção de frutose. O mecanismo fisiooatológico consiste em: A bactérias no intestino delgado fermentam a frutose antes da absorção, gerando gases e AGCC. Há estudos evidenciando que até 60% dos pacientes com SIBO têm má absorção de frutose. E quem é grupo de risco para SIBO: Hipotireoidismo, uso crônico de  inibidores da bomba de prótons (IBPs), antiácidos, antibióticos, antifúngicos, antiinflamatórios. Pacientes com cirurgias abdominais prévias (ex.: bypass gástrico), doenças que retardam o trânsito intestinal (diabetes, esclerodermia). Um adendo importante, antes de pedir o THE para IF devemos pesquisar o THE para SIBO. 
 
e) Indivíduos com Doenças Inflamatórias Intestinais (DII): pacientes com doença de Crohn ou retocolite ulcerativa têm maior risco devido ao dano à mucosa intestinal, o que acarreta uma redução da expressão de GLUT5. Além de maior risco de ter disbiose microbiana e com isso fermentação exacerbada de frutose pela microbiota colônica. - Um estudo de 2009 mostrou que até 61% dos pacientes com Crohn tinham má absorção de frutose no THE: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19392860/ Ou seja, na nossa prática, todos os pacientes com Doença inflamatória intestinal investigamos IF. 
  
f) Consumidores de Dietas Ricas em Frutose ou Sorbitol: A carga dietética é um fator crítico. Dietas modernas, com alto consumo de: Xarope de milho rico em frutose (HFCS) (refrigerantes, alimentos processados), sorbitol (presente em balas, chicletes "sem açúcar"), podem levar a IF. Mas por que são grupos de risco? O sorbitol compete com a frutose pelo GLUT5, reduzindo ainda mais a absorção. Doses acima de 25g de frutose/refeição excedem a capacidade de absorção em muitos indivíduos. Ou seja, é importante no inquérito alimentar avaliar utilização dessas substâncias. Já atendemos no consultório pacientes que o único fator causal identificado era o mascar chicletes, rico em sorbitol. 
g) Idosos (>65 Anos), já que o envelhecimento está associado à redução da expressão de GLUT5 no epitélio intestinal. Além das alterações na motilidade e microbiota que favorecem a fermentação, combinados com a redução da mastigação e produção de sucos digestivos. Há ainda os idosos com comorbidades gastrointestinais (constipação crônica, diverticulose). 
 
h) Doença Celíaca (Enteropatia por Glúten): nesses pacientes há uma atrofia das vilosidades intestinais, isso gera uma diminuição da superfície absortiva e redução na expressão de GLUT5. Há trabalhos mostrando que Estudos demonstram que uma parte dos pacientes com DC podem apresentar IF, SII, Intolerância a lactose. Inclusive na nossa prática, todo paciente com diarreia crônica e gases (sintomas comuns na IF) merecem investigação de Doença celíaca. 
 
i) Infecções Gastrointestinais Pós-Agudas: Nas gastroenterites, os mecanismos básicos para levar à IF são os danos transitórios aos enterócitos pela Giardíase (prejuízo direto aos transportadores), Rotavírus (destruição de células absortivas), Norovírus (alteração na expressão de GLUT5). Inclusive faz parte da propedêutica investigação se os sintomas iniciaram após alguma gastroenterite. 
 
j) Síndrome de Dumping Pós-Cirúrgico: Isso englobaria os pacientes submetidos às duas principais cirurgias bariátricas: Gastrectomia vertical (sleeve) e Bypass gástrico em Y-de-Roux, ou doenças que cursam com esvaziamento gástrico acelerado (cirúrgico ou não). O mecanismo fisiopatológico seria a a chegada rápida de frutose ao intestino delgado superando a capacidade absortiva do GLUT 5. Ocorre também uma redução compensatória na expressão de GLUT5 (adaptação pós-cirúrgica) 
 
l) Doenças Pancreáticas Exócrinas como Insuficiência pancreática crônica, Fbrose cística e Pancreatite crônica. O mecanismo ffisopatológico proposto seria a deficiência de enzimas pancreáticas levando a uma má digestão de carboidratos complexos e gerando sobrecarga fermentativa. Resultado: gases, distensão abdominal e diarréia.
m) Doenças Autoimunes Específicas como a Esclerodermia Sistêmica (ES), na qual ocorre um acometimento vascular e fibrose da submucosa intestinal , levando a um prejuízo na motilidade e função absortiva. Já no Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) ocorrem vasculite de pequenos vasos mesentéricos e alterando a absorção da frutose. 
 
n) Transtornos Neurológicos com Comprometimento Autonômico, como a neuropatia autonômica do Diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2, Doença de Parkinson avançada e a Amiloidose sistêmica. O mesmo pode ocorrer em doenças que cursam com disautonomia, como a Síndrome de Ehlers Danlos. O mecanismo fisiopatológico envolvido seria a disfunção do sistema nervoso entérico → hipomotilidade → SIBO secundário e com isso diminuição da absorção da frutose. Acredita-se que essas doenças levam a uma alteração no funcionamento do Complexo Migratório Motor (CMM), também conhecido como Migrating Motor Complex (MMC). Esse complexo consiste em um padrão cíclico de atividade motora gastrointestinal que ocorre durante o estado de jejum. Descoberto por Szurszewski em 1969, esse fenômeno é essencial para Limpeza do trato digestivo entre períodos de alimentação, ajudaria na prevenção do supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO) e no transporte de resíduos não digeríveis para o cólon
o) Doenças Mitocondriais: Síndrome MELAS e na Deficiência de complexo I da cadeia respiratória 
p) Efeitos de Drogas e Tratamentos
- Quimioterápicos (5-FU, metotrexato) - mucosite intestinal 
- AINEs - lesão da barreira mucosa 
- Antibióticos de amplo espectro - disbiose prolongada 

 

Quadro clínico da má absorção da frutose/Intolerância à frutose

Geralmente o paciente relatará sintomas gastrointestinais: Distensão abdominal, flatulência excessiva. Dor abdominal em cólica, diarreia aquosa.  Borborigmos e alteração do hábito intestinal. Menos comumente o paciente pode apresentar sintomas sistêmicos como Fadiga, cefaleia, névoa mental/ brain fog (devido a metabólitos bacterianos). Porém, na prática o mais comum é a coexistência com outras patologias, como por exemplo:

  • SIBO e IF
  • Hipotireoidismo e IF
  • Fibromialgia e IF
  • Sindrome do intestino irritável e IF
  • Intolerância  fodmaps sendo a frutose um Fodmap
  • Doença celíaca e IF
  • Doença inflamatória intestinal e IF
  • Diarréia e suas etiologias e IF

 

Diagnóstico da má absorção de frutose
 
 Em nosso meio é comum a maioria dos pacientes chegarem com o teste sanguíneo no qual ingere-se uma quantidade de 50g de frutose e dosa-se a glicemia de jejum, 30, 60 e 90 minutos. Se não subir mais que 20mg/dl confirmaria a má absorção da frutose.  As principais ressalvas sobre a ineficácia do teste de má absorção de frutose com dosagem de glicemia após sobrecarga de frutose dizem respeito à baixa sensibilidade, especificidade e fisiologia inadequada do teste para o propósito pretendido.

  • Primeiro ponto: O aumento da glicemia não é um marcador confiável de absorção de frutose já que a frutose é absorvida no intestino delgado via transportadores específicos (GLUT5 e GLUT2) e não é convertida diretamente em glicose na parede intestinal. Após absorção, ela vai para o fígado, onde pode ser parcialmente convertida em glicose, lactato ou ácidos graxos isso torna o aumento glicêmico muito variável e não proporcional à quantidade de frutose absorvida.
  • Segundo ponto: A baixa sensibilidade e especificidade do exame. Muitos pacientes com má absorção real de frutose têm glicemia normal após sobrecarga, resultando em falso-negativos. Por outro lado, alguns indivíduos com absorção normal podem ter discreto aumento glicêmico, levando a falso-positivos. 
  • Terceiro ponto: A influência de múltiplos fatores sobre a glicemia: O metabolismo hepático da frutose varia entre indivíduos. Quando existe uma resistência insulínica ou diabetes já instaurado, afeta-se a resposta. Além disso, jejum prolongado, medicamentos ou outras condições metabólicas interferem na resposta glicêmica.
  • Quarto ponto: O teste sanguíneo não detecta fermentação colônica nem sintomas. A má absorção de frutose geralmente leva a sintomas gastrointestinais por fermentação da frutose não absorvida no cólon (gases, distensão, diarreia). Isso vem referido geralmente pelo paciente, quando ele fala: "Doutor eu tomei aquele líquido e passei muito mal depois do exame". O teste glicêmico não avalia produção de hidrogênio/metano, ao contrário do teste respiratório com hidrogênio expirado, que é considerado padrão ouro.

Mas então por que a maioria dos médicos ainda pedem esse exame? Simples, é o que o plano de saúde cobre. O padrão-ouro (THE) tem um custo de R$ 400 a 800. Ou seja, ainda é um exame caro, apesar da popularização nos últimos anos. 

 

E como se faz o teste de Hidrogênio expirado (THE)?

 

O teste do hidrogênio expirado é o método mais utilizado e validado para o diagnóstico de má absorção de vários carboidratos: lactose, frutose, sacarose Ele se baseia em um princípio fisiológico simples, mas muito útil na prática clínica.


Princípio do teste de hidrogênio expirado com frutose:  Normalmente, a frutose é absorvida no intestino delgado por transportadores específicos (GLUT5 e GLUT2).  Quando a frutose não é totalmente absorvida, ela alcança o cólon, onde é fermentada pelas bactérias da microbiota intestinal, produzindo 3 principais gases: 
1) Hidrogênio (H₂)
2) Metano (CH₄)
3) Outros gases (CO₂)

 

Esses gases difundem-se pela mucosa intestinal, entram na corrente sanguínea e são excretados pelos pulmões, sendo detectáveis no ar expirado e um aparelho analisará a quantidade exalada. E como é feito o teste?

  • Pedimos para o paciente fazer um Jejum de 8 a 12 horas.
  • Faz-se uma medida do nível basal de hidrogênio no ar expirado (sopra o aparelho)
  • Administração de uma dose padrão de frutose (geralmente 25g dissolvidos em água), diferente dos 50g de frutose que equivale a 1 kilo de fruta. 
  • Então começamos as coletas de ar expirado a cada 15 a 30 minutos, por um total de até 180 minutos.
  • O ar expirado é analisado pelo aparelho analisador de gases específico.

E como se interpreta o exame?

 

Resultado positivo (má absorção de frutose) caso ocorra:

  • Aumento ≥ 20 ppm (partes por milhão) nos níveis de hidrogênio em relação ao valor basal.
  • O pico geralmente ocorre entre 60 e 120 minutos.
  • Se houver também sintomas gastrointestinais concomitantes durante o teste (flatulência, cólicas, distensão, diarreia), fala-se em intolerância à frutose (e não apenas má absorção).

Mas assim como inumeros outros teste, há algumas limitações do teste: 

  • Falsos negativos podem ocorrer em pessoas que não produzem hidrogênio (cerca de 15-20% da população). Nestes casos, o teste com metano ou teste combinado (H₂/CH₄) pode ser útil.
  • Uso prévio de antibióticos, laxantes, dietas fermentativas ou tabagismo podem interferir nos resultados.
  • Sintomas podem ocorrer com carga alta de frutose mesmo em indivíduos saudáveis (por isso, a dose testada deve ser ≤25g, evitando exageros). 

Tratamento de má absorção de frutose/ Intolerância a frutose
 
 Diferente da IHF, na IF, o paciente tende a tolerar pequenas quantidades de frutose. Para isso, após o diagnóstico, para isso procedemos com uma dieta de exclusão e posterior reintrodução dos alimentos com baixo, medio e alto teor de frutose. O nutricionista nesse caso, deverá conhecer o real teor de frutose e saber analisar via recordatório alimentar funcional, se o paciente apresentou ou não sintomas. Se existe alguma outra intolerância alimentar associada.

 

Como são várias etiologias que podem levar à IF, faz-se necessário o acompanhamento conjunto do Nutrólogo com o Nutricionista. Ambos devem dominar o tema, já que existem dezenas de particularidades no manejo dessa condição.

 

Prognóstico 

 

Essa é a principal dúvida dos pacientes: "Doutor, eu vou voltar a comer frutas?"

 

De acordo com a literatura e nossa prática, o prognóstico da má absorção de frutose, especialmente quando detectada por um teste de hidrogênio expirado positivo, varia conforme a intensidade dos sintomas, o manejo dietético e a presença de outras condições associadas, como a síndrome do intestino irritável (SII), SIBO, Doença inflamatória intestinal, Doença celíaca, Déficiência pancreática exócrina. 

 
Na maioria dos casos o prognóstico geral é bom com intervenção dietética feita supervisionada pelo nutricionista (desastrosa quando feita sem supervisão ou via Chat GPT rs).  A maioria dos pacientes apresenta melhora significativa dos sintomas gastrointestinais com redução da ingestão de frutose e alimentos ricos em FODMAPs.  A má absorção de frutose não causa danos intestinais estruturais, e não está associada a risco de câncer, desnutrição ou mortalidade. Porém, pela restrição do volume de fibras e retirada de algumas frutas, o teor de algumas vitaminas na dieta pode ser reduzido. Ou seja, a dieta não fica nutricionalmente equilibrada. Via de regra, com a adesão dietética adequada, o quadro costuma ser controlável e não progressivo.

 

Em alguns casos, especialmente em crianças, a capacidade de absorção da frutose pode melhorar com o passar dos anos, a medida que a criança vai crescendo, sugerindo maturação dos transportadores intestinais (GLUT5). Já em adultos, a melhora pode ocorrer com modulação da microbiota intestinal ou com uso de probióticos específicos, embora as evidências ainda sejam limitadas. Importante salientar que probiótico em um terreno com SIBO pode ser algo desastroso, levando a diarreia, gases, distensão abdominal e dor. 

 

Na nossa prática, a gente percebeu que quando a má absorção de frutose está associada à síndrome do intestino irritável (SII), a resposta ao tratamento pode ser parcial. Caso a SII não seja estabilizada. Nesses casos, os sintomas (inchaço, dor abdominal, diarreia) são multifatoriais e a dieta com baixo FODMAP costuma ser mais eficaz do que a simples restrição de frutose. Mas há pacientes que mesmo em dieta, continuam com sintomas residuais, pela SII não tratada. 

 

Um outro aspecto relevante quando se fala de prognóstico, são aspectos emocionais/psiquiátricos. Já que a presença persistente dos sintomas, mesmo que leves, ocasionam uma redução da qualidade de vida e geram ansiedade alimentar.  Pacientes com múltiplas intolerâncias alimentares podem desenvolver relacionamento disfuncional com a alimentação. Dificuldade para comer fora de casa. Por isso é tão importante que o paciente seja acompanhado por um Nutrólogo e Nutricionista que saiba realmente manejar esses casos. Caso queira agendar consulta, clique aqui. Atendemos presencial e por telemedicina.


Autores:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo CRM-GO 13192 | RQE 11915
Dr. Rodrigo Lamonier - Nutricionista clínico e Profissional da Educação física


sexta-feira, 20 de junho de 2025

Retatrutida já está a venda?




Muitas pessoas ligam semanalmente aqui na clínica perguntando se aplicamos retatrutida. Então oriento as secretárias a explicarem que:

1) Não aplicamos NADA aqui na clínica. Nem Semaglutida, nem Tirzepatida. Aqui somente realizamos consultas médicas. 

2) A retatrutida, uma medicação que está em fase 3 de estudos, sequer foi lançada. Ou seja, se alguém em Junho de 2025 está comercializando no Brasil, certamente está cometendo um crime contra a saúde pública. Pois, a ANVISA não autoriza. Se a ANVISA não autoriza, você teria coragem de tomar ?

A Retatrutide consiste em uma droga fabricada pela empresa farmacêutica americana Eli Lilly and Company. É um medicamento experimental em desenvolvimento para o tratamento da obesidade é um agonista triplo de receptores hormonais, atuando nos seguintes alvos:
  • Receptor de GLP-1 (Glucagon-like peptide-1) → Aumenta a secreção de insulina e reduz o apetite por agir no centro da fome no cérebro (hipotálamo)
  • Receptor de GIP (Glucose-dependent insulinotropic polypeptide) → Melhora o metabolismo da glicose.
  • Receptor de glucagon → Aumenta o gasto energético e a queima de gordura. Melhorando a oxidação de gorduras;
O provável mecanismo de ação consiste em:
  • Redução da fome (apetite): Atua no sistema nervoso central, promovendo saciedade.
  • Controle glicêmico (açúcar no sangue): Estimula a liberação de insulina e reduz a produção de glicose a partir do fígado.
  • Aumento da queima de gordura: O efeito no glucagon possvelmente acelera o metabolismo lipídico.
Indicações (em estudo)
  • Obesidade – Promove perda de peso significativa (estudos mostram redução de até 24% do peso corporal).
  • Diabetes tipo 2 – Melhora o controle glicêmico e pode reduzir a necessidade de outros antidiabéticos.
Efeitos Colaterais que estão sendo vistos nos estudos (comuns em análogos de GLP-1)
  • Náuseas, vômitos, diarreia.
  • Dor abdominal.
  • Risco de hipoglicemia (quando combinado com outros antidiabéticos).
Status Atual (2025)

A Retatrutide ainda está em fase 3 de ensaios clínicos, mas os resultados preliminares são promissores, superando até mesmo medicamentos como Semaglutida (Wegovy/Ozempic) e Tirzepatida (Mounjaro/Zepbound).

Ou seja, ainda não está sendo comercializado. Se tem profissional aplicando sinto informar que:
1) É infração ética pelo codigo de ética médica
2) Crime já que a medicação ainda não foi lançada e não tem registro na ANVISA, ou seja, sua comercialização no território nacional é proibida, AINDA. 

E-books, Mentorias, Prova de titulo de Nutrologia, Apadrinhamento, Cursos

 


Para saber mais acesse: https://www.ecologiamedica.net/p/e-books-prova-de-titulo-de-nutrologia.html

Análogos de GLP-1: gestação, amamentação e redução do efeito dos anticoncepcionais orais

A Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (Medicines and Healthcare products Regulatory Agency = MHRA)  publicou em seu site essa semana algumas informações relevantes sobre uso da análogos de GLP 1.  Resolvi postar alguns pontos chaves da mensagem, principalmente a questão de uso dos análogos em pacientes que não desejam engravidar e estão utilizando contraceptivo oral. 


Medicamentos Análogos de GLP-1 e para que são usados

Os agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1 ou GLP-1RA) são medicamentos que ajudam as pessoas a se sentirem mais saciadas, imitando um hormônio natural liberado após as refeições. Alguns medicamentos mais recentes, como o Mounjaro, também atuam em um segundo hormônio envolvido no controle do apetite e do açúcar no sangue. Você pode vê-los chamados na mídia de "injeções para perda de peso" ou "massas para emagrecer", mas nem todos esses medicamentos são aprovados para perda de peso.

No Reino Unido, existem vários medicamentos GLP-1 licenciados, incluindo semaglutida (vendida sob as marcas Wegovy, Ozempic e Rybelsus), tirzepatida (Mounjaro) e liraglutida (vendida sob diversas marcas). "Licenciados" significa que foram avaliados criteriosamente pelo órgão regulador de medicamentos do Reino Unido, a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA), e aprovados como seguros e eficazes para determinados usos, descritos na tabela abaixo.

A MHRA não avaliou a segurança e a eficácia desses medicamentos quando usados ​​fora do uso licenciado, por exemplo, quando usados ​​para perda de peso em pessoas que não são obesas ou estão acima do peso.

Os GLP-1 são medicamentos licenciados para tratar distúrbios médicos específicos e devem ser usados ​​somente se você estiver acima do peso ou for diabético, e não se você quiser perder peso para fins estéticos ou cosméticos



Riscos da utilização dos Análogos de GLP-1

Como todos os medicamentos, os análogos de GLP-1 podem causar efeitos colaterais. Alguns dos efeitos colaterais mais comuns são efeitos gastrointestinais, como náuseas, vômitos e diarreia. Esses efeitos colaterais foram observados em ensaios clínicos com esses produtos e constituem a maioria dos relatórios do Yellow Card que a MHRA recebe para esses produtos. 

A maioria dos efeitos colaterais é de gravidade leve a moderada ou de curta duração. No entanto, alguns (como náuseas, vômitos e diarreia) às vezes levam a complicações mais graves, como desidratação grave, resultando na necessidade de internação hospitalar.

Embora pouco frequente, a inflamação do pâncreas (conhecida como pancreatite aguda) foi relatada com medicamentos contendo GLP-1. Isso pode ser grave. O principal sintoma é uma dor intensa no estômago que irradia para as costas e não desaparece. Qualquer pessoa que apresente esse sintoma deve procurar ajuda médica imediatamente.

Uma lista completa dos efeitos colaterais conhecidos pode ser encontrada nas informações do produto de cada medicamento.

Análogos de GLP-1, contracepção e gravidez

Todos os indivíduos com potencial para engravidar (que podem engravidar) que usam medicamentos GLP-1 devem tomar medidas para garantir que não engravidem.  

Medicamentos com GLP-1 não devem ser tomados durante a gravidez ou imediatamente antes de tentar engravidar. Isso ocorre porque não há dados de segurança suficientes para saber se tomar um medicamento com GLP-1 pode causar danos ao bebê. Em alguns estudos com animais, descobriu-se que medicamentos com GLP-1 são prejudiciais ao feto, embora mais informações sejam necessárias para verificar se esse mesmo efeito seria observado em humanos. Se você estiver usando um medicamento com GLP-1 e suspeitar que pode estar grávida, consulte um profissional de saúde imediatamente.

Como medida de precaução, você deve usar métodos contraceptivos enquanto estiver tomando medicamentos GLP-1 e por um período de “washout” definido depois (o período em que o medicamento deve ser interrompido antes de tentar engravidar).


Se você estiver usando Mounjaro (tirzepatida) e tomar um contraceptivo oral (pílula), você deve adicionar um método contraceptivo de barreira não oral (por exemplo, preservativo) por quatro semanas após iniciar os medicamentos GLP-1 e por quatro semanas após qualquer aumento na dose. Isso ocorre porque os medicamentos GLP-1 podem reduzir a eficácia dos contraceptivos orais em mulheres com sobrepeso ou obesidade. Como alternativa, você pode optar por um método contraceptivo não oral, como o DIU ou o implante, que não são tão afetados pelos GLP-1. Nem todos os métodos contraceptivos fazem efeito imediatamente; converse sobre o método escolhido com um profissional de saúde ou consulte a bula para garantir que você esteja efetivamente coberto.

Para mais informações sobre GLP-1 e uso de contraceptivos, consulte as orientações da Faculdade de Saúde Sexual e Reprodutiva (FSRH) . Em caso de dúvidas, consulte um profissional de saúde.

GLP-1 e amamentação

Medicamentos com GLP-1 não devem ser tomados por mulheres que estejam amamentando. Isso ocorre porque não há dados de segurança suficientes para saber se tomar um medicamento com GLP-1 pode causar danos ao bebê. Se tiver alguma dúvida, consulte um profissional de saúde.

Medicamentos GLP-1 e depressão ou pensamentos suicidas
Após uma revisão abrangente de segurança, a MHRA concluiu que os dados disponíveis não dão suporte a uma associação causal entre GLP-1s e depressão, ideação suicida e suicídio.

A MHRA continuará monitorando de perto o risco de reações psiquiátricas graves associadas a esses medicamentos e avaliará novos dados assim que estiverem disponíveis.

Uso de medicamentos GLP-1 durante uma cirurgia ou operação
Se você estiver tomando um medicamento GLP-1, informe sua equipe de saúde, incluindo o anestesista, antes do procedimento cirúrgico.

Este medicamento retarda o esvaziamento do estômago, aumentando o risco de o conteúdo estomacal (por exemplo, alimentos e bebidas) entrar nas vias aéreas e pulmões durante cirurgias ou procedimentos sob anestesia geral ou sedação profunda. Isso significa que pode ser necessária uma modificação nas instruções pré-procedimento e na técnica anestésica.

Continue tomando os medicamentos prescritos normalmente e não interrompa o tratamento sem antes conversar com seu médico.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Déficit de magnésio


O magnésio é um mineral essencial envolvido em mais de 300 reações enzimáticas no organismo, sendo crucial para funções neuromusculares, saúde cardiovascular, regulação glicêmica e síntese de proteínas e DNA. Apesar de sua importância, a deficiência de magnésio é frequentemente subdiagnosticada, mesmo sendo relativamente comum, especialmente em populações vulneráveis.

Funções do Magnésio no Organismo
  • Participa da contração e relaxamento muscular.
  • Atua na transmissão nervosa e estabilidade elétrica das células.
  • Regula os níveis de cálcio, potássio e sódio.
  • É necessário para a produção de energia (ATP).
  • Modula o sistema imune e a resposta inflamatória.
  • Contribui para a saúde óssea e prevenção da osteoporose.
Sintomatologia da Deficiência de Magnésio

Os sintomas da hipomagnesemia podem variar de inespecíficos a graves, dependendo da intensidade da deficiência:
  • Fadiga 
  • Fraqueza muscular
  • Irritabilidade
  • Cefaleia
  • Perda de apetite
  • Náuseas e vômitos
  • Câimbras e espasmos musculares
  • Tremores
  • Dormência e formigamento
  • Convulsões
  • Arritmias cardíacas (prolongamento do intervalo QT, fibrilação atrial)
  • Hipertensão
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Insônia
  • Confusão mental
A deficiência crônica pode estar relacionada a quadros de síndrome metabólica, resistência insulínica e agravamento de doenças autoimunes e neurodegenerativas.

Diagnóstico da Deficiência de Magnésio

Desafios no Diagnóstico: O conteúdo de magnésio corporal total é de aproximadamente 25 g, sendo que 60% a 65% estão presentes nos ossos, que, assim como o músculo, constituem uma reserva desse mineral nas formas de fosfato e carbonato. O restante se localiza nos tecidos moles (27% no tecido muscular) e no interior das células, caracterizando o magnésio como o segundo cátion mais abundante no meio intracelular. Em menor proporção (1%), encontra-se no plasma, sendo que o magnésio no fluido extracelular encontra-se 70% a 80% na forma livre ionizada (Mg2+), 20% a 30% ligado a proteínas e 1% a 2% complexado a outros ânions. O músculo contém maior teor de magnésio em relação ao cálcio, contrariamente ao que ocorre no sangue. Isso torna os exames séricos pouco sensíveis para detectar a deficiência tecidual.

Exames Laboratoriais Disponíveis:

Magnésio sérico total: valor de referência entre 1,7 e 2,2 mg/dL. Contudo, pode estar normal mesmo na deficiência.
Magnésio ionizado (livre): mais preciso, mas pouco disponível.
Magnésio eritrocitário: pouco disponível
Excreção urinária de magnésio (em urina de 24h):útil em casos suspeitos de perda renal.
Relação magnésio/cálcio ou magnésio/potássio: pode auxiliar na análise clínica.
OBS: dosagem de magnésio no cabelo ou unha não tem correlação com déficit.

Diagnóstico Clínico

Diante da baixa sensibilidade dos exames laboratoriais, o diagnóstico é frequentemente clínico, baseado na presença de sintomas compatíveis, história alimentar pobre em magnésio e presença de fatores de risco.

Grupos de risco
  • Idosos: já que possuem uma ingestão reduzida, má absorção e uso frequente de medicamentos (diuréticos, IBPs).
  • Pacientes com doenças gastrointestinais: como doença celíaca, Crohn, diarreia crônica e síndromes disabsortivas.
  • Pcientes submetidos a ressecções no trato digestivo: ex. cirurgia bariátrica
  • Diabéticos tipo 2: perdas urinárias aumentadas, a hiperglicemia crônica aumenta a diurese (produção de urina), levando à excreção excessiva de magnésio pela urina. Além disso, a insulina auxilia na reabsorção renal de magnésio. Quando há resistência à insulina (comum no diabetes tipo 2), os rins eliminam mais magnésio pela urina. Além disso o uso de hipoglicemiantes também favorece uma redução dos níveis plasmaticos de magnésio, já que ele, assim como o fósforo, potássio e B1 entram para dentro da célula quando a glicose liga ao receptor de insulina.  
  • Além disso, o magnésio melhora a sensibilidade à Insulina, através de 3 mecanismos: a ativação de enzimas: sendo um co-fator de enzimas envolvidas no metabolismo da glicose, como as tiroquinases dos receptores de insulina e as proteínas quinases, que facilitam a sinalização da insulina nas células. Interferindo na Fosforilação da glicose: Auxiliando no transporte de glicose para dentro das células, reduzindo a resistência à insulina. Redução da inflamação: O magnésio tem efeito anti-inflamatório, diminuindo citocinas que prejudicam a ação da insulina (como TNF-Alfa). Resultado: Baixos níveis de magnésio estão associados a maior resistência à insulina, um fator chave no diabetes tipo 2.
  • Etilistas crônicos: baixa ingestão, má absorção e maior excreção urinária.
  • Usuários de certos medicamentos:
  • Diuréticos de alça (furosemida), Inibidores da bomba de prótons (omeprazol, lansoprazol, esomeprazol)
  • Aminoglicosídeos, Quimioterápicos
  • Gestantes: devido a maior demanda metabólica.
  • Atletas: maior demanda
  • Pessoas com sudorese excessiva: perda pela transpiração
  • Síndrome de Ehlers Danlos
  • Pessoas com dietas restritivas: anorexia, bulimia
  • Dieta ocidental, rica em carboidratos refinados ou alimentação rica em ultraprocessados
Fatores que favorecem redução de teor de magnésio nos alimentos

  • Solos Pobres em Magnésio: e aqui encontra-se o solo do cerrado. 
Esgotamento do solo: Agricultura intensiva sem reposição adequada de nutrientes diminui o teor de magnésio no solo.  
Uso excessivo de fertilizantes químicos: Alguns fertilizantes (como os ricos em potássio ou nitrogênio) podem interferir na absorção de magnésio pelas plantas.  

  • Processamento Industrial de Alimentos  
Refinamento de grãos: O magnésio está presente no farelo e no gérmen, que são removidos no processamento de farinhas brancas e arroz polido.  
Cozimento em excesso: A água de cozimento pode levar embora parte do magnésio, principalmente em legumes e verduras.  
Industrialização de alimentos: Alimentos ultraprocessados geralmente perdem magnésio durante as etapas de fabricação.  

  • Métodos de Cultivo 
Uso de pesticidas e herbicidas: Alguns químicos podem reduzir a absorção de magnésio pelas plantas.  
Cultivo hidropônico sem suplementação adequada: Se a solução nutritiva não tiver magnésio suficiente, os vegetais terão menos desse mineral.  

  • Armazenamento e Preparo Caseiro  
Cozinhar em muita água: O magnésio é solúvel em água, então fervura prolongada pode reduzir seu teor.  
Descascar frutas e legumes: Muitos nutrientes, incluindo magnésio, estão concentrados na casca.  

  • Fatores Ambientais
Acidificação do solo: Solos muito ácidos (pH baixo) podem reduzir a disponibilidade de magnésio para as plantas.  
Estresse hídrico: Secas ou irrigação inadequada afetam a absorção de nutrientes pelas raízes.  

Como preservar o magnésio nos alimentos?

Prefira alimentos integrais** (arroz integral, farinha de trigo integral).  
Cozinhe no vapor em vez de cozinhar na água.  
Coma vegetais crus ou levemente cozidos.  
Opte por alimentos orgânicos ou cultivados em solos ricos em nutrientes.  

Se a dieta for pobre em magnésio, pode ser necessário suplementar, mas o ideal é ajustar a alimentação para obter esse mineral naturalmente.

Fontes alimentares de Magnésio

A recomendação diária de ingestão de magnésio para adultos varia entre 310 a 420 mg/dia, dependendo do sexo e da idade.

Fonte: VANNUCHI, Hélio, MONTEIRO, Thais Helena. ILSI Brasil - international life sciences Institute do Brasil. Série: Funções plenamente reconhecidas de nutrientes

Devemos dar preferência para alimentos minimamente processados, integrais e de origem vegetal. A biodisponibilidade do magnésio é reduzida em alimentos com alto teor de fitatos (como leguminosas mal preparadas), por isso, o remolho e cocção adequados melhoram a absorção.

Considerações Finais

A deficiência de magnésio é uma condição subestimada, mas com impacto clínico significativo. Diante da dificuldade laboratorial em detectar a hipomagnesemia, é fundamental que o profissional de saúde esteja atento aos sinais e sintomas, fatores de risco e hábitos alimentares do paciente. A correção da deficiência pode ser feita com mudanças dietéticas e, quando necessário, com suplementação oral de magnésio (como citrato ou cloreto, que apresentam boa absorção).

Referências Bibliográfica

1 - VANNUCHI, Hélio, MONTEIRO, Thais Helena. ILSI Brasil - international life sciences Institute do Brasil. Série: Funções plenamente reconhecidas de nutrientes, V. 16. Magnésio. 2010
2 - Gröber U, Schmidt J, Kisters K. Magnesium in Prevention and Therapy. *Nutrients*. 2015;7(9):8199-8226.

Autores:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
Rodrigo Lamonier - Nutricionista
Dra. Natalia Jatene - Médica Endocrinologista