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quarta-feira, 6 de julho de 2022

Intolerância histaminérgica e síndrome de ativação mastocitária - Aspectos nutrológicos

Em 2014 postei no meu instagram sobre FODMAPS, que os médicos ainda ouviriam falar muito sobre aquela dieta. Na época eu fazia a pós de Nutrologia da ABRAN e pouquíssimos profissionais estavam antenados sobre o que estava ocorrendo na universidade de Monash na Austrália. Hoje é uma abordagem mundialmente reconhecida, mas poucos nutricionais sabem trabalhar da forma correta. 

Hoje venho trazer para vocês um tema que vocês ouvirão falar muito nos próximos anos. Intolerância histaminérgica e síndrome de ativação mastocitária. São condições que comumente ocorrem em indivíduos com hipermobilidade articular e/ou com Taquicardia postural, e/ou disautonomia. 


Dentro da Ativação mastocitária (SAM), pode existir a intolerância à histamina (IH). Nos próximos meses falarei mais sobre o tema e o que se tem visto na literatura. Hoje trago uma postagem do pessoal do Ganep sobre a microbiota e a intolerância histaminérgica.

Intolerância à histamina pode ser influenciada pela microbiota?

A histamina é uma amina biogênica heterocíclica presente em diversos alimentos ou produzida por atividade da microbiota intestinal. A intolerância à histamina ocorre especialmente pela deficiência de diamina oxidase (DAO), enzima chave para a degradação de histamina no epitélio intestinal. Até o momento, sabe-se que a deficiência de DAO pode estar relacionada a fatores genéticos, farmacológicos ou patológicos (desordens inflamatórias, degenerativas e intestinais). Uma hipótese recente sugere que alterações na diversidade da microbiota intestinal podem contribuir para o desenvolvimento de intolerância à histamina.

Para caracterizar a composição da microbiota intestinal de pessoas com intolerância à histamina e comparar com a microbiota de indivíduos saudáveis, Sánchez-Pérez e colaboradores desenvolveram um estudo recente, com 26 participantes, sendo 12 mulheres. Os participantes foram divididos em 2 grupos: intolerância a histamina (grupo HIT) e controle (sem intolerância). O grupo HIT foi composto por 12 mulheres de 21 a 65 anos e IMC médio de 23,7Kg/m²; enquanto o grupo controle foi composto de 14 participantes homens e mulheres adultos, com IMC médio de 22,2Kg/m².

O diagnóstico do grupo HIT foi realizado pela presença de 2 ou mais sintomas descritos por Maintz e Novak (2007), e por resultados negativos para IgE específica para alérgenos alimentares. Foram avaliadas as características demográficas e os sintomas clínicos, em todos participantes. Para a análise da microbiota intestinal e da concentração de histamina, amostras de fezes foram auto-colhidas em frascos estéreis e armazenadas a -80 ◦C até suas análises. O sequenciamento da microbiota intestinal foi avaliado pela técnica 16S rRNA (região V3-V4) e os dados foram analisados pelo banco de dados EzBioCloud.

No grupo HIT, queixas gastrintestinais e neurológicas foram relatadas por 83% dos participantes, seguidos por queixas dermatológicas (50%) e respiratórias (33%). No geral, os sintomas mais frequentemente relatados foram distensão abdominal e dor de cabeça, seguidos de flatulência, diarreia, azia e dores abdominais, musculares e articulares. A atividade plasmática da DAO foi deficiente (<10 U/mL) em 10 dos 12 participantes do grupo HIT.

A microbiota intestinal dos grupos HIT e controle foi analisada e comparada em termos de filo, família, gênero e espécie. A presença de disbiose intestinal foi observada no grupo HIT, que, em comparação com ao grupo controle, apresentou menor proporção de bactérias relacionadas à saúde intestinal: Prevotellaceae, Ruminococcus, Faecalibacterium e Faecablibacterium prausnitzii. Grupo HIT também apresentou abundância significativamente maior de bactérias histaminogênicas, incluindo os gêneros Staphylococcus e Proteus, gêneros não identificados pertencente à família Enterobacteriaceae, e as espécies Clostridium perfringens e Enterococcus fecalis.

Os autores concluíram que a maior abundância de bactérias histaminogênicas favoreceu o acúmulo de altos níveis de histamina no intestino e foi associado com efeitos adversos da intolerância. Contudo, as limitações do estudo devem ser levadas em conta em estudos futuros que visem elucidar a relação entre disbiose intestinal e intolerância à histamina.

Por Priscila Garla

Referência: Sánchez-Pérez, S.; Comas-Basté, O.; Duelo, A.; Veciana-Nogués, M.T.; Berlanga, M.; Latorre-Moratalla, M.L.; Vidal-Carou, M.C. Intestinal Dysbiosis in Patients with Histamine Intolerance. Nutrients 2022, 14, 1774. https://doi.org/10.3390/nu14091774

segunda-feira, 29 de maio de 2023

29 de Maio - Dia Mundial da Saúde Digestiva

 


Quando formei em Janeiro de 2008 a Gastroenterologia ainda engatinhava no tema saúde intestinal. O foco era maior nas doenças do aparelho digestivo: Gastrite, refluxo, Intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais, doença diverticular do cólon, doença hemorroidária, constipação, diarreia e as neoplasias. Pouco se falava sobre disbiose. Na verdade o termo disbiose era considerado charlatanismo, conforme consta em uma das edições passadas do Shills (Nutrição Moderna). 

Felizmente a Medicina avança e hoje o tema saúde intestinal está em voga. Conexão eixo-cérebro-intestino parece ser algo promissor. A interferência do microbioma intestinal em toda a nossa saúde parece realmente existir, ao contrário do que alguns autores achavam. 

Gosto de deixar claro que ainda estamos engatinhando na compreensão dos mistérios do tubo digestivo. Sou um entusiasta dessa área e acho que o futuro nos reserva muitas novidades. 

O principal objetivo da data é sensibilizar a população e os profissionais de saúde para a importância da correta interpretação dos sintomas de doenças gastrointestinais e o rápido tratamento, além da adoção de um estilo de vida mais saudável, com uma alimentação equilibrada. Então no dia de hoje tenho algumas recomendações gerais e que podem favorecer uma melhor saúde digestiva. Lembre-se, cada caso é um caso e o mais adequado é que você procure um nutrólogo ou gastroenterologista, caso apresente sintomas. 

Regra 1: Tenha tempo pra nutrir seu corpo. Tempo disponível para sentar e se alimentar. Dê atenção ao que coloca na sua boca. Aqui a chave é a atenção plena. 
Regra 2: Nutra (coma) com prazer mas conscientemente. Não gosto de dicotomizar os alimentos em bons e ruins, pois, tudo depende do contexto, da quantidade ingerida. Mas dê preferência para comida de verdade. 
Regra 3: O seu estômago não tem dente, intestino muito menos, portanto mastigue. Cansou ? Mastigue mais. A boca e dentes tem essa função, a digestão começa ali. Quanto mais mastiga, mais sucos digestivos são produzidos, mais saciado você fica. Além de facilitar a digestão. 
Regra 4: Alimentos ultraprocessados devem ser evitados sempre que possível. Consuma alimentos in natura ou minimamente processados. Estou falando grego? No guia alimentar para a população brasileira (página 25) está explicando detalhadamente e de forma didática o que são alimentos in natura, minimamente processados e ultraprocessados. Aproveite e leia o guia todo pois, ele é referência mundial: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
Regra 5: Orgânicos devem ser consumidos, preferencialmente. Provavelmente não possuem vantagens no quesito concentração de nutrientes, mas não possuem "defensivos" agrícolas = agrotóxicos.
Regra 6: Variedade alimentar, nada de monotonia alimentar. Quanto mais colorida a sua alimentação, maior as chances de você estar ingerindo uma variedade de nutrientes. Além disso a alimentação fica mais prazerosa. 
Regra 7: Beba água, todo o seu tubo digestivo agradece. Facilita a produção de sucos digestivos, facilita a formação e hidratação do bolo fecal, evitando constipação, doença diverticular do cólon, hemorróidas.
Regra 8: Arrume um tempo para regularizar seu intestino: evacuar diariamente faz bem. Crie uma rotina para evacuar.
Regra 9: Pratique atividade física, ela estimula o peristaltismo intestinal e ajuda a prevenir uma série de doenças do trato digestivo, dentre elas alguns tipos de cânceres, constipação intestinal, doença hemorroidária, Supercrescimento bacteriano do intestino delgado. 
Regra 10: Sentiu algo de diferente na mastigação, digestão, evacuação = procure um médico.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Aerofagia, Gases (flatos) e Distensão abdominal: causas, diagnóstico e tratamento



Uma das queixas mais comuns no meu consultório são os gases e a investigação não é tão simples como muitos acreditam. Se a investigação não é tão simples, quem dirá o tratamento. O nutrólogo necessita ser capacitado para conduzir o diagnostico e tratamento desse sintoma: Gases (flatos).

Não existe ser humano que não produza gases intestinais. Até a Gisele Bundchen. Todos nós os produzimos regularmente e, quando em excesso, devem ser eliminados. Esses gases são resultantes de um processo biológico normal, chamado fermentação, que ocorre durante a digestão dos alimentos mas podem ter outras causas. 

Sem alimentos o nosso intestino possui menos de< 200 mL de gases por dia. 

A quantidade de gases expulsos por dia vai variar de 600 a 700 ml, após uma ingestão diária com cerca de 200g de feijão cozido.

Cerca de 75% dos flatos são derivados da fermentação promovida pelas bactérias que se situam no intestino grosso, sobre os nutrientes ingeridos e glicoproteínas endógenas. E quais são os principais gases? Os gases incluem H2 (Hidrogênio), CH4 (metano) e CO2 (gás carbônico), H2S (Gás sulfídrico ou sulfeto de Hidrogênio). O cheiro dos gases se correlaciona com a concentração de sulfeto de hidrogênio. 

O ar deglutido (aerofagia) e a difusão do sangue para a luz intestinal também contribuem para os gases intestinais. Os gases passam entre a luz e a corrente sanguínea em uma direção dependente da diferença nas pressões parciais. 

O acúmulo excessivo de gases no intestino delgado e no grosso promove distensão, também chamada de meteorismo. Quando esses gases são também responsáveis por desconforto e/ou dor abdominal e excessiva eliminação pelo ânus, temos um quadro de flatulência.

Os 3 tipos de apresentação de excessos de gases

Existem 3 queixas principais relacionadas com gases: 

  1. Eructações excessivas (arrotos), 
  2. Distensão (meteorismo),
  3. Flatulência excessiva, 
Crianças entre 2 e 4 meses de idade com crises de choro repetidas geralmente parecem, a quem as observa, estarem com dor devido cólicas decorrentes de gases. Entretanto, estudos mostram que não há aumento na produção de H2 ou no tempo de trânsito orocecal em crianças com cólicas. Consequentemente, a causa da cólica infantil continua obscura. Ou seja, o tema é controverso, pois ao utilizarmos algumas cepas de probióticos, os gases melhoram e consequentemente as cólicas. 


Eructações excessivas

As eructações resultam de ar deglutido ou de gás presente em bebidas gaseificadas (refrigerantes, água com gás, soda italiana). 

A ingestão de ar ocorre normalmente em pequenas quantidades quando se bebe ou ingere alguma coisa, mas algumas pessoas inconscientemente deglutem ar de modo repetido enquanto comem ou fumam e em especial quando estão ansiosas ou na tentativa de induzir a eructações. 

Salivações excessivas aumentam a aerofagia e podem estar associadas a vários distúrbios gastrointestinais (como DRGE), dentaduras mal ajustadas, determinados fármacos, chicletes, ou náuseas de qualquer causa.

Grande parte do ar deglutido é eructada (arrotada). Apenas pequena parte desse ar passa para o intestino delgado; essa quantidade é aparentemente influenciada pela posição em que o indivíduo se encontra. Em uma pessoa em pé, o ar é rapidamente eructado; em uma pessoa em posição deitada o ar é preso acima do líquido do estômago e tende a ser empurrado para o duodeno. 

A eructação excessiva pode também ser voluntária; pacientes que arrotam depois de ingerirem antiácidos tendem a atribuir a melhora dos sintomas mais à eructação do que aos antiácidos e podem intencionalmente eructar para ter seu desconforto aliviado.

Distensão abdominal (excesso de gases)

A sensação de distensão abdominal pode ocorrer sozinha ou junto com outros doenças gastrointestinais.

Por exemplo, distensão abdominal associada a distúrbios funcionais (p. ex., aerofagia, dispepsia funcional, gastroparesia, síndrome do intestino irritável) e orgânicos (p. ex., câncer de ovário, câncer de cólon). 

A gastroparesia (e consequente distensão abdominal) também tem muitas causas não funcionais, a mais importante das quais é a neuropatia autonômica visceral decorrente do diabetes; outras causas são a infecção pós-viral, fármacos com propriedades anticolinérgicas e consumo prolongado de opioides. 

Entretanto o gás excessivo no intestino não está claramente relacionado a essas queixas. Em muitos pacientes saudáveis, 1 L/h de gás pode ser infundido no intestino de forma assintomática, ou seja, o paciente nem sentirá nada. Parece que muitos sintomas são incorretamente atribuídos ao “excesso de gás”.

Por outro lado, alguns pacientes com sintomas gastrointestinais recorrentes frequentemente não toleram pequenas quantidades de gás: distensão colônica retrógrada por meio de insuflação de balão ou instilação de ar durante colonoscopia geralmente causam desconforto significativo em alguns pacientes (p. ex., aqueles com síndrome do intestino irritável), mas provocam sintomas mínimos em outros. 

De maneira similar, pacientes com distúrbios alimentares (p. ex., anorexia nervosa, bulimia) com frequência têm a percepção alterada e são particularmente incomodados por sintomas como distensão. Logo, a anormalidade básica nos pacientes com sintomas relacionados a “gases” pode ser um intestino hipersensível. Motilidade alterada pode contribuir para os sintomas.

Algo que vejo comumente no consultório é o paciente afirmando que acorda com o abdome plano e termina o dia com uma protuberância abdominal, quase semelhante a uma gravidez. Na maior parte das vezes esse sintoma tem correlação com a dieta, mas pode ter outras causas, cabendo ao Nutrólogo ou Gastro investigar. 

Na prática, o que faço com o meu nutricionista (Rodrigo Lamonier) são diários alimentares funcionais. No qual o paciente relata a ingestão, descreve a composição da refeição e relaciona o sintoma gastrintestinal que surgiu. Depois procede-se com a análise diante do paciente.

Flatulência excessiva

Existe grande variabilidade na quantidade e frequência da passagem de gases pelo reto (o famoso soltar pum). 

Muitas vezes os pacientes que se queixam de flatulência em geral têm uma concepção errada do que é normal. A média de flatos eliminados por dia gira em torno de 13 a 21. Ou seja, soltar 13 a 21 "puns" por dia pode ser aceitável, o problema é que muitos deles são eliminados de forma imperceptível.

A flatulência, que pode causar angústia psicossocial significativa, é extraoficialmente descrita de acordo com suas características marcantes:


  • O tipo “deslizante” (que ocorre em um elevador cheio de pessoas), que é liberado lentamente e silenciosamente, às vezes com um efeito devastador
  • O esfíncter aberto, ou tipo "pooo", que se diz ser de maior temperatura e mais aromático
  • O "staccato” (notas musicais separadas) ou em “barulho de tambor”, eliminado privadamente e com prazer
  • O tipo “latido” é caracterizado por eliminação rápida e fina que interrompe eficazmente (e em geral termina) uma conversa (o odor não é uma característica proeminente)

Como já dito, os gases são sub-produtos metabólicos das bactérias intestinais; quase nada vem do ar deglutido ou pela difusão retrógrada de gases (primariamente nitrogênio) a partir da corrente sanguínea. O metabolismo bacteriano produz volumes significativos de H2, CH4 e CO2.

H2

O hidrogênio é produzido em grandes quantidades em pacientes com síndromes de má absorção e depois da ingestão de certas frutas e vegetais que contêm carboidratos não digeríveis ou problemáticos (p. ex., feijões cozidos, brócolis), açúcares (p. ex., frutose) ou açúcares de álcool (sorbitol). Tem um texto grande aqui no blog que explica bem sobre esses carboidratos problemáticos, os FODMAPS: http://www.drfredericolobo.com.br/2016/07/estrategia-fodmaps-voce-ainda-ouvira.html

Em pacientes com deficiência de dissacaridase (mais comumente deficiência de lactase), grandes quantidades de sacarídeos chegam ao cólon e são fermentados em hidrogênio. 

Doença celíaca, espru tropical, insuficiência pancreática e outras causas de má absorção de carboidratos também devem ser consideradas em casos de excesso de gás colônico.

Metano 

Metano também é produzido pelo metabolismo bacteriano dos mesmos alimentos (p. ex., fibra dietética). Contudo, cerca de 10% dos indivíduos tem bactérias que produzem CH4, mas não H2.

Dióxido de carbono ou gás carbônico

O dióxido de carbono também é produzido pelo metabolismo bacteriano e gerado pela reação de íons de bicarbonato e hidrogênio. 

Os íons de hidrogênio provêm do ácido clorídrico gástrico ou dos ácidos graxos liberados durante a digestão das gorduras. 

Os produtos ácidos liberados pela fermentação bacteriana de carboidratos não absorvíveis no cólon podem também reagir com o bicarbonato para produzir CO2. Embora possa ocorrer distensão ocasionalmente, a rápida difusão de CO2 para o sangue costuma prevenir a distensão.

A dieta é responsável por grande parte da variação da produção de flatos entre os indivíduos, mas fatores ainda não compreendidos (p. ex., diferenças na microbiota do intestino grosso e motilidade) podem também ter participação.

Avaliação clínica e diagnóstico

Aerofagia: Quando o paciente relata que está arrotando muito, comumente investigamos as causas de aerofagia, aplicamos o diário funcional e muitas vezes solicitamos alguns exames. 

Já nos pacientes com queixa de distensão abdominal ou flatulência, investigamos se não há nenhuma alteração orgânica no trato digestivo. Afastamos Síndrome do intestino irritável pois pode coexistir. Investigamos as principais intolerâncias à carboidratos fermentáveis. 

Além disso, algo que tem se tornado comum é o diagnóstico de Disbiose intestinal ou de Síndrome de Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SCBID ou SIBO). 

O termo Disbiose é usado de forma errada e na verdade considera-se Disbiose como qualquer alteração qualitativa e quantitativa da microbiota ao longo do trato digestivo. Já os supercrescimento se refere mais ao Intestino delgado. 

A SCBID é geralmente definida pela presença de uma população bacteriana no intestino delgado que excede 105-106 ufc/ml. Ou pela presença no Intestino delegado  ≥ 103 ufc/mL com predomínio de bactérias que normalmente ficariam no intestino grosso e que não estão presentes na saliva ou no suco gástrico




Quando essa colonização é leve a moderada o paciente pode apresentar: 

  1. Flatulência
  2. Distensão abdominal
  3. Desconforto abdominal
  4. Borborigmos
  5. Dor abdominal
  6. Dispepsia

Caso a colonização seja maciça, o paciente pode cursar com:

  1. Diarréia disabsortiva
  2. Desnutrição
  3. Manifestações neurológicas

Nesse caso investigamentos a relação entre os sintomas e as refeições (tanto a hora quanto o tipo e a quantidade de alimento), evacuações e esforços. Investigamos o histórico medicamentoso do paciente, quais drogas ele utilizou nos últimos 3 anos e que possam ter impactado nessa microbiota do trato digestivo. Aplicamos a Escala de Bristol e muitas vezes solicitamos a Pesquisa de Supercrescimento bacteriano, Coprológico Funcional, Coprocultura. Investigamos déficit de nutrientes.


Exame físico

O exame físico geralmente apresenta alteração na percussão do abdome do paciente, muitas vezes visivelmente distendido. Além disso há um aumento do número e intensidade dos ruídos hidroaéreos. 

Tratamento

Eructações e distensão são difíceis de serem aliviados, já que com frequência são causados por aerofagia inconsciente ou sensibilidade aumentada a quantidades normais de gases.  A aerofagia pode ter uma melhora com algumas medidas dietéticas, uso de técnicas cognitivo-comportamentais para evitar a deglutição de ar. Além de melhora no padrão inspiratório. As drogas muitas vezes têm pouco benefício. Simeticona, um agente que rompe as pequenas bolhas de gás, e vários agentes anticolinérgicos geram maus resultados clínicos. Alguns pacientes com dispepsia e empachamento pós-prandial se beneficiam com o uso de antiácidos, antidepressivos tricíclicos em baixas doses ou ambos para reduzir a hipersensibilidade visceral. Alguns gastroenterologistas utilizam procinéticos, o que pode auxiliar alguns casos.

Flatulência excessiva, via de regra, é tratada abstendo-se dos agentes causadores de gases. Nesse caso o diário funcional tem um papel essencial. O que desencadeia gases em um, pode não desencadear em um outro indivíduo. Brinco com meus pacientes que é um trabalho duplo-detetive. A investigação as vezes dura de 6 meses a 1 ano.

Pode-se utilizar substâncias não absorvíveis (p. ex., psyllium e outras fibras) com o intuito de aumentar o trânsito colônico; entretanto, em alguns pacientes os sintomas podem piorar.  

A mesma coisa ocorre com uso de probióticos. Tem uma grande quantidade de pacientes que vem encaminhado por Nutricionistas, alegando que após utilizarem probióticos os gases aumentam e os sintomas pioram. Isso é algo que ocorre muito comumente na SIBO. E se o paciente tiver SIBO, ele pode utilizar o tanto de prebiótico ou probiótico que for. Os sintomas só vão piorar, enquanto não se utilizar a antibioticoterapia específica. 

Carvão ativado pode, às vezes, ajudar a reduzir os gases e o odor desagradável; contudo, ele mancha as roupas e cora a mucosa oral. 

Fonte: 

  1. http://www.betterhealth.vic.gov.au/bhcv2/bhcpdf.nsf/ByPDF/Flatulence/$File/Flatulence.pdf
  2. http://www.shs.uconn.edu/docs/educational_handouts/flatulence.pdf
  3. http://digestive.niddk.nih.gov/ddiseases/pubs/gas/index.aspx
  4. http://www.nhs.uk/conditions/flatulence/Pages/Introduction.aspx
  5. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/sintomas-dos-dist%C3%BArbios-gi/queixas-relacionadas-a-gases

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Afinal, o que é a Nutrologia e o que faz um nutrólogo ?


Nutrologia pode ser definida como uma especialidade médica que estuda a fisiopatologia, o diagnóstico e tratamento das doenças nutricionais. Compreende-se por Doença Nutricional, qualquer patologia que tem como agente primário etiológico algum nutriente, seja ele excesso ou déficit.
O início da Nutrição médica ou Nutrologia Médica começou em 1932 com o médico Josué de Castro que estudou problemas relacionados a nutrição no Brasil, influenciado pelo Nutrólogo argentino Pedro Escudeiro (o pai da Nutrição médica na América Latina). Dr. Josué foi responsável pelo primeiro estudo de inquérito alimentar no Brasil. Foi criador do Serviço de Alimentação e Previdência Social (SAPS, 1940), da Comissão Nacional de Alimentação (CNA, 1945). Criou e dirigiu o Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil por 10 anos. Foi diretor cientifico dos Arquivos Brasileiros.
Um outro pioneiro na área de Nutrição médica no Brasil é o Prof. Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira. Ele foi um dos responsáveis pelo reconhecimento da importância e da necessidade do ensino da Nutrição clínica no ensino médico e desde a década de 50 atua em nosso país. Em 1956 criou a divisão de Nutrologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (HCFMUSP-RP)
A Nutrologia apesar de parecer uma especialidade nova no Brasil, já tem mais de 45 anos, no Brasil sendo representada pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Uma associação médica que foi criada em 1973 no Rio de Janeiro pelos médicos Prof. Dr. José Evangelista (in memorian) e Dra. Clara Sambaquy Evangelista (in memorian).
É importante salientar que o termo Nutrologia, proposto pelo Prof. Dr. José Evangelista, e aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB), tem também as denominações correspondentes como: Nutrologia Médica, Nutrologia Funcional, Nutrição Médica, que são sinônimos e representam por definição e analogia o termo Nutrologia.
Posteriormente vários médicos deram continuidade ao projeto do casal Evangelista, dentre eles o Prof. Dutra e seus “discípulos” da divisão de Nutrologia do HCFMUSP-RP.
Dr. Hélio Vanuchi:
Dr. José Ernesto dos Santos:
Dr. Júlio Sergio Marchini:
Dr. Fernando Bahdur Chueire:
Dra. Vivian Marques Miguel Suen:
Dra. Selma Freire

Porém só em 1978, a Nutrologia foi reconhecida como Especialidade Médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pelo Conselho Nacional de Residência Médica (CNRM).
Atualmente o presidente da ABRAN é o Prof. Dr. Durval Ribas Filho, médico, endocrinologista e Nutrólogo.
Muitos profissionais ligados à área de Nutrição médica não se intitulam nutrólogos, nem são filiados ou titulados à ABRAN, mas merecem o nosso reconhecimento pelos feitos na área, dentre esses profissionais temos:
Prof. Dr. Dan Waitzberg (GANEP): Médico cirurgião e profº associado do deptº de Gastroenterologia da FMUSP, Coordenador do Laboratório de Metabologia e Nutrição em Cirurgia Digestiva – Metanutri da FMUSP, Coordenador da Comissão de Nutrologia do Complexo Hospitalar Hospital das Clinicas da FMUSP. Diretor do Ganep Nutrição Humana.
Prof. Dr. José Eduardo de Aguilar-Nascimento (UFMT): Médico, especialista em Cirurgia do aparelho digestivo. Mestre e doutor em Gastroenterologia Cirúrgica pela UNIFESP. É responsável pelo grupo de pesquisa Nutrição e Cirurgia da UFMT e pelo projeto ACERTO (www.projetoacerto.com.br).
Prof. Msc. Maria de Lourdes Teixeira da Silva (GANEP): Médica, especialista em nutrição parenteral e enteral (BRASPEN), Mestre em Gastroenterologia e diretora do GANEP.
Dr. Antônio Carlos L. Campos (UFPR): Professor Titular de Cirurgia do Aparelho Digestivo e Coordenador do Programa de Pós-graduação em Clínica Cirúrgica da Universidade Federal do Paraná. Ex-Presidente da SBNPE e da FELANPE.
Prof. Dra. Isabel Correia (UFMG): Médica e professora de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. Coordenadora do grupo de Nutrição do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG.
Dra. Maria Cristina Gonzales (UCPEL): Médica, especialista em Gastroenterologia e Nutrição enteral e parenteral (BRASPEN). Professora Titular no Programa de Pós-graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas, RS. Professora Colaboradora no Programa de Pós-graduação em Nutrição e Alimentos da Universidade Federal de Pelotas, RS. Editora do BRASPEN Journal.
Dra. Melina Castro (BRASPEN): Médica, especialista em Nutrologia pela Faculdade de Medicina da USP. Doutora pela Faculdade de Medicina da USP. Coordenadora da EMTN do Hospital Mario Covas – Faculdade de Medicina do ABC. Coordenadora da Pós-graduação de Terapia Nutricional em doentes graves do Hospital Israelita Albert Einstein.
Dr. Paulo Cesar Ribeiro (BRASPEN): Médico cirurgião geral. Especialista em Proctologia, Medicina Intensiva e Nutrição enteral e parenteral (BRASPEN).  Mestre em Cirurgia Geral pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Responsável pelo Serviço de Terapia Nutricional Artificial do Hospital Sírio Libanês.
Dr. Rodrigo Costa (BRASPEN): Médico, especialista em Clínica médica, Nefrologia, Medicina intensiva e Nutrologia. Coordenador da EMTN do Hospital de Urgências de Goiânia. Professor do Comitê de Terapia Nutricional da AMIB.
Dr. Haroldo Falcão (BRASPEN): Médico, especialista em Medicina intensiva e Nutrologia (ABRAN). Professor do Comitê de Terapia Nutricional da AMIB.
Dr. Diogo Toledo (BRASPEN): Médico intensivista e especialista em Nutrição enteral e parenteral (BRASPEN). Presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN). Coordenador do Comitê de Terapia Nutricional da AMIB.
ABRAN realizou o 1º. Curso Nacional de Atualização em Nutrologia (CNNutro) em 2003. O mesmo nos primeiros anos ocorreu na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Nos últimos anos, o CNNUTRO vem sendo realizado em São Paulo-SP. Atualmente a ABRAN promove também o Curso Nacional de Nutrição enteral e parenteral (CNNEP). Para maior intercâmbio entre os afiliados e o público interessado em Nutrologia, a ABRAN criou o Nutro News (NN), um informativo trimestral e a Revista Científica de Nutrologia (International Journal of Nutrology), de distribuição gratuita para os afiliados. Anualmente promove o Congresso Brasileiro de Nutrologia (CBNutrologia) e jornadas regionais de Nutrologia.
GANEP que é uma instituição aberta para médicos que atuam na área de nutrição médica e para nutricionistas possui uma pós-graduação em Nutrição clínica, Residência Médica no Hospital da Beneficência Portuguesa e organiza anualmente um congresso, o GANEPÃO.
BRASPEN é a entidade responsável por emitir os títulos na área de atuação em Nutrição Parenteral e Enteral. Organiza vários cursos em todo o país e anualmente tem o seu congresso nacional.
No Brasil a Especialidade relacionada à Nutrição médica é a Nutrologia. Porém há áreas de atuação dentro da Nutrologia. São elas:
  • Nutrição Parenteral e Enteral
  • Nutrição Parenteral e Enteral Pediátrica
  • Nutrologia Pediátrica
No Brasil há pouco mais de 1600 Nutrólogo titulados. Nos últimos 5 anos a Especialidade cresceu exponencialmente, porém poucos ainda são nutrólogos verdadeiramente, ou seja, titulados e registrados no CFM. Quando um profissional se intitula algo sem possuir o título, ele está cometendo infração ética perante o Código de Ética Médica que rege a medicina. Portanto, antes de se consultar com um profissional que se diz Nutrólogo, verifique se o mesmo é, realizando uma pesquisa simples no site do CFM ou dos CRMs regionais.
Acho importante salientar que na atualidade alguns profissionais estão levando a uma deturpação do que é realmente a Nutrologia. Pessoas confundindo terapias como Ortomolecular, Anti-aging, Nutriendocrinologia ou Medicina Integrativa com a Nutrologia.
Estas terapias até podem utilizar de elementos da Nutrologia e terem sua base calcada em fundamentos nutrológicos, mas a Nutrologia não incorpora na sua prática clínica ou hospitalar nada destas áreas, que sequer são reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina.
Mas afinal, o que faz um nutrólogo ?
O Nutrólogo é o médico habilitado e capacitado para diagnosticar, acompanhar e tratar todas as doenças que sejam de cunho nutricional ou que a ingestão alimentar pode influenciar no prognóstico.
A Nutrologia estudapesquisa e avalia os malefícios decorrentes da ingestão ou déficit de um determinado nutriente. Baseado nessa premissa, a Nutrologia aplica esse conhecimento para a avaliação de nossas necessidades orgânicas, visando a manutenção da saúde e redução de risco de doenças, assim como o tratamento das manifestações de deficiência ou excesso de nutrientes.
O acompanhamento do estado nutricional do paciente e a compreensão da fisiopatologia das doenças diretamente relacionadas com os nutrientes permitem ao médico Nutrólogo atuar no diagnósticoprevenção e tratamento destas doenças, contribuindo na promoção de uma vida saudável, com melhor qualidade de vida.
Nossa abrangência engloba:
  • O diagnóstico e tratamento das doenças nutricionais (que incluem as doenças nutroneurometabólicas de alta prevalência nos dias de hoje como a obesidade, a hipertensão arterial e o diabetes mellitus), utilizando de todo um arsenal propedêutico (investigativo) e terapêutico: solicitação e avaliação de exames complementares, prescrição de medicações, vitaminas, minerais, ácidos graxos, antioxidantes, quando necessários.
  • A identificação de possíveis “erros” alimentareshábitos errôneos de vida ou estados orgânicos que estejam contribuindo para o quadro nutricional do paciente, já que as interrelações entre nutrientes-nutrientes, nutrientes-medicamentos e de mecanismos regulatórios orgânicos são complexas, podendo levar ao padecimento do organismo.
  • O esclarecimento ao paciente, de que existem doenças nutricionais, decorrentes de alterações nos nutrientes. Desde condições mais simples, como anemia ferropriva e carência de vitamina A, até condições mais complexas, como: obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, vários tipos de câncer, anorexia nervosa, osteoporose. Elucidar para o paciente quais são as substâncias benéficas e maléficas presentes nos alimentos, de modo que ele mesmo saiba fazer as suas escolhas alimentares para viver mais e melhor.
  • Tratamento de pacientes gravemente enfermos ou internados em hospitais, a fim de se combater a desnutrição principalmente intra-hospitalar.
Baseado nisso, em quais estabelecimentos um médico Nutrólogo poderia atuar? Em quais áreas poderia adentar?
Para fins didáticos, prefiro subdividir a Nutrologia em Nutrologia clínica e Nutrologia Hospitalar.
Nutrólogo que atua em Nutrologia clínica geralmente exerce suas atividades dentro de serviços ambulatoriais/consultório, atendendo situações que não necessitam de intervenção emergencial. Ex: médico Nutrólogo que trabalha com obesidade em ambulatório no sistema público ou em consultório privado. Eu sou um Nutrólogo clínico. 
Já a Nutrologia hospitalar, como o próprio nome diz, englobará atuações dentro do âmbito hospitalar. Ou seja, pacientes internados em enfermarias ou Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A Nutrologia hospitalar geralmente utiliza dentro do seu arsenal terapêutico, de fórmulas enterais (via sonda ou gastrostomia/jejunostomia) ou formulações parenterais (via endovenosa).
Dentre as áreas que o Nutrólogo pode atuar, além da hospitalar temos:
  • Nutrologia pediátrica
  • Nutrologia geriátrica
  • Nutrologia esportiva
  • Nutrologia oncológica
  • Nutroterapia no paciente cirúrgico
  • Nutroterapia materno-fetal
  • Nutroterapia de doenças hepáticas,
  • Nutroterapia de doenças gastrintestinais,
  • Nutroterapia de doenças renais,
  • Nutroterapia de doenças pulmonares,
  • Nutroterapia de doenças cardíacas e vasculares,
  • Nutroterapia de doenças neurológicas,
  • Nutroterapia de doenças reumatológicas,
  • Nutroterapia de doenças osteomusculares,
  • Nutroterapia de doenças ginecológicas,
  • Nutroterapia de doenças hematológicas,
  • Nutroterapia de doenças alérgicas.
Ou seja, o Nutrólogo pode atuar em todas as áreas da medicina, já que existe uma interface entre a maioria das doenças e aspectos nutricionais.


Quais doenças e situações nutrólogos tratam ?
  1. Pacientes saudáveis que deseja melhorar hábitos dietéticos e salutares de vida.
  2. Pacientes saudáveis que desejam realizar check up nutricional, para detecção de falta ou excesso de nutrientes. 
  3. Pacientes críticos e internados em Centros de Terapia Intensiva (CTIs), necessitando de suporte nutricional para melhorar o prognóstico e evitar complicações (ex. sarcopenia) após a alta.
  4. Pacientes restritos ao leito hospitalar e que necessitam de suporte nutricional adequado.
  5. Pacientes que serão ou foram submetidos a cirurgias.
  6. Orientações nutrológicas para pacientes oncológicos (os mais diversos tipos de câncer).
  7. Pacientes que não conseguem ingerir comida por via oral (pela boca) e necessitam de sonda nasogástrica/nasoenteral ou por via endovenosa (na veia).
  8. Pacientes com gastrostomia ou jejunostomia.
  9. Magreza constitucional (baixo peso), em todas as fases da vida.
  10. Sobrepeso.
  11. Obesidade em todos os seus graus: em todas as fases da vida.
  12. Preparo pré-cirurgia bariátrica.
  13. Acompanhamento pós-cirurgia bariátrica.
  14. Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP).
  15. BulimiaAnorexiaSíndrome do Comer NoturnoVigorexiaOrtorexia: aspectos nutrológicos. O acompanhamento psiquiátrico é indispensável
  16. Aspectos nutricionais da ansiedade, depressão, insônia (ou seja, o psiquiatra faz a parte dele e o nutrólogo busca déficits nutricionais ou intoxicação por substâncias que possam estar interferindo no agravamento da doença).
  17. Intolerância à glicose.
  18. Diabetes mellitus tipo 2  e tipo 1.
  19. Dislipidemias: hipercolesterolemia (aumento do colesterol) e hipertrigliceridemia (aumento do triglicérides).
  20. Síndrome metabólica: Obesidade acompanhada de hipertensão, aumento da circunferência abdominal ou dislipidemia.
  21. Esteatose hepática não-alcóolica (gordura no fígado).
  22. Alergias alimentares.
  23. Intolerâncias alimentares (lactose, frutose, rafinose e sacarose).
  24. Anemias carenciais (por falta de ferro, de vitamina B12, de ácido fólico, cobre, zinco, complexo B, vitamina A).
  25. Pacientes vegetarianosveganosovolactovegetarianoscrudivoristas.
  26.  Constipação intestinal (intestino preso).
  27. Diarreia aguda ou crônica.
  28. Síndrome do Intestino Curto.
  29. Dispepsias correlacionadas à ingestão de alimentos específicos (má digestão).
  30. Alterações da Permeabilidade intestinal (leaky Gut), Disbiose intestinal.
  31. Síndrome de Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO).
  32. Síndrome do intestino irritável.
  33. Orientações nutrológicas em Doença de crohn e Retocolite ulcerativa.
  34. Aspectos nutrológicos da Fibromialgia.
  35. Pacientes portadores de Fadiga ou Fadiga crônica.
  36. Acompanhamento nutrológico pré-gestacional e gestacional (preparo pré-gravidez e pós-gravidez para retornar ao peso anterior e fazer suplementações necessárias).
  37. Infertilidade (aspectos nutrológicos).
  38. Orientações nutrológicas para cardiopatas (Insuficiência coronariana, Insuficiência cardíaca, Arritmias, Valvulopatias, Hipertensão arterial).
  39. Orientações nutrológicas para pneumopatas (Enfisema, Asma, Fibrose cística).
  40. Orientações nutrológicas em Hiperuricemia (aumento do ácido úric0), Gota.
  41. Orientações nutrológicas em Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.
  42. Orientações nutrológicas e tratamento de pacientes com sarcopenia (baixa quantidade de músculo).
  43. Orientações nutrológicas e tratamento de pacientes com osteoporose ou osteopenia.
  44. Orientações nutrológicas para portadores de doenças autoimunes (artrite reumatóide, lúpus, Hipotireoidismo/tireoidite de hashimoto, psoríase, vitiligo, doença celíaca).
  45. Orientações nutrológicas em portadores de HIV em tratamento com antirretrovirais.
  46. Orientações nutrológicas para hepatopatas (Varizes esofagianas, Hipertensão portal, insuficiência hepática, Ascite, cirrose hepática).
  47. Orientações nutrológicas para nefropatas (Insuficiência renal aguda, insuficiência renal crônica, glomerulonefrites, litíase renal).
Autor:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 115195
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sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Intolerância histaminérgica - Aspectos nutrológicos: como o médico nutrólogo pode te auxiliar?

Intolerâncias alimentares

As intolerâncias alimentares podem ser a vários alimentos/grupos/substâncias específicas. A mais comumente abordada é a intolerância à lactose. Recentemente tem se falado também bastante sobre a intolerância à frutose, já que os métodos utilizados para fechar o diagnóstico apresentam alta taxa de falsos positivos. 

Temos ainda intolerância a rafinose, sacarose... e também à Histamina. Geralmente são sintomas gastrointestinais funcionais e que muitas vezes não encontramos achados laboratoriais que fechem o diagnóstico. Ou seja, são sintomas gastrointestinais funcionais, crônicos e muitas vezes inexplicáveis, que deixam o paciente/médico perdidos e sem um norte. 

Se na intolerância à lactose o paciente apresenta deficiência da lactase, na intolerância histaminérgica há deficiência da enzima diamino-oxidase (DAO) no intestino, o que ocasionada  uma sensibilidade aos níveis normais ou mesmo baixos de histamina nos alimentos.

Mas afinal, o que é a histamina?

A histamina do nosso corpo é um composto nitrogenado orgânico, de formula molecular C5H9N3 e nome IUPAC 2-(3H-imidazol-4-il)-etanamina. Esta amina é originada a partir da perda de um grupo carboxila do aminoácido histidina, processo conhecido com descarboxilação. Esta amina foi descrita pela primeira vez em 1910 quando um grupo de pesquisadores a isolou do fungo Claviceps purpúrea. 

Em mamíferos, a histamina está relacionada com diversas funções biológicas como por exemplo a contração da musculatura lisa, principalmente do intestino e brônquios, vasodilatação e aumento da permeabilidade de vasos, aumento da secreção de mucosas, ciclo claro-escuro e também como neurotransmissores. Consequentemente, a histamina pode estar envolvida com quadros de taquicardias, arritmias, variações de pressão sanguínea, aumento de secreções gástricas, isquemia intestinal e até mesmo na angiogênese de tumores.

Um dos principais envolvimentos da histamina é sua secreção por células imunes após o contato com antígenos, o que muitas vezes é relacionado com reações alérgicas. Quando anticorpos do tipo IgE são ativados por seus respectivos ligantes (antígenos geralmente alérgenos), ele ganha a capacidade de se ligar em mastócitos e, estas células, que reservam grandes quantidades de histamina em seu interior, são lisadas e liberam esta histamina. Esta liberação, no local ou na corrente sanguínea, permite que as funções biológicas da histamina aconteçam. Caso a degradação da histamina não aconteça de maneira correta, ou caso o estímulo alérgeno esteja constantemente presente e, portanto, constantemente ativando os mastócitos a liberar a histamina, esse processo é chamado de resposta alérgica.

Nesse sentido, em 1932, a histamina foi descrita como grande mediadora de reações anafiláticas devido sua participação da contração da musculatura lisa e alterações da pressão sanguínea. Estas respostas anafiláticas têm grande relevância médica, pois tem progressão bastante rápida e colocam o indivíduo em grande risco de vida. Alguns sintomas da reação anafilática são: coceira, angioedema (inchaço), hipotensão, estresse respiratório e desmaio. Após o contato com o agente alergênico, o que podem ser bem variados, desde alimentos, bebidas, passando por produtos químicos ou mesmo picadas ou contato com outros agentes da natureza (como pólen por exemplo), o indivíduo pode apresentar a reação anafilática em poucos minutos. O tratamento para esta reação deve acontecer o mais rápido possível, uma vez que estes sintomas podem ser bastante graves e inclusive podem levar ao óbito.

Diversas células têm capacidade de sintetizar a histamina, como: mastócitos, basófilos, plaquetas, neurônios histaminérgicos e células enterocromafins. Por isso, a presença da histamina acontece em praticamente o corpo todo. No entanto, a prevalência é muito maior em regiões de contato com o “meio externo”, como na pele e nos tratos respiratório e gástrico.

No organismo sua degradação se dá através da ação de duas enzimas, principalmente. A primeira é a histaminase (com a sigla em inglês, DAO - diamino-oxidase), que através da desaminação oxidativa metaboliza a histamina. 

Já a segunda, a histamina-N-metilltransferase (HNMT) age metilando o anel de carbono da estrutura da molécula. Dependendo da região em que se encontra a histamina, uma dessas enzimas será responsável por cataboliza-la: estando no meio intracelular, ou seja, no citoplasma celular, a histamina será degradada com HNMT, enquanto que estando na região extracelular, ou seja, no plasma sanguíneo ou na região órgão-específica, ela sofrerá ação da enzima DAO. 

A degradação da histamina tem fundamental importância, tal qual sua normal secreção. Indivíduos com problemas na sua síntese (síntese excessiva) ou na sua degradação (problemas na degradação) desenvolvem intolerância a histamina, doença com sintomas semelhantes aos sintomas de alergias 

A histamina dos alimentos

Existem várias aminas biogênicas encontradas em alimentos e bebida: histamina, a tiramina, a putrescina e a cadaverina são algumas delas. Ou seja, além da histamina produzida pelo nosso corpo, podemos ter ainda a Histamina presente em alguns alimentos e elas são produzidas por fermentação de bactérias/fungos.

O acúmulo desses compostos nos alimentos é resultado da transformação de aminoácidos por microrganismos e depende de vários fatores, como a disponibilidade dos aminoácidos precursores e condições ambientais favoráveis ao crescimento e/ou à atividade da descarboxilase bacteriana. 

Portanto, o processo de fabricação, a limpeza dos materiais, a composição microbiana e a fermentação influenciam a quantidade de histamina presente no alimento ou bebida. Dentre os alimentos que apresentam quantidade significativa de histamina temos os abaixo. Porém, cada paciente reage de uma maneira e não é a todos os alimentos que os pacientes reagem. 

Vegetais:
Espinafre
Tomate (e molho de tomate ou ketchup)
Berinjela

Leguminosas:
Lentilhas
Grão de bico
Feijões
Soja

Oleaginosas e sementes:
Castanha de caju
Nozes
Amendoim
Avelã
Amêndoas
Pinhão
Semente de girassol
Gergelim

Leite e derivados:
Queijos curados e semi- curados
Queijos ralados
Queijo azuis
Queijos processados
Queijos mofados
Kefir de leite
Iogurte

Frutas:
Morango
Ameixa
Banana
Figo
Kiwi
Melancia
Goiaba
Manga
Mamão
Abacate
Framboesa
Frutas cítricas: Laranjas, limões, tangerina
Frutas secas

Doces e adoçantes:
Cacau
Adoçantes artificiais: Sucralose
Alcaçuz
Extrato de malte

Temperos e especiarias:
Temperos artificiais
Cominho
Curry
Mostarda
Ketchup
Maionese
Páprica picante
Pimentas
Picles
Conservas
Alcaparras
Vinagre de vinho tinto e
branco
Vinagre balsâmico
Gengibre
Canela

Farinhas e grãos:
Gérmen de trigo
Trigo sarraceno
Malte
Centeio
Cevada

Fermentados:
Chucrute
Molho de soja (Shoyu)
kefir
Kombuchá
Iogurte
Leite fermentado

Carnes:
Carnes processadas
Linguiça
Salsicha
Salame
Presunto
Mortadela
Bacon
Carne de porco
Cavala
Atum
Anchova
Peixes enlatados
Bacalhau
Frutos do mar
Clara de ovo crua
Carne seca (charque ou paçoca)
Vísceras
Carnes e peixes defumados

Bebidas:
Leite de soja
Leite de arroz
Café
Suco de laranja
Todas as bebidas alcóolicas: cerveja, vinho, gin, vodca
Bebidas energéticas
Chá preto
Chá verde
Chá mate

Outros:
Alga e derivados de alga
Cogumelos
Levedura nutricional
Azeitonas
Picles
Vinagre
Azeite Balsâmico
Alimentos em conserva
Enlatados
Aditivos alimentares

A União Europeia permite o conteúdo de histamina nos alimentos até um máximo de 200 mg/kg  em peixes frescos e 400 mg/kg em produtos do mar. Vários autores propuseram que o álcool, outras aminas biogênicas, e alguns medicamentos, podem ter um efeito potencializador sobre a toxicidade da histamina. E algo que é super comum no consultório é o paciente contando que vários sintomas foram desencadeados após ingerir vinho acompanhado de alimentos ricos em histamina. Resultado: culpam o vinho mas na verdade foi apenas uma potencialização.

E como o corpo quebra essa histamina ?

Como já explicado acima, temos 2 maneiras de metabolizá-la. A primeira através da histamina-N-metiltransferase (HNMT), proteína citosólica responsável pela inativação da histamina intracelular, expressa em uma ampla variedade de tecidos humanos. A segunda pela DAO é uma proteína armazenada em estruturas vesiculares da membrana plasmática responsável pela degradação da histamina extracelular. Está presente nas vilosidades intestinais, aumentando progressivamente do duodeno até o íleo. Na intolerância a histamina, a enzima intestinal DAO tem uma capacidade reduzida de metabolizar e degradar histamina. 

E por que o corpo começa a não tolerar alimentos ricos em histamina?

Até o momento, sabe-se que a deficiência de DAO pode estar relacionada a fatores genéticos, farmacológicos ou patológicos (desordens inflamatórias, degenerativas e intestinais). Uma hipótese recente sugere que alterações na diversidade da microbiota intestinal podem contribuir para o desenvolvimento de intolerância à histamina.

O que o paciente apresenta de sintoma na intolerância à Histamina?

As manifestações clínicas de intolerância à histamina consistem em uma ampla gama de sintomas gastrointestinais e extra intestinais inespecíficos, devido à distribuição dos quatro receptores de histamina em diferentes órgãos e tecidos do corpo.

Estudo mostrou que as manifestações mais frequentes são:
  • Distensão abdominal observada em 92% dos pacientes,
  • Plenitude pós-prandial, 
  • Diarreia, 
  • Dor abdominal,
  • Constipação (55-73%).
Ou seja, facilmente se confunde com a intolerância aos FODMAPS (texto aqui no blog sobre o tema)

Os pacientes podem ainda apresentar sintomas extra-intestinais, tais como:
  • Tonturas, 
  • Dores de cabeça
  • Palpitações, 
  • Sintomas respiratórios (congestão nasal, coriza ou prurido no nariz),
  • Dermatológicos (rubor especialmente da cabeça e do peito).
Composição da microbiota e a intolerância histaminérgica

Para caracterizar a composição da microbiota intestinal de pessoas com intolerância à histamina e comparar com a microbiota de indivíduos saudáveis, Sánchez-Pérez e colaboradores desenvolveram um estudo recente, com 26 participantes, sendo 12 mulheres. 

Os participantes foram divididos em 2 grupos: intolerância a histamina (grupo HIT) e controle (sem intolerância). O grupo HIT foi composto por 12 mulheres de 21 a 65 anos e IMC médio de 23,7Kg/m²; enquanto o grupo controle foi composto de 14 participantes homens e mulheres adultos, com IMC médio de 22,2Kg/m².

O diagnóstico do grupo HIT foi realizado pela presença de 2 ou mais sintomas descritos por Maintz e Novak (2007), e por resultados negativos para IgE específica para alérgenos alimentares. Foram avaliadas as características demográficas e os sintomas clínicos, em todos participantes. Para a análise da microbiota intestinal e da concentração de histamina, amostras de fezes foram auto-colhidas em frascos estéreis e armazenadas a -80 ◦C até suas análises. O sequenciamento da microbiota intestinal foi avaliado pela técnica 16S rRNA (região V3-V4) e os dados foram analisados pelo banco de dados EzBioCloud.

No grupo HIT, queixas gastrintestinais e neurológicas foram relatadas por 83% dos participantes, seguidos por queixas dermatológicas (50%) e respiratórias (33%). No geral, os sintomas mais frequentemente relatados foram distensão abdominal e dor de cabeça, seguidos de flatulência, diarreia, azia e dores abdominais, musculares e articulares. A atividade plasmática da DAO foi deficiente (<10 U/mL) em 10 dos 12 participantes do grupo HIT.

A microbiota intestinal dos grupos HIT e controle foi analisada e comparada em termos de filo, família, gênero e espécie. A presença de disbiose intestinal foi observada no grupo HIT, que, em comparação com ao grupo controle, apresentou menor proporção de bactérias relacionadas à saúde intestinal: Prevotellaceae, Ruminococcus, Faecalibacterium e Faecablibacterium prausnitzii. Grupo HIT também apresentou abundância significativamente maior de bactérias histaminogênicas, incluindo os gêneros Staphylococcus e Proteus, gêneros não identificados pertencente à família Enterobacteriaceae, e as espécies Clostridium perfringens e Enterococcus fecalis.

Os autores concluíram que a maior abundância de bactérias histaminogênicas favoreceu o acúmulo de altos níveis de histamina no intestino e foi associado com efeitos adversos da intolerância. Contudo, as limitações do estudo devem ser levadas em conta em estudos futuros que visem elucidar a relação entre disbiose intestinal e intolerância à histamina.

Como diagnosticamos?

Apesar dos avanços significativos na compreensão da intolerância à histamina, não há consenso sobre a padronização do diagnóstico. 

A combinação dos critérios diagnósticos atualmente em uso inclui o aparecimento de manifestações clínicas típicas e a exclusão de outras condições patológicas gastrointestinais e relacionadas a histamina.

Inicialmente é necessário descartar outras causas de potenciais sintomas associados ao aumento da histamina plasmática. 

Considera-se necessário realizar teste de alergia cutânea intradérmica para descartar a sensibilização por IgE causada por alergia alimentar, além de dosar a triptase plasmática para excluir uma mastocitose sistêmica subjacente. Também é importante saber se o paciente está tomando algum medicamento com um possível efeito inibitório sobre a atividade DAO.

Vários exames complementares não validados também foram propostos por vários autores com o objetivo de obter um marcador para confirmar o diagnóstico.

Se esses resultados forem negativos, o aparecimento de dois ou mais sintomas típicos de intolerância à histamina e sua melhora ou remissão após o seguimento de uma dieta com baixo teor de histamina, confirma o diagnóstico de intolerância à histamina.

Anamnese
• Apresentando ≥ 2 sintomas de intolerância à histamina
• Afastar alergias alimentares (teste cutâneo de picada) e mastocitose sistêmica (triptase)
• Afastar outras patologias gastrointestinais concomitantes
• Afastar drogas inibidoras de DAO

Exclusão da histamina
• Acompanhamento de uma dieta com baixo teor de histamina (4-8 semanas)
• Registro completo de 24 horas de consumo de alimentos e sintomatologia

• Remissão ou melhora dos sintomas

Exames complementares
• Determinação da atividade enzimática diamina oxidase (DAO)  no plasma ou biópsia intestinal
• Teste de desafio/provocação de histamina
• Identificação de polimorfismos genéticos (SNPs)
• Determinação de biomarcadores de histamina

Quais o tratamento?

Há 3 opções de tratamento. 

1) Dieta pobre em histamina

Consiste na principal forma de prevenir a intolerância à histamina, iniciando pela exclusão de alimentos com maior teor de histamina, e conforme a resposta ajuste para dietas mais restritivas.

2) Nas crises podemos lançar mão da utilização de drogas anti-histamínicas. 

3) Uso da DAO

Se na intolerância á lactose utilizamos a lactase, aqui podemos utilizar a Histaminase ou DAO. A suplementação  oral com DAO exógena poderia facilitar a degradação da histamina na dieta. Ao melhorar a atividade DAO intestinal possibilitaria dietas menos restritivas, mantendo alívio sintomático.

Coexistência de Intolerância histaminérgica com outras condições

Como descobri que era intolerante à histamina? Sempre apresentei reação a alimentos específicos. Se início recebi o diagnóstico de síndrome de alergia perioral por uma professora de nutrologia, pois sempre que ingeria alimentos cítricos a minha língua apresentava ardor, ficava ferida e apresentava prurido perioral e nasal. Fiz os testes alérgicos de IgE específica e vieram negativos. Depois suspeitamos que pudesse ser intolerância à FODMAP, porém nunca apresentei grandes quantidades de gases, distensão abdominal significativa, diarréia ou constipação. Mesmo com dieta Low FODMAP feita pelo meu nutricionista eu continuava apresentando sintomas com: Morango, laranja, banana, kiwi, uva, abacaxi, frutas secas, melancia, oleaginosas, cacau, lácteos, trigo, ketchup, espinafre, kombuchá, shoyu álcool, morango e quanto ingeria leveduras medicinais. 

Em 2019 apresentei um quadro de poliartralgia após uma viagem. Um amigo ortopedista (Dr. Maurício Morais) solicitou uma série de exames e todos vieram negativos. Quando foi me examinar viu que eu tinha muita flexibilidade nas articulações e postulou o diagnóstico de hipermobilidade articular. Depois disso foi por minha conta. Comecei a pesquisar e descobri que existe um espectro dentro de uma síndrome genética chamada Ehlers Danlos (SED).

Foi então que descobri que na SED pode ocorrem alguns sintomas concomitantes. Como a Disautonomia, os POTS, Ativação mastocitária, Intolerância histaminérgica. No homem a testosterona tende a deixar os quadros mais leve que em mulheres. Faço parte de um grupo de médicos portadores de SED e a diferença na apresentação dos quadros é nítida. Os homens apresentam bem menos fadiga (eu não tenho), menos disautonomia (tenho pouquíssimo, só quando ingiro o que não posso), POTS (taquicardia postural, ou seja, o paciente fica em pé a frequência cardíaca aumenta, também não tenho). Mas podem apresentar mais ativação mastocitária e mais intolerância histaminérgica. Nos homens também a testosterona parece proteger as articulações, lesionamos bem menos que as mulheres.


Caso você leitor tenham desconfie que possa ter algum desses quadros, sugiro que sigam os seguintes perfis de médicas portadores de SED:
  • Dra. Kaliny Cristine Trevezani de Souza - Médica Pediatra - https://www.instagram.com/drakalinytrevezani/ (Atende crianças com SED)
  • Dra. Maike Heerdt - Médica Fisiatra  - https://www.instagram.com/dramaikeheerdt/ (Atende adultos com SED).
  • Dra. Joseane Brostel Figueiredo David (Médica SEDiana) CRM: 18.850.. Especialidade: Clínica Médica e Cardiologia (atende os casos de disautonomia). No momento está atendendo somente por Telemedicina. Fone do consultório para agendamento online: (61) 9207-9809. Instagram: @drajoseane.brostel
  • Dra. Thania Rossi (Médica SEDiana). CRM 141717 SP. RQE-NCR 57605/ DOR | RQE: 576081. Especialidade: Neurocirurgia/Médica Da Dor. Atende presencial na Rua Demóstenes 627 Conj 73, Campo Belo - Sao Paulo - SP. Atende por telemedicina.Fone do consultório para agendamento online ou presencial: (11) 97784-8639. Redes sociais: @drathaniarossi_neuro
  • Dr. Björn Erik Peter Dreisbach. CRM-MG 72953. Atende em Belo Horizonte e por telemedicina. Fone do consultório para agendamento online ou presencial: (31) 8274-4948. 
  • Dr. Pedro Paulo Prudente. CRM-GO 12744 RQE 13637/ 9352. Especialidade: Medicina do esporte e Acupuntura. Área de atuação em Dor. Atende presencial na Av. Assis Chateubriand, na Clinica Supere. Fone para agendamento online ou presencial: (62) 98132-0244 (clique aqui). https://tratamentodor.com.br/bio/
Suplementos na Síndrome de Ehlers Danlos e Intolerância histaminérgica

Tenho recibo alguns pacientes com SED, SED combinado a intolerância histaminérgica e outros com intolerância histamimnérgica pura. Então tive que procurar na literatura o que pode melhorar ou piorar os quadros. 

Além da dieta pobre em histamina, tenho visto que alguns nutrientes e compostos bioativos podem promover uma melhora dos sintomas. Os mecanismos ainda não são bem elucidados, afinal a literatura é bem fraca quando se trata do tema. 

  • Quercetina: é um polifenol com leve ação antihistaminica, anti-inflamatório e estudos in vitro mostram ação estabilizadora de mastócitos. Presente em inúmeros alimentos: cebola, maçã, salsa, sálvia, azeite, uvas, mirtilos, blueberries.
  • Vitamina C: estimula o aumento da produção da enzima DAO, que degrada histamina. Alguns estudos associam níveis de vitamina C circulantes com níveis de histamina. Presente em frutas cítricas pobres em histamina: caju, acerola.
  • Cobre: cofator da enzima DAO. Sem ele a enzima não atua de forma adequada. Fontes: carne.
  • Vitamina B6: cofator da enzima DAO. Níveis adequados tem relação com melhora dos sintomas de intolerância à histamina;
  • Luteolina: mesmo efeito da quercetina, diminuindo inflamação e estabilizando mastócito nos estudos in vitro.
Suplementos que podem ser deletérios para alguns portadores de intolerância histaminérgica:
  • Extrato de leveduras: pelo alto nível de histamina exógena, que pode acumular no intestino gerando sintomas em indivíduos sensíveis
  • Colágenos e caldo de osso: os colágenos são fonte de histidina, que em contato com a microbiota pode levar à produção de histamina
  • Algumas proteínas em pó: Dependendo da composição e forma da proteína pode aumentar a produção de histamina pelas bactérias da microbiota
  • Conservantes como benzoatos, sulfitos, sorbatos e glutamato
  • Suplementos fermentados
  • Suplementos com base alcóolica: o álcool é um liberador de histamina e inibidor da DAO
  • Probióticos
  • Spirulina
  • Vitamina B3 na forma de ácido nicotínico

Referências bibliográficas

1) Sánchez-Pérez, S.; Comas-Basté, O.; Duelo, A.; Veciana-Nogués, M.T.; Berlanga, M.; Latorre-Moratalla, M.L.; Vidal-Carou, M.C. Intestinal Dysbiosis in Patients with Histamine Intolerance. Nutrients 2022, 14, 1774. https://doi.org/10.3390/nu14091774

2) Andrade VLA. Intolerância a Histamina. In Andrade, VLA. Manual de Terapêutica em Gastrenterologia e Hepatologia. Capítulo 85. 

3) Comas-Basté O, Sánchez-Pérez S, Veciana-Nogués MT, Latorre-Moratalla M, Vidal-Carou MDC. Histamine Intolerance: The Current State of the Art. Biomolecules. 2020;10(8):1181. Published 2020 Aug 14;10(8):1181. doi: 10.3390/biom10081181.

4) Schnedl WJ, Enko D. Histamine Intolerance Originates in the Gut. Nutrients. 2021;13(4):1262. Published 2021 Apr 12. doi:10.3390/nu13041262.

5) Tuck Ca, Biesiekierski J, Schmid-Grendelmeier P and Pohl D. Food Intolerances. Nutrients. 2019;11:1684. doi:10.3390/nu11071684 

6) https://pebmed.com.br/intolerancia-a-histamina-fique-atento-a-esta-condicao-patologica/#