quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Anais do Congresso Brasileiro de Nutrologia 2022



Hoje foi publicado os Anais do XXVI Congresso Brasileiro de Nutrologia (2022). Em Parceria com a Faculdade de Medicina de Olinda, enviamos 4 trabalhos e eles foram aceitos. Para acessar todos os trabalhos publicados clique aqui.







DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 EM PACIENTES DIABÉTICOS EM USO CRÔNICO DE METFORMINA: UMA REVISÃO DA LITERATURA 
Autores: EDITE MARIANA NEVES DE MELO MAGALHÃES, INGRID HELLEN ANDRÉ BARRETO, FREDERICO LOBO, MARCIO JOSE DE SOUZA, MARIANA DINIZ DE SOUZA,
MARIA JULIA PIMENTEL DE ALBUQUERQUE, MICHELLE ALVES DE FARIAS, LUCAS LUCENA BEZERRA
Instituição: Faculdade de Medicina de Olinda

Introdução: A Metformina é a droga de primeira linha para o tratamento do Diabetes Mellitus tipo II (DM2), porém seu uso crônico pode interferir no metabolismo da vitamina B12, por um mecanismo cálcio dependente ainda não totalmente elucidado, acarretando a diminuição dos seus níveis séricos.
Objetivo: Revisar a literatura científica publicada sobre a deficiência de vitamina B12 em pacientes portadores de Diabetes Mellitus tipo II em uso crônico de Metformina, assim como compreender melhor seus desdobramentos e implicações na prática clínica. 
Metodologia: Foi realizada uma revisão da literatura de artigos publicados entre os anos de 2017 a 2022. As bases de dados utilizadas foram a plataforma PubMed e Scielo. A partir disso, foram selecionados 13 artigos, sendo 8 estudos transversais, 3 retrospectivos, 1 observacional e 1 caso-controle.
Resultados: Os estudos observacionais mais recentes vêm demonstrando uma relação entre o uso prolongado de Metformina e a deficiência de vitamina B12, sendo os seus níveis séricos diretamente relacionados a maior dose (> 1g/dia) e tempo prolongado de uso da medicação, principalmente após quatro anos. A prevalência encontrada foi de 21,4% a 40,5% e a maior variação estatística se deve a inclusão ou não de valores limítrofes de B12. O mecanismo pelo qual a metformina causa essa deficiência ainda não foi definido com exatidão, mas acredita-se que se deva ao bloqueio dos canais cálcio dependente necessários para a absorção da vitamina B12. Os sintomas clínicos mais observados foram neuropatia e anormalidades hematológicas como eritrócitos macrocíticos, neutrófilos hipersegmentados e bandas gigantes.
Conclusão: De acordo com os estudos selecionados, o uso crônico de Metformina causa redução nos níveis séricos de vitamina B12, podendo ocasionar desfechos clínicos negativos e graves. Logo, podemos inferir que os usuários devem ser rastreados regularmente a fim de que o médico se antecipe e trate precocemente essa condição clínica.


DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 EM USUÁRIOS CRÔNICOS DE INIBIDORES DE BOMBA DE PRÓTONS: UMA REVISÃO DA LITERATURA.
Autores: EDITE MARIANA NEVES DE MELO MAGALHÃES, ALYCE ALCÂNTARA DE ANDRADE CABÚS, BIANCA SILVA FARIAS, STÉFANNY BERTLEY RODRIGUES DE ALBUQUERQUE, FREDERICO LOBO, MARCIO JOSE DE SOUZA, MARIANA DINIZ DE SOUZA, MARIA JULIA PIMENTEL DE ALBUQUERQUE, LUCAS LUCENA BEZERRA
Instituição: Faculdade de Medicina de Olinda

Introdução: Os Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs) são uma classe de medicamentos amplamente utilizada no mundo, entretanto seu uso prolongado pode influenciar o metabolismo da vitamina B12, acarretando, por exemplo, a sua deficiência, com implicações significativas para a prática clínica.
Objetivo: Proporcionar aos profissionais de saúde e população em geral os dados mais relevantes acerca da deficiência de vitamina B12 em usuários crônicos de inibidores da bomba de prótons (IBPs). Desse modo, esta revisão de literatura pretende abordar os estudos mais recentes sobre o tema, bem como as possíveis desdobramentos e consequências que o uso contínuo dessa classe de medicação pode acarretar no metabolismo da vitamina B12.
Metodologia: A metodologia utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica, com fundamentação teórica baseada na análise e revisão da literatura já publicada, no período de 2018 a 2022. Os dados foram coletados nas bases PubMed e SCIELO.
Resultados: Estudos apontam que o uso prolongado dos IBPs pode acarretar deficiência de vitamina B12, uma vez que eles atuam bloqueando a secreção de ácido clorídrico no lúmen estomacal. Inibem, portanto, as enzimas H+/K+ATPase (bomba de prótons), localizadas nos canalículos das células parietais que por sua vez tem como função acidificar ainda mais o PH do estômago, preparando-o para o recebimento e absorção do alimento. Para que a vitamina B12 seja transportada ao Íleo e, ao final, seja absorvida, faz-se necessária sua separação da proteína animal carreadora, o que somente pode ocorrer com a presença da enzima pepsina – sintetizada apenas quando preservado o nível de acidez estomacal. Assim, considerando que os IBPs tornam menos ácido o ambiente estomacal, pode-se concluir que o seu uso prolongado pode deflagrar a não sintetização da pepsina, gerando a não separação da vitamina B12 da proteína animal, de modo a dificultar ou até impedir, a absorção dessa vitamina.
Conclusão: Desse modo, torna-se imprescindível um maior número de estudos que se debrucem sobre os mecanismos pelos quais o uso contínuo do inibidor da bomba de prótons pode levar à deficiência da vitamina B12, pois apesar dessa relação existir, ainda há a necessidade de melhor nível de evidência para a sua causa e efeitos

SÍNDROME PÓS-COVID-19 E SEUS FATORES DE RISCO: O QUE TEMOS DE NOVO?
Autores: EDITE MARIANA NEVES DE MELO MAGALHÃES, ALYCE ALCÂNTARA DE ANDRADE CABÚS, BIANCA SILVA FARIAS, STÉFANNY BERTLEY RODRIGUES DE ALBUQUERQUE, FREDERICO LOBO, MARCIO JOSE DE SOUZA, LUCAS LUCENA BEZERRA, MARIANA DINIZ DE SOUZA, MARIA JULIA PIMENTEL DE ALBUQUERQUE, MICHELLE ALVES DE FARIAS
Instituição: Faculdade de Medicina de Olinda

Introdução: A Covid-19 foi inicialmente considerada uma infecção aguda do sistema respiratório, porém atualmente sabe-se do possível comprometimento de vários órgãos e sistemas, com uma enorme gama de sintomas clínicos. Segundo dados preliminares de estudos observacionais, estima-se que aproximadamente 10% dos pacientes com quadros leves a moderados de Covid-19 apresentam sintomas prolongados, que duram 3 semanas ou mais. No grupo dos internados, especialmente em UTI, estes sintomas residuais podem chegar a 80%. Essa condição tem sido chamada de COVID “longa”, “pós-aguda” ou “Síndrome pós-COVID-19”.
Objetivo: Revisar a literatura acerca da síndrome pós-covid-19 para informar ao público médico a possibilidade do comprometimento de diversas áreas da saúde desse grupo de pacientes e incitar a continuação dos estudos para melhor elucidar os fatores de risco que desencadeiam a síndrome.
Metodologia: Foi realizada uma revisão de literatura apoiada em publicações na base de dados PubMed entre os anos de 2020 e 2022.
Resultados: A Síndrome pós-covid-19 se caracteriza pelo envolvimento musculoesquelético, pulmonar, digestivo e neurológico, independentemente da gravidade da fase aguda e da resposta humoral. Os sintomas mais reportados são: distúrbios do sono, diarreia, fadiga, artralgia, cefaleia, dispneia, anosmia, entre outros relacionados saúde mental. Aqueles que apresentaram fadiga e que estiveram internados em UTIs foram os que mais tiveram sua qualidade de vida comprometida. Estudos afirmam que a Síndrome pós-covid-19 se desenvolve em média entre 30-60% dos pacientes, principalmente entre as mulheres e no grupo que apresentou anosmia. Diante das evidências científicas, considerou-se que fatores de risco como sexo feminino e anosmia são contribuintes para seu desenvolvimento. Contudo, há a necessidade de descobrir outros fatores de risco desencadeantes e sua relação com o tempo de persistência dos sintomas.
Conclusão: A Síndrome pós-covid-19 possui diversas manifestações clínicas e sua evolução varia de acordo com inúmeros fatores associados ao indivíduo. Atenção especial deve ser dada as pacientes do sexo feminino e ao grupo que apresentou anosmia, além dos que tiveram quadros graves, com necessidade de internamento em UTI. Logo, podemos inferir que a Síndrome pós-covid-19 é um problema de saúde pública atual, com limitações referentes a dados científicos, necessitando de mais estudos que possam elucidar a sua abordagem.

A RELAÇÃO ENTRE TRANSTORNOS ALIMENTARES E PACIENTES COM DIABETES MELLITUS TIPOS I E II
Autores: EDITE MARIANA NEVES DE MELO MAGALHÃES, STEFANNY BERTLEY RODRIGUES DE ALBUQUERQUE, BIANCA SILVA FARIAS, ALYCE ALCÂNTARA DE ANDRADE CABÚS, FREDERICO, INGRID HELLEN ANDRE BARRETO, MARCIO JOSE DE SOUZA
Instituição: Faculdade de Medicina de Olinda

Introdução: O Diabetes Mellitus é uma doença crônica que altera os níveis plasmáticos de glicose, gerando várias complicações clínicas, dentre elas a associação com transtornos alimentares. Há evidências da relação entre pacientes com Diabetes e comorbidades psiquiátricas, principalmente depressão e Transtornos Alimentares, podendo interferir no controle metabólico da doença. Objetivo: Apurar dados atualizados sobre a relação entre Diabetes Mellitus I e II e transtornos alimentares, abordando aspectos dessas doenças, principalmente a evolução clínica e o tratamento. Expor também a importância do diagnóstico precoce para fornecer uma intervenção médica adequada e eficaz.
Metodologia: A fundamentação teórica foi baseada em revisão de literatura através da análise de artigos publicados no período entre 2018 e 2022, coletados das bases Pubmed e Scielo. 
Resultados: A presente revisão bibliográfica demonstrou maior prevalência de Anorexia Nervosa e Bulimia nervosa em pacientes com Diabetes tipo I, o que podemos relacionar com a presença de Diabulimia. A Diabulimia é a redução ou omissão do uso de insulina por pacientes diabéticos tipo I, com o objetivo de perda de peso e questões estéticas. A redução ou a supressão da insulina acarreta hiperglicemia, poliúria e alterações metabólicas que produzem, como consequência, a redução do peso corporal. Embora essa condição possa ser letal e o índice de predominância no Diabetes tipo I seja alto, há uma falta de pesquisas sobre o tema. Já no Diabetes tipo II existe uma maior relação com o Transtorno de Compulsão Alimentar e a presença de obesidade associada.
Conclusão: O estudo desse tema se faz necessário devido a grande prevalência de Diabetes e suas complicações em nossa população, além do aumento de morbimortalidade associado a presença de transtornos alimentares. As limitações deste estudo estão relacionadas à incipiente produção científica sobre a temática, o que dificulta a discussão e a comparação dos resultados. Além disso, é necessário a capacitação dos profissionais de saúde sobre a correlação entre as patologias, ajudando tanto no diagnóstico precoce quanto no tratamento adequado.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

O que comemos em Outubro ?

Sempre alerto meus pacientes sobre a sazonalidade dos alimentos. A natureza é sábia e devemos incorporar à nossa alimentação, aquilo que as estações do ano vai nos fornecendo. Devemos aproveitar que a sazonalidade nos oferece alimentos mais baratos e com menos agrotóxicos. E no Cerrado o que podemos esperar? E em Santa Catarina? 

Frutas de outubro
Abacate
Acerola
Amora
Banana Maçã
Banana Prata
Banana Nanica
Caju
Cupuaçu
Figo
Framboesa
Graviola
Jabuticaba
Laranja Bahia
Laranja Lima
Maçã Fuji
Manga
Mamão formosa
Melão
Pitanga
Uva Thompsom

Vegetais de outubro
Abóbora
Abobrinha 
Alface lisa
Breinjela
Beterraba
Cenoura
Chicória
Chuchu
Couve
Couve-flor
Espinafre
Rúcula
Tomate caqui
Tomate cereja
Vagem

Tubérculos de outubro
Batata doce


Medicina e responsabilidade social



Há tempos quero falar sobre esse tema, porém, por se tratar de algo polêmico e que muitas vezes pode ser mal interpretado, relutei em escrever. 

Venho de uma família com 34 médicos, minha mãe tem 5 irmãos e 4 são médicos. Meu pai era médico reumatologista. Tenho tios, primos e até sobrinhos que já são médicos. Cresci nesse meio e ao longo dos anos fui observando a percepção sobre a Medicina mudando. 

Meu pai fez faculdade na UFRN, depois residência de clínica médica e reumatologia na UFRJ, na década de 70. A visão que ele tinha era de que a Medicina deveria ser um sacerdócio. A maioria dos meus tios cursaram Medicina na década de 80/90 e a visão de sacerdócio já começou a mudar, afinal, precisamos pagar as contas, ou seja, viver a vida, ou sobreviver.

Eu e minha geração de primos cursamos Medicina no começo dos anos 2000 (formei em janeiro de 2008). A visão de sacerdócio ficou para trás, na verdade, aqueles que assim enxergam a Medicina, são vistos como utópicos e até mesmo alienados. Minha geração é a a geração da Medicina baseada em evidência. Uma geração que começou a ver uma quantidade grande de médicos adentrando ao mercado. Além disso começamos a falar de judicialização médica. 

As próximas gerações ainda estamos analisando, mas o panorama não é nada agradável. Porém, só o tempo dirá. Serão médicos com outros ideais, ambições, outros valores. O quão negativo ou positivo isso será, só o tempo nos mostrará.

Mas o que TODAS essas gerações tem em comum? O objetivo final da Medicina é o bem-estar do paciente. É sanar ou aliviar o sintoma. É prevenir quando possível. E se tudo isso ocorre em prol do paciente, ele tem papel central na nossa formação.

Só somos médicos, porque um dia, alguém se dispôs a permitir que fizéssemos perguntas, examinássemos, sugeríssemos hipóteses diagnósticas para os nossos professores e por fim nossos mestres tomavam condutas. Para beneficiar o paciente.

Na maioria das vezes, na verdade, na grande maioria das vezes, esse paciente era/é alguém que depende do Sistema único de saúde. Alguém sem muitas posses, condições financeiras para pagar um plano de saúde. E aqui chego no ponto chave. Sem esse tipo de paciente, sequer teríamos formados. Gratidão a todos que passaram pelo meu caminho e em um momento difícil das suas vidas, permitiu que um pós-adolescente fizesse perguntas "sem nexo", examinasse seus corpos com alguns instrumentos  e depois repassasse aquilo para um professor diante de outros acadêmicos.

Aqui entra a questão da responsabilidade social. Tema espinhoso para os médicos da minha geração e que provavelmente será ignorado pelas próximas gerações. Aqui a questão é moral. A questão é o dever de gratidão a quem nos ajudou a estar aqui. 

Não tenho a intenção de querer falar que médicos devam doar parte do seu tempo para pessoas mais carentes. Cada um sabe onde o calo aperta. 

O intuito é despertar a seguinte pergunta: Eu seria o médico(a) que sou hoje se não fossem os pacientes do SUS? Como retribuir isso?

Anos atrás assisti à uma reportagem com o Senador Cristovam Buarque (DF) na qual ele falava que os médicos formados em universidades públicas deveriam ficar um período trabalhando no SUS, após formarem. Muitos abominam essa ideia mas é algo a se pensar.

Como retribuir aqueles que tanto nos deram?

Hoje, vou na contramão do que minha família defende e acho que TODO médico tem que ter a sua contribuição social, seja atendendo no SUS ou de forma filantrópica. Se os médicos valorizassem mais o SUS, provavelmente teríamos um SUS ainda melhor. Mas muitos preferem enxergar a Medicina como um comércio, focando apenas no lucro e esquecem da nossa responsabilidade social. 

Espero que as próximas gerações tenham um despertar na consciência e abram os horizontes para a forma de enxergar a Medicina. É inadmissível a Nutrologia ter menos de 1 dúzia de ambulatórios em TODO o território nacional. A Nutrologia é para todos e não apenas para uma pequena parcela da população.

No Centro-oeste há apenas 2 ambulatórios de Nutrologia, um em Brasília (uniceplac) coordenado pela Nutróloga Nádia Hubert e o de Aparecida de Goiânia, coordenado por mim. Não há o serviço de Nutrologia ambulatorial em Goiânia, nem em Campo Grande ou Cuiabá. No último Congresso Brasileiro de Nutrologia discutimos exatamente isso. Se existem mais de 1250 Nutrólogos no país, por que há poucos serviços de Nutrologia no SUS? A quem interessa ter poucos serviços de Nutrologia para atender a população ?

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Bolo de macaxeira (aipim/mandioca) com côco


Receita elaborada por uma grande amiga de longa data, a professora de Yoga Claudia Sabbag. Vale a pena se inscrever no canal dela. Sempre postando receitas com comida de verdade, nutritivas e saborosas.

Ingredientes:

4 xícaras de mandioca/macaxeira crua e ralada no ralo grosso
2 xícaras e meia de coco ralado no ralo grosso
100 ml de leite de coco
5 colheres de sopa de xilitol (pode substituir por açúcar se quiser)
Pitadas de canela, cravo moído e noz moscada
1 xícara cheia de queijo sem lactose
5 ovos
3 colheres de sopa de manteiga ghee
2 colheres de sopa de farinha de coco
1 pitada de sal
20 cotas de estévia
1 colher de sopa de fermento químico para bolo

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O efeito de uma dieta mediterrânea sobre os sintomas de depressão em homens jovens (o estudo “AMMEND: A Mediterranean Diet in MEN with Depression”): um estudo controlado randomizado.

 A depressão é um distúrbio de saúde mental comum que afeta cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. Na Austrália, cerca de 1 milhão de adultos australianos têm depressão em um determinado ano, e o início precoce pode significar que os pacientes enfrentam graus variados de deficiência por muitos anos de suas vidas. A depressão pode apresentar-se de forma diferente em cada indivíduo; entretanto, as principais características incluem anedonia, humor deprimido e função cognitiva alterada. 

O fardo esmagador das doenças mentais afeta os jovens, com a transição da adolescência para a vida adulta apresentando muitos desafios, como transições significativas entre casa, educação e emprego.

Do ponto de vista do desenvolvimento, as idades de 18 a 24 anos foram descritas como idade adulta emergente, que é um estágio de desenvolvimento de transição entre o final da adolescência e a idade adulta. 

Observa-se um aumento acentuado nas taxas de depressão, com as taxas de doença mental atingindo o pico na idade adulta emergente. Infelizmente, os jovens do sexo masculino raramente procuram ajuda para a sua saúde mental, com apenas 13% dos jovens do sexo masculino com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos a procurar ajuda profissional. 

No entanto, pesquisas mostram que a idade adulta emergente também oferece uma oportunidade para intervenções precoces no estilo de vida, como mudanças na dieta, porque muitos estão aprendendo a cozinhar e assumindo o controle de suas escolhas alimentares pela primeira vez. 

Além disso, a pesquisa mostra consistentemente que os homens tendem a apresentar dietas mais pobres quando comparados às mulheres, tornando os homens jovens de 18 a 25 anos com depressão particularmente precisando de apoio adicional. 

O tratamento padrão do transtorno depressivo maior inclui psicoterapias, como terapia cognitivo-comportamental e medicamentos antidepressivos, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina. No entanto, cerca de 30% dos pacientes deprimidos não respondem adequadamente aos medicamentos antidepressivos. 

Recentemente, pesquisadores têm explorado o efeito que nutrientes específicos, certos alimentos e vários padrões alimentares têm sobre a saúde mental no campo emergente da psiquiatria nutricional. Atualmente, a dieta com maior evidência de exercer efeito positivo sobre os sintomas depressivos é a dieta mediterrânea (DM).

A DM é rica em frutas, vegetais, grãos integrais, legumes, frutos do mar, nozes, sementes e azeite de oliva, enquanto é baixa em alimentos “rápidos” processados, carne vermelha e açúcar. Embora muitas evidências observacionais mostrem que aqueles que seguem uma DM têm um risco reduzido de desenvolver depressão, apenas alguns ensaios experimentais foram realizados, mostrando que uma DM também pode ajudar a tratar o transtorno depressivo maior (TDM) ativo. 

No entanto, esses 2 estudos foram realizados em adultos mais velhos, com idade média de 40 e 44, sem estudos até o momento explorando uma DM em adultos jovens com depressão clínica.

Intervenções voltadas para a prevenção ou tratamento precoce da depressão são urgentemente necessárias. Além disso, há pesquisas limitadas sobre o efeito de uma DM na qualidade de vida (QV) em pacientes com depressão, particularmente homens jovens. 

Os questionários de QV normalmente avaliam as experiências dos participantes de uma doença, como incapacidade, fadiga e dor, e também podem incluir perguntas sobre o bem-estar físico, social e emocional dos participantes. 

Portanto, examinar o impacto da dieta na QV pode fornecer informações adicionais sobre a eficácia das intervenções em vários domínios da saúde.

Objetivos da pesquisa

O objetivo desta pesquisa foi determinar se o aconselhamento nutricional, com foco na DM, poderia melhorar a qualidade da dieta, os sintomas depressivos e a QV de jovens do sexo masculino com depressão. Executamos um estudo controlado randomizado (ECR) examinando o efeito de uma DM em comparação com a terapia de amizade para o tratamento da depressão em homens jovens com depressão clínica. 

Nós hipotetizamos que seguir a DM resultaria em melhora da qualidade da dieta, sintomas depressivos e QV no grupo MD na semana 12.

Métodos

Um estudo controlado randomizado, aberto, de 12 semanas, de grupos paralelos, foi conduzido para avaliar o efeito da intervenção com DM no tratamento da depressão moderada a grave em homens jovens (18-25 anos). A terapia de amizade foi escolhida para o grupo controle. As avaliações foram feitas na linha de base, na semana 6 e na semana 12. A adesão à DM foi medida com o Mediterranean Diet Adherence Score (MEDAS). O desfecho primário foi a Escala de Inventário de Depressão de Beck – versão II (BDI-II) e o desfecho secundário foi a qualidade de vida (QV).

Resultados

Um total de 72 participantes completaram o estudo. Após 12 semanas, os escores do MEDAS foram significativamente maiores no grupo DM em comparação com o grupo de amizade (diferença média: 7,8; ​​IC 95%: 7,23, 8,37; P <0,001). A mudança média na pontuação BDI-II foi significativamente maior no grupo DM em comparação com o grupo de amizade na semana 12 (diferença média: 14,4; IC 95%: 11,41, 17,39; P <0,001). A mudança média na pontuação de QV também foi significativamente maior no grupo DM em comparação com o grupo de amizade na semana 12 (diferença média: 12,7; IC 95%: 7,92, 17,48; P <0,001).

Conclusões

Nossos resultados demonstram que, em comparação com a amizade, uma intervenção DM leva a aumentos significativos no MEDAS, diminuições no escore BDI-II e aumentos nos escores de QV. Esses resultados destacam o importante papel da nutrição para o tratamento da depressão e devem informar os conselhos dados pelos médicos a essa população demográfica específica.

O estudo foi registrado no Registro de Ensaios Clínicos da Austrália e Nova Zelândia (ID do ensaio ACTRN12619001545156) e também foi registrado na Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos da OMS (Número de Ensaio Universal U1111-1242-5215). Am J Clin Nutr 2022;116:572-580.


[Conteúdo exclusivo para médicos] - Drogas hipoglicemiantes com benefícios cardiovasculares como modificadores de elementos críticos da história de vida humana

Resumo

A teoria da história de vida assume que todos os organismos estão sob pressão seletiva para colher recursos externos e alocá-los para maximizar a aptidão: apenas os organismos que fazem o melhor uso da energia obtêm os maiores benefícios da aptidão.

A troca de energia abrange quatro funções: manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos.

Os inovadores agentes anti-hiperglicêmicos agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2) diminuem o peso corporal e têm o potencial de combater a inflamação de baixo grau.

Essas atividades-chave poderiam religar dois componentes da teoria da história de vida operante na idade adulta — isto é, manutenção e defesa.

Nesta Visão Pessoal, postulamos que os benefícios desses medicamentos no sistema cardiovascular, além de seus efeitos hipoglicemiantes, poderiam ser mediados pela redução do custo de manutenção impulsionado pela obesidade e pelos esforços despendidos no combate à inflamação de baixo grau.

• Introdução

A teoria da história de vida é um campo da biologia que estuda a estratégia usada por um organismo para alocar sua energia para o crescimento, manutenção do corpo, defesa e reprodução.

Um princípio central da teoria da história de vida é o conceito de trade-offs – isto é, estratégias usadas para alocar energia quando características requerem mais energia do que a disponível.

Do ponto de vista evolutivo, a teoria assume que todos os organismos estão sob pressão seletiva para colher recursos do ambiente e alocá-los em funções biológicas para maximizar a aptidão.

Os organismos que fazem o melhor uso da energia ao longo da vida devem obter os maiores benefícios de condicionamento físico.

A troca de energia abrange as quatro funções biológicas, ou seja, manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos e predadores.

O investimento de muita energia em uma função diminui a energia disponível para as outras.

A história de vida rápida tem alta mortalidade extrínseca, vida curta, crescimento rápido, maturação precoce, tamanho pequeno da prole e envelhecimento rápido, enquanto a história de vida lenta tem baixa mortalidade extrínseca, vida longa, crescimento lento, maturação tardia, tamanho grande, tamanho grande da prole, e envelhecimento lento.  

Wells e colegas adaptaram a teoria da história de vida ao diabetes desenvolvendo um modelo no qual a capacidade metabólica, a carga metabólica e a homeostase desafiadora determinam a propensão e as complicações da doença.

A capacidade metabólica endógena inclui função pancreática e massa muscular e é fortemente influenciada pelo crescimento fetal e infantil.

A capacidade interage com a carga metabólica imposta por estímulos externos, a soma da adiposidade, carga glicêmica da dieta, sedentarismo, estresse psicossocial e todos os fatores patogenéticos críticos que contribuem para o risco de desenvolvimento de doenças e progressão para doenças cardiovasculares.

Ao longo do último meio século, as mudanças ambientais e o aumento da disponibilidade de alimentos aumentaram a carga metabólica.  

Assim, a prevalência de obesidade e diabetes aumentou rapidamente em todo o mundo e continua a crescer.  

Portanto, a ruptura do equilíbrio entre a capacidade metabólica e a carga metabólica gerará estresse ecológico e deterioração da homeostase com aumento do risco de mortalidade prematura que pode compensar a tendência de aumento da expectativa de vida em muitos países.

O diabetes tipo 2 está associado à redução substancial da expectativa de vida, principalmente devido ao excesso de mortalidade cardiovascular.

De acordo com o imprinting pré-natal sobre a capacidade metabólica, é provável que a propensão a desenvolver um risco aumentado de doença cardiovascular comece nas gerações anteriores.

Tanto a desnutrição quanto a supernutrição na gravidez ou obesidade materna estão ligadas ao risco cardiometabólico na prole.

Da mesma forma, os filhos de mães com diabetes pré-gestacional ou gestacional têm um perfil de risco de doença cardiovascular pior e uma taxa mais alta de doença cardiovascular de início precoce do que filhos de mães sem diabetes.

O mesmo ocorre em filhos de mães com histórico de doenças cardiovasculares ou complicações diabéticas.

Ao todo, essas observações indicam uma programação da chamada diabesidade e doenças cardiovasculares ao longo de gerações.

Em indivíduos com diabetes, o aumento da adiposidade e o desenvolvimento de distúrbios metabólicos levam à inflamação crônica de baixo grau: uma característica cardinal dos distúrbios metabólicos que levam ao gasto energético excessivo.

A manutenção a longo prazo de um estado inflamatório de baixo grau, sem um alvo para se defender (por exemplo, um agente infeccioso), pode ser vista como um desperdício de energia sem propósito que desequilibra a troca.

Tal resposta inflamatória, que deveria ser fisiologicamente, espacialmente e temporalmente limitada, torna-se ilimitada e não determinada causalmente, sendo vista como sem propósito.

Não exclui condições ecológicas como inatividade física, disbiose intestinal, dieta pouco saudável, isolamento social, estresse psicológico, sono perturbado e ritmos circadianos.

No entanto, a função principal da defesa (ou seja, combater e eliminar agentes externos) falha e fica sem propósito.

Devido ao efeito negativo da diabesidade e sua relação com o mecanismo da doença cardiovascular, a redução do peso corporal e o embotamento da inflamação são vistos como uma abordagem racional para melhorar o estado metabólico.

Desde 2015, duas classes de agentes redutores de glicose, agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2), demonstraram exercer proteção contra doenças cardiovasculares associadas a distúrbios metabólicos.

Nesta visão pessoal, hipotetizamos que os efeitos benéficos dos agonistas do receptor GLP-1 e dos inibidores de SGLT2 podem ser parcialmente mediados por sua capacidade de reequilibrar componentes da teoria da história de vida (figura).

Os mecanismos subjacentes à doença cardiovascular no diabetes

Em primatas não humanos e humanos, aqueles com maiores concentrações de glicose têm taxas de mortalidade mais altas do que aqueles com concentrações mais baixas de glicose em estágios posteriores da vida.

Além dessa associação epidemiológica, altas concentrações de glicose podem desencadear e sustentar vários mecanismos que levam a complicações relacionadas ao diabetes.

De acordo com a hipótese fisiopatológica unificadora clássica, a hiperglicemia causa (1) produção excessiva de espécies reativas de oxigênio com consequente ativação da poli (a ribose nuclear (ADP) polimerase) e acúmulo de intermediários glicolíticos; (2) ativação da proteína quinase C por diacilglicerol e subsequente translocação de NF-κB para o núcleo, sustentando a resposta inflamatória; (3) produção de produtos finais glicados avançados que interagem com receptores para produtos finais glicados avançados potencializando a inflamação; (4) ativação das vias de poliol e glucosamina, conduzindo a modificações adicionais das funções celulares.

A coexistência de hiperglicemia e excesso de gordura corporal, particularmente gordura visceral que é maciçamente infiltrada por células mielóides (adiposopatia), piora drasticamente a inflamação, resultando no estado bem documentado de inflamação crônica de baixo grau.

Por sua vez, a hiperglicemia e a inflamação de baixo grau levam a modificações epigenéticas, pelo menos em parte, alterando a expressão e a atividade das sirtuínas.

Sirtuin1, uma histona desacetilase classe III dependente de NAD+ com ação antioxidante e anti-inflamatória, previne a senescência endotelial e promove a biodisponibilidade de NO.  

Paralelamente, a toxicidade da glicose e dos lipídios prejudica a regeneração vascular; pessoas com diabetes têm mobilopatia da medula óssea, indicada pela diminuição das células-tronco hematopoiéticas ou células progenitoras e células progenitoras endoteliais disfuncionais, devido ao excesso de mielopoiese inflamatória no nicho da medula óssea.

Juntamente com a glicotoxicidade, a lipotoxicidade tem um papel prejudicial nas doenças cardiovasculares e no envelhecimento prematuro: foi relatado um risco aumentado de morte para as categorias mais altas e mais baixas de IMC entre homens e mulheres, em todos os grupos raciais e étnicos e em todas as idades.

A obesidade é uma doença multissistêmica que afeta a homeostase vascular em nível do organismo, inclusive no miocárdio.  

O insulto miocárdico na obesidade resulta da carga extra no coração devido ao alto volume sanguíneo e à hipertensão, levando ao aumento do volume sistólico do ventrículo esquerdo.

Vários estudos têm mostrado associação entre obesidade e alterações estruturais e funcionais do ventrículo esquerdo, como maior volume diastólico final do ventrículo esquerdo e hipertrofia concêntrica, eventualmente levando a uma disfunção contrátil miocárdica subclínica.

Além disso, em indivíduos com obesidade e diabetes, a gordura epicárdica aumenta, o que contribui para inflamação local e inflexibilidade metabólica.

O aumento da massa gorda e a inflamação de baixo grau podem atrapalhar o equilíbrio fisiológico entre as quatro funções essenciais da teoria da história de vida: manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos.

Devido a essa interrupção, o aumento da massa gorda e a inflamação de baixo grau podem contribuir para o risco de doenças cardiovasculares.

A superalimentação e a expansão da massa gorda corporal causam um aumento na taxa metabólica de repouso, no efeito térmico dos alimentos e no gasto energético relacionado à atividade.

Muitas pessoas são diagnosticadas com diabetes tipo 2 em seus anos pós-reprodutivos, quando o crescimento e a reprodução diminuem.

Além das implicações da diabesidade de início precoce para a aptidão reprodutiva, para a maioria dos pacientes com doença de início tardio, o trade-off envolve manutenção e defesa.

Ao mesmo tempo, a massa gorda expandida impõe um custo extra em energia e um perfil de risco cardiovascular mais grave devido a uma ativação sem propósito da imunidade inata.

Com o termo sem propósito, identificamos uma condição na qual o processo imune-inflamatório não é ativado para eliminar uma causa de doenças infecciosas, mas é inadequadamente engajado ou desregulado por pistas estéreis, causando a ruptura da homeostase e promovendo a patologia.

Os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 exercem vários efeitos no alvo e fora do alvo que explicam os benefícios cardiovasculares mostrados nos ensaios de resultados cardiovasculares (CVOTs).

Aqui, exploramos até que ponto os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem melhorar a relação entre manutenção e defesa, como uma estrutura geral para interpretar as estratégias atuais e futuras para reduzir a carga de doenças cardiovasculares em pessoas com doenças metabólicas.

• Resultados de CVOTs

Em pessoas com diabetes, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 reduzem a taxa de desfechos cardiovasculares e renais além de sua capacidade de diminuir as concentrações de glicose.

Os CVOTs mostraram que os pacientes aleatoriamente designados para receber um agonista do receptor GLP-1 tiveram um benefício cardiovascular substancial em comparação com aqueles que receberam placebo.  

Uma meta-análise de oito ensaios envolvendo 60 080 pacientes mostrou uma redução de 14% na redução do risco relativo em três pontos de eventos cardiovasculares adversos maiores (ECAM), uma redução no risco de morte por qualquer causa em 12% e 17% de redução no acidente vascular cerebral fatal e não fatal.

O benefício dos agonistas do receptor GLP-1 é observado nos diferentes estratos de risco de doença cardiovascular.

De acordo com uma meta-regressão, entre os agentes redutores de glicose, o MACE e a redução do risco de insuficiência cardíaca foram significativamente maiores quando os pacientes foram aleatoriamente designados para medicamentos capazes de reduzir o peso corporal.

Essa noção contrasta com o chamado paradoxo da obesidade, segundo o qual pessoas que vivem com sobrepeso ou obesidade e com doenças cardiovasculares podem ter um prognóstico melhor em comparação com pacientes magros (IMC < 25 kg/m2).

No entanto, a associação ecológica entre as mudanças no peso corporal induzidas pelos medicamentos experimentais testados em CVOTs e sua proteção contra doenças cardiovasculares apoia nossa hipótese (ou seja, o papel positivo de uma massa gorda diminuída na inflamação de baixo grau [defesa] e manutenção).

Em pacientes com diabetes tipo 2, uma análise incluindo seis ensaios com 57 553 participantes, aleatoriamente designados para inibidores de SGLT2 versus placebo, apresentou um risco relativo 12% menor de MACE.

Além disso, os inibidores de SGLT2 reduziram significativamente o risco de desfechos renais compostos em 36–41%.

Estudos do mundo real confirmaram amplamente esses benefícios relevantes dos inibidores de SGLT2 e agonistas do receptor de GLP-1.

Uma diminuição significativa nos desfechos cardíacos e renais foi observada em pacientes com doença renal crônica, independentemente da presença de diabetes.

Além disso, entre os pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida ou preservada, independentemente da presença de diabetes, os inibidores de SGLT2 reduziram a hospitalização por insuficiência cardíaca em aproximadamente 30% e reduziram a morte cardiovascular em 14%.  

Portanto, embora os benefícios dos agonistas do receptor de GLP-1 para pessoas sem diabetes ainda aguardem investigação, parece que a proteção conferida pelos inibidores de SGLT2 se estende além do diabetes a duas outras condições interconectadas, ou seja, insuficiência cardíaca e doença renal crônica.

Notavelmente, essas duas condições são cada vez mais reconhecidas como parte de um continuum cardio-renal-metabólico, pois estão intimamente ligadas à obesidade e ao dismetabolismo e apresentam inflamação de baixo grau.

Quaisquer que sejam os mecanismos em ação, a maioria dos pesquisadores concorda que os agonistas do receptor GLP-1 e os inibidores de SGLT2 diminuem o risco de doença cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 além de sua eficácia na redução da glicose.

Notavelmente, esses medicamentos beneficiam o peso corporal (melhorando a manutenção) e têm o potencial de reduzir a inflamação de baixo grau (melhorando a defesa), abordando assim dois componentes cruciais da história de vida.

• Manutenção

De acordo com a teoria da história de vida, a manutenção é necessária para garantir a homeostase corporal (ou seja, a manutenção ativa das características qualitativas e quantitativas do sistema dentro da faixa desejada).

A manutenção é vital para preservar características de saúde, como compartimentação espacial, consistência ao longo do tempo e uma resposta adequada ao estresse.

Em humanos, espera-se que o investimento em energia na manutenção somática varie de acordo com as necessidades ecológicas.

Um estilo de vida incongruente, que ocorre frequentemente em países industrializados de alta renda, favorece o alto investimento energético na manutenção somática, traduzindo-se em efeitos negativos na reprodução e longevidade.

Assim, comportamentos não saudáveis, como superalimentação e sedentarismo físico, podem aumentar o risco cardiovascular e reduzir a longevidade.

Como ocorre com a obesidade, a expansão do tecido adiposo impõe um custo de manutenção desproporcionalmente alto com efeitos prejudiciais ao estado de saúde.

Medicamentos que trazem benefícios para a perda de peso, como agonistas do receptor de GLP-1 e inibidores de SGLT2, podem reduzir o risco relacionado à obesidade por atuarem positivamente nesse elemento da história de vida.

Embora os mecanismos que induzem a perda de peso sejam diferentes entre as duas classes, dados do mundo real e de ensaios sugerem que, em média, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem atingir graus semelhantes de perda de peso.

Os agonistas do receptor GLP-1 são considerados os agentes redutores de glicose mais potentes, pois podem diminuir a HbA1c em 2%, juntamente com uma perda substancial de peso corporal.

A capacidade dos agonistas do receptor GLP-1 para induzir a perda de peso foi confirmada em diferentes espécies.

Embora parte do efeito sobre a saciedade possa ser mediado pela diminuição da motilidade gástrica, eles atuam principalmente nos circuitos de controle do apetite – ou seja, os sistemas de controle evoluíram para garantir recursos energéticos do ambiente.

Os agonistas do receptor GLP-1 ativam a sinalização de saciedade dentro do SNC e simultaneamente estimulam as vias de sinalização que reduzem a ingestão de alimentos.  

Estudos em roedores alimentados aos pares também sugerem que a administração de agonistas do receptor GLP-1 pode aumentar o gasto energético, embora esse efeito não tenha sido comprovado em humanos.

Os agonistas do receptor GLP-1 podem diminuir o gasto total de energia em humanos devido à perda de peso, reduzindo assim a quantidade de energia necessária para manter a massa corporal.

Um polipeptídeo insulinotrópico de glicose duplo e um agonista de GLP-1 (tirzepatide) podem representar uma abordagem mais potente para a perda de peso do que os agonistas do receptor de GLP-1 sozinhos.

O principal mecanismo de ação dos inibidores de SGLT2 é a inibição da reabsorção renal de glicose no túbulo contorcido proximal, causando glicosúria e perda calórica em torno de 400 kcal por dia.

A leitura clínica é uma melhora do controle glicêmico, pressão arterial e redução do peso corporal em uma média de 2-3 kg, possivelmente limitada pela ingestão alimentar compensatória.

Dada a sua capacidade de causar perda de peso, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem melhorar profundamente os programas de manutenção, modificando um dos elementos cruciais do trade-off da história de vida e, assim, melhorando os resultados.

Um ponto importante contra nossa hipótese é que a redução de MACE em CVOTs não parece ser mediada pela extensão da perda de peso, enquanto as análises de mediação identificam consistentemente a redução na HbA1c e albuminúria por agonistas do receptor GLP-1 como os principais contribuintes.

Em contraste, os biomarcadores relacionados aos glóbulos vermelhos parecem mediar a maior parte da proteção cardiorrenal pelos inibidores de SGLT2, com o peso corporal fornecendo uma contribuição menor.

No entanto, esses resultados foram obtidos por análises de mediação, que podem ser influenciadas pela estrutura das variáveis ​​consideradas, pelo óbito dos pacientes antes da avaliação do mediador e pela confusão pós-tratamento do efeito do mediador por outros mediadores, e são  intrinsecamente incapaz de definir relações de causa e efeito.

Estudos clínicos e experimentais ilustram que a perda de peso melhora substancialmente a secreção e ação da insulina, resultando em melhor controle glicêmico, e pode melhorar a albuminúria, possivelmente por atenuar a inflamação sistêmica.  

Mesmo uma pequena redução no peso tende a melhorar o resultado de indivíduos que vivem com obesidade, e espera-se que ajustar um mediador candidato a montante por seus efetores a jusante anule seu papel como mediador do resultado.

Portanto, as análises de mediação atuais não podem excluir firmemente uma contribuição causal da perda de peso na eficácia cardiovascular dos agonistas do receptor de GLP-1 e dos inibidores de SGLT2.

Em geral, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2, cada um com mecanismos e magnitudes diferentes, podem reduzir o peso corporal e a massa gorda, restringindo assim a carga do excesso de gordura no gasto e manutenção de energia.

Este efeito é de particular interesse na idade adulta, quando a atividade física tende a diminuir, pois a perda de peso corporal pode induzir os pacientes a aumentar sua atividade física, contribuindo para mecanismos de reparo e manutenção bem conhecidos.

O relatório de 2021 sobre o uso de agonistas do receptor GLP-1 em jovens (de 10 a <18 anos) com diabetes tipo 2 revela a possibilidade de que esses compostos também possam afetar o crescimento e a reprodução.

Finalmente, reconhecemos que não apenas a quantidade de gordura corporal, mas também sua composição e distribuição, podem influenciar a manutenção.

Tanto os agonistas do receptor GLP-1 quanto os inibidores de SGLT2 podem reduzir a gordura visceral, gerando benefícios cardiometabólicos previsíveis.

Um aumento da gordura não visceral, apesar de teoricamente alocar mais energia para manutenção, não produziria o mesmo efeito prejudicial e, se combinado com uma redução da inflamação (como pode ocorrer durante o tratamento com pioglitazona), pode ser parcialmente protetor.

• Defesa

A inflamação é uma resposta combinada à infecção ou lesão e é comumente ativada em perturbações da homeostase tecidual.

Assim, o sistema imune inato é um requisito fundamental para a sobrevivência.

A imunidade e o metabolismo são integrados e dependentes um do outro; nos casos de ruptura dessa interface, como ocorre no diabetes e na obesidade visceral, sobrevém a inflamação de baixo grau.

Essa condição tem uma dupla implicação: está associada ao comprometimento das respostas imunes inata e adaptativa, exacerbando reações imunes indesejadas e contribui para o risco cardiovascular.

Verificou-se que o tratamento com agonistas do receptor de GLP-1 reduz o fator de necrose tumoral-α, estresse oxidativo e inflamação nas células endoteliais.

Os agonistas do receptor GLP-1 podem remodular a resposta imune inata perturbada em pacientes com diabetes tipo 2, que não se limita apenas ao tecido adiposo, mas também se manifesta no cérebro, sistema cardiovascular, fígado, intestino e rins.

Os agonistas do receptor de GLP-1 foram sugeridos para beneficiar indivíduos expostos à infecção por SARS-CoV-2, normalizando a glicose plasmática, diminuindo a massa gorda e induzindo efeitos anti-inflamatórios e imunorreguladores em vários órgãos.

Os inibidores de SGLT2 podem exercer uma atividade anti-inflamatória proeminente.

Vários relatórios indicam que os inibidores de SGLT2 diminuem a inflamação em modelos celulares, um modelo cardíaco de roedores e evidências de modelos humanos e de roedores sugerem que os inibidores de SGLT2 podem melhorar a função renal reduzindo as armadilhas extracelulares de neutrófilos, modificando a microbiota intestinal e inibindo o inflamassoma.

Os inibidores de SGLT2 também demonstraram modificar a polarização dos macrófagos de M1 pró-inflamatório para M2 anti-inflamatório e estimular o gasto de energia de todo o corpo através da ativação de AMPK e aumento da expressão da proteína de desacoplamento 1 no tecido adiposo marrom e branco.

Os inibidores de SGLT2 parecem resgatar o reparo vascular em um modelo de diabetes de camundongos C57 e BL6, modulando o sistema hematopoiético e favorecendo o recrutamento local de células imunes inatas.

Notavelmente, o estresse hematopoiético está emergindo como um mediador dos efeitos da inflamação em defeitos ao longo da vida na manutenção e regeneração dos tecidos.

Uma atividade anti-inflamatória consistente de inibidores de SGLT2 também foi observada em humanos.  

A administração de inibidores de SGLT2 está associada a uma redução das concentrações circulantes do fator de diferenciação de crescimento-15 (um marcador de inflamação), molécula-1 de lesão renal (um marcador de lesão tubular) e resposta anti-inflamatória em leucócitos.

Os inibidores de SGLT2 também inibem o inflamassoma 3 contendo domínio de pirina e a subsequente liberação de IL-1β.

Em humanos, Paolisso e colegas encontraram concentrações de proteína C reativa significativamente mais baixas em usuários de inibidores de SGLT2 em comparação com não usuários, e Nishimiya e colegas encontraram um declínio consistente na proteína C reativa em humanos após 6 meses de tratamento com canagliflozina.

Em uma metanálise sistemática, Bray e colegas relataram uma diminuição consistente da proteína C reativa em pacientes com diabetes tipo 2.

Evidências iniciais suportam um efeito anti-inflamatório dos inibidores de SGLT2, mesmo em indivíduos sem diabetes, especialmente na presença de insuficiência cardíaca.

No contexto da história de vida, o aumento da concentração de corpos cetônicos observado durante a terapia com inibidores de SGLT2 pode ser teleologicamente importante: na presença de um trade-off alterado entre manutenção e defesa, corpos cetônicos originados de ácidos graxos podem ser vistos como um sinal de resgate.

A oxidação dos corpos cetônicos não só está associada a uma proporção vantajosa de ATP para oxigênio, mas também medeia a inibição do inflamassoma por inibidores de SGLT2 e imita a capacidade dos inibidores de SGLT2 de melhorar o reparo vascular.

Em conclusão, há evidências consistentes de que os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem ajudar a corrigir o componente de defesa, reduzindo o peso corporal e promovendo uma atividade anti-inflamatória.

• Conclusões

Nesta Visão Pessoal, descrevemos os efeitos positivos dos agonistas do receptor GLP-1 e dos inibidores de SGLT2 no sistema cardiovascular e sugerimos que eles podem ser responsáveis, pelo menos em parte, por um efeito benéfico em dois elementos básicos da vida biológica:  manutenção e defesa.

Embora as duas classes de medicamentos sejam diferentes, buscamos destacar sua capacidade de reequilibrar a história de vida, atuando no peso corporal e na inflamação, mas com modos de ação notavelmente diferentes.

Diabetes e obesidade têm um compromisso prejudicado entre esses dois componentes-chave da teoria da história de vida.

Os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem modificar positivamente a manutenção e a defesa, reduzindo o peso corporal e a inflamação de baixo grau.

Reconhecemos que os efeitos sobre o peso corporal e a inflamação por si só podem não explicar todo o seu espectro e extensão da proteção contra doenças cardiovasculares.  

No entanto, acreditamos que nossa interpretação tem dois pilares: (1) obesidade e inflamação de baixo grau são fatores de risco bem reconhecidos para doenças cardiovasculares; (2) a teoria da história de vida ajuda a entender como as estratégias de alocação de energia ao longo da vida podem modificar a trajetória da doença cardiovascular e como a doença cardiovascular pode ser potencialmente modificada com medicamentos hipoglicemiantes.  

Outras classes de medicamentos para diabetes têm efeitos especulativos e putativos sobre os componentes da teoria da história de vida (uma lista não exaustiva desses efeitos pode ser encontrada na tabela).

Essa estrutura não convencional pode ser fundamental para uma interpretação holística dos resultados associados ao uso de medicamentos para diabetes existentes e novos.


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II Consenso de recomendação do ácido docosaexaenoico (DHA) durante a gestação e a infância.

O DHA é parte da família dos ácidos graxos ômega-3. O ômega-3 junto com os ácidos graxos ômega-6 são as duas grandes famílias que compõem os ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs). Os principais elementos da família ômega-3 são os ácidos linoleico (ALA), os ácidos eicosapentaenóico (EPA) e DHA. 

O ALA é um ácido graxo essencial, ou seja, não é sintetizado pelo nosso organismo, e precisa ser adquirido através da alimentação. E serve de substrato para a síntese endógena de EPA e DHA. Entretanto essa síntese não é suficiente para fornecer toda a necessidade desses ácidos graxos, o que nos leva a considerar o DHA como ácido graxo semi essencial. 

Os ácidos graxos ômega-3 exercem um importante papel em várias funções biológicas do organismo. Nas crianças, está envolvido com o desenvolvimento neurológico e da retina. Durante a gestação está associado a desfechos como peso ao nascer, prematuridade e diabetes gestacional. Além das outras associações no risco cardiovascular e doenças degenerativas neurológicas. 

As principais fontes de DHA e EPA são peixes de origem marinha e algas, como salmão, atum, sardinha e manjuba. Alimentos de consumo abaixo do necessário pela população brasileira em decorrência de inúmeros fatores entre eles falta de orientação, altas taxas dos produtos e dificuldades de acesso pela população distante do litoral. 

A importância dos ácidos graxos para nosso organismo e a dificuldade de obtê-lo através da dieta brasileira, nos leva muitas vezes a necessidade de suplementação. E nesse contexto, o atual consenso avalia a necessidade e recomendação de suplementação durante o período gestacional. 

Na saúde da mulher, sabe-se da importância de níveis adequados de DHA para o processo da reprodução e concepção. E durante a gestação são nutrientes importantes para o desenvolvimento neurológico fetal, uma vez que representa 80% de todos os ácidos graxos do sistema nervoso central e retina. 

A última revisão da Cochrane endossa a importância do DHA na gestação. Com 70 ensaios clínicos randomizados e 19.927 indivíduos, o aumento da ingesta de ômega 3 reduziu em 11% o risco de parto pré-termo antes de 37 semanas (RR 0,89, IC 95% 0,81 – 0,97) e em 42% o risco de parto pré-termo antes de 34 semanas (RR 0,58, IC 95% 0,44 – 0,77). Nessa mesma revisão, encontrou-se um aumento no risco de pós datismo acima de 42 semanas (RR 1,61, IC 95% 1,11 – 2,33) e não mostrou associação com outros desfechos obstétricos como morte perinatal, pré-eclâmpsia e diabetes mellitus gestacional. 

Diante das informações na literatura médica até o presente, a ABRAN sumariza as seguintes conclusões e recomendações.

Conclusões da ABRAN
  • Consumo de DHA durante a gestação aumenta a cognição na prole. 
  • A suplementação de DHA durante a gestação pode ter um efeito positivo sobre o desenvolvimento cognitivo e visual do feto. Entretanto, o uso em larga escala apresenta resultados conflitantes e o uso em populações de alto risco para deficiência parece mais plausível. 
  • A concentração de DHA no leite materno é dependente do status nutricional da nutriz. 
  • Uma dieta balanceada em ômega-3 parece ser benéfica na infertilidade feminina, apesar da necessidade de maiores evidências. 

Recomendações da ABRAN
Os profissionais de saúde deveriam investigar a ingestão de DHA de seus pacientes, estabelecendo o status nutricional desse nutriente e o risco de deficiência. 
A suplementação de 2 a 4 g de EPA + DHA deve ser considerada como parte do tratamento de dislipidemias com valores sanguíneos de triglicerídeos acima de 500 mg/dl. 
A orientação nutricional para consumo de ômega-3 é de 3 porções de 120 g por semana. Entretanto tomando cuidado com as fontes de ômega-3, pelo risco de contaminação de peixes com metais pesados. 
Recomenda-se a ingestão de 200 mg de DHA durante a gestação e lactação. Considerando o baixo consumo no Brasil, recomenda-se a suplementação de 200 mg a todas as gestantes e lactantes.

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Diretriz de Prática Clínica da Associação Americana de Endocrinologia Clínica: Desenvolvendo um Plano de Cuidados Abrangentes para Diabetes Mellitus—Atualização de 2022

Os avanços nos medicamentos e ferramentas para monitorar o açúcar no sangue estão ajudando as pessoas com diabetes a melhorar muito o controle de seus níveis de açúcar no sangue, excesso de peso, pressão alta e qualidade de vida. 

Esta diretriz da Associação Americana de Endocrinologia Clínica fornece recomendações para o diagnóstico e tratamento de pessoas com pré-diabetes e diabetes e sua prevenção.

O cuidado de pessoas com pré-diabetes e diabetes inclui mudanças no estilo de vida com foco no sono, alimentação saudável e exercício. 

Atingir metas de açúcar no sangue, pressão arterial, gorduras como colesterol e peso pode prevenir danos causados pelo diabetes aos olhos, rins, coração e sistema nervoso. 

Muitas drogas mais novas e seguras controlam o açúcar no sangue e reduzem o risco de doenças cardíacas e renais.

Algumas drogas também reduzem o colesterol e o peso. Maneiras de verificar os níveis de açúcar no sangue com dedos ou sensores colocados sob a pele (Monitores de glicose contínuos) melhoraram, tornando mais fácil e seguro para as pessoas com diabetes evitar níveis baixos e altos de açúcar no sangue.

Uma abordagem de equipe ajuda as pessoas a gerenciar melhor o diabetes. O indivíduo com diabetes é o centro da equipe e deve ajudar a tomar decisões junto com seus médicos. Além dos médicos, a equipe pode incluir educadores, enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, médicos de pé, psicólogos e outros especialistas.

Esta diretriz aborda outros tópicos de interesse para aqueles que vivem com ou em risco de diabetes, como visitas de saúde por computador ou telefone, acesso a cuidados, gerenciamento de diabetes no trabalho, distúrbios do sono, depressão, infertilidade, risco de câncer, segurança de suplementos nutricionais e benefícios das vacinas. Também estão incluídas necessidades específicas de cuidados e tratamento das mulheres grávidas e das que estão hospitalizadas.

A Associação Americana de Endocrinologia Clínica espera que esta diretriz melhore o manejo do diabetes e beneficie todos os que vivem com pré-diabetes ou diabetes e seus cuidadores.


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[Conteúdo exclusivo para médicos] - Analisando o impacto dos fatores de risco modificáveis ​​na mortalidade por doenças cardiovasculares no Brasil.

Objetivos

Examinamos o impacto das mudanças nos fatores de risco modificáveis ​​na mortalidade por DCV em 26 estados brasileiros de 2005 a 2017.

Métodos

Os dados foram adquiridos do estudo Global Burden of Diseases (GBD) e de fontes oficiais do governo brasileiro, totalizando 312 observações estaduais-ano. As frações atribuíveis à população (PAFs) foram calculadas para determinar o número de óbitos atribuídos a alterações em cada fator de risco. Modelos de regressão linear multivariada de efeitos fixos foram realizados, ajustando para renda, desigualdade de renda, pobreza e acesso à saúde.

Resultados

Entre 2005 e 2017, as mortes por DCV diminuíram 21,42%, acompanhadas por uma diminuição do tabagismo (-33%) e aumento da hiperglicemia (+9,5%), obesidade (+31%) e dislipidemia (+5,2%).

A redução do tabagismo preveniu ou adiou quase 20.000 mortes por DCV nesse período, enquanto o aumento da exposição à hiperglicemia resultou em mais de 6.000 mortes por DCV.

A associação entre hiperglicemia e mortalidade por DCV foi 5 a 10 vezes maior do que a encontrada para outros fatores de risco, especialmente em mulheres (11; IC 95% 7 a 14, mortes por aumento de 1 ponto na exposição à hiperglicemia).

É importante ressaltar que a associação entre hiperglicemia e mortalidade por DCV foi independente do nível socioeconômico e acesso aos cuidados de saúde, enquanto associações para outros fatores de risco após os mesmos ajustes.

 Conclusão

A redução do tabagismo foi o fator de risco que levou ao maior número de mortes por DCV prevenidas ou adiadas, enquanto a hiperglicemia apresentou a associação mais deletéria com a mortalidade por DCV. As políticas de saúde devem ter como objetivo reduzir diretamente a prevalência de hiperglicemia para mitigar a carga populacional de DCV no Brasil no futuro.

Introdução

As doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte na maioria dos países de baixa e média renda (PBMRs), como o Brasil, apesar da tendência de diminuição da mortalidade nos últimos anos.

Dentre os diferentes tipos de DCV, eventos isquêmicos, como acidente vascular cerebral isquêmico e cardiopatia isquêmica, têm maior impacto na saúde da população brasileira.

A probabilidade de desenvolver DCV ou morrer de um evento cardiovascular isquêmico é dramaticamente aumentada pela presença de fatores de risco comportamentais e metabólicos comuns, como hiperglicemia, obesidade, dislipidemia, hipertensão e tabagismo.

Dentre estes, um recente estudo prospectivo mostrou que diabetes e hipertensão foram os fatores de risco que levaram ao maior número de mortes por eventos cardiovasculares em países de baixa renda (LICs).

No entanto, não está claro como os diferentes fatores de risco estão associados à mortalidade por DCV em países de baixa e média renda, especialmente em países com um sistema de saúde universal, uma vez que a atenção primária demonstrou diminuir a carga populacional de DCV.

Além dos fatores de risco metabólicos e comportamentais, reconhece-se que a carga de DCV difere entre homens e mulheres.  

Por um lado, os homens apresentam uma maior carga de mortalidade por DCV quando comparados às mulheres na pré-menopausa.

Esta tendência é principalmente igualada entre homens idosos e mulheres na pós-menopausa.

Paralelamente, foi demonstrado que as mulheres são mais propensas do que os homens a apresentar vários fatores de risco concomitantes (por exemplo, as mulheres diabéticas tendem a viver mais com obesidade e dislipidemia do que os homens.

Apesar disso, as mulheres eram menos propensas a serem tratadas adequadamente para essas condições.

Ao todo, tem-se reconhecido que existem disparidades entre os sexos no que diz respeito à prevalência de fatores de risco e mortalidade por DCV, mas ainda não está claro em que medida a tendência de fatores de risco comuns está associada à diminuição da mortalidade por DCV em países de baixa e média renda, como  Brasil.

É importante ressaltar que pode haver algum tipo de hierarquia entre os fatores de risco em que alguns são mais relevantes do que outros para explicar a tendência das DCV em nível populacional.

Portanto, investigamos a associação entre vários fatores de risco comportamentais e metabólicos comuns (hiperglicemia, obesidade, dislipidemia, obesidade e tabagismo) e DCV usando informações estaduais de 2005 a 2017 no Brasil.

Além disso, quantificamos o quanto da diminuição da mortalidade por DCV entre 2005 e 2017 pode ser explicada por mudanças nas prevalências estaduais desses fatores de risco.

No geral, nossas descobertas podem ajudar os formuladores de políticas a implementar estratégias mais eficazes para direcionar esses fatores de risco e, portanto, reduzir a carga de DCV no Brasil. 

• Discussão

Este estudo fornece uma análise completa do impacto dos fatores de risco modificáveis ​​na tendência decrescente da mortalidade por DCV no Brasil.

A redução do tabagismo levou ao maior número de mortes evitadas ou adiadas, enquanto a hiperglicemia foi o único fator de risco com uma forte e impactante associação com a mortalidade por DCV, principalmente para as mulheres.

A associação entre hiperglicemia e mortalidade por DCV foi estável após verificações abrangentes de robustez e foi independente de variáveis ​​socioeconômicas e acesso aos cuidados de saúde.

Em conjunto, os dados aqui coletados sugerem que a hiperglicemia está associada à mortalidade por DCV na população brasileira, que essa associação é independente do acesso à saúde e que existem diferenças específicas por sexo.

Nossos resultados também mostraram que a redução do tabagismo pode explicar parcialmente a tendência de diminuição da mortalidade por DCV observada no Brasil entre 2005 e 2017. 

Esses achados podem ajudar os formuladores de políticas a construir melhores políticas para prevenir ou adiar a mortalidade por DCV.

De modo geral, a mortalidade por DCV padronizada por idade vem diminuindo no Brasil nas últimas décadas.

Isso pode ser devido a fatores socioeconômicos, como aumento do PIB per capita, níveis educacionais e cobertura de atenção primária à saúde, todos associados à diminuição da mortalidade por DCV.

Além disso, calculamos que a redução acentuada do tabagismo na população brasileira evitou ou adiou cerca de 17.000 mortes em ambos os sexos combinados.

Apesar da redução anual das mortes por DCV observadas até agora, é provável que, à medida que o Brasil transite para uma sociedade de alta renda, essa tendência possa desacelerar ou mesmo reverter, como observado para vários países de alta renda.

Diante da necessidade de encontrar estratégias mais eficazes para reduzir a mortalidade por DCV, exploramos as associações da exposição da população a fatores de risco metabólicos e comportamentais comuns com eventos de DCV.

Após verificações abrangentes de robustez, ficou evidente que a hiperglicemia era o fator de risco com a associação mais robusta e estável com a mortalidade por DCV.  

Paralelamente, a hipertensão, mas não a hiperglicemia, foi associada à incidência de DCV.

Isso está de acordo com um estudo de coorte recente que mostrou que a magnitude da associação de diabetes e hipertensão com mortalidade por DCV foi maior do que a encontrada para outros fatores de risco metabólicos em LICs.

No entanto, não encontramos associações estáveis ​​entre hipertensão e mortalidade por DCV na população brasileira.

É possível que, devido a um sistema de saúde universal e um aumento significativo na cobertura de atenção primária, a hipertensão tenha um efeito menor na mortalidade por DCV em comparação com os PBMRs sem um sistema de saúde universal.

De fato, a saúde universal efetiva pode reduzir significativamente as mortes por DCV, enquanto um estudo global mostrou que o Brasil tem uma alta proporção de taxa de controle da hipertensão quando comparado a outros países da América Latina e LMICs.

O controle eficaz da hipertensão demonstrou reduzir drasticamente o risco de desenvolver eventos cardiovasculares.

Em contraste, ainda não está claro se o tratamento do diabetes com medicamentos hipoglicemiantes pode reduzir as mortes por DCV, como exemplificado por estudos de metformina amplamente utilizada e o novo medicamento dapagliflozina.

Encontramos algumas disparidades sexuais na forma como a hiperglicemia está associada à mortalidade por DCV.

Por exemplo, hiperglicemia e diabetes foram consistentemente associados à mortalidade por acidente vascular cerebral isquêmico em mulheres, mas não em homens.

Isso é consistente com estudos anteriores que mostram que diabetes/hiperglicemia é um fator de risco mais forte para acidente vascular cerebral em mulheres do que em homens.

Essas diferenças específicas do sexo podem ser devidas a fenômenos sociais, psicológicos ou biológicos, embora os determinantes sociais subjacentes das disparidades sexuais sejam amplamente pouco estudados.

Biologicamente, foi demonstrado que as mulheres tendem a ter maiores taxas de obesidade, hipertensão e dislipidemia e são menos propensas a receber tratamento adequado para essas condições.

Ao todo, nossos dados concordam com observações anteriores de que a hiperglicemia/diabetes está mais fortemente associada à mortalidade por DCV em mulheres do que em homens (este tópico foi resumido por uma declaração da American Heart Association), enquanto não encontramos associação com a incidência  de CVD.

Nosso estudo tem algumas implicações para a política de saúde.

Em primeiro lugar, os dados sugerem que as políticas de saúde devem ter como objetivo reduzir diretamente a prevalência e a exposição à hiperglicemia no Brasil.  

Em segundo lugar, o amortecimento proporcionado pela saúde universal e as melhorias na atenção primária podem não ser suficientes para mitigar os efeitos deletérios da hiperglicemia na mortalidade por DCV.

Essas suposições são corroboradas pela associação de alta magnitude entre hiperglicemia e mortalidade por DCV, que se manteve estável mesmo após ajuste para acesso aos cuidados de saúde.

Portanto, o aumento da prevalência de diabetes pode eventualmente ser acompanhado por aumentos na mortalidade por DCV se diferentes estratégias não forem implementadas.

Esses achados levantam a necessidade de um debate urgente sobre políticas mais efetivas para diminuir a hiperglicemia e o diabetes, como: melhorias na alimentação escolar, políticas de preços para reduzir o consumo de bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados ​​e coibir a comercialização e disponibilidade desses produtos (todos os quais foram revisados ​​recentemente em [27, 28]).

No entanto, o debate sobre a necessidade de tais políticas e as evidências de seu impacto ainda é incipiente, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil.

Reconhecemos várias limitações em nosso estudo.

Usamos estimativas de exposição a fatores de risco, que são baseadas em estudos observacionais de pesquisadores independentes e pesquisas nacionais conduzidas por entidades governamentais.  

Portanto, é possível que a exposição a fatores de risco tenha incluído indivíduos com condição cardiovascular preexistente, o que poderia influenciar nossos achados.  

Apesar do erro de medição de exposições e desfechos que precisam ser contabilizados, os dados coletados do IHME e do estudo GBD são o maior banco de dados desse tipo e foram consistentes com um grande estudo prospectivo ligando fatores de risco modificáveis ​​e mortalidade por DCV em 21 países.

As medidas de mortalidade podem ter sido sub-representadas no Brasil, especialmente em estados mais pobres.

No entanto, os dados utilizados ainda foram considerados de alta qualidade.

Os dados do IHME foram suavizados pelo IHME, o que poderia mascarar mudanças sutis ao longo do tempo.

Para superar tais limitações, efeitos fixos para estado e tempo foram usados ​​para reduzir a probabilidade de mudanças não observadas na notificação de mortalidade serem associadas a mudanças na desigualdade de renda.

Os dados foram agregados aos estados, portanto, mais estudos são necessários para testar as associações observadas neste estudo no nível individual.

Além disso, não conseguimos fazer interpretações causais dos modelos ajustados, apesar do uso de efeitos fixos e variáveis ​​de controle relevantes.

Nossos resultados apoiam uma associação forte e estável entre hiperglicemia e mortalidade por DCV no Brasil, que parece ser mais robusta em mulheres do que em homens.

A associação entre hiperglicemia e mortalidade por DCV pode durar até 10 anos e pode ser independente do acesso aos cuidados de saúde.

De fato, as mudanças na exposição da população à hiperglicemia levaram ao maior número de mortes entre 2005 e 2017 em homens e mulheres, enquanto a redução do tabagismo levou ao maior número de mortes evitadas ou adiadas.

As disparidades sexuais reiteram que o diabetes e a hiperglicemia são fatores de risco mais fortes para DCV em mulheres do que em homens.

Em conjunto, nossos achados fornecem evidências de que as estratégias para reduzir o tabagismo foram fundamentais para a redução da mortalidade por DCV observada no Brasil nas últimas décadas, enquanto há uma necessidade urgente de políticas que visem diminuir a hiperglicemia na população brasileira a fim de mitigar a carga de mortalidade por DCV.

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Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde
By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
twitter: @albertodiasf

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Misturar whey com leite reduz os seus benefícios ?

Muitas pessoas afirmam, ERRONEAMENTE, que misturar o Whey Protein (WP) com leite reduz os seus benefícios e que isso seria um desperdício de dinheiro. Normalmente, a justificativa dessa afirmação é: "você paga caro em um produto que é industrialmente separado do soro do leite e acaba misturando novamente...".

No entanto, os benefícios e o intuito do WP não tem NADA a ver com ele estar ou não estar acompanhado do leite. Tomar leite com WP, com água ou com qualquer outro líquido NÃO o torna mais ou menos benéfico à sua saúde. Trata-se apenas de um suplemento alimentar que é utilizado como complemento e com o intuito de FACILITAR a vida daqueles pacientes que não conseguem atingir a meta de proteínas diária através da alimentação.

O WP se torna uma opção interessante pelo fato de apresentar uma grande quantidade de proteínas em uma porção pequena de produto, além de ser transportado facilmente para qualquer lugar. Por exemplo, se você fosse ingerir 30g de proteínas através do leite líquido, teria de beber cerca de 1 litro de uma vez só, sem contar que a densidade calórica seria bem maior pela presença de maiores quantidades de lactose.

Então, se prescrito pelo Nutricionista, tome seu WP da forma que preferir! Eu mesmo acho que o sabor fica bem melhor com leite e ainda mais nutritivo (pelos nutrientes a mais presentes no leite).

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.