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sábado, 5 de março de 2011

Distância entre ânus e testículos é associada à fertilidade

Homens que têm a medida entre o ânus e a base do escroto menor do que a média (que é de 52 mm) sofrem risco sete vezes maior de infertilidade. O dado é de estudo publicado ontem no "Environmental Health Perspectives".

A distância, segundo a pesquisa, é ligada à contagem de esperma. Quando menor a distância, menor a contagem.

Essa descoberta oferece um método simples de teste, afirma Shanna Swan, da Universidade de Rochester, nos EUA, coautora do estudo. A pesquisadora afirma que o exame não é invasivo e seu resultado não é influenciado por estresse ou pelo clima, fatores que podem alterar a contagem de esperma.

Para chegar ao resultado, os pesquisadores tomaram medidas de 126 homens nascidos a partir de 1988.

O estudo não explica por que alguns homens têm essa distância menor. Mas pesquisas anteriores analisaram a ligação entre a exposição das grávidas a certos compostos químicos, os ftalatos, e o nascimento de meninos com medida anogenital menor.

Os ftalatos são usados em perfumes, xampus, plásticos e pesticidas. Nesses estudos, foi demonstrado que mulheres com níveis mais altos de ftalatos na urina tiveram um risco dez vezes maior de ter filhos com distância anogenital menor que a média.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/884891-distancia-entre-anus-e-testiculos-e-associada-a-fertilidade.shtml

Obs: Mais sobre Ftalatos nos seguintes posts:
Obs: Mais sobre Infertilidade e contaminantes ambientais nos seguintes posts:

quinta-feira, 3 de março de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Cansaço, fadiga e/ou fraqueza: queixa comum no consultório do Nutrólogo

Cansaço ou fadiga são sensações de exaustão ou perda de energia. Fraqueza via de regra significa Diminuição da força muscular ou necessidade de maior esforço para se locomover ou movimentar os músculos.

São queixas extremamente comuns no consultório de Nutrologia. Razão? Paciente sempre tende a pensar: estou fraco, pode ser falta de algum nutriente: vitamina, mineral. E na maioria das vezes, após realizarmos um inquérito alimentar, a gente detecta algumas deficiências pontuais. Muitas vezes a baixa ingestão de água pode ser a causa.

O intuito desse post é auxiliar médicos a pensarem em prováveis etiologias e ampliar o leque de possibilidades de diagnósticos diferenciais. 

Epidemiologia

A fadiga ou fraqueza não escolhem classe social e raramente os pacientes apresentam-nas como a principal queixa. 

Nos EUA é o 9º sintoma mais comum na atenção primária. Já um estudo no Reino Unido mostrou que entre 15.000 pessoas, 38% dos avaliados apresentavam sintoma de fadiga excessiva, sendo que 18% referiam que essa queixa já existia há mais de 6 meses.

Atinge mais mulheres que homens: 28% para 19%.

Apesar de ser um sintoma frequente, há poucos estudos, dada a dificuldade de se encontrar um diagnóstico. Essa imprecisão acaba prejudicando o estabelecimento de parâmetros (etiologias, fisiopatologia, critérios diagnósticos) que permitam a sua avaliação em estudos metodologicamente bem delineados.

O médico e fadiga

Embora sejam queixas que o paciente consideram importantes, uma parcela dos médicos rechaçam esses pacientes, justamente pela dificuldade de estabelecimento de um diagnóstico correto. Isso atrapalha a relação médico paciente. O paciente acredita que seja uma causa orgânica e os médicos na maioria das vezes podem achar que seja uma etiologia funcional. 

É importante diferenciar a Fadiga convencional da Síndrome da fadiga crônica (Encefalite miálgica). Tem post sobre ela aqui: https://www.ecologiamedica.net/2022/06/sindrome-da-fadiga-cronica.html

Abaixo um apanhado de causas de Fadiga e fraqueza muscular

  • Desidratação aguda ou crônica: <30ml/kg/dia de líquido
  • Desnutrição
  • Dietas restritivas: principalmente cetogênica e low carb mal elaborada
  • Sarcopenia
  • Obesidade
  • Obesidade sarcopênica
  • Baixa ingestão de qualquer um dos macronutrientes: Carboidratos, lipídios e proteínas
  • Deficiência de Ferro
  • Deficiência de Zinco
  • Deficiência de Magnésio
  • Deficiência Potássio
  • Deficiência de Fósforo
  • Deficiência de Tiamina
  • Deficiência de Riboflavina
  • Deficiência de Vitamina B12
  • Deficiência de Ácido fólico
  • Deficiência de Vitamina C
  • Deficiência de Vitamina D
  • Estresse crônico
  • Ansiedade
  • TDAH
  • Bipolaridade
  • Depressão
  • Insônia
  • Síndrome da Apnéia obstrutiva do sono
  • Síndrome de Burnout
  • Medo do desconhecido
  • Privação de sono
  • Medicações: quimioterapia, radioterapia, beta-bloqueadores, insulina, agonistas alfa 2 de ação central, anticolinérgicos, anti-histamínicos, antipsicóticos, antidepressivos, benzodiazepínicos.
  • Sedentarismo e Overtrainning
  • Anemias: Ferropriva, Megaloblástica, Falciforme, Talassemias
  • Neoplasias
  • Doenças endócrinas: Hipotireoidismo, Hipertireoidismo, Diabetes mellitus tipo 1 e 2, Hipogonadismo, Hipoglicemia, Síndrome da mulher atleta, Síndrome de cushing, Doença de Addison, Climatério
  • Doenças hepáticas: Insuficiência hepática, Hipertensão portal, Hepatites infecciosas, Hepatite autoimune
  • Doenças renais: Doença renal crônica
  • Doenças Pulmonares: Hipertensão pulmonar, Doença Pulmonar obstrutiva crônica, tabagismo
  • Doenças cardíacas: Insuficiência coronaria (cardiopatia isquêmica), insuficiência cardíaca, Valvulopatias, Arritmias cardíacas, Hipotensão, Sarcoidose
  • Doenças infecciosas: Hepatites, Doença de Lyme, HIV, Tuberculose, Covid e pós-covid, Parasitoses, Bacteremia oculta, Pós-chikungunya, Pós-zika, Pós-dengue, 
  • Intoxicação crônica por metais tóxicos: alumínio, chumbo, mercúrio, arsênico.
  • Síndrome da fadiga crônica: não existe fadiga adrenal!
  • Fibromialgia
  • Doenças autoimunes: Lúpus eritematoso sistêmico, Artrite reumatoide, Dermatopolimiosite, Doenças do tecido conjuntivo, Doença celíaca, Doença Bheçet
  • Doenças inflamatórias intestinais: Crohn e retocolite ulcerativa, Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO), Supercrescimento fúngico (SIFO).
  • Doenças neurológicas: Esclerose múltipla, ELA, Doença de parkinson, Miastenia Gravis, Doenças neuromusculares
  • Mitocondriopatias



Tabela com causas de Fadiga e Fraqueza muscular (clique para ampliar)

Autores: 
Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Dra. Vanessa Sinnott - CRM-RS 40069 - RQE 36789 - Médica especialista em Clínica Médica e Nutróloga 
Dra. Edite Magalhães - CRM-PE 23994 | RQE 9351 - Médica Nutróloga
Dr. Pedro Dal Bello - CRM-SP RQE - Médico Nutrólogo e Oncologista clínico
Dr. Alexandre Matos - CRM-BA - RQE - Médico Nutrólogo 
Dr. Pedro Paulo Prudente - CRM-GO - RQE - Médico especialista em Acupuntura e Medicina do esporte
Dra. Natalia Jatene - CRM-GO - RQE - Médica especialista em Clínica Médica e em Endocrinologia
Márcio Jose de Souza - Profissional da educação física e Nutricionista
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e profissional da educação física

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

II Consenso de recomendação do ácido docosaexaenoico (DHA) durante a gestação e a infância.

O DHA é parte da família dos ácidos graxos ômega-3. O ômega-3 junto com os ácidos graxos ômega-6 são as duas grandes famílias que compõem os ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs). Os principais elementos da família ômega-3 são os ácidos linoleico (ALA), os ácidos eicosapentaenóico (EPA) e DHA. 

O ALA é um ácido graxo essencial, ou seja, não é sintetizado pelo nosso organismo, e precisa ser adquirido através da alimentação. E serve de substrato para a síntese endógena de EPA e DHA. Entretanto essa síntese não é suficiente para fornecer toda a necessidade desses ácidos graxos, o que nos leva a considerar o DHA como ácido graxo semi essencial. 

Os ácidos graxos ômega-3 exercem um importante papel em várias funções biológicas do organismo. Nas crianças, está envolvido com o desenvolvimento neurológico e da retina. Durante a gestação está associado a desfechos como peso ao nascer, prematuridade e diabetes gestacional. Além das outras associações no risco cardiovascular e doenças degenerativas neurológicas. 

As principais fontes de DHA e EPA são peixes de origem marinha e algas, como salmão, atum, sardinha e manjuba. Alimentos de consumo abaixo do necessário pela população brasileira em decorrência de inúmeros fatores entre eles falta de orientação, altas taxas dos produtos e dificuldades de acesso pela população distante do litoral. 

A importância dos ácidos graxos para nosso organismo e a dificuldade de obtê-lo através da dieta brasileira, nos leva muitas vezes a necessidade de suplementação. E nesse contexto, o atual consenso avalia a necessidade e recomendação de suplementação durante o período gestacional. 

Na saúde da mulher, sabe-se da importância de níveis adequados de DHA para o processo da reprodução e concepção. E durante a gestação são nutrientes importantes para o desenvolvimento neurológico fetal, uma vez que representa 80% de todos os ácidos graxos do sistema nervoso central e retina. 

A última revisão da Cochrane endossa a importância do DHA na gestação. Com 70 ensaios clínicos randomizados e 19.927 indivíduos, o aumento da ingesta de ômega 3 reduziu em 11% o risco de parto pré-termo antes de 37 semanas (RR 0,89, IC 95% 0,81 – 0,97) e em 42% o risco de parto pré-termo antes de 34 semanas (RR 0,58, IC 95% 0,44 – 0,77). Nessa mesma revisão, encontrou-se um aumento no risco de pós datismo acima de 42 semanas (RR 1,61, IC 95% 1,11 – 2,33) e não mostrou associação com outros desfechos obstétricos como morte perinatal, pré-eclâmpsia e diabetes mellitus gestacional. 

Diante das informações na literatura médica até o presente, a ABRAN sumariza as seguintes conclusões e recomendações.

Conclusões da ABRAN
  • Consumo de DHA durante a gestação aumenta a cognição na prole. 
  • A suplementação de DHA durante a gestação pode ter um efeito positivo sobre o desenvolvimento cognitivo e visual do feto. Entretanto, o uso em larga escala apresenta resultados conflitantes e o uso em populações de alto risco para deficiência parece mais plausível. 
  • A concentração de DHA no leite materno é dependente do status nutricional da nutriz. 
  • Uma dieta balanceada em ômega-3 parece ser benéfica na infertilidade feminina, apesar da necessidade de maiores evidências. 

Recomendações da ABRAN
Os profissionais de saúde deveriam investigar a ingestão de DHA de seus pacientes, estabelecendo o status nutricional desse nutriente e o risco de deficiência. 
A suplementação de 2 a 4 g de EPA + DHA deve ser considerada como parte do tratamento de dislipidemias com valores sanguíneos de triglicerídeos acima de 500 mg/dl. 
A orientação nutricional para consumo de ômega-3 é de 3 porções de 120 g por semana. Entretanto tomando cuidado com as fontes de ômega-3, pelo risco de contaminação de peixes com metais pesados. 
Recomenda-se a ingestão de 200 mg de DHA durante a gestação e lactação. Considerando o baixo consumo no Brasil, recomenda-se a suplementação de 200 mg a todas as gestantes e lactantes.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Relatório explora os riscos mais graves que podemos enfrentar na próxima década

O que temer? O que poderá ocorrer na próxima década? 

O Relatório Global de Riscos 2023 mostra que o mundo enfrenta um conjunto de riscos que parecem totalmente novos e assustadoramente familiares.

Enquanto estamos à beira de uma era de baixo crescimento e baixa cooperação, trocas mais difíceis correm o risco de corroer a ação climática, o desenvolvimento humano e a resiliência futura.

Os primeiros anos desta década anunciaram um período particularmente perturbador na história da humanidade. O retorno a um “novo normal” após a pandemia do COVID-19 foi rapidamente interrompido pelo início da guerra na Ucrânia, inaugurando uma nova série de crises em alimentos e energia – desencadeando problemas que décadas de progresso procuravam resolver.

Quando 2023 começa, o mundo enfrenta um conjunto de riscos que parecem totalmente novos e assustadoramente familiares. Vimos um retorno de riscos “mais antigos” – inflação, crises de custo de vida, guerras comerciais, saídas de capital de mercados emergentes, agitação social generalizada, confronto geopolítico e o espectro da guerra nuclear – que poucos líderes empresariais e líderes de políticas públicas da geração experimentaram. 

Estes estão sendo amplificados por desenvolvimentos comparativamente novos no cenário de riscos globais, incluindo níveis insustentáveis de dívida, uma nova era de baixo crescimento, baixo investimento global e desglobalização, um declínio no desenvolvimento humano após décadas de progresso, desenvolvimento rápido e irrestrito do uso duplo (civil e militar) tecnologias, e a crescente pressão dos impactos e ambições das mudanças climáticas em uma janela cada vez menor para a transição para um mundo de 1,5 ° C. Juntos, eles estão convergindo para moldar uma década única, incerta e turbulenta pela próxima vez.

O Relatório Global de Riscos 2023 apresenta os resultados da mais recente Pesquisa Global de Percepção de Riscos (GRPS). Utilizamos três prazos para entender os riscos globais. O capítulo 1 considera o impacto crescente das crises atuais (ou seja,. riscos globais que já estão se desenrolando) sobre os riscos globais mais graves que muitos esperam que ocorram no curto prazo (dois anos). 

O capítulo 2 considera uma seleção de riscos que provavelmente serão mais graves a longo prazo (10 anos), explorando riscos econômicos, ambientais, sociais, geopolíticos e tecnológicos que podem se tornar as crises de amanhã. O capítulo 3 imagina a médio prazo futures, exploring how connections between the emerging risks outlined in previous sections may collectively evolve into a “polycrisis” centred around natural resource shortages by 2030. O report concludes by considering perceptions of the comparative state of preparedness for these risks and highlighting enablers to charting a course to a more resilient world. Below are key findings of the report.

O custo de vida domina os riscos globais nos próximos dois anos, enquanto o fracasso da ação climática domina a próxima década

A próxima década será caracterizada por crises ambientais e sociais, impulsionadas por tendências geopolíticas e econômicas subjacentes. “Crise do custo de vida” é classificado como o risco global mais grave nos próximos dois anos, atingindo o pico no curto prazo. “Perda de biodiversidade e colapso do ecossistema” é visto como um dos riscos globais que mais se deterioram na próxima década, e todos os seis riscos ambientais estão entre os 10 principais riscos nos próximos 10 anos. Nove riscos são apresentados nos 10 primeiros rankings, tanto a curto quanto a longo prazo, inclusive “Confronto geoeconômico” e “Erosão da coesão social e polarização social”, ao lado de dois novos participantes no ranking superior : “Cibercrime generalizado e insegurança cibernética” e “Migração involuntária em larga escala”.


Quando a era econômica terminar, a próxima trará mais riscos de estagnação, divergência e angústia
Os efeitos econômicos do COVID-19 e a guerra na Ucrânia deram início a uma inflação vertiginosa, uma rápida normalização das políticas monetárias e iniciaram uma era de baixo crescimento e baixo investimento.

Governos e bancos centrais podem enfrentar pressões inflacionárias teimosas nos próximos dois anos, principalmente devido ao potencial de uma guerra prolongada na Ucrânia, gargalos contínuos de uma pandemia persistente e guerra econômica que estimula a dissociação da cadeia de suprimentos. 

Os riscos negativos para as perspectivas econômicas também são grandes. Uma redução de impostos entre políticas monetárias e fiscais aumentará a probabilidade de choques de liquidez, sinalizando uma desaceleração econômica mais prolongada e um sofrimento da dívida em escala global. 

A inflação contínua impulsionada pela oferta pode levar à estagflação, cujas conseqüências socioeconômicas podem ser graves, dada uma interação sem precedentes com níveis historicamente altos de dívida pública. A fragmentação econômica global, as tensões geopolíticas e a reestruturação mais rochosa podem contribuir para o amplo sofrimento da dívida nos próximos 10 anos.

Mesmo que algumas economias experimentem um pouso econômico mais suave do que o esperado, o fim da era da baixa taxa de juros terá ramificações significativas para governos, empresas e indivíduos. Os efeitos indiretos serão sentidos de maneira mais aguda pelas partes mais vulneráveis da sociedade e pelos estados já frágeis, contribuindo para o aumento da pobreza, fome, protestos violentos, instabilidade política e até o colapso do Estado. 

As pressões econômicas também corroerão os ganhos obtidos pelas famílias de renda média, estimulando descontentamento, polarização política e exigindo proteções sociais aprimoradas em países do mundo. Os governos continuarão enfrentando um perigoso ato de equilíbrio entre proteger uma ampla faixa de cidadãos de uma crise prolongada de custo de vida sem incorporar a inflação – e cobrir os custos de serviço da dívida à medida que as receitas são pressionadas por uma crise econômica, uma transição cada vez mais urgente para novos sistemas de energia, e um ambiente geopolítico menos estável. 

A nova era econômica resultante pode ser uma crescente divergência entre países ricos e pobres e a primeira reversão no desenvolvimento humano em décadas.

A fragmentação geopolítica conduzirá a guerra geoeconômica e aumentará o risco de conflitos entre vários domínios

A guerra econômica está se tornando a norma, com crescentes confrontos entre potências globais e intervenção estatal nos mercados nos próximos dois anos. As políticas econômicas serão usadas defensivamente, para construir auto-suficiência e soberania a partir de poderes rivais, mas também serão cada vez mais implantadas ofensivamente para restringir a ascensão de outras pessoas. 

A armamento geoeconômico intensivo destacará as vulnerabilidades de segurança colocadas pela interdependência comercial, financeira e tecnológica entre economias globalmente integradas, arriscando um ciclo crescente de desconfiança e dissociação. À medida que a geopolítica supera a economia, um aumento de longo prazo na produção ineficiente e no aumento dos preços se torna mais provável. Pontos críticos geográficos críticos para o funcionamento efetivo do sistema financeiro e econômico global, em particular na Ásia-Pacífico, também representam uma preocupação crescente.
Os confrontos interestaduais são esperados pelos entrevistados do GRPS para permanecerem em grande parte de natureza econômica nos próximos 10 anos. 

No entanto, o recente aumento nos gastos militares e a proliferação de novas tecnologias para uma ampla gama de atores podem conduzir uma corrida armamentista global em tecnologias emergentes. O cenário de riscos globais de longo prazo pode ser definido por conflitos de vários domínios e guerra assimétrica, com a implantação direcionada de armas de nova tecnologia em uma escala potencialmente mais destrutiva do que a vista nas últimas décadas. 

Os mecanismos transnacionais de controle de armas devem se adaptar rapidamente a esse novo contexto de segurança, para fortalecer os custos morais, de reputação e políticos compartilhados que atuam como um impedimento à escalada acidental e intencional.

A tecnologia exacerbará as desigualdades, enquanto os riscos da segurança cibernética continuarão sendo uma preocupação constante

O setor de tecnologia estará entre os objetivos centrais de políticas industriais mais fortes e intervenção estatal aprimorada. Estimulados por auxílios estatais e gastos militares, bem como investimento privado, pesquisa e desenvolvimento em tecnologias emergentes continuarão em ritmo na próxima década, gerando avanços na IA, computação quântica e biotecnologia, entre outras tecnologias.

Para os países que podem pagar, essas tecnologias fornecerão soluções parciais para uma série de crises emergentes, desde o enfrentamento de novas ameaças à saúde e uma crise na capacidade de assistência médica, até a redução da segurança alimentar e da mitigação do clima. Para aqueles que não podem, a desigualdade e a divergência crescerão. Em todas as economias, essas tecnologias também trazem riscos, desde o aumento da desinformação e desinformação até a agitação incontrolável e rápida nos empregos de colarinho azul e branco.

No entanto, o rápido desenvolvimento e implantação de novas tecnologias, que geralmente vêm com protocolos limitados que governam seu uso, apresenta seu próprio conjunto de riscos. O crescente entrelaçamento de tecnologias com o funcionamento crítico das sociedades está expondo as populações a ameaças domésticas diretas, incluindo aquelas que buscam destruir o funcionamento social.

Juntamente com o aumento do crime cibernético, as tentativas de interromper os recursos e serviços críticos habilitados para tecnologia se tornarão mais comuns, com ataques previstos contra a agricultura e a água, sistemas financeiros, segurança pública, transporte, energia e infraestrutura de comunicação doméstica, espacial e submarina. Os riscos tecnológicos não se limitam apenas a atores desonestos. 

A análise sofisticada de conjuntos de dados maiores permitirá o uso indevido de informações pessoais por meio de mecanismos legais legítimos, enfraquecendo a soberania digital individual e o direito à privacidade, mesmo em regimes democráticos bem regulamentados.

Os esforços de mitigação climática e adaptação climática são estabelecidos para uma troca arriscada, enquanto a natureza entra em colapso.

Os riscos climáticos e ambientais são o foco principal das percepções de riscos globais na próxima década – e são os riscos pelos quais somos vistos como os menos preparados. A falta de progresso profundo e concertado nas metas de ação climática expôs a divergência entre o que é cientificamente necessário para atingir o zero líquido e o que é politicamente viável. As crescentes demandas por recursos do setor público e privado de outras crises reduzirão a velocidade e a escala dos esforços de mitigação nos próximos dois anos, juntamente com o progresso insuficiente em direção ao apoio à adaptação exigido para as comunidades e países cada vez mais afetados pelos impactos das mudanças climáticas.

À medida que as crises atuais desviam recursos dos riscos que surgem a médio e longo prazo, os encargos para os ecossistemas naturais crescerão, dado seu papel ainda subvalorizado na economia global e na saúde planetária geral. A perda de natureza e as mudanças climáticas estão intrinsecamente interligadas – uma falha em uma esfera entrará em cascata na outra. Sem mudanças ou investimentos políticos significativos, a interação entre os impactos das mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, a segurança alimentar e o consumo de recursos naturais acelerará o colapso do ecossistema, ameaçará o suprimento de alimentos e meios de subsistência em economias vulneráveis ao clima, amplificará os impactos de desastres naturais e limitará o progresso adicional na mitigação do clima.

Crises de alimentos, combustíveis e custos exacerbam a vulnerabilidade social, enquanto investimentos em declínio no desenvolvimento humano corroem a resiliência futura.

Crises agravantes estão ampliando seu impacto entre as sociedades, atingindo os meios de subsistência de uma parte muito mais ampla da população e desestabilizando mais economias do mundo do que comunidades tradicionalmente vulneráveis e estados frágeis. Com base nos riscos mais graves que devem impactar em 2023 – inclusive “Crise de fornecimento de energia”, “Inflação crescente” e “Crise do suprimento de alimentos” – um global Crise de custo de vida já está sendo sentido. 

Os impactos econômicos foram amortecidos pelos países que podem pagar, mas muitos países de baixa renda estão enfrentando várias crises: dívida, mudança climática e segurança alimentar. As pressões contínuas do lado da oferta correm o risco de transformar a atual crise de custo de vida em uma crise humanitária mais ampla nos próximos dois anos em muitos mercados dependentes de importação.

A agitação social associada e a instabilidade política não serão contidas nos mercados emergentes, pois as pressões econômicas continuam a ocultar a faixa de renda média. Aumentar a frustração dos cidadãos pelas perdas no desenvolvimento humano e pela diminuição da mobilidade social, juntamente com uma crescente lacuna de valores e igualdade, estão colocando um desafio existencial aos sistemas políticos em todo o mundo. A eleição de líderes menos centristas, bem como a polarização política entre superpotências econômicas nos próximos dois anos, também podem reduzir ainda mais o espaço para solução coletiva de problemas, fraturando alianças e levando a uma dinâmica mais volátil.

Com uma crise no financiamento do setor público e preocupações concorrentes de segurança, nossa capacidade de absorver o próximo choque global está diminuindo. Nos próximos 10 anos, menos países terão espaço fiscal para investir em crescimento futuro, tecnologias verdes, educação, assistência e sistemas de saúde. A lenta deterioração da infraestrutura e dos serviços públicos nos mercados em desenvolvimento e avançado pode ser relativamente sutil, mas acumular impactos será altamente corrosivo para a força do capital e do desenvolvimento humanos – um mitigante crítico para outros riscos globais enfrentados.

À medida que a volatilidade em vários domínios cresce em paralelo, o risco de policrises acelera
Choques simultâneos, riscos profundamente interconectados e resiliência erodida estão dando origem ao risco de policrises – onde crises díspares interagem de modo que o impacto geral exceda em muito a soma de cada parte. A erosão da cooperação geopolítica terá efeitos colaterais em todo o cenário de riscos globais no médio prazo, incluindo a contribuição para uma potencial policrise de riscos ambientais, geopolíticos e socioeconômicos inter-relacionados relacionados à oferta e demanda de recursos naturais. 

O relatório descreve quatro futuros em potencial centrados em alimentos, água e metais e escassez de minerais, os quais poderiam desencadear uma crise humanitária e ecológica – desde guerras e fomes pela água até a superexploração contínua de recursos ecológicos e uma desaceleração na mitigação e adaptação do clima . 

Dadas as relações incertas entre riscos globais, exercícios de previsão semelhantes podem ajudar a antecipar possíveis conexões, direcionando medidas de preparação para minimizar a escala e o escopo das policrises antes que elas surjam.

Nos próximos anos, como contínuas, as crises simultâneas incorporam mudanças estruturais no cenário econômico e geopolítico, aceleram os outros riscos que enfrentamos. Mais de quatro em cada cinco entrevistados do GRPS antecipam uma volatilidade consistente nos próximos dois anos, no mínimo, com vários choques acentuando trajetórias divergentes. No entanto, os entrevistados geralmente são mais otimistas a longo prazo. 

Pouco mais da metade dos entrevistados antecipa uma perspectiva negativa e quase um em cada cinco entrevistados prevê volatilidade limitada com estabilidade relativa – e potencialmente renovada – nos próximos 10 anos.

De fato, ainda existe uma janela para moldar um futuro mais seguro através de uma preparação mais eficaz. A abordagem da erosão da confiança em processos multilaterais aumentará nossa capacidade coletiva de prevenir e responder a crises transfronteiriças emergentes e fortalecer os corrimãos que temos para lidar com riscos bem estabelecidos. Além disso, alavancar a interconectividade entre riscos globais pode ampliar o impacto das atividades de mitigação de riscos – aumentar a resiliência em uma área pode ter um efeito multiplicador na preparação geral para outros riscos relacionados. 

Como uma perspectiva econômica em deterioração, traz trocas mais duras para os governos que enfrentam problemas sociais concorrentes, preocupações ambientais e de segurança, o investimento em resiliência deve se concentrar em soluções que abordem vários riscos, como o financiamento de medidas de adaptação que acompanham os co-benefícios da mitigação climática, ou investimento em áreas que fortalecem o capital e o desenvolvimento humanos.

Alguns dos riscos descritos no relatório deste ano estão próximos de um ponto de inflexão. Este é o momento de agir coletivamente, decisivamente e com uma lente de longo prazo para moldar um caminho para um mundo mais positivo, inclusivo e estável

Artigo completo em: https://www.ecodebate.com.br/2023/02/10/relatorio-explora-os-riscos-mais-graves-que-podemos-enfrentar-na-proxima-decada/

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A indústria do açúcar está matando você! Por Dr. Flavio Melo

Caros leitores,

O texto abaixo é de autoria de um amigo querido, o Dr. Flávio Melo. Apesar de discordar de alguns pontos, no geral a idéia é válida. Entendo a preocupação dele com relação ao maniqueísmo da indústria alimentícia, preocupação com a forma que ela conduz e dita a "ciência". Porém também não posso fechar os olhos para o lado comportamental da restrição ao consumo de açúcar e os seus impactos em alguns pacientes. Hoje li um texto bem interessante sobre o tema, de autoria da nutricionista Nathália Petry, que vale a pena ser lido:

Vamos direto ao ponto: se por um lado acredito que a restrição de qualquer nutriente é prejudicial pois favorece transtornos alimentares (principalmente compulsão alimentar e bulimia), de um outro lado enxergo a visão defendida pelo meu amigo.

A "vilanização" de alimentos não é algo saudável, já que a restrição a qualquer alimento pode alimentar um ciclo que favorece obesidade, sentimento de culpa, sensação de impotência, adoção de dietas mais restritivas. Com isso mais obesidade surge, já que a restrição não tem boa adesão a longo prazo. Entendem que é um ciclo? Que devemos focar em qualidade, quantidade e frequência no consumo de alimentos, nesse caso o açúcar. Mas quando se trata de uma população já doente ou predisposta a tentativa de inocentar o açúcar e carboidratos refinados podem falhar.

Vivemos uma epidemia de obesidade, síndrome metabólica, alterações metabólicas em magros como jamais foi vista na humanidade. A cada dia as crianças estão apresentando mais precocemente alterações metabólicas (Fígado gorduroso, resistência insulínica, hiperglicemia, hipertensão, hiperuricemia). Alterações estas muito improváveis para tal faixa etária. E o que mais assusta é que não são só crianças com obesidade que estão desenvolvendo isso. Cresce diariamente o número de crianças magras.

A gênese dessas alterações é multifatorial. Temos:
1) Padrão dietético: pobre em fibras, pobre em micronutrientes, rico em carboidratos refinados (e isso inclui açúcar).
2) Sedentarismo.
3) Polimorfismos genéticos que favorecem obesidade e transtornos metabólicos.
4) Poluentes ambientais que mimetizam nossos hormônios e que levam alterações metabólicas mesmo sem o consumo excessivo de açúcar (disruptores endócrinos), metais tóxicos, agrotóxicos.
5) Aspectos comportamentais: carência, solidão, insegurança, medo, sentimento de inferioridade, incompletude, ansiedade, depressão, transtorno bipolar.
6) Aspectos sociais: carga alta de trabalho, diminuição do tempo de lazer e tempo disponível para atividade física.

O fato é: como "liberar" só um pouquinho de açúcar diariamente para quem já apresenta alterações orgânicas que predispõe a diabetes e doenças metabólicas? Estamos sendo enganados pela indústria alimentícia com a idéia de que "um pouco pode" ou "não há correlação entre açúcar e obesidade/doenças metabólicas" ?

Essas são minhas considerações sobre o texto abaixo.

Dr. Frederico Lobo - Médico - CRM-GO 13192

A indústria do açúcar está matando você! Por Dr. Flavio Melo

Se você veio até aqui eu recomendaria que fosse até o final. Porque quero mostrar passo a passo a estratégia que a indústria alimentícia usa para enganar as pessoas e as empurrar para o abismo, de uma forma tão subliminar e sorrateira, que quando você perceber, já estará ostentando um stent no coração e uma caixa de remédios do tamanho de uma caixa de ferramentas.
Não é preciso ser nenhum especialista na área da saúde para enxergar que estamos vivendo uma epidemia crescente de obesidade, diabetes e todas as doenças correlatas no mundo inteiro e que o problema central é o que estamos comendo. E parece que escolher o que comer tem ficado cada vez mais difícil, porque cada dia pipoca na imprensa um estudo que nega o benefício de um alimento antes beatificado e outro que o recomenda como cura de todos os males.
Mas se tem algo que quase todos os profissionais de saúde e o público geral concordam é que estamos comendo açúcar, sal e gordura demais, nos alimentos ultraprocessados e que esse é um dos pontos centrais nessa epidemia de diabesidade, que é um termo novo e quase sempre indissociável.
Para a indústria alimentícia, o açúcar, o milho, o trigo e a soja são as minas de ouro inesgotáveis e o consumo de açúcar no mundo só cresce, ao mesmo tempo que aumenta a incidência de doenças cardíacas, diabetes e obesidade. Comemos cada vez mais açúcar, mas não porque estamos usando mais açúcar no café, chá ou na salada de frutas e sim porque o açúcar é adicionado e está escondido em cerca de 75% dos alimentos industrilizados e está em quantidades anormais em bebidas adoçadas e refrigerantes.
Não tem como fugir do açúcar, ele está sorrateiramente presente, em quantidades brutais, mesmo alimentos impensáveis, como molhos salgados, salsichas, bacon, bolachas, cereais e laticínios. A indústria descobriu maneiras de potencializar o consumo, através do que ficou conhecido como bliss point, que é a concentração otimizada de açúcar, sal e gordura no alimento industrializado, que estimula a sua palatabilidade ao ponto máximo. Não à toa, o marketing diz: é impossível comer um só!
Os problemas associados com essa estratégia fabril de alimentação e confinamento constante dos seres humanos, estão em todas as casas do mundo. Em praticamente todos os países, as taxas de sobrepeso, obesidade e diabetes estão crescendo de maneira exponencial e os custos dessas doenças no sistema de saúde só aumenta. Há especialistas que estimam a quebra do sistema de saúde americano em 2030, caso a população continue adoecendo no ritmo atual (75% com sobrepeso/obesidade e 30% diabéticos).
Se eu pegar os meus livros do tempo da faculdade, o diabetes tinha duas formas: o diabetes tipo 1, ou infanto juvenil, e o diabetes tipo 2, do adulto. Hoje, temos crianças de 6 anos de idade com diabetes tipo 2 e pela primeira vez na história recente do mundo, há possibilidade de que a atual geração viva menos que seus pais.
E não há dúvida que o chefe dessa quadrilha é o açúcar escondido. E que esse bandido vai te matar.

A reação ao redor do mundo.

A reação é crescente no mundo, não há mais como enfrentar o problema sem recomendar a diminuição do consumo do açúcar refinado/adicionado/escondido e dos alimentos ultraprocessados entupidos com ele, especialmente nas bebidas adoçadas, como refrigerantes, sucos e leites. Mas a influência da industria  e suas estratégias de publicidade e incentivo ao consumo são tão subliminares, que os países que estão tendo sucesso no combate à essa questão, só o conseguem banindo a publicidade infantil dos alimentos ultraprocessados e aumentando os impostos dos refrigerantes, a principal fonte de açúcar da dieta.
A industria bombardeia as crianças todos os dias.
A indústria convence cientistas de renome a participar de estudos de qualidade duvidosa e os faz espermer e escamotear números para enganar os jornalistas e impor suas manchetes. A imprensa é tomada pela informação duvidosa e quem a refuta, corre o risco de ser perseguido, como aconteceu na inglaterra com o cientista John Yudkin nos anos 70.
Essa semana, foi publicado um estudo em dos um periódicos médicos mais respeitados do mundo, o JAMA, jornal da associação americana de medicina, onde os autores conseguiram demonstrar, com acesso aos documentos internos da indústria do açúcar dos Estados Unidos, como sua influência oculta e seu financiamento da ciência, colocou sob o açúcar uma aura de anjo e tornou as gorduras as culpadas pelas doenças modernas.
No Brasil, nada disso é diferente e dia desses, me deparei no Facebook com uma postagem onde era exaltado o consumo “consciente” do açúcar. A luz vermelha acendeu em minha mente e já conhecendo as artimanhas da indústria, em pouco tempo já tinha desvendado o mistério da campanha Doce Equilíbrio.

O Raio-X do inimigo.

A partir de agora irei dissecar ponto a ponto a campanha e seu modo de fazer propaganda do demônio, para que ele pareça um anjo de candura e te empurre para o abismo do pré diabetes, depois diabetes, depois infarto e depois uma morte lenta, dolorosa e sofrida.
Matéria

PASSO 1

Use uma manchete que chame a atenção,  mesmo que  não corresponda aos verdadeiros dados da pesquisa. No final, vou mostrar porque essa manchete só serve para uma coisa: te enganar. A tática da indústria é espremer os dados, generalizar, para depois que for desmascarada, dizer que não é bem assim ou questionar a reputação de quem a contesta.
Matéria dois

PASSO 2

Use o nome de um prestigiado e sério instituto. A ver se há algum tipo de aporte financeiro à instituição, o que no mínimo já colocaria em questão os possíeis aspectos éticos e os conflitos de interesse do estudo e dos autores, que não estão claros.
Matéria 3

PASSO 3

 Já que não é possível diminuir a balança para um menor entrada de comida no seu corpo, a nova moda é colocar a culpa na sua falta de atividade física. Apesar da atividade física ser essencial para uma boa saúde, os estudos que avaliam o aumento dela, isoladamente, para perda de peso,  sem mudança alimentar, atestam sua falta de eficácia à longo prazo. Sem modificar a alimentação e consequentemente sem DIMINUIR o açúcar adicionado nos alimentos ultraprocessados na dieta, quase ninguém consegue recuperar a saúde e perder peso.
Parte 4

PASSO 4

 A afirmação do colega endocrinologista é perfeita, o sedentarismo pode ser considerado o novo tabagismo, porém, como coloquei anteriormente, querer colocar a culpa na sua preguiça, é esquecer que o açúcar adicionado, que está presente em 75% dos alimentos industrializados e CAUSA inatividade física, por alterações no centro executor/motor do cérebro, literalmente te prendendo no sofá, é ocultar o principal.
Você não consegue se exercitar porque é um desgraçado preguiçoso e sim porque a tua alimentação industrial te torna assim.
No final do texto, com os dados completos da pesquisa, mostrarei, matematicamente que a população do estudo é uma ínfima parte do conjunto da população brasileira, portanto o estudo não representa o indivíduo comum, como a manchete quer induzir você a concluir.
 Parte 5

PASSO 5

Obviamente, estamos carecas de saber que a obesidade é mutifatorial. Mas também é óbvio que estamos vivendo uma epidemia mundial de diabesidade e os estudos não patrocinados pela indústria, identificam no açúcar adicionado, consumido junto aos alimentos ultraprocessados, especialmente nas bebidas adoçadas, a causa de um ciclo vicioso de fome infinita (você sente isso), a desregulação metabólica e hormonal  basal, que leva à inflamação e resistência à insulina, ambas raízes das doenças metabólicas modernas.
Vou aqui entrar em alguns detalhes bioquímicos para você entender  que a afirmação acima que a sacarose não aumenta mais a glicemia do que outros carboidratos com quantidade equivalente é completamente irrelevante.
O açúcar refinado/adicionado/escondido tem calorias vazias, ou seja, não acrescenta absolutamente nada do ponto de vista nutricional para o indivíduo. Na verdade, açúcar não pode ser considerado comida, porque a definicação técnica de comida, segundo o dicionário Medical Free Dictionary, é: “um material que contém nutrientes essenciais, que são assimilados pelo organismo para produzir energia, estimular o crescimento e manter a vida”.
Acontece que para que o açúcar refinado/adicionado (sacarose tem uma molécula de glicose e uma de frutose ezero vitaminas ) produza energia, ele retira energia e nutrientes do organismo, tanto dos alimentos, quanto das reservas do próprio corpo. Para metabolização da glicose, o corpo necessita de vitaminas do complexo B, como a riboflavina, tiamina e niacina e além disso libera insulina em quantidades crescentes quanto maior o consumo, que além de causar acúmulo de gordura, causa fome. E fundamental, a glicose retira magnésio do corpo, pois o combustível celular, o ATP é uma molécula magnesiaa e para fazer o ATP com a glicose, o corpo necessita também de magnésio.
Para a metabolização da frutose no fígado é necessário o fosfato que é proveninente do ATP, a reserva de combustível das mitocôndrias. Então, para que a frutose gere energia, ela ocasiona um diminuição de energia celular. Além disso, o excesso de frutose, fato incontestável da alimentação com ultraprocessados e bebidas adoçadas, leva à estresse oxidativo, aumento do ácido úrico e inflamação, consequentemente dano à mitocôndria, nossa geradora de energia da célula, aos rins e aos vasos sanguíneos.
Resumindo: o açúcar adicionado/refinado só serve para te deixar um caco e você não consegue controlar o seu consumo.
Então, para um diabético, obviamente que a sacarose não aumenta a glicemia em quantidades equivalentes de glicose, simplesmente porque a sacarose tem frutose e glicose e a glicose é pura glicose! Mas a sacarose, pelo conteúdo de frutose, causa estresse metabólico e inflamação, aumenta a pressão arterial, o ácido úrico e como a própria indústria já propaga, é impossível comer uma só, você não consegue se controlar e com a queda de energia celular, o indivíduo precisa se reabastecer constantemente e o ciclo vicioso se fecha. Você não para de comer!
Parte 6

PASSO 6

Os dados da pesquisa tem um grau de evidência sofrível. Qualquer estudante secundarista poderia fazer esse estudo e este seria recusado por qualquer periódico sério do mundo. As pessoas sequer se lembram à noite do que comeram no café da manhã, imagine um questionário 24 horas depois. Além disso, como já disse, o problema não parece ser o açúcar do açucareiro, aquele que adoça o cafezinho e o chá, mas essencialmente o consumo do açúcar que está escondido nos alimentos processados e especialmente nos refrigerantes e bebidas adoçadas, e que você sequer tem noção que está consumindo.
Parte 7

PASSO 7

O Dr. Magnoni faz uma afirmação perfeita, se não estivéssemos lidando com um ingrediente que vicia! Isso, vicia! Colocar no rótulo da cerveja, beba com moderação, resolve? Será que dizer para o drogado, cheire cocaína com moderação, resolve? Com o açúcar vale a mesma máxima.
Vou traduzir aqui, ipsiliteris, a conclusão de um estudo publicado em Julho desse ano, em uma das mais prestigiadas revistas sobre diabetes do mundo, a Diabetes:
“Os achados de Jastreboff et al., que a glicose e frutose estimula o sistema estriatal mais em adolescentes com obesidade que em indivíduos magros, indicam que essas moléculas tem potencial adictivo e de habituação. Em vários casos a sacarose é consumida em bebidas adoçadas com açúcar que também contém cafeína (refrigerantes, cafezinho, por exemplo), uma droga que estimula o sistema nervoso central. Será de grande interesse descobrir se a cafeína adicionada com a glicose ou frutose, produz um efeito ainda mais profundo no sistema estriatal de adolescentes com obesidade.”
Como a maioria da população brasileira (63%), está acima de peso ou obesa, não precisa dizer onde vai dar esse papo da indústria de moderação com uma droga com potencial viciante como o açúcar. Não há como educar um drogado. A única maneira de evitar o consumo é fazer campanha CONTRA, TAXAR os alimentos que contém a substância para diminuição do consumo e impedir a publicidade infantil. Isso lembra você da campanha anti tabaco, não?
No começo, os especialistas isentões e os arautos da indústria diziam:
“Fume com moderação, fume com filtro, não deixe de aproveitar o charme do cigarro, ele é parte da nossa cultura.”
Deu no que deu. Com o açúcar, a mesma coisa.
Parte 7.1
Parece que ninguém toma refrigerante, suco de caixinha e leite com achocolatado, não? Será que havia uma pergunta específica sobre refrigerantes, já que esses são os principais responsáveis pelo consumo de açúcar na alimentação ocidental? Será que as pessoas beberiam refrigerantes se soubessem que há em uma lata toda a quantidade diária que uma criança, adolescente ou mulher deve consumir?
Parte 8

PASSO 8

Não é preciso ser nenhum gênio ou estudioso da saúde para saber que o açúcar faz parte da rotina do brasileiro. Ele está cada vez mais gordo, doente e diabético, hipertenso, com ácido úrico alto e colocando stents cada vez mais cedo exatamente por esse motivo. O açúcar e seus companheiros, sal e gordura trans, faz de você um glutão doente, para alegria de alguns mercadores da doença e lucros cada vez maiores da indústria da comida de mentira. E por último, você entendeu por tudo que eu escrevi, que não há possibilidade de controlar o consumo do açúcar refinado/adicionado consumindo açúcar. Você deve comer carboidratos, mas não precisa de forma alguma consumir açúcar.
Frequentemente, a frase mais usada pelos defensores do açúcar é que a glicose é o combustível essencial das células e eles te confundem porque a glicose, além de não necessitar ser provida pelo açúcar, pode ser produzida pelo organismo por diversas formas e não se constituiu em um nutriente essencial e indispensável da DIETA, mas sim das células.
Crianças com epilepsia de difícil controle são tratados com dieta cetogênica, que contém praticamentezero açúcar/glicose e além de não morrerem, muitos conseguem diminuir de forma significativa suas crises convulsivas, porque o seu cérebro usa o substrato da gordura para produzir corpos cetônicos, que fornecem 75% do combustível às células e as proteínas, através de um processo chamado gliconeogênese transformam aminoácidos em glicose. Os triglicerídeos, forma mais comum de armazenamento da gordura no organismo, também fornecem glicerol para as células.
De acordo com o  Conselho de Nutrição do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, o limite mínimo diário para ingestão de carboidratos compatível com a vida é aparentemente zero, desde que quantidades adequadas de proteínas e gorduras sejam consumidas. Resumo: qualquer um vive sem açúcar.
Não estou aqui pregando contra os carboidratos e dizendo que você não deve consumi-los. Populações do mundo com modo de vida não industrializado, como os Kitavas da Indonésia, consomem um dieta de alto carboidrato e não tem nenhuma das doenças modernas. Porém, estes não consomem açúcar adicionado/refinado e como você já entendeu, uma coisa é glicose, outra é frutose, outra é a presença destes na forma de sacarose ou isoladamente em alimentos inteiros, naturais, com fibras e vitaminas, como as frutas e outra é colocado em quantidades sobre humanas, na forma de xarope de milho de alta frutose em alimentos cheios de outros elementos nocivos e cujo consumo, você não consegue controlar.

E eles ainda insistiram em mais uma pesquisa furada…

Parte 09
Dificilmente alguém prestara atenção nisso, mas duas coisas me chamaram a atenção:
– A PESQUISA FOI ATRAVÉS DE UMA ENTREVISTA, OU SEJA, DO PONTO DE VISTA CIENTÍFICO E ESTATÍSTICO, TEM RELEVÂNCIA EXTREMAMENTE BAIXA.
– FAZENDO CONTAS BÁSICAS, VOCÊ ENTENDE QUE A MANCHETE FOI ENGANOSA. DOS 1.199 PACIENTES ENTREVISTADOS, 71% (851) CONSOMEM AÇÚCAR HABITUALMENTE, 30% (400) FAZEM ATIVIDADES FÍSICAS E DESTES, 67% (268) CONSOMEM AÇÚCAR. DOS 268 QUE CONSOMEM AÇÚCAR HABITUALMENTE E PRATICAM ATIVIDADE FÍSICA, 195 TEM O PESO NORMAL.
Então, do grupo estudado, somente 15%, consome açúcar habitualmente, pratica atividade física e tem peso normal. Se a pesquisa era para avaliar o efeito do consumo do açúcar em relação à indivíduos fisicamente ativos e com peso normal, esse grupo, no mínimo, deveria ter feito teste de tolerância à glicose, pois sabemos que independentemente do peso, o açúcar adicionado/refinado, em excesso, pode causar acúmulo de gordura abdominal (barriga de chope), inflamação e alterações metabólicas.
Além disso, vê-se que da população pesquisada, a grande maioria (1004), consome açúcar habitualmente, não se exercita e não está com peso normal, número até superior de indivíduos com sobrepeso e obesidade do que a população geral.  E na hora de fazer a manchete, além de não mencionar isso, dá a entender pra você que 73% da população geral consome açúcar e tem peso normal, mas na verdade é do grupo de pesquisados, que consomem açúcar habitualmente E fazem atividade física, tem peso normal, o que não necessariamente significa que tem saúde.
O pior é que pelo jeito a pesquisa não foi publicada em nenhum periódico de relevância, e não temos acesso aos dados completos, inclusive uma das informações mais importantes: qual o percentual da população do estudo que consome açúcar habitualmente e está acima do peso?
Porque aí, talvez a manchete mais honesta fosse: a maioria da população que consume açúcar habitualmente está acima do peso. E provavelmente, pelos dados relevantes da literatura, uma das coisas que precisamos orientar a população a fazer é diminuir o consumo dele e quem deve ser  primariamente responsável por isso é a indústria!
Resumindo, mágica com números para o interesse exclusivo de confundir, causando em você uma falsa sensação de segurança, induzindo a continuidade de consumo de algo que vicia e causa, na maioria das pessoas do mundo atual, comportamento de habituação, que está na maioria dos alimentos industriais e que você não consegue controlar a quantidade, enfim, te adoecendo e matando aos poucos.

Por fim, as duas cerejas do bolo…

parte 10
No site da campanha, tem uma opinião do especialista, onde o educador físico Márcio Atala, escreve o seguinte:“Temos que pensar que é possível consumir uma quantidade de açúcar, mesmo que acima da recomendada pela OMS, mas ainda fazer uma alimentação balanceada (é ou não é inacreditável?!) e ser uma pessoa saudável.”
Creio que não preciso comentar, por tudo o que já escrevi acima, você entende que essa afirmação é o mesmo que te convencer a pular de avião sem paraquedas pelo prazer de voar.
Mas aí, ficou a questão final: tudo tem cheiro de indústria, tem pegadas da industria, mas cadê a indústria do açúcar?
Aqui
Está lá, em um local quase imperceptível e inalcançável do site, sorrateiramente se escondendo, como o seu açúcar escondido, esperando que você caia na balela, para lentamente se adoecer e matar.
REFERÊNCIAS:
BRAY, GEORGE A. “IS SUGAR ADDICTIVE?.” DIABETES 65.7 (2016): 1797-1799.
BRINTON, ELIOT A. “THE TIME HAS COME TO FLAG AND REDUCE EXCESS FRUCTOSE INTAKE.” ATHEROSCLEROSIS (2016).
DINICOLANTONIO, JAMES J., AND AMY BERGER. “ADDED SUGARS DRIVE NUTRIENT AND ENERGY DEFICIT IN OBESITY: A NEW PARADIGM.” OPEN HEART 3.2 (2016): E000469.
JASTREBOFF, ANIA M., ET AL. “ALTERED BRAIN RESPONSE TO DRINKING GLUCOSE AND FRUCTOSE IN OBESE ADOLESCENTS.” DIABETES (2016): DB151216.
KEARNS CE, SCHMIDT LA, GLANTZ SA. SUGAR INDUSTRY AND CORONARY HEART DISEASE RESEARCH: A HISTORICAL ANALYSIS OF INTERNAL INDUSTRY DOCUMENTS. JAMA INTERN MED.PUBLISHED ONLINE SEPTEMBER 12, 2016.
LUSTIG, ROBERT H. “SICKENINGLY SWEET: DOES SUGAR CAUSE TYPE 2 DIABETES? YES.” CANADIAN JOURNAL OF DIABETES (2016).
MALIK, VASANTI S., ET AL. “SUGAR-SWEETENED BEVERAGES AND WEIGHT GAIN IN CHILDREN AND ADULTS: A SYSTEMATIC REVIEW AND META-ANALYSIS.” THE AMERICAN JOURNAL OF CLINICAL NUTRITION 98.4 (2013): 1084-1102.
PERLMUTTER, RICHARD. “LABELING SOLID FATS AND ADDED SUGARS AS EMPTY CALORIES.”JOURNAL OF THE AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION 111.2 (2011): 222-223.
REEDY, JILL, AND SUSAN M. KREBS-SMITH. “DIETARY SOURCES OF ENERGY, SOLID FATS, AND ADDED SUGARS AMONG CHILDREN AND ADOLESCENTS IN THE UNITED STATES.”JOURNAL OF THE AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION 110.10 (2010): 1477-1484.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. “GUIDELINE: SUGARS INTAKE FOR ADULTS AND CHILDREN.” (2015).
Autor: Dr. Flávio Melo - Médico pediatra, escritor e autor do site http://www.pediatradofuturo.com.br/.

Fonte: http://oindigesto.com/a-industria-do-acucar-esta-matando-voce/

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Pesquisadores entendem que a revisão do Código Florestal não tem sustentação científica

A revisão do Código Florestal brasileiro, em votação no Congresso Nacional, está provocando sérias preocupações na comunidade científica e suscitando diversas manifestações no Brasil e no exterior.

Com uma possível aprovação do relatório que propõe mudanças na legislação ambiental, o Brasil estaria “arriscado a sofrer seu mais grave retrocesso ambiental em meio século, com consequências críticas e irreversíveis que irão além das fronteiras do país”, segundo carta redigida por pesquisadores ligados ao Programa Biota-FAPESP e publicada na sexta-feira (16/7), na revista Science.

O texto é assinado por Jean Paul Metzger, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Thomas Lewinsohn, do Departamento de Biologia Animal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luciano Verdade e Luiz Antonio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP, Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, e Carlos Alfredo Joly, do Instituto de Biologia da Unicamp.


As novas regras, segundo eles, reduzirão a restauração obrigatória de vegetação nativa ilegalmente desmatada desde 1965. Com isso, “as emissões de dióxido de carbono poderão aumentar substancialmente” e, a partir de simples análises da relação espécies-área, é possível prever “a extinção de mais de 100 mil espécies, uma perda massiva que invalidará qualquer comprometimento com a conservação da biodiversidade”.

A comunidade científica, de acordo com o texto, foi “amplamente ignorada durante a elaboração” do relatório de revisão do Código Florestal. A mesma crítica foi apresentada em carta enviada por duas das principais instituições científicas do país, no dia 25 de junho, à Comissão Especial do Código Florestal Brasileiro na Câmara dos Deputados.

Assinada por Jacob Palis e Marco Antonio Raupp, respectivamente presidentes da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), a carta defende que o Código Florestal, embora passível de aperfeiçoamentos, é a “peça fundamental de uma legislação ambiental reconhecida com uma das mais modernas do mundo”.

A reformulação do código, segundo o texto, baseia-se na “premissa errônea de que não há mais área disponível para expansão da agricultura brasileira” e “não foi feita sob a égide de uma sólida base científica, pelo contrário, a maioria da comunidade científica não foi sequer consultada e a reformulação foi pautada muito mais em interesses unilaterais de determinados setores econômicos”.

Entre as consequências de uma aprovação da proposta de reformulação, a carta menciona um “aumento considerável na substituição de áreas naturais por áreas agrícolas em locais extremamente sensíveis”, a “aceleração da ocupação de áreas de risco em inúmeras cidades brasileiras”, o estímulo à “impunidade devido a ampla anistia proposta àqueles que cometeram crimes ambientais até passado recente”, um “decréscimo acentuado da biodiversidade, o aumento das emissões de carbono para a atmosfera” e o “aumento das perdas de solo por erosão com consequente assoreamento de corpos hídricos”.

No dia 16 de junho, as lideranças da Câmara dos Deputados também receberam carta do geógrafo e ambientalista Aziz Nacib Ab’Sáber – professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP –, que fez duras críticas ao relatório de reformulação da legislação.

Reconhecido como um dos principais conhecedores do bioma amazônico, Ab’Sáber defendeu que, “se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território”. Segundo o geógrafo, a proposta foi apresentada anteriormente ao Governo Federal, mas a resposta era de que se tratava de “uma ideia boa mas complexa e inoportuna”.

No documento, Ab’Sáber afirma que “as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusiva”. Segundo ele, “enquanto o mundo inteiro repugna para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico”.

Mudanças para pior

De acordo com Joly, que é coordenador do Biota-FAPESP, caso a reformulação seja aprovada, o Código Florestal mudará para pior em vários aspectos. “Essas manifestações da comunidade científica vão continuar, porque a situação é muito grave. Se essas mudanças forem aprovadas teremos um retrocesso de meio século na nossa legislação ambiental, com consequências profundamente negativas em diversas dimensões”, disse à Agência FAPESP.

Segundo ele, as mudanças terão impacto negativo sobre a conformação das Áreas de Proteção Permanente (APP) e Reservas Legais (RL) e sobre o funcionamento da regularização de propriedades em situação ilegal. Atualmente, explica, os proprietários que não possuem RL ou APPs preservadas estão sujeitos a multas caso se recusem a recuperar as áreas degradadas, ou quando realizarem desmatamento ilegal. Nessas condições, podem até mesmo ter sua produção embargada.

“Mas se a proposta de mudança for aprovada, os Estados terão cinco anos, após a aprovação da lei, para criar programas de regularização. Nesse período ninguém poderá ser multado e as multas já aplicadas serão suspensas. Aqueles que aderirem à regularização poderão ser dispensados definitivamente do pagamento de multas. Ficarão livres também da obrigação de recuperar as áreas ilegalmente desmatadas”, explicou.

Em relação às APPs, a legislação atual protege no mínimo 30 metros de extensão a partir das margens de rios, encostas íngremes, topos de morros e restingas. Quem desmatou é obrigado a recompor as matas.

Se a nova proposta for aprovada, a faixa mínima de proteção nas beiras de rios será reduzida a 15 metros. Topos de morro e áreas acima de 1.800 metros deixam de ser protegidas. As demais áreas, mesmo formalmente protegidas, poderão ser ocupadas por plantações, pastagens ou construções, caso tenham sido desmatadas até 2008 e forem consideradas “áreas consolidadas”.

“As principais candidatas a se tornar áreas consolidadas são justamente as áreas irregularmente ocupadas, que sofrem com enchentes, deslizamentos, assoreamento e seca de rios. Como não haverá recuperação e as ocupações permanecerão, essas áreas serão condenadas a conviver eternamente com esses problemas, perpetuando tragédias como as de Angra dos Reis, do Vale do Itajaí e Alagoas”, disse Joly.

No que diz respeito à RL, a lei atual impõe um mínimo de vegetação nativa em todas as propriedades: de 20% do tamanho dos imóveis situados em áreas de Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas e, na Amazônia Legal, 35% nas áreas de Cerrado e 80% nas de floresta. Quem não tem a área preservada precisa restaurar com espécies nativas ou compensar a falta de reserva no imóvel com o arrendamento de outra área preservada situada no mesmo bioma.

Com a nova proposta, as propriedades com até quatro módulos fiscais (20 a 440 hectares, dependendo da região do país) não precisam recuperar a área caso o desmatamento tenha ocorrido até a promulgação da lei. Nas demais propriedades será preciso recuperar a vegetação, mas o cálculo não será feito com base na área total do imóvel: a base de cálculo é a área que exceder quatro módulos fiscais.

Além disso, as compensações poderão ser feitas com áreas situadas a milhares de quilômetros da propriedade, desde que no mesmo bioma. O proprietário terá também a opção de fazer a compensação em dinheiro, com doação a um fundo para regularização de unidades de conservação.

“Como mais de 90% dos imóveis rurais têm até quatro módulos fiscais, boa parte deles concentrados no Sul e Sudeste, teremos grandes áreas do país em que simplesmente não haverá mais vegetação nativa, pois também são essas regiões que abrigam as maiores áreas de APPs com ocupação ‘consolidada’. Há ainda um grande risco de que propriedades maiores sejam artificialmente divididas nos cartórios para serem isentas da obrigação de recuperação”, destacou Joly.

A proposta de reformulação proíbe a fragmentação das propriedades. Mas, segundo Joly, a fiscalização e coibição é extremamente difícil e, por isso, a anistia não ficará restrita às pequenas propriedades. “Os poucos que forem obrigados a recompor áreas desmatadas poderão fazer isso com espécies exóticas em até metade da RL da propriedade, ou optar por arrendar áreas preservadas mais baratas em locais distantes, sem compensar efetivamente o impacto local”, disse.

Desproteção e impacto nas águas

Ricardo Ribeiro Rodrigues, que coordenou o programa Biota-FAPESP de 2004 a 2008, criticou o principal argumento para a defesa da reforma do Código Florestal: a alegação de que não existe mais área disponível para expansão da agricultura brasileira.

“O principal erro desse código novo é que ele não considera as áreas que foram disponibilizadas para a agricultura historicamente, mas que são de baixa aptidão agrícola e por isso são subutilizadas hoje, sem papel ambiental e com baixo rendimento econômico, como os pastos em alta declividade”, afirmou.

Segundo ele, o entorno das rodovias Dutra e D. Pedro, na região da Serra da Mantiqueira e Serra do Mar, são exemplos de áreas de uso agrícola inadequado que poderiam ser revertidas para florestas nativas, para compensação de RL de fazendas com elevada aptidão agrícola. “Se isso não for feito, essas áreas continuarão sendo mal utilizadas. Podemos encontrar exemplos semelhantes em todo o território brasileiro”, disse.

Outro impacto negativo da proposta de modificação do Código para a restauração, segundo Rodrigues, é a anistia proposta para as APPs irregulares. “Quem degradou as APPs não vai precisar recuperar e, pior, poderá continuar usando a área desmatada. Quem preservou vai ser punido”, explicou.

Segundo ele, um inventário produzido pelo Biota-FAPESP este ano mostra que mais de 70% dos remanescentes florestais no Brasil estão fora das Unidades de Conservação e se localizam em propriedades privadas. “Se não tivermos mecanismos legais para a conservação dessas áreas – como a RL e APP do código atual – elas vão ser degradadas depois da moratória de cinco anos determinada na proposta de alteração do Código”, afirmou.

A reformulação do Código Florestal deverá diminuir a eficiência dos mecanismos legais de proteção ambiental. Uma das consequências mais graves será o impacto na qualidade da água. De acordo com José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia, de São Carlos (SP), com o solo mais exposto, haverá um aumento da erosão e do assoreamento de corpos d’água, além da contaminação de rios com fertilizantes e agrotóxicos.

“A preservação de mosaicos de vegetação, florestas ripárias – ou matas ciliares – e de áreas alagadas é fundamental para a manutenção da qualidade da água de rios, lagos e represas. Essa vegetação garante a capacidade dos sistemas para regular o transporte de nutrientes e o escoamento de metais e poluentes. Esses processos atingem tanto as águas superficiais como as subterrâneas”, disse à Agência FAPESP.

O processo de recarga dos aquíferos, segundo Tundisi, também depende muito da cobertura vegetal. A vegetação retém a água que, posteriormente, é absorvida pelos corpos d’água subterrâneos. Com o desmatamento, essa água escoa superficialmente e os aquíferos secam.

Tundisi criticou também a diminuição da delimitação das áreas preservadas em torno de rios. “Essa delimitação de faixas marginais é sempre artificial, seja qual for a metragem. Não é possível estabelecer de forma geral uma área de preservação de 15 metros dos dois lados do leito dos rios pequenos. Seria preciso delimitar caso a caso, porque a necessidade de preservação varia de acordo com a ecologia do entorno e os padrões de inundação do sistema. A delimitação deve ter caráter ecológico e não se basear em metragens”, ressaltou.

A modificação na legislação, para Tundisi, vai na contramão das necessidades de preservação ambiental. “Seria preciso preservar o máximo possível as bacias hidrográficas. Mas o projeto prevê até mesmo o cultivo em várzeas, o que é um desastre completo. Enquanto existem movimentos mundiais para a preservação de várzeas, nós corremos o risco de ir na contramão”, afirmou.

Para Tundisi, com o impacto que provocará nos corpos d’água, a aprovação da modificação no Código Florestal prejudicará gravemente o próprio agronegócio. “Se não mantivermos as áreas de proteção, a qualidade da água será afetada e não haverá disponibilidade de recursos hídricos para o agronegócio. Fazer um projeto de expansão do agronegócio às custas da biodiversidade é uma atitude suicida”, disse.

A agricultura deverá ser prejudicada também com o aumento do preço da água. “Trata-se de algo cientificamente consolidado: o custo do tratamento da água aumenta à medida que diminui a proteção aos mananciais”, disse o cientista.
Argumentação desmontada

Luiz Antonio Martinelli, pesquisador do Cena-USP e professor convidado da Universidade de Stanford, afirma que o Código Florestal, criado em 1965, de fato tem pontos que necessitam de revisão, em especial no que diz respeito aos pequenos agricultores, cujas propriedades eventualmente são pequenas demais para comportar a presença das APPs e a RL.

“Mas, qualquer que seja a reformulação, ela deve ter uma base científica sólida. Essa foi a grande falha da modificação proposta, que teve o objetivo político específico de destruir ‘empecilhos’ ambientais à expansão da fronteira agrícola a qualquer custo”, disse Martinelli.

Segundo ele, o argumento central da proposta de reformulação foi construído a partir de um “relatório cientificamente incorreto encomendado diretamente pelo Ministério da Agricultura a um pesquisador ligado a uma instituição brasileira de pesquisa”.

“O relatório concluía que não haveria área suficiente para a expansão agrícola no país, caso a legislação ambiental vigente fosse cumprida ao pé da letra. O documento, no entanto, foi produzido de forma tão errônea que alguns pesquisadores envolvidos em sua elaboração se negaram a assiná-lo”, apontou.

O principal argumento para as reformas, segundo o pesquisador, baseia-se na alegação de que há um estrangulamento da expansão de terras agrícolas, supostamente bloqueado pelas APPs e RL. Para os proponentes da mudança, esses mecanismos de proteção ambiental tornam a legislação atual excessivamente rigorosa, bloqueando o avanço do agronegócio. Esse bloqueio, no entanto, não existe, afirma. “A falácia desse argumento foi cientificamente demonstrada.”

Martinelli cita estudo coordenado por Gerd Sparovek, pesquisador da Esalq-USP, que usou sensoriamento remoto para concluir que a área cultivada no Brasil poderá ser praticamente dobrada se as áreas hoje ocupadas com pecuária de baixa produtividade forem realocadas para o cultivo agrícola.

“Melhorando a eficiência da pecuária em outras áreas por meio de técnicas já conhecidas e de baixo custo, não há qualquer necessidade de avançar sobre a vegetação natural protegida pelo Código Florestal atual”, disse.

As pastagens ocupam hoje, segundo Martinelli, cerca de 200 milhões de hectares, com aproximadamente 190 milhões de cabeças de gado. “Caso dobremos a produção de uma para duas cabeças de gado, liberamos cerca de 100 milhões de hectares. A área ocupada pelas três maiores culturas – soja, milho e cana – cobrem uma área aproximada de 45 milhões de hectares. Portanto, com medidas simples de manejo poderemos devolver para a agricultura uma área equivalente ao dobro ocupado pelas três maiores culturas brasileiras”, afirmou.

A operação não seria tão simples, segundo o pesquisador, já que envolve questões de preço da terra e mercado agrícola, por exemplo. Mas a aproximação dá uma ideia de como é possível gerar terras agriculturáveis sem derrubar nenhuma árvore.

Para o pesquisador do Cena-USP, a maior parte das reformulações propostas tem o único propósito de aumentar a área agrícola a baixo custo. “O mais paradoxal é que as mudanças beneficiam muito mais os proprietários de grandes extensões de terra do que pequenos produtores”, disse.

Martinelli afirmou ainda que não acredita que as mudanças no Código Florestal possam beneficiar o desenvolvimento da produção de alimentos no Brasil. Segundo ele, se houvesse preocupação real com a produção de alimentos, o governo deveria ampliar e facilitar o crédito aos pequenos produtores, investir em infraestrutura – como estradas e armazenamento – para auxiliar o escoamento desses produtos e, principalmente, investir maciçamente em pesquisas que beneficiassem essas culturas visando a aumentar sua produtividade.

“Quem sabe com um aumento considerável na produtividade os pequenos agricultores pudessem manter suas áreas de preservação permanente e suas áreas de reserva legal, gerando vários serviços ambientais que são fundamentais para a agricultura”, disse.

Novos debates

No dia 7 de julho, a SBPC reuniu em sua sede em São Paulo um grupo de cientistas ligados à temática do meio ambiente para iniciar uma análise aprofundada sobre o assunto, do ponto de vista econômico, ambiental e científico.

O evento teve a participação de Raupp, Ab’Sáber, Joly, Martinelli, Rodrigues, além de Ladislau Skorupa, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Carlos Afonso Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e João de Deus Medeiros, do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Os cientistas formaram um grupo de trabalho para emitir pareceres sobre as mudanças do Código Florestal. Na Reunião Anual da SBPC, que será realizada em Natal (RN) entre 25 e 30 de julho, uma mesa-redonda discutirá o tema.

Outra reunião, prevista para a segunda quinzena de agosto, deverá sistematizar todas as sugestões do grupo em um documento a ser divulgado nos meios de comunicação e encaminhado aos congressistas.

No dia 3 de agosto, o programa BIOTA-FAPESP realizará o evento técnico-científico “Impactos potenciais das alterações do Código Florestal Brasileiro na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos”. Na oportunidade, especialistas farão uma avaliação dos possíveis impactos que as alterações do Código terão sobre grupos taxonômicos específicos (vertebrados e alguns grupos de invertebrados), bem como em termos de formações (Mata Atlântica e Cerrado) e de serviços ecossistêmicos (como ciclos biogeoquímicos e manutenção de populações de polinizadores). Além de reforçar a base cientifica sobre a importância das APP e de RL para conservação da biodiversidade, o evento visa a subsidiar a ABC e a SBPC no posicionamento sobre essa temática.

Reportagem de Fábio de Castro, da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 20/07/2010

FONTE: http://www.ecodebate.com.br/2010/07/20/pesquisadores-entendem-que-a-revisao-do-codigo-florestal-nao-tem-sustentacao-cientifica/

Para assistir entrevista com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, clique no link: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/2010/12/07/ruralistas-tentam-acelerar-votacao-do-codigo-florestal-alerta-marina-silva-em-cancun.jhtm