sábado, 14 de junho de 2025

Níveis muito altos ou muito baixos de vitamina D parecem aumentar o risco de quedas e fraturas

Tanto níveis muito baixos quanto muito altos de vitamina D parecem aumentar o risco de quedas e fraturas, afirmou uma palestrante durante a Conferência Científica e Clínica Anual da American Association of Clinical Endocrinology.

O nível ideal de 25-hidroxivitamina D no plasma para prevenção de quedas e fraturas parece estar entre 20 ng/mL e 40 ng/mL, mas “mais estudos são necessários para confirmar os limites da zona de menor risco de quedas”, disse Dra. Bess Dawson-Hughes, cientista sênior do Departamento de Dieta e Prevenção de Doenças Crônicas no Envelhecimento Saudável do Jean Mayer USDA Human Nutrition Research Center on Aging, na Universidade Tufts, e professora de medicina na divisão de endocrinologia do Tufts Medical Center, em uma palestra principal.

Os grandes estudos VITAL, ViDA e D-HEALTH, embora não tenham sido projetados com quedas e fraturas como desfechos primários, não demonstraram que a suplementação com vitamina D aumente ou reduza o risco de quedas, disse Dawson-Hughes.

No entanto, ela observou que esses estudos usaram métodos subótimos para detectar quedas. Obter dados de qualidade sobre quedas exige contato frequente entre os coordenadores do estudo e os participantes, o que não é viável em estudos de grande escala. Além disso, esses ensaios geralmente incluíram participantes com níveis adequados de 25-(OH)D no início, com menor possibilidade de benefício com a suplementação.

Segundo Dawson-Hughes, que recebeu o prêmio Frontiers in Science and Distinction in Endocrinology durante o congresso, não é inesperado que a curva de risco de quedas e fraturas seja em U, pois “níveis abaixo de 20 ng/mL são amplamente considerados insuficientes”, e, acima de aproximadamente 40 ng/mL, o risco de quedas volta a subir — sendo as quedas o principal fator de risco para fraturas.

O mecanismo que liga concentrações altas de vitamina D ao risco de quedas e fraturas pode envolver o fator de crescimento de fibroblastos 23 (FGF23), já que doses elevadas de vitamina D aumentam significativamente os níveis circulantes de FGF23, que estão associados à fragilidade, explicou ela.

“Desequilíbrio postural em níveis baixos de 25-(OH)D e FGF23 elevado em níveis altos provavelmente contribuem para o aumento do risco de quedas e fraturas”, disse Dawson-Hughes. “O FGF23 elevado promove um aumento do hormônio da paratireoide e redução do fosfato, ambos acompanhados por miopatia.”

Outro fator envolvido pode ser a epidemia de obesidade, pois os níveis atingidos de 25-(OH)D são reduzidos em pessoas com obesidade devido à sequestração da vitamina D3 no tecido adiposo e à diluição volumétrica. “O tempo necessário para alcançar um aumento pleno nos níveis de 25-(OH)D é pouco estudado, mas parece ser prolongado, possivelmente porque a obesidade inibe a 25-hidroxilação hepática.”

Há uma deficiência generalizada de vitamina D e cálcio em todo o mundo, e “são necessários ensaios clínicos focados para documentar o efeito de doses de reposição de vitamina D e cálcio sobre quedas e fraturas em adultos mais velhos com deficiência que vivem na comunidade”, afirmou. “Ensaios clínicos positivos podem ter implicações políticas significativas para estratégias de fortificação alimentar e outras abordagens para aumentar os níveis de 25-(OH)D e a ingestão de cálcio em populações carentes.”

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Molho pesto e suas variações mundo a fora



O  Pesto é um molho italiano, originário de Gênova, região do norte da Itália. Na sua receita clássica há:
  • Folhas de manjericão moídas com pinoli, 
  • Alho,
  • Sal marinho, 
  • Queijo parmesão ou pecorino ralados
  • Azeite extra-virgem.
  • Pimenta preta.
Mas você sabia que pode variá-lo, abrasileirá-lo ? Ou então fazer a versão Siciliana ? Ou talvez um pesto mais refrescante com agrião? Abaixo algumas versões, extraídas do instagram da Rita Lobo:
  • Pesto de castanha-de-caju
  • Pesto de agrião
  • Pesto de rúcula
  • Pesto de coentro
  • Pesto tomate seco
  • Pesto de hortelã
Pesto de castanha de caju

No lugar do pinoli, a castanha a ser utilizada castanha de caju torrada e sem sal. 
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de folhas de manjericão verde
½ xícara (chá) de castanha-de-caju torrada e sem sal
1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado (cerca de 100 g)
2 dentes de alho
1½ xícara (chá) de azeite extra-virgem
sal a gosto

Modo de preparo:
Bata no liquidificador ou processar o azeite com as castanhas de caju, o alho, parmesão até triturar. Junte as folhas de manjericão e bata novamente até formar um molho. De acordo com a Rita Lobo quanto menos você bate as folhas, mais verde fica o molho. 
Acerte o sal.
Combina com polenta, frango grelhado, espaguete. 
Caso queira armazenar: Coloque o molho em frasco de vidro e cubra com uma camada fina de azeite. Isso ajudará a evitar que haja a oxidação do pesto e com isso ele escureça. tampe e armazene na geladeira por até 15 dias ou no congelador por até 3 meses.

Pesto de agrião ou de rúcula

No lugar do manjericão, você usará o agrião ou a rúcula. No lugar do alho, usará suco de limão. 
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de folhas de agrião ou de rúcula
½ xícara (chá) de castanha-de-caju torrada e sem sal
1 sumo de limão
1½ xícara (chá) de azeite extra-virgem
sal a gosto

Modo de preparo:
Bata no liquidificador ou processar o azeite com as castanhas de caju ou naté triturar. Junte as folhas de agrião e bata novamente até formar um molho. Depois é só acertar o sal.
Caso queira armazenar, mesma forma dos demais. Transferir para um pote e colocar uma camada de azeite. 

Pesto de salsinha com queijo meia cura (Molho Peste)

Nesse caso, no lugar no manjericão usaremos a salsinha e no lugar do parmesão usaremos queijo meia cura
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de folhas de salsinha
½ xícara (chá) de castanha-de-caju torrada e sem sal
1 xícara (chá) de queijo meia cura
2 dentes de alho
1½ xícara (chá) de azeite extra-virgem
sal a gosto
Pimenta dedo de moça (a gosto)

Modo de preparo:
Bata no liquidificador ou processar o azeite com as castanhas de caju, o alho, queijo meia cura até triturar. Junte as folhas de salsinha e bata novamente até formar um molho. 
Acerte o sal.

Pesto de Coentro com amendoim (Pesto diferentão)

No lugar no manjericão usaremos o coentro e no lugar do da castanha de caju ou nozes, usaremos amendoim
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de folhas de coentro
½ xícara (chá) de amendoim
1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado
2 dentes de alho
1½ xícara (chá) de azeite extra-virgem
sal a gosto

Modo de preparo:
Bata no liquidificador ou processar o azeite com o amendoim, o alho, parmesão até triturar. Junte as folhas de coentro e bata novamente até formar um molho. Acerte o sal.

Pesto de Siciliano de tomate seco

No lugar no manjericão usaremos o tomate seco e no lugar das nozes ou pinoli, usaremos a castanha de caju. 
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de tomate seco
½ xícara (chá) de castanha de caju
1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado
2 dentes de alho
1½ xícara (chá) de azeite extra-virgem
sal a gosto

Modo de preparo:
Bata no liquidificador ou processar o azeite com a castanha de caju, o alho, parmesão até triturar. Junte o tomate seco e bata novamente até formar um molho. Acerte o sal. 

Pesto de hortelã

Ao invés de manjericão, usará hortelã
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de folhas de hortelã
½ xícara (chá) de castanha-de-caju torrada e sem sal ou nozes/pinol
1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado (cerca de 100 g)
2 dentes de alho
1½ xícara (chá) de azeite extra-virgem
1 limão
sal a gosto

Modo de preparo:
Bata no liquidificador ou processar o azeite com a castanha da sua preferência, o alho, parmesão até triturar. Junte as folhas de hortelã e bata novamente até formar um molho. Depois misture o suco do limão e bata mais um pouco.
Acerte o sal.

Mais receitas:
https://www.the-pasta-project.com/types-of-pesto/
https://www.uol.com.br/nossa/cozinha/listas/pesto-nao-precisa-ser-de-manjericao-conheca-variacoes-deste-molho-facil.htm
https://www.tudogostoso.com.br/noticias/receitas-de-molho-pesto-a5088.htm


segunda-feira, 9 de junho de 2025

Qual médico procurar para emagrecer?


Perguntei ao Chat GPT: Qual médico devo procurar para emagrecer?

A resposta foi a seguinte: Para emagrecer de forma segura e eficaz, você pode procurar os seguintes tipos de médicos, dependendo da sua situação:

1) Endocrinologista:
* Especialista em hormônios e metabolismo.
* Ideal se você suspeita de problemas hormonais (como hipotireoidismo, resistência à insulina, síndrome dos ovários policísticos).
* Pode investigar causas metabólicas do ganho de peso.

2) Nutrólogo
* Médico especializado em nutrição e doenças relacionadas ao excesso ou à falta de nutrientes.
* Trabalha com emagrecimento, avaliação nutricional, prescrição de dietas e suplementos, se necessário.
* Bom para um plano médico-nutricional personalizado.

3) Clínico Geral
* Pode ser o primeiro passo.
* Avalia sua saúde geral e te encaminha para o especialista adequado (endocrinologista, nutrólogo, psicólogo ou nutricionista).

4) Psiquiatra ou Psicólogo (quando necessário)
* Se houver compulsão alimentar, ansiedade ou depressão envolvidas no ganho de peso.
* Trabalham o aspecto comportamental da alimentação.

💡 Dica: Além do médico, o acompanhamento com **nutricionista** é fundamental. Em alguns casos, uma equipe multidisciplinar (médico + nutricionista + psicólogo + educador físico) é a melhor abordagem.

Se quiser, posso te ajudar a decidir qual profissional faz mais sentido para o seu caso específico. É só me contar um pouco mais sobre seu histórico e objetivos.

Continuei perguntando: preciso fazer uma dieta e não sei qual médico procurar para emagrecer

A resposta do Chat GPT foi: Se o seu principal objetivo é fazer uma dieta para emagrecer com segurança e orientação médica, o melhor profissional para começar é o nutrólogo.

✅ Por que procurar um nutrólogo?

* É um médico  com especialização em nutrição clínica e metabolismo.
* Vai avaliar exames laboratoriais, histórico de saúde, composição corporal e hábitos alimentares.
* Pode prescrever dietas, suplementos, medicações (quando indicadas) e solicitar exames.
* Trabalha com estratégias individualizadas para emagrecimento saudável.

🩺 Como funciona a consulta com o nutrólogo?

1. Avaliação clínica e metabólica.
2. Solicitação ou análise de exames.
3. Diagnóstico de possíveis causas do sobrepeso (hormonal, comportamental, nutricional, etc).
4. Prescrição de **dieta personalizada** e possível medicação.
5. Acompanhamento regular com ajustes.

👥 Outras opções úteis:

Endocrinologista: se você suspeita de problemas hormonais (ex: tireoide, insulina).
Nutricionista: para um plano alimentar detalhado (muitos nutrólogos trabalham junto com nutricionistas).
Psicólogo: se há compulsão, ansiedade ou questões emocionais ligadas à comida.

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O Chat GPT assim como outras IAs apesar de serem ferramentas que facilitam a noss vida, ainda possuem algumas limitações. Então vamos à resposta correta. 

Quero emagrecer, quem devo procurar? 

Primeiramente, emagrecer quanto? É tratamento de sobrepeso, obesidade ou somente perder gordura localizada?

Segundo: TODO médico pode atuar no tratamento da obesidade ou da perda de peso (emagrecimento). Porém, os mais capacitados são: Nutrólogos e Endocrinologistas. A dúvida mora principalmente aí. Qual procurar?


Ambos tem formação para tratar obesidade, a diferença é o enfoque que cada um dá ao processo. O Endócrino tende a ser mais "medicamentalista". Não que o Nutrólogo não seja. Porém, o Nutrólogo muitas vezes pode postergar o uso de medicação em alguns casos. 

Além disso, o nutrólogo tende a avaliar de forma mais global o paciente, principalmente a parte alimentar, fazendo recordatório alimentar, identificando os prováveis erros alimentares. Analisando os hábitos de vida do paciente, o contexto social, familiar que ele está inserido. Além disso, pode ser que (se ele tiver formação para tal), analisa a parte psicológica e comportamental desse paciente, conseguindo direcionar rapidamente para um psicólogo ou psiquiatra. 

O Nutrólogo é médico especializado em diagnosticar e tratar doenças relacionadas à nutrição. Ele tem uma visão bem mais ampla da alimentação como parte essencial no tratamento e prevenção de doenças, inclusive obesidade. Ele geralmente avaliará as carências e excessos nutricionais. Prescreverá suplementos se necessário. Trabalha com reeducação alimentar com base em evidências clínicas e partindo desse pressuposto, solicitará que o nutricionista retire ou inclua algum alimento na dieta. Se existir alguma intolerância alimentar, ele procederá com a investigação. 

O nutrólogo também tende a analisar de forma mais detalhada a composição corporal (seja através de DEXA, bioimpedância ou antropometria), o gasto energético do paciente (seja com fórmulas ou com calorimetria indireta). Aplica questionários para analisar os hábitos do paciente ao longo de uma semana.

Isso não quer dizer que o Endócrino ou qualquer outro médico possa fazer isso. O que afirmo é que não é comum. Ou seja, não é por que sou Nutrólogo que estou defendendo a abordagem Nutrológica, essa conclusão é fruto da vivência ao longo de quase 20 anos. 

Também é importante salientar, que muitos desses pacientes portadores de obesidade, precisarão de tratamento conjunto com o Endócrino e Nutricionista. 


Aqui, vai uma outra ressalva à respota do chat GPT: Nutrólogo pode prescrever dieta, mas por lei, isso é uma atividade privativa do nutricionista. O profissional mais habilitado para a prescrição de um plano alimentar individualizado e harmônico é o Nutricionista. 

Há nutrólogos que prescrevem dieta? Sim. Eu prescrevo? No meu consultório não, pois, treinei um nutricionista para ficar dentro do consultório comigo e posteriormente elaborar a dieta. 

Resumindo: Quem procurar para emagrecer? O nutrólogo rs. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192, RQE 11915

Anorexia Nervosa — Fatos, Frustrações e o Futuro

 


Importância: A anorexia nervosa é uma doença psiquiátrica prevalente associada a desfechos excepcionalmente ruins, incluindo altas taxas de morbidade e mortalidade prematura. Os tratamentos baseados em evidências atualmente disponíveis para a anorexia nervosa foram desenvolvidos há várias décadas e têm eficácia limitada. A área da anorexia nervosa — e, mais amplamente, dos transtornos alimentares — ainda não alcançou avanços científicos significativos que levem a desfechos aceitáveis para as pessoas com esse transtorno.

Constatações: Esta Comunicação Especial destaca como os sintomas psicológicos e físicos simultâneos da anorexia nervosa contribuem para dois grandes problemas que têm atrasado o avanço da pesquisa na área e dificultado inovações: (1) a excessiva especialização e compartimentalização da área e (2) um foco excessivamente estreito na restauração do peso como objetivo do tratamento.
Conclusões e Relevância: São feitas recomendações específicas para impulsionar o campo, incluindo a adoção de uma abordagem multidisciplinar e colaborativa na pesquisa com colegas de áreas afins, além de uma abordagem mais holística para compreender e tratar a anorexia nervosa.

Fatos

A anorexia nervosa (AN) é uma doença mental grave, caracterizada por distúrbios na imagem corporal e comportamentos alimentares desordenados que levam a um peso corporal significativamente baixo. A prevalência ao longo da vida da AN é estimada em até 4%, e, embora a incidência geral tenha se mantido relativamente estável ao longo do tempo, a incidência entre jovens aumentou substancialmente nas últimas décadas.

Apesar da alta prevalência e do aumento da incidência entre os jovens, as opções de tratamento para AN permanecem limitadas.

As terapias psicológicas para AN incluem o monitoramento da alimentação e do peso e geralmente têm como objetivo ajudar os pacientes a desenvolver habilidades para lidar com desafios cognitivos, emocionais ou ambientais que interferem nos comportamentos alimentares. 

Essas terapias são atualmente os únicos tratamentos recomendados com base em evidências para AN, embora essa base de evidências seja prejudicada pela dependência de um número pequeno de ensaios clínicos de alta qualidade, cujos resultados mostram eficácia limitada dessas abordagens.
Assim, a AN continua sendo uma doença mal tratada, caracterizada por uma das maiores taxas de mortalidade prematura entre os transtornos mentais (razão padronizada de mortalidade de 5,9; perdendo apenas para o uso de opioides) e uma taxa de recuperação a longo prazo de apenas 50% a 60% entre os pacientes sobreviventes.

Nossos tratamentos atuais baseados em evidências para AN foram desenvolvidos há várias décadas e demonstram eficácia apenas para uma parcela dos pacientes. 

Embora haja esforços internacionais em andamento para melhorar nossa compreensão e tratamento da AN e de outros transtornos alimentares, o campo ainda não realizou os avanços científicos significativos que possam levar a desfechos aceitáveis para as pessoas com AN. Neste artigo, destacamos várias questões que contribuíram para o progresso limitado observado na área dos transtornos alimentares, com foco especial na AN, e oferecemos recomendações claras para o futuro da pesquisa. Embora o foco deste artigo seja a anorexia nervosa, os obstáculos discutidos se aplicam, em diferentes graus, a todo o espectro dos transtornos alimentares.

Frustrações

Embora a AN seja fundamentalmente definida como uma doença psiquiátrica, as consequências físicas diretamente associadas ao transtorno podem ser fatais. Juntamente com a natureza egossintônica da doença, isso distingue a AN da maioria das outras doenças mentais e torna seu tratamento um desafio para muitos profissionais de saúde. Cada órgão e sistema do corpo é afetado pela inanição, frequentemente agravada por comportamentos patológicos de controle de peso, como purgação, exercício físico excessivo e uso inadequado de medicamentos. Portanto, enquanto os pacientes enfrentam uma doença mental avassaladora e consumidora, também lidam com uma série de complicações físicas graves que precisam ser abordadas. Essa complexidade representa um desafio único para muitos sistemas de saúde, com os pacientes frequentemente caindo na lacuna entre os cuidados médicos e psiquiátricos quando o tratamento especializado para transtornos alimentares não está disponível. Além das dificuldades de acesso a cuidados adequados para atender às necessidades psicológicas e fisiológicas (incluindo a restauração da alimentação e do peso normais), essa divisão contribuiu para dois grandes problemas que impactam a pesquisa em AN: o campo tornou-se (1) excessivamente especializado e compartimentalizado e (2) fixado em tratamentos que abordam a restauração do peso como o principal — ou até único — desfecho.

A maioria dos sistemas de saúde ao redor do mundo não está estruturada para facilitar cuidados multidisciplinares adequados entre a saúde física e mental. Embora complicações físicas não sejam incomuns em condições psiquiátricas (por exemplo, síndrome metabólica na esquizofrenia), elas não são características centrais do transtorno da mesma forma que na AN, que é única por ter um sintoma físico (ou seja, peso corporal significativamente baixo) como critério diagnóstico. 

Essa característica distintiva da AN contribuiu para a crença de que a AN é um transtorno de nicho na interface entre mente e corpo que exige cuidados e conhecimentos especializados. Embora seja verdade que o cuidado multidisciplinar abrangente seja necessário e que pacientes e famílias valorizem o atendimento especializado, acreditamos que essa mentalidade contribuiu para a excessiva especialização dentro do campo dos transtornos alimentares, com o efeito de isolar o cuidado clínico e a pesquisa em transtornos alimentares do restante da saúde mental.

Em termos de cuidado clínico, esse isolamento contribuiu para a atitude frequentemente expressa por serviços gerais de saúde mental de que “não tratam transtornos alimentares” — uma atitude que, argumentavelmente, se estendeu para a pesquisa, com uma aparente relutância ou desinteresse em relação aos transtornos alimentares por parte do restante do campo da saúde mental. Esse isolamento, juntamente com a atitude estigmatizante de que a AN afeta apenas mulheres jovens, brancas e de classe alta, dificultou a colaboração com colegas que atuam em outras áreas da pesquisa em saúde mental, onde maiores avanços nos tratamentos foram alcançados. De fato, o campo mais amplo da saúde mental frequentemente exclui a pesquisa em transtornos alimentares de iniciativas em larga escala (por exemplo, o financiamento em saúde mental da Wellcome Trust). Ao mesmo tempo, o próprio campo dos transtornos alimentares frequentemente contribui para o progresso lento por não fazer esforços específicos para colaborar com colegas de áreas relacionadas. Esse isolamento e os consequentes atrasos no progresso são evidentes na lenta adoção, por parte do campo dos transtornos alimentares, de conceitos e metodologias proeminentes em outras áreas da saúde mental, como o modelo de intervenção precoce em doenças mentais, que promove a identificação e o tratamento precoces antes do desenvolvimento de sintomas francos ou da instalação da doença; o uso de um modelo voltado para jovens em idade de transição (12 a 25 anos), que reconhece a importância de um cuidado consistente ao longo dessas fases do desenvolvimento, quando é mais provável que as doenças mentais surjam (envolvendo contato regular com profissionais de saúde e apoio entre pares, juntamente com treinamento de habilidades, de modo que patologias recorrentes sejam identificadas e tratadas precocemente); e o uso de descobertas da pesquisa básica focadas na compreensão dos mecanismos da doença para desenvolver tratamentos personalizados e baseados em evidências que tenham como alvo o transtorno subjacente.

Além disso, esse isolamento, junto com o estigma associado aos transtornos alimentares (por exemplo, a percepção equivocada de que não são transtornos sérios e de que são uma escolha ou estão ligados à vaidade de mulheres jovens), tem dificultado o financiamento de pesquisas, já que os transtornos alimentares são frequentemente considerados muito específicos ou pouco sérios para serem priorizados por órgãos financiadores. 

Quando há financiamento direcionado para os transtornos alimentares, o foco costuma estar na pesquisa translacional (por exemplo, várias oportunidades do National Health & Medical Research Council e do Medical Research Future Fund na Austrália). Juntamente com esse foco dos financiadores, a ameaça real e imediata de morte por AN também gera um senso de urgência para focar (prematuramente) os esforços de pesquisa no tratamento, o que encoraja pesquisadores a submeterem propostas para ensaios intervencionistas subdesenvolvidos e pouco embasados em conhecimento mecanístico. 

Outras áreas da saúde mental têm uma base modesta, mas maior, de conhecimento mecanístico para sustentar seus estudos de tratamento (embora seja observado que muitos ensaios bem-sucedidos em outras condições psiquiátricas tenham se baseado em pouco conhecimento mecanístico, como o modelo glutamatérgico da esquizofrenia); no entanto, é necessária mais pesquisa fundamental para determinar o que contribui para o desenvolvimento e a manutenção da AN a fim de informar adequadamente a criação de tratamentos personalizados ou eficazes. Assim, embora seja imperativo financiar ensaios clínicos informados pelas limitadas evidências mecanísticas existentes, ressaltamos a necessidade paralela de um foco maior na compreensão de como e o que devemos direcionar para apoiar avanços impactantes e sustentáveis no tratamento da AN.

A natureza potencialmente fatal das consequências físicas da AN leva a um foco compreensível na estabilização médica e na restauração do peso corporal como primeira prioridade no tratamento. Esse foco resultou em tratamentos, especialmente aqueles realizados em ambientes intensivos (internação, hospital-dia ou residência terapêutica), que priorizam inicialmente o tratamento dos componentes físicos e comportamentais do transtorno para regular os comportamentos alimentares antes de abordar os componentes psicológicos subjacentes da doença. Esses tratamentos muitas vezes enfatizam o tratamento do componente psicológico em paralelo (ou têm como objetivo abordar os aspectos psicológicos indiretamente, por meio dos comportamentos), mas há uma priorização clara dos comportamentos alimentares desordenados e do baixo peso corporal associados à doença (isto é, argumentavelmente, manifestações secundárias e terciárias das cognições subjacentes à AN). 

Embora essa abordagem possa ser necessária em alguns casos, como quando questões psicológicas e distorções cognitivas são consequência da inanição, a priorização dos sintomas comportamentais ou físicos em detrimento dos aspectos psicológicos que podem motivar os comportamentos alimentares desordenados pode parecer inadequada para muitos indivíduos com AN. 

Para alguns, um foco estreito na restauração do peso é vivenciado como angustiante e invalidante, se isso não lhes parecer a parte mais perturbadora da doença, podendo também dificultar o enfrentamento adequado do transtorno. Embora certo nível de estabilização médica e restauração do peso seja necessário para que os indivíduos tenham capacidade cognitiva para se engajar no tratamento, uma vez que essa estabilização esteja estabelecida, são necessárias pesquisas para investigar uma abordagem mais holística para medir e alcançar o bem-estar. 

Especificamente, defendemos uma abordagem integrada desde o início, que não apenas aborde os sintomas comportamentais e físicos do transtorno, mas também trate explicitamente os mecanismos psicológicos que podem motivar essas manifestações.

A priorização atual dos sintomas físicos da AN também é evidente em programas de tratamento que enfatizam metas de peso como medida de sucesso terapêutico e nos muitos ensaios clínicos em AN que reportam o índice de massa corporal como desfecho primário. 

Embora o peso seja, indiscutivelmente, um desfecho importante, o foco na restauração do peso como principal medida de sucesso é insuficiente se não houver também um foco paralelo em sintomas comportamentais e físicos mais amplos e, acima de tudo, em mudanças nos sintomas psicológicos como métrica de resultado. Ensaios clínicos em AN demonstram que, embora a restauração do peso possa ser alcançada ao final do tratamento, os sintomas psicológicos frequentemente persistem e levam mais tempo para se resolver. Esses sintomas persistentes podem levar à recaída e ao retorno ao baixo peso, o que ocorre com frequência. 

Assim, tratamentos que focam nas contribuições psicológicas ao transtorno podem ser de importância particular, especialmente para indivíduos que não respondem aos tratamentos baseados em evidências atualmente disponíveis. Além disso, os ensaios clínicos em AN precisam de um foco maior nos desfechos (e mecanismos) psicológicos antes, durante e após o tratamento. Estudos de acompanhamento em longo prazo também são fundamentais para avaliar a durabilidade do progresso e a relação entre os avanços físicos, comportamentais e psicológicos ao longo do tempo.

Evidências emergentes demonstram que os impactos fisiológicos e neurológicos da perda de peso e do baixo peso na AN podem contribuir para a persistência da doença. Embora isso reforce a importância de reverter a perda de peso e o baixo peso, também levanta a possibilidade de que existam marcadores ou mecanismos importantes — e ainda pouco estudados — envolvidos no baixo peso na AN que poderiam representar novos alvos terapêuticos. Um foco restrito no peso como principal alvo do tratamento ou marcador de sucesso terapêutico pode estar obscurecendo nossas inovações em tratamento.

Futuro

É hora de o campo dos transtornos alimentares fazer esforços intencionais e estratégicos para romper as barreiras que nos têm limitado. Primeiro, precisamos desmantelar o isolamento que criamos em torno dos transtornos alimentares. Precisamos fazer esforços coordenados para aprender com outras áreas da saúde mental e aplicar esses aprendizados na pesquisa em transtornos alimentares. Devemos conduzir pesquisas multidisciplinares e colaborar ativamente com pesquisadores de outras áreas da saúde mental e disciplinas relacionadas (por exemplo, Xie et al., Robinson et al., Phillipou et al., Becker et al. e Bulik et al.). 

Além disso, precisamos participar — e incentivar nossos alunos e residentes a participar — de encontros científicos fora do campo dos transtornos alimentares e recrutar indivíduos de disciplinas não convencionais para se juntarem ao nosso trabalho. Devemos colocar os transtornos alimentares na linha de frente das agendas de financiamento, demonstrando que podemos aplicar os aprendizados de outras áreas da saúde mental para produzir pesquisas de alta qualidade que valham o investimento, sem precisar reinventar a roda — especialmente no que diz respeito a tratamentos personalizados, baseados em evidências, e à intervenção precoce (por exemplo, Dwyer et al. e McGorry et al.). Para incentivar os financiadores a levarem os transtornos alimentares a sério, precisamos educá-los — e ao público em geral — sobre o equívoco de que esses transtornos não valem investimento por serem considerados triviais ou muito específicos.

Em segundo lugar, embora seja claro que devemos continuar cuidando dos pacientes com os melhores tratamentos atualmente disponíveis, precisamos mudar o foco do peso corporal como objetivo terapêutico único ou predominante e como principal medida de desfecho nos ensaios clínicos. Em vez disso, devemos incluir (e validar) indicadores abrangentes de recuperação física (incluindo peso corporal), acompanhados dos aspectos psicológicos do transtorno, que podem levar mais tempo para se resolver e que devem continuar sendo monitorados a longo prazo. É importante ressaltar que, embora devamos continuar testando tratamentos com base teórica ou mecanística sólida, o foco na aplicação imediata desses tratamentos, quando não temos conhecimento suficiente para desenvolver intervenções eficazes, é ilógico e potencialmente prejudicial aos pacientes. Para tratar os pacientes de forma mais eficaz, precisamos compreender os mecanismos subjacentes e os fatores que contribuem para o desenvolvimento e a manutenção do transtorno, para que possamos direcionar adequadamente os tratamentos. Essa compreensão é um passo crítico e fundamental, que superará os impactos imediatos da maioria dos ensaios clínicos da área. Sem uma compreensão profunda e orientada por dados da AN, as tentativas de projetar e implementar ensaios clínicos podem ser prematuras e potencialmente desalinhadas com as necessidades dos pacientes. Como pesquisadores, precisamos aceitar essa realidade e defender, junto aos órgãos financiadores, o apoio a pesquisas que terão aplicabilidade translacional no longo prazo, serão mais impactantes e impulsionarão o campo.

Para que avanços significativos na pesquisa em AN levem a melhorias reais nos desfechos dos pacientes, recomendamos especificamente o seguinte:
Estudos colaborativos e multidisciplinares abrangentes sobre os fatores e mecanismos biológicos, psicológicos e socioculturais envolvidos no desenvolvimento e na manutenção da AN, a fim de orientar de forma mais precisa os esforços futuros de prevenção e tratamento.
Desenvolvimento de intervenções baseadas em evidências, personalizadas para os indivíduos e aplicáveis na prática clínica real.
Estabelecimento de marcadores para identificação precoce e tratamentos com foco em intervenção precoce, para modificar o curso da doença e impedir que a AN se torne crônica, enraizada e mais difícil de tratar.
Avaliação abrangente dos sintomas físicos, comportamentais, cognitivos e psicológicos — e de sua relação dinâmica — em vários momentos durante, ao final e após o tratamento, para melhor compreender o que funciona em quais tratamentos, como e para quem.

É claro que é importante observar que, embora o campo dos transtornos alimentares possa estar atrás de outras áreas da saúde mental em termos de opções terapêuticas eficazes, contribuições significativas já foram feitas para nossa compreensão, prevenção e tratamento da AN e de outros transtornos alimentares. Existem várias iniciativas lideradas por grupos de pesquisa em todo o mundo que se concentram nas áreas prioritárias aqui descritas (por exemplo, Walsh). Embora o campo tenha enfrentado um conjunto único de circunstâncias decorrentes do fato de lidar com um transtorno na interface entre mente e corpo — o que contribuiu para o progresso modesto da área —, devemos reconhecer essas barreiras históricas e superá-las. Precisamos reavaliar nossa compreensão da AN e fazer esforços coordenados para investir no estudo de suas bases, o que nos permitirá desenvolver os tratamentos de alta qualidade e eficácia que as pessoas com AN merecem.

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quinta-feira, 5 de junho de 2025

Qual médico cuida de gordura no fígado?

Tempos atrás um paciente no SUS me perguntou isso. Ela tinha ido ao hepatologista que atende no ambulatório comigo e o colega me encaminhou o paciente para avaliação. Então ele soltou a seguinte pergunta: " mas doutor, desculpa a minha pergunta, qual o médico que cuida de gordura no fígado? Por que fui no que a médica do posto me encaminhou e ele me mandou pro senhor".

A especialidade médica que cuida da gordura no fígado (esteatose hepática) é a Gastroenterologia ou, mais precisamente a Hepatologia. O médico hepatologista ele foca em doenças do fígado, das vias biliares e pâncreas relacionado ao sistema hepatobiliar. 

Entre as principais condições que um hepatologistra trata estão:  
1. Doenças do Fígado
- Esteatose hepática (gordura no fígado): Esteatose hepática não alcoólica (DHGNA) e esteatose alcoólica.  
- As Hepatites virais:  A, B, C, D e E.  
- Hepatite autoimune: Doença em que o sistema imunológico ataca o fígado.  
- Cirrose hepática: Estágio avançado de fibrose do fígado, causada por álcool, hepatites, esteatose, etc.  
- Fibrose hepática: Acúmulo de tecido cicatricial no fígado.  
- Hepatite tóxica: Danos ao fígado por medicamentos, drogas ou toxinas.  

2. Doenças das Vias Biliares
- Colangite biliar primária (CBP): Doença autoimune que afeta os dutos biliares.  
- Colangite esclerosante primária (CEP): Inflamação e fibrose dos dutos biliares.  
- Pedras na vesícula (colelitíase) e complicações: Quando afetam o fígado ou vias biliares.  

3. Tumores Hepáticos e Bilares
- Carcinoma hepatocelular (câncer de fígado): Frequentemente associado à cirrose ou hepatite B/C.  
- Metástases hepáticas: Câncer de outros órgãos que se espalha para o fígado.  
- Tumores benignos: Como hemangiomas e adenomas hepáticos.  

4. Doenças Metabólicas e Genéticas 
- Hemocromatose: Acúmulo excessivo de ferro no fígado.  
- Doença de Wilson: Acúmulo de cobre no fígado e cérebro.  
- Deficiência de alfa-1-antitripsina: Causa doença hepática e pulmonar.  

5. Complicações da Doença Hepática
- Ascite: Acúmulo de líquido no abdômen.  
- Encefalopatia hepática: Confusão mental devido à falência do fígado.  
- Varizes esofágicas: Vasos dilatados no esôfago que podem sangrar.  

6. Transplante Hepático
- Avaliação de candidatos a transplante.  
- Acompanhamento pós-transplante.  

Se você tem alguma condição hepática, o hepatologista é o especialista mais indicado para acompanhar seu caso, especialmente em situações complexas como cirrose, hepatites crônicas ou câncer de fígado.

Mas por que o especialista encaminhou o paciente para o Nutrólogo?

Simples, o paciente em questão precisa ter uma análise dos seus hábitos de vida e isso inclui:
Inquérito alimentar, com posterior dosagem laboratorial de alguns nutrientes, exames bioquimicos
Avaliação da prática regular de atividade física/exercício físico
Análise dos hábitos alimentares que podem interferir na esteatose 
Avaliação do sono

Tudo isso é competência do Nutrólogo. O paciente em questão não é portador de sobrepeso ou obesidade. Mas tem alimentação deficitária em alguns nutrientes. É sedentário. Tem ingestão excessiva de álcool aos finais de semana. Privação de sono. Ou seja, mereceu uma avaliação nutrológica. 

terça-feira, 3 de junho de 2025

O sono interfere no processo de emagrecimento? Por Dra. Lia Bataglini - Médica Nutróloga

 

O impacto da obesidade na saúde da mulher


Por que a obesidade é tão importante na saúde da mulher?

A presença de obesidade tem um impacto profundo em muitos aspectos da saúde da mulher. O acúmulo excessivo de tecido adiposo provoca alterações fisiológicas que afetam múltiplos órgãos e sistemas. Essas alterações estão associadas a diversas condições, incluindo diabetes tipo 2 (DM2), doenças cardiovasculares (DCV), cânceres relacionados à obesidade, osteoartrite, doença renal, tromboembolismo venoso (TEV), doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD), distúrbios ginecológicos e condições de saúde mental (Tabela 1). Este artigo explorará o impacto da obesidade na fisiologia feminina em diferentes fases da vida e discutirá como a obesidade se relaciona com diferentes condições de saúde.

TABELA 1: Resumo dos riscos à saúde associados à obesidade
Condições de saúde relacionadas à obesidade

Distúrbios metabólicos
DM2; dislipidemia

Doença cardiovascular
Hipertensão; doença arterial coronariana

Distúrbios neurológicos
Acidente vascular cerebral (AVC); hipertensão intracraniana idiopática

Câncer
Mama; colo do útero; cólon; esôfago; rim; pâncreas; tireoide; útero

Doença hepática
MASLD: MASH; cirrose

Doença respiratória
Asma; apneia obstrutiva do sono; síndrome da hipoventilação; tromboembolismo pulmonar

Doença da vesícula biliar

Doenças reumáticas
Artrite; gota

Pancreatite

Distúrbios ginecológicos
Ciclos menstruais anormais; infertilidade; SOP (síndrome dos ovários policísticos)

Distúrbios psicológicos
Ansiedade; depressão

Flebite
Inflamação venosa

Doenças de pele

O impacto da obesidade em diferentes fases da vida da mulher

A obesidade tem um impacto multissistêmico na fisiologia feminina em várias fases da vida, por meio de seus efeitos na lipotoxicidade, estresse oxidativo e ativação da resposta inflamatória. Como profissionais de saúde primários (PSPs) para muitas mulheres com obesidade, é importante que especialistas em obstetrícia e ginecologia (OB-GYN) estejam atentos ao fato de que as doenças cardiovasculares (DCVs) são a principal causa de morte entre as mulheres nos Estados Unidos, sendo responsáveis por cerca de 1 em cada 3 mortes (em comparação com aproximadamente 1 em cada 32 por câncer de mama). A obesidade é um importante fator contribuinte para o risco cardiovascular, tanto por meio de seu impacto em fatores de risco como hipertensão, DM2, dislipidemia e distúrbios do sono, quanto por sua contribuição direta para DCV e mortalidade cardiovascular, independentemente da associação com outros fatores de risco.

Anos reprodutivos: pré-concepção

Durante os anos reprodutivos, a obesidade pode afetar diversos aspectos da saúde da mulher. Mulheres com obesidade têm maior probabilidade de apresentar puberdade precoce, sangramento uterino disfuncional, ciclos menstruais desregulados e distúrbios ovulatórios em comparação com aquelas com índice de massa corporal (IMC) saudável. A síndrome dos ovários policísticos (SOP), que afeta cerca de 1 em cada 10 mulheres em idade fértil, é tipicamente diagnosticada em mulheres entre 20 e 40 anos. 

A obesidade contribui para o desenvolvimento da SOP em mulheres com predisposição genética e, por outro lado, a SOP também pode agravar a obesidade. As evidências apontam para associações significativas entre o IMC e as características da SOP em todas as idades, e uma proporção substancial de mulheres com SOP tem sobrepeso ou obesidade (prevalência relatada entre 38% e 88%). A obesidade está fortemente associada a problemas de fertilidade em mulheres com SOP, por meio de seus efeitos na inflamação, hiperinsulinemia e resistência à insulina. Os mecanismos que ligam a SOP à obesidade e que influenciam os problemas de fertilidade estão ilustrados na Figura 1.

Em mulheres com ou sem SOP, as consequências da obesidade sobre a fertilidade são bem conhecidas. Estudos demonstram que a obesidade está associada à redução da fecundidade e ao aumento do tempo até a concepção, independentemente da regularidade menstrual, paridade, idade ou tabagismo. 

Diante dessas associações, mulheres com obesidade representam uma proporção elevada daquelas que buscam assistência médica para engravidar. Em um estudo com 5.823 mulheres norte-americanas entre 20 e 44 anos, as taxas de investigação de infertilidade foram maiores entre mulheres com obesidade grau 1 (IMC de 30 a <35 kg/m²) ou grau 2-3 (IMC ≥35 kg/m²) do que entre aquelas com sobrepeso (IMC de 25 a <30 kg/m²) ou IMC saudável (18,5 a <25 kg/m²), sendo de 30,4% e 32,6% versus 17,8% e 27,0%, respectivamente.

Além disso, mulheres com obesidade também apresentam maior risco de desfechos desfavoráveis com o uso de tecnologias de reprodução assistida. Uma revisão sistemática com metanálise mostrou que mulheres com obesidade têm significativamente menos chances de nascimento vivo após fertilização in vitro (FIV) do que aquelas com IMC saudável, com uma razão de risco (RR) de 0,85. Estudos que analisaram componentes individuais do processo de FIV demonstraram que a obesidade está associada a resposta ovariana imprevisível ou inadequada à estimulação hormonal, a um menor número de óvulos aspirados e maduros, morfologia anormal dos oócitos, desenvolvimento embrionário prejudicado, menor taxa de gravidez após transferência embrionária e maior risco de perda gestacional.

Anos reprodutivos: gravidez

A obesidade também está associada a riscos elevados após a concepção bem-sucedida. Mulheres com obesidade têm maior probabilidade, em comparação com aquelas com IMC saudável, de apresentar complicações gestacionais, incluindo aborto espontâneo, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e hipertensão, além de um risco aumentado de complicações anteparto e parto por cesariana. Em relação aos desfechos neonatais, a obesidade está associada a maiores taxas de eventos adversos, como natimortalidade, parto prematuro, morte súbita inesperada do lactente, macrossomia e anomalias congênitas. As relações entre obesidade e riscos associados à gestação estão resumidas na Figura 2.

Para mulheres que não desejam engravidar, há considerações importantes em relação ao uso de contraceptivos em pessoas com obesidade. Diversos tipos de contraceptivos à base de esteroides — incluindo anticoncepcionais orais combinados (AOCs), pílulas apenas com progestagênio (POPs), adesivos transdérmicos e o anel vaginal — apresentaram eficácia reduzida em mulheres com obesidade. Por exemplo, um estudo com 1005 mulheres que utilizavam contracepção intravaginal com levonorgestrel estimou taxas de gravidez (ou seja, falha contraceptiva) de 9,8% ao ano para uma mulher com 80 kg, em comparação com apenas 1,7% para uma mulher com 40 kg. Uma revisão sistemática de 11 estudos mostrou que um IMC ≥ 25 kg/m² estava associado a maior risco de gravidez durante o uso de AOCs orais, com uma razão de chances de 1,91 em relação àquelas com IMC < 25 kg/m². Da mesma forma, dados de um estudo de coorte com mais de 50.000 mulheres nos EUA identificaram taxas mais altas de falha contraceptiva oral entre aquelas com IMC ≥ 35 kg/m² em comparação com < 35 kg/m², mesmo após ajustes por idade, nível educacional e paridade (razão de risco = 1,5).

A obesidade também pode influenciar o perfil de risco associado a diferentes métodos contraceptivos. Em mulheres que utilizam AOCs, o risco de tromboembolismo venoso (TEV) foi mais que duas vezes maior entre aquelas com obesidade em comparação com mulheres com IMC saudável, indicando que outros fatores de risco para TEV devem ser considerados na avaliação individual. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) classificaram diferentes opções contraceptivas de acordo com seus riscos e benefícios em mulheres com obesidade (Tabela 2). Embora a maioria dos contraceptivos esteja incluída na Categoria 1 dos Critérios Médicos de Elegibilidade para o Uso de Contraceptivos (MEC), sem restrições de uso, os contraceptivos hormonais combinados (CHCs) são classificados como Categoria 2 para mulheres com IMC ≥ 30 kg/m², significando que os benefícios geralmente superam os riscos teóricos ou comprovados. O CDC alerta que os CHCs podem aumentar o risco de TEV para níveis inaceitáveis se houver múltiplos outros fatores de risco associados à obesidade, como diabetes, tabagismo e dislipidemia. Além disso, as POPs e AOCs são classificadas como Categoria 3 em mulheres com histórico de cirurgia bariátrica com componente disabsortivo (ou seja, procedimentos que encurtam o comprimento funcional do intestino delgado para reduzir a absorção de calorias e nutrientes), o que indica que os riscos teóricos ou comprovados superam os benefícios. A escolha do método contraceptivo em mulheres com obesidade exige uma abordagem individualizada que leve em consideração outras condições de saúde, fatores de risco e medicações.

Meia-idade e perimenopausa

Após os anos reprodutivos, a obesidade frequentemente afeta mulheres na meia-idade e durante a transição menopausal, à medida que enfrentam mudanças fisiológicas e de estilo de vida. 

Dados do Study of Women’s Health Across the Nation (EUA) sugerem que as mulheres ganham, em média, cerca de 0,7 kg por ano nesse período (faixa etária de 42 a 52 anos no início do estudo), independentemente do peso corporal anterior ou da raça/etnia, o que aumenta o risco de passarem de um IMC saudável para sobrepeso ou obesidade. Associadas às diversas condições crônicas relacionadas à obesidade, essas observações motivaram a criação de uma diretriz nacional com o objetivo de prevenir o ganho de peso não saudável e o desenvolvimento de doenças em mulheres de meia-idade. Especificamente, a diretriz recomenda que mulheres entre 40 e 60 anos com IMC na faixa saudável ou de sobrepeso (18,5–29,9 kg/m²) sejam orientadas a “manter o peso ou limitar o ganho de peso para prevenir a obesidade e suas condições associadas”.

Há múltiplas relações bidirecionais entre obesidade e menopausa. Embora não haja evidência direta de que a menopausa leve à redução da taxa metabólica, sabe-se que o envelhecimento está associado à queda significativa do metabolismo. 

Além disso, a transição menopausal está ligada ao aumento da obesidade, perda de massa muscular magra, mudança do padrão de distribuição de gordura do tipo ginecoide para androide, maior acúmulo de gordura abdominal — especialmente visceral — e resposta glicêmica pós-prandial alterada. Todos esses fatores estão relacionados ao aumento do risco cardiovascular e metabólico. Dados do Women’s Health Initiative, realizado em 40 centros nos EUA, mostraram que mulheres pós-menopáusicas com obesidade abdominal (circunferência da cintura > 88 cm) apresentam maior risco de mortalidade geral e cardiovascular do que aquelas sem obesidade abdominal, mesmo entre as que tinham IMC dentro da faixa saudável.

Embora a menopausa esteja associada ao aumento do risco de obesidade e morbidade cardiometabólica, estudos também demonstram que a obesidade pode agravar sintomas e condições relacionados à menopausa. 

Por exemplo, a obesidade e o excesso de gordura corporal durante a perimenopausa estão associados à maior incidência e gravidade dos sintomas vasomotores (SVMs). Acredita-se que essas associações sejam explicadas pelo excesso de tecido adiposo subcutâneo em mulheres com obesidade, que atua como isolante térmico e dificulta a dissipação do calor. A obesidade também tem sido associada a distúrbios do sono durante a menopausa. 

Um estudo mostrou que mulheres pós-menopáusicas com obesidade apresentam escores significativamente mais altos em dois parâmetros da polissonografia — índice de distúrbio respiratório e índice de apneia-hipopneia — em comparação com mulheres com IMC saudável. Por outro lado, os distúrbios do sono podem ser fator de risco para obesidade na perimenopausa; há evidências de que a privação do sono está relacionada a alterações endócrinas e metabólicas, como aumento da grelina, redução da leptina, menor tolerância à glicose e alteração da utilização de nutrientes. Essas mudanças podem levar à desregulação do apetite e aumento da fome, especialmente por alimentos calóricos. Os distúrbios do sono mais comuns nesse período incluem apneia obstrutiva do sono, insônia e síndrome das pernas inquietas.

Há também evidências que sustentam a associação entre obesidade e incontinência urinária (IU) em mulheres pós-menopáusicas. Estudos mostram que mulheres com obesidade têm maior risco de IU, e uma metanálise demonstrou fortes associações entre obesidade, aumento da pressão abdominal e pressão vesical em mulheres de meia-idade e idosas. A disfunção sexual também é uma questão importante nesse período, e há evidências de vínculos adicionais com a obesidade. Em um estudo com 221 mulheres pós-menopáusicas, aquelas com obesidade apresentaram escores significativamente mais altos de disfunção nos domínios de desejo e excitação, além de escores significativamente mais baixos de satisfação sexual, em comparação com mulheres com IMC saudável. 

As causas da disfunção sexual em mulheres pós-menopáusicas com obesidade são complexas e multifatoriais, podendo incluir:
desregulação de adipocinas;
comorbidades como apneia do sono, DM2 e IU;
resistência à insulina;
alterações hormonais;
baixa autoestima e imagem corporal negativa;
estigma; e
transtornos mentais como ansiedade e depressão.

Em resumo, há inúmeras associações entre obesidade e alterações fisiológicas e condições que afetam mulheres na meia-idade e na perimenopausa. É essencial que os profissionais de saúde da mulher estejam atentos a essas associações, promovendo a detecção precoce e o tratamento de problemas como distúrbios do sono e disfunção sexual, a fim de otimizar os desfechos de saúde e a qualidade de vida. 

Além disso, ginecologistas devem ter sempre em mente que a obesidade é um fator-chave para o risco cardiovascular — que continua sendo a principal causa de morte entre as mulheres nos Estados Unidos. Os profissionais de saúde têm, portanto, um papel fundamental no reconhecimento e manejo da obesidade para reduzir o risco cardiovascular e melhorar os desfechos globais de saúde.

Obesidade e saúde psicológica

Além de seu profundo impacto na saúde física, a obesidade está associada a uma carga psicossocial aumentada, afetando de forma desproporcional as mulheres. Em um estudo publicado em 2024, o IMC e a razão cintura-estatura se correlacionaram significativamente com escores mais altos de depressão e escores mais baixos de bem-estar em 1821 indivíduos com idades entre 46 e 73 anos, mesmo após ajuste para fatores demográficos e de estilo de vida. Quando os resultados foram estratificados por sexo biológico, a relação entre IMC e depressão foi mais forte em mulheres do que em homens (coeficiente β = 0,8 [P = 0,007] vs. 0,6 [P = 0,049]).

Além disso, há evidências de que mulheres com obesidade podem ter risco elevado de ideação suicida. Um estudo demonstrou que o aumento do IMC estava associado tanto à depressão maior quanto à ideação suicida entre mulheres; porém, entre os homens, observou-se o oposto — com maior probabilidade de ambos os desfechos naqueles com IMC mais baixo. A obesidade também contribui para transtornos de ansiedade, com pesquisas indicando que sua presença está associada a um aumento de ≈ 25% no risco de transtorno de ansiedade na população geral dos EUA. Especificamente entre mulheres, o sobrepeso e a obesidade estão ligados a um risco aumentado ao longo da vida de qualquer transtorno de ansiedade, transtorno de ansiedade generalizada, fobia social e fobia específica.

Problemas com imagem corporal e distúrbios alimentares afetam com frequência mulheres com obesidade. Uma revisão sistemática e metanálise de 17 estudos mostrou que pessoas com obesidade têm significativamente mais probabilidade de relatar insatisfação com a imagem corporal do que aquelas com IMC saudável, com associações mais fortes entre mulheres do que entre homens. Muitas pessoas com obesidade relatam padrões alimentares desordenados, incluindo comer por motivos emocionais, transtorno de compulsão alimentar periódica e dificuldade de controlar o tamanho das porções e a frequência das refeições. Em um estudo com 690 mulheres norte-americanas com transtornos alimentares (TAs), aquelas com obesidade apresentaram características mais graves dos TAs e maior comprometimento clínico associado, além de níveis mais elevados de depressão e ansiedade, em comparação com mulheres com IMC saudável.

Dados sobre o uso de serviços de saúde mental reforçam as associações entre obesidade e saúde psicológica precária. 

Aproximadamente metade das candidatas à cirurgia bariátrica relatam tratamento prévio em saúde mental, e cerca de 40% relatam estar em tratamento no momento da cirurgia. Um estudo com 24.766 indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica mostrou que a proporção de pessoas utilizando serviços de saúde mental aumentou após o procedimento, com um aumento de 58% nos atendimentos em serviços de emergência e de 29% nas internações por motivos de saúde mental. Esses achados destacam a importância de reconhecer o risco de comprometimento psicológico em mulheres com obesidade — inclusive no período pós-cirurgia bariátrica.

Conclusões

Em conjunto, as evidências demonstram que a obesidade tem consequências substanciais para diversos aspectos da saúde física e mental ao longo da vida da mulher. Por isso, é essencial que os profissionais de saúde da mulher estejam cientes do impacto da obesidade e compreendam seu papel no enfrentamento proativo dessa condição junto às pacientes sob seus cuidados.



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sexta-feira, 30 de maio de 2025

Eficácia e Segurança dos Análogos de GLP-1 no manejo do reganho de peso ou resposta clínica sub-ótima após cirurgias bariátricas metabólicas: uma Meta-Análise

Introdução

Há uma necessidade urgente de formular abordagens inovadoras para lidar com a perda de peso inadequada ou recidiva de peso em indivíduos após cirurgia bariátrica metabólica (CBM). Análogos do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), como liraglutida e semaglutida, foram desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo 2 ou controle da obesidade. 

Nesta revisão sistemática e meta-análise, tivemos como objetivo reunir os resultados de todos os estudos disponíveis sobre agonistas de GLP-1 para avaliar a eficácia dessas medicações na recidiva de peso ou resposta clínica subótima em pacientes submetidos à CBM.

Métodos

Realizamos buscas nas bases PubMed, Scopus e Web of Science desde a sua criação até outubro de 2024 por artigos que preenchessem os critérios de elegibilidade para inclusão nesta revisão sistemática e meta-análise, investigando o uso de agonistas de GLP-1 no manejo da recidiva de peso ou resposta clínica subótima em pacientes submetidos à CBM. A estratégia de busca utilizada foi: “Liraglutide” OU “Semaglutide” OU “Tirzepatide” OU “GLP-1” OU “Glucagon like peptide” E “Weight” E “Bariatric” OU “Sleeve” OU “Banding” OU “Roux-en-Y bypass”. Utilizamos a diferença média (MD) para comparação entre variáveis contínuas, com intervalo de confiança (IC) de 95% e valor de p de 0,05.

Resultados

O uso de agonistas de GLP-1 (liraglutida, semaglutida e tirzepatida) foi associado a uma redução estatisticamente significativa no peso dos pacientes incluídos, com uma MD geral = 8,07 kg (IC95%: 5,5 a 10,64; p < 0,00001), e I² = 44% (p = 0,04). Além disso, essas medicações (liraglutida e semaglutida) também demonstraram redução significativa no índice de massa corporal (IMC) após o tratamento, com MD geral = 4,42 kg/m² (IC95%: 3,42 a 5,42; p < 0,00001), e I² = 67% (p = 0,0005). Em comparação com o grupo controle, o uso de agonistas de GLP-1 foi associado a uma redução percentual de peso com MD = –9,19% (IC95%: –10,81 a –7,58; p < 0,00001), e I² = 0%. No entanto, não foi observada diferença significativa entre os grupos em relação à variação percentual do IMC, com MD = –1,97% (IC95%: –4,65 a 0,71; p = 0,15).

Conclusão

Agonistas de GLP-1 como liraglutida e semaglutida reduzem efetivamente o peso corporal e o IMC em pacientes que apresentam recidiva de peso ou resposta clínica subótima após CBM. No entanto, estudos futuros ainda são necessários para investigar os protocolos mais adequados para esse manejo.

Introdução / Objetivo

A obesidade é uma pandemia global que afeta mais de 650 milhões de adultos em todo o mundo. Somente nos Estados Unidos, 41,9% dos adultos vivem com obesidade — número que se estima alcançar 50% até o ano de 2030. A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF) recomenda o rastreamento de todos os adultos para obesidade e o encaminhamento daqueles com índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m² para recursos especializados intensivos e multicomponentes.

No entanto, apesar da implementação de estratégias de rastreamento e manejo da obesidade, a doença e suas comorbidades continuam a gerar um impacto social, econômico e de saúde pública significativo.

A cirurgia bariátrica é a solução mais eficaz e duradoura para perda de peso, com quase 200.000 procedimentos realizados nos EUA em 2020. Além da perda ponderal, a cirurgia bariátrica está associada à redução significativa de comorbidades relacionadas à obesidade, risco de câncer e mortalidade geral.

Apesar de sua eficácia, uma parcela dos pacientes pode apresentar perda de peso insuficiente (PPI) ou reganho ponderal (RP) após a cirurgia. A PPI é comumente definida como uma perda de peso excessivo (PPE) inferior a 50%, enquanto o RP é caracterizado como um aumento de 10% em relação ao menor peso atingido ou uma recuperação de 25% da PPE a partir desse nadir, com uma estimativa conservadora de que 20 a 25% dos pacientes apresentam RP significativo após a cirurgia.

Além disso, com a RP, observa-se a reemergência de doenças metabólicas previamente resolvidas ou “em remissão”.

Os determinantes da RP incluem maior tempo desde a cirurgia, indiscrições alimentares, diâmetro do estoma gastrojejunal, volume do reservatório gástrico (sleeve), padrões alimentares comportamentais (impulsos alimentares, compulsão, desinibição), disfagia e fatores genéticos; sendo, frequentemente, multifatoriais e complexos.

As opções de tratamento para PPI e RP após a cirurgia bariátrica são limitadas, uma vez que muitos pacientes candidatos à cirurgia já tentaram e não obtiveram sucesso com intervenções intensivas de dieta e estilo de vida. Diversas terapias endoscópicas e revisões cirúrgicas podem ser consideradas; entretanto, a reoperação apresenta maior risco de complicações em comparação à cirurgia primária.

Assim, na ausência de uma causa anatômica para o reganho de peso, uma abordagem farmacológica com medicamentos antiobesidade pode representar uma alternativa atraente para essa população.

Medicamentos antiobesidade (MAOs) são utilizados desde pelo menos a década de 1960. Entretanto, com o agravamento da crise de obesidade, houve também uma expansão no número de MAOs aprovados pela Food and Drug Administration (FDA).

No momento da realização deste estudo, cinco medicamentos estavam aprovados pela FDA para uso prolongado no tratamento da obesidade — semaglutida, liraglutida, fentermina-topiramato, naltrexona-bupropiona e orlistate. 

Os MAOs proporcionam uma perda adicional de peso corporal total (PCT) de 3 a 9% em comparação ao placebo, sendo que as gerações mais recentes de fármacos com ação incretinomimética ultrapassam 15% de PCT, embora haja dados limitados sobre seu uso em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.

Em uma ampla análise retrospectiva com 319 pacientes com RP após cirurgia bariátrica, Stanford et al. relataram que 56% obtiveram perda de peso clinicamente significativa (≥ 5%) com o uso de MAOs. No entanto, apenas o topiramato mostrou associação significativa com a perda de peso.

Análises adicionais são limitadas por tamanhos amostrais pequenos e pela ausência de inclusão de todos os MAOs atualmente aprovados. Para tratar adequadamente essa doença crônica e recorrente, é fundamental compreender melhor o papel dos MAOs em pacientes com reganho de peso após cirurgia bariátrica. 

Por isso, apresentamos o maior estudo até o momento analisando a utilização de MAOs após cirurgia bariátrica.

Discussão/Conclusão

Nesta ampla análise populacional, considerando que cerca de 25% dos pacientes após cirurgia bariátrica apresentam reganho de peso (WR, do inglês weight regain) significativo e uma porcentagem adicional apresenta perda de peso insuficiente (IWL, do inglês inadequate weight loss), o uso de medicamentos antiobesidade (AOMs) nos 5 anos após a cirurgia foi extremamente baixo.

A prevalência de uso pós-cirúrgico foi mais alta para topiramato (8,0%), seguido por liraglutida (2,91%), fentermina-topiramato (1,03%), naltrexona-bupropiona (0,95%), semaglutida (0,52%) e orlistate (0,17%). Houve variações importantes conforme a idade em que os diferentes AOMs foram utilizados, com o topiramato sendo mais frequentemente prescrito entre os pacientes mais jovens (34–39 anos) e a liraglutida e o orlistate mais utilizados entre os mais velhos (65–69 anos). Em nossa análise, a raça negra foi um preditor de uso de AOMs em todas as classes de medicamentos, enquanto o sexo feminino esteve associado ao uso de topiramato, fentermina-topiramato e naltrexona-bupropiona. Comorbidades metabólicas (hipertensão, diabetes, dislipidemia) foram fortes preditores de uso de semaglutida, liraglutida, topiramato e orlistate, mas menos relevantes para fentermina-topiramato e naltrexona-bupropiona. 

Doença cardiovascular (AVC, infarto do miocárdio) também esteve associada ao uso de agonistas de GLP-1. Este que é o maior estudo sobre a utilização de AOMs após cirurgia bariátrica até o momento não apenas identifica tendências de prescrição, mas também destaca uma subutilização expressiva desses medicamentos eficazes.

A perda de peso insuficiente e o reganho de peso são considerações importantes em relação à durabilidade a longo prazo da cirurgia bariátrica. O reganho de peso é uma das principais indicações para cirurgia revisional e causa de deterioração significativa na qualidade de vida e aumento de custos médicos; portanto, a mitigação e o manejo do WR são essenciais.

Na ausência de causas anatômicas para WR/IWL que justifiquem intervenção endoscópica ou cirúrgica (como uma fístula gastrogástrica), os AOMs devem ser fortemente considerados. Embora haja poucos dados sobre o uso de AOMs no pós-operatório para WR, estudos sugerem que a maioria dos pacientes com reganho de peso alcançará pelo menos 5% de perda de peso total (TWL), o que é considerado clinicamente relevante para melhora de desfechos e métricas de saúde.

Em uma grande análise retrospectiva, Stanford et al. observaram que 319 de 5.110 (6,24%) pacientes foram prescritos com AOMs após RYGB ou SG.

Muitos utilizaram mais de um AOM, sugerindo que diferentes medicamentos são mais eficazes para diferentes perfis de pacientes. 56% dos indivíduos perderam pelo menos 5% do peso total pós-cirúrgico, 30,1% perderam ao menos 10% e 16% perderam 15% do peso total. Após ajuste por covariáveis, apenas o topiramato foi preditor significativo de perda de peso (OR 1,9, p = 0,018 para perda de pelo menos 10% do peso total). Além disso, observaram maior perda de peso acumulada quando os AOMs foram iniciados no platô de peso, em comparação ao início apenas após WR.

Apesar desses dados demonstrarem uma alta taxa de resposta clinicamente significativa, observamos uma prevalência muito baixa de uso de AOMs no pós-operatório. Dentre os AOMs estudados, o topiramato foi o mais utilizado, consistente com dados prévios que apontam o uso predominante de AOMs off-label.

Apesar da eficácia comprovada na perda de peso e das altas taxas de reganho, os AOMs aprovados pelo FDA continuam subutilizados após cirurgia bariátrica, com prevalência variando entre <1% e 3%. No caso da semaglutida, isso provavelmente se deve à sua aprovação relativamente recente para perda de peso, em julho de 2021; no entanto, já vinha sendo usada no controle glicêmico, com benefícios conhecidos sobre o peso, há muito mais tempo. Entre os AOMs não-GLP-1 aprovados pelo FDA, nenhum foi utilizado por mais de 1% dos pacientes no pós-operatório.

Embora os AOMs tenham demonstrado melhora nos fatores de risco cardiometabólicos, antes da aprovação dos agonistas de GLP-1 para perda de peso, nenhum AOM havia demonstrado redução da morbidade ou mortalidade cardiovascular.

Contudo, vários agentes antidiabéticos mais recentes, incluindo agonistas de GLP-1, demonstraram reduções em eventos cardiovasculares adversos maiores, especialmente em pacientes com doença aterosclerótica cardiovascular documentada.

Dessa forma, hoje são amplamente utilizados entre pacientes com doença cardiovascular e diabetes. Neste estudo, o uso de agonistas de GLP-1 mostrou a esperada associação com infarto do miocárdio, assim como com múltiplas comorbidades cardiovasculares. A relação temporal entre a prescrição do GLP-1 e o infarto ou o início da doença cardiovascular estava fora do escopo desta análise; no entanto, esses achados confirmam as recomendações atuais de múltiplas sociedades científicas para o uso de agonistas de GLP-1 em pacientes com alto risco cardiovascular.

A raça negra também foi um preditor mais forte de utilização de AOMs no pós-operatório. Isso é um tanto contraintuitivo, considerando que a maioria dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica é branca. Nenhum estudo demonstrou que a raça seja fator de risco para perda de peso insuficiente (IWL) ou reganho de peso (WR); no entanto, a obesidade afeta desproporcionalmente os afro-americanos [27, 28]. Em especial, mulheres afro-americanas apresentam taxas de sobrepeso e obesidade 20% maiores do que mulheres brancas [27]. Além disso, diabetes e doenças cardiovasculares são mais prevalentes entre indivíduos negros não hispânicos em comparação aos brancos [29, 30]. Embora seja provável que as maiores taxas de comorbidades metabólicas expliquem parte da diferença observada no uso de medicamentos da classe dos agonistas de GLP-1, nossos achados de maior uso de AOMs entre afro-americanos podem também sugerir um risco mais elevado de IWL/WR ou, potencialmente, uma maior aceitação do uso de AOMs por essa população.

Há também variação significativa conforme a idade em que diferentes AOMs são utilizados, o que provavelmente se relaciona ao aumento das comorbidades, ao mecanismo de ação das medicações e ao perfil de efeitos colaterais. Por exemplo, o uso de topiramato está associado a pacientes mais jovens e apresenta associação negativa com o aumento da idade. Isso pode estar relacionado aos conhecidos efeitos colaterais cognitivos e depressivos do sistema nervoso central, que aumentam o risco de eventos adversos em pacientes idosos. Por outro lado, agonistas de GLP-1 são mais utilizados entre pacientes mais velhos, o que pode ser explicado pelas maiores taxas de comorbidades cardiovasculares e, possivelmente, diabetes, além de um perfil de segurança relativamente favorável.

Diversas limitações devem ser consideradas ao interpretar esta análise. Primeiramente, há limitações inerentes ao banco de dados, que utiliza a nomenclatura SNOMED-CT e, portanto, restringe a variedade de variáveis passíveis de estudo. Não há um código específico para bypass gástrico (RYGB) realizado especificamente para obesidade, o que pode superestimar o número de indivíduos para os quais os AOMs seriam indicados. Da mesma forma, o banco de dados não distingue cirurgias primárias de revisionais e fornece dados limitados sobre a gravidade das comorbidades metabólicas (por exemplo, hemoglobina A1c), o que impede avaliar a cronicidade e refratariedade da doença. Além disso, viéses potenciais de registro e classificação podem influenciar as estimativas reais das covariáveis. No entanto, comparado à codificação ICD, o SNOMED-CT permite que mais conceitos sejam codificados por documento clínico, sendo mais preciso na documentação de diagnósticos e informações relevantes.

Em segundo lugar, é impossível avaliar a duração do uso dos medicamentos ou a adesão ao tratamento por meio do banco de dados, bem como seus efeitos sobre a perda de peso. Contudo, a não adesão não documentada apenas reforçaria a subutilização real desses medicamentos. Terceiro, embora o Explorys® tenha sido fundado em 2009, o uso de medicamentos mais recentes pode estar subestimado. Tentamos mitigar esse efeito ao limitar a análise a AOMs prescritos nos primeiros 5 anos após a cirurgia. Além disso, topiramato, liraglutida e semaglutida possuem indicações alternativas, e embora os diagnósticos mais comuns para o uso de topiramato (convulsões, enxaquecas) tenham sido excluídos da análise, isso pode reduzir a precisão das tendências de prescrição desses medicamentos. Ainda assim, esse fator apenas contribui para que a prevalência real de uso de AOMs para perda de peso pós-operatória seja ainda menor do que a reportada. Por fim, embora os dados sejam em geral aplicáveis à prática clínica, há informações limitadas sobre a utilização dos AOMs em raças além de brancos e afro-americanos. 

Apesar dessas limitações, este estudo tem utilidade clínica por seu tamanho e por destacar a subutilização dos AOMs no pós-operatório, além de identificar populações de pacientes negligenciadas, nas quais seu uso deveria ser considerado.

Em conclusão, apesar das altas taxas de WR/IWL após a cirurgia bariátrica e de uma literatura crescente que confirma a eficácia dos AOMs nessa população, os medicamentos aprovados pelo FDA são prescritos a apenas uma pequena fração desses pacientes. Existem disparidades na utilização conforme idade, raça e presença de comorbidades. Diante da identificação de IWL ou WR, uma estratégia multidisciplinar de manejo é justificada, incluindo acompanhamento comportamental e nutricional, além de intervenções médicas e, eventualmente, cirúrgicas ou endoscópicas.

No entanto, com um arsenal terapêutico cada vez maior de AOMs eficazes e bem tolerados, esses medicamentos devem ser considerados mais precocemente e com maior frequência como terapia de longo prazo para manter a obesidade e suas comorbidades metabólicas em remissão.

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By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
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Embaixador das Comunidades Médicas de Endocrinologia - EndócrinoGram e DocToDoc