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sexta-feira, 7 de junho de 2024

Semaglutida e redução do consumo de álcool


Desde que o Rodrigo Lamonier (o nutricionista que fica dentro do consultório me acompanhando) começou a trabalhar comigo em 2018, constatamos que existem 3 grandes vilões no processo de emagrecimento:

1) Álcool
2) Gorduras ocultas
3) Baixa ingestão de proteína

Já escrevemos sobre álcool aqui, estratégias de redução de danos, efeitos dele sobre a saúde humana, recomendações de doses "seguras". Mas esse post tem como objetivo relatar algo interessante que percebemos desde que comecei a prescrever a Semaglutida (Ozempic, Wegovy) para alguns pacientes.

1 grama de álcool fornece 7kcal. A maioria dos pacientes homens ingerem bebida alcóolica final de semana e perdem "a mão" na quantidade. Acaba ingerindo na sexta, sábado, domingo. Por mais que tenhamos essa política de redução de danos, intercalando cerveja com álcool/cerveja sem álcool/água, alguns acabam ingerindo cerca de 1000 a 1500kcal de cerveja por dia de final da semana, ou seja, sexta, sábado e domingo. Ou seja, prejudica totalmente o processo de emagrecimento, por mais que durante a semana o paciente siga 100% do plano alimentar.


Quando surgiu a semaglutida, acreditávamos que ela teria efeito no controle da glicemia, ações no hormônio intestinal GLP-1 e promoveria redução do apetite e saciedade. Porém, não sabíamos do efeito que ela teria em "craving" por álcool.  Isso tem sido demonstrado em alguns estudos e percebi que na prática realmente ocorre, já que o gargalo no processo de emagrecimento (para alguns) é o álcool principalmente final de semana. Ou seja, sem o consumo de álcool ou redução drástica, os pacientes sustentam a restrição calórica e com isso o processo de emagrecimento anda. 

Um estudo publicado em 28 de maio na Nature Communications, examinou os registros eletrônicos de saúde de quase 84.000 pacientes com obesidade com uma idade média de 51 anos. Nesse trabalho os pacientes receberam análogo de GLP-1 como semaglutida  e naltrexona (Vivitrol), que são projetados para controlar a obesidade e diabetes tipo 2 interagindo com a parte da fome do cérebro para suprimir o apetite e reduzir o açúcar no sangue e a hemoglobina glicada.

Os pesquisadores descobriram que aqueles tratados com semaglutida mostraram uma diminuição de 50% a 56% no risco de transtorno de uso de álcool e a recorrência do mesmo, em comparação com outros medicamentos GLP-1; a equipe replicou o estudo usando 600.000 pacientes com diabetes tipo 2 e encontrou resultados semelhantes.


Embora os pesquisadores não tenham certeza do porquê a semaglutida pode afetar o consumo uso de álcool, acreditam que ela interaja com o sistema de dopamina no cérebro, que está envolvido no sistema de recompensas do consumo de alimentos e álcool, e faz com que os pacientes não anseiem mais por álcool. Que é o que é relatado no consultório. 

Os análogos de GLP-1s também mediam as respostas ao estresse, então os pesquisadores também acreditam que a semaglutida pode atuar como um amortecedor para o consumo de álcool relacionado ao estresse.

Embora ele acredite que mais pesquisas devam ser realizadas, Rong Xu, pesquisador principal do estudo e professor de informática biomédica na Case Western Reserve University School of Medicine, disse que os resultados são “notícias muito promissoras, na medida em que podemos ter um novo método terapêutico para tratar a AUD (Alcohol user disorder ou Transtorno de uso do álcool)". 

Com o desfecho positivo, ou seja, o paciente tendo perda de peso no processo de emagrecimento, temos um reforço daquilo que citei no começo do texto: o álcool é um vilão no processo de emagrecimento. Seria ingenuidade acreditar que o paciente abandonará o uso de álcool pois, o consumo é um fator de sociabilização. Pro isso tentamos promover redução de danos. Com a semaglutida isso é mais fácil. 

Textos publicados aqui no blog sobre consumo de álcool:

Minimizando os danos do álcool no processo de emagrecimento

Calorias do vinho e ganho de peso

O que é "melhor": gin ou cerveja ?

Existe cerveja que engorda menos ?

Calorias das cervejas e o processo de emagrecimento

Ingerir qualquer quantidade de álcool não é seguro para a saúde cerebral e pode causar danos ao cérebro

Até mesmo uma bebida alcoólica por dia pode aumentar o risco de derrame, diz estudo

Álcool: até o consumo moderado aumenta o risco de câncer, de acordo com estudo

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica e Nutróloga

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Troquei o arroz branco pelo integral, isso vai me ajudar a emagrecer mais rápido?

Você provavelmente já deve ter sido orientado (a) a substituir o arroz branco da sua dieta pelo arroz integral e, inclusive, essa orientação é acompanhada da afirmação de que essa troca é altamente eficaz para você conseguir emagrecer. 

Mas, será que essa orientação é válida e o arroz integral, consumido em quantidades semelhantes ao branco, é mesmo capaz de favorecer o emagrecimento?

A resposta é: NÃO! Com relação a quantidade de CALORIAS por porção, substituir o arroz branco pelo arroz integral NÃO faz muita diferença no processo de emagrecimento, já que ambos os tipos possuem cerca de 120-130kcal a cada 100g. Ou seja, a densidade calórica é semelhante e se o consumo do arroz integral não proporcionar melhores respostas nas suas escolhas alimentares ao longo do dia, é bem provável que os resultados de emagrecimento não mudem muito.

Contudo, é importante ressaltar que o arroz integral tem uma característica nutricional superior ao arroz branco, apresentando uma maior quantidade de fibras, minerais e vitaminas por porção ingerida. Ou seja, ele pode ter um efeito superior, quando comparado ao  branco, nos quesitos de controle glicêmico do paciente ("níveis de açúcar no sangue"), perfil lipídico (colesterol, triglicérides), regularização do funcionamento intestinal e na percepção de saciedade do indivíduo (menor consumo e maior sensação de saciedade).

E devido a esses possíveis efeitos, ele pode sim ser um coadjuvante no processo de emagrecimento. Mas o mais importante é o seu efeito frente ao quadro metabólico do paciente como um todo, podendo melhorar alguns parâmetros que estão associados com maior mortalidade (perfil lipídico/glicêmico). E se consumir o arroz integral como substituto ao branco te proporciona maior saciedade ao longo do dia, é possível que você melhore suas escolhas alimentares e diminua o consumo calórico total diário, consequentemente, perdendo mais peso em médio/longo prazo.

Sendo assim, vale muito a pena inserir o arroz integral no seu cardápio, pelo menos alguns dias da semana, principalmente se você possui uma baixa ingestão de fibras ao longo do dia.

Autores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351 

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Treinei hoje, em quanto tempo vou começar a ver resultado?


Você com certeza já ouviu a frase de que "a pressa é inimiga da perfeição" e, atualmente, a ansiedade e a vontade de se alcançar resultados rápidos são os grandes vilões da evolução clínica positiva das pessoas (com relação à saúde em geral e composição corporal).

A evolução decorrente da prática de exercícios físicos leva tempo, principalmente se o foco principal for a composição corporal (perda de gordura e ganho de massa muscular). E para ver resultados de forma mais nítida, é provável que no primeiro mês você já perceba uma melhora significativa na sua disposição, sono, mobilidade, força muscular e resistência relacionada ao desempenho aeróbio.

Já com relação à massa muscular e gordura corporal, visualmente, as mudanças são mais visíveis a partir ali do terceiro mês, em que o volume e a intensidade da prática de exercícios já estão evoluindo.

Mas tem um ponto extremamente importante, a prática de exercícios trará inúmeros benefícios relacionados a sua saúde como um todo, inclusive que citei um pouco mais acima. Porém, se você quiser ver realmente a mudança na sua composição corporal relacionada à gordura, tenha plena certeza que sua alimentação deverá estar nutricionalmente adequada e com um déficit calórico presente.

Autor: Dr. Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416


domingo, 20 de agosto de 2023

Minimizando os danos do álcool no processo de emagrecimento


Na nossa consulta sempre perguntamos sobre a ingestão de álcool, quantidade e frequência de consumo. Não obstante, os pacientes sempre se surpreendem quando explicamos que 1g de álcool possui 7kcal. Ou seja, são calorias vazias, que vão atrapalhar de forma indireta o emagrecimento, reduzir alguns nutrientes do corpo e reduzir os níveis de testosterona. 

Aí perguntamos para vocês: será que a grande maioria conseguirá se abster de algo que é cultural, que favorece a socialização? Não ingerimos álcool, não estimulamos o consumo, mas somos bem realista com relação à nossa realidade. 

As pessoas não vão parar de beber, sejamos realistas. Alguns sim, enxergam malefícios do álcool, mas a grande maioria não. Ou seja, aqui entra a política de redução de danos.

Existe uma diferença gritante entre o mundo ideal da Medicina e o nosso mundo real. Sempre frisamos isso para os pacientes no consultório, pois isso é causa de muito sofrimento psíquico para alguns indivíduos mais rígidos. 

Alguns leitores falarão que há pesquisas mostrando os benefícios do álcool. Sim, há trabalhos mostrando que o consumo moderado de álcool pode ter impacto positivo na saúde. Eu acredito que há bastante vieses nesses estudos. Alguns trabalhos afirmam que o álcool tem:
1) Efeito na prevenção de Infarto agudo do miocárdio (IAM): por atuar no metabolismo das lipoproteínas, aumentando o percentual de HDL. 
2) Ação antitrombótica: inibindo a agregação de plaquetas, reduzindo o fibrinogênio e melhorando a fibrinólise.
3) Ação no mecanismo de ação da insulina: melhorando o metabolismo de carboidratos.
4) Aumento do estradiol o que de forma indireta eleva o HDL

Mas o que seria consumo moderado de álcool:
30 a 40g de álcool por dia para Homens
15 a 20g de álcool por dia para Mulheres
Em média 0,102g/kg/hora (variando de 0,070-0,185)

Traduzindo: 1 long Neck/dia para Mulheres e 2 Long Necks/dia para Homens. 
O teor alcoólico deve ser considerado quando optar-se por ingerir bebida alcoólica. 
Por exemplo:
Cerveja 5% de teor alcoólico
Champanhe 11,5%
Vinho 12%
Licor 20%
Vodca 37,5%
Whisky 40%

Deve-se levar em conta também que para uma mesma qualidade de álcool, a absorção pelo organismo é menor quando proveniente da cerveja do que quando oriundo de bebidas destiladas. 

Então sabe aquela cervejinha do happy hour? Ela pode ser um "problema" se o seu objetivo for perder peso. Além dos efeitos nocivos que o álcool em excesso traz ao organismo, a grande tolerância que parte das pessoas têm em beber grandes volumes resulta em uma ingestão significativa de calorias.
 
Por exemplo:
1 cerveja long neck comum (355ml) tem aproximadamente 170kcal. 
Vamos supor que você decida aproveitar para tomar 10 unidades para passar o tempo. 
Só nessas 10 unidades você já vai ingerir 1700kcal. Agora acrescente nessa conta alguns petiscos. Aí a situação já dá uma "baqueada" e a perda de peso então... 
 
Mas, será que existe cerveja que engorda menos?
 
Avaliamos várias marcas dos produtos COMUNS com álcool, inclusive aquela "verdinha" que o pessoal fala que engorda menos. A faixa de calorias de todas as cervejas comuns estão na média de 120 a 180 kcal por long neck. 
 
Por outro lado, cervejas do tipo "light" OU sem álcool, possuem entre 100 e 130 calorias por long neck, o que acaba não sendo uma "solução" ideal.
 
Logo, mesmo tendo essas diferenças calóricas mínimas entre as bebidas, não vejo que haja uma cerveja que engorde MENOS.
 
"Ah, mas então eu preciso parar totalmente de beber para perder peso?" Não necessariamente, mas é preciso que esse volume calórico seja considerado no cálculo do seu plano alimentar, para que seja realizada uma redução gradativa do volume e da frequência em que se bebe, principalmente quando as quantidades ingeridas são MUITO excessivas.
 
Viu só? Não precisa parar de beber 100% para conseguir perder peso, mas sim adequar a frequência e quantidade que essa "gelada" será consumida.
 
Uma outra estratégia é o intercalamento entre tipos de cerveja
 
Exemplo: 10 copos de cerveja (300ml cada = 130kcal) totaliza em 1.300Kcal. Se adotarmos uma política de redução de danos, a pessoa ingeriria: 6 copos de cerveja (300ml cada = 780cal) + 4 cervejas zero álcool (1 litro = 420kcal). O Álcool apresenta a segunda maior densidade calórica, 1 grama de álcool fornece 7kcal. 1 grama de gordura fornece 9kcal. Ao passo que 1grama de carboidratos ou proteínas fornecem 4kcal. 
 
Sendo assim, quando você bebe álcool, as duas variáveis mais importantes são:
1) Frequência (número de vezes que você beberá) e;
2) Volume (quantidade de bebida que você ingerirá). 
 
Outra estratégia é o intercalamento com copos de água, pois o álcool por si só, tem ação inibindo o ADH (hormônio antidiurético = que inibe que você urina). Ou seja, além de estar bebendo líquido (o que por si só já estimula a diurese = fazer xixi) há também a ação na inibição do hormônio.

Resultado: você fará mais xixi e se desidratará. Portanto, intercale com 1 copo de água (200ml) a cada 200ml de álcool. 
 
Por último é importante lembrar que o álcool pode causar hipoglicemia. Então consuma carboidratos enquanto estiver bebendo. A ingestão alimentar em conjunto, tende a reduzir o volume de álcool ingerido. Se está em um churrasco: vinagrete, arroz ou mandioca ou pão com alho, tropeiro sem bacon/torresmo/linguiça, salada. 
 
Autores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

[Conteúdo exclusivo para médicos e Nutricionistas] - Tratamento dietético da obesidade

 


segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Como pouco e mesmo assim estou engordando, por que?

Você acha que o volume de alimentos que ingere não está condizente com o ganho de peso dos últimos anos? Veja esse vídeo e observe se seus hábitos alimentares estão realmente adequados! 

sábado, 15 de julho de 2023

Será que a Berberina é um Ozempic natural?

Esqueça as afirmações do TikTok: “Ozempic Natural” não existe, dizem especialistas

Se acreditarmos nos influenciadores do TikTok, o composto à base de plantas chamado berberina pode ser um substituto para medicamentos populares para diabetes e perda de peso, como Ozempic e Wegovy.

O uso da berberina como suplemento tornou-se tão recorrente, na verdade, que foi apelidado de “Ozempic Natural” pelos usuários de mídia social. Alguns fabricantes estão pulando na tendência.

“A berberina se tornou minha nova melhor amiga porque tem me ajudado na perda de peso”, disse uma influenciadora, acrescentando que um dos fabricantes do suplemento de ervas está oferecendo a ela – e a alguns de seus telespectadores – o suprimento para um ano

Alguns especialistas médicos com quem a CNN conversou, no entanto, tinham preocupações sobre o uso deste suplemento não regulamentado.

Como um extrato de plantas como goldenseal, bérberis e várias papoulas, a berberina é considerada um suplemento dietético pela Food and Drug Administration, agência dos Estados Unidos semelhante à Anvisa, e, portanto, é regulamentada como alimento, não como medicamento.

“Esse é o problema com a berberina e todas essas substâncias à base de plantas – elas normalmente não são rigorosamente estudadas em grandes ensaios clínicos randomizados pelos quais submetemos drogas reais. Portanto, você deve ter muito cuidado”, disse a Dra. Caroline Apovian, professora de medicina na Harvard Medical School e codiretora do Centro de Controle de Peso e Bem-Estar do Brigham and Women’s Hospital em Boston.

“Quanto a ser o Ozempic da natureza, não há evidências que sugiram que isso seja verdade”, acrescentou Apovian, que foi o principal autor das diretrizes de prática clínica da Endocrine Society para o tratamento farmacológico da obesidade.

O efeito de perda de peso da berberina é significativo?

Isso não significa que a erva não tenha nenhum impacto nos sistemas metabólicos do corpo.

Uma meta-análise agrupada de vários pequenos estudos clínicos sobre o impacto da berberina nos fatores de risco cardiovascular, incluindo obesidade, encontrou um benefício de perda de peso muito pequeno, mas estatisticamente significativo.

“Mas a significância estatística não significa clinicamente significativo”, disse o Dr. Justin Ryder, pesquisador de obesidade pediátrica e professor associado de cirurgia e pediatria na Feinberg School of Medicine da Northwestern University, em Chicago.

“O que quero dizer com isso? Em média, entre os estudos, a resposta combinada foi de cerca de 0,25 redução no índice de massa corporal ou IMC em comparação com o placebo”, disse.

O índice de massa corporal é uma medida da gordura corporal de uma pessoa com base na altura e no peso.

“Para Ozempic e Wegovy, a diminuição do IMC em comparação com o placebo foi de 4,61 unidades de IMC, ou 18 vezes mais eficaz do que a berberina, acrescentou Ryder.

“Então, a berberina tem efeito? Os dados sugerem que sim. O efeito é significativo? Provavelmente não.”

História da berberina

Algumas das cerca de 500 espécies diferentes de plantas que pertencem ao gênio Berberis têm sido usadas há séculos no Ayurveda e na medicina tradicional chinesa para combater inflamações e curar feridas, curar constipação e hemorróidas e combater infecções do ouvido, olho, boca e aparelho digestivo.

“Faz parte do arsenal de ervas usadas pelos médicos naturopatas”, disse o Dr. Joshua Levitt, um médico naturopata em Hamden, Connecticut.

“Quando se trata de controle glicêmico e regulação do colesterol e outros lipídios e usos antimicrobianos, há algumas coisas legais a serem feitas com ervas e nutrientes.”

Na verdade, a biblioteca do imperador assírio Ashurbanipal tem tabuletas de argila que datam de 650 aC, afirmando que o fruto picante da planta bérberis era usado como agente purificador do sangue.

“Geralmente é usado em sua forma de extrato de planta inteira – folhas, raízes, casca, tudo transformado em uma tintura em pó ou algo assim”, disse Levitt.

Os cientistas conseguiram extrair a berberina como ingrediente ativo nessas plantas há mais de 100 anos, disse ele, e começaram a estudar o composto para problemas metabólicos como colesterol, diabetes e obesidade.

A berberina pode aumentar a produção natural do corpo de GLP-1, ou peptídeo 1 semelhante ao glucagon, um hormônio gastrointestinal usado no Ozempic e em outros novos medicamentos para perda de peso.

É assim que o composto “se encaixa nessa discussão. No entanto, em termos de benefícios de perda de peso, eles são modestos na melhor das hipóteses”, disse ele.

Possíveis efeitos colaterais da berberina

A berberina pode ter efeitos colaterais quando misturada com outros medicamentos, incluindo o medicamento metformina, frequentemente prescrito para pessoas com diabetes e síndrome do ovário policístico e, mais recentemente, para perda de peso.

“A metformina reduz o açúcar no sangue e a berberina reduz o açúcar no sangue”, disse Levitt.

“E se você tomar dois itens que reduzem o açúcar no sangue ao mesmo tempo, pode ter um problema como hipoglicemia excessiva, quando o açúcar no sangue cai.”

Além disso, a berberina é “diretamente antimicrobiana”, que era seu uso mais comum na medicina herbal histórica, Levitt disse: “Os efeitos antimicrobianos podem irritar o trato GI, a menos que uma pessoa tenha um crescimento excessivo de insetos ruins podem causar problemas digestivos”.

A berberina pode ser perigosa se tomada com ciclosporina, um medicamento imunossupressor usado para tratar a rejeição de órgãos pós-transplante, pois pode aumentar os efeitos desse medicamento e possíveis efeitos colaterais.

Outra interação conhecida é com medicamentos sedativos, pois a berberina pode causar sonolência adicional e respiração lenta, de acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina.

Além disso, a berberina não deve ser tomada durante a gravidez ou amamentação.

“A berberina pode atravessar a placenta e causar danos ao feto. Kernicterus, um tipo de dano cerebral, se desenvolveu em recém-nascidos expostos à berberina”, observa a Biblioteca Nacional de Medicina em seu site.

Por esses motivos, é importante consultar seu médico primeiro se estiver pensando em tomar berberina ou qualquer outro suplemento não regulamentado.

Apesar da pesquisa que investiga o impacto potencial da erva na diabetes, colesterol alto e doenças cardíacas, o FDA “ainda não aprovou a berberina para qualquer prescrição ou uso de medicamentos sem receita e enviou avisos de violação a empresas que fizeram reivindicações de medicamentos em seus sites”, de acordo com a American Chemical Society.

sábado, 10 de junho de 2023

Por que "sigo" a dieta e não emagreço?

Recentemente uma afilhada (Dra. Helena Bacha - residente de Nutrologia da USP) fez uma postagem excelente, mostrando algumas das razões para a ausência de emagrecimento em alguns pacientes. Abaixo as imagens. Complemento com um post meu e do Rodrigo Lamonier (o nutricionista que atende comigo).

Vamos falar de como uma alimentação equilibrada pode ajudar não só na sua saúde, mas também no processo de perda de peso!

O foco não deve ser só nas calorias, mas também na qualidade desses nutrientes! 🍓🥬🌽🍌🍇🥗🌾🐟

Lembrando também que quando falamos em "peso corporal" estamos incluindo aí a composição corporal. Um mesmo peso pode ter diferentes composições corporais! Perder peso não significa necessariamente perder gordura - porém isso é assunto para outro post hehe 🤭

📚 Referências bibliográficas (algumas já estão citadas nas imagens do post):

1. Calder PC, Ahluwalia N, et al. Dietary factors and low-grade inflammation in relation to overweight and obesity. Br J Nutr. 2011 Dec;106 Suppl 3:S5-78.

2. Thaler JP, Schwartz MW. Minireview: Inflammation and obesity pathogenesis: the hypothalamus heats up. Endocrinology. 2010 Sep;151(9):4109-15.

3. Kawai T, Autieri MV, Scalia R. Adipose tissue inflammation and metabolic dysfunction in obesity. Am J Physiol Cell Physiol. 2021 Mar 1;320(3):C375-C391.

4. Galland, Leo. "Diet and inflammation." Nutrition in Clinical Practice 25.6 (2010): 634-640.

5. Canada’s Dietary Guidelinesfor Health Professionals and Policy Makers, January 2019.

6. Slavin JL. Dietary fiber and body weight. Nutrition. 2005 Mar;21(3):411-8.

7. Davis CD. The Gut Microbiome and Its Role in Obesity. Nutr Today. 2016 Jul-Aug;51(4):167-174

8. Texto do blog Dr. Frederico Lobo. Disponível em: https://www.ecologiamedica.net/2022/09/existe-dieta-antiinflamatoria.html?m=1&fbclid=PAAaZxKJhgtzDUKRRIFN08O6_TKWzKl_rjdTMyRBruRq48kXjsM5YdNdxTWlo

























Engordou sem motivo aparente? Não consegue emagrecer mesmo fazendo atividade física e dieta? 

Veja 5 motivos que podem estar provocando o aumento de peso

1. TALVEZ VOCÊ NÃO DURMA O SUFICIENTE

A privação do sono pode favorecer o ganho de peso, ou seja, quem não dorme direito:

1) Produz mais cortisol (que engorda por estimular a diferenciação de pré-adipócitos em adipócitos);
2) Produz menos leptina (hormônio relacionado à saciedade e que também facilita o gasto de energia pelo organismo);
3) Produz mais grelina (substância responsável por estimular o apetite e aumentar  a avidez por alimentos ricos e carboidrato e gordura);

Além disso, a privação do sono pode gerar estresse, irritabilidade, aumento da incidência de doenças cardiovasculares, labilidade emocional, indisposição e fadiga no dia seguinte. Portanto qualidade de sono é igual Qualidade de vida. Nos últimos 10 anos o que mais tenho visto tanto no consultório quando no ambulatório de Nutrologia são pessoas que correlacionam ganho de peso após piora da qualidade do sono. Principalmente profissionais da área da saúde ou profissionais que trabalhadores noturnos.

2. TALVEZ A MEDICAÇÃO QUE VOCÊ FAZ USO POSSA  FAVORECER GANHO DE PESO

Quando você ganha peso, a primeira hipótese que você avalia é sua dieta. Na maioria das vezes é, conforme citado na postagem da Dra. Helena. 

Porém, as vezes a culpa pode ser de algumas medicações. Por isso os Nutrólogos sempre enviam "cartinhas" para os colegas, que se possível troquem algumas medicações por outras que não estejam relacionadas ao ganho de peso. 

Muitos medicamentos, incluindo os que tratam enxaquecas e distúrbios do humor, assim como alguns anticoncepcionais, podem causar ganho de peso por uma variedade de razões. Se você suspeitar que um medicamento pode estar te fazendo engordar, converse com seu médico para discutir outras opções.

Resumo das principais medicações que podem alterar o peso:


  • As medicações psiquiátricas são as que mais possuem potencial para favorecer o ganho de peso. Na tabela acima listei quais são as que favorecem ganho de peso, as que são "relativamente" neutras e as que promovem a perda de peso. Créditos para o meu primo e Psiquiatra e professor de Nutrologia (Hewdy Lobo) que me passou a tabela. 
  • Anticoncepcionais, Corticoides, Anti-histamínicos, Insulina, Sulfoniluréias, Tiazolidinedionas, Beta-bloqueadores também pode favorecer o ganho de peso.
Minhas considerações: desde que comecei no ambulatório de Nutrologia no começo de 2015, tenho recebido centenas de pacientes utilizando medicações listas acima e durante a anamnese eles mostram uma associação muito forte de ganho de peso quanto utilizam as seguintes medicações: 
  • Duloxetina: Velija, Cymbi, Dual, Abretia.
  • Paroxetina: Parox, Paroxiliv, Paxil CR, Paxtrat, Pondera, Pondix, Roxetin, Sertero, Zyparox.
  • Escitalopram: Lexapro, Espran, Exodus, Reconter.
  • Amitriptilina: Tryptanol, Amytril, Neo Amitriptilina ou Neurotrypt.
  • Clomipramina: Clo, Fenatil e Clomipran.
  • Imipramina: Tofranil, Tofranil Pamoato, Depramina, Mepramin, Praminan, Uni Imiprax. 
  • Nortriptilina: Pamelor.
  • Carbonato de Lítio: Carlit XR, Carbolim, Carbolitium, Carlit.
  • Valproato ou ácido valpróico: Depakene, Depakine, Depakote, Divalproex, Epilim, Valparin, Valpakine,Torval CR, Epilenil.
  • Carbamazepina: Tegretol.
  • Gabapentina: Neurotin.
  • Quetiapina: Neuroquel, Queropax, Quetiel, Quetifren, Quetibux, Neotiapim, Atip, Aebol, Queopine.
  • Olanzapina: Axonium, Midax, Zyprexa, Zydis, Zap, Zalasta, Zolafren, Olzapin, Rexapin.
  • Risperidona:Zargus, Respidon, Viverdal.
  • Pregabalina: Lyrica, Prebictal, Dorene, Proleptol, Preneurim
  • Prednisona: Metcorten, Predsin.
  • Contraceptivos (Anticoncepcionais): na maioria das vezes é apenas uma leve retenção de líquido, mas algumas pacientes relatam ganho de peso com os injetáveis como o Depo-provera.
  • Insulinas
  • Sulfoniuluréias: Clorpropamida, Glibenclamida, Glipizida, Gliclazida, Gliclazida MR, Glimepirida. 
  • Tiazolidinedionas: Pioglitazona: Actos, Aglitil, Gliactis, Glicopio, Glitasolin, Pioglit, Pioglizon, Piotaz, Stanglit.
  • Beta-bloqueadores: Propranolol (Inderal, Rebaten), Atenolol (Atenol, Angipress, Ablok, Atenopress), Nadolol, Metoprolol (Selozok, Seloken, Lopressor), Bisoprolol (Concardio, Concor) teoricamente diminuem a conversão periférica do T4 (hormônio tireoideano com menor atividade) em T3 (hormônio tireoideano mais ativo) e com isso estudos mostram um maior ganho de peso. Além disso agem "segurando" a frequência cardíaca e assim o indivíduo não consegue elevar a frequência cardíaca durante uma atividade física mais intensa. E também agem bloqueando um receptor chamado Beta 3 adrenérgico, responsável pela quebra da gordura. Entretanto o impacto no peso, dependerá da seletividade do fármaco. Alguns são mais seletivos para atuar no coração, outros como o propranolol agem de forma mais sistêmica e com isso tem-se mais efeitos indesejáveis. 

3. TALVEZ VOCÊ ESTEJA EM UM ESTADO DE ESTRESSE CRÔNICO

“O estresse leva ao aumento do hormônio cortisol, que facilita a diferenciação de células gordurosas (aumento do número de células gordurosas), aumenta a formação de gordura (entrada de triglicérides no adipócito – célula de gordura), dificulta o emagrecimento”, afirma o endocrinologista, Dr. Marcio Mancini, Presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e médico responsável pelo Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas.

Além disso ocorre um desequilíbrio na massa magra pois uma das ações do cortisol é a utilização da massa magra (degradação das proteínas) e com isso alteração do metabolismo basal, fraqueza muscular.
Se você está ocupada demais em seu escritório levando uma vida sedentária é provável que seu trabalho esteja causando o aumento de peso. Talvez, em meio a tantas tarefas, você não esteja prestando atenção em sua alimentação ao longo do dia, e esteja ingerindo calorias extras.

4. TALVEZ O SEU TREINO NÃO ESTEJA ADEQUADO

É comum achar que você "ganhou" peso depois de começar a fazer academia, e isto acontece por duas razões. A musculação aumenta a massa muscular e maior retenção de água dentro do músculo. 

Outro fato interessante é que muitos afirmam ficar horas nos exercícios aeróbicos e não perderem peso. Aeróbico só favorecer queima de gordura de forma significativa quando a frequência cardíaca é acima de 60% da Frequência cardíaca máxima. Ou seja, treine pesado.

Muitas mulheres optam por fazer apenas aeróbico com medo da musculação. Musculação emagrece mais a longo prazo do que o exercício aeróbico. Primeiro pq ela favorece o ganho de massa magra, já o aeróbico não, pelo contrário, você pode perder gordura mas também massa magra. Segundo pq o treinamento de força (musculação) mantém seu metabolismo basal alterado (gastando calorias mesmo em repouso) por mais tempo.

5. TALVEZ A SUA INGESTÃO DE FIBRAS E ALIMENTOS QUE MODULAM A MICROBIOTA INTESTINAL PODE ESTAR BAIXA

A baixa ingestão de fibras, alta ingestão de gorduras saturadas, aditivos alimentares, baixa ingestão de água e consumo excessivo de alimentos que podem ocasionar inflamação intestinal (FODMAPS) podem estar modulando o seu microbioma intestinal e isso pode de forma indireta atrapalhar o emagrecimento. Hoje já sabemos que existe uma correlação entre uma microbiota variada, baixa concentração de bactérias patogênicas e o nosso metabolismo. Indivíduos obesos possuem mais um tipo de bactérias chamadas firmicutes e os com peso adequado ou baixo peso possuem mais bacteriodetes. 

Ainda há muito que se elucidar nessa área, esclarecer os mecanismos entre obesidade e microbioma intestinal. Interrelação cérebro-intestino e como isso afeta o nosso peso. Portanto, apesar de não termos tantas evidências sobre estratégias que possam modular o peso através de uma modulação intestinal seja através de probióticos ou de alimentos, a dica é: 
  1. Consuma pelo menos 35g de fibras por dia, principalmente fibras solúveis. 
  2. Além disso evite o consumo de gordura saturadas, os trabalhos mostram que excesso de gordura saturada favorece a proliferação de bactérias patogênicas além de agravar a inflamação na mucosa intestinal. 
  3. Ingira água, pelo menos 30ml por kilo de peso. 

Autores: Dr. Frederico Lobo (Médico Nutrólogo) e Rodrigo Lamonier (Nutricionista e Profissional da educação física). 

quinta-feira, 24 de março de 2022

Fitoterápicos para emagrecimento - O que são? Onde nascem? O que fazem no nosso corpo?



Será que realmente existe algum fitoterápico para emagrecimento?

Em 2008 quando me formei, fui morar na Chapada dos Veadeiros, mais precisamente em Alto Paraíso de Goiás. Um sonho de adolescência, que tomou força durante os últimos 2 anos de faculdade. Então fui, com a cara e a coragem. Nunca tinha pisado na cidade. Foi uma ótima experiência, principalmente do ponto de vista médico. 

Sempre gostei de plantas, principalmente de estudar os benefícios dos vegetais na saúde humana. Aos 15 anos comprei meu primeiro livro de plantas. Na época já sabia que faria medicina, porém não via o livro com um ar médico/científico. Era algo meio místico, afinal era um livro de Paracelso. O título por si só já era algo nada científico: As plantas mágicas - botânica oculta.

Afinal para um adolescente, filho de um reumatologista cartesiano, falar em "poder das plantas" em 1998, era uma heresia. Meu pai era prescritor de corticóides, antiinflamatórios, imunonusupressores. Plantas como agente farmacológico era algo nebuloso no meu lar, pior ainda um livro de Paracelso. 

Lá fui eu, ler o livro. Gostei, mas sentia que se um dia eu quisesse prescrever plantas, aquele não era o caminho. A planta não podia ser mística, a planta obrigatoriamente deveria ser um amontoado de substâncias orgânicas, com ação em órgãos e tecidos. Ou seja, a planta deveria ser um fitoterápico, no qual o princípio ativo idealmente seria extraído e então entregue ao consumidor. 

Comprei outros livros e ao longo da faculdade fui lendo. Ainda leio e quanto mais eu leio, mais medo eu tenho de prescrever plantas. Hoje, aos 39 anos, não as enxergo como mágicas, inofensivas. Hoje eu sou prescritor, tenho um olhar médico. Por isso, afirmo categoricamente, quanto mais estudo fitoterapia, mais medo eu tenho. Mais percebo que preciso me aprofundar no tema e esperar que a ciência progrida nos estudos. 

Veneno de cobra, cocaína são naturais. Assim como plantas. Nem por isso deixam de ter seus riscos. A diferença entre o remédio e o veneno está na dose, já dizia Paracelso, (1493-1541) aquele médico, alquimista e filósofo suíço, autor do livro que li aos 15 anos. 

Quando morei na Chapada, um dos meus intentos era aprender com os nativos do cerrado, um pouco sobre fitoterapia. Então, já médico, eu me despi dos meus preconceitos e me permiti ouvir os nativos, em especial os ensinamentos dos Quilombolas Kalungas. Conhecimentos passados de geração para geração. Algo que contrastava com o que eu tinha estudado nos últimos 6 anos de faculdade. Aprendi bastante, mas, prescrever são outros 500, afinal, tenho amor ao meu CRM rs.

Final de 2008 quando retornei para Goiânia, comecei a atender em uma empresa e recebia visita dos representantes farmacêuticos. Foi meu primeiro contato com a indústria magistral (manipulação). Lembro que tinha uma pastinha sanfonada e nela guardava as lâminas que recebia de inúmeras farmácias. 

TODO DIA era uma lâmina diferente, principalmente com fitoterápicos. Promessas e mais promessas de efeito no emagrecimento. De 2008 a 2022 eu vi muita coisa, a diferença é que hoje eu rio na cara dos propagandistas. Eles tentam me "vender" o peixe deles, por educação ouço, mas depois faço algumas perguntas difíceis. Infelizmente, não sabem responder. Nem quando são farmacêuticos, quem dirá quem não tem formação na área (que é a maioria). 

A história se repete, ano após ano. Elegem alguma substância, financiam estudos repletos de falhas metodológicas, manipulam os resultados e está feito o bolo. Novo fitoterápico altamente promissor no emagrecimento. O médico recém-formado, assim como nutricionistas, acreditam e começam a prescrever. A farmácia lucra. E o ciclo recomeça, talvez no próximo ano, ou até mesmo no próximo semestre. 

Hoje olho e acho uma piada, sinto até compaixão da credulidade dos meus coleguinhas. A falta de crivo combinada a ingenuidade e muitas vezes uma vontade de prescrever algo inovador pro paciente. 

Então hoje, no meu globo repórter falaremos sobre os fitoterápicos de emagrecimento. 

O que são?
Onde nascem?
O que fazem no nosso corpo?
Como nos fazem perder gordura, emagrecer e sustentar essa perda de peso?

Primeiramente, devemos falar sobre o que seria uma substância ideal quando se trata de emagrecimento?

O remédio ideal deve:
1 - Estimular a quebra da gordura
2 - Induzir a queima da gordura
3 - Reduzir o apetite
4 - Aumento do gasto energético
5 - Ter o mínimo de efeitos colaterais ou adversos
6 - Ter bom custo benefício
7 - Evitar o reganho do peso eliminado
8 - Manter o peso do paciente dentro da meta recomendada de acordo com as comorbidades existentes 
9 - Evitar a progressão e surgimento de outras condições crônicas

Existe remédio (medicamento) com todos esses requisitos? Não.

Você acha que existirá um fitoterápico? Se existe, corra e conte pra Indústria farmacêutica. Eu te garanto que você ficará bilionário, ganhará um Nobel, entrará para os anais da medicina. 

Você acha mesmo, que se existisse algum fitoterápico com ação no emagrecimento a própria indústria farmacêutica já não teria patenteado e estaria por aí vendendo? 

A indústria gasta bilhões para investigar uma droga e o que até o momento consegue produzir são drogas que até conseguem inibir o apetite, estimular o gasto energético, mas com um custo alto ou com efeitos colaterais muitas vezes intoleráveis. 

Mas na crença de alguns, a farmácia de manipulação da esquina, tem uma plantinha ótima para te ajudar a emagrecer.

Teremos:
  • Um médico ou nutricionista "ingênuo" para te prescrever.
  • Você disposto a pagar, iludido achando que emagrecerá graças à plantinha.
  • E um outro profissional que em breve você recorrerá. 
  • O ciclo recomeçará. 
Deixa eu te contar uma coisa bem básica? Para que haja o emagrecimento, deve-se estimular a quebra dos triglicerídeos (lipólise) que estão dentro do adipócito e utilização de gordura como fonte de energia (beta-oxidação). 

Se houver apenas a lipólise sem a beta-oxidação, essa gordura não é utilizada para produção de energia e é armazenada no fígado.

Mas o processo de emagrecimento vai muito além de lipólise e beta-oxidação. A gênese da obesidade é multifatorial e o bom profissional está ciente disso. 

Existe fitoterápico que age na lipólise? Sim. 
Existe  fitoterápico que pode agir na beta-oxidação? Sim.
Que age nos 2 mecanismos de forma eficaz ? Não.
Existe fitoterápico que pode reduzir levemente o nível de ansiedade? Sim.
Existe fitoterápico que pode melhorar a insônia? Sim.
Existe fitoterápico que pode aumentar a disposição ou adaptar a pessoa a situações de estresse? Sim.
Existe fitoterápico que pode melhorar a saciedade? Sim.
Existe fitoterápico que pode auxiliar na motilidade intestinal? Sim.
Existe fitoterápico que pode reduzir levemente a retenção hídrica? Sim. 

Para a lipólise

Os alcalóides (compostos orgânicos extraído de algumas plantas) da família das metilxantinas, atuam na lipólise (via inibição de fosfodiesterase em adipócitos).

Mas o efeito clínico disso é bem pequeno. Diferente de drogas noradrenérgicas (anfempramona, femproporex) que tem efeitos mais proeminente na lipólise e também na inibição da fome.

As metilxantinas são alcalóides com alto poder estimulador do sistema nervoso central, encontradas principalmente no café, chá, guaraná e cacau), como a cafeína, teobromina e teofilina

No que tange a betaoxidação

Por exemplo, as catequinas, presentes na Camellia sinensis (chá verde, branco), capsinoides (como o capsiato presente em algumas pimentas), capsaicinóides (como a capsaicina presente nas pimentas), quercetina (cebola, brócolis, maçã) e resveratrol (uvas, vinho tinto, amendoim) possuem ações relativas a aumento da expressão mitocondrial. Ou seja, há indícios de aumento da beta-oxidação com o consumo deles. 

Isso é mensurado a partir do aumento de marcadores urinários de oxidação dos ácidos graxos, mas sem efeito clínico significativo. Por isso a gente pede para o paciente incluir esses alimentos na dieta. 

Tem fitoterápico que vai isoladamente te fazer emagrecer? Não.

Resumindo: fitoterápico para emagrecimento existe em Nárnia. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915

domingo, 6 de março de 2022

Obesidade e a gordofobia: percepções em 2022

Elaborada pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a iniciativa é parte da campanha pelo Dia Mundial da Obesidade, de 4 a 10 de março de 2022. Mais de 3.5600 pessoas de todo o país responderam ao questionário divulgado pelos sites e mídias sociais das duas instituições.

“Conhecimento, cuidado e respeito”: este é o mote da campanha do Dia Mundial da Obesidade, dia 4 de março, para o ano de 2022. O foco é a ampliação do conhecimento sobre a obesidade, o caminho para a redução do preconceito e a melhoria no cuidado às pessoas.

A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) têm agido há mais de 30 anos no combate à obesidade. E combater a obesidade não é combater a pessoa com obesidade. E sim tratar a doença
e respeitar quem convive com ela, acolhendo, ouvindo, estudando, andando junto. Foi o que nos levou a ABESO e SBEM a lançarem a  pesquisa “Obesidade e a Gordofobia 2022 - Percepções”. 

O levantamento feito por meio digital chega ao cerne da questão: o cuidado dispensado a pessoas acima do peso precisa ser revisto. Os sistemas de saúde, tanto público quanto privado, precisam se atentar para o impacto que o acolhimento dessas pessoas pode ter no resultado do tratamento. 

Abriram com a pesquisa, um espaço para escuta e para entenderem como podemos agir em busca de uma mudança que possa refletir em resultados concretos. Esperavam sim, um número maior de participação deste público, mas não na proporção que se apresentou na pesquisa. 

A excelente pesquisa da ABESO/SBEM deixou claro que nós profissionais da área da saúde, precisamos agir contra a gordofobia para tratar a obesidade sem estigmas. 

E, para isso, precisa-se investir em conhecimento (é inadmissível vermos profissionais da área da saúde falarem que obesidade é falta de atividade física e de "fechar a boca"), cuidado e respeito (acolhimento principalmente por parte de médicos). Algo que não se vê na prática. Falo isso, como médico que atua diretamente com obesidade em um ambulatório municipal de Nutrologia. Médico que convive diariamente com endocrinologistas, nutrólogos e nutricionistas. É assustador ver alguns posicionamentos de colegas, tamanha gordofobia e falta de compaixão pelo sofrimento alheio. 

Abaixo as projeções do Atlas de Obesidade 2022 da World Obesity, ou seja, os números são alarmantes e a pergunta que fica: 
  1. Toda esse população ficará a mercê de gordofobia praticada por profissionais da área da saúde.
  2. Parte dessa população ficará sem tratamento adequado devido um péssimo acolhimento por profissionais da saúde ?
Fonte: www.worldobesity.org 


Para acessar as conclusões da pesquisa clique aqui: https://campanhaobesidade.abeso.org.br/ebook_gordofobia.pdf

Guia de atividade física e obesidade (ABESO)

O Departamento de Atividade Física da ABESO (Associação Brasileira para estudos da obesidade e síndrome metabólica), elaborou um guia sobre a importância da atividade física na obesidade.

De forma didática ele trata de conceitos básicos relacionados ao tema, a começar pela própria diferença entre atividade física e exercício físico e a inter-relação entre sedentarismo e obesidade. 

Mostra como o sedentarismo pode levar ao surgimento de inúmeras doenças e o que ocorre da cabeça aos pés quando seu corpo se exercita. Há ainda orientações sobre o tipo de exercício,  a frequência e a intensidade para quem está acima do peso.

Atividade física e exercício físico são ferramentas fundamentais não apenas para ajudar no processo de emagrecimento e manutenção do peso, mas para prevenir e tratar inúmeras doenças além da obesidade.

Ano após ano o sedentarismo vem aumentando na zona urbana em todo mundo (tema já tratado aqui no blog). Mesmo com a tentativa do ministério da saúde estimulando o combate a ele. Muitas vezes, as pessoas com sobrepeso e obesidade não se sentem estimuladas à prática do exercício físico, porque não entendem todos os males provocados por sua falta no dia a dia, nem enxergam em maior profundidade os seus inúmeros benefícios.  Ou, ainda, até querem se movimentar, mas fazem isso sem a devida orientação de um profissional de Educação Física, por exemplo, e sem terem o conhecimento de considerações muito importantes quando alguém com excesso de peso decide treinar. 

Para acessar clique aqui: https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2021/08/GuiaAtividadeV4-CapaB.pdf

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Estratégias que podem te ajudar a ter mais adesão ao tratamento para emagrecer



Ao longo dos anos, percebemos que o tratamento da obesidade tende a ser fadado ao fracasso se alguns cuidados não forem tomados. 

Para exemplificar isso, a gente faz algumas perguntas:
1) Quantas pessoas no seu círculo social, que você viu perder uma quantidade considerável de gordura e sustentaram até hoje esse emagrecimento?
2) Quantos emagreceram somente com dieta e atividade física e sustentaram após 5 anos essa perda de peso?
3) Quantos perderam e foi por cirurgia bariátrica?
4) Quantos emagreceram e foi devido a uma combinação de dieta, atividade física e uso de medicação?

Menos de 10% dos pacientes conseguem perder peso somente com dieta e atividade física e sustentar essa perda de peso ao longo de 5 anos. 

Isso nos mostra o quanto a obesidade é uma doença CRÔNICA, COM FORTE COMPONENTE GENÉTICO E AMBIENTAL, COM VÁRIAS CAUSAS (MULTIFATORIAL), RECIDIVANTE e com inúmeros fatores que perpetuam o processo e favorecem o reganho de peso. 

Mas se há casos de sucesso, devemos olhá-los com mais atenção e analisar a razão do sucesso. E a prestação de contas é um dos determinantes desse sucesso.

Prestação de contas? Sim e nada tem a ver com contabilidade. Dividimos essa prestação de contas em 2 tipos: a interna e a externa. 

Prestação de contas: INTERNA

Nela agimos por nós mesmos. Ela diz respeito a formas objetivas que temos de avaliar o nosso resultado (emagrecimento). Há 3 formas de prestação de contas interna:

1) Vigilância: o paciente necessita se pesar ou fazer bioimpedância para avaliar de forma objetiva como está progredindo (há pacientes que geralmente pioram quanto se pesam, mas via de regra a maioria realmente precisa). 

Há uma vertente dentro da Nutrição comportamental que condena a pesagem, porém os estudos de Terapia cognitivo comportamental mostram justamente o contrário. A vigilância contínua promove melhores desfechos.

Mesmo que balança não represente a realidade exata do seu peso, em um período de 15 dias dá para se ter uma noção de como você está indo. Atenção aos períodos pré e pós-menstruais. Atenção também à constipação intestinal (intestino preso).

2) Rastreamento de calorias: caloria não é tudo, mas a estratificação (estimativa) da ingestão de calorias é fundamental no processo de emagrecimento. 

Não consideramos o rastreamento calórico (recordatório alimentar) uma estratégia universal, porém,  nossa prática clínica percebemos que auxilia bastante, principalmente para aquele paciente que "acha" que está seguindo o plano alimentar. 

Há trabalhos também que validam a utilização desses recordatórios alimentares, para fins de aumentar a adesão ao tratamento.

Algumas perguntas devem ser feitas durante análise do recordatório:

1º - Estimar o quanto você está ingerindo no dia e proporção dos macronutrientes.
2º - Determinar onde você está "errando" e as comorbidades associadas a esse "erro". Falo erro com aspas, pois, as vezes, errada foi a estratégia adotada pelo médico para o seu caso. Temos que normalizar que em tratamento de obesidade muitas vezes não acertamos de primeira o melhor tratamento. E/ou muitas vezes teremos que alternar as estratégias terapêuticas. 
  1. Está fazendo mais refeições livres além das ofertadas pelo nutricionista? 
  2. Como está o padrão alimentar?
  3. Está beliscando? 
  4. Está hiperfágico?
  5. Está tendo quantos episódios de compulsão alimentar por semana? Será que precisaremos entrar com medicação e/ou pedir uma avalição psiquiátrica?
  6. Está tendo episódios de compensação alimentar: tais como jejum, dietas restritivas, detox, vômitos, uso de laxantes ou diuréticos, exercícios físico extenuante na tentativa de compensar episódios de compulsão?
  7. Como está a sua relação com a comida? Está gerando mais ansiedade e favorecendo um comer transtornado?
  8. Está fazendo psicoterapia?
  9. Quais momentos do dia tende a ingerir mais calorias e com isso sabotar o que foi proposto?
  10. Há fome emocional? 
  11. Há apetite para algum alimento específico? 
  12. Qual o sentimento predominante nos momentos em que tem compulsão e/ou ingere aquilo que não estava dentro do programado com o Nutri.
3º - Mostrar o quanto você conseguiu reduzir de calorias se comparado ao que ingeria antes. Às vezes o paciente não está perdendo peso na balança e fica desanimado, mas quando se compara ao que ele era antes do tratamento, detectamos um grande avanço. Principalmente no que se trata de volume e qualidade das refeições. Por isso, o reconhecimento de avanços é importante.

3) Estabelecer metas de exercícios e cumprir essas metas, sendo realista. 

A gente orienta aos nossos pacientes que essas metas de início podem até não serem ambiciosas, mas o feito é melhor que o perfeito. E o feito por 20 minutos sempre será melhor que o nada feito. 

Prestação de contas: EXTERNA

É aquela prestação de contas na qual o outro vai te validar. O outro vai te analisar. O outro vai te falar se você teve ou não um bom resultado e/ou se está progredindo, estacionado o regredindo no processo.

a) Profissionais: Nutrólogo, Nutricionista, Endocrinologista: ter pessoas que olharão/acompanharão seu resultado. Os estudos mostram que esse tipo de prestação de conta aumenta as chances de sucesso em um processo de emagrecimento. 

Por isso, orientamos que no tratamento da obesidade as consultas devem ser mais periódicas com o nutricionista. O ideal é de 15 em 15 dias. Ter alguém fiscalizando a evolução geralmente promove melhores desfechos de acordo com alguns estudos. 

Se o paciente está indo bem, ele tende a ficar mais motivado e se ele está indo mal, a gente revisa a estratégia adotada. Como dissemos acima, as vezes erramos na estratégia escolhida. As vezes precisamos alternar as estratégias. 

b) Blog: há estudo mostrando que os pacientes que escreveram blog relatando o processo tem melhores resultados que aqueles não fizeram. Que tal escrever um blog e ali falar das suas dificuldades, colocar as fotos das suas refeições. Postar seu progresso. Há milhões de pessoas nesse barco e com certeza alguém gostará de te acompanhar. 

c) Grupos de whatsApp em que um estimula o outro: um adendo, abominamos grupos de desafios. Uma coisa é um grupo em que as pessoas possuem o mesmo objetivo (que é perder peso) e um estimula o outro. 

Outra coisa, bem nociva por sinal (iatrogênica na verdade), são grupos de competição (desafios), no qual a perda de peso é estimulada de forma errada, pois não leva em conta que as pessoas possuem individualidade biológica, histórias de vida diferentes, realidades financeiras diferentes, constituição familiar diferentes.

Autor: Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Magalhães - CRM , RQE - Médica especialista em Clínica Médica
Dr. Leandro Houat - CRM 27920 , RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de Família e comunidade