quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Feliz Natal e Boas festas


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

“Não ganho massa muscular ou estou com a libido bem baixa – posso repor testosterona?”

É crescente o número de mulheres em nossos consultórios se queixando da dificuldade em ganhar massa muscular ou com diminuição da libido e culpam a falta de testosterona por esses problemas.
Muitas vezes, chegam na consulta solicitando a dosagem da testosterona ou já com o resultado em mãos demonstrando nível baixo ou indetectável, e, nesses casos, querem discutir como será feita a reposição do hormônio (gel, implante subcutâneo ou injetável).
O que essas pacientes precisam saber é que vários fatores podem estar associados a essas queixas, como: genética, alimentação, atividade física, sono, medicações, doenças associadas, estresse…
Além disso, o método atual de dosagem de testosterona é destinado para homens, pois eles possuem níveis 3-10x maiores que o das mulheres. Por isso, em mulheres, a testosterona baixa não é confiável e só é recomendada a sua dosagem em casos suspeitos de excesso desse hormônio (exemplo Síndrome dos Ovários Policísticos – SOP).
Devemos alertar que reposição de testosterona pode acarretar sérios riscos à saúde (irreversíveis ou não): acne; excesso de pelos (hirsurtismo); queda de cabelo; engrossamento da voz; aumento do clitóris; dislipidemia; aumento da gordura visceral; aumento do risco de hipertensão arterial, diabetes e câncer (mama e endométrio).
Os consensos das sociedades Americana e Europeia de endocrinologia se posicionam contrários à dosagem rotineira de testosterona em mulheres e contra-indicam o uso de testosterona com finalidades estéticas.
Por isso, não arrisque sua saúde com tratamentos não aprovados e comprometedores. A avaliação do endocrinologista é importante na busca de patologias que possam estar agravando suas queixas, assim como orientar para uma qualidade de vida adequada.
Autora: Dra. Taciana Borges, Endocrinologista, CRM 16820

Fonte: http://endocrinologiape.com.br/?p=3602

Cirurgia metabólica para diabetes: saiba o que a SBEM tem a dizer sobre o assunto

Há alguns dias a cirurgia metabólica para tratamento do diabetes, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, vem sendo comentada na imprensa. A SBEM e a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) participaram de vários debates com o Conselho Federal de Medicina e reforçam a necessidade de cautela.

Leia na íntegra o comunicado enviado para imprensa assinado pelo Dr. Alexandre Hohl Vice-presidente da SBEM Nacional.


Nota para Imprensa

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, junto de outras Sociedades médicas de cirurgia, participaram durante mais de um ano de discussões na câmara técnica do Conselho Federal de Medicina, em Brasília.

O assunto era a Cirurgia Metabólica em paciente com Diabetes mellitus e Índice de Massa Corpórea entre 30 e 35. A SBEM não é contrária a cirurgia, e acredita que existem pacientes que podem ser beneficiados com ela.

Porém, ainda há poucos estudos científicos com pacientes exatamente dentro desse IMC, acompanhados por muito tempo.

Isso levanta várias questões científicas e clínicas a respeito da indicação de cirurgia e o acompanhamento dos casos, especialmente o que fazer 5 ou 10 anos após o procedimento caso o resultado seja negativo.

 Está claro que a indicação dessa cirurgia só poderia ser feita por um médico endocrinologista, que é o único especialista com conhecimento suficiente para tentar responder as perguntas que os trabalhos científicos ainda não responderam de maneira clara e precisa.

A cirurgia nunca deve ser indicada por um cirurgião que não tem conhecimento clínico na área do Diabetes Mellitus e só deveria ser realizada por cirurgiões muito experientes em cirurgia Bariátrica.

Outro ponto importante é que, tanto a cirurgia bariátrica quanto a cirurgia Metabólica não retiram a necessidade de dieta e atividade física como tratamento.

Todo paciente precisa ser muito bem informado disto, pois se ele não adere ao tratamento clínico (não toma os medicamentos corretamente, não cuida da alimentação e não faz exercícios físicos), fazer uma cirurgia Metabólica simplesmente não resolverá a situação.

Além dessas questões científicas e clínicas, os custos também precisam ser discutidos. Faltam remédios no Sistema Único de Saúde para tratar Diabetes mellitus. Essa cirurgia será paga pelo SUS?

A SBEM acredita que é preciso ter medicamentos orais, injetáveis e insulinas de qualidade na rede pública de tratamento antes de ter cirurgia Metabólica no SUS.

Isso, porque a maior parte dos pacientes com diabetes não terá indicação dessa cirurgia, mas precisará de remédios e insumos para tratar a doença.

Dr. Alexandre Hohl 
Vice-presidente da SBEM Nacional
Presidente da Comissão Científica da SBEM


Fonte: http://www.sbemsp.org.br/para-o-publico/noticias/148-cirurgia-metabolica-para-diabetes-saiba-o-que-a-sbem-tem-a-dizer-sobre-o-assunto

Uso de 'chip' hormonal para ficar em forma preocupa médicos

Um "chip" promete dar um empurrãozinho na busca pelo corpo em forma e definido. Os implantes de gestrinona –hormônio sintético feminino– vêm ganhando adeptas "fit" e preocupando associações médicas pelo uso hormonal para questões estéticas.

O implante em questão tem, como função inicial, a contracepção e até mesmo a interrupção da menstruação. O "chip" de gestrinona, entretanto, acabou ganhando uma função a mais, que o levou inclusive a ficar popularmente conhecido como "chip da beleza".

O potencial do dispositivo no ganho de massa muscular e na eliminação de celulite foram responsáveis pela fama do "chip".

Por cinco anos, Jéssica Brum, 29, foi fisiculturista, até que decidiu abandonar a atividade por questões de saúde. "Eu tive quase tudo. Já desmaiei, já fiquei com taquicardia, tive muita espinha, aumento de pelos e ficava muito irritada", diz, ao citar o resultado do uso de anabolizantes.

"Quando parei de competir, fiquei mais dois anos 'trincada'. No primeiro ano de curso na faculdade eu já aumentei o peso e o corpo não ficou mais definido", conta Brum, agora estudante de nutrição.

Após exames e liberação médica, Brum optou pelo implante para manter o corpo mais bombado e também para "atender" a cobrança das redes sociais. "Depois que parei as competições perdi muitos seguidores", diz. "As pessoas queriam saber o motivo de não estar mais definida, de não postar mais fotos de biquíni."

Brum afirma ter também uma motivação profissional. Segundo ela, quando se tornar uma nutricionista, "as pessoas vão julgar [seu trabalho] pela imagem postada nas redes sociais".

Para a jornalista e atriz Deborah Albuquerque, 32, a mãozinha nos treinamentos também pesou na decisão de aderir ao "chip da beleza", mas a contracepção e níveis hormonais baixos foram as questões centrais. Após a realização de exames, a jornalista ganhou seu "chip" na última quarta (1º).

"Eu não vivo do meu corpo", diz, ressaltando não ser uma modelo fitness. "Sou muito mais focada em como vou entrar para a novela do que ver como vai ficar meu abdômen."

CUIDADOS

Segundo Dolores Pardini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), contudo, para a maioria das mulheres, a questão da contracepção não é levada em conta quando o assunto é o "chip da beleza"; a busca é por massa muscular.

"Nós não somos contra o implante de gestrinona em si. O problema ocorre quando a indicação não é bem realizada, feita em academias. Eu já tive pacientes que o professor da academia falou para colocar", afirma Pardini, vice presidente do departamento de endocrinologia feminina e andrologia da Sbem.

A especialista afirma que para a colocação de um implante como o de gestrinona são necessários orientação médica e exames para verificar o estado de saúde.

Há contraindicação, por exemplo, para pessoas obesas, com hipertensão e tendência à acne.

Além disso, entre os possíveis efeitos colaterais do implante estão aumento de pelos, acne e do colesterol, além de queda de cabelo.

"Hoje precisamos primeiro falar dos riscos para o paciente, para ele não achar que só há benefícios em alguma prática", afirma César Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), que diz que inicialmente a gestrinona era usada para o tratamento da endometriose –de forma geral, doença na qual o endométrio se encontra fora do útero.

Segundo José Maria Soares, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a pressão por estética é perigosa para a sociedade. "Imagina uma paciente que faz algo em busca de um corpo mais firme e acaba perdendo cabelo."

Além da falta de regulamentação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o nome do produto é outro ponto que incomoda o presidente da Febrasgo.

"É muito sedutor. A palavra 'chip', sendo que não é um 'chip' mesmo, dá um tom de modernidade e a beleza é uma busca das pessoas hoje", afirma.

A falta de controle de doses e dos hormônios usados preocupa os ginecologistas Soares e Rodrigo Bonassi, da Febrasgo.

Fernandes afirma que a indicação de um implante hormonal manipulado não é algo proibido ou negativo. Contudo, diz que o ginecologista deve deixar claro para a paciente a motivação para a decisão e o motivo de não indicar métodos mais consagrados e respaldados pela literatura científica, como pílula, DIU (Dispositivo Intrauterino) e até mesmo o outro implante hormonal disponível no mercado, à base de etonogestrel.

"É algo muito inseguro para validarmos e aceitarmos como uma prática que possa ser usado por todas as mulheres", afirma Fernandes.

Como funciona o "chip da beleza"
Implante subcutâneo libera hormônios periodicamente

EFEITOS
- Contracepção
- Interrupção da menstruação
- Aumento da libido
- Tratamento da endometriose
- Aumento de massa muscular

POSSÍVEIS EFEITOS ADVERSOS
- Aumento de oleosidade
- Acne
- Aumento de pelos
- Queda de cabelo

CONTRAINDICADO PARA PESSOAS COM
- Doenças cardíacas
- Problemas com colesterol
- Diabetes


Fonte: https://www.febrasgo.org.br/noticias/item/244-uso-de-chip-hormonal-para-ficar-em-forma-preocupa-medicos

domingo, 10 de dezembro de 2017

Excesso de sal prejudica a flora intestinal, mostra estudo

Os malefícios do consumo excessivo de sal, principalmente o surgimento de problemas cardíacos, são atestados pela ciência. Uma equipe de pesquisadores da Alemanha decidiu investigar os efeitos da substância com outro foco: a flora intestinal. Em experimentos com ratos, identificaram que uma dieta rica em sódio não só reduz a quantidade de bactérias na microbiota, como propicia o surgimento de doença inflamatória e cardiovascular. Os achados foram publicados na última edição da revista britânica Nature.

 “Uma vez que todos comemos sal todos os dias, em cada refeição, ficamos surpresos com o fato de que ninguém ainda havia feito essa pergunta simples: o sal pode afetar os micróbios intestinais, já que ele atinge o intestino?”, conta ao Correio Dominik Muller, autor principal do estudo e pesquisador do Centro Max-Delbrück de Medicina Molecular. Para esclarecer essa dúvida, Muller e sua equipe compararam amostras fecais de ratos alimentados com uma dieta com quantidade normal de sódio e de roedores que seguiram um regime com alto teor de sódio.
Os investigadores colheram e analisaram as amostras das cobaias diariamente, durante três semanas. A partir do 14º dia, descobriram redução significativa de espécies microbianas na flora de roedores alimentados com sal em excesso. Por meio de técnicas de sequenciamento de DNA e análises computacionais, identificaram as bactérias Lactobacillus murinus, do gênero Lactobacillus, como o grupo mais atingido. “Como esse grupo de bactérias também é conhecido por afetar o sistema imunológico, resolvemos nos aprofundar nele e desvendar os detalhes envolvidos em sua redução”, relata Muller.

Em uma nova etapa de testes com roedores, observou-se que a administração de Lactobacillus murinus reduziu a quantidade de células TH17, relacionadas à hipertensão, e impediu o agravamento de encefalomielite autoimune experimental, um modelo de inflamação do cérebro relacionada ao excesso de sal. “Curiosamente, descobrimos que o Lactobacillus atuou como um tipo de inibidor de TH17 em camundongos, algo que nos surpreendeu bastante”, ressalta o líder do estudo.

Na terceira fase da pesquisa, a equipe contou com a participação de um pequeno grupo de humanos nas intervenções. Dessa forma, os investigadores descobriram que o aumento da ingestão de sal reduziu a sobrevivência intestinal de múltiplas espécies de Lactobacillus, aumentou a quantidade de células TH17 e a pressão arterial.

Apesar de otimistas com os resultados, os cientistas acreditam que mais estudos com humanos são necessários a fim de comprovar a relação das bactérias Lactobacillus murinus com os problemas inflamatórios e cardiovascular. “Precisamos analisar um número maior de pacientes para confirmar essa suspeita, esse é um dos nossos planos. Realizaremos ensaios clínicos maiores, controlados com placebo, que analisarão o efeito de bactérias do gênero Lactobacillus sobre a pressão arterial e a polarização com as células TH17”, adianta Muller. “Essa função imunomoduladora pode ser interessante para tratar doenças inflamatórias, o que poderá trazer ganhos na área médica”, complementa.

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/excesso-de-sal-prejudica-flora-intestinal-mostra-estudo/

Álcool: até o consumo moderado aumenta o risco de câncer, de acordo com estudo

Sabemos que o tabagismo aumenta o risco de diversos tipos de câncer. Mas e o consumo de bebidas alcoólicas? De acordo com uma nova pesquisa publicada no periódico científico Journal of Clinical Oncology, até mesmo o consumo moderado do álcool eleva os riscos de câncer de esôfago e câncer de mama, entre as mulheres.

Falta de conhecimento

Especialistas da Sociedade de Clínica Oncológica Americana (ASCO, sigla em inglês) fizeram um questionário com cerca de 4.000 adultos sobre os fatores de risco para o câncer com os quais estavam familiarizados.

Aproximadamente uma em cada três pessoas identificaram o álcool como um possível causador da doença. “A mensagem sobre os efeitos do álcool é mais sutil. Não é como o cigarro, que nós dizemos ‘nunca fume’, e sim ‘beba menos se quiser reduzir os riscos de câncer‘”, disse Noelle LoConte, professora da Universidade de Wisconsin e principal autora da pesquisa, ao The New York Times.

Álcool e câncer

Além do questionários, os pesquisadores revisaram cerca de 120 estudos recentes sobre o assunto e concluíram que 5,5% dos casos de câncer recém-descobertos e 5,8% das mortes pela doença no mundo podem estar associados ao álcool.

Até mesmo aqueles que bebem socialmente, o equivalente ao consumo moderado do álcool (uma dose diária – uma lata de cerveja, por exemplo – para mulheres e duas para homens), tiveram um risco duas vezes maior do que aqueles que não o consomem nunca.

De fato, a revisão mostrou que o consumo alcoólico possui um papel causal em diversos casos de câncer de boca, esôfago, cordas vocais, fígado, cólon e, em mulheres, câncer de mama. Para elas, apenas uma dose de bebida alcoólica pode elevar o risco do câncer de mama. Os estudos mostraram que o álcool pode aumentar o risco nas fases pré e pós-menopausa em 5% e 9%, respectivamente.

Consumo pesado

Evidentemente, o  consumo pesado – definido como oito ou mais doses por semana para mulheres e 15 ou mais para homens, incluindo o beber pesado episódico, quando a pessoa bebe todas as doses em apenas um evento – oferece riscos muito maiores.

De acordo com os estudos, essas pessoas correm um risco cinco vezes maior de desenvolver câncer de boca e esôfago do que os que não bebem, quase três vezes maior de sofrer de câncer nas cordas vocais e na laringe, duas vezes maior de vir a desenvolver câncer de fígado, além de câncer de mama e colorretal.

“Quanto mais você bebe, maiores os riscos”, disse Clifford Hudis, chefe executivo da ASCO. “Quando você olha para esses dados, é clara a relação do álcool, é uma reação ‘dose-risco’ bastante linear.”

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/alcool-ate-o-consumo-moderado-aumenta-o-risco-de-cancer-de-acordo-com-estudo/

Ingestão diária de nozes e amendoim reduz em 21% as complicações do coração

Seguir uma dieta equilibrada é importante para manter a saúde do coração. E se ela englobar o consumo de nozes diversas e amendoim, pode se tornar ainda mais benéfica. Ao analisar dados de mais de 200 mil pessoas, pesquisadores dos Estados Unidos observaram que comer esses alimentos regularmente reduz as chances de surgimento de doença arterial coronariana e acidente vascular cerebral (AVC) em até 21%. Detalhes do trabalho foram divulgados recentemente na revista Journal of the American College of Cardiology.

Os investigadores destacam que estudos haviam demonstrado que o consumo frequente de nozes específicas, como as castanhas, está associado à redução de fatores de risco cardiovascular, incluindo a dislipidemia — elevação de colesterol no sangue —, o diabetes tipo 2 e a síndrome metabólica. Mas a ingestão variada desses frutos e a combinação deles com o amendoim ainda não haviam sido avaliadas.

“Portanto, nosso objetivo principal foi olhar com mais atenção para o consumo conjunto de vários tipos de nozes, como amêndoas, avelãs, pistache etc. Incluímos também o amendoim, que, na verdade, é uma leguminosa, mas tem ácidos graxos e nutrientes semelhantes às nozes”, explica ao Correio Marta Guasch-Ferre, pesquisadora do Departamento de Nutrição na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e uma das autoras do estudo.

Guasch-Ferre e colegas analisaram dados de 210 mil pessoas — homens e mulheres participantes de um grande projeto científico que tiveram dados diversos sobre saúde coletados ao longo de 32 anos por meio questionários aplicados a cada dois anos. No caso dessa pesquisa, foram usadas informações sobre histórico médico, estilo de vida e condição geral de saúde. No período estudado, os pesquisadores documentaram 14.300 casos de doenças cardiovasculares, incluindo 8.390 casos de doença doença arterial coronariana e 5.910 de AVC.

De uma forma geral, comer cinco porções semanais de nozes, amendoins e outros tipos de sementes foi vinculado a um risco 14% menor de surgimento de doenças cardiovasculares e 20% menor de se apresentar complicações fatais atribuídas ao endurecimento das artérias. Considerando apenas o consumo de nozes, observou-se que indivíduos que têm o hábito de comê-las ao menos uma vez por semana têm o risco 19% menor de sofrerem complicações cardíacas e 21% menor de ter doença arterial coronariana, quando comparados aos participantes que não comiam esse alimento. Já os participantes que comiam amendoim duas ou mais vezes por semana apresentaram o risco 13% menor de ter doenças cardiovasculares em geral e 15% menor, de doença arterial coronariana.

“As nozes são ricas em gorduras saudáveis (ácidos graxos insaturados), fibras, minerais, vitaminas e vários outros contatos bioativos, como antioxidantes, o que pode, em parte, explicar seus efeitos benéficos para a saúde cardiovascular, principalmente se consumidas em conjunto”, ressalta Guasch-Ferre. Os pesquisadores não encontraram evidências de associação entre o consumo total de nozes e o risco de AVC, mas ressaltam que, pelos dados, comer amendoim e nozes está inversamente associado ao risco de surgimento do derrame, ou seja, quanto maior a ingestão, menor as chances de surgimento do popular derrame.

Segundo a investigadora, alguns mecanismos que podem estar subjacentes às associações detectadas por ela e a equipe são vantagens conhecidas desses alimentos. “Sabemos que as nozes melhoram os lipídios no sangue, atenuam os processos inflamatórios e melhoram a tolerância à glicose e os traços relacionados ao diabetes. Todos esses são fatores de risco para doenças cardiovasculares”, lista.
Guasch-Ferre ressalta ainda que, apesar de as nozes serem um alimento denso em energia, não há evidências científicas que apoiem associações entre o consumo regular delas e o aumento de peso. “Na verdade, foram associadas com menor ganho de peso e menor risco de obesidade, provavelmente porque podem aumentar a saciedade e a plenitude, o que potencialmente pode reduzir o consumo de lanches insalubre”, complementa.

Segundo Fausto Stauffer, coordenador de Cardiologia do Santa Lúcia Norte, em Brasília, e diretor de pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia no DF (SBC-DF), a quantidade de nozes a ser consumida para uma dieta saudável varia de 28g a 30g. “Um mix de oleaginosas, consumidas pelo menos cinco vezes na semana”, detalha. “Apesar de ainda precisarmos saber mais sobre o tema, a Sociedade Americana de Cardiologia já recomenda o consumo dessas nozes desde 2013 como uma forma de prevenção de problemas cardíacos.”
O médico destaca que os resultados da pesquisa norte-americana reforçam os ganhos que podem ser proporcionados à saúde pelo consumo de nozes e amendoim. “A relação entre esses alimentos e doenças cardiovasculares nós já conhecíamos, mas esse trabalho utiliza três grandes avaliações para dar ainda mais validade a essa proteção. Vemos que a melhor maneira de consumir esses alimentos é como um mix, que englobe diversos tipos dessas oleaginosas. Esse estudo confirma o que pesquisas pequenas já defendiam e o que temos adotado também como recomendação dentro dos consultórios”, destaca

Outros hábitos

Para Stauffer, mais estudos sobre o tema são necessários, porque podem existir fatores, além do consumo de nozes e amendoim, que funcionem como protetivos. “Como analisamos pessoas que têm uma vida saudável, que se alimentam de forma nutritiva, pode ser que outros elementos desses hábitos estejam envolvidos nos resultados. Por isso é importante continuar tentando entender essa relação, esclarecer bem esse tema”, explica.
Apesar de não ter mostrado na pesquisa, Guasch-Ferre acredita que os maiores benefícios da ingestão de nozes e amendoim para a saúde cardiovascular são alcançados através de uma combinação de vários fatores ligados ao estilo de vida. “Por exemplo, seguir dietas com grandes quantidades de alimentos vegetais e redução de alimentos de origem animal e incluir a ingestão de diferentes tipos de nozes como uma substituição de outros alimentos pouco saudáveis, como a carne vermelha. Aliado a isso adotar a atividade física moderada, não fumar e ter um baixo consumo de álcool, dentre outros”, lista.
A investigadora ressalta que, por se tratar de um estudo observacional, baseado em respostas a questionários, a pesquisa não tinha a intenção de provar causas e efeitos entre os dois fatores. Ela e a equipe darão continuidade ao trabalho, dando foco, por exemplo, na análise genômica (ligada à expressão de genes) da relação entre esses alimentos e o efeito protetivo cardiovascular. “Queremos também investigar mais as diferenças entre a preparação das nozes e entender o efeito da manteiga de amendoim, que se mostra como um elemento positivo para saúde cardíaca”, adianta Guasch-Ferre.
Fatais

A doença cardíaca coronariana se caracteriza pelo acúmulo de placas nas artérias coronarianas, levando ao estreitamento delas e à consequente dificuldade de fluxo sanguíneo. Casos graves dessa complicação, também chamada de doença isquêmica do coração, podem levar ao infarto. O AVC, popularmente conhecido como derrame, se dá por bloqueio do fluxo sanguíneo ou hemorragia no tecido cerebral, sendo uma das principais causas de incapacidade no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/ingestao-diaria-de-nozes-e-amendoim-reduz-em-21-as-complicacoes-do-coracao/

Vitamina D pode prevenir a Artrite Reumatoide, mostra estudo

A artrite reumatoide é uma doença autoimune que causa inflamação crônica, geralmente nas articulações. Por atacar o próprio sistema imunológico, a sensibilidade do organismo à vitamina D, que possui efeitos anti-inflamatórios, pode cair. No entanto, a suplementação pode ajudar a prevenir a doença e possivelmente, em doses maiores, beneficiar quem já sofre dela, segundo um novo estudo publicado no periódico científico Journal of Autoimmunity.

O estudo

Pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, analisaram amostras de sangue e fluido das articulações de 15 pacientes, entre 40 e 85 anos, com artrite reumatoide. Esse é o primeiro estudo do gênero a utilizar células do sistema imune retiradas tanto do sangue quanto do líquido sinovial de pessoas com artrite.

“Diferente dos trabalhos anteriores, isolamos diferentes tipos de células do próprio local da inflamação para determinar se as células específicas do sistema imunológico tinham a mesma sensibilidade para a vitamina D”, explicou Martin Hewison, um dos autores do estudo.

Prevenção

Com base nos resultados, os cientistas concluíram que manter os níveis de vitamina D saudáveis pode ajudar a prevenir a artrite reumatoide, assim como outras doenças inflamatórias. No entanto, para quem já sofre da doença, é improvável que somente a suplementação ofereça algum benefício, pois as células imunes já não são mais sensíveis à vitamina.

Possível tratamento

Por outro lado, os pesquisadores acreditam que a vitamina pode ser reposta em doses maiores ou que a nova descoberta pode levar ao desenvolvimento de um novo tipo de tratamento, uma correção para a falta de sensibilidade à vitamina.

“Nossos achados foram inesperados, pois inicialmente achamos que as células das articulações inflamadas responderiam tão bem à vitamina D quanto as células do sangue”, disse Karim Raza, principal autor da pesquisa. “Dessa forma, doses mais altas da vitamina podem ser necessárias ou, quem sabe, um novo tratamento com foco na reação à vitamina pode ser a solução.”

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/vitamina-d-pode-prevenir-artrite-reumatoide-mostra-estudo/

POSICIONAMENTO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE DIETAS ISENTAS DE GLÚTEN PARA FINS DE EMAGRECIMENTO

Cereais são parte fundamental da alimentação do ser humano, sendo fonte importante de energia, proteínas, lipídeos, vitaminas, minerais e fibras. Dentre eles, três podem ser destacados, trigo, centeio e cevada, por possuírem um tipo especial de substância denominada glúten. Trata-se de um complexo proteico insolúvel formado especialmente na fase de hidratação das proteínas do cereal (gliadinas e gluteninas), necessária à obtenção das massas e de outras preparações culinárias.

Existem situações já bastante estudadas em que se deve orientar o paciente a retirar o glúten da alimentação. Dessas, a mais conhecida é a doença celíaca, quadro em que a mucosa intestinal sofre importante processo inflamatório quando exposta a essa proteína. Existem também os processos de sensibilidade ao glúten não celíaca e alergia ao trigo que também se beneficiam da exclusão desse complexo proteico.

Recentemente, em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, tem-se disseminado a ideia de que dietas sem glúten podem ser usadas para fins de emagrecimento. À parte de evidências científicas para essa prática, que não existem, é possível que a origem seja o fato de que, ao se retirar da alimentação os alimentos à base dos cereais que contém glúten (principalmente o trigo, que é muito utilizado no preparo de vários alimentos altamente prevalentes na alimentação habitual), a ingestão energética total seja reduzida.

Entretanto, é sabido que o planejamento alimentar para o paciente que precisa emagrecer não deve, em geral, conter restrições alimentares genéricas, mas sim ser individualmente planejado, respeitando-se aspectos pessoais, sociais e culturais. A eliminação pura e simples do glúten pode levar a prejuízo à saúde. E nesse caso em particular, a ausência de estudos comprovando a eficácia dessa prática, contraindica seu uso.

Sendo assim, a Associação Brasileira de Nutrologia posiciona-se CONTRÁRIA à utilização de dietas isentas de glúten para fins de emagrecimento e orienta a que a exclusão do glúten da alimentação seja realizada somente para os pacientes com enfermidades que justifiquem essa prática como forma de tratamento.

Fonte: http://abran.org.br/para-profissionais/posicionamento-oficial-da-associacao-brasileira-de-nutrologia-sobre-utilizacao-de-dietas-isentas-de-gluten-para-fins-de-emagrecimento/

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Uso de Testosterona por mulheres

Por Dra. Ruth Clapauch – A reposição de testosterona em mulheres, antigamente prescrita para tratar uma suposta “síndrome de deficiência androgênica”, deixou de ser realizada após inúmeros posicionamentos, recentemente reunidos em um consenso de diferentes sociedades médicas europeias e americanas [1]. Este documento estabelece que:

  • Os métodos de dosagem de testosterona disponíveis atualmente foram feitos para homens, que têm valores de testosterona 3 a 10 vezes superiores aos das mulheres. Esses métodos não conseguem dosar de forma confiável valores mais baixos, normais para as mulheres
  • Em situações em que haja uma base fisiopatológica para o baixo nível de testosterona, como em mulheres ooforectomizadas, por exemplo, não há sintomas ou sinais clínicos característicos que possam ser atribuídos à diminuição da testosterona, como cansaço, redução de massa muscular ou libido prejudicada em relação às demais mulheres.

No entanto, devido a seus efeitos estimuladores, a testosterona vem sendo usada em homens e mulheres em doses farmacológicas, elevando os níveis séricos nas mulheres para além de 100 ng/dL, acima da faixa de referência (estes, sim, dosáveis, pois se aproximam dos masculinos), apesar de não haver qualquer recomendação nem estudos conclusivos acerca de benefícios e riscos a longo prazo.

Os objetivos dessa prática não aprovada são:

  • Estéticos: aumento de massa muscular, com transformação de parte da gordura em músculos (efeito bem conhecido do doping atlético)
  • Energéticos: redução de cansaço, maior capacidade de fazer exercícios
  • Comportamentais: excitação, humor menos deprimido
  • Sexuais: aumento de libido.

Esse uso, porém, envolve diversos riscos. Em uma revisão recente incluindo 35 estudos randomizados com 5.035 mulheres [2] que usaram doses ligeiramente suprafisiológicas, observou-se redução significativa de HDL-colesterol e aumento de LDL-colesterol, acne e hirsutismo.
Com níveis maiores foram descritos queda de cabelos e engrossamento da voz, geralmente irreversíveis.

A testosterona sabidamente aumenta a gordura visceral em mulheres, o que está associado a maior resistência insulínica e risco aumentado de diabetes. Além disso, há aumento do hematócrito, risco de policitemia e maior viscosidade sérica, retenção de líquidos e elevação da pressão arterial.
Outra preocupação é que a testosterona se aromatiza em estrógenos, o que pode estimular receptores na mama e no endométrio e potencialmente aumentar o risco de proliferação e câncer.

É também importante mencionar o impacto da testosterona no fígado e a susceptibilidade que determinados indivíduos podem ter a tumores hepáticos.

Portanto, não há estudos que garantam a segurança do uso de testosterona em mulheres, e não há dose segura.

Referências bibliográficas

  • Wierman ME, Arlt W, Basson R et al. Androgen therapy in women: a reappraisal: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2014; 99(10):3489-510.
  • Elraiyah T, Sonbol MB, Wang Z et al. Clinical review: The benefits and harms of systemic testosterone therapy in postmenopausal women with normal adrenal function: a systematic review and meta-analysis. J Clin Endocrinol Metab. 2014; 99(10):3543-50.

Sobre o autor: Ruth Clapauch é PhD em Biociências pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre em Medicina (Endocrinologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Visitante da UERJ. Orientadora de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental (FISCLINEX) da UERJ, grau 7 da Capes. Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Endocrine Society. Presidente da Comissão de Educação Médica Continuada e Vice-Presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da SBEM.

Fonte: http://genmedicina.com.br/2017/03/27/uso-de-testosterona-em-mulheres-dra-ruth-clapauch/

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Revisão sistemática comprova não haver benefício da dieta cetogênica no combate ao câncer

Pesquisadores alemães apresentaram no último congresso europeu de nutrição (ESPEN, Holanda) uma revisão sistemática de 500 estudos clínicos sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer publicados entre 1980 e outubro de 2016. A conclusão é que em nenhum deles foi observada diminuição da progressão tumoral nem melhora na qualidade de vida dos pacientes submetidos a esse tipo de restrição alimentar. O tema também foi discutido no Fórum de Nutrição e Oncologia realizado na I Semana Brasileira da Oncologia, no Rio de Janeiro, em outubro.

“Em torno de 30% a 40% dos pacientes oncológicos que nos procuram no consultório querem a dieta cetogênica porque acreditam que ela vá curar o câncer”, revela a Dra. Georgia Silveira de Oliveira, nutricionista, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e coordenadora do Fórum. “É uma fantasia preocupante”, avalia. A especialista alerta que, além de nenhum impacto na sobrevida, a deficiência nutricional muitas vezes leva à perda de massa muscular em um curto período de tempo, o que compromete o tratamento da doença.

A dieta cetogênica foi documentada pela primeira vez em 1911. O interesse pelo seu uso ganhou força em 1990, quando houve resultados positivos no manejo de pacientes com um tipo de epilepsia intratável até então. Em 2005 e 2008, foram publicados os primeiros ensaios controlados e aleatorizados no campo da epilepsia e começaram a ser explorados os mecanismos, a eficácia, a segurança e as ações terapêuticas da dieta cetogênica para outras doenças, como o câncer.

Obstáculos na pesquisa

Entre os 500 trabalhos encontrados pelos alemães, há revisões sistemáticas e meta-análises, estudos controlados randomizados, estudos controlados não aleatorizados, estudos não controlados (monitoramento de processos, estudos não controlados antes e depois, séries de análises temporais), estudos observacionais, séries de casos e estudos de caso. Nenhum deles teve um projeto metodológico rigoroso, conforme os autores. A maioria avaliou apenas a viabilidade, a qualidade de vida e a adesão do paciente à dieta cetogênica isocalórica.

A própria adesão dos pacientes mostrou-se um grande problema: somente 37% dos pacientes que seguiram a dieta ou 20% de todos os pacientes incluídos nesses 500 ensaios conseguiram aderir às recomendações dietéticas durante todo o período de estudo. “Os trabalhos são limitados pelo tamanho da amostra e pela falta de homogeneidade do tipo, localização e estágio do câncer e, portanto, os resultados não podem ser comparados”, afirmam os investigadores.

Segundo os autores da revisão sistemática, a baixa taxa de aceitação da restrição alimentar pelos pacientes aponta para seus próprios efeitos negativos sobre a qualidade de vida, que muitas vezes podem ser erroneamente atribuídos às terapias convencionais ou à progressão do câncer.

Contramão das diretrizes

A Dra. Georgia ressalta que todas as modalidades de dieta isocalórica vão na contramão das diretrizes nutricionais para pacientes com câncer seguidas no mundo inteiro. As contraindicações são numerosas. Os efeitos colaterais sobre coração, fígado, rim, pâncreas e ossos devem ser avaliados cuidadosamente em paciente oncológicos com comorbidades ou em uso de medicamentos que possam sobrecarregar esses órgãos (por exemplo, regimes de cisplatina).

De acordo com a nutricionista, não há estudo em andamento no Brasil sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer. Nos Estados Unidos e na Europa, existem alguns. “O mecanismo é tão imaturo e tem se mostrado tão perigoso que inviabiliza um estudo bem desenhado, com grupo-controle, que seria o ideal em termos de evidência científica”, diz. “O paciente que faz esse tipo de dieta fica muito vulnerável, o que pode tornar o câncer mais oportunista e agravar os seus sintomas, inclusive a dor.”

Fonte:

http://sboc.org.br/noticias/item/1113-revisao-sistematica-comprova-nao-haver-beneficio-da-dieta-cetogenica-no-combate-ao-cancer

Gastrofísica - O que é e qual sua aplicabilidade ?




Ultimamente alguns profissionais da área da saúde, em especial nutrólogos e endocrinologistas estão sendo questionados por pacientes sobre conceitos de Gastrofísica.

Amada ou odiada, a gastronomia molecular tem sido um dos mais influentes movimentos alimentares da última década. Mas, como o conceito está um pouco gasto, uma nova abordagem científica (com um nome novo misturando comida e ciência) vem ganhando força: a Gastrofísica. 

O conceito de gastrofísica foi criado pelo professor de psicologia experimental da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Prof. Dr. Charles Spence, no seu livro “Gastrophysics: The New Science of Eating by Charles Spence“. 


No livro ele defende a teoria de que se sentir satisfeito após uma refeição tem muito mais a ver com a sua mente, do que com o que está no prato. A gastrofísica estuda os fatores que influenciam as escolhas alimentares. Não só por que gostamos de comer carne de gado e não insetos, mas também as razões que nos levam a pagar mais por um prato ou uma garrafa de vinho. 

Spence aponta que somos bem suscetíveis a fatores em nada relacionados ao sabor. A nossa percepção do sabor pode mudar de acordo com vários fatores. O aroma e a nossa total apreciação da comida são influenciados por todos os sentidos (sim, até mesmo pela audição), da mesma forma que o nosso humor e expectativas.

Spence e seus gastrofísicos contemporâneos, que trabalham em áreas que vão da psicologia, da neurociência e das ciências sensoriais ao marketing, à economia comportamental e ao design – não falam sobre o “gosto de” uma refeição. Em vez disso, dizem o “sabor de”, porque sabem que o gosto, que tecnicamente só acontece na língua, é uma parte insignificante do efeito global.

Grande parte dos achados de Spence e de seus colegas fazem sentido instintivo, como o que revela que a comida colocada no prato de forma bagunçada não terá o gosto tão bom como aquela organizada perfeitamente ou artisticamente. 

E que grande parte desse corpo de conhecimentos foi usado pela Grande Indústria para manipular os consumidores desde a década de 1930, quando os fabricantes da 7-Up já sabiam que quanto mais amarela a lata, mais cítrico o sabor da bebida.  Ou que quanto mais arredondado (o produto ou o seu logotipo) mais doce ou quanto mais pontudo mais amargo.

A luz ambiente, por exemplo, pode alterar o julgamento sobre o gosto do vinho. Talheres pesados fazem a comida parecer mais gostosa. A consequência direta é que, ao se manipular fatores assim, é possível levar alguém a achar que insetos são gostosos. 

E esse não é um exemplo fictício: a equipe de Spence está de fato trabalhando na percepção humana sobre o sabor dos artrópodes. No futuro, diante de um cenário em que animais como frangos e porcos seriam insuficientes, o consumo dos bichinhos nojentos pode ser necessário. “Há indícios de que precisaremos seguir rumo a uma dieta em que eles sejam importantes fontes de proteínas”, disse Spence ao site da Revista GOSTO, após voltar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde realizou uma série de jantares.

Uma das conclusões é que o ângulo de posicionamento da comida no prato pode levar os clientes a gostar mais dele e, consequentemente, pagar um valor maior.

No seu livro The Perfect Meal: The Multisensory Science of Food and Dining (ainda sem título em Português) lançado no ano passado, ele dá algumas dicas:

1. Quem janta sozinho come menos. A gente ingere 35% mais alimentos com a companhia de uma pessoa e 75% com três pessoas ou mais. A variedade também incentiva a comer demais. Uma bacia de M&Ms multicoloridos vai terminar mais rápido do que uma tigela com os mesmos doces, mas de uma cor só.

2. A cor é mais importante que o gosto. Num teste com enólogos, Spence serviu um vinho branco tingido de vermelho e colocou ambos – original e o alterado – para degustação. Resultado: a percepção sobre cada vinho mudou completamente, apesar de se tratar de exatamente a mesma bebida. Analisaram também a influência da cor do prato sobre o consumo de alimentos. Ocorre que pratos vermelhos são um meio de reduzir a ingestão de alimentos. O fato parece estar relacionado ao menor contraste entre a comida e o prato. Também foi demonstrado que a iluminação azul desencoraja excessos alimentares. Você pode argumentar que essas estratégias são semelhantes às que cobrem a sua comida com quantidades intragáveis ​​de sal. Quem quer um prato cheio de comida sem gosto?

3. Comida cara tem gosto melhor. Os gastrofísicos gostam do artifício e têm demonstrado que, se pagamos mais por um vinho, vamos achá-lo mais saboroso. O peso também implica qualidade. Se nos são dados talheres pesados, vamos gostar mais do alimento (por exemplo, um iogurte será percebido como sendo mais cremoso), pensaremos ser de qualidade superior e estaremos mais dispostos a pagar mais por ele. Mesmo o som ambiente em restaurantes pode elevar a conta: música clássica faz com que os comensais escolham as opções mais caras do menu, enquanto a música alta aumenta as vendas de refrigerantes.

4. Segure o prato nas mãos. Aqui vai uma curiosidade sobre seu cérebro: ele não faz uma distinção entre o peso do alimento e o da louça que você está usando na hora de comer. O que isso significa? Que ao segurar o prato em suas mãos, sua mente entende que a refeição que você está prestes a fazer é substancialmente mais pesada. Aí, ela assume, por conta própria, que você está consumindo uma quantidade maior de alimento – mesmo que a realidade não seja exatamente essa.

5. Concentre-se na comida. Algo já dito pelo pessoal que estuda Mindful eating (Download gratuito do meu Ebook sobre o temaMindful eating - Comer consciente). 
Quanto mais você se envolver com sua refeição, mais satisfeito fica. “Usar o tato, a visão, o olfato, o paladar e a audição na hora de comer faz com que você sinta menos fome com o passar das horas”, confirma Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. É que nosso cérebro só decide que está na hora de parar de comer depois que teve tempo de aproveitar todas essas sensações.

6. Chame a sobremesa de doce. A dica pode soar um pouco estranha, mas Spence jura que funciona. Não custa tentar: em vez de saborear aquele pedaço de torta de maçã, experimente apreciar a torta “doce” de maçã. Quando a sobremesa recebe a nomenclatura, sua mente acaba sentindo como se estivesse trapaceando na dieta e acionando aquele famoso sistema de recompensa.

7. Imagine-se comendo o que quiser. Só o ato de pensar em devorar aquele bolo de chocolate já é suficiente para matar a vontade. “Comer mentalmente é uma das melhores estratégias para evitar a compulsão”, conta Zilli. E a tática também tem um efeito positivo no longo prazo: quanto mais você visualizar o prato sendo devorado, menos vontade você sentirá de realmente consumi-lo.

8. Aperte o play. Ouvir música durante a refeição pode ajudá-la a comer com mais calma. “Mas isso só vale para canções tranquilas e suaves, como as clássicas, que relaxam o organismo”, diz o especialista. Então, enquanto estiver sentada à mesa, evite as faixas agitadas: elas estimulam uma mastigação mais rápida, o que aumenta a quantidade de alimentos que você acaba ingerindo em uma só sentada.

9. Filme ou programas tristes te fazem comer mais. O professor Brian Wansink da Cornell Brand and Food Lab é um dos gastrofísicos famosos. Assistindo a filmes tristes, sua equipe recentemente percebeu o drástico aumento do descontrole alimentar. Espectadores assistindo filmes tristes mastigam 55% mais pipoca do que aqueles que assistem Comédias. Da mesma forma, comer na frente da TV é uma má ideia, porque você simplesmente não percebe seu corpo lhe informar que está cheio.

10. Quem decide ganha. Se você costuma sentir que fez a escolha errada em um restaurante, então saiba que: quem escolhe primeiro tende a gostar mais da comida ou da bebida. Os que escolhem depois tendem instintivamente a rejeitar o que já foi escolhido (fenômeno psicológico chamado de “necessidade de unicidade”) e acabam optando por algo que normalmente não escolheriam.

Fontes:

  • https://www.theguardian.com/commentisfree/2015/jun/03/change-way-you-eat-gastrophysics-mealtimes
  • https://www.portalgosto.com.br/chales-spence-gastrofisica/
  • https://pogatec.com.br/5-dicas-da-gastrofisica-para-perder-peso/


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Alimentação Consciente, Mindful eating, Atenção plena

Muita gente tem mandado e-mail pedindo dicas de livros sobre Atenção plena, Comer Consciente, Mindful eating. Resolvi então elaborar um post com algumas dicas de livros. Além de informar que tenho um e-book sobre o tema, com várias técnicas de mindful eating.

Deixo sempre claro para meus pacientes de nutrição comportamental não é para todos e que infelizmente há pacientes que necessitam sim de restrição alimentar, por ter alguma doença de base. Porém é uma estratégia super válida, que tem se mostrado muito eficaz principalmente quando se visa restaurar uma relação de paz com a comida. É visível a redução da ansiedade e nível de estresse dos pacientes obesos que são submetidos a esse tipo de método.

Dicas de livros sobre Comer consciente
  • O peso das dietas - Dra. Sophie Deram
  • Mindful Eating - Filomena Nascimento 
  • Atenção Plena: Mindfulness - Mark Williams e Danny Penman
  • Armadilhas da Dieta - Judith S. Beck 
  • A Armadilha das Dietas - Jason Lillis 
  • Liberte-Se da Fome Emocional - Geneen Roth 
  • Você tem fome de quê ? Confiança e Viver com Leveza - Deepak Chopra
  • E Foram Magros e Felizes Para Sempre? - Elisabeth Wajnryt
  • Atenção Plena. Mindfulness - Padraig Omorain 
  • Mente Magra, Corpo Magro - Melinda Boyd 
  • Nutrição Comportamental - Marle Alvarenga e Manoela Figueiredo
  • Descobrindo o Prazer Além da Comida - Geneen Roth
  • Mulheres Comida e Deus - Geneen Roth


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Estudo PURE e sua polêmica

Essa semana foi publicado em um dos mais antigos e renomados periódicos médicos (The Lancet) dois estudos. Um deles bastante polêmico, visto que profissionais que defendem ingestão de gordura em grandes proporções, usaram o mesmo para justificar suas condutas. De forma sensacionalista, e mostrando ignorância plena sobre epidemiologia, tais profissionais saíram alastrando pelas redes sociais que o tal estudo correlacionava ingestão de carboidrato com aumento da mortalidade cardiovascular e por outras causas.

Mas no mundo científico temos bons profissionais e pessoas que realmente sabem interpretar dados epidemiológicos. Vários colegas então prepararam posts sobre o tema e destrinchando o artigo. Mostrando para as pessoas que nada do que foi publicado é novidade. E o melhor, mostrando para seus leitores que esse tipo de profissional que demoniza um macronutriente em detrimento de outro na verdade está agindo de má fé aos olhos da ciência. Querendo mostrar que a dieta que ele aplica é superior as outras.

Então vamos às várias postagens. Ao final dos posts há o link para os dois estudos.

VISÃO 1: Dr. Guilherme Artioli - Professor, Doutor, pela USP. Pesquisador na área de nutrição esportiva.

Parece que esse estudo já está sendo distorcido para justificar algumas ideias e condutas... Publicado ontem, foram analisados ~135 mil adultos de 35-70 anos, de 18 países em 5 continentes, acompanhados por até 9 anos, totalizando ~5800 mortes e ~4800 eventos cardiovasculares. Algumas considerações:

- consumo maior de carboidratos (e, portanto, menor de gordura) foi associado com mortalidade total (28% maior risco) e por causas não-cardiovasculares (36% maior risco);

- maior consumo de carboidratos (e, portanto, menor de gordura) não foi associado mortalidade cardiovascular, tampouco com menor risco de eventos cardiovasculares;

- essa associação ocorreu quando se compara o quinto da população que mais consome carboidrato com o quinto que menos consome carboidrato (77% vs. 45% do total de energia consumida). No 3º quintil (consumo médio de 60% de CHO), já não há mais risco aumentado;

- a figura abaixo mostra com clareza que o aumento do risco de mortalidade começa a partir dos 60% de carboidratos;

- esses dados não dão nenhum suporte a dietas low-carb ou very low-carb. Esses dados apoiam a ideia de que reduzir o consumo de CHO pode ser benéfico para aqueles que consumem MUITO carboidratos em sua dieta;

- o consumo de carboidrato na população deste estudo foi bastante alto – bem acima do que muitos outros estudos costumam mostrar. Isso pode explicar a associação entre CHO e mortalidade;

- embora o estudo não tenha diferenciado a fonte de carboidrato (alimentos integrais e fontes de fibras vs. açúcares e CHO refinado/industrializado), me parece prudente que, caso necessário, qualquer redução de CHO comece pela redução dos industrializados, dos açúcares e dos refinados (e não de frutas, e etc). De qualquer modo, o estudo é populacional, e não dá subsídios para recomendações individuais. Aconselhar-se com um profissional ainda é o melhor a fazer;

- a principal mensagem do estudo está no contraponto feito às atuais recomendações POPULACIONAIS para consumo de gordura e gordura saturada. O estudo não viu aumento de risco com consumo de gordura total acima de 30%, e de gordura saturada acima de 10%, além de ter encontrado redução de risco com consumo de mono- e poli-insaturadas. Tema esse que, por sinal, a Fabiana Benatti tinha acabo de discutir no nosso blog do Ciência informa.

Abraços,

Dr. Guilherme Artioli

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VISÃO 2: Dr. Mateus Severo - Médico, endocrinologista, Doutor em Endocrinologia pela Universidade Federal de Santa Maria. Pesquisador.

O que é melhor para saúde: gordura ou carboidrato?

Sem sombra de dúvida, o melhor é ter bom senso! O assunto é polêmico e novas evidências chegam  a cada dia. No entanto, a leitura da literatura científica deve ser criteriosa. Ler apenas o título ou o resumo de um artigo não melhora em nada a assistência ao paciente. Além disso, pode contribuir para propagação de desinformação e do terrorismo nutricional. Dito isto, vamos dar uma olhada no estudo PURE, publicado no periódico médico The Lancet, em agosto de 2017.

O estudo PURE avaliou o quanto a composição da nossa alimentação é responsável por desfechos adversos como morte ou problemas cardiovasculares. Para fazer isso, os pesquisadores selecionaram pessoas entre 35 e 70 anos de idade em 18 países (incluindo o Brasil) e aplicaram questionários para saber o que essa turma comia. Mais de 130 mil indivíduos foram acompanhados por cerca de 7 anos. Após as devidas análises, os pesquisadores perceberam que o maior consumo de carboidratos aumentou o risco de morte por qualquer causa em 28%. Já o maior consumo de gordura, independente do tipo, se associou com um risco 23% menor de morrer por qualquer causa. Nem carboidratos nem gorduras foram culpados por problemas cardiovasculares. A exceção foi que o risco de acidente vascular encefálico, popularmente conhecido como “isquemia” ou “AVC”, foi menor nos indivíduos com maior consumo de gordura saturada. Olhando superficialmente, comer um monte de gordura e pouco carboidrato seria a melhor opção para saúde. Será mesmo?

Primeiramente, é importante definir o que foi o “maior consumo” tanto de gordura quanto de carboidratos. No caso dos carboidratos, a ingestão associada a aumento no risco de morte foi de 67,7% do total de calorias. No caso das gorduras, a ingestão máxima foi de 35,3%. Em outras palavras, a ingestão de carboidratos deletéria estava acima do considerado apropriado para as diretrizes (45 a 65%) e a ingestão de gordura estava dentro do considerado apropriado (20 a 35%). Ou seja, o abuso na ingestão de carboidratos pode ser parte do problema.

Quando falamos de carboidratos, falamos de açúcar, pães, massas, mas também falamos de cereais integrais, frutas e vegetais. O problema é que o estudo não faz essa diferenciação! Será que o aumento da mortalidade no grupo que consumiu mais carboidratos foi por que as pessoas comeram mais arroz integral, ou será que foi por que beberam mais refrigerante? Essa é uma informação essencial que não foi reportada. Além disso, muitas das fontes de carboidratos refinados são produtos processados, que muitas vezes costumam também conter sódio e gordura trans em excesso, dois vilões conhecidos. No entanto, esta informação também não é disponibilizada pelo estudo.
Assim como as fontes de carboidratos não são adequadamente reportadas, as de gordura também não são. Ao contrário do que possa parecer, o estudo não avaliou apenas óleos vegetais, banha ou manteiga. Avaliou a composição da dieta como um todo. Alimentos que consumimos diariamente, mesmo quando preparados sem óleo/azeite/banha, possuem gordura naturalmente (carne, peixe, queijo, castanhas, cereais, iogurte…) ou adicionada (diversos alimentos processados). Em outras palavras, podemos ter duas dietas com a mesma quantidade de gorduras e carboidratos, muito diferentes uma da outra, uma saudável e outra nem tanto.

Aliás, sabemos que nossa alimentação varia dia após dia, semana após semana, ano após ano. O estudo aplicava o questionário alimentar em intervalos de 3 anos. Será mesmo que todo paciente manteve exatamente o mesmo padrão durante todo este período? Será que alguns pacientes não modificaram suas dietas, para um consumo menor de gorduras justamente por terem um risco maior de problemas de saúde? Será que as pessoas que consumiam mais gordura não se permitiam a isso por serem mais saudáveis? São questões que os próprios autores do trabalho reconhecem não ter conseguido responder.

Por fim, este estudo definitivamente não dá respaldo a dietas com restrições extremas de carboidratos ou abusivas em gorduras (very low carb e cetogênicas), já que os participantes não comeram menos de 42% de carboidratos, nem mais do que 38% de gordura.
Em resumo, gorduras não são as vilãs que se pregava em outros tempos, desde que consumidas dentro de um padrão alimentar e de atividade física equilibrado. Já o consumo abusivo de carboidratos, especialmente refinados ou vindos de alimentos altamente processados, pode sim trazer prejuízos à saúde. Ou seja, como dito antes, o melhor é optar pelo bom senso!

Fonte:
1- Associations of fats and carbohydrate intake with cardiovascular disease and mortality in 18 countries from five continents (PURE): a prospective cohort study. August, 2017. The Lancet.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
CREMERS 30.576 - RQE 22.991
www.facebook.com/drmateusendocrino

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VISÃO 3: Anne Karolina Paiva - Nutricionista clínica daqui de Goiânia

Sobre o novo assunto do momento: estudo do The Lancet. Já recebi inúmeros prints de posts de algumas pessoas que eu considero bem insanas... Eles estão comemorando algo que eu não consigo entender, visto que pelo jeito ninguém sabe ler estudo científico. Farei algumas considerações que achei importantes, por ora:

1- Quando ele fala em alto consumo de carboidrato, considera uma ingestão acima de 60% da energia diária vinda de carbo por dia. E não é novidade alguma saber que esse fato traz risco para a saúde, principalmente de indivíduos sedentários e daqueles que direcionam o seu consumo apenas para carboidratos simples. Então, me poupem. Ninguém precisa parar de comer farinha branca e nem pão francês. As pessoas precisam aprender sobre EQUILÍBRIO, MODERAÇÃO!

2- A partir desse estudo é possível criar hipóteses importantes para que outros estudos sejam feitos. E não pegar os achados dele como verdade incontestável e dizer que todo mundo que come carboidrato vai morrer antes que o resto. Não deixem ninguém vender dieta "low carb", "no carb", "paleo", "cetogênica" e outras como essas com o argumento desse estudo.

3- Inclusive os autores do mesmo estudo deixam bem claro que os resultados não oferecem suporte para dietas de baixíssimas concentrações de carboidratos, visto que eles são importantíssimos para a saúde.

4- Os achados de associação entre maior consumo de gorduras e menor risco cardiovascular ainda não é conclusivo. Até porque o que eles mostram como consumo maior de gorduras gira em torno de 35%, o que já era preconizado por alguns órgãos de saúde. O que foi visto é que não é uma boa ideia trocar o consumo de gorduras por carboidratos, por exemplo. Ou seja: é preciso equilíbrio entre todos os macronutrientes.

5- Vamos esperar um pouco mais para opinar sobre uma maior ingestão de gorduras saturadas (que eu acredito que, se mudar a recomendação, não vai ser para quantidades absurdas), até porque saber que gorduras mono e poliinsaturadas são ótimas para saúde não é novidade, né?

6- Pelo amor de Deus, vamos usar estudos importantes como esse para abrir a mente e não para vender charlatanismo e transtorno.

Anne Karolina Paiva

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VISÃO 4: Profissional da Educação física e Estudante de Medicina da UFRJ - Samir Khalil

O PURE, estudo que propôs avaliar a associação do consumo de #carboidratos e #lipídeos com as #doenças cardiovasculares e mortalidade sacudiu a área da #saúde e o mundo #fitness.
Farei apenas algumas observações aqui para Reflexão:

1) Mesmo com falhas e alguns equívocos, o estudo não é um ruim ao meu ver. Muito pior do que o estudo são as atitudes de certos profissionais que usaram desse #artigo com várias limitações de fácil percepção para justificar medidas nutricionais radicais que não são sustentadas por estudos de maior evidência, como estudos que utilizam modelos clínicos e revisões sistemáticas com meta-analise.

2) O estudo, mesmo não dizendo forma direta, mostra por meio de seus dados algo comprovadamente conhecido: Ingestão exagerada carboidratos traz riscos. Mas como saber o que é exagero? O #exagero é melhor analisado de forma comparativa, ou seja, fazendo uma análise do tipo: Percentual de energia do VET oriundo do consumo de carboidratos de forma bruta x Percentual de energia do VET oriundo do consumo de carboidratos encontrados nas Evidências de maior peso. Logo, devemos confrontar o valor bruto com os valores da Evidência para melhor avaliar o exagero e não apenas restringir a análise ao valor bruto em comparação aos outros #macronutrientes. Se comparar de modo "mais adequado", como o proposto, irá observar que o consumo elevado de #carbo, 77% da energia do VET, retrata um aumento de quase 50% em relação à maioria dos protocolos dietéticos, os quais preconizam valores entre 50 e 55% da energia do VET. Ou seja, um exagero em relação à Evidência e não um exagero cego como muitos analisam de forma equivocada.

3) O estudo não discriminou as fontes de carboidratos consumidas e sabemos que o consumo de carboidratos #refinados e muito processados aumentam o risco #cardiovascular. Assim, como o consumo de #industrializados é grande mundialmente, perdemos a precisão para essa análise.

4) Consumir 30 a 35% de gorduras não é sinônimo de alta Ingestão de #gorduras, inclusive está dentro de padrões bem aceitáveis.

Baseando nos dados e não em sua conclusão, esse artigo suporta melhor a ideia do #equilíbrio nutricional do que a do #radicalismo.

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VISÃO 5: Dr. Gustavo Duarte Pimental - Nutricionista e Doutor em Nutrição. Professor da Universidade Federal de Goiás. Pesquisador.

Um recente estudo publicado no The Lancet avaliou mais de 135 mil pessoas e mostrou que:

O MAIS ALTO consumo de carboidratos (77,2% das calorias totais provenientes dos carboidratos) foi associado com maior risco relativo de morte total quando comparado a BAIXA ingestão de carboidratos (46,6% das calorias totais provenientes dos carboidratos).

Meus comentários:

- Leiam o estudo inteiro antes de criticar!

- Veja que o risco foi aumentado apenas quando foi comparado os extremos de ingestão de carboidratos, ou seja, a mais baixa com a mais alta ingestão.

- Observe que consumir carboidratos na qtde de 45-55% (pode variar) não aumentará o seu risco de morte!

- É óbvio que a alta ingestão de carboidratos (principalmente dos refinados), tais como do açúcar que é adicionado nas preparações, doces, bombas de chocolate, etc aumentará sua chance de morte total ou por doença cardiovascular.

- Observe que em momento algum o estudo falou de low-carb.

- Sobre as gorduras, eu deixarei para falar em outro post!

Amanhã é o dia do nutricionista e sabe qual é a minha maior tristeza? Ver ex alunos e "profissionais" da área dizendo que comer qualquer qtde de carboidrato vai te matar.

- Parem de acreditar em "profissionais" que usam erroneamente as informações científicas, ou seja, parem de aplaudir aqueles que querem justificar o injustificável.

Fonte: Dehghan, et al. The Lancet. 2017.

http://www.thelancet.com/…/lan…/PIIS0140-6736(17)32252-3.pdf


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sozinho, exercício não emagrece, mas aumenta músculo e limita fome


Reportagem bem interessante publicada na folha de São Paulo. Corrobora com aquilo que ha anos falo para os meus pacientes obesos. Principalmente no SUS (ambulatório de Nutrologia que coordeno), onde muitos não possuem condição de pagar uma academia e acham que isso é fator limitante para o processo de emagrecimento.

Deixo claro que o efeito da atividade física é baixo na eliminação de gordura. PORÉM, ela tem um efeito quase medicamentoso promovendo:

  • Redução da pressão arterial
  • Aumento da taxa metabólica basal mesmo que pequeno
  • Aumento da massa magra
  • Aumento da densidade mineral óssea evitando osteoporose
  • Aumento da produção de beta-endorfinas com redução dos níveis de estresse e ansiedade
  • Melhora da produção de testosterona e GH
  • Redução dos níveis de cortisol
  • Melhora do sono
  • Redução do apetite (EM ALGUNS PACIENTES, pois outros referem o contrário)
  • Manutenção do peso eliminado

Smartphones sequestram a capacidade cognitiva



Ter um smartphone por perto reduz a capacidade cognitiva, mesmo quando o telefone está desligado, mostra uma nova pesquisa.

Uma equipe de pesquisadores liderada por Adrian Ward, PhD, professor-assistente da McCombs School of Business, da University of Texas, em Austin, realizou dois estudos nos quais cerca de 800 estudantes de graduação iniciaram uma tarefa cognitiva com seus smartphones colocados perto e à vista, perto e fora da visão ou em outra sala.

Os pesquisadores descobriram que a mera presença do smartphone afetou negativamente a capacidade cognitiva disponível, mesmo quando os participantes conseguiram manter a atenção, quando não estavam usando o celular e quando informaram não ter pensado no telefone. Estes efeitos cognitivos foram mais fortes nos participantes que disseram ter maior dependência do smartphone.
"Não que os participantes estivessem distraídos porque receberam notificações em seus celulares", disse o Dr. Ward em um comunicado à imprensa. "A simples presença do smartphone bastou para reduzir a capacidade cognitiva deles".

O estudo foi publicado on-line em 3 de abril no periódico Journal of the Association for Consumer Research.

Dreno cerebral

"A proliferação dos smartphones deu início a uma era de conectividade sem precedentes", escrevem os autores.

"À medida que as pessoas se voltam cada vez mais para as telas dos smartphones para gerenciar e melhorar a vida diária, devemos nos perguntar como a dependência desses dispositivos afeta a capacidade de pensar e de funcionar no mundo fora da tela", acrescentam os pesquisadores.

Eles também indicam que pesquisas anteriores se concentraram em como as interações dos consumidores com seus smartphones podem facilitar e interromper o desempenho fora da tela.
O presente estudo difere porque se concentra em uma "situação anteriormente inexplorada" (porém comum): quando os smartphones não estão sendo usados, mas estão meramente presentes.

Para investigar esta questão os pesquisadores realizaram dois experimentos relacionados.
No primeiro experimento testaram a "proposição de que a simples presença próprio smartphone reduz a capacidade cognitiva disponível, medida pelo desempenho em testes de capacidade de memória de trabalho (WMC, do inglês Working Memory Capacity) e inteligência fluida", ambas construções de domínio geral, que são restringidas pela disponibilidade dos recursos atencionais e pela disponibilidade momentânea destes recursos".

Os participantes (N = 520; média de idade de 21,1 anos; desvio-padrão de 2,4) foram distribuídos aleatoriamente para um dos três grupos, diferenciados pela localização do celular.

O grupo "da outra sala" deixou todos os pertences, incluindo os celulares, na entrada, antes de ir para a sala de testes. Os participantes do grupo "da mesa" deixaram a maior parte dos pertences na entrada, mas levaram os celulares para a sala de testes, onde foram instruídos a colocá-los virados para baixo em um local designado nas mesas que ocupavam.

Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" levaram todos os pertences para a sala de testes e mantiveram os celulares no bolso ou na bolsa.

Os participantes completaram duas tarefas destinadas a medir a capacidade cognitiva disponível: uma tarefa de operação automática (OSpan, do inglês Automatic Operation Span Task) e um subconjunto de 10 itens das matrizes progressivas padronizadas de Raven (RSPM, do inglês Raven's Standard Progressive Matrices).

Os participantes também fizeram um teste que exigia um cálculo matemático e um questionário sobre as próprias experiências no laboratório, e a opinião deles sobre a conexão entre os smartphones e o desempenho.

As comparações pareadas revelaram que os participantes do grupo "da outra sala" apresentaram melhor desempenho do que aqueles do grupo "da mesa" (P = 0,002). Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" não apresentaram resultados significativamente diferentes daqueles do grupo "da mesa" (P = 0,09) ou "da outra sala" (P = 0,11).

Uma análise de contrastes planejada revelou uma tendência linear significativa no sentido mesa → bolso ou bolsa → outra sala, e nenhuma tendência quadrada, "sugerindo que, à medida que a visibilidade do smartphone aumenta, a capacidade cognitiva disponível diminui", escrevem os autores.

Os pesquisadores realizaram uma análise unidirecional ANOVA das respostas dos participantes à pergunta "ao realizar as tarefas de hoje, com que frequência você pensou no seu celular?", e não encontraram relação entre a localização do celular e os pensamentos relacionados com ele (P = 0,43). Na verdade, a frequência modal de pensar no celular informada pelos próprios participantes em cada grupo foi "nenhuma".

Diminuição da capacidade cognitiva

No segundo experimento os pesquisadores investigaram os efeitos da visibilidade do smartphone em testes de capacidade de memória de trabalho (WMC) e uma medida comportamental de atenção sustentada com 275 alunos de graduação (média de idade de 21,3 anos, desvio-padrão de 2,6).
Os pesquisadores replicaram o projeto básico da primeira experiência, com várias exceções. Foram usadas as mesmas três localizações de celular e a experiência utilizou um modelo interparticipante de celular ligado ou desligado. Os participantes do grupo "da mesa" foram instruídos a colocar os próprios celulares virados para cima. Os participantes de todos os grupos foram instruídos a deixar os celulares "ligados" ou "desligados".

A seguir, os participantes fizeram duas medidas-chave dependentes: a tarefa OSpan e a tarefa fazer/não fazer dependendo da instrução, que serve como uma medida de atenção sustentada. Os participantes informavam então a dificuldade subjetiva de cada tarefa.

Os participantes também responderam a perguntas exploratórias sobre as próprias diferenças individuais de uso e conexão com seus smartphones.

Tal como na primeira experiência, as comparações pareadas revelaram que os participantes do grupo "da outra sala" tiveram um desempenho significativamente melhor na tarefa OSpan do que os do grupo "da mesa". Os participantes do grupo "do bolso ou da bolsa" não apresentaram resultados significativamente diferentes dos resultados dos outros dois grupos. A análise de contrastes planejada foi igualmente similar.

"Os efeitos nulos do poder e da interação poder vs localização sugerem que a diminuição do desempenho não está relacionada com as notificações recebidas (ou à possibilidade de receber notificações), descartando esta explicação alternativa dos efeitos encontrados no primeiro experimento", comentam os autores.

Os pesquisadores descobriram que as diferenças individuais na dependência dos smartphones moderaram o comprometimento cognitivo. Os participantes que dependiam mais dos próprios smartphones apresentaram pior desempenho do que aqueles menos dependentes, mas apenas quando mantiveram os celulares no bolso ou na bolsa ou na mesa.

"Ironicamente, quanto mais os consumidores dependem de seus smartphones, mais eles parecem sofrer com a presença dos aparelhos – ou, em uma leitura mais otimista, mais eles podem se beneficiar da ausência deles", observam os pesquisadores.

"Vemos uma tendência linear que sugere que, à medida que o smartphone se torna mais visível, a capacidade cognitiva disponível dos participantes diminui", disse Ward.

"Sua mente consciente não está pensando em seu smartphone, mas esse processo – o processo de se exigir não pensar em algo – usa alguns de seus recursos cognitivos limitados. É um dreno cerebral".
Implicações "assustadoras"

Comentando o estudo para o Medscape, Larry Rosen, PhD, professor emérito de psicologia, California State University, em Dominguez Hills, disse que o estudo foi "muito bem feito e bem executado, mas também um tanto assustador".

"Nosso grupo monitorou estudantes estudando. Quando eles estudam, eles mantêm o telefone ao lado deles. E a norma – mesmo que o trabalho seja realmente importante e que eles saibam que estamos observando – é estudarem apenas 10 em 15 minutos, que é a capacidade máxima de prestar atenção e não ter o impulso de checar o celular", informou.

"As pessoas checam seus celulares, mesmo que o aparelho não vibre ou não recebam notificações, o que é um produto da nossa imersão neste mundo de smartphones", disse Rosen, que é autor do livro The Distracted Mind – em português,  A Mente Distraída – (MIT Press, 2016).

"Sabemos que esse comportamento aumenta a ansiedade e também diminui o poder do cérebro, criando dificuldades de processar informações", disse ele, "o que faz muito sentido quando a informação que você deveria estar assimilando está sendo distraída pelo dispositivo. Como você pode lembrar ou processar algo em profundidade se o faz apenas por alguns minutos"?

Ele disse que o estudo tem implicações importantes para os médicos. "Você precisa estar ciente de que qualquer mensagem que esteja transmitindo aos seus pacientes provavelmente não está sendo ouvida claramente, porque provavelmente você não permite que eles usem o celular durante a consulta, então o cérebro deles está, em parte, ausente. Você pode pedir a eles que reflitam, mas o que eles estão realmente pensando é: "já faz tempo que eu não checo meu Snapchat ".

Além disso, os médicos devem respeitar o próprio comportamento neste quesito, e não checar mensagens no meio de uma consulta. Se necessário, você e o paciente podem fazer uma pequena pausa para olhar o celular".

Os pesquisadores sugerem várias tácticas para refrear "o dreno cerebral", observando que, à luz das descobertas, colocar o celular virado para baixo ou virado para cima e desligado "é provavelmente inócuo". Em vez disso, "nossos dados sugerem pelo menos uma solução simples: a separação" – sobretudo "os períodos de separação definidos e protegidos".

Os pesquisadores concluem que seu estudo "contribui para a crescente discussão entre consumidores e profissionais de marketing sobre a influência da tecnologia nos consumidores – e dos consumidores na tecnologia – em um mundo a cada dia mais conectado".

O subsídio desta pesquisa foi fornecido pelo Atkinson Behavioral Lab. Os autores informaram não possuir nenhum conflito de interesses relativo ao tema.

Journal of the Association for Consumer Research. Publicado on-line em 04 de abril de 2016. Artigo

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501437?src=soc_fb_170816_mscpmrk_portpost_5901437_smartphonescapacidadcognitiva#vp_1

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Um terço dos casos de demência pode ser prevenível com modificações de estilo de vida

Mais de um terço dos casos de demência no mundo pode ser evitável ​​ao abordar nove fatores de estilo de vida que modificam o risco individual, de acordo com os resultados de um novo artigo detalhado da The Lancet Commission on Dementia Prevention, Intervention and Care (Comissão sobre prevenção, intervenção e tratamento da demência do Lancet).

O trabalho, apresentado na Alzheimer's Association International Conference (AAIC) 2017 e publicado simultaneamente no periódico The Lancet, foi compilado por 24 especialistas internacionais no campo da demência, que revisaram a literatura disponível na área e realizaram uma nova meta-análise que incluiu alguns fatores de risco não considerados nas análises semelhantes feitas anteriormente.

Os pesquisadores descobriram que nove fatores de estilo de vida são responsáveis ​​por 35% do fardo da demência. Esses fatores são: não completar o ensino secundário no início da vida; hipertensão; obesidade e perda de audição na meia idade; e tabagismo, depressão, inatividade física, isolamento social e diabetes na vida adulta.

"Consideramos apenas fatores de risco para os quais havia dados suficientes para tirar conclusões significativas, então provavelmente estamos subestimando a importância do estilo de vida, mas certamente podemos dizer que ele proporciona uma grande contribuição", disse a primeira autora, a Dra. Gill Livingston, do University College London(Reino Unido).

O relatório de longo alcance também aborda as intervenções e estratégias de tratamento para os pacientes com demência e comprometimento cognitivo.


"Nós apresentamos recomendações simples para os médicos sobre o que eles podem fazer em termos de tratamento", disse a professora Gill. "Descrevemos os caminhos terapêuticos mais baseados em evidências".

Dez mensagens fundamentais do relatório:

  1. O número de pessoas com demência está aumentando em todo o mundo, embora a incidência em alguns países tenha diminuído.
  2. Seja ambicioso em termos de prevenção. As recomendações englobam tratamento ativo da hipertensão; melhorar a educação infantil, exercício, engajamento social; reduzir o tabagismo e tratar a perda auditiva, a depressão, o diabetes e a obesidade.
  3. Tratar os sintomas cognitivos. Para otimizar a cognição, as pessoas com doença de Alzheimer ou demência com corpos de Lewy devem receber inibidores da colinesterase em todas as etapas, ou memantina na demência grave. Os inibidores da colinesterase não são eficazes no comprometimento cognitivo leve.
  4. Individualizar o tratamento da demência. O bom tratamento da demência deve ser adaptado às necessidades, preferências e prioridades individuais e culturais únicas, e deve incorporar o suporte para os familiares que cuidam do paciente.
  5. Cuide dos familiares que cuidam dos pacientes. Os familiares estão em alto risco de depressão. Deve-se disponibilizar intervenções eficazes para reduzir o risco de depressão e tratar os sintomas.
  6. Planeje o futuro. Pessoas com demência e as famílias delas valorizam as discussões sobre o futuro e as decisões sobre possíveis advogados para tomar decisões. Os médicos devem considerar a capacidade de tomar diferentes tipos de decisões no momento do diagnóstico.
  7. Proteja as pessoas com demência. Esses pacientes precisam de proteção contra a auto-negligência, a vulnerabilidade (incluindo a exploração), a administração financeira, a condução de veículos ou o uso de armas. A avaliação e o gerenciamento dos riscos em todas as fases da doença são essenciais, mas devem ser ponderados em relação ao direito da pessoa à autonomia.
  8. Tratar os sintomas neuropsiquiátricos, como agitação, humor deprimido ou psicose. O tratamento geralmente deve ser psicológico, social e ambiental, com a terapia farmacológica reservada para os pacientes com sintomas mais graves.
  9. Considere o fim da vida. Um terço das pessoas mais velhas morre com demência, por isso é essencial que os profissionais que trabalham no tratamento de pessoas no fim da vida considerem se os pacientes têm demência – eles podem não conseguir tomar decisões sobre o próprio tratamento ou expressar as próprias necessidades e desejos.
  10. As intervenções tecnológicas têm o potencial de melhorar a assistência, mas não devem substituir o contato social.
Ênfase no estilo de vida

"Esta é uma estimativa mais precisa dos riscos de demência associados aos fatores de estilo de vida do que o que tínhamos anteriormente, e incluímos mais fatores de risco do que foram considerados anteriormente", disse a Dra. Gill ao Medscape.

Por exemplo, disse ela, "eles incluíram isolamento social e audição, que não eram cobertos antes, e também examinamos todo o período da vida – quando essas coisas fazem a diferença. Essas duas coisas são inovadoras. Também pudemos ver como esses fatores de risco interagem uns com os outros quando vários deles ocorrem juntos"

Os autores consideraram todas as meta-análises já disponíveis, e onde não havia nenhuma disponível eles fizeram sua própria meta-análise, observou a Dra. Gill.

"Não havia nenhuma meta-análise sobre a audição, então fizemos uma, e descobrimos que a perda auditiva dobrou o risco de demência de nove a 17 anos depois". A Dra. Gill disse que o novo relatório seria influente na elaboração de futuras políticas internacionais de saúde pública. 

"Nossos resultados mostram que nunca é cedo demais ou nunca é tarde demais para realizar modificações de estilo de vida que farão a diferença".

Frisando que cerca de 47 milhões de pessoas vivem com demência em nível mundial, e que este número será praticamente triplicado para 131 milhões até 2050 – com o número de casos aumentando mais nos países de baixa e média renda – Dra. Gill disse: "Precisamos agir agora para começar a diminuir esses números. Abordar esses fatores de estilo de vida agora poderia transformar a futura sociedade".



Devido à falta de dados, o estudo não incluiu fatores alimentares, uso de álcool, deficiência visual, poluição do ar ou sono. "Portanto, a contribuição do estilo de vida é provavelmente um pouco mais
do que 35%, mas estamos apenas falando do que as evidências mostraram", disse a Dra. Gill.

Para colocar os 35% em perspectiva, o gene ApoE4 é responsável por 7%, observa o relatório. "Dito isto, aqueles com o gene ApoE4 são conhecidos por terem um risco adicional significativamente aumentado e, portanto, essas pessoas em particular devem fazer tudo o que estiver ao alcance delas para modificar esses fatores, o que irá reduzir os riscos", disse a Dra. Gill.

Outra descoberta interessante do relatório é que ser fluente em mais de um idioma não pareceu alterar de forma independente o risco. "Observamos, quando colocamos todos os dados juntos, que ser bilíngue não foi protetor, embora as pessoas geralmente pensem que seja", afirmou a Dra. Gill. 
"Provavelmente é a educação que acompanha isso que explica os achados descritos anteriormente".
Comentando o novo relatório para o Medscape, Maria Carrillo, psicóloga e PhD, diretora científica da Alzheimer Association, o chamou de "o apanhado geral mais abrangente dos dados sobre prevenção, intervenção e cuidados já realizado".

"Este trabalho reuniu todas as informações sobre as quais ouvimos falar nos últimos anos, disse Maria. "É importante perceber que podemos fazer algo sobre o fardo do Alzheimer agora".
As descobertas sobre fatores de estilo de vida nos dão "uma esperança incrível", acrescentou. "O que precisamos fazer agora é estabelecer o formato da receita para a combinação dos nove itens que foram considerados relevantes, quais dessas descobertas são as mais acionáveis, e a seguir, fazer as recomendações de saúde pública e nos certificar de que elas alcancem os grupos que mais precisam delas – aqueles com menos recursos socioeconômicos".

Ela disse que a Lancet Commission contribuiu com novas informações importantes sobre fatores de risco individuais. "Não tínhamos dados sólidos sobre a perda de audição antes, e eles confirmaram o risco do tabagismo – tem havido tanta discussão a esse respeito", observou. "Os pesquisadores também fazem uma recomendação global para o tratamento mais agressivo da hipertensão. Tudo isso é muito acionável ​​– obter um aparelho auditivo, parar de fumar, prestar mais atenção à pressão arterial".

Maria ressaltou que a elaboração da receita de recomendações de saúde pública mais específicas virá de novos estudos de intervenção iniciando atualmente em todo o mundo. Estes incluem o estudo randomizado FINGER US anunciado nesta semana, que está testando sistematicamente várias modificações de estilo de vida em uma grande população dos EUA.

Este estudo baseia-se no estudo anterior FINGER realizado na Finlândia, que mostrou que abordar vários fatores de risco simultaneamente pode ter benefícios cognitivos para as pessoas em risco de comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer.
Comparações com o relatório NAS

O relatório do Lancet vem apenas algumas semanas após o lançamento de um relatório norte-americano semelhante sobre o Alzheimer das US National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine (NAS), chamado "Preventing Cognitive Decline and Dementia: A Way Forward ".

Este relatório concluiu que "no momento, não há força suficiente de evidências para justificar o investimento em grande escala em atividades de saúde pública destinadas a prevenir a demência". No entanto, qualificou isso dizendo "alguns resultados podem ser vistos como potenciais benefícios adicionais para intervenções de saúde pública já identificadas". Estes são o melhor controle da pressão arterial para pessoas com hipertensão e o aumento da atividade física.

Então, por que a diferença nas recomendações dessas duas grandes revisões? Representantes dos dois grupos disseram ao Medscape que eles abordaram a questão de diferentes perspectivas, com o relatório do NAS se concentrando nas evidências de benefícios demonstrados em estudos de intervenção, enquanto o relatório do Lancet teve um foco mais amplo, e incluiu mais ênfase nos dados epidemiológicos.

O Dr. Lon Schneider, médico da Keck School of Medicine, da University of Southern California, em Los Angeles, e membro da equipe do The Lancet, disse: "nosso relatório foi provavelmente mais abrangente sobre as possibilidades de prevenção e, sim, provavelmente fomos mais agressivos em nossa interpretação sobre o que pode ser feito".

O Dr. Ron Petersen, médico da Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota, que fez parte do comitê do NAS, acrescentou: "estávamos mais focados nos estudos de intervenção, e demos maior importância aos ensaios clínicos randomizados e à própria doença de Alzheimer, enquanto este novo relatório do Lancetcolocou mais ênfase na prevenção com base em estudos epidemiológicos. Eles também adotaram uma visão mais ampla, abrangendo todas as deficiências cognitivas e demências – não apenas a doença de Alzheimer".

"As projeções deles são muito interessantes, mas são mais hipotéticas do que as nossas", acrescentou. "Não estamos em desacordo com eles, e recebemos este novo relatório de braços abertos – isto ajudará a impulsionar o financiamento de novas pesquisas e ações para enfrentar este enorme problema da deficiência cognitiva e da demência na população que envelhece em todo o mundo".
A The Lancet Commission fez parceria com University College London, Alzheimer's Society UK, Economic and Social Research Council e Alzheimer's Research UK. Essas organizações forneceram ajuda financeira e prática, mas não tiveram nenhum papel na redação do manuscrito.

Alzheimer's Association International Conference (AAIC) 2017. Resumos 19550, 19551, 19552 e 19553. Apresentado em 20 de julho de 2017.

Lancet. Publicado em 20 de julho de 2017. Resumo

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6501438?src=soc_fb_share#vp_2