sábado, 6 de agosto de 2016

O que um retiro de 10 dias em silêncio me ensinou - Por Luccas Pereira

Uma das experiências mais impactantes da minha vida. Relato completo de um retiro de meditação (vipassana) de 10 dias em silêncio, meditando cerca 10 horas por dia.
Atenção relato completo da experiência de realizar um vipassana. Não entramos em detalhes da técnica, já que esta só deve ser ensinada por um professor devidamente atribuído para tal. No final deste relato apontamos links de onde você pode encontrar tais locais devidamente preparados.
Réveillon, época de se esbanjar com comidas diferentes, estourar champanhe, fogos de artifício, pular 7 ondas e dar muita festa, correto?
E se eu te disser que existem pessoas que passaram em silêncio, sem ver nem ouvir fogos de artifício, sem vestir roupa branca e sem dizer feliz ano novo a meia noite do dia 31 de dezembro? Você vai dizer: loucos. Pois é, existiam 100 loucos lá. Foi dessa forma que eu e mais 99 pessoas passamos o réveillon dessa vez. 50 homens e 50 mulheres que decidiram sair completamente da sua zona de conforto e passar a virada do ano de uma forma bem diferente.
Vipassana é uma técnica de meditação redescoberta por Buda (Gotama) há mais de 2.500 anos. Significa “ver as coisas como realmente são”, que busca erradicar o sofrimento humano por completo, trata-se de uma arte de viver.
Para aprender vipassana é necessário um curso completo de 10 dias! Sim, você dedicará 10 dias da sua vida, e, além disso, 10 dias em silêncio. O que é silêncio? É não falar absolutamente nada, e mais que isso, além da não fala oral, não pode se comunicar com gestos e nem olhares. Ou seja, você está cercado de pessoas a seu redor, mas não pode falar com elas. Isso é feito por diversos motivos que são explicados durante o curso, mas o principal é aquietar a mente. Se já é difícil se concentrar em silêncio, imagina no meio de uma tagarelice. Além disso em todos os templos do mundo, de todas as culturas, meditação e fala não combinam. Acredito que desde quando aprendemos a falar quando éramos crianças e por nossa vida toda, não ficamos 10 dias em silêncio, aliás, nem metade disso.
Preparação
A preparação para o retiro começa bem antes, 3 meses, faz a inscrição on-line e aguarda ser aceito. E acredite as vagas se esgotam no mesmo dia que as inscrições são abertas. Portanto para quem vai realizar o curso em dezembro, no mês de setembro você tem que planejar a sua vida para passar 10 dias sem telefone, internet e sem nenhuma conexão com o mundo. É preciso muito desapego. Fique tranquilo você pode informar um número de telefone do local do retiro para seus familiares, e caso aconteça algo urgente elas podem entrar em contato com o local do retiro e eles irão te informar.
Eu já tinha feito este curso anteriormente, também no réveillon. O curso tem o ano todo, porém no período de 26 de dezembro à 06 de janeiro é a única que conseguia ficar 10 dias fora, e é a data preferida das pessoas por conta de trabalho, a maioria das empresas param para recesso coletivo e por isso fica mais fácil para fazerem o curso. Também prefiro essa data pois no final do ano ficamos muito introspectivos, fazemos um balanço de nossa vida, o que conquistamos, e o que desejamos a frente.
Para mim nesta segunda vez, estava sendo mais difícil ainda. Agora minha esposa estava fazendo o curso pela primeira vez. Ficaríamos 10 dias nos vendo a distância, sem poder conversar ou aproximar-nos. Então é normal ficar preocupado, querer saber se o outro está bem ou não. Mais um apego para ser superado.
Estrutura do local
Fizemos o curso em um local chamado Dhamma Santi em Miguel Pereira – RJ. Existem centros espalhados no mundo todo. No Brasil também tem em outros locais. A estrutura física é excelente. Tudo limpo, organizado, bem construído, alimentação ovo lacto vegetariana com um cardápio muito equilibrado, quartos individuais ou coletivos e banheiros e vestuários masculinos e femininos e para a felicidade da minha esposa: com chuveiro quente! É de se surpreender toda essa estrutura, pois afinal estamos em uma serra, cercados por mata virgem.
Tudo funciona muito bem. Quem dera as empresas tivessem essa organização. Tudo é dividido por áreas e responsáveis. E acredite, tudo, absolutamente tudo, desde os 33 hectares do terreno até quem trabalha no local é realizado por meio de trabalho voluntário e doações! Ninguém, incluindo os professores ganham 1 centavo sequer. Eles estão lá por outra recompensa: ajudar outras pessoas assim como foram ajudados. Um aluno que conclui o curso pode servir (trabalhar) em outros cursos. Os estudantes ficam tão contentes com os resultados do curso e com o impacto causado em suas vidas, que desejam compartilhar, desejam que outros também tenham essa experiência, afinal como é dito no filme “Na natureza selvagem” (Into the wild) “a felicidade só é real quando compartilhada”.
Quem pode fazer
O curso pode ser feito por qualquer pessoa de qualquer idade (inclusive existem cursos para crianças), e já foi ministrado até em presídios com excelentes resultados, e que rendeu um documentário (link no final do texto), e claro que estejam bem de saúde e dispostas fisicamente, pois apesar de ser um curso de meditação é uma grande prova para o corpo, suportar 10 horas por dia meditando. É difícil para a coluna, pés, joelhos, etc. Mas engana-se quem acha que isso é só para os jovens, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas mais velhas, tanto homens quanto mulheres. E a maioria deles já tinha feito vários cursos. Isso é normal entre os estudantes, após concluir o curso conversei com vários e trocamos contatos, inúmeros estavam realizado o curso pela 4ª, 8ª, 10ª vez e assim vai.
A experiência
Posso confessar a vocês que não é fácil. E não é fácil pela primeira vez, não é fácil para quem faz pela segunda vez, e dizem que não é fácil para quem faz pela décima vez. Porém crescemos justamente nas dificuldades. Ao fazer um curso de vipassana você se supera a cada momento. Cada dia é diferente. Em alguns momentos sua meditação flui bem, em outros momentos você não consegue se concentrar, e às vezes você até pensa em ir embora! É preciso muita, muita determinação, isso é chamado de  Adhitthana – firme determinação. É falar para si mesmo: vou concluir não importa o que aconteça, seja a dor, tédio, calor, frio ou qualquer outra dificuldade. É falar para si mesmo a todo instante na meditação, não vou me levantar mesmo que minhas pernas doam. Esta mesma firme determinação que precisamos levar essa firme determinação para nossas vidas.
Nossa mente tenta arrumar diversas desculpas: ah estou com dor, está calor, fulano está se mexendo muito e está me atrapalhando, etc. É aí que superamos, é aí que nos mostramos forte e vencemos nossa mente.
Os alunos que já fizeram o curso uma vez ficam mais a frente, e os novos um pouco para trás. Isso é bom, pois servem de exemplo aos mais novos. Eu estava passando por alguns dias difíceis, de dor nas pernas, e quando olhava na fileira da frente tinha um senhor, aparentando cerca de 70 anos, e estava totalmente concentrado e imóvel. Ele chegava vagarosamente, andando cuidadosamente, se ajoelhava (cada um pode ficar na posição que preferir desde que mantenha a coluna ereta) e ficava imóvel por 30 minutos, 1 hora, 2 horas. Um exemplo! Ai eu pensava: E eu aqui reclamando. No final do curso fiz questão de conversar com ele, dizer que me inspirou muito nos momentos difíceis, mesmo sem saber seu nome, e nunca termos conversado, sua atitude me ajudou. E para minha surpresa descubro que ele estava no 26° curso! E com toda humildade disse: continua não sendo fácil.
Cada dia é uma nova experiência. As refeições e horários de meditação são avisados com o toque do sino. Nos primeiros dias, mal conseguia ouvir o sino, e tinha receio de perder a hora. Depois de alguns dias, o sino chegava a me incomodar de tão alto, parecia que estavam tocando na janela do meu quarto ou dentro do meu ouvido. Mas o volume sempre foi o mesmo, a diferença é que minha mente se tornou atenta a tudo. Percebi o quanto vivemos distraídos, e muitas vezes não percebemos as coisas que acontecem a nossa volta. Na sala de meditação, em total silêncio, é possível ouvir o engolir de saliva do seu colega ao lado. Você percebe sons que sempre estavam presentes, mas nunca conseguiu notar devido ao barulho externo, e devido ao barulho da sua mente.
Aprendemos humildade. Ficamos bravos quando a pessoa do nosso lado levanta e faz barulho e nos incomoda, mas em determinado momento precisamos ir ao banheiro e percebemos que por mais silenciosamente que levantemos, também vamos atrapalhar quem está do nosso lado.
Portanto ao realizar vipassana, além da maravilhosa técnica que você aprende você irá se conhecer mais, e aprender inúmeras outras coisas, que não cabe descrever aqui, afinal, para cada um é uma experiência diferente. Apenas vivendo você poderá comprovar.
Custo
Bom, a essa altura espero ter motivado você a conhecer esse curso. Espero ter colocado uma curiosidade em viver tudo isso. Comece a se planejar, não precisa de afobação, o curso tem o ano todo, programe-se com calma, o importante é ir. Então você deve estar se perguntando afinal quanto custa tudo isso, 10 dias de alimentação, hospedagem e curso. Aí vem a maior das surpresas. Lembra que te disse que todos que estão lá, incluindo os professores não são remunerados? Pois bem, o curso é pago com doações! Isso mesmo, você paga o quanto puder, sem limite mínimo nem máximo. Tem gente que doa pouco, tem gente que doa muito, tem gente que doa materiais, mantimentos, e tem gente que doa serviço. Cada um oferece o que pode! É isso que faz de tudo tão maravilhoso. E você deve pensar, ah mais isso não sobrevive. Pois bem é assim que esse local e inúmero outro vem fazendo e crescendo durante muitos e muitos anos. Provavelmente se eles cobrassem quantias absurdas ou estipulassem um preço não teriam sobrevivido por todo esse tempo.
A volta
Bom, claro que a volta ao “mundo real” é um pouco diferente. Ao sair à primeira coisa que estranhei foram os barulhos, carros, buzinas. Lá era tudo tão silencioso, ouvia os sons dos insetos, ouvia meu coração pulsando. Lá tudo funcionava bem, harmoniosamente, e aqui não é tudo assim. Temos nossos trabalhos, temos trânsito, etc. Como fica? É aí que entra a questão principal, técnica e prática devem caminhar juntas. Toda a filosofia do mundo não serve para  nada se não for aplicada. É no dia a dia que você vai se testar e ver os benefícios que o curso trouxe para a sua vida. Para mim demorou um tempo para tudo fazer sentido, não foi imediato. Quando terminei o primeiro curso não imaginava que voltaria tão rápido. Depois de um tempo que tudo fez sentido, e vi que precisava voltar e aprofundar na técnica.
Ao sairmos do Dhamma Santi pegamos um táxi e perguntamos para o motorista o que tinha acontecido no mundo nos últimos 10 dias. Afinal foram 10 dias desconectados, muita coisa deve ter acontecido, pensamos. E ele nos contou algumas coisas: “um acidente, aquela tragédia e outro escândalo”. Puxa, não mudou muita coisa. Ao ligar para a família, todos estavam bem e nada de muito diferente aconteceu. O que parecia um absurdo: 10 dias ausentes sem nenhum contato com o mundo externo, não foi tão absurdo assim.
Dê esse presente a você mesmo, permita-se viver uma experiência completamente diferente de tudo o que viveu até hoje. Ah, mas eu não tenho tempo, ah, mas eu não consigo ficar 10 dias sem falar, ah mais isso, ah mais aquilo… Vença as suas próprias objeções! Afinal para fazer vipassana, a superação começa muito antes da ida.
Que todos os seres sejam felizes!
Obs: Se você também já fez um curso de meditação vipassana conte a sua experiência nos comentários. Isso vai incentivar outras pessoas a participarem.
Links:
Site do local do retiro – Dhamma Santi
Datas do curso em Dhamma Santi (tem o ano todo, inscrições 3 meses antes dos cursos)

Fonte: http://desfruteavida.com.br/o-que-um-retiro-de-10-dias-em-silencio-me-ensinou/

quinta-feira, 28 de julho de 2016

A Nutrigenômica, a Nutrigenética e a Epigenética como meios para alcançar o potencial da nutrição, manter a saúde e prevenir doenças


A nutrição moderna centra-se na prevenção de doenças e manutenção da saúde. Entender como os diferentes meios de interação entre genes e dieta podem contribuir para alcançarmos este objetivo torna-se de fundamental importância. Este é um tema complexo, porém fascinante, sobre o qual ainda pouco conhecemos, mas que muito interesse tem despertado no mundo da Ciência.

As evidências sobre as interações entre genes e dieta são conhecidas pelos exemplos clássicos da intolerância à lactose e fenilcetonúria. No primeiro caso, foram descritas mutações no gene da lactase, uma enzima de secreção intestinal que catalisa a hidrólise da lactose em glicose e galactose. Estas alterações genéticas encontram-se associadas à incapacidade de digestão do leite e de seus derivados. No caso da fenilcetonúria, a deficiência genética da enzima fenilalanina-hidroxilase é responsável por debilidade mental e convulsões. Contudo, uma dieta pobre em fenilalanina pode diminuir os efeitos cerebrais da deficiência desta enzima. Entretanto, as possibilidades de interação aumentaram consideravelmente com os novos conceitos introduzidos, que precisam ser bem esclarecidos para um verdadeiro entendimento.

Vamos começar revendo o conceito de GENOMA: o conjunto de todas as moléculas de DNA de um determinado ser vivo. Nestas moléculas encontram-se os genes, que guardam as informações para a produção de todas as proteínas que caracterizam os seres.

Os primeiros relatórios do projeto de sequenciação do genoma humano foram publicados em 2001 nas revistas Nature e Science. Os trabalhos de pesquisa que eram até então realizados com apenas alguns genes ou proteínas, candidatos a estarem envolvidos em processos fisiológicos ou patológicos, passaram a avaliar dezenas de milhares de alvos, recorrendo a microchips ou a outras estratégias de análise de dados em larga escala. A relação entre nutrição, genética e genoma foram sendo cada vez mais evidenciadas.






A NUTRIGENÔMICA (ou Genômica Nutricional) surgiu neste contexto, estudando como alimentos, nutrientes e outros compostos bioativos ingeridos influenciam o genoma.

A Nutrigenômica pode ser subdivida em áreas específicas como PROTEÔMICA, METABOLÔMICA E TRANSCRIPTÔMICA, complementares entre si: alterações no RNA mensageiro (transcriptômica) e as proteínas correspondentes (proteômica) controlam o transporte de determinados nutrientes e metabólitos (metabolômica) no caminho bioquímico.

A capacidade das técnicas de Nutrigenômica para reunir informações detalhadas abriu novas possibilidades para explorar as sutis diferenças entre pessoas (que, a princípio, parecem muito semelhantes). Subgrupos dentro de uma população heterogênea podem responder de maneira diferente a uma intervenção dietética (como por exemplo, o consumo de um produto alimentício). Será possível no futuro identificar quais os grupos que se beneficiam (ou não) com o consumo de determinado produto.

Portanto, a Nutrigenômica permite estudar ao longo do tempo a influência da dieta na estrutura e expressão dos genes, favorecendo condições de saúde ou de doença.

Os estudiosos de Nutrigenômica têm que relacionar dados genéticos de indivíduos saudáveis ou doentes com a sua dieta para alcançarem as conclusões sobre as interferências da dieta na estrutura e expressão genética.

É importante entender bem a diferença entre Nutrigenômica e NUTRIGENÉTICA.

Não é difícil de se observar que os benefícios e malefícios da ingestão dos alimentos não são iguais para todo mundo. Ou seja, o grau de influência da dieta na saúde pode depender da constituição genética.  A própria escolha dos alimentos e o apetite certamente são influenciados pela constituição genética. Sabe-se, de fato, que as necessidades de alimentos, nutrientes e compostos bioativos variam de um indivíduo para o outro (particularmente devido aos molimorfirmos gênicos, principalmente os de nucleotídeo único – em inglês, single nucleotide polymorphism ou SNP, pronunciando-se snips) e influenciam o risco individual de doenças ao longo da vida.

A Nutrigenética estuda como a constituição genética de uma pessoa afeta sua resposta à dieta.

Vislumbra-se que os avanços tanto da Nutrigenômica como da Nutrigenética serão de fundamental importância para o estabelecimento de intervenções dietéticas personalizadas, com o objetivo de se reduzir o risco de doenças e promover a saúde.

As bases conceituais destas pesquisas, de acordo com Kaput e Rodriguez (Physiol Genomics 16: 166–177, 2004), podem ser assim resumidas:

1 – Os componentes da dieta comum atuam no genoma humano, direta ou indiretamente, alterando a expressão ou estrutura gênica.

2 – Sob certas circunstâncias, e em alguns indivíduos, a dieta pode ser um fator de risco sério para algumas doenças.

3 – Alguns genes regulados pela dieta (e suas variantes normais) provavelmente desempenham um papel no início, na incidência, na progressão e/ou na severidade de doenças crônicas.

4 – O grau pelo qual a dieta influencia o balanço entre os estados de saúde e a doença pode depender do componente genético individual.

5 – Intervenções dietéticas, baseadas no conhecimento do requerimento nutricional, do estado nutricional e do genótipo (isto é, nutrição individualizada), podem ser usadas para prevenir, atenuar ou curar doenças crônicas.

Temos ainda o conceito de EPIGENÉTICA a ser compreendido neste contexto. Definida como o estudo das mudanças na atividade do gene que não envolvam alterações na sequência do DNA, a Epigenética está recebendo cada vez mais atenção.

Fenômeno Epigenético: qualquer actividade reguladora de genes que não envolve mudanças na sequência do DNA (código genético) e que pode persistir por uma ou mais gerações.

A maioria das mudanças epigenéticas ocorrem em momentos específicos da vida de um ser humano, desde a fase intra-uterina, passando pelo desenvolvimento do recém-nascido, em seguida pela puberdade e na terceira idade. Envolvem modificações moleculares do DNA,  como a metilação do DNA e a acetilação de histonas (proteínas nas quais o DNA se enovela), e como tal, tem implicações no que se refere ao risco de doenças, tais como o câncer, obesidade e diabetes mellitus. Inclusive, a Epigenética teve início na década de 90 do século passado, quando foi observado que a metilação do gene de supressão tumoral p16 favorecia a ocorrência de determinados tumores e, tratando as moléculas de DNA com agentes desmetilantes, o gene voltava a ter a sua atividade de repressão tumoral.  Veja que modificar o epigenoma para prevenção de doenças é particularmente estimulante, pois as alterações epigenéticas são potencialmente reversíveis, ao contrário das mutações dos genes.

O termo “programação” (programming) foi cunhado para se referir às modificações permanentes na estrutura, fisiologia ou metabolismo de um órgão, favorecendo a manifestação de doenças ao longo da vida, devido a estímulos ou agravos durante um período crítico de desenvolvimento, como na vida intrauterina (fetal programming). Vários estudos estão em andamento, como o “Newborn Epigenetics Study” (NEST), um estudo prospectivo envolvendo mulheres e seus filhos, que está investigando como as diferenças no perfil epigenético global estão relacionadas a uma série de fatores, como a dieta materna e o uso de suplementos vitamínicos e minerais. Os dados iniciais deste estudo foram recentemente publicados no BMC Public Health (2011, 11:46).

A nutrição materna, tendo um papel essencial em relação à ocorrência de alterações epigenéticas que favorecem a ocorrência de doenças na fase adulta, merece toda a atenção: deve ser adequada em calorias, gorduras, proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais, seguindo-se as recomendações vigentes, para diminuição do risco de ocorrência de doenças no novo ser em formação.

Importante: certos fatores dietéticos podem afetar a estrutura do DNA (sem alterar a sequência dos genes), causando alterações epigenéticas que favorecem a ocorrência de doenças.

A compreensão do mecanismos nutrigenômicos, nutrigenéticos e epigenéticos são necessários para se compreender a variabilidade dos requerimentos nutricionais dos seres humanos e para se desenvolver biomarcadores eficazes, bem como para se determinar a disposição individual e a “programação” de um organismo para a ocorrência de determinadas doenças. Este conceito se aplica não somente aos estudos sobre dieta e alimentação, mas se estende às pesquisas da indústria farmacêutica.

No que se refere à indústria de alimentos, estes conhecimentos terão, sem dúvida, seu papel na alimentação personalizada, principalmente como um componente que colaborará para um padrão alimentar cada vez mais saudável. O desenvolvimento de alegações de saúde e nutrição (“claims”) para alimentos/suplementos passarão a ser direcionados a grupos específicos da população.

Em relação à nutrição personalizada, especificamente, embora a compreensão de como a nutrição afeta a expressão do gene seja importante (nutrigenômica), estamos apenas no começo da criação de um mapa detalhado da interação genes x dieta. Mesmo que a coleta de dados esteja se tornando mais fácil, ainda existem grandes desafios de como analisar e interpretar estes dados. A evolução tecnológica está acontecendo tão rapidamente que já se fala agora em análise dos genomas pessoais. Entretanto, ainda estamos há uma certa distância de compreensão da amplitude de impacto destas informações.

A integração da genômica (expressão), genética (predisposição) e epigenética (programação ou impressão) é uma “ciência emergente”, já que as ferramentas de análise do genoma ainda estão apenas começando a amadurecer, porém promissora, trazendo-nos enormes desafios.

Bibliografia consultada:

1- Nutrition Reviews. Vol. 68, Supplement 1, Pages S38–S47.

2 – Cancer Prev. Res. 2010, Vol. 3, pp. 1505-8

3 – Newborn Epigenetics STudy (NEST)

http://utmext01a.mdacc.tmc.edu/dept/prot/clinicaltrialswp.nsf/Index/2007-0845

4- BMC Public Health (2011, 11:46) http://www.biomedcentral.com/1471-2458/11/46

5 – Nutraingredients.com

Fonte: http://abran.org.br/para-publico/a-nutrigenomica-a-nutrigenetica-e-a-epigenetica-como-meios-para-alcancar-o-potencial-da-nutricao-manter-a-saude-e-prevenir-doencas/

terça-feira, 26 de julho de 2016

A Geração Testosterona - Sobre os perigos da Reposição Hormonal indiscriminada

Pareceres de Sociedades médicas contra Terapia de Modulação hormonal ou uso de "hormônios bioidênticos"

Você pode acreditar na conversa de médicos que tentam te convencer que o uso de terapias com implantes hormonais,  hormônios bioidênticos manipulados ou que a reposição hormonal para combater o envelhecimento são tratamentos seguros. Você é livre para acreditar no que quiser. Mas eu prefiro acreditar nos pareceres oficiais das organizações abaixo. 

 

ANVISA - Agencia Nacional de Vigilância Sanitária,  órgão federal ligado ao Ministério da Saúde. Não utiliza o termo "Hormônio Bioidêntico" em suas legislações de registro de medicamentos.







A Resolução 1999/2012, aprovada pelo plenário do CFM - Conselho Federal de Medicina, determina a proibição dos métodos para prevenir ou interromper o envelhecimento. A proibição se baseia em extensa revisão de estudos científicos que concluiu pela inexistência de evidências científicas que justifiquem e validem a prescrição destas práticas

Entre as diferentes técnicas para deter o envelhecimento, a principal crítica do CFM se detém sobre a reposição hormonal, pois, de acordo com o CFM, a adoção destes métodos não gerou, até o momento, resultados confirmados por estudos científicos em grandes grupos populacionais ou de longa duração. 





O uso de implantes hormonais para fins estéticos não é recomendado pelo 
CREMESP - Conselho Regional de Medicina de São Paulo, informa a endocrinologista Ieda Therezinha Verreschi, membro da entidade : "O conselho não apoia o uso de hormônio em implante para melhorar o aspecto físico. Esse tratamento só aumenta a musculatura, "desfeminiliza" e cria pelos. Fica um "monstrinho" a criatura. É quase que uma medicação para uma fantasia", diz. 




SBEM - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, tem posição semelhante. "Não existem, até o momento, estudos com rigor científico que confiram credibilidade à prática", afirma o Dr. Alexandre Hohl Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) - Gestão 2015/2016.






Nos Estados Unidos,  o FDA (Federal Drug Administration)não aprova o uso de implantes hormonais e considera o termo "hormônio bioidêntico"como um mero jargão de marketing sem valor médico ou científico algum.






Comitê da Sociedade Americana de Obstetras e Ginecologistas para a Prática de Ginecologia e o Comitê de Prática de Medicina Reprodutiva da Sociedade Americana,apresentam as seguintes conclusões e recomendações:
  • Faltam evidências para suportar as alegações sobre as vantagens dos hormônios bioidênticos manipulados sobre os hormônios convencionais nas terapias da menopausa.
  • Hormônios manipulados trazem riscos para a saúde. Essas preparações possuem pureza e potência variada e faltam dados sobre sua segurança e eficácia.
  • Devido a biodisponibilidade e bioatividade variáveis, tanto a sub-dosagem como a superdosagem são possíveis.
  • Com base nos dados disponíveis as terapias com hormônios convencionais são preferenciais às terapias com hormônios manipulados. 


Sociedade Norte Americana da Menopausa tem alertado as mulheres sobre os riscos potenciais com os hormônios manipulados utilizados nas terapias com hormônios. E suporta o parecer do FDA e de outras organizações científicas que não recomendam o uso dessas substâncias.




Praticamente TODOS OS CONSELHOS DE GESTÃO DE TODAS AS MODALIDADES DE ESPORTES impõem restrições duríssimas para atletas que são pegos utilizando hormônios para melhorar seu desempenho. 

TRH no esporte profissional é considerado dopping.  Raras exceções são tratadas caso a caso, e somente se for comprovada a necessidade clínica do hormônio para tratamento de doenças que o atleta possua.



Os planos de saúde não dão cobertura  para as terapias com hormônios para fins estéticos ou para tratamentos anti-envelhecimentos.  

Os planos de saúde restringem sistematicamente estes tratamentos.  Um exemplo é a AETNA,  uma das maiores operadoras de planos de saúde americana.   Nas suas políticas está descrito:  "Foram demonstradas que as formulações de estradiol em implantes hormonais produzem concentrações variáveis e imprevisíveis de estrogênio, e não são aprovadas pelo FDA".

Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante,
mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso.

Bertold Brecht


Há muita informação na internet com supostos "estudos" que apenas listam referências sem contudo apresentar os links ou incluir os documentos. Ou que apresentam pareceres de organizações desconhecidas e sem credibilidade alguma. 

Nós colocamos à sua disposição as nossas fontes diretas de referência, em formato PDF, para quem quiser olhar, imprimir e analisar.

Agora cabe a você acreditar nessas pesquisas sérias ou cair na conversa fiada dos  "negociantes de medicina" e suas clínicas luxuosas que tentam te convencer através de anúncios na TV, revistas de estética,  websites, facebook, youtube e tantas outras ferramentas de marketing que as suas terapias absurdas a base de hormônios são seguras.  


sábado, 16 de julho de 2016

ATENÇÃO: Nutrólogos ou endocrinologistas não prescrevem Anabolizantes para fins estéticos


Os riscos do uso não médico (Handelsman, 2006) de esteróides anabolizantes androgênicos (EAA) é um tema recorrente em artigos científicos, jornais e revistas especializadas. No momento está ganhando notoriedade na mídia pois alguns médicos "instituíram" por conta própria a prescrição para fins estéticos.

Esse consumo tem sido relacionado a homens e mulheres jovens de variadas camadas sociais e padrões econômicos, que buscam obter rapidamente a musculosidade (hipertrofia e definição muscular) e a melhora do desempenho físico (efeito ergogênico).

Indubitavelmente, com a forte demanda, a fiscalização frouxa e com altos lucros falando mais altos, médicos turbinam os resultados graças a uma roleta-russa química na qual se destaca o abuso dos EAA.


A insatisfação com a imagem corporal tem sido descrita como uma das causas do abuso de EAA, exercendo considerável influência na motivação de homens jovens, que buscam um ideal de musculosidade, tomando por base modelos de corpo masculino sugeridos pela mídia, particularmente em publicações especializadas. É claramente um transtorno psiquiátrico. Vemos uma ascensão dos transtornos alimentares (Bulimia, anorexia, transtorno da compulsão alimentar periódica, vigorexia, ortorexia). A crença de que corpo bonito é um corpo sarado ou bombado, na maioria das vezes irreais pelos métodos convencionais, ou seja, quase sempre "esculpido por EAA", acaba sendo gatilho para esses transtornos alimentares e uso de EAA (com seus efeitos adversos).

Os danos provocados pelo uso indiscriminado de EAA são apontados em vários estudos (Bispo et al., 2009; Samaha et al., 2008; McCabe et al., 2007; Graham et al., 2006;).

Complicações funcionais cardíacas e hepáticas, bem como diversos tipos de câncer que podem levar à morte estão entre os efeitos adversos mencionados com maior frequência, seguidos de alterações psíquicas e comportamentais de indivíduos que abusaram de doses de EAA, envolvendo, em alguns casos, episódios de agressão e violência interpessoal (Thiblin, Pärklo, 2002).



Portanto, sob esta ótica, o consumo de substâncias ergogênicas, seja no âmbito esportivo ou amador, não é recomendado, por não compensarem os danos que traz para os indivíduos saudáveis. O uso de EAA é reservados para casos específicos. A  indicação  mais  precisa  da  terapia com EAA é quando a função endócrina dos testículos está deficiente. As principais indicações são:
  1. Hipogonadismo
  2. Caquexia: seja por HIV, Câncer, Doença pulmonar obstrutiva crônica, Miastenia gravis, 
  3. Para o tratamento de anemias causadas pela produção deficiente de eritrócitos; anemia aplástica congênita, anemia aplástica adquirida, a mielofibrose e as anemias hipoplásticas;
  4. Insuficiência renal cursando com desnutrição, sarcopenia e caquexia
  5. Sarcopenia
  6. Angioedema hereditário
  7. Grandes queimados
  8. Puberdade tardia

De acordo com a portaria Nº 344 de 12 de maio de 1998(DOU de 1/2/99), atualizada  pela  resolução RDC  nº  18/2015 da  Agência Nacional de Vigilância Sanitária  - ANVISA,  os esteróides  anabolizantes  são os seguintes:



É importante salientar que NENHUM Nutrólogo, Endocrinologista, Médico do Esporte ou qualquer médico tem aval do Conselho Federal de Medicina e respectivas sociedades médicas para prescrever anabolizantes com finalidade estética ou efeito ergogênico. O uso deve ser reservado para doenças. Prescrição para outros fins não é ensinado nas residências ou pós-graduações de Nutrologia ou Endocrinologia. Portanto se o seu médico te prescreveu com essa finalidade, ele cometeu uma infração ética, podendo receber processo ético-profissional pelo Conselho Regional de Medicina.

#AnabolizantesSoParaDoentes
#AnabolizantesParaFinsEsteticos
#BombaTôFora

Vamos para as comprovações LEGAIS dessa proibição:
1) Antes de PROIBIÇÃO por parte do CFM, existe desde 2000 uma Lei federal na qual obriga as farmácias a reterem por 5 anos as receitas de anabolizantes. "A receita de que trata este artigo deverá conter a identificação do profissional, o número de registro no respectivo conselho profissional (CRM ou CRO), o número do Cadastro da Pessoa Física (CPF), o endereço e telefone profissionais, além do nome, do endereço do paciente e do número do Código Internacional de Doenças (CID), devendo a mesma ficar retida no estabelecimento farmacêutico por cinco anos." Portanto se necessita de CID, subentende-se perante a justiça que a finalidade não é estética e sim em decorrência de alguma doença. Link para a lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9965.htm

A lei é confirmada na Cartilha para prescrição, elaborada pelo CFM: http://portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/cartilhaprescrimed2012.pdf
Como nesse caso há uma quebra do sigilo médico (pois informará a doença do paciente através do número do CID 10) recomenda-se, embora seja dever legal, que o médico obtenha autorização por escrito do paciente para divulgar o diagnóstico.

2) Resolução CFM Nº 1.999/2012 que trata sobre a
 "A falta de evidências científicas de benefícios e os riscos e malefícios que trazem à saúde não permitem o uso de terapias hormonais com o objetivo de retardar, modular ou prevenir o processo de envelhecimento."
"CONSIDERANDO que é vedada ao médico a prescrição de medicamentos com indicação ainda
não aceita pela comunidade científica;"
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária realizada em 27 de setembro de
2012,
"RESOLVE:
Art. 1º A reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos essenciais se fará somente em caso de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínico, ou de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados."
Portanto, de acordo com o CFM, se não há déficit de um hormônio, com comprovação laboratorial e quadro clínico, esse hormônio não deve ser prescrito. Ou seja, finalidade estética é proibida pelo Conselho Federal de medicina. Link para a resolução: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1999_2012.pdf

3) Parecer do CFM sobre Modulação hormonal bioidêntica e fisiologia do envelhecimento. Link para o parecer: http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2012/29_2012.pdf

4) Parecer do CFM sobre Prescrição de anabolizantes e hormônio de crescimento para
ganho de massa muscular em atletas. Link para o parecer: http://old.cremerj.org.br/anexos/ANEXO_PARECER_CFM_19.pdf


Autores:

Dr. Frederico Lobo (Médico de Goiânia - GO) @drfredericolobo
Dra. Natalia Jatene (Endocrinologista de Goiânia - GO) @dra.nataliajatene
Dr. Ricardo Martins Borges (Nutrólogo de Ribeirão Preto – SP, mestre em medicina pela FMRP – USP) @clinicaricardoborges,
Dra. Tatiana Abrão (Endocrinologista e Nutróloga de Sorocaba – SP) @tatianaabrao,
Dr. Daniella Costa (Nutróloga de Uberlândia – MG) @dradaniellacosta,
Dr. Mateus Severo (Endocrinologista de Santa Maria – RS, Mestre em Ciências Médicas – Endocrinologia pela UFRGS e doutorando em Ciências médicas – Endocrinologia pela UFRGS) @drmateusendocrino,
Dr. Pedro Paulo Prudente (Médico do esporte  e Acupunturista em Goiânia - GO) @vivamelhorsemdor
Dra. Patrícia Salles (Endocrinologista de São Paulo – SP, mestre em Endocrinologia pela FMUSP), @endoclinicdoctors,
Dra. Camila Bandeira (Endocrinologista de Manaus – AM) @endoclinicdoctors,
Dra. Flávia Tortul (Endocrinologista de Campo Grande – MS) @flaviatortul,
Dr. Reinaldo Nunes (Endocrinologista e Nutrólogo de Campos – RJ, mestre em endocrinologia pela UFRJ) @drreinaldonunes.


Bibliografia:







Bispo, M. et al. Anabolic steroid-induced cardiomyopathy underlying acute liver failure in a young bodybuilder. World J. Gastroenterol., v.15, n.23, p.2920-2, 2009.

Graham, M.R. et al. Homocysteine induced cardiovascular events: a consequence of long term anabolic androgenic steroid (AAS) abuse. Br. J. Sports Med., v.40, n.7, p.644-8, 2006.

Handelsman, D.J. Testosterone: use, misuse and abuse. Med. J. Aust., v.185, n.8, p.436-9, 2006.

McCabe, S.E. et al. Trends in non-medical use of anabolic steroids by U.S. college students: results from four national surveys. Drug Alcohol Depend., v.90, n.2-3, p.243- 51, 2007.

Samaha, A.A. et al. Multi-organ damage induced by anabolic steroid supplements: a case report and literature review. J. Med. Case Rep., v.2, n.340, 2008. Disponível em: www.jmedicalcasereports.com/content/2/1/340>

Thiblin, I.; Pärklo, T. Anabolic androgenic steroids and violence. Acta Psychiatr. Scand., v.106, suppl. 412, p.125-8, 2002.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Vai começar a fazer musculação? Saiba o básico sobre o treinamento de força - Por Profº.Mdo. Marcelo Henrique Silva



Treinamento de força: Como proceder?

O treinamento resistido é um método essencial nos programas de treinamento para diversos fins e níveis de aptidão física. É considerado seguro para todas as faixas etárias, saudáveis, atletas ou até mesmo portadores de doenças crônicas.
Inúmeras variáveis devem ser consideradas na montagem do programa de treinamento resistido como: número de séries e repetições, intervalo entre séries e exercício, cadência, ordem dos exercícios, frequência semanal, amplitude de movimento, intensidade dentre outros. No entanto, ainda não se tem uma compreensão adequada de quais variações seriam mais eficientes ou da melhor forma de emprega-las
·               Número de Repetições
A relação entre margem de repetições e peso utilizado são muito comuns nos estudos em ciências do esporte Porém a relação entre % de RM e rep em gráficos e equações de predição são baseadas em se assumir uma improvável linearidade que não condiz com a realidade. (Kraemer et al., 2004) (Pekunlu e Atalag, 2013) estudos tem demostrado um alto grau de variabilidade em relação a RM e %-1RM (Salvador, 2005; Shimano et al., 2006) e ao deixar de lado a capacidade de endurance muscular e realizar a prescrição da margem de repetições apenas por % de RM pode ser uma forma de subestimar ou superestimar um indivíduo (ERRO FREQUENTE EM SE PRESCREVER TREINO DA SEGUINTE FORMA –“ FAÇA 3 séries DE 12 8 com 80% de 1RM)  (Pekunlu e Atalag, 2013). Uma maneira de se avaliar e definir a intensidade de um treinamento é a execução de repetições até a falha voluntária com um determinado % de 1 RM. (Treinar até a falha é a forma mais correta de se avaliar e ter noção de verdade do que é intensidade máxima de treino e partindo daí sabermos a margem de repetições por peso)

·               Intervalo entre as séries
Intervalo de descanso é apenas uma das diversas variáveis possíveis de se manipular dentro do treinamento de força (Evangelista et al., 2011); (Rodrigues et al., 2010); (Miranda et al., 2010), existem pesquisas que apresentam esta variável como um importante preditor das respostas neuromusculares e metabólicas ao treinamento resistido (Martorelli et al., 2015) podendo afetar tanto nas respostas agudas quanto nas respostas crônicas (De Salles et al., 2009), sendo o descanso um fator influente na intensidade do treino (Boroujerdi e Rahimi, 2008).
(Desta forma o descanso entre as séries deve ser controlado, deve ser manipulado – como dito anteriormente quando é necessário aumentar a intensidade do treino por exemplo sem que se aumente o número de repetições ou peso basta reduzir o intervalo de descanso)
Em resumo: intervalos mais curtos de exercícios podem ser usados para as alterações nas taxas hormonais nas primeiras horas de pós-exercício, especialmente no que tange à elevação de GH e de cortisol. Intervalos curtos, entre 30 segundos e 1 minuto aprecem ser requeridos para que haja um aumento significativo nos níveis de GH quando comparado a outros intervalos de descanso além do que intervalos menores que 2 minutos também apresentam elevação considerável de cortisol proporcionando uma redução na relação testosterona/cortisol (Henselmans e Schoenfeld, 2014).

·               Frequência semanal
(Difrancisco-Donoghue et al., 2007), além de reduzirem a frequência semanal reduziram também o volume da sessão de treino para apenas uma série pra cada exercício executadas até a falha concêntrica comparando 1 com 2 vezes por semana em 18 idosos (7 mulheres e 11 homens) e duração de 9 semanas. Os autores entraram benefícios para ambos os grupos com semelhantes ganhos para uma ou duas vezes por semana mostrando grande aspecto positivo por também ser um grande tempo-eficiente
(Para os que não possuem possibilidade de treinar mais de 3 – 4 vezes por semana certamente este não seria o melhor protocolo para alta performance ou atletas, mas este não é o caso. Treinar 2x por semana por exemplo aproximadamente 20 minutos por sessão – 40 minutos por semana—pode-se colher bons frutos)
·               Número de séries
Alguns estudos tem demonstrado que séries simples são menos efetivas para pessoas treinadas que séries múltiplas (Rhea, Alvar, Ball, et al., 2002; Rhea, Alvar e Burkett, 2002);(Peterson et al., 2005). Revisões recentes sugerem que haja similares acréscimos em força e hipertrofia quando comparamos séries simples e séries múltiplas no treinamento propondo então que a intensidade do esforço tenha maior relevância para a adaptação muscular (Fisher et al., 2011; Fisher et al., 2016) não havendo ainda um consenso de qual seria um volume ótimo, mais adequado para prescrição do treinamento de força (Marshall et al., 2011)
 (Carpinelli e Otto, 1998) ao realizar a revisão sistemática de 35 artigos e concluíram que séries simples ou múltiplas apresentaram resultados semelhantes para  aumentos de força e hipertrofia muscular não havendo base ou fundamento que justifiquem séries múltiplas quando os objetivos são aumento de força ou hipertrofia muscular independente de gênero, idade, grupamento muscular exercitado e nível de treinamento

·               Seleção de exercícios:
Ordem dos exercícios; uma variável essencial para o treinamento resistido (Romano et al., 2013), não deve ser em detrimento do tamanho muscular ou número de articulações envolvidas, mas sim na necessidade individual ou nos padrões de movimento mais requeridos (Simao et al., 2012)), mas não mostra como diferentes sequências de exercícios podem interferir no número total de repetições completas em múltiplas séries e em cada exercício individualmente.
Tanto o desempenho em número de repetições quanto o volume do treino são maiores quando o exercício em questão é colocado primeiro, independente se o mesmo é uni ou multiarticular ou qual o grupamento em questão (Simao et al., 2012).

·               Temos ainda: combinação com outras atividades, Velocidade de execução
Devemos lembrar de algumas coisas:
·               Músculo não sabe contar (então não ache que 3 repetições aumentam força e 20 a resistência)
·               Músculo não tem olho (então não ache que a quantidade de peso que você levanta é um fator exclusivo para aumento ou não do aumento de força ou hipertrofia) pois tanto 30% quanto 90% de 1RM apresentam hipertrofia semelhante.
·                Apenas uma série até a exaustão, 2 vezes por semana sem executar exercícios isolados é capaz de promover hipertrofia – pode sim e promove conforme já comprovado) – Alguns vão dizer que isto é uma leviandade: “Mas bodybuilder não treina assim e é musculoso” e eu respondo “qual o % da população é bodybuilder” ?
·               Não Sugiro nem recomendo método blitz (aonde se realiza apenas um grupamento por sessão uma vez por semana) para o caso de quem treina de forma recreacional como quase 100% dos frequentadores de academia.
·               Treinar (para quem treina “isolando” músculos) tríceps no mesmo dia de peitoral é mais interessante pelo fato de que quando se treina  peitoral o tríceps também é bastante solicitado e ao separá-lo de peitoral é possível que se descanse de forma inadequada o mesmo grupamento.
·               Controlem velocidade de execução, intervalo entre as séries e entre os treinos, peso, número de séries e repetições além da intensidade de treino e para que não HAJA equívoco na manipulação destas variáveis PROCURE SEMPRE UM BOM PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ORIENTAÇÃO....


--------REFERÊNCIAS----------

0112-1642 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9777681 >.

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0112-1642 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22292516 >.




Autor: Marcelo Henrique Silva. 
1. Graduado: Educação Física – UEG/ ESEFFEGO;
2. Especialista: Fisiologia do Exercício e Prescrição do Exercício – UGF (com atuação em grupos especiais);
3. Mestrando: Ciências da Saúde – FM/UFG;
4. Professor Conexão Brasil Saúde (4 anos), InSaúde (2 anos), CONAAF 2.0 e FIEP (Federação Internacional de Educação Física);
5. Coordenador do Laboratório de Treinamento Resistido (FEFD – UFG);
6. Colaborador SFHE 9Setor de Fisiologia Humana e do Exercício) (FEFD-UFG);
7. Grupo de Estudos em Saúde e Exercício.;
8. Projeto Guarda-Chuva (5 anos de intervenção) em Estado de Apreciação na Plataforma Brasil;
9. Bolsista CAPES (Nível Mestrado).
10. Vasta experiência em treinamentos para emagrecimento e hipertrofia muscular.