quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Estratégias para sentir menos fome ?

O processo de emagrecimento é marcado por várias respostas adaptativas no organismo ao longo do tempo, o que ocorre devido a restrição de calorias, que é um fator indissociável.

Dentro dessas respostas, inclui-se o aumento do apetite (+100kcal de fome por cada kg perdido), redução do gasto energético diário e a redução quase que imperceptível da movimentação diária.

Portanto, para obter bons resultados, existem algumas estratégias para reduzir essa sensação de fome.

Veja algumas delas:
  • Mantenha-se bem hidratado ao longo de todo o dia para não confundir a sensação de sede com fome. Consumir 300mL de água 30 minutos antes da refeição pode ajudar MUITO;
  • Aumente seu consumo de alimentos de menor densidade calórica e de fibras. A quantidade de frutas, folhosos e outros vegetais devem ser consumidos diariamente, totalizando no mínimo 500g/dia;
  • Descanse os talheres no prato a cada garfada e mastigue muito bem os alimentos em todas as refeições. Dê tempo para o seu organismo processar os sinais de saciedade;
  • Coloque proteínas em pelo menos 4 refeições do dia, pois é um nutriente com maior resposta de saciedade (ovos, carnes em geral, leguminosas);
  • Pratique exercícios de alta intensidade. Para grande maioria das pessoas, esse hábito auxilia no melhor controle do apetite;
  • Valorize o seu sono. Acredite, seguir um plano com restrição calórica é muito difícil se você não estiver tendo um sono reparador, uma vez que existem fatores hormonais que influenciam a situação;
  • Faça terapia. Caso você tenha uma carga elevada de estresse, de ansiedade e não tiver tendo um acompanhamento, será muito difícil manter o processo de reeducação alimentar (inclusive a pandemia tem reforçado essa questão).
Se ainda assim a fome não reduzir, faz-se necessário utilizar medicação com prescrição médica.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Doenças patogênicas são agravadas por riscos climáticos

Mais da metade das doenças patogênicas humanas conhecidas, como dengue, hepatite, pneumonia, malária, zika e outras, podem ser agravadas pelas mudanças climáticas.

Essa descoberta surpreendente e reveladora é o tema de um artigo de pesquisa publicado em 8 de agosto na Nature Climate Change por uma equipe de pesquisadores da Universidade do Havaí em Manoa.

Os pesquisadores realizaram uma busca sistêmica de exemplos empíricos sobre os impactos de 10 riscos climáticos sensíveis às emissões de gases de efeito estufa (GEE) em cada doença patogênica humana conhecida . Esses perigos incluíam aquecimento, seca, ondas de calor, incêndios florestais, precipitação extrema , inundações, tempestades, aumento do nível do mar , mudanças biogeoquímicas oceânicas e mudanças na cobertura da terra.


Combinando duas listas oficiais de todas as infecções e doenças patogênicas conhecidas que afetaram a humanidade na história registrada, os pesquisadores revisaram mais de 70.000 artigos científicos para exemplos empíricos sobre cada combinação possível de um risco climático que afeta cada uma das doenças conhecidas.

A pesquisa revelou que aquecimento, precipitação, inundações, secas, tempestades, mudanças na cobertura da terra, mudanças climáticas oceânicas , incêndios, ondas de calor e mudanças no nível do mar influenciaram doenças desencadeadas por vírus, bactérias, animais, fungos, protozoários, plantas e cromistas.

As doenças patogênicas foram transmitidas principalmente por vetores, embora exemplos de casos também tenham sido encontrados para vias de transmissão envolvendo a água, o ar, o contato direto e os alimentos. Em última análise, a pesquisa descobriu que mais de 58%, ou 218 de 375, das doenças patogênicas humanas conhecidas foram afetadas em algum momento por pelo menos um risco climático por meio de 1.006 vias únicas.

“Dadas as consequências extensas e generalizadas da pandemia de COVID 19, foi realmente assustador descobrir a enorme vulnerabilidade à saúde resultante das emissões de gases de efeito estufa”, disse Camilo Mora, professor de geografia da Faculdade de Ciências Sociais (CSS) e líder autor do estudo. “Existem muitas doenças e vias de transmissão para pensarmos que podemos realmente nos adaptar às mudanças climáticas. Isso destaca a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa globalmente”.

Uma página da web interativa [https://camilo-mora.github.io/Diseases/] mostrando cada conexão entre um perigo climático e um caso de doença foi desenvolvida pela equipe de pesquisa. A ferramenta permite que os usuários consultem perigos, vias e grupos de doenças específicos e vejam as evidências disponíveis.

A equipe de pesquisa do UH Manoa incluiu especialistas do CSS, Departamento de Ciências da Terra da Escola de Ciências e Tecnologia do Oceano e da Terra (SOEST), Programa de Pós-Graduação em Biologia Marinha da Escola de Ciências da Vida, Departamento de Recursos Naturais e Gestão Ambiental da Faculdade de Agricultura Tropical e Recursos Humanos (CTAHR) e Instituto Hawai’i de Biologia Marinha no SOEST.

As principais descobertas incluem:

  1. Os riscos climáticos estão aproximando os patógenos das pessoas. Inúmeros riscos climáticos estão aumentando a área e a duração da adequação ambiental facilitando a expansão de vetores e patógenos. Mudanças de aquecimento e precipitação, por exemplo, foram associadas à expansão do alcance de vetores como mosquitos, carrapatos, pulgas, aves e vários mamíferos implicados em surtos de vírus, bactérias, animais e protozoários, incluindo dengue, chikungunya, peste, doença de Lyme, West Vírus do Nilo, Zika, tripanossomíase, equinococose e malária.
  2. Os riscos climáticos estão aproximando as pessoas de patógenos. Os riscos climáticos foram implicados com o deslocamento forçado e migração de pessoas, causando ou aumentando novos contatos com patógenos. Tempestades, inundações e elevação do nível do mar, por exemplo, causaram deslocamentos humanos implicados em casos de leptospirose, criptosporidiose, febre de Lassa, giardíase, gastroenterites, doenças dos legionários, cólera, salmonelose, shigelose, pneumonia, febre tifóide, hepatite, doenças respiratórias e doenças de pele .
  3. Os perigos climáticos melhoraram aspectos específicos dos patógenos, incluindo melhor adequação climática para reprodução, aceleração do ciclo de vida, aumento das estações/duração da provável exposição, aumento das interações com vetores patogênicos (por exemplo, encurtando as incubações) e aumento da virulência. O aquecimento, por exemplo, teve efeitos positivos no desenvolvimento da população de mosquitos, sobrevivência, taxas de picadas e replicação viral , aumentando a eficiência de transmissão do vírus do Nilo Ocidental.
  4. Os riscos climáticos também diminuíram a capacidade humana de lidar com patógenos, alterando a condição corporal; adicionando estresse de exposição a condições perigosas; forçando as pessoas a condições inseguras; e danificando a infraestrutura, forçando a exposição a patógenos e/ou reduzindo o acesso a cuidados médicos. Por exemplo, a seca foi propícia à falta de saneamento responsável por casos de tracoma, clamídia, cólera, conjuntivite, Cryptosporidium, doenças diarreicas, disenteria, Escherichia coli, Giardia, Salmonella, sarna e febre tifoide.
Os pesquisadores também descobriram que, enquanto a grande maioria das doenças foi agravada por riscos climáticos, algumas foram diminuídas (63 de 286 doenças). O aquecimento, por exemplo, parece ter reduzido a propagação de doenças virais provavelmente relacionadas a condições inadequadas para o vírus ou por causa de um sistema imunológico mais forte em condições mais quentes. No entanto, a maioria das doenças que foram diminuídas por pelo menos um perigo foram às vezes agravadas por outro e às vezes até o mesmo perigo.

“Sabíamos que as mudanças climáticas podem afetar doenças patogênicas humanas”, disse a coautora Kira Webster, Ph.D em geografia. “No entanto, à medida que nosso banco de dados cresceu, ficamos fascinados e angustiados com o grande número de estudos de caso disponíveis que já mostram o quão vulneráveis estamos nos tornando às nossas crescentes emissões de gases de efeito estufa”.


Riscos climáticos do sistema terrestre afetados pela emissão contínua de GEEs

Consideramos os dez riscos climáticos a seguir. Os GEEs mediam o equilíbrio entre a radiação solar que entra e a radiação infravermelha que sai; assim, 
(1) seu excesso na atmosfera causa aquecimento. Combinado com uma maior capacidade do ar de reter água, o aquecimento acelera a evaporação da água do solo, levando a 
(2) seca em locais normalmente secos; o excesso de seca pode levar a 
(3) ondas de calor quando a transferência de calor da evaporação da água cessa. Secas e ondas de calor amadurecem as condições para 
(4) incêndios florestais. Em locais úmidos, o rápido reabastecimento da evaporação fortalece 
(5) a precipitação, que é propensa a causar 
(6) inundações quando a chuva cai em locais úmidos/solos saturados. O aquecimento dos oceanos aumenta a evaporação e a velocidade do vento, intensificando as chuvas e a força das 
(7) tempestades, cujas ondas podem ser agravadas pela 
(8) elevação do nível do mar, que, por sua vez, podem agravar os impactos das inundações. Captação de CO2 nos oceanos causa a acidificação dos oceanos, enquanto as mudanças na circulação oceânica e o aquecimento reduzem a concentração de oxigênio na água do mar; essas mudanças físico-químicas oceânicas combinadas são referidas como 
(9) mudanças climáticas oceânicas neste artigo. Incluímos 
(10) mudanças na cobertura natural da terra como um dos perigos porque pode ser um emissor direto de GEE via desmatamento e respiração, modificar a temperatura via albedo e evapotranspiração e porque pode ser um modificador direto na transmissão de doenças patogênicas 59 , 84 . Esta figura pretende ser uma justificativa para os perigos usados e não um conjunto completo de interações entre GEEs e perigos e ciclos de feedback entre perigos.



Referência: Mora, C., McKenzie, T., Gaw, I.M. et al. Over half of known human pathogenic diseases can be aggravated by climate change. Nat. Clim. Chang. (2022). https://doi.org/10.1038/s41558-022-01426-1

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Tratamento da obesidade com remédio esbarra em alto custo, preconceito e desconfiança

Brasil não tem nenhum medicamento contra obesidade oferecido pelo SUS; Conitec avalia incorporação de substância.

Novos medicamentos para tratar a obesidade prometem mais efetividade e segurança, mas esbarram em entraves como a falta de acesso devido aos altos preços, a desconfiança e mitos como o de que perder peso é uma só uma questão de força de vontade.

Ao mesmo tempo, há uma unanimidade de que esses tratamentos podem funcionar do ponto de vista individual, mas não resolvem o problema da crescente obesidade populacional, que precisa ser enfrentada com mudanças comportamentais e políticas públicas de saúde.

O assunto tem sido discutido em várias mesas na principal conferência internacional sobre obesidade, a Obesity Week, que terminou nesta sexta (4) em San Diego (Califórnia).

Enquanto nos Estados Unidos, diretrizes médicas como as da Sociedade Americana de Gastroenterologia recomendam quatro diferentes medicamentos para tratamento da obesidade (semaglutida, liraglutida, fentermina-topiramato de liberação prolongada e naltrexona-bupropiona), no Brasil não há nenhuma substância disponível na rede pública de saúde.

O protocolo de tratamento da obesidade no país sai da prescrição de dietas para a cirurgia bariátrica, sem passar pelos medicamentos. Atualmente, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) avalia a incorporação da liraglutida no SUS.

A substância está aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2016. Já semaglutida tem aval para tratamento de diabetes e aguarda sinal verde como terapia para a obesidade.

"Quando eu olho os bons resultados dessas novas substâncias, sei que vai ajudar os obesos a perder peso, reduzir comorbidades, melhorar qualidade de vida, eu só fico pensando: e os nossos pacientes? É sempre um dilema essa questão do acesso", diz a endocrinologista Cíntia Cecato, presidente da Abeso (Associação Brasileira de Estudo sobre a Obesidade e Síndrome Metabólica).

Serviços como os do ambulatório de obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde Cecato atua, são exceções. "É uma ilha no meio do país. Lá temos os medicamentos para tratar obesidade, comprados pelo hospital."

A discussão sobre acesso ganhou força após a aprovação da semaglutida (também conhecida pela marca Wegovy, da Novo Nordisk), pela agência reguladora americana (FDA) em 2021.

O medicamento tem um preço de tabela nos Estados Unidos de US$ 1.349,02 (cerca de R$ 6.000) por mês e pode provocar uma perda de peso de 15% a 17% em pessoas obesas. A substância tornou-se popular nas redes sociais no mês passado, após o bilionário Elon Musk atribuir o seu emagrecimento a ela.

Há outras drogas promissoras em estudo, como a tirzepatide, da Elli Lilly, que prometem resultados iguais ou até superiores aos da semaglutida, mas, segundo especialistas, quando chegar ao mercado, terá a mesma faixa de preço da concorrente.

Segundo Simone Tcherniakovsky, diretora de assuntos corporativos e de sustentabilidade da Novo Nordisk Brasil, a discussão de acesso é global porque as políticas de enfrentamento da obesidade não têm sido frutíferas. "Só alguns poucos países estão conseguindo deter o avanço", diz.

Ela afirma que no Brasil há alguns planos de saúde que já subsidiam medicamentos contra a obesidade para seus beneficiários porque entendem que essas pessoas têm mais comorbidades, internam mais e vão mais ao médico, condições que aumentam os custos.

No caso de uma eventual incorporação no SUS, Tcherniakovsky diz que sempre há uma grande negociação, o que leva à queda dos preços. Além disso, com a oferta de outras medicações e um ambiente mais competitivo, os preços também tendem a cair mais.

Para o endocrinologista Dan Bessesen, professor da Universidade do Colorado e presidente da Obesity Week, além do preço, há outros motivos que emperram a prescrição dessas novas drogas, como a desconfiança que muitos médicos ainda têm em relação aos emagrecedores.

Ele afirma que até a década passada não havia medicamentos efetivos para obesidade, e que os anorexígenos que estavam no mercado produziam perdas de peso modestas e, alguns casos, graves efeitos colaterais, que levaram alguns serem retirados do mercado.

"Isso criou um senso comum de que as medicações para o emagrecimento não são seguras e acabou afetando a percepção sobre outras drogas que não tinham os mesmos problemas."

Porém, segundo ele, o mundo vive atualmente uma nova era de tratamento da obesidade, com muitos medicamentos novos a caminho que vão promover mais perda de peso e redução do risco cardiovascular.

Essa nova classe de drogas são chamadas de incretinas, que são hormônios naturais que retardam o esvaziamento do estômago, regulam a insulina e diminuem o apetite. Os efeitos colaterais incluem náuseas, vômitos e diarreia, que costumam ser bem tolerados.

Para Bessesen, é preciso educar a sociedade para o fato de que a obesidade é uma doença crônica e que precisa ser tratada de forma adequada, com medicamentos acessíveis, combinados com mudança de estilo de vida.

"A gente não trata diabetes ou hipertensão só com mudança de estilo de vida. Na obesidade acontece o mesmo. Os medicamentos são necessários e muitas pessoas vão ter que tomar para o resto da vida. Eu não tomo meu remédio da pressão ou da diabetes por uma semana e paro de tomar quando estão controladas."

Para Cíntia Cecato, há outros desafios, como o reconhecimento da obesidade como uma doença crônica e que pode demandar tratamento contínuo. "As pessoas acham que vão fazer o tratamento e podem parar [o medicamento]. A medicação auxilia na perda de peso e na manutenção a longo prazo."

Porém, há controvérsias sobre esse conceito. Na opinião do cardiologista Luís Correia, diretor do centro de medicina baseada em evidência da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, condições como hipertensão, dislipidemia e obesidade não são doenças, mas sim fatores de risco para doença.

A diferença, segundo ele, é que a hipertensão e a dislipidemia não são são modificáveis com mudança de hábitos de vida e, por isso, demandam tratamento crônico. "Mas obesidade tem potencial de mudar com hábito."

Cíntia Cecato cita um outro desafio no tratamento da obesidade: o estigma. "Há pacientes que não podem contar aos familiares que estão usando um medicamento para obesidade porque são criticados, as pessoas acham que eles não precisam, que é só ter força de vontade para emagrecer."

Para Luís Correia, embora os medicamentos sejam importantes como estratégias individuais para controle da obesidade, o problema precisa ser combatido com estratégias populacionais, como ocorreu no caso do tabagismo.

"Hoje é proibida a propaganda de cigarro, mas não a de comida supercalórica. O problema da obesidade é de saúde pública, mais do que um problema clínico de um médico com seu paciente. Assim seríamos mais efetivos, embora os médicos fossem ganhar menos dinheiro."

A jornalista viajou a convite do Novo Nordisk

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[Conteúdo exclusivo para médicos e nutricionistas] - Associação do consumo materno de cafeína durante a gravidez com o crescimento infantil

Pergunta: O consumo materno de cafeína está associado ao crescimento infantil e tais associações estão presentes em grupos de baixo consumo?

Achados 

Neste estudo de coorte, nas idades de 4 a 8 anos, os filhos de mulheres com baixa dosagem de cafeína e paraxantina durante a gravidez eram mais baixos do que os filhos de mulheres que não consumiram cafeína durante a gravidez, com diferenças crescentes de altura em uma coorte histórica até os 8 anos de idade.

Não houve padrões claros de alterações de peso ou índice de massa corporal.

Significado 

Embora as implicações clínicas não sejam claras para diferenças observadas relativamente pequenas, esses achados sugerem que pequenas quantidades de consumo materno diário de cafeína estão associadas a uma estatura mais baixa em seus filhos que persistem na infância.

Abstrato

Importância 

O maior consumo de cafeína na gravidez está associado à redução do tamanho do nascimento, mas as possíveis associações com o crescimento infantil não são claras.

Objetivo Avaliar as associações das medidas de cafeína e paraxantina na gravidez com o crescimento infantil em uma coorte contemporânea com baixo consumo de cafeína e uma coorte histórica com alto consumo de cafeína.

Concepção, Cenário e Participantes 

A coorte de Influências Ambientais nos Resultados de Saúde Infantil do Instituto Nacional de Estudos de Crescimento Fetal de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano (ECHO-FGS; 10 locais, 2009-2013) foi uma coorte de gravidez com 1 criança medida entre as idades de 4  e 8 anos (seguimento em 2017-2019).  O Collaborative Perinatal Project (CPP) foi uma coorte de gravidez (12 locais, 1959-1965) com acompanhamento da criança por 8 anos (1960-1974). A atual análise secundária foi realizada em 2021 e 2022.

Exposições Concentrações de cafeína e seu metabólito primário, paraxantina, foram quantificadas a partir de plasma (ECHO-FGS) e soro (CPP) coletados no primeiro trimestre. Os pontos de corte para as análises foram definidos por quartis no ECHO-FGS e quintis no CPP.

Principais resultados e medidas 

Escores z de Child para índice de massa corporal, peso e altura foram avaliados, bem como índice de massa gorda e porcentagem e risco de obesidade medidos em 1 momento entre 4 e 8 anos de idade no ECHO-FGS.  Em uma análise secundária da coorte CPP, foram avaliados os escores z da criança e o risco de obesidade longitudinalmente até a idade de 8 anos.

Resultados No ECHO-FGS (ingestão mediana de cafeína <50 mg/d), 788 crianças (média [DP] idade, 6,8 [1,0] anos; 411 meninos [52,2%]) de mulheres no quarto vs primeiro quartil de concentrações plasmáticas de cafeína  apresentaram escores z de altura mais baixos (β = −0,21; IC 95%, −0,41 a −0,02), mas diferenças nos escores z de peso foram observadas apenas no terceiro quartil (β = −0,27; IC 95%, −0,47 a −0,07).  No CPP, começando aos 4 anos de idade, 1.622 crianças (805 meninos [49,7%]) de mulheres no grupo do quintil de cafeína mais alto tiveram escores z de altura mais baixos do que seus pares do grupo mais baixo, com a diferença aumentando a cada ano sucessivo de idade  (β = −0,16 [IC 95%, −0,31 a −0,01] em 4 anos; β = −0,37 [IC 95%, −0,57 a −0,16] em 8 anos).

Houve ligeiras reduções de peso nas idades de 5 a 8 anos para crianças no terceiro versus primeiro quintil de cafeína (β = −0,16 a −0,22).  Os resultados foram consistentes para as concentrações de paraxantina em ambas as coortes.

Conclusões e Relevância 

A exposição intrauterina a níveis crescentes de cafeína e paraxantina, mesmo em baixas quantidades, foi associada à menor estatura na primeira infância. A implicação clínica das reduções de altura e peso não é clara; no entanto, as reduções foram aparentes mesmo com níveis de consumo de cafeína abaixo das diretrizes clinicamente recomendadas de menos de 200 mg por dia.

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[Conteúdo exclusivo para médicos] - Redução de triglicerídeos com pemafibrato para reduzir o risco cardiovascular

Abstrato

Níveis elevados de triglicerídeos estão associados ao aumento do risco cardiovascular, mas é incerto se a redução desses níveis diminuiria a incidência de eventos cardiovasculares. O pemafibrato, um modulador seletivo do receptor α ativado por proliferador de peroxissoma, reduz os níveis de triglicerídeos e melhora outros níveis de lipídios.

Metodologia

Em um estudo multinacional, duplo-cego, randomizado e controlado, atribuímos pacientes com diabetes tipo 2, hipertrigliceridemia leve a moderada (nível de triglicerídeos, 200 a 499 mg por decilitro) e níveis de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) de 40 mg por decilitro ou menos para receber pemafibrato (comprimidos de 0,2 mg duas vezes ao dia) ou placebo correspondente. Os pacientes elegíveis estavam recebendo terapia hipolipemiante orientada por diretrizes ou não podiam receber terapia com estatinas sem efeitos adversos e tinham níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) de 100 mg por decilitro ou menos. O desfecho primário de eficácia foi um composto de infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral isquêmico, revascularização coronariana ou morte por causas cardiovasculares.

Resultados

Entre 10.497 pacientes (66,9% com doença cardiovascular prévia), a mediana do nível basal de triglicerídeos em jejum foi de 271 mg por decilitro, o nível de colesterol HDL de 33 mg por decilitro e o nível de colesterol LDL de 78 mg por decilitro. A mediana de seguimento foi de 3,4 anos. Em comparação com o placebo, os efeitos do pemafibrato nos níveis lipídicos aos 4 meses foram -26,2% para triglicéridos, -25,8% para colesterol de lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL), -25,6% para colesterol remanescente (colesterol transportado em  lipoproteínas após lipólise e remodelação de lipoproteínas), -27,6% para apolipoproteína C-III e 4,8% para apolipoproteína B. Um evento de desfecho primário ocorreu em 572 pacientes no grupo pemafibrato e em 560 daqueles no grupo placebo (taxa de risco, 1,03; intervalo de confiança de 95%, 0,91 a 1,15), sem modificação aparente do efeito em qualquer subgrupo pré-especificado.

A incidência geral de eventos adversos graves não diferiu significativamente entre os grupos, mas o pemafibrato foi associado a uma maior incidência de eventos adversos renais e tromboembolismo venoso e uma menor incidência de doença hepática gordurosa não alcoólica.

Conclusões

Entre os pacientes com diabetes tipo 2, hipertrigliceridemia leve a moderada e baixos níveis de colesterol HDL e LDL, a incidência de eventos cardiovasculares não foi menor entre aqueles que receberam pemafibrato do que entre aqueles que receberam placebo, embora o pemafibrato tenha reduzido o triglicerídeo, o colesterol VLDL,  colesterol remanescente e níveis de apolipoproteína C-III. (Financiado pelo Kowa Research Institute; PROMINENT ClinicalTrials)

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[Conteúdo exclusivo para médicos] - A história dos fibratos — um final morno para uma droga proeminente

O pemafibrato é um modulador seletivo do receptor α ativado por proliferador de peroxissoma que tem propriedades supostas maiores de redução de triglicerídeos e aumento de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) do que outros fibratos.

Agora no Journal, Das Pradhan et al.  descrevem os resultados do estudo Pemafibrate to Reduce Cardiovascular Outcomes by Reducing Triglycerides in Patients with Diabetes (PROMINENT). Neste estudo, 10.497 pacientes com diabetes tipo 2, um nível de triglicerídeos entre 200 e 499 mg por decilitro e um nível de colesterol HDL de 40 mg por decilitro ou menos foram aleatoriamente designados para receber comprimidos de 0,2 mg de pemafibrato duas vezes ao dia ou placebo.

No estudo PROMINENT, duas coortes de pacientes com diabetes foram randomizadas. A coorte de prevenção primária (pacientes que não apresentavam doença cardiovascular aterosclerótica) constituiu um terço da população do estudo, e a coorte de prevenção secundária (aqueles que apresentavam doença cardiovascular aterosclerótica) constituiu dois terços. Um total de 96% dos pacientes estavam recebendo estatinas, e mais de dois terços estavam recebendo estatinas de alta intensidade. A mediana do nível de hemoglobina glicada foi de 7,3%.

Embora, em comparação com o placebo, o pemafibrato tenha reduzido os níveis de triglicerídeos em 26,2% e aumentado os níveis de colesterol HDL em 5,1%, não reduziu a incidência de eventos que compunham o desfecho primário de eficácia (um composto de infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral isquêmico,  revascularização coronária ou morte por causas cardiovasculares).

Os pacientes que receberam pemafibrato apresentaram maior incidência de eventos renais e tromboembolismo venoso e menor incidência de doença hepática gordurosa não alcoólica do que aqueles que receberam placebo.  

Então, o que pode ser aprendido com este estudo?

Primeiro, este estudo teve como alvo a população correta de pacientes – pacientes com alto nível de triglicerídeos em jejum (mediana, 271 mg por decilitro na linha de base) e baixo nível de colesterol HDL (mediana, 33 mg por decilitro).  

Eu acho que a falta de eficácia apesar da redução dos triglicerídeos pode ser em grande parte devido à falta de uma diminuição geral no nível de apolipoproteína B.

Apesar das diminuições nos níveis de colesterol remanescente, os níveis de colesterol não HDL não mudaram significativamente, enquanto, em comparação com placebo, a alteração percentual no nível de apolipoproteína B foi de 4,8%.

Embora alguns desses achados sejam esperados, dado um aumento no nível de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) com pemafibrato, eles apoiam a observação de que, para que as terapias hipolipemiantes mostrem um efeito, uma redução líquida nos níveis de lipoproteína contendo apolipoproteína B é vital.

É provável que os efeitos redutores da apolipoproteína B dos fibratos sejam negados na presença de estatinas de intensidade moderada a alta, como visto neste estudo.  

Este fenômeno também foi observado em ensaios iniciais de fase 2 de pemafibrato.

A terapia com estatinas de intensidade moderada a alta é considerada o padrão de tratamento, de modo que a barra é muito mais alta agora do que em ensaios anteriores de redução de triglicerídeos.

Em segundo lugar, como observam os autores, ao estimular a atividade da lipoproteína lipase, o pemafibrato pode ter levado a uma maior eficiência na conversão de lipoproteínas remanescentes em LDL.

Assim, os níveis de colesterol remanescente foram diminuídos, mas ao custo de níveis crescentes de colesterol LDL e apolipoproteína B no plasma, sem alteração geral nos níveis de colesterol não HDL.  

Os efeitos de níveis elevados de triglicerídeos na doença aterosclerótica são de fato mediados pelo teor de colesterol das partículas remanescentes.  

Consequentemente, para que as terapias que reduzem os níveis de triglicerídeos sejam eficazes, elas provavelmente precisam ter mecanismos para aumentar a depuração das partículas de colesterol de lipoproteínas remanescentes ricas em triglicerídeos, em vez de apenas converter as lipoproteínas remanescentes em LDL.

Uma redução líquida nos níveis de apolipoproteína B seria, portanto, um importante substituto precoce a ser seguido nesses casos.

Dois ensaios recentemente concluídos de redução de triglicerídeos fornecem suporte adicional para essa noção.

No Ensaio de Redução de Eventos Cardiovasculares com Icosapent Etil-Intervenção (REDUCE-IT), os níveis de apolipoproteína B foram 9,7 pontos percentuais mais baixos e a incidência de eventos de desfecho primário foi significativamente menor no grupo icosapent etil do que no grupo placebo.

Em contraste, o Outcomes Study to Assessment Statin Residual Risk Reduction with Epanova in High Cardiovascular Risk Patients with Hypertriglyceridemia (STRENGTH) não mostrou uma diminuição significativa nos níveis de apolipoproteína B ou uma diminuição na incidência de eventos cardiovasculares entre os pacientes que receberam Epanova, um  combinação de ácido eicosapentaenóico-ácido docosahexaenóico.

Além disso, no REDUCE-IT, a diminuição do risco de doença cardiovascular aterosclerótica não foi explicada pelos efeitos redutores de triglicerídeos do icosapent etil.  

Esses resultados destacam a importância da redução líquida dos níveis de lipoproteínas aterogênicas em vez da redução dos níveis de triglicerídeos per se.

A extensão em que esses resultados discrepantes em REDUCE-IT e STRENGTH são explicados pelo aumento nos níveis de colesterol LDL (e, consequentemente, níveis de apolipoproteína B) do uso de placebo de óleo mineral em REDUCE-IT permanece discutível.  

Finalmente, as mulheres constituíram 27,5% e os negros constituíram 2,6% dos participantes do estudo PROMINENT.

Testes futuros devem ter como objetivo uma representação mais ampla em relação a sexo e raça.

O estudo PROMINENT oferece um momento de aprendizado para a comunidade de estudos clínicos.  

Análises post hoc ou secundárias de estudos com fibratos sugeriram que pacientes com níveis elevados de triglicerídeos e baixos níveis de colesterol HDL se beneficiaram da terapia com fibratos, mesmo quando os resultados gerais do estudo foram neutros.

O estudo PROMINENT escolheu precisamente essa população de pacientes e ainda não mostrou benefício; esses achados destacam a importância de confirmar rigorosamente os achados post hoc antes de implementá-los na prática clínica.

O que essas descobertas significam para o futuro dos fibratos e outras terapias que visam principalmente os triglicerídeos?

Em primeiro lugar, os fibratos não devem ser usados ​​para reduzir o risco de doença cardiovascular aterosclerótica em pacientes tratados com estatinas, embora ainda possam ter um papel a desempenhar na diminuição do risco de pancreatite associada a hipertrigliceridemia grave e talvez doença hepática gordurosa não alcoólica.

Alternativamente, a redução de triglicerídeos sem diminuição do nível de apolipoproteína B provavelmente não será suficiente se as terapias em desenvolvimento
são para produzir diminuições significativas no risco de doença cardiovascular aterosclerótica.

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Ingestão de alimentos ultraprocessados pode ocasionar até 57 mil mortes por ano no Brasil de acordo com estudo

Um estudo realizado em parceria entre cientistas da USP, Fiocruz, Unifesp e da Universidad de Santiago de Chile, publicado no American Journal of Preventive Medicine, pela primeira vez calculou o número de mortes prematuras (de 30 a 69 anos) associadas ao consumo de ultraprocessados no Brasil: são aproximadamente 57 mil óbitos por ano, com base em dados de 2019.

Isso é mais do que o total de homicídios no Brasil em 2019 —foram 45,5 mil em 2019, segundo o Atlas da Violência— e do que a soma de mortes ao ano por câncer de pulmão (28,6 mil) e de mama (18 mil), os dois tipos de tumores que mais matam no país, segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer)... - 

Os ultraprocessados consistem em formulações industriais feitas com partes de alimentos e que geralmente contêm aditivos sintetizados em laboratório, como corantes, conservantes e aromatizantes: são guloseimas industrializadas, salgadinhos de pacote, refrigerantes, pizzas congeladas, salsichas, nuggets etc. Existe um conjunto crescente de pesquisas robustas apontando que o consumo desses produtos está relacionado ao aumento de peso e ao risco de várias doenças não transmissíveis, como diabetes, problemas cardiovasculares e câncer. 

Os autores do artigo partiram desse acúmulo de evidências para construir um modelo que leva em conta os riscos do consumo de ultraprocessados e os associa a morte.


domingo, 6 de novembro de 2022

Ingestão de flavonoides e marcadores de ressonância magnética da saúde do cérebro na coorte de descendentes de Framingham

A doença de Alzheimer (DA), a forma mais comum de demências relacionadas (DADR), representa um dos problemas globais de saúde pública não resolvidos no envelhecimento da população. Existem cerca de 50 milhões de pessoas que vivem com DADR em todo o mundo, com quase 10 milhões de novos casos diagnosticados a cada ano. A DA é caracterizada por disfunção celular e morte, medida pela perda de volume cerebral total e hipocampal. Outro sinal de neurodegeneração e fator de risco para ADRD é a presença de hiperintensidades da substância branca, lesões que aparecem como áreas de maior brilho quando visualizadas por ressonância magnética do cérebro.

Com as taxas de DADR atingindo níveis epidêmicos globais, é de suma importância identificar estratégias que possam ajudar a reduzir ou reverter essa epidemia. Uma possível avenida promissora é a dieta. O padrão alimentar mediterrâneo (MedDiet), que é rico em alimentos contendo polifenóis, demonstrou estar associado a um risco reduzido de declínio cognitivo e TDAH. 

Estudos sobre a relação entre o MedDiet e as medidas de ressonância magnética cerebral também mostraram que uma maior adesão ao MedDiet está associada a estruturas cerebrais mais saudáveis, incluindo maior volume total, cinzenta e branca, e volumes hipocampais e espessura cortical, e menos volumes de hiperintensidades da substância branca.

Relatos de nosso grupo e outros sobre flavonoides, uma classe de polifenóis, demonstraram que a ingestão mais alta desses fitoquímicos está associada a um risco reduzido de DADR. No entanto, não há estudos que examinaram a associação entre flavonoides e medidas de ressonância magnética da saúde do cérebro.

Objetivo do trabalho

Procuraram abordar essa lacuna na literatura e explorar a associação entre a ingestão de flavonoides na dieta e 3 medidas de estrutura de ressonância magnética cerebral que estão associadas a DADR, volume total de tecido cerebral (VTTC) e volume hipocampal (VH) como marcadores de atrofia do tecido cerebral e volume de hiperintensidades da substância branca (VHSB) como um correlato radiológico do declínio cognitivo. A hipótese do estudo é que a ingestão de flavonoides é diretamente associada com VTTC e VH e inversamente associada com VHSB.

Metodologia

Indivíduos elegíveis incluíram membros do Framingham Heart Study Offspring Cohort que estavam livres de acidente vascular cerebral no exame 7 e tinham pelo menos 1 questionário de frequência alimentar válido dos exames 5, 6 ou 7 (n = 2086; idade média no exame 7, 60,6 anos). As ingestões de flavonoides representaram a média cumulativa das ingestões nos 3 exames e foram categorizadas com base nas categorias de quartis de ingestão. VTTC, VHSB e VH foram avaliados no exame 7. Modelos de regressão linear múltipla foram usados ​​para examinar a associação transversal entre o total e as 6 classes de flavonoides e as 3 medidas de RM acima mencionadas.

Flavonóides

A média (IC 95%) do VHSB de indivíduos na categoria de quartil mais alto de flavan-3-ols [0,56 (0,52, 0,61)] e polímeros de flavonoides [0,57 (0,52, 0,61)] foi significativamente menor em relação a de indivíduos na categoria do quartil mais baixo de flavan-3-ols [0,65 (0,60, 0,71)] e polímeros de flavonoides [0,66 (0,60, 0,71)] após contabilizar importantes fatores demográficos, de estilo de vida e clínicos. Associações de tendência inversa com VHSB também foram observadas para flavan-3-ols (P = 0,01) e polímeros de flavonoides (P = 0,01), bem como para flavonoides totais (P = 0,01). VTTC e VH não foram associados à ingestão de flavonoides na dieta após o ajuste para potenciais fatores de confusão.

Conclusão

Os resultados encontrados contribuem para a literatura sobre flavonoides e DADR, pois sugerem que a maior ingestão de flavonoides pode afetar o risco de DADR em adultos de meia-idade e idosos, reduzindo o VHSB, um marcador fortemente associado ao DADR.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Exagerei no domingo, é indicado fazer jejum na segunda ?

A resposta é: NÃO! O fato de você ter "exagerado" no seu consumo alimentar no final de semana, e se preocupar em fazer jejum ou qualquer outra estratégia alimentar altamente restritiva, pode ser um "tiro no pé" no seu processo de reeducação alimentar!

Você estará iniciando um comportamento de compensação péssimo para os seus resultados e, inclusive, danoso para sua saúde mental.

É bem comum na prática clínica relatos de pacientes que iniciaram um hábito de "comer transtornado" após começar com "estratégias de compensação".

O grande problema é que essas compensações se tornam um ciclo vicioso e PODEM, também, favorecer a associação negativa de que o processo de reeducação alimentar significa restrição/sofrimento.
Então, fuja das estratégias compensatórias e das dietas que são baseadas nesse comportamento e pocure o acompanhamento nutricional com um Nutricionista!
.
OBS: não significa que o jejum seja uma estratégia ruim e/ou que não tenha aplicação para alguns casos.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

domingo, 30 de outubro de 2022

Posicionamento de Sociedades Médicas sobre uso de Esteroides androgênicos anabolizantes (EAAs)

Recentemente duas grandes sociedades médicas se posicionaram sobre a prescrição de Esteroides androgênicos anabolizantes, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Sociedade Brasileira de Medicina do exercício e do esporte (SBMEE). Os posicionamentos estão disponíveis abaixo e podem ser acessados na íntegra em:



SBEM

Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sobre o uso de Esteroides Anabolizantes e similares para fins estéticos ou para ganho de desempenho esportivo.

A testosterona é o hormônio responsável pelo desenvolvimento de características sexuais masculinas. Os esteroides anabolizantes e similares (EAS) foram criados através da modificação da molécula de testosterona na tentativa de ampliar seus efeitos anabolizantes e reduzir seus efeitos virilizantes.

A reposição terapêutica de testestorona está indicada em situações de deficiência diagnosticada em homens, quadro clínico denominado hipogonadismo, cujos critérios diagnósticos são bem estabelecidos por diretrizes de várias sociedades médicas publicadas na literatura. O uso da testosterona também está indicado para terapia hormonal cruzada no cuidado à pessoa com incongruência de gênero ou transgênero.

Tanto a testosterona quanto os EAS têm sido estudados com fins terapêuticos em outras condições clínicas específicas, mas ainda sem comprovação de eficácia e, especialmente, trazendo inúmeras preocupações dos especialistas com relação à segurança de seu uso no longo prazo. 

O uso dessas substâncias para fins de ganho de desempenho no esporte amador, para fins estéticos ou como agentes anti-envelhecimento é desprovido de qualquer base científica e é acompanhado de riscos bem descritos na literatura, justificando a proibição de seu uso nestes casos pelo Conselho Federal de Medicina através da Resolução no 1999/2012. O uso dos EAS por atletas de competição é proibido pelo Comitê Olímpico Internacional desde a década de 1970.

O uso disseminado de EAS dentro e fora do esporte de elite, especialmente em fitness, por aqueles que desejam melhorar a aparência e o condicionamento físico, tornou-se uma verdadeira epidemia mundial e deve ser considerado um grande problema social e de saúde pública também no nosso país.

O culto atual ao "corpo perfeito", frequentemente estimulado pela mídia e por algumas celebridades, blogueiros, atletas e profissionais da saúde, estimula o uso de EAS, independente de sexo, idade e condição cultural e social. Os vários riscos resultantes da abusiva aplicação off label e anti-ética desses agentes são desconsiderados em prol de um mercado extremamente lucrativo, que guarda similaridades com o comércio e tráfico de drogas ilícitas e armas, envolvendo inclusive contrabando e manipulação em laboratórios clandestinos.

Por essa razão, a prevalência de uso de EAS não é totalmente conhecida, mas estima-se que 3,3% da população (homens 6,4%, mulheres 1,6%) seja usuária ocasional ou frequente, sendo que esse percentual pode chegar a 18,4% entre esportistas recreacionais, 13,4% entre atletas, 12,4% entre prisioneiros, 8% entre tóxico-dependentes e 2,3% entre estudantes do ensino médio. A dependência de EAS pode atingir cifras de até 57,1% dos usuários, e é muito mais frequente neste grupo o abuso de outras substâncias como álcool, nicotina e cocaína, assim como a prevalência de hepatite B, hepatite C e infecções pelo HIV

Os efeitos adversos da testosterona normalmente são leves e facilmente tratáveis nas doses terapêuticas utilizadas na reposição hormonal do hipogonadismo, mas, nos casos de abusos e utilização off label da testosterona e EAS, esses efeitos adversos podem ser severos, irreversíveis e potencialmente fatais, uma vez que são usadas doses 5-15 vezes maiores que as doses clínicas preconizadas, muitas vezes em preparações manipuladas sem qualquer controle sanitário e até mesmo indicadas para uso veterinário.

Os usuários de EAS acreditam que podem evitar tais efeitos colaterais indesejados ou maximizar os efeitos das drogas utilizando-as de maneiras que incluem: (a) ciclos: aplicações intercaladas com períodos variáveis de interrupção do uso; (b) associações: combinação de dois ou mais tipos diferentes de EAS; (c) pirâmides: aumento progressivo nas doses e/ou frequência de uso seguido de reduções graduais. 

Não há, obviamente, nenhuma evidência científica de que qualquer uma dessas práticas reduza as consequências nocivas do abuso dessas substâncias, sendo ainda mais preocupante a associação de EAS com outros agentes que elevam substancialmente o risco de efeitos adversos sérios para a saúde dos usuários.

Neste sentido, é comum o uso combinado de EAS com o hormônio do crescimento para potencializar o efeito anabólico, hormônio tiroidiano para acelerar o metabolismo, gonadotrofina coriônica humana para impedir e neutralizar a redução no tamanho testicular, inibidores da aromatase para evitar ginecomastia, inibidores da 5 α redutase para prevenir a acne e a calvície e diuréticos para evitar retenção hídrica.

Os efeitos colaterais do abuso com EAS incluem a supressão gonadal, infertilidade, ginecomastia, acne, calvície, hepatotoxicidade, perturbações psiquiátricas (comportamento agressivo e suicida, depressão, risco de crimes aumentado), dependência, abscessos cutâneos e musculares e lesões ortopédicas. Nas mulheres, além de vários desses eventos adversos, são comuns as manifestações de hiperandrogenismo que incluem hirsutismo, engrossamento da voz, clitoromegalia e alopecia androgênica. 

O abuso prévio de EAS é a causa mais frequente de hipogonadismo entre homens jovens, sendo responsável por 43% dos casos. Com o uso prolongado de EAS, ocorre redução do volume e afilamento do córtex cerebral e aumento nas dimensões do núcleo accumbens, lesões essas implicadas como substrato anatômico para o desenvolvimento de comportamentos de dependência de drogas. No sistema cardiovascular, o abuso prolongado de doses suprafisiológicas de EAS exerce efeitos deletérios na fibra miocárdica provocando apoptose e/ou hipertrofia e consequentemente hipertensão, disfunção diastólica e sistólica, arritmias e morte súbita. Além disso, os EAS promovem efeitos deletérios sobre fatores de risco para doença cardiovascular aterosclerótica, como elevação de LDL, redução de HDL, aumento da eritropoiese e da agregação plaquetária, hipercoagulabilidade, que resultam numa taxa de mortalidade três vezes maior entre os usuários de EAS.

Diante de todas essas evidências científicas e do grave problema de saúde pública relacionado a este tema, a SBEM vem através deste posicionamento cobrar atitudes urgentes das autoridades competentes, com a adoção de medidas mais efetivas no intuito de coibir e vedar o uso anti-ético, off label e ilegal de EAS, através da regulamentação e controle da prescrição médica dessas substâncias, preservando os tratamentos previstos para as indicações que são amplamente estabelecidos na literatura médica.

Assinam esse posicionamento:

Dr. César Luiz Boguszewski 
Presidente SBEM Biênio 2021/2022 

Dr. Paulo Augusto Carvalho de Miranda
Vice-Presidente SBEM Biênio 2021/2022

Dr. Alexandre Hohl
Presidente do Depto de End. Feminina, Andrologia e Transgeneridade

Dr. Clayton Luiz Dornelles Macedo
Presidente da Comissão de Endocrinologia do Exercício e Esporte 

Referências:
  1. Baggish AL, Weiner RB, Kanayama G, et al. Cardiovascular Toxicity of Illicit AnabolicAndrogenic Steroid Use. Circulation. 2017;135(21):1991–2002.
  2. Bates G, Van Hout MC, Teck JTW, McVeigh J. Treatments for people who use anabolic androgenic steroids: a scoping review. Harm Reduct J. 2019;16(1):75.
  3. Bertozzi G, Salerno M, Pomara C, Sessa F. Neuropsychiatric and Behavioral Involvementin AAS Abusers. A Literature Review. Medicina (Kaunas). 2019;55(7):396.
  4. Committee on Sports Medicine and Fitness. Use of Performance-Enhancing Substances. Pediatrics.2005;115(4):1103-1106.
  5. Conselho Federal de Medicina. Resolução n o 1999/2012. Diário Oficial da União. Seção 1, pag 139, 19 de outubro de 2012. Disponível em  https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2012/1999
  6. Coward RM, Rajanahally S, Kovac JR, Smith RP, Pastuszak AW, Lipshultz LI. Anabolic steroid induced hypogonadism in young men. J. Urol. 2013;190:2200–2205.
  7. Diário Oficial da União. LEI Nº 9.965, DE 27 DE ABRIL DE 2000. Restringe a venda de esteróides ou peptídeos anabolizantes e dá outras providências. Disponível em https://www.jusbrasil.com.br/diarios/DOU/2000/04/28. Acessado em 05 de fevereiro de 2020.
  8. Doleeb S, Kratz A, Salter M, Thohan V. Strong muscles, weak heart: testosteroneinduced cardiomyopathy. ESC Heart Fail. 2019;6(5):1000–1004.
  9. El Osta R, Almont T, Diligent C, Hubert N, Eschwège P, Hubert J. Anabolic steroids abuse and male infertility. Basic Clin Androl.2016;26:2.
  10. Goldman AL, Pope HG, Bhasin S. The Health Threat Posed by the Hidden Epidemic of Anabolic Steroid Use and Body Image Disorders Among Young Men. J Clin Endocrinol Metab. 2019;104(4):1069–1074.
  11. Handelsman DJ. Androgen Misuse and Abuse. Endocr Rev. 2021 Jul 16;42(4):457-501.
  12. Hope VD, Harris R, McVeigh J, Cullen KJ, Smith J, Parry JV, DeAngelis D, Ncube F. Risk of HIV and Hepatitis B and C Over Time Among Men Who Inject Image and Performance Enhancing Drugs in England and Wales: Results From Cross-Sectional Prevalence Surveys, 1992-2013. J Acquir Immune Defic Syndr. 2016;71(3):331–337.
  13. Horwitz H, Andersen JT, Dalhoff KP. Health consequences of androgenic anabolic steroid use. J Intern Med. 2019;285(3):333–340.
  14. Irwig MS, Fleseriu M, Jonklaas J, Tritos NA, Yuen KCJ, Correa R, Elhomsy G, Garla V, Jasim S, Soe K, Baldeweg SE, Boguszewski CL, Bancos I. Off-label use and misuse of testosterone, growth hormone, thyroid hormone, and adrenal supplements: risks and costs of a growing problem. Endocr Pract. 2020 Mar;26(3):340-353.
  15. Jampel JD, Murray SB, Griffiths S, Blashill AJ. Self-Perceived Weight and Anabolic Steroid Misuse Among US Adolescent Boys. J Adolesc Health. 2016;58(4):397–402.
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  17. Liu JD, Wu YQ. Anabolic-androgenic steroids and cardiovascular risk. Chin Med J (Engl). 2019;132(18):2229–2236.
  18. Long N, Bassi S, Pepito D, Akhondi H. Gerstmann syndrome complicating polycythemia secondary to anabolic steroid use. BMJ Case Rep. 2019;12(6):e229004.
  19. Macedo C. Fioretti AMB. O abuso de esteroides anabolizantes como um grande problema social e de saúde pública. Revista do DERC - Departamento de Ergometria, Exercício, Cardiologia Nuclear e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2020. doi:10.29327/22487.26.1-6.
  20. Maravelias C, Dona A, Stefanidou M, Spiliopoulou C. Adverse effects of anabolic steroids in athletes: a constant threat. Toxicol Lett.2005;158:167–75.
  21. Murray SB, Rieger E, Touyz SW, García YDLG. Muscle Dysmorphia and the DSM-V Conundrum: Where does it belong? A Review Paper. Int J Eat Disord, v. 43, n. 6, p. 483– 491, 2010.
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  26. Silva PRP. Prevalência do Uso de Agentes Anabólicos em Praticantes de Musculação de Porto Alegre. Arq Bras Endocrinol Metab, v. 51, n. 1, p. 104-110, 2007.
  27. Urtado CB. Prevalência e perfil da utilização de esteróides anabolizantes por praticantes de treinamento de força com idade entre 14 e 24 anos na cidade de Piracicaba. São Paulo, Brasil. 2014. 75f. Tese (Doutorado em Ciências). Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2014.
  28. Wadthaisong M, Witayavanitkul N, Bupha-Intr T, Wattanapermpool J, de Tombe PP. Chronic high-dose testosterone treatment: impact on rat cardiac contractile biology. Physiol Rep. 2019;7(14):e14192.
SBMEE

São Paulo, 19 de outubro de 2022

A Medicina do Exercício e do Esporte é uma especialidade médica que tem uma ampla área de atuação, indo desde os cuidados dispensados a atletas até a utilização do exercício físico, na população geral, como um instrumento de promoção da saúde, nos âmbitos preventivo, terapêutico e/ou de reabilitação.
Tendo em vista que a detecção do uso indevido dos chamados Esteroides Anabolizantes e Similares, no esporte, tem sido frequentemente divulgada na imprensa e, paralelamente, observando-se uma crescente discussão nas mídias sociais e diversos meios de comunicação, chegando, por vezes, ao estímulo à sua utilização por parte de diferentes tipos de praticantes de exercício físico, vindo especialmente de “personalidades” e influenciadores digitais, alguns deles, infelizmente, profissionais da saúde, a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) se vê na obrigação de fazer o presente posicionamento sobre esse importante assunto.

No esporte competitivo, é reconhecido que os efeitos dos EAS, visando melhoria de desempenho físico, de forma ilícita e antiética, ferem os princípios da competição justa e limpa, sendo o seu uso condenado pelas grandes entidades esportivas, internacionalmente, com o controle do doping, por parte dessas instituições, sendo continuamente ampliado e aperfeiçoado, trazendo com ele as consequentes punições. Essas, infelizmente, podem prejudicar e até interromper, por vezes, carreiras potencialmente promissoras de atletas, mas que acreditaram no sedutor caminho de seguir atalhos que pareceram mais fáceis. Isso sem contar os diversos efeitos adversos que podem advir desse uso, sobejamente conhecidos. 

O impacto dos EAS no organismo é multissistêmico. Não há níveis seguros e alguns dos efeitos deletérios surgem rapidamente. No cérebro, determinam alterações comportamentais, agressividade, insônia e, a médio prazo, dependência. O aumento de massa muscular vem acompanhado de fragilidade dos tendões com maior risco de ruptura ao exercício. Na mulher, causam o surgimento de pelos corporais (hirsutismo), mudança no timbre de voz, amenorreia, atrofia das mamas, acne e infertilidade. No homem, alopecia, atrofia dos testículos, infertilidade, ginecomastia e, eventualmente, disfunção erétil e perda da libido. Alterações metabólicas são comuns, com aumento de colesterol e triglicerídeos sendo as mais preocupantes, juntamente com aumento da pressão arterial, todos eles fatores de risco
cardiovascular. Hipertrofia ventricular também foi relatada e, resultando dessas alterações, há um risco aumentado de desfechos cardiovasculares. Os EAS têm toxicidade hepática e, embora a associação com câncer de fígado não seja confirmada, alterações funcionais são comuns. Osteopenia é outro efeito descrito, particularmente em homens

Obviamente, esses mesmos problemas atingem usuários de EAS entre esportistas recreativos, frequentadores de academias e assemelhados, cuja utilização se estende também para fins estéticos e sociais. Nessa população, estratégias com falsas “evidências científicas” e trazendo denominações com apelo mercadológico, que visam dar a falsa impressão de condutas médicas adequadamente embasadas, como “antienvelhecimento”, “modulação hormonal”, entre outras, não apresentam nenhum respaldo científico, não sendo procedimentos reconhecidos pelas principais sociedades de especialidades médicas, entre as quais a SBMEE, como também pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Além disso, preocupa a disseminação de justificativa, igualmente irresponsável, de que caberia ao médico assistente, seja de um usuário de EAS ou daquele paciente que decidiu iniciar seu uso, com as finalidades acima citadas (ou seja, sem nenhuma indicação verdadeiramente terapêutica), orientá-lo sobre a “melhor forma” de utilização para, com isso, “evitar ou reduzir seus potenciais malefícios”.

Analogamente, seria o mesmo que aceitar ser correto orientar/prescrever a um paciente a maneira “mais adequada” de ser um tabagista ou usar entorpecentes. Seja qual for a situação, tudo se resume a uma explícita infração da ética profissional, levando até a potenciais implicações criminais. 

Outro ponto que está despertando muita atenção da SBMEE é o crescente assédio a alunos de medicina, por parte de alguns maus “profissionais”, que se valem da formação ainda incipiente dos acadêmicos, nessa área, para seduzi-los a ingressar neste terreno arenoso, através de palestras, perfis, postagens e/ou lives na internet, a grande maioria disponível gratuitamente. 

Nessas ações, tentam passar a falsa impressão de que o uso de EAS, principalmente para fins estéticos, ganho de desempenho esportivo e/ou condicionamento físico é procedimento “lícito, bastando serem seguidas as evidências científicas atuais”, podendo ser também “seguro, se bem prescrito/orientado”, e com grande perspectiva de sucesso profissional e financeiro. Esse comportamento, guardadas as proporções, lembra o de traficantes de drogas indo às portas de escolas em busca de novos e jovens
usuários, além da tentativa de aliciamento de potenciais estimuladores/vendedores.

Diante da gravidade dessa situação, a SBMEE vem, através deste documento, reforçar que condena o uso de EAS sem a devida indicação clínica, conforme recomendações bem estabelecidas, com o devido embasamento científico, pelas sociedades médicas de especialidades envolvidas com sua prescrição, e pelo CFM.

Portanto, a SBMEE refuta e desaprova veementemente a prescrição dessas substâncias com fins estéticos ou para ganho de desempenho físico, prática contraindicada e proscrita pela nossa especialidade.

Referências:
  1. Conselho Federal de Medicina. Resolução no 1999/2012. Diário Oficial da União. Seção 1, pag 139, 19 de outubro de 2012 https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2012/1999
  2. Diagnosis and Management of Anabolic Androgenic Steroid Use. Bradley D. Anawalt.The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, Volume 104, Issue 7, July 2019, Pages 2490–2500. https://doi.org/10.1210/jc.2018-01882
Assinam esse posicionamento 

Ivan Pacheco 
Presidente SBMEE

Marcelo B.Leitão
Diretor Científico

Marcos Henrique F. Laraya
Presidente Passado

Fernando Carmelo Torres
Presidente Eleito


A Associação Brasileira de Nutrologia (ABRA) emitiu 2 posicionamentos relacionados ao tema.

O primeiro foi em 2018 e diz o seguinte:

A Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) vem a público esclarecer que a denominada “modulação hormonal” não faz parte do rol de procedimentos da especialidade médica NUTROLOGIA. Existem situações clínicas nas quais a correção hormonal se faz necessária para o restabelecimento das funções fisiológicas normais, procedimento este que deve ser realizado pelo médico competente. 

Recomendamos aos médicos e à população em geral que, ao se referirem ou procurarem por um nutrólogo, assim como qualquer outra especialidade médica, que certifiquem se o mesmo realmente possui o título de especialista, o que deve ser feito por consulta ao registro da especialidade do Conselho Federal de Medicina (CFM) *.

*https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_medicos&Itemid=59



Já em 2019 ela publicou em seu site o seguinte posicionamento:

A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA – ABRAN, representada neste ato nos moldes de seu Estatuto e, no uso de suas atribuições legais, vem a público informar para os devidos fins de direito que:

Considerando-se a importância da Medicina baseada em evidências e, neste interim, em consonância com os procedimentos médicos e diretrizes científicas da Especialidade Médica Nutrologia, a Associação Brasileira de Nutrologia – ABRAN, vem a público informar e esclarecer que, nas competências da especialidade médica Nutrologia, conforme próprio Estatuto desta Associação, NÃO ESTÃO PREVISTAS E NÃO FAZEM PARTE DO ROL DE PROCEDIMENTOS DESTA ESPECIALIDADE:

1- A prática denominada MEDICINA ORTOMOLECULAR;
2- A prática de MEDICINA ANTI AGING ou ANTIENVELHECIMENTO;
3- A prática de OZONIOTERAPIA;
4- A Terapêutica Médica por MODULAÇÃO HORMONAL;
5- A prescrição de esteroides e anabolizantes sem indicação médica RESPALDADA PELA LITERATURA CIÊNTICA;
6- A prática de soroterapia endovenosa para administração de nutrientes QUANDO NÃO HÁ DEFICIÊNCIA.

Era o que tínhamos a informar, estando certos da compreensão de todos os envolvidos, nos colocando sempre à disposição para maiores esclarecimentos e embasamentos científicos.

À Diretoria.

Catanduva – SP, 14 de Março de 2019.


E mais recentemente (2022) a ABRAN fez uma postagem em seu instagram ( https://www.instagram.com/p/CgP5iVkvBzb/ ) com os seguintes dizeres:



quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Não consegue tomar água ? Estratégias para melhorar a ingestão

Caso você NÃO goste de tomar água, fique sabendo que esse é um dos poucos hábitos que você terá que mudar mesmo sem gostar, isso se quiser manter uma boa saúde geral.

Acredite, estima-se que entre 10-20% dos pacientes que apresentam alguma queixa de cansaço e fadiga está associado a uma hidratação ruim. Uma boa parcela dos casos em que exista queixa da saúde e aspectos físicos da pele ou dos olhos, também está relacionado com o baixo consumo de água.

Portanto, se você não gosta de água, comece a mudar isso hoje! Coloque no seu despertador para se lembrar, mensure as quantidades em copos ou garrafas e observe a coloração da sua urina. Para auxiliar, você ainda pode:
  • Colocar frutas em uma garrafinha de água para saborizar e facilitar;
  • Utilizar alguns tipos de chás (camomila, erva-doce, hortelã, dentre outros);

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Curcumina oferece benefício adicional à intervenção no estilo de vida em pacientes com DHGNA?

As doenças cardiovasculares são as principais causas de morte em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), sendo ela a mais comum das doenças hepáticas, tendo prevalência de 25,4% e com os números crescendo. 

A DHGNA engloba espectros de condições como acúmulo excessivo de gordura no fígado (triglicerídeos) que podem variar de esteatose a esteato-hepatite, cirrose, fibrose, podendo evoluir para um carcinoma hepatocelular (CHC) e está fortemente associada a doenças crônicas como o diabetes mellitus tipo 2, síndrome metabólica, obesidade e doenças cardiovasculares.

  Dado aos efeitos hipoglicemiantes e ateroscleróticos positivos obtidos com uso de curcumina em pacientes com diabetes do tipo 2, pesquisadores questionam se esse uso seria benéfico também em pacientes com DHGNA. Foi então, conduzido um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado para avaliar se a suplementação de curcumina associada a modificação do estilo de vida teria efeitos benéficos nestes pacientes

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Estratégias para reduzir o consumo excessivo de doces

A avidez excessiva por doces é uma queixa muito frequente no consultório, a qual merece muita atenção pelo potencial de dificultar o alcance de bons resultados em médio e longo prazo.

Mas como evitar comer doces em excesso?

Primeiramente, é preciso saber qual o fator que leva a essa seletividade alimentar por doces. Alguns exemplos são:
  • Paladar infantilizado, que foi construído e carregado durante toda a infância até a fase adulta;
  • Comum também por questões psicológicas/psiquiátricas (ansiedade, depressão, tristeza, estresse), em que o consumo dos doces se torna um comportamento de compensação e fonte de prazer (vias cerebrais serotoninérgicas e dopaminérgicas);
  • Pelo simples fato de se conviver em um ambiente obesogênico, em que há disponibilidade de grande quantidade desses alimentos (comprados por conta própria ou por terceiros);
  • Desenvolvimento de hábitos de "comer transtornado", os quais podem ocorrer na infância, adolescência ou fase adulta. É comum em casos em que há proibições extremas e de forma brusca do consumo determinados alimentos, o que favorece o consumo "escondido" e/ou medo de novas restrições futuras, levando a ingestão excessiva.
  • Então, para evitar comer doces em excesso você precisa trabalhar todos esses fatores anteriores (nutrição comportamental com acompanhamento psicológico) e não restringir bruscamente.

A redução gradativa do consumo é uma boa estratégia, logo, se você come uma barra de chocolate por dia, reduza para 75% da barra e continue diminuindo gradativamente até alcançar uma quantidade que seja compatível com suas necessidades.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

terça-feira, 18 de outubro de 2022

O potencial efeito da suplementação de vitamina D na síndrome do intestino irritável

Sem clareza na patogênese, os profissionais da saúde enfrentam dificuldades para o estabelecimento de terapias adequadas para o tratamento dos sintomas da síndrome do intestino irritável (SII). Essa condição é caracterizada por sintomas como dor, inchaço e hábitos intestinais alterados que afetam a qualidade de vida do paciente.

Para melhorar esse cenário de dúvidas, pesquisadores têm questionado uma possível relação da SII com a deficiência de vitamina D. Sabe-se que a vitamina D é importante no metabolismo de minerais, como cálcio e fósforo, mas também apresenta capacidade anti-inflamatória e imunomoduladora que são relevantes no quadro clínico da SII.

Vale lembrar que essa vitamina também participa da manutenção de superfícies mucosas, como a barreira mucosa intestinal, logo, a deficiência de vitamina D apresenta sintomas gastrointestinais que podem ser causados por danos na mucosa. Em uma revisão sistemática e meta-análise, pesquisadores decidiram avaliar o efeito da suplementação de vitamina D sobre a gravidade dos sintomas e a qualidade de vida dos pacientes com SII.

A partir de 6 ensaios controlados randomizados com duração de 1,5 a 6 meses, pesquisadores encontraram um total de 616 participantes que foram diagnosticados com SII através dos critérios de Roma III ou IV. Desse total, 310 pacientes receberam suplementação de vitamina D (de 2.000 UI a 50.000 UI) e 306 receberam placebo.

Analisando esses estudos, não foram encontradas diferenças significativas, entre o placebo e a vitamina D, nos sintomas da SII que foram mensurados por um questionário que avalia gravidade da dor abdominal, frequência de dor, distensão abdominal, insatisfação com os hábitos intestinais e interferência na vida em geral. Também não foram observadas diferenças entre as doses, altas (50.000 UI) ou baixas (abaixo de 50.000 UI).

Porém, além de melhorar o status de vitamina D dos pacientes que receberam suplementação, essa estratégia favoreceu escores mais positivos de qualidade de vida na síndrome do intestino irritável. Esse escore inclui itens como ansiedade, imagem corporal, preocupação com a saúde, recusa alimentar, entre outras questões.

Dessa forma, a revisão destaca que ainda é preciso investigar mais a relação da vitamina D com a síndrome do intestino irritável. Mas, os pesquisadores ressaltam que, devido às suas características imunomoduladoras, essa vitamina pode impactar na saúde do sistema gastrointestinal melhorando a inflamação e reestabelecendo a funcionalidade do intestino.

Fatores psicológicos, como ansiedade e depressão, também são relatados por alguns pacientes antes do início da SII e geralmente essas condições estão associadas à deficiência de vitamina D. Sabendo disso, os autores dessa revisão também comentam que a suplementação de vitamina D pode melhorar sintomas depressivos e, consequentemente, influenciar a etiologia e a melhoria da qualidade de vida na SII.


Referência: Abuelazm M, Muhammad S, Gamal M, Labieb F, Amin MA, Abdelazeem B, Brašić JR. The Effect of Vitamin D Supplementation on the Severity of Symptoms and the Quality of Life in Irritable Bowel Syndrome Patients: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Nutrients. 2022 Jun 24;14(13):2618. doi: 10.3390/nu14132618. PMID: 35807798; PMCID: PMC9268238.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Já fez biomassa de banana verde?


Uma opção mais saudável para espessar molhos e cremes é a biomassa de banana verde. É usada também como substituta para farinha de trigo, não deixa cheiro nem gosto residual. Por ser muito rica em fibras, agrega valor nutricional às preparações.

Receita:
✔️Escolha 12 bananas (prata ou nanica) bem verdes e duras;
✔️Solte as bananas do cacho sem tirar os talos;
✔️Lave-as e reserve;
✔️Aqueça a água na panela de pressão, quando começar a ferver, adicione as bananas com a casca;
✔️Tampe a panela de pressão. Assim que pegar pressão, cozinhe por 10 minutos e desligue;
✔️Quando sair toda a pressão, pegue as bananas com ajuda de um pegador de macarrão ou pinça grande, transfira para uma tábua de corte e retire as cascas com cuidado para não queimar. (Fazer este processo com as bananas ainda quentes);
✔️Coloque as bananas sem a casca no liquidificador ou processador até formar um creme homogêneo. Se estiver muito duro, pode colocar um pouquinho da água do cozimento;
✔️Transfira para uma forma ou forminha de gelo e leve para geladeira até firmar. Eu prefiro fazer em forma. Unto com pouquinho de óleo, e depois de firme corto os pedaços como o da foto;
✔️Na geladeira dura cerca de 5 dias, congelada dura até 6 meses.
✔️Costumo cortar os pedaços em tamanho médio, armazeno em sacos plásticos e congelo. Assim fica mais fácil tirar só a porção que vai usar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

É caro emagrecer?


Há alguns meses conversei com colegas do movimento Nutrologia Brasil sobre um movimento paralelo chamado Nutrologia Para Todos (NPT). Com foco em desmistificar que a Nutrologia é elitizada e inacessível para a maioria das pessoas. 

A especialidade apesar de muitos terem interesse em deixá-la restrita à uma pequena parcela da população, deveria (pelo menos eticamente/moralmente falando) ser para todos, independente da classe social. Esbarramos em um grande percalço: preço de alimentos, suplementos e medicamentos. 

Infelizmente poucos ainda conseguem comprar uma variedade de alimentos in natura, de boa qualidade. Menos ainda são aqueles que conseguem ter acesso a suplementos e/ou medicamentos. E aí? Como ficaria o processo de emagrecimento de pessoas menos favorecidas economicamente?  Como eu faço no ambulatório de Obesidade no SUS? Quais estratégias que traçamos a fim de se alcançar um emagrecimento saudável, sustentável, não iatrogênico ?

Primeiramente, faz-se necessário esclarecer que uma das coisas que encarece o tratamento da obesidade é a multidisciplinaridade. A participação de uma equipe mínima composta por Médico, Nutricionista, Psicólogo, Profissional da Educação física gera obviamente melhor adesão e resultados. Mas na prática, para grande parte da população isso fica inacessível, até mesmo para a classe média. Existe um mundo ideal e temos o mundo real.


Alternativa 1: a básica
Passar em consulta com o médico para diagnóstico das comorbidades, bem como tratá-las. O Médico então direcionará para um nutricionista prescrever um plano alimentar. Isso consigo no SUS, já que temos uma equipe multidisciplinar. Pelo plano de saúde também consegue-se. 
Orientar a prática de exercício físico e atividade física. Mudança no estilo de vida. Se detectados fatores emocionais que fortemente influenciam no quadro, recomendar busca por psicoterapia. No SUS conseguimos, porém a psicoterapia não fica sendo semanal. Por planos de saúde também. 
Utilizar medicações on-label , eficazes e com poucos efeitos colaterais. 

Alternativa 2: a intermediária
Passar em consulta com o médico para diagnóstico das comorbidades, bem como tratá-las ou encaminhar para outros colegas. Direcionamento para o nutricionista para o planejamento de plano alimentar e retornando no mesmo mensalmente.
Orientar mudança no estilo de vida. 
Recomendar que o paciente procure um profissional da Educação física (personal ou academia) para receber a prescrição de um treinamento personalizado. Praticando o exercício pelo menos 3 vezes na semana.
Indicar Psicoterapia, já que na maioria das vezes, os fatores emocionais interferem no processo de emagrecimento. Frisando a necessidade dessa terapia ser no mínimo quinzenal
Utilizar medicações on-label , eficazes e com poucos efeitos colaterais. 

Alternativa 3: a ideal
Passar em consulta com o médico Nutrólogo ou Endocrinologista para diagnóstico das comorbidades, bem como tratá-las ou encaminhar para outros colegas. 
Iniciar acompanhamento quinzenal com Nutricionista, que adote um plano alimentar personalizado e que forneça estratégias nutricionais a fim de se alcançar sucesso no processo.
Orientar mudança no estilo de vida baseado nos pilares da chamada "Lifestyle Medicine", medicina do estilo de vida. Ou seja, técnicas da terapia cognitivo comportamental para aumentar a adesão do paciente ao tratamento e sustentar as mudanças no estilo de vida.
Recomendar que o paciente procure um profissional da Educação física (personal ou academia) para receber a prescrição de um treinamento personalizado. Praticando o exercício pelo menos 5 vezes na semana.
Indicar Psicoterapia, sendo que as sessões deverão ser realizadas semanalmente, afinal a fala pode ser terapêutica. Detectar gatilhos que impedem o sucesso no processo de emagrecimento, bem como implementar estratégias para evitá-los. 
Utilizar medicações on-label , eficazes e com poucos efeitos colaterais. 

Alternativa 3: a utópica
Passar em consulta mensal com o médico Nutrólogo ou Endocrinologista para verificar a adesão ao tratamento, bem como os resultados alcançados.
Manter acompanhamento quinzenal com Nutricionista.
Orientar mudança no estilo de vida baseado nos pilares da chamada "Lifestyle Medicine".
Manter acompanhamento diário com profissional da Educação física (personal).
Manutenção da Psicoterapia, duas vezes na semana. 
Ter um profissional para preparar todas as refeições prescritas pelo nutricionista. Que essas refeições sejam palatáveis, saborosas, variadas, nutricionalmente equilibradas. 
Contar com apoio de profissionais que trabalhem com técnicas de Mindful eating e profissionais que ensinem técnicas de manejo de estresse.
Utilizar medicações on-label , eficazes e com poucos efeitos colaterais. 

Tudo isso tem um custo e o fator custo faz muitos pacientes desistirem do tratamento. Infelizmente. 

Alimentação

Com a alta da inflação, alimentos mais protéicos estão custando cada vez mais caro e com isso a incorporação deles a uma dieta fica difícil. O preço de ultraprocessados é bem inferior e assim se tornam opção mais barata. O Governo não aumenta a tributação sobre ultraprocessados e nem reduz a que incide sobre alimentos in natura. 

Alternativas: sempre escolher alimentos in natura de produtores locais, respeitando a sazonalidade. Lembrar que alimentos protéicos devem ser incorporados ao café da manhã, almoço e jantar. Vegetais devem ser a base da nossa alimentação e se respeitarmos a sazonalidade, podemos adquirir alimentos com um preço reduzido. 

Prática de exercício físico

Se você não tem condições de pagar um personal, tente treinar em uma academia. Se também não tem condições de pagar uma academia nesse momento, opte por praticar exercícios em áreas públicas. Mas assegure-se que não está lesionando suas articulações. O Ideal é passar por um ortopedista antes, já que a obesidade pode gerar uma sobrecarga articular. Lembre-se, o efeito da prática de exercícios no emagrecimento é baixo. Mas promove saúde. Lembre-se também que tão importante quanto o exercício, é a atividade física que faz ao longo do dia. Portanto, mova-se. 

Psicoterapia

Os aspectos emocionais percebo que são os maiores sabotadores de um processo de emagrecimento. Por isso nas minhas aulas, coloco a psicoterapia como base no tratamento da obesidade. Esbarramos no fator custo. Temos no SUS? Sim, mas a fila é grande e geralmente são sessões mensais. Temos pelos planos de saúde? Sim e agora (2022) são sessões ilimitadas. Gosto de recomendar pelo menos semanal. Mas e se você não tem plano de saúde e não consegue pelo SUS? Há várias clínicas que tem serviço gratuito ou a preço social. Vale a pena procurar o Conselho Regional de Psicologia do seu estado e verificar.

Medicações antiobesidade

Infelizmente, ainda temos poucas medicações disponíveis para tratamento da obesidade no SUS. Na verdade depende de região para região. On-label (recomendação em bula) são poucas unidades federativas que disponibilizam Sibutramina e Orlistat. Por aqui, nenhuma dessas medicações estão disponíveis e aí sobram apenas antidepressivo que entram em tratamento off-label, exemplo Fluoxetina, Sertralina, Bupropiona ou anticonvulsivantes como o Topiramato. Porém, muitas vezes o SUS só libera a medicação para o tratamento on-label. Exemplo: bupropiona para cessar tabagismo. Topiramato para Enxaqueca... Ou seja, é complicado. Drogas mais modernas, como Semaglutida ou Liraglutida, acho que dificilmente serão incorporadas ao SUS, nos próximos anos. 

Discuta com o seu médico a opção que se adequa ao seu bolso. O paciente precisa ser transparente e informar o médico sobre limitações financeiras, para escolherem em comum acordo aquilo que poderá ser seguido. A relação precisa ser de confiança.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915