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sexta-feira, 7 de junho de 2024

Semaglutida e redução do consumo de álcool


Desde que o Rodrigo Lamonier (o nutricionista que fica dentro do consultório me acompanhando) começou a trabalhar comigo em 2018, constatamos que existem 3 grandes vilões no processo de emagrecimento:

1) Álcool
2) Gorduras ocultas
3) Baixa ingestão de proteína

Já escrevemos sobre álcool aqui, estratégias de redução de danos, efeitos dele sobre a saúde humana, recomendações de doses "seguras". Mas esse post tem como objetivo relatar algo interessante que percebemos desde que comecei a prescrever a Semaglutida (Ozempic, Wegovy) para alguns pacientes.

1 grama de álcool fornece 7kcal. A maioria dos pacientes homens ingerem bebida alcóolica final de semana e perdem "a mão" na quantidade. Acaba ingerindo na sexta, sábado, domingo. Por mais que tenhamos essa política de redução de danos, intercalando cerveja com álcool/cerveja sem álcool/água, alguns acabam ingerindo cerca de 1000 a 1500kcal de cerveja por dia de final da semana, ou seja, sexta, sábado e domingo. Ou seja, prejudica totalmente o processo de emagrecimento, por mais que durante a semana o paciente siga 100% do plano alimentar.


Quando surgiu a semaglutida, acreditávamos que ela teria efeito no controle da glicemia, ações no hormônio intestinal GLP-1 e promoveria redução do apetite e saciedade. Porém, não sabíamos do efeito que ela teria em "craving" por álcool.  Isso tem sido demonstrado em alguns estudos e percebi que na prática realmente ocorre, já que o gargalo no processo de emagrecimento (para alguns) é o álcool principalmente final de semana. Ou seja, sem o consumo de álcool ou redução drástica, os pacientes sustentam a restrição calórica e com isso o processo de emagrecimento anda. 

Um estudo publicado em 28 de maio na Nature Communications, examinou os registros eletrônicos de saúde de quase 84.000 pacientes com obesidade com uma idade média de 51 anos. Nesse trabalho os pacientes receberam análogo de GLP-1 como semaglutida  e naltrexona (Vivitrol), que são projetados para controlar a obesidade e diabetes tipo 2 interagindo com a parte da fome do cérebro para suprimir o apetite e reduzir o açúcar no sangue e a hemoglobina glicada.

Os pesquisadores descobriram que aqueles tratados com semaglutida mostraram uma diminuição de 50% a 56% no risco de transtorno de uso de álcool e a recorrência do mesmo, em comparação com outros medicamentos GLP-1; a equipe replicou o estudo usando 600.000 pacientes com diabetes tipo 2 e encontrou resultados semelhantes.


Embora os pesquisadores não tenham certeza do porquê a semaglutida pode afetar o consumo uso de álcool, acreditam que ela interaja com o sistema de dopamina no cérebro, que está envolvido no sistema de recompensas do consumo de alimentos e álcool, e faz com que os pacientes não anseiem mais por álcool. Que é o que é relatado no consultório. 

Os análogos de GLP-1s também mediam as respostas ao estresse, então os pesquisadores também acreditam que a semaglutida pode atuar como um amortecedor para o consumo de álcool relacionado ao estresse.

Embora ele acredite que mais pesquisas devam ser realizadas, Rong Xu, pesquisador principal do estudo e professor de informática biomédica na Case Western Reserve University School of Medicine, disse que os resultados são “notícias muito promissoras, na medida em que podemos ter um novo método terapêutico para tratar a AUD (Alcohol user disorder ou Transtorno de uso do álcool)". 

Com o desfecho positivo, ou seja, o paciente tendo perda de peso no processo de emagrecimento, temos um reforço daquilo que citei no começo do texto: o álcool é um vilão no processo de emagrecimento. Seria ingenuidade acreditar que o paciente abandonará o uso de álcool pois, o consumo é um fator de sociabilização. Pro isso tentamos promover redução de danos. Com a semaglutida isso é mais fácil. 

Textos publicados aqui no blog sobre consumo de álcool:

Minimizando os danos do álcool no processo de emagrecimento

Calorias do vinho e ganho de peso

O que é "melhor": gin ou cerveja ?

Existe cerveja que engorda menos ?

Calorias das cervejas e o processo de emagrecimento

Ingerir qualquer quantidade de álcool não é seguro para a saúde cerebral e pode causar danos ao cérebro

Até mesmo uma bebida alcoólica por dia pode aumentar o risco de derrame, diz estudo

Álcool: até o consumo moderado aumenta o risco de câncer, de acordo com estudo

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica e Nutróloga

Calorias das cervejas e o processo de emagrecimento

No meu questionário pré-consulta, sempre pergunto sobre a ingestão de álcool, quantidade e frequência de consumo. Não obstante, os pacientes sempre se surpreendem quando eu e o meu nutricionista explicamos que 1g de álcool possui 7kcal. Ou seja, são calorias vazias, que vão atrapalhar de forma indireta o emagrecimento, reduzir alguns nutrientes do corpo e reduzir os níveis de testosterona. 

Aí pergunto para vocês: será que a grande maioria conseguirá se abster de algo que é cultural, que favorece a socialização? Eu não ingiro álcool, não estimulo o consumo, mas sou bem realista com relação à nossa realidade. 

As pessoas não vão parar de beber, sejamos realistas. Alguns sim, enxergam malefícios do álcool, mas a grande maioria não. Ou seja, aí entra a política de redução de danos. Existe uma diferença gritante entre o mundo ideal da Medicina e o nosso mundo real. Sempre friso isso para os pacientes no consultório, pois isso é causa de muito sofrimento psíquico para alguns indivíduos mais rígidos. 

Alguns leitores falarão que há pesquisas mostrando os benefícios do álcool. Sim, há trabalhos mostrando que o consumo moderado de álcool pode ter impacto positivo na saúde. Eu acredito que há bastante vieses nesses estudos. Alguns trabalhos afirmam que o álcool tem:
  • Efeito na prevenção de Infarto agudo do miocárdio (IAM): por atuar no metabolismo das lipoproteínas, aumentando o percentual de HDL. 
  • Ação antitrombótica: inibindo a agregação de plaquetas, reduzindo o fibrinogênio e melhorando a fibrinólise.
  • Ação no mecanismo de ação da insulina: melhorando o metabolismo de carboidratos.
  • Aumento do estradiol o que de forma indireta eleva o HDL
Mas o que seria consumo moderado de álcool:
  • 30 a 40g de álcool por dia para Homens
  • 15 a 20g de álcool por dia para Mulheres
  • Em média 0,102g/kg/hora (variando de 0,070-0,185)
  • Traduzindo: 1 long Neck/dia para Mulheres e 2 Long Necks/dia para Homens. 
O teor alcoólico deve ser considerado quando optar-se por ingerir bebida alcoólica. 
Por exemplo:
  • Cerveja 5% de teor alcoólico
  • Champanhe 11,5%
  • Vinho 12%
  • Licor 20%
  • Vodca 37,5%
  • Whisky 40%
Deve-se levar em conta também que para uma mesma qualidade de álcool, a absorção pelo organismo é menor quando proveniente da cerveja do que quando oriundo de bebidas destiladas. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915






Não te contaram, mas é possível sim emagrecer e ter saúde tomando cerveja 🍺 Sabia?

O problema não é a cerveja mas sim o QUANTO DE CERVEJA? Eis a questão? A quantidade precisa estar alinhada com o seu objetivo, certo?

Se você está trabalhando em prol de qualquer tipo de meta de saúde, melhora de composição corporal ou desempenho físico, detesto ter que dar essa notícia, mas beber álcool, pelo menos regularmente, não está favorecendo você em nada. Se for pontualmente igual na noite de hoje, sem problemas. 
  • O álcool é um macronutriente quase tão calórico quanto a gordura que fornece 9 calorias. As calorias do álcool não possuem nenhum valor nutritivo. Cada copo/tulipa de 300 mL de chope contém 130 calorias e 3 a 6 % de álcool, o mesmo que um bombom ou um pãozinho francês. Quantos pães você é capaz de comer e quantos copos de cerveja você consegue beber?
  • O álcool aumenta o apetite e aumenta muito os desejos, ao mesmo tempo em que diminui as inibições em torno dos alimentos. Aquele alimento que você não come há anos, bêbado, você devora uma tonelada sem culpa. Sua tomada de decisão não é tão boa quanto seria se você não estivesse um pouco embriagado.
  • Beber com frequência pode prejudicar tanto o desempenho quanto a recuperação do exercício, o que significa que você não conseguirá treinar com tanta intensidade ou com tanta frequência, o que pode afetar sua taxa de força e ganho muscular. Álcool é uma substancia depressiva. Cansaço e depressão se misturam com abuso.
  • A saúde hormonal e intestinal não é falada tanto quanto deveria, mas é extremamente importante. O álcool pode danificar o revestimento do intestino e atrapalhar a flora intestinal, o que prejudicará a queima de gordura e como o corpo digere os alimentos. Ele também pode mexer com os níveis de hormônios que constroem músculos e queimam gordura.
  • Mas o álcool atrapalha a qualidade do sono, especialmente o sono REM, que é quando seu corpo faz a maior parte do trabalho para reparar e regenerar seu organismo. Não dormir o suficiente aumentará a fome e os desejos, e diminuirá a energia, então você pode acabar comendo mais e se movendo menos.
Semaglutida e redução do consumo de álcool

Minimizando os danos do álcool no processo de emagrecimento

Calorias do vinho e ganho de peso

O que é "melhor": gin ou cerveja ?

Existe cerveja que engorda menos ?

Calorias das cervejas e o processo de emagrecimento

Ingerir qualquer quantidade de álcool não é seguro para a saúde cerebral e pode causar danos ao cérebro

Até mesmo uma bebida alcoólica por dia pode aumentar o risco de derrame, diz estudo

Álcool: até o consumo moderado aumenta o risco de câncer, de acordo com estudo

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica e Nutróloga

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Novo guideline da Endocrine Society: Vitamina D para a prevenção de doenças: uma diretriz de prática clínica da sociedade de endócrino

Background

Numerosos estudos demonstram associações entre concentrações séricas de 25-hidroxivitamina D (25[OH]D) e uma variedade de distúrbios comuns, incluindo doenças musculoesqueléticas, metabólicas, cardiovasculares, malignas, autoimunes e infecciosas. Embora uma ligação causal entre as concentrações séricas de 25(OH)D e muitos distúrbios não tenha sido claramente estabelecida, essas associações levaram à suplementação generalizada com vitamina D e ao aumento dos testes laboratoriais para 25(OH)D na população em geral. A relação benefício-risco desse aumento no uso de vitamina D não é clara, e a ingestão ideal de vitamina D e o papel do teste de 25(OH)D para prevenção de doenças permanecem.

Objetivo

Desenvolver diretrizes clínicas para o uso de vitamina D (colecalciferol [vitamina D3] ou ergocalciferol [vitamina D2]) para reduzir o risco de doença em indivíduos sem indicações estabelecidas para tratamento com vitamina D ou testes de 25(OH)D.

Métodos

Um painel multidisciplinar de especialistas clínicos, juntamente com especialistas em metodologia de diretrizes e revisão sistemática da literatura, identificou e priorizou 14 questões clinicamente relevantes relacionadas ao uso de testes de vitamina D e 25(OH)D para reduzir o risco de doença. O painel priorizou ensaios randomizados controlados por placebo em populações gerais (sem uma indicação estabelecida para tratamento com vitamina D ou teste 25[OH]D), avaliando os efeitos da administração empírica de vitamina D ao longo da vida útil, bem como em condições selecionadas (gravidez e pré-diabetes). O painel definiu “suplementação empírica” como a ingestão de vitamina D que (a) excede a Ingestão Dietética de Referência (DRI) e (b) é implementada sem teste para 25(OH)D. Revisões sistemáticas consultaram bancos de dados eletrônicos para publicações relacionadas a essas 14 perguntas clínicas. A metodologia de Classificação de Recomendações, Avaliação, Desenvolvimento e Avaliação (GRADE) foi usada para avaliar a certeza das evidências e orientar as recomendações. A abordagem incorporou perspectivas de um representante do paciente e considerou os valores do paciente, custos e recursos necessários, aceitabilidade e viabilidade e impacto na equidade em saúde das recomendações propostas. O processo para desenvolver esta diretriz clínica não usou uma estrutura de avaliação de risco e não foi projetado para substituir o DRI atual pela vitamina D.

Resultados

O painel sugere suplementação empírica de vitamina D para crianças e adolescentes de 1 a 18 anos para prevenir o raquitismo nutricional e por causa de seu potencial de diminuir o risco de infecções do trato respiratório; para aqueles com 75 anos ou mais por causa de seu potencial de diminuir o risco de mortalidade; para aquelas que estão grávidas por causa de seu potencial de diminuir o risco de pré-eclâmpsia, mortalidade intra-uterina, nascimento prematuro, nascimento em pequena idade gestacional e mortalidade neonatal; e para aqueles com pré-diabetes de alto risco por causa de seu potencial de reduzir a progressão para diabetes. 

Como as doses de vitamina D nos ensaios clínicos incluídos variaram consideravelmente e muitos participantes do ensaio foram autorizados a continuar seus próprios suplementos contendo vitamina D, as doses ideais para a suplementação empírica de vitamina D permanecem incertas para as populações consideradas. 

Para pessoas não grávidas com mais de 50 anos para as quais a vitamina D é indicada, o painel sugere suplementação via administração diária de vitamina D, em vez do uso intermitente de altas doses.

O painel sugere contra a suplementação empírica de vitamina D acima do DRI atual para reduzir o risco de doença em adultos saudáveis com menos de 75 anos.

Nenhuma evidência de ensaio clínico foi encontrada para apoiar a triagem de rotina para 25(OH)D na população em geral, nem naqueles com obesidade ou pele escura, e não houve evidências claras definindo o nível alvo ideal de 25(OH)D necessário para a prevenção de doenças nas populações consideradas; assim, o painel sugere contra o teste de rotina de 25(OH)D em todas as populações consideradas.

O painel julgou que, na maioria das situações, a suplementação empírica de vitamina D é barata, viável, aceitável tanto para indivíduos saudáveis quanto para profissionais de saúde, e não tem efeito negativo na equidade na saúde.

Conclusão

O painel sugere vitamina D empírica para aqueles com idade entre 1 e 18 anos e adultos com mais de 75 anos de idade, aquelas que estão grávidas e aqueles com pré-diabetes de alto risco.

Devido à escassez de fontes alimentares naturais ricas em vitamina D, a suplementação empírica pode ser alcançada através de uma combinação de alimentos fortificados e suplementos que contêm vitamina D.

Com base na ausência de evidências de ensaio clínico de apoio, o painel sugere contra o teste de rotina de 25(OH)D na ausência de indicações estabelecidas. 

Essas recomendações não se destinam a substituir os DRIs atuais para vitamina D, nem se aplicam a pessoas com indicações estabelecidas para tratamento de vitamina D ou teste de 25(OH)D.

Mais pesquisas são necessárias para determinar os níveis ideais de 25(OH)D para benefícios específicos para a saúde.

* Introdução

O papel da vitamina D na regulação da homeostase esquelética e de íons minerais está bem estabelecido. 

Evidências epidemiológicas mostraram associações consistentes de baixo estado de vitamina D com o aumento do risco de uma variedade de distúrbios comuns, incluindo doenças musculoesqueléticas, metabólicas, cardiovasculares, malignas, autoimunes e infecciosas.

No entanto, estudos observacionais são propensos a confusão e várias formas de viés, e uma ligação causal entre o baixo status de vitamina D, conforme avaliado pelos níveis séricos de 25-hidroxivitamina D (25[OH]D), e muitos distúrbios não foram claramente estabelecidos.

No entanto, essas associações levaram à suplementação generalizada e ao aumento dos testes laboratoriais para níveis de 25(OH)D na população em geral.

Nos Estados Unidos, a prevalência do uso suplementar de vitamina D de 1000 UI (25 μg) ou mais por dia aumentou de 0,3% no National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) de 1999-2000 para 18,2% no NHANES 2013-2014.

O uso do teste 25(OH)D na prática clínica também tem aumentado; no entanto, a relação custo-benefício dos testes generalizados tem sido questionada, especialmente dada a incerteza em torno do nível ideal de 25(OH)D necessário para prevenir doenças.

A vitamina D não é uma verdadeira vitamina (definida como um nutriente que não pode ser sintetizado de forma endógena), pois a ingestão não é necessária naqueles que têm exposição adequada ao sol.

No entanto, a variação sazonal na disponibilidade de UV-B e a diminuição da exposição solar associada a roupas e tempo limitado ao ar livre fizeram com que a população em geral fosse cada vez mais dependente da ingestão oral de vitamina D em algumas fontes naturais, alimentos fortificados com vitamina D e suplementos contendo vitamina D.

Seja ingerida ou sintetizada na pele, a vitamina D é convertida em 25(OH)D no fígado.

Este processo não é estritamente regulado; portanto, a concentração de 25(OH)D reflete com mais precisão o status de vitamina D.

Uma segunda etapa de hidroxilação (1-alfa) leva à formação do metabólito ativo, 1,25-dihidroxivitamina D em muitos tecidos.

Acredita-se que a 1,25-dihidroxivitamina D circulante derive principalmente da hidroxilação 1-alfa renal na ausência de condições patológicas.

Embora a perda de mutações funcionais nas hidroxilases da vitamina D seja rara, variantes genéticas e vários agentes farmacológicos podem afetar sua atividade.

Os metabólitos da vitamina D são secretados com ácidos biliares e reabsorvidos no íleo terminal; portanto, a doença ileal terminal, bem como a má absorção geral e o intestino curto (incluindo o bypass gástrico de Roux-en-Y), podem levar a baixos níveis de 25(OH)D sérico.

Existem outras condições que colocam os indivíduos em risco de baixos níveis de 25(OH)D. 

Por exemplo, os metabólitos da vitamina D ligados à proteína de ligação à vitamina D e à albumina são perdidos na urina daqueles com síndrome nefrótica.

Além disso, os metabólitos da vitamina D são inativados principalmente pela 24-hidroxilase, que é induzida por altos níveis de 1,25-di-hidroxivitamina D, bem como pelo fator de crescimento de fibroblastos-23, como visto na doença renal crônica.

É importante ressaltar que essas diretrizes não se aplicam a indivíduos com condições subjacentes que alteram substancialmente a fisiologia da vitamina D.

As ações dos metabólitos da vitamina D são mediadas pelo receptor de vitamina D (VDR), que é expresso na maioria dos tecidos. 

O VDR demonstrou regular a diferenciação celular e a expressão gênica-alvo em muitos tipos de células, incluindo as do sistema imunológico. 

O papel fisiológico mais bem estabelecido do VDR é promover a absorção intestinal de cálcio, que é fundamental para manter a homeostase esquelética e de íons minerais.

Os efeitos esqueléticos da vitamina D dependem da ingestão adequada de cálcio. 

Os efeitos da vitamina D no sistema imunológico são devidos à ativação local de 25(OH)D a 1,25-dihidroxivitamina D e à indução da expressão de VDR.

Assim, o nível ideal de 25(OH)D para prevenir a doença provavelmente depende dos resultados clínicos que estão sendo avaliados. 

Da mesma forma, espera-se que a duração necessária da exposição à vitamina D para desfechos específicos varie, dependendo da fisiopatologia subjacente (por exemplo, aguda [infecções] vs crônica [câncer]).

Em contraste com as diretrizes anteriores que abordavam amplamente a avaliação, o tratamento e a prevenção da deficiência de vitamina D, com ênfase no cuidado de pacientes que estão em risco de deficiência, o objetivo deste Painel de Desenvolvimento de Diretrizes era estabelecer diretrizes clínicas para o uso de vitamina D para reduzir o risco de doença em indivíduos sem indicações estabelecidas para tratamento de vitamina D ou teste de 25(OH)D.

O painel reconheceu que existem inúmeras questões clínicas importantes sobre o uso de testes de vitamina D e 25(OH)D na população em geral; no entanto, devido a recursos limitados, 14 dessas questões clínicas foram priorizadas e 4 a 6 resultados foram abordados para cada pergunta. 

Como se espera que os resultados clínicos importantes para o paciente difiram de acordo com a população-alvo, o painel propôs resultados específicos para a população pediátrica (de 1 a 18 anos) e para as idades de 19 a 49 anos, 50 a 74 anos e 75 anos ou mais.

As diretrizes estabelecidas recomendam a vitamina D empírica no primeiro ano de vida, especificamente para prevenir o raquitismo nutricional; portanto, esse demográfico não foi abordado.

Outras populações examinadas foram indivíduos grávidas e aqueles com pré-diabetes, pele escura e obesidade. O painel também abordou se a suplementação diária com vitamina D deve ser recomendada em vez de uma dose mais alta de vitamina D intermitente (não diária) e se a suplementação deve ser limitada àqueles com níveis circulantes de 25(OH)D abaixo de um limite.

Evidências de ensaios clínicos randomizados (RCTs) foram priorizadas para as revisões sistemáticas. Grandes (> 1000 participantes) estudos de coorte observacionais longitudinais foram considerados se incluíssem comparadores apropriados (suplementação vs sem suplementação) e resultados, mas apenas quando um número insuficiente de RCTs estivesse disponível. Ensaios em que a intervenção foi um análogo de vitamina D ou metabólito diferente de vitamina D2 ou vitamina D3 foram excluídos porque esses compostos não estão disponíveis globalmente. Estudos de randomização mendeliana foram excluídos porque não avaliam a resposta à suplementação. A metodologia de Classificação de Recomendações, Avaliação, Desenvolvimento e Avaliação (GRADE) foi usada para avaliar a certeza das evidências e informar as recomendações. O painel buscou evidências relevantes para todos os elementos da estrutura Evidence-to-Decision (EtD), que incluíam valores e preferências das partes interessadas (incluindo a contribuição de especialistas clínicos e um representante do paciente), custos e outros recursos necessários, relação custo-benefício, aceitabilidade, viabilidade e impacto na equidade em saúde. O painel não identificou evidências robustas pertinentes a esses fatores EtD para a maioria das questões clínicas.

* Lista de recomendações

Pergunta 1. A suplementação empírica de vitamina D deve ser usada versus nenhuma suplementação empírica de vitamina D para crianças e adolescentes (idades de 1 a 18 anos)?

Recomendação 1

Em crianças e adolescentes de 1 a 18 anos, sugerimos a suplementação empírica de vitamina D para prevenir o raquitismo nutricional e potencialmente reduzir o risco de infecções do trato respiratório. (2 | ⊕⊕◯◯)

Observações técnicas

A vitamina D empírica pode incluir a ingestão diária de alimentos fortificados, formulações vitamínicas que contêm vitamina D e/ou a ingestão diária de um suplemento de vitamina D (pílula ou gotas).

Nos ensaios clínicos incluídos na revisão sistemática, com relação às infecções do trato respiratório em crianças, as doses de vitamina D variaram de 300 a 2000 UI (7,5 a 50 μg) equivalentes diários. A média ponderada estimada foi de aproximadamente 1200 UI (30 μg) por dia.

Pergunta 2. A suplementação empírica de vitamina D vs sem suplementação empírica de vitamina D deve ser usada para adultos não grávidas com menos de 50 anos de idade?

Pergunta 3. A suplementação de vitamina D vs nenhuma suplementação de vitamina D deve ser usada para adultos não grávidas com menos de 50 anos de idade apenas quando os níveis de 25(OH)D estão abaixo de um limite?

Recomendação 2

Na população adulta em geral com menos de 50 anos, não sugerimos a suplementação empírica de vitamina D. (2 | ⊕◯◯◯)

Observação técnica

Esta recomendação está relacionada à suplementação empírica de vitamina D que excede os DRIs estabelecidos pela IOM. Adultos nesta faixa etária devem seguir a Dose Diária Recomendada estabelecida pela IOM (600 UI [15 µg] por dia).

Recomendação 3

Na população adulta em geral com menos de 50 anos, não sugerimos testes de rotina para 25(OH)D. (2 | ⊕◯◯◯)

Observações técnicas

* Nesta população, os níveis de 25(OH)D que fornecem benefícios específicos de resultados não foram estabelecidos em ensaios clínicos.

* O painel sugere contra (a) triagem de rotina para um nível de 25(OH)D para orientar a tomada de decisões (ou seja, vitamina D vs sem vitamina D) e (b) teste de acompanhamento de rotina para o nível de 25(OH)D para orientar a dosagem de vitamina D.

* Esta recomendação refere-se a adultos geralmente saudáveis que não têm indicações estabelecidas para o teste de 25(OH)D (por exemplo, hipocalcemia).

Pergunta 4. A suplementação empírica de vitamina D versus nenhuma suplementação empírica de vitamina D deve ser usada para adultos de 50 a 74 anos?

Pergunta 5. A suplementação de vitamina D vs sem suplementação de vitamina D deve ser usada para adultos de 50 a 74 anos apenas quando os níveis de 25(OH)D estão abaixo de um limite?

Recomendação 4

Na população geral com idade entre 50 e 74 anos, não sugerimos a suplementação rotineira de vitamina D. (2 | ⊕⊕⊕◯)

Observação técnica

Esta recomendação está relacionada à suplementação empírica de vitamina D que excede os DRIs estabelecidos pelo IOM. Adultos nesta faixa etária devem seguir o Subsídio Diário Recomendado estabelecido pelo IOM (600 UI [15 µg] diariamente para aqueles com idades entre 50 e 70 anos; 800 UI [20 µg] diariamente para aqueles com mais de 70 anos).

Recomendação 5

Na população geral com idade entre 50 e 74 anos, não sugerimos testes de rotina para 25(OH)D. (2 | ⊕◯◯◯)

Observações técnicas

* Nesta população, os níveis de 25(OH)D que fornecem benefícios específicos de resultados não foram estabelecidos em ensaios clínicos.

* O painel sugere contra (a) triagem de rotina para um nível de 25(OH)D para orientar a tomada de decisões (ou seja, vitamina D vs sem vitamina D) e (b) teste de acompanhamento de rotina para o nível de 25(OH)D para orientar a dosagem de vitamina D.

* Esta recomendação refere-se a adultos geralmente saudáveis que não têm indicações estabelecidas para o teste de 25(OH)D (por exemplo, hipocalcemia).

Pergunta 6. A suplementação empírica de vitamina D versus nenhuma suplementação empírica de vitamina D deve ser usada por adultos com idade ≥ 75 anos?

Pergunta 7. A suplementação de vitamina D vs sem suplementação de vitamina D deve ser usada por adultos com idade ≥ 75 anos apenas quando os níveis de 25(OH)D estão abaixo de um limite?

Recomendação 6

Na população geral com 75 anos ou mais, sugerimos a suplementação empírica de vitamina D devido ao potencial de reduzir o risco de mortalidade. (2 | ⊕⊕⊕◯)

Observações técnicas

* A vitamina D empírica pode incluir a ingestão diária de alimentos fortificados, formulações vitamínicas que contêm vitamina D e/ou a ingestão diária de um suplemento de vitamina D.

* Para a suplementação empírica, a vitamina D de dose diária mais baixa é preferida em vez de doses não diárias e mais altas.

* Nos ensaios clínicos incluídos na revisão sistemática que relatou o resultado da mortalidade, a dosagem de vitamina D variou de 400 a 3333 UI (10 a 83 μg) equivalente diário. A média ponderada estimada foi de aproximadamente 900 UI (23 μg) por dia. Os participantes de muitos ensaios foram autorizados a permanecer em seus suplementos de rotina, incluindo até 800 UI (20 µg) de vitamina D diariamente.

Recomendação 7

Na população em geral com 75 anos ou mais, sugerimos contra testes de rotina para níveis de 25(OH)D. (2 | ⊕◯◯◯)

Observações técnicas

* Nesta população, os limites de 25(OH)D que fornecem benefícios específicos do resultado não foram estabelecidos em ensaios clínicos.

* O painel sugere contra (a) triagem de rotina para um nível de 25(OH)D para orientar a tomada de decisões (ou seja, vitamina D vs sem vitamina D) e (b) teste de acompanhamento de rotina para o nível de 25(OH)D para orientar a dosagem de vitamina D.

* Esta recomendação refere-se a adultos geralmente saudáveis que não têm indicações estabelecidas para o teste de 25(OH)D (por exemplo, hipocalcemia).

Pergunta 8. A suplementação empírica de vitamina D versus nenhuma suplementação empírica de vitamina D deve ser usada durante a gravidez?

Pergunta 9. A suplementação de vitamina D versus nenhuma suplementação de vitamina D deve ser usada durante a gravidez apenas quando os níveis de 25(OH)D estão abaixo de um limite?

Recomendação 8

Sugerimos a suplementação empírica de vitamina D durante a gravidez, dado seu potencial para reduzir o risco de pré-eclâmpsia, mortalidade intra-uterina, parto prematuro, nascimento em pequena idade gestacional (SGA) e mortalidade neonatal. (2 | ⊕⊕◯◯)

Observações técnicas

* Esta recomendação é baseada em evidências de ensaios realizados em indivíduos saudáveis durante a gravidez.

* A vitamina D empírica pode incluir a ingestão diária de alimentos fortificados, formulações vitamínicas pré-natais que contêm vitamina D e/ou um suplemento de vitamina D (pílulas ou gotas).

* Nos ensaios clínicos incluídos na revisão sistemática, as dosagens de vitamina D variaram de 600 UI a 5000 UI (15 a 125 μg) diariamente equivalentes, geralmente fornecidas diariamente ou semanalmente. A média ponderada estimada foi de aproximadamente 2500 UI (63 μg) por dia.

Recomendação 9

Durante a gravidez, sugerimos contra o teste de rotina 25(OH)D. (2 | ⊕◯◯◯)

Observações técnicas

* Nesta população, os níveis de 25(OH)D que fornecem benefícios específicos para o resultado da gravidez não foram estabelecidos em ensaios clínicos.

* O painel sugere contra (a) triagem de rotina para um nível de 25(OH)D para orientar a tomada de decisões (ou seja, vitamina D vs sem vitamina D) e (b) teste de acompanhamento de rotina para o nível de 25(OH)D para orientar a dosagem de vitamina D.

* Esta recomendação refere-se a indivíduos grávidas geralmente saudáveis que não têm indicações estabelecidas para o teste 25(OH)D (por exemplo, hipocalcemia).

Recomendação 10

Para adultos com pré-diabetes de alto risco, além da modificação do estilo de vida, sugerimos a suplementação empírica de vitamina D para reduzir o risco de progressão para diabetes. (2 | ⊕⊕⊕◯)

Observações técnicas

* A modificação do estilo de vida deve ser um componente de gerenciamento de rotina para adultos com pré-diabetes.

* Os ensaios clínicos informando esta recomendação relacionados principalmente a adultos com pré-diabetes de alto risco, identificados como atendendo a 2 ou 3 critérios de glicemia da American Diabetes Association (glicose em jejum, hemoglobina glicada [HbA1c], glicose de 2 horas após um desafio de glicose oral de 75 gramas) para pré-diabetes e aqueles com tolerância à glicose prejudicada.

* Nos ensaios clínicos incluídos na revisão sistemática, as doses de vitamina D variaram de 842 a 7543 UI (21 a 189 μg) equivalentes diários. A média ponderada estimada foi de aproximadamente 3500 UI (88 μg) por dia. Os participantes de alguns ensaios foram autorizados a permanecer em seus suplementos de rotina, incluindo até 1000 UI (25 µg) de vitamina D diariamente.

Pergunta 11. Uma dose diária mais baixa de vitamina D versus não diária (ou seja, intermitente), uma dose mais alta de vitamina D deve ser usada para pessoas não grávidas para as quais o tratamento com vitamina D é indicado?

Recomendação 11

Em adultos com 50 anos ou mais que têm indicações de suplementação ou tratamento com vitamina D, sugerimos uma dose diária mais baixa de vitamina D em vez de uma dose não diária de vitamina D mais alta. (2 | ⊕⊕◯◯)

Observação técnica

O painel não identificou evidências relacionadas a indivíduos com menos de 50 anos.

Pergunta 12. A triagem com um teste de 25(OH)D (com suplementação/tratamento de vitamina D somente se abaixo de um limite) versus nenhuma triagem com um teste de 25(OH)D deve ser usada para adultos saudáveis?

Recomendação 12

Em adultos saudáveis, sugerimos contra a triagem de rotina para níveis de 25(OH)D. (2 | ⊕◯◯◯)

Observações técnicas

* Em adultos saudáveis, os níveis de 25(OH)D que fornecem benefícios específicos do resultado não foram estabelecidos em ensaios clínicos.

* Esta recomendação refere-se a adultos que não têm indicações estabelecidas para testes com níveis de 25(OH)D (por exemplo, hipocalcemia).

Pergunta 13. A triagem com um teste de 25(OH)D (com suplementação/tratamento de vitamina D somente se abaixo de um limite) versus nenhuma triagem com um teste de 25(OH)D deve ser usada para adultos com pele escura?

Recomendação 13

Em adultos com pele escura, sugerimos contra a triagem de rotina para níveis de 25(OH)D. (2 | ⊕◯◯◯)

Observações técnicas

* Esta recomendação refere-se a adultos geralmente saudáveis com pele escura que não têm indicações estabelecidas para o teste 25(OH)D (por exemplo, hipocalcemia).

* O painel não identificou nenhum ensaio clínico que relacionasse os resultados clínicos à pele em si. Uma análise secundária não sugeriu claramente o benefício líquido com a vitamina D naqueles que se identificam como negros. O painel reconheceu que a raça autoidentificada é um proxy impreciso e problemático para a pele escura.

Pergunta 14. A triagem com teste de 25(OH)D (com suplementação/tratamento de vitamina D somente se abaixo de um limite) versus nenhuma triagem com teste de 25(OH)D deve ser usada para adultos com obesidade?

Recomendação 14

Em adultos com obesidade, não sugerimos exames de rotina para níveis de 25(OH)D. (2 | ⊕◯◯◯)

Observações técnicas

* Em adultos com obesidade, os limites de 25(OH)D que fornecem benefícios específicos do resultado não foram estabelecidos em ensaios clínicos.

* Esta recomendação refere-se a adultos geralmente saudáveis com obesidade que não têm indicações estabelecidas para o teste 25(OH)D (por exemplo, hipocalcemia).

Notas:

* O Painel de Desenvolvimento de Diretrizes não encontrou evidências de ensaios clínicos que apoiassem o estabelecimento de limites distintos de 25(OH)D vinculados a benefícios específicos de resultados nas populações examinadas. Portanto, a Sociedade Endócrina não endossa mais o nível alvo de 25(OH)D de 30 ng/mL (75 nmol/L) sugerido na diretriz anterior.

Da mesma forma, a Sociedade Endócrina não endossa mais níveis específicos de 25(OH)D para definir a suficiência, insuficiência e deficiência de vitamina D.

* A diretriz atual sugere contra a triagem de rotina 25(OH)D (na ausência de indicações bem estabelecidas), inclusive em adultos e crianças com obesidade, em adultos e crianças com pele escura e durante a gravidez. Isso também representa uma mudança em relação à diretriz de 2011.

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sábado, 4 de maio de 2024

Ozempic é uma nova droga antiinflamatória?

Quase uma década atrás, uma mulher de vinte e poucos anos magra e de fala suave chamada Megan entrou no meu escritório e me presenteou com um meticuloso arquivo escrito à mão contendo seu histórico gastrointestinal. 

O arquivo incluiu descrições de seu diagnóstico inicial de doença de Crohn quando adolescente, as múltiplas operações que ela sofreu para remover partes doentes de seus intestinos e a variedade de sintomas que ela sofria, incluindo náuseas, uma dúzia de movimentos intestinais por dia e uma total dependência da nutrição obtida através de suas veias, conhecida como nutrição parenteral total (TPN). 

Em vez de vinte pés de intestino delgado que a maioria das pessoas tem, ela só tinha cerca de vinte polegadas restantes e foi diagnosticada com uma condição chamada síndrome do intestino curto. 

Tentamos uma variedade de tratamentos nos meses seguintes, mas ela permaneceu infeliz e principalmente em casa, incapaz de se concentrar em seus estudos ou tirar férias curtas com seus amigos. 

Finalmente, comecei com um medicamento injetável relativamente novo chamado Gattex (teduglutide), um análogo de um hormônio humano secretado por células intestinais conhecidas como peptídeo-2 semelhante ao glucagon (GLP-2).

Gattex melhorou o fluxo e a absorção do sangue intestinal, retardando o esvaziamento gástrico e aumentando a altura das pequenas projeções semelhantes a dedos nos intestinos de Megan conhecidas como vilosidades. Seis meses ou mais depois que ela começou a droga, Megan não estava apenas livre de sintomas gastrointestinais: ela também conseguiu descontinuar seu TPN nos fins de semana, uma liberdade anteriormente inimaginável. Gattex é um medicamento caro e apropriado para uso apenas em determinados contextos clínicos para pacientes com doenças raras. A droga foi lenta para chamar atenção dentro ou fora da gastroenterologia. Nos anos que se seguiram, continuei a usá-lo para pacientes como Megan. Para esses pacientes, parecia nada menos que um milagre.

Hoje, outro peptídeo semelhante ao glucagon, o GLP-1, é amplamente aclamado como milagroso.

O GLP-1, como o GLP-2, é um hormônio secretado pelas células intestinais e está sendo estudado em pacientes com síndrome do intestino curto. 

Ao contrário do Gattex, no entanto, as drogas que imitam o GLP-1 (GLP 1s) são atualmente prescritas para algumas das condições crônicas mais comuns nos EUA hoje - diabetes e obesidade - e foram banhadas com a atenção da mídia nos últimos dois anos no contexto do controle de peso. 

Tradicionalmente, os GLP-1s foram desenvolvidos para tratar o diabetes tipo 2. 

Essas drogas injetáveis se assemelham aos hormônios que o corpo produz depois de comer, estimulando a secreção de insulina pelo pâncreas e diminuindo os níveis de açúcar no sangue. 

Eles retardam a digestão e diminuem o apetite. Eles afetam partes do cérebro que controlam a fome, dizendo ao seu cérebro para se sentir cheio por um longo período de tempo. Não surpreendentemente, os GLP-1s podem levar a menor gordura corporal - um efeito colateral bem-vindo para muitos pacientes diabéticos que lutam com problemas de peso. 

Alguns GLP-1s agora são aprovados pela FDA para controle de peso crônico, incluindo Wegovy (semaglutida) e Saxenda (liraglutida), enquanto outros como Ozempic (semaglutida) são aprovados para diabetes tipo 2, mas são usados off-label para controle de peso—inclusive para perda de peso cosmética, depois de serem popularizados por celebridades e influenciadores de mídia social.

Se os agonistas do GLP-1 como Wegovy e Ozempic são drogas maravilhosas modernas, seus efeitos no peso corporal e no açúcar no sangue são apenas uma parte de sua história sensacional. 

Uma característica menos conhecida dos GLP-1s - e GLP-2s - é seu potencial de reduzir a inflamação local e sistêmica dentro do corpo, tanto nos intestinos quanto além. 

Sabemos hoje que a inflamação pode ser um fator de risco importante para o desenvolvimento de todos os tipos de doenças. 

A inflamação de baixo nível está ligada a uma grande variedade de condições crônicas, incluindo doenças cardíacas, câncer, obesidade, diabetes e distúrbios neurodegenerativos, todos os quais podem ser considerados, pelo menos em parte, distúrbios inflamatórios crônicos (CIDs).

Em indivíduos obesos, o excesso de gordura corporal - particularmente a gordura visceral armazenada profundamente dentro do corpo - produz inflamação de baixo nível a todas as horas do dia. 

A inflamação pode ser um mecanismo central pelo qual indivíduos obesos desenvolvem DICs adicionais, incluindo os principais assassinos, como doenças cardíacas e câncer. 

Pesquisas novas e emergentes sugerem que os GLP-1s, agindo através de vias anti-inflamatórias, podem ser benéficos em uma variedade de DICs, com o potencial de ajudar não apenas pacientes com diabetes e obesidade, mas também aqueles sem essas condições.

Dados recentes revelam que os GLP-1s são úteis em doenças cardíacas, uma condição que atualmente é a principal causa de morte em homens e mulheres em todo o mundo. 

Em agosto de 2023, um estudo patrocinado pelo fabricante Wegovy Novo Nordisk foi publicado no New England Journal of Medicine (NEJM). 

Os pesquisadores rastrearam 529 pacientes com obesidade e insuficiência cardíaca, designando-os para receber semaglutida semanal ou placebo por um ano. Eles descobriram que os pacientes tratados com semaglutida tiveram não apenas maior perda de peso do que aqueles em placebo, mas também menos sintomas e limitações físicas, bem como melhor tolerância ao exercício.

Alguns meses depois, em novembro de 2023, os resultados de um ensaio clínico histórico conhecido como o ensaio SELECT, que também foi patrocinado pela Novo Nordisk, causaram um alvoroço. 

Cerca de 17.000 pacientes com doença cardiovascular que estavam acima do peso ou obesos, mas não tinham diabetes, foram randomizados para receber semaglutida semanal ou placebo por vários meses. No final do período do estudo, os pesquisadores descobriram que os pacientes que receberam semaglutida não apenas perderam peso: eles tiveram uma impressionante diminuição de 20% nos eventos cardiovasculares, incluindo morte cardiovascular, ataques cardíacos e derrames. 

Além disso, a semaglutida diminuiu a insuficiência cardíaca e a mortalidade por todas as causas em 18% e 19%, respectivamente. 

Curiosamente, a semaglutida parecia estar prevenindo ataques cardíacos nos primeiros meses de tomar o medicamento, antes que os participantes do estudo perdessem muito peso, apoiando a ideia de que os pacientes não precisavam perder peso antes de começar a experimentar os benefícios cardiovasculares do medicamento.

Aqueles que tomaram a dose mais alta de semaglutida no ensaio SELECT tiveram quedas na inflamação sistêmica. 

Essa redução da inflamação pode ser um mecanismo importante pelo qual a semaglutida produz seus benefícios cardíacos. 

Estudos mostraram que a inflamação elevada de baixo nível é um fator de risco independente para o desenvolvimento de ataques cardíacos, derrames e morte por eventos cardíacos.

A semaglutida também ajudou a melhorar os fatores de risco tradicionais para doenças cardíacas, incluindo sobrepeso e obesidade, bem como níveis elevados de pressão arterial, açúcar no sangue e colesterol.

Esses fatores de risco tradicionais, por sua vez, também estão ligados à inflamação crônica e de baixo nível.

Além das doenças cardíacas, os GLP-1s podem ter um papel em outros DCIs.

Nas últimas décadas, a incidência de câncer de início precoce, ou seja, câncer diagnosticado em adultos com menos de 50 anos de idade, tem aumentado. 

Acredita-se que esta epidemia global emergente se deva em grande parte a fatores ambientais e de estilo de vida, como uma dieta subótima, falta de exercício e poluição - todos os quais podem desencadear inflamação no corpo. 

Em dezembro de 2023, pesquisadores da Case Western University publicaram resultados de um estudo observacional nacional envolvendo mais de um milhão de pacientes com diabetes tipo 2 que receberam medicamentos antidiabéticos de 2005 a 2019.

Em comparação com outros medicamentos antidiabéticos, incluindo insulina e metformina, os GLP-1s foram associados a um risco diminuído de câncer colorretal, um achado que se manteve forte, independentemente de o paciente ter diabetes sozinho ou diabetes, além de sobrepeso ou obesidade. 

Estudos observacionais não podem provar a causalidade, e descobrir como o GLP-1 afeta o câncer provavelmente será complexo, dada a natureza multifatorial da causa do câncer, que inclui influências genéticas e ambientais.

Ainda assim, sabemos hoje que a inflamação é uma das características do câncer.

A inflamação, em muitos casos, alimenta o início e o desenvolvimento do câncer, desde as primeiras influências genéticas e epigenéticas que transformam células normais em malignas até o crescimento e disseminação contínuos do câncer por todo o corpo. 

Os GLP-1s podem influenciar as vias que promovem o câncer não apenas controlando o peso e o açúcar no sangue, mas também através de seus efeitos anti-inflamatórios, independentemente desses fatores de risco tradicionais.

Uma proporção significativa de pacientes com diabetes ou obesidade está destinada a desenvolver doença renal. 

Profissionais que implantam GLP-1s para diabetes notaram que esses medicamentos também pareciam estabilizar a função renal dos pacientes. 

Tanto os ensaios experimentais quanto, mais recentemente, clínicos mostraram que os GLP-1s podem retardar o declínio renal e prevenir a perda substancial da função renal em pacientes diabéticos. 

GLP-1s como semaglutida e liraglutida demonstraram proteger os rins através da alteração do metabolismo da gordura e da energia.

Os pacientes que tomam GLP-1s tendem a ter melhor controle do açúcar no sangue, menor peso corporal e menor pressão arterial, o que também pode diminuir a inflamação e impactar positivamente a função renal. 

Além disso, pesquisadores da Universidade Monash, na Austrália, publicaram um estudo no início deste ano, revelando que o agonista GLP-1 liraglutida, com receptores nos rins, pode suprimir a inflamação e diminuir os marcadores de dano renal em modelos de doença renal de camundongos diabéticos e não diabéticos.

Outra complicação comum em pacientes com diabetes ou obesidade é a doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD), anteriormente denominada doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD).

O MASLD é agora a doença hepática crônica mais prevalente no mundo ocidental e afeta cerca de um terço da população dos EUA. 

Enquanto isso, faltam farmacoterapias licenciadas para esta doença. 

No MASLD, gotículas de gordura se acumulam no fígado, o que, por sua vez, pode levar à inflamação do fígado e cicatrizes ao longo do tempo - enquanto isso, a própria inflamação pode ajudar a alimentar esse caminho. 

A perda de peso é fundamental para reverter a doença em estágio inicial. 

Os GLP-1s estão sendo avaliados atualmente para o tratamento do MASLD.

Ensaios clínicos randomizados mostram que a semaglutida pode diminuir a gordura e a inflamação no fígado e melhorar os marcadores de lesão hepática, embora ainda não tenha sido demonstrado melhorar os estágios de cicatrizes hepáticas.

O tratamento com semaglutida também está associado a uma diminuição da inflamação de baixo nível em todo o corpo em pacientes em risco de desenvolver MASLD. 

A inflamação de baixo nível é preditiva do MASLD e tem sido associada à presença e gravidade das cicatrizes hepáticas subjacentes. 

Testes estão em andamento para determinar se a semaglutida atenderá aos desfechos clínicos para aprovação da FDA.

Os GLP-1s receberam atenção em doenças pulmonares e intestinais. 

Os resultados de alguns ensaios clínicos, bem como estudos observacionais, lançaram luz sobre os potenciais benefícios dos GLP-1s na asma, enfisema e bronquite crônica, embora ensaios clínicos em larga escala sejam necessários para confirmar esses achados. 

A obesidade, que cria inflamação crônica contínua no corpo, está cada vez mais associada à doença inflamatória intestinal (DII) e pode influenciar negativamente o curso da doença. 

Os cientistas também levantam a hipótese de que a obesidade contribui para o desenvolvimento da DII. 

Alguns estudos mostraram que pacientes com DII que tomam GLP-1s para diabetes reduzem a necessidade de esteróides ou medicamentos biológicos e têm menos hospitalizações ou cirurgias relacionadas ao IBD, sugerindo que os GLP-1s podem influenciar a atividade da doença na DII. 

Mais pesquisas são necessárias, no entanto, para determinar definitivamente se os GLP-1s são realmente benéficos para os resultados da doença em pacientes com DII.

* Como os GLP-1s podem diminuir a inflamação no corpo?

O melhor controle de DCIs como diabetes e obesidade reduz os níveis de gordura corporal e açúcar no sangue, o que significa menos inflamação. 

Mas foi demonstrado que os GLP-1s têm efeitos anti-inflamatórios independentemente do peso corporal ou do açúcar no sangue. 

Ensaios em humanos revelam que eles reduzem os biomarcadores inflamatórios do sangue, especialmente quando comparados com outros tratamentos antidiabéticos padrão. 

E eles parecem afetar a inflamação local e de todo o corpo. 

Os GLP-1s têm efeitos anti-inflamatórios em vários tecidos, reduzindo a produção de citocinas inflamatórias e impedindo o movimento de células imunes nos tecidos. 

Os receptores para GLP-1s são expressos em algumas células imunes - falando em seu potencial de modular o sistema imunológico e a inflamação - bem como em outras células ao redor do corpo. 

Eles são encontrados não apenas no pâncreas, mas em uma ampla variedade de órgãos, incluindo coração, rins, pulmão, fígado, vasos sanguíneos, estômago, intestinos e cérebro. 

Na verdade, a prevalência de receptores GLP-1 no corpo ajudou a despertar o interesse inicial em estudos que investigam o uso de GLP-1s para outros distúrbios além do diabetes.

No entanto, a distribuição de células imunes contendo receptores GLP-1 em vários tecidos é altamente desigual, sugerindo que as ações dos GLP-1s em alguns órgãos podem ser mais importantes do que em outros quando se trata de regular a inflamação. 

As células imunes ativadas pelos GLP-1s estão especialmente repletas nos intestinos—que abrigam grande parte do sistema imunológico do corpo—bem como no cérebro. 

De acordo com o cientista canadense Dr. Daniel Drucker, cuja pesquisa pioneira deu origem aos medicamentos modernos GLP-1, o eixo intestinal-cérebro-imune pode ser central para a capacidade dos GLP-1s de influenciar a inflamação no corpo, como sugere seu último estudo realizado em animais e publicado no início deste ano. 

A comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro incorpora sinais de trilhões de micróbios intestinais conhecidos coletivamente como microbiota intestinal e afeta uma infinidade de processos ao redor do corpo, incluindo a inflamação.

Os GLP-1s podem modular a microbiota intestinal e atingir células imunes no cérebro e no intestino para reduzir a inflamação em todo o corpo.

Dados os benefícios potenciais dos GLP-1s no cérebro, não é surpresa que haja um interesse crescente no uso de GLP-1s para doenças neurodegenerativas. 

Ensaios controlados apontam para a capacidade dos GLP-1s de reduzir as taxas de demência em pacientes diabéticos, e ensaios clínicos em larga escala estão em andamento para estudar a eficácia desses medicamentos para doenças como Alzheimer e Parkinson. 

Acredita-se que os GLP-1s modulam a função imunológica no cérebro, prevenindo o acúmulo contínuo de proteínas mal dobradas e diminuindo a inflamação - caminhos que contribuem para a doença de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas.

Por todas as possibilidades que os GLP-1s parecem ter no gerenciamento de inflamação e CIDs, deve-se ter cuidado ao avaliar e implantar esses medicamentos fora de seus contextos tradicionais.

Seus efeitos anti-inflamatórios são amplos, visando diferentes vias em diferentes tecidos, e sua gama de benefícios potenciais também pode ser acompanhada por problemas.

Embora os GLP-1s sejam geralmente bem tolerados, com efeitos colaterais comuns, incluindo problemas gastrointestinais como náuseas, vômitos, diarréia e constipação, complicações raras e mais graves incluem problemas como paralisia estomacal, pancreatite, obstrução intestinal, insuficiência renal e câncer de tireóide. 

Dados de segurança de longo prazo em populações não diabéticas são necessários para os GLP-1s mais recentes que são mais eficazes para perda de peso.

Os medicamentos também são caros, muitas vezes exigindo custos significativos do próprio bolso. 

Em suma, os GLP-1s não devem ser usados como uma solução rápida para perder alguns quilos, mas sim para pacientes em que o perfil risco-benefício faz sentido - em indivíduos obesos com alto risco de desenvolver DCIs adicionais, por exemplo, nos quais o uso de GLP-1s parece menos preocupante do que os riscos associados a uma vida de problemas graves de peso. 

Para muitos indivíduos obesos, os transtornos metabólicos, incluindo um ambiente hormonal alterado, podem tornar difícil perder e manter o excesso de peso indefinidamente sem terapias médicas ou cirúrgicas adjuvantes.

Infelizmente, as pessoas que mais precisam de GLP-1s para o controle de peso muitas vezes lutam para obtê-lo.

Prescrever GLP-1s para obesidade—ou qualquer distúrbio crônico—não evita a necessidade de mudanças no estilo de vida, que são fundamentais para diminuir a inflamação e o risco de desenvolver DCIs. 

Na verdade, certas mudanças no estilo de vida, como incorporar fibra mais solúvel - um tipo de fibra que alimenta nossos micróbios intestinais - na dieta, ou se exercitar regularmente, podem aumentar os níveis endógenos de GLP-1.

As prescrições de estilo de vida também podem ajudar a diminuir os riscos dos GLP-1s, permitindo que os pacientes sejam mantidos com a menor dose efetiva ou até mesmo desmamem totalmente os GLP-1s em algum momento.

Drogas GLP-1 como Ozempic e Wegovy ganharam imensa tração clínica, bem como fama cultural popular devido ao seu sucesso no tratamento do sobrepeso e da obesidade, doenças conspícuas que sobrecarregam mais de dois terços de todos os adultos americanos.

No entanto, seus efeitos podem ser mais amplos do que nunca imaginado: evidências estão se acumulando sobre o potencial dos GLP-1s para combater a inflamação invisível e de baixo nível, bem como várias das condições crônicas associadas a ela.

Mas, embora os GLP-1s possam ser promissores para o tratamento de uma variedade de doenças, mais pesquisas são necessárias para estabelecer exatamente quais populações de pacientes além das existentes podem se beneficiar desses medicamentos.

Enquanto isso, os pacientes devem discutir a potencial utilidade dos GLP-1s para uma condição específica com seus médicos.

E como no caso da minha paciente Megan, que entrou no meu escritório há muito tempo com uma doença rara terrível, o uso de peptídeos semelhantes ao glucagon - que são poderosos hormônios intestinais - não deve ser arrogante.


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quinta-feira, 11 de abril de 2024

Controvérsias dentro da Nutrologia

Semanalmente recebo e-mail de leitores perguntando sobre vários temas. A maioria sabe que sou bem cético e radical quando o assunto é evidências científicas. Sou taxado de chato e por alguns colegas da área. Então resolvi fazer um post sobre isso.  

As opiniões aqui expressas não objetivam colocar pacientes em confronto com médicos que solicitam tais exames. Apenas explico o porquê de EU não solicitar tais exames e algumas terapias.

Cada médico solicita o exame que acha que deve, prescreve o que acha que deve. E assuma a responsabilidade diante do Conselho Regional de Medicina. Cada médico prescreve a terapia que deseja, porém arque com as consequências de prescrever uma abordagem terapêutica que tem resolução do CFM proibindo.

TEMA 1: Biorressonância


Há 15 anos eu me submeti ao exame. Encontrei, resultados opostos aos encontrados nos exames laboratoriais. Discrepância total. Exemplo: o exame mostrou ressonância para elevação do colesterol, do cortisol, glicemia. Todos meus exames laboratoriais estavam dentro na normalidade.

Pode ser que para alguns funcione, para mim não funcionou.

Portanto a bioressonância eu não solicito. A não ser que o Conselho Federal de Medicina e ANVISA emitam um parecer mostrando a eficácia do método. Caso o fabricante ou representante queira me mostrar documentos e artigos para provar a eficácia, estou aqui.

Pareceres que me respaldo para dar minha opinião médica:

TEMA 2: Testes de intolerância alimentar baseados em IgG ou IgG4 - Teste de hipersensibilidades alimentares


Parecer que me respaldo para emitir minha opinião, foi publicado pela Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia: http://asbai.org.br/revistas/vol356/Guia-35-6.pdf

"A dosagem de IgG específica e suas subclasses não oferece qualquer contribuição no diagnóstico e portanto sua prática não é recomendada"
Um outro material muito interessante é o disponível nesse site: https://www.sciencebasedmedicine.org/igg-food-intolerance-tests-what-does-the-science-say/

Começo do ano fiz uma revisão sobre métodos diagnósticos de alergias alimentares e todos os artigos mais atuais contraindicam o método. Os estudos afirmam que talvez a dosagem de IGG  ou IGG4 possa fornecer pistas sobre alergias alimentares, mas talvez estejam sendo interpretadas de forma errônea. Alguns amigos alergologistas compactuam da mesma opinião.

Em 2012 o Conselho Federal de Nutrição (CFN) foi questionado sobre a solicitação e execução de tal exame por parte de nutricionistas. 

"O “Food Detective” é um exame que utiliza o método Elisa para detecção de anticorpos IgG para 59 alimentos. O kit de exame é produzido pela Cambridge Nutricional Sciences Ltda, o resultado fica pronto em 40 minutos e necessita de apenas uma gota de sangue para realizar o exame.
Ressalta-se, no entanto, que alguns testes de alergia são questionáveis aos olhos dos profissionais médicos. É necessário considerar a confiabilidade do teste para realizá-lo. Não foi encontrado pelo CFN nenhum documento que certificasse a confiabilidade do Food Detective.
O teste considerado padrão-ouro no diagnóstico da alergia alimentar é o duplocego controlado por placebo (DADCCP), na qual a análise é feita por IgE (COCCO,2007).
A produção de anticorpos IgG e IgG4 específicos constitui resposta fisiológica à ingestão de alimentos, sem que implique qualquer manifestação clínica de hipersensibilidade alimentar (MORGAN, 1992; SZABO, 2000).
Apesar disso, painéis de anticorpos IgG ou IgG4 específicos para antígenos alimentares têm sido proclamados por alguns como instrumentos diagnósticos na alergia alimentar. Contudo, as evidências disponíveis não dão suporte à eficácia diagnóstica da dosagem de IgG específica em nenhuma doença em particular além da hemossiderose pulmonar (Síndrome de Heiner) (COCCO, 2007).
A Resolução CFN ° 380/2005 também reforça a solicitação de exames ao dispor atividades complementares como: “1.2.1. Solicitar exames laboratoriais necessários à avaliação nutricional, à prescrição dietética e à evolução nutricional do cliente/paciente;”
Portanto, o CFN não recomenda solicitação de exames de IgG por se tratar de diagnostico para alergias, sendo que, o diagnóstico de qualquer doença cabe ao médico realizar. A lei e as resoluções citadas dispõem que os exames são para acompanhamento dietoterápico.
As referências utilizadas por eles:

ASBAI – Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia. Alergia Alimentar. Acesso em:
08/10/2012.Disponível em: www.asbai.org.br.

Cocco, R.R.; Caelo-Nunes, I.C.; Pastorino, A.C.; et.al. Abordagem laboratorial no diagnóstico da alergia alimentar. Rev Paul Pediatr 2007;25(3):258-65.

Morgan JE, Daul CB, Lehrer SB. The relationship among shrimp-specific IgG The relationship among shrimp-specific IgG subclass antibodies and immediate adverse reactions to shrimp challenge. J Allergy Clin Immunol 1990;86:387-92.

Szabo I, Eigenmann PA. Allergenicity of major cow’s milk and peanut proteins determined by IgE and IgG immunoblotting. Allergy 2000;55:42-9.

Em Junho de 2015 o Jornal Estadão fez uma reportagem sobre o tema. Juntamente com o parecer oficial da ASBAI sobre o tema (http://m.vida-estilo.estadao.com.br/noticias/bem-estar,diagnosticos-de-alergias-e-intolerancias-alimentares-confundem-portadores-e-levam-a-deficiencias-,1707483)

Presentes em 40% da população, as intolerâncias alimentares são frequentemente confundidas com as alergias alimentares. Os sintomas são, em diversos casos, parecidos, e a falta de confiabilidade nos exames de detecção aumentam as dúvidas dos pacientes em relação a ambas as doenças. Segundo Renata Rodrigues Cocco, alergologista do Hospital Albert Einstein, “as alergias costumam apresentar sintomas que variam desde erupções cutâneas até problemas mais sérios, como distúrbios gastrointestinais (vômitos e diarreias) e anafilaxias (inchaço de órgãos do sistema respiratório)”. Já no caso das intolerâncias alimentares, os sintomas estão geralmente relacionados ao trato gastrointestinal. “É muito mais comum surgirem transtornos na digestão do alimento, que variam de intensidade de acordo com a quantidade consumida”, Outra diferença entre as alergias e as intolerâncias alimentares está no fator causador. “As alergias são reações ligadas a alguma proteína presente no alimento que foi considerada um elemento estranho pelo organismo. Já a intolerância ocorre quando o corpo não possui enzimas para digerir determinado carboidrato, como no caso da lactose, por exemplo”. Uma característica das alergias é que muitas são curadas naturalmente pelo organismo durante a vida, muitas vezes na fase de adolescência. “Por isso é muito mais comum em crianças. É muito raro encontrarmos adultos com alergias alimentares”, comenta. As intolerâncias podem surgir já durante a fase adulta e, uma vez adquiridas, persistem pelo resto da vida. “Devido ao fato de ser causada pela falta de uma enzima, a única coisa que podemos fazer é criar uma dieta de restrição. Entretanto, comparada à alergia, a atenção que devemos ter não é tão radical, pois os sintomas são menos agressivos”, verifica a alergologista.

Tratamento: Tanto para alergias alimentares quanto para intolerâncias, não existem tratamentos comprovados cientificamente que eliminem a doença. “No caso de alergias, a recomendação é a restrição total do alimento em questão da dieta. Já no caso da intolerância, o consumo é permitido em alguns casos, desde que a quantidade ingerida não seja prejudicial para o trato digestivo”, interpreta a médica. No entanto, quando a restrição a um determinado alimento for total, deve haver um acompanhamento de substituição nutricional. “Principalmente no caso de crianças, excluir algo da dieta pode levar a severos casos de anemia, desnutrição ou falhas no desenvolvimento. Por isso, sempre deve haver essa troca de um alimento por outro de equivalência nutricional”, alerta.

Diagnóstico de Alergias: Para a detecção de alergias alimentares, Renata Cocco afirma que o diagnóstico é muitas vezes baseado na observação. “O exame consiste em a pessoa ingerir uma determinada quantidade do alimento e, a partir daí, se observa as reações do organismo”, relata.
Entretanto, um exame de sangue específico pode indicar a presença da doença, que atinge cerca de 5% da população. “O teste conhecido como RAST consiste na verificação da imunoglobulina E (IgE) no sangue do paciente. Tal procedimento pode indicar a quais alimentos aquele indivíduo possui sensibilização alérgica”, conta a médica. No entanto, “um resultado positivo não significa necessariamente que a pessoa tem alergia àquele determinado alimento, apenas uma propensão”. O teste é encontrado em diversos laboratórios pelo País e possui cobertura da maioria dos planos de saúde.
Outro exame trazido recentemente ao Brasil promete ser mais eficaz no diagnóstico de alergias. Trata-se da identificação de frações proteicas a partir da tecnologia microarray (biochips de DNA que selecionam e se integram a partículas específicas predeterminadas), que pode identificar 112 alérgenos ao mesmo tempo. A alergologista considera que o teste deve ser analisado por um especialista já experiente na área. “Por ser um exame que verifica reações cruzadas, é de difícil interpretação. Por exemplo, alguém que possui ao mesmo tempo aversão ao látex e a uma fruta qualquer é alérgico a uma proteína comum a ambos os alimentos”, expõe Renata. O exame por microarray está em fase de adequações e deve retornar ao mercado no segundo semestre deste ano.

Diagnósticos de Intolerâncias: Os exames que detectam intolerâncias alimentares também são, muitas vezes, realizados a partir de observação clínica. No entanto, um exame criado recentemente, chamado de Food Detective, tem atraído pacientes em busca de um diagnóstico preciso sobre os tipos de intolerância alimentar presentes em seus organismos e acaba levando-os a uma confusão ainda maior. Em relação ao teste, Renata Cocco alerta que não existe nenhuma comprovação científica da eficácia do exame. “Ele simplesmente mede o nível de imunoglobulina G (IgG) no sangue. Porém essa substância pode estar relacionada a diversos outros fatores que não sejam a intolerância. Simplesmente não faz o menor sentido”. Além de ineficaz, o teste é comercializado a preços elevados (de R$ 800 a R$ 3 mil) e não pode ser encontrado em rede pública. “Qualquer exame, principalmente de alergias e intolerâncias, pode apresentar falsos resultados. Porém, nesse caso, os pouquíssimos resultados corretos são obtidos por meio de pura sorte, sem qualquer lógica para tal. Não existe racionalidade”, argumenta.

De acordo com a Dra. Ana Paula Moschione Castro, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), não há embasamento científico para assumir que as intolerâncias alimentares estejam relacionadas à presença de anticorpos do tipo IgG. “As intolerâncias podem ocorrer por diversas razões, inclusive sem envolvimento do sistema imunológico. Portanto, não é possível confiar neste teste, nem sequer fazer inferências baseadas nos seus resultados”, analisa.

A diretora também reforça a posição de Renata Cocco e apresenta oposição à realização do teste em nome da entidade. “A ASBAI compartilha desta opinião por estimular profundamente a prática da medicina baseada em evidências vistas em trabalhos científicos ou opiniões de instituições idôneas e renomadas. Este repúdio ao teste para diagnóstico é compartilhado, inclusive, pela Academia Americana de Alergia e Imunologia”, acrescenta Ana Paula.

TEMA 3: Testes nutrigenéticos


Ultimamente vários pacientes me perguntam sobre os famosos testes nutrigenéticos disponíveis no mercado. Testes que "baseado" na detecção de alguns genes e polimorfismos consegue predizer qual o melhor tipo de dieta para cada indivíduo. Um grande avanço na nutrologia.

Mas será que realmente funcionam?

Será que há respaldo científico para se solicitar tais exames?

Afinal são caros e não saem por menos de 1800 reais o mais simples deles.

Por que será que não vemos geneticistas defendendo a utilização de tais exames ?

Parecer que me baseio para dar a opinião: http://www.sban.org.br/por_dentro/informativos/71/posicionamento-da-the-academy-of-nutrition-and-dietetics-genomica-nutricional?fb_action_ids=654437174643590&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B926596364033905%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D

Inúmeras são as dúvidas. Acredito que seja uma área que está em franco avanço e daqui alguns anos poderemos utilizá-la. Mas AINDA não é a hora. O motivo ? Respondo com o parecer da Academy of Nutrition and Dietetics, que é uma entidade norte americana fundada em 1917 e que conta com mais de 75.000 membros, com participação de profissionais e estudantes na área de nutrição. Recentemente, ela publicou seu posicionamento frente a #GenômicaNutricional #Nutrigenética #Nutrigenômica e #TestesNutrigenéticos

Abaixo um texto publicado no site da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição

“A Academy of Nutrition and Dietetics” é uma entidade norte americana fundada em 1917 e que conta com mais de 75000 membros, com participação de profissionais e estudantes na área de nutrição. Recentemente, a Academia publicou um trabalho a respeito de seu posicionamento frente a “Genômica Nutricional”.

O texto traz uma ampla revisão sobre o assunto, abordando desde os principais resultados do Projeto Genoma Humano (PGH), as áreas de estudo da Genômica Nutricional, até as implicações éticas de sua aplicação na prática clínica.

O PGH foi um marco na história da ciência. Há aproximadamente 11 anos, a sequência completa do genoma humano foi publicada, promovendo impactos em diversas áreas do conhecimento, inclusive na Nutrição. Um dos principais resultados foi o fato de que o número de genes humanos é muito menor do que se estimava – entre 20 e 25 mil. A partir de então, o tempo e os custos para sequenciar um genoma humano estão sendo reduzidos continuamente e, espera-se que sua incorporação na prática médica torne-se realidade.

Genômica Nutricional é um termo amplo, que abrange a Nutrigenética, a Nutrigenômica e a Epigenômica Nutricional, as quais se referem a maneira como os nutrientes e os genes interagem e como estes se expressam para revelar os resultados fenotípicos, incluindo o risco de doenças. A Nutrigenética estuda a influência da variabilidade genética entre os indivíduos, a qual responsável pelas diferenças no estado de saúde e no risco de doenças, considerando os diferentes padrões de ingestão alimentar.  A Nutrigenômica estuda a forma como as interações entre componentes da alimentação e genoma afetam o padrão de expressão gênica. Apesar destas delimitações, o termo Nutrigenômica muitas vezes é utilizado como sinônimo de Genômica Nutricional. Já a Epigenômica Nutricional se refere à influência da alimentação sobre mudanças na expressão gênica, mas sem que ocorram alterações na sequência do DNA.

Na Nutrigenética, as principais alterações estudadas são os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs), os quais são considerados variações normais no DNA e que consistem na troca de apenas um nucleotídeo em determinada região do DNA. Eles são responsáveis pelas diferenças observadas na cor dos olhos e cabelos, no tipo sanguíneo e alguns deles podem ter influência sobre o risco de desenvolvimento de determinadas doenças, muitas das quais podem estar associadas ao padrão alimentar individual. O texto do parecer destaca alguns SNPs relevantes que são relacionados à Nutrição, como é o caso do C677T no gene que codifica a enzima metilenotetra-hidrofolato redutase (MTHFR). Este SNP interfere no status de folato e de homocisteína e, potencialmente, no risco cardiovascular, na prevalência de defeitos do tubo neural e em outros riscos de doenças. Outros polimorfismos destacados encontram-se nos genes que codificam a fosfatidiletanolamina N-metiltransferase (PEMT) e a metilenotetra-hidrofolato desidrogenase 1 (MTHFD1), os quais estão relacionados a alterações no metabolismo da colina. Ainda, é referido que a associação mais estudada entre SNPs e doença é a relação entre o genótipo da apolipoproteína E (apoE) e a doença arterial coronariana (DAC). O papel do gene FTO (fat mass and obesity associated) sobre o risco de desenvolvimento de obesidade é citado, com ênfase no fato de que tal risco pode ser modificado por fatores ambientais, como a prática de exercícios físicos e a redução da ingestão energética. Neste aspecto, fica claro também que a vulnerabilidade genética à obesidade somente se expressa quando a exposição a fatores ambientais permite tal manifestação.

Com relação à Nutrigenômica, destaca-se que estudos de restrição energética e de modificações alimentares em indivíduos com sobrepeso e obesidade têm fornecido evidências de como os nutrientes afetam a expressão gênica. Tem sido demonstrado que quando estes indivíduos modificam seus padrões de alimentação, genes envolvidos com o metabolismo e com o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) apresentam redução de expressão (down regulation). Efeitos de intervenções alimentares sobre o padrão de expressão gênica têm sido também aplicados em outras condições clínicas, como é o caso do câncer, com resultados promissores, porém muitas vezes conflitantes.

Por fim, a Epigenética refere-se a alterações herdáveis, porém que não promovem variações na sequência do DNA, mas que tem papel importante no controle da expressão gênica. Assim, a Epigenética é o processo que regula como e quando os genes são silenciados ou ativados e a Epigenômica é o estudo das alterações epigenéticas de uma célula. Os principais mecanismos epigenéticos de regulação da expressão gênica incluem hipo ou hipermetilação do DNA, alterações em histonas, silenciamento de genes por microRNAs e estabilidade cromossômica. Fatores relacionados à alimentação podem agir por meio de mecanismos epigenéticos ao longo da vida e se estender por gerações. É citado o exemplo dos indivíduos que foram expostos à privação alimentar intrauterina durante o Inverno Holandês da Fome (Dutch Hunger Winter), entre 1944 e 1945, e que na vida adulta apresentaram maior incidência de doenças crônicas, tais como esquizofrenia, diabetes melito tipo 2, DAC, hipercolesterolemia e alguns tipos de câncer.

Em diversos pontos do texto evidencia-se a preocupação em deixar claro que, apesar das fortes evidências de que a alimentação tem grande influência sobre o padrão de expressão gênica e que pode influenciar mecanismos epigenéticos, ainda há muitas questões sem respostas e que precisam ser elucidadas.

O parecer discorre sobre o aumento abrupto dos testes genéticos disponíveis no mercado, sobre os diferentes tipos de testes e sobre como a Genômica Nutricional poderia ser incorporada à prática clínica, deixando claro que os resultados destes testes podem fornecer informações úteis sobre o risco para desenvolvimento de doenças ou para manutenção da saúde de um indivíduo, sempre associados a outras informações, tais como história familiar, parâmetros bioquímicos e presença de fatores de risco para doenças (ex: obesidade, hipertensão arterial, hiperlipidemias).

O texto é finalizado com uma discussão sobre o nível de conhecimento acerca da Genômica Nutricional por parte dos Nutricionistas e destaca que conhecimentos sobre genética devem ser amplamente incorporados nos cursos de graduação em Nutrição e também em programas de residência. Com relação ao futuro da Genômica Nutricional, conclui-se que apesar de promissora na elaboração de planos alimentares personalizados com base no genótipo, esta ciência ainda está em desenvolvimento.

O posicionamento resumido é o seguinte: “A posição da Academia de Nutrição e Dietética é a de que a Genômica Nutricional fornece compreensão sobre como as interações entre alimentação e genótipo afetam o fenótipo. A aplicação prática da Genômica Nutricional em doenças crônicas complexas está em ascensão, porém ainda não é possível recomendar o uso de testes nutrigenéticos para fornecer aconselhamento nutricional na rotina da prática dietética. Nutricionistas devem ter habilidades básicas em genética como uma fundamentação para o entendimento da Genômica Nutricional; a competência requer conhecimentos e habilidades avançadas”. (tradução livre).

Versão para download em: http://www.andjrnl.org/article/S2212-2672(13)01783-8/fulltext

Por:
  • Cristiane Cominetti: Professora da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás
  • Renato Heidor: Pesquisador do Laboratório de Dieta, Nutrição e Câncer da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP
ABORDAGENS TERAPÊUTICAS

TEMA 4: Terapia endovenosa ou Soroterapia


Só é autorizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para casos de intoxicação aguda ou crônica por metais tóxicos ou reposição de nutrientes quando a via oral ou enteral está impossibilitada. Vejamos o que fala a resolução do CFM sobre terapia endovenosa:

Art. 9º São destituídos de comprovação científica suficiente quanto ao benefício para o ser humano sadio ou doente, e por essa razão têm vedados o uso e divulgação no exercício da Medicina, os seguintes procedimentos da prática ortomolecular e biomolecular, diagnósticos ou terapêuticos, que empregam:

I)        Para a prevenção primária e secundária, doses de vitaminas, proteínas, sais minerais e lipídios que não respeitem os limites de segurança (megadoses), de acordo com as normas nacionais e internacionais e os critérios adotados no art. 5º;

II)        EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) para remoção de metais tóxicos fora do contexto das intoxicações agudas e crônicas;

III)     O EDTA e a procaína como terapia antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para patologias crônicas degenerativas;

IV)   Análise do tecido capilar (mineralograma capilar) fora do contexto do diagnóstico de contaminação e/ou intoxicação por metais tóxicos;

V)    Antioxidantes para melhorar o prognóstico de pacientes com doenças agudas, observadas as situações expressas no art. 5º;

VI)   Antioxidantes que interfiram no mecanismo de ação da quimioterapia e da radioterapia no tratamento de pacientes com câncer;

VII) Quaisquer terapias antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para doenças crônicas degenerativas, exceto nas situações de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados.

Outros documentos/artigos/reportagens que me respaldo para emitir minha opinião:

TEMA 5: Reposição hormonal com finalidade antienvelhecimento

A prática de reposição hormonal com finalidade antienvelhecimento É PROIBIDA pelo Conselho Federal de Medicina: http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=23324:conselho-federal-de-medicina-proibe-o-uso-das-terapias-antienvelhecimento-no-pais&catid=3

Não é reconhecida pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia: http://www.endocrino.org.br/cfm-proibe-terapias-antienvelhecimento/

Não é reconhecida pela Sociedade Brasileira de Geriatria: http://www.sbppc.org.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=2016&Itemid=26


TEMA 6: Dieta hCG

A Gonadotrofina Coriônica ( HCG) é uma glicoproteína hormonal produzida pelas células trofoblásticas sinciciais. É o único hormônio exclusivo da gravidez, conferindo alta taxa de acurácia como diagnóstico de gestação. Possui a função de manter o corpo lúteo no ovário durante o primeiro trimestre de gestação, estrutura essencial à manutenção da gravidez.
 Em algumas situações patológicas como, mola hidatiforme, coriocarcinoma e câncer de testículo podemos evidenciar a produção do hCG diverso da gravidez e o médico está habilitado ao diagnóstico diferencial correto em tais situações.

No homem a Gonadotrofina Coriônica (HCG) atua estimulando as células intersticiais de Leydig e, consequentemente, a secreção de androgênios.

 Em crianças com criptorquidismo, a HCG atua induzindo a maturação do testículo subdesenvolvido, o crescimento dos cordões espermáticos extremamente curtos e a descida do testículo.

A última revisão sobre o tema, evidenciou que o emagrecimento promovido pela mesma, decorre da dieta hipocalórica de 500Kcal. O mesmo estudo (metanálise) frisa que há riscos de eventos trombóticos com o uso do hCG. O CRM-MS emitiu parecer contrário à dieta: http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CRMMS/pareceres/2013/4_2013.pdf

Recentemente (Maio/2015) a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia em conjunto com a Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e Síndrome metabólica publicaram um posicionamento sobre a tal terapia: http://www.endocrino.org.br/posicionamento-sobre-hcg/

"Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) em relação à utilização da Gonadotrofina Coriônica Humana (hCG) para tratamento da obesidade.

Considerando que muitos médicos estão administrando hCG para pacientes que querem emagrecer, alegando sua eficácia para tal propósito;
Considerando que não há nenhuma evidência cientifica que hCG seja útil no tratamento da obesidade (pelo contrário, o que se tem de evidências é que não tem nenhuma eficácia);
Considerando que o tratamento com hCG pode ser deletério para os pacientes, podendo levar a graves consequências clínicas, conforme documentado na literatura médica;

A SBEM e a ABESO posicionam-se frontalmente contra a utilização de hCG com a finalidade de emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde.

No consultório tenho atendido vários pacientes com complicações por uso do hCG. Quem visita meu instagram já percebeu que sempre aparece alguém comentando sobre a experiência negativa que teve com o hCG. Minha visão é a seguinte: as pessoas que perdem peso com a dieta do hCG é devido a restrição calórica.

O hCG pode ser usado mas há indicações. A forma injetável de hCG, vendida com receita médica, é aprovada, como tratamento da infertilidade ( na mulher), criptorquidismo, hipogonadismo hipogonadotrófico e puberdade tardia ( no homem e crianças).

Não há provas de que a Gonadotrofina Coriônica (hCG) aja sobre o metabolismo dos lipídios ou sobre a distribuição dos tecidos adiposos ou ainda, que influencie o apetite.

Consequentemente, a Gonadotrofina Coriônica (hCG) não possui indicações relativas ao controle de peso.( bula medicamento).

O hCG é classificado como “categoria X” pela FDA, significando que ele pode causar malformações fetais. Também constam nas orientações desta categorização que o seu uso não deve ser aplicado a pacientes com câncer hormônio-relacionados, tais como o câncer de próstata, endométrio, mama, ovário; bem como outras patologias homônio-relacionadas.

Com efeito, testes adicionais podem ser necessários para estabelecer a segurança do hCG
para indivíduos com distúrbios da tireóide ou glândula adrenal, cistos ovarianos, hemorragia
uterina, doença cardíaca, epilepsia, enxaqueca ou asma.

Os principais estudos existentes sobre a dieta hCG são esses:

1. Pektezel MY, Bas DF, Topcuoglu MA, Arsava EM. Paradoxical consequence of human chorionic gonadotropin misuse. J Stroke Cerebrovasc Dis. 2015 Jan;24(1):e17-9.

2. Thellesen L, Jørgensen L, Regeur JV, Løkkegaard E. [Serious complications to a weight loss programme with HCG.]. Ugeskr Laeger. 2014 Jul 21;176(30).

3. Lempereur M, Grewal J, Saw J. Spontaneous coronary artery dissection associated with β-HCG injections and fibromuscular dysplasia. Can J Cardiol. 2014 Apr;30(4):464.e1-3.

4. Sanches M, Pigott T, Swann AC, Soares JC. First manic episode associated with use of human chorionic gonadotropin for obesity: a case report. Bipolar Disord. 2014 Mar;16(2):204-7.

5. Goodbar NH, Foushee JA, Eagerton DH, Haynes KB, Johnson AA. Effect of the human chorionic gonadotropin diet on patient outcomes. Ann Pharmacother. 2013 May;47(5):e23.


TEMA 7: Implantes de gestrinona e Modulação hormonal

Textos que embasam a minha opinião: 
  1. Pareceres de inúmeras sociedades médicas sobre modulação hormonal ou implantes de gestrinona: https://www.ecologiamedica.net/2022/11/parecer-de-varias-sociedades-medicas.html
  2. Vídeo super elucidativo do meu colega Dr. Carlos Eduardo Viterbo: https://www.ecologiamedica.net/2024/03/implantes-hormonais-de-gestrinona.html

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416