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segunda-feira, 29 de maio de 2023

29 de Maio - Dia Mundial da Saúde Digestiva

 


Quando formei em Janeiro de 2008 a Gastroenterologia ainda engatinhava no tema saúde intestinal. O foco era maior nas doenças do aparelho digestivo: Gastrite, refluxo, Intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais, doença diverticular do cólon, doença hemorroidária, constipação, diarreia e as neoplasias. Pouco se falava sobre disbiose. Na verdade o termo disbiose era considerado charlatanismo, conforme consta em uma das edições passadas do Shills (Nutrição Moderna). 

Felizmente a Medicina avança e hoje o tema saúde intestinal está em voga. Conexão eixo-cérebro-intestino parece ser algo promissor. A interferência do microbioma intestinal em toda a nossa saúde parece realmente existir, ao contrário do que alguns autores achavam. 

Gosto de deixar claro que ainda estamos engatinhando na compreensão dos mistérios do tubo digestivo. Sou um entusiasta dessa área e acho que o futuro nos reserva muitas novidades. 

O principal objetivo da data é sensibilizar a população e os profissionais de saúde para a importância da correta interpretação dos sintomas de doenças gastrointestinais e o rápido tratamento, além da adoção de um estilo de vida mais saudável, com uma alimentação equilibrada. Então no dia de hoje tenho algumas recomendações gerais e que podem favorecer uma melhor saúde digestiva. Lembre-se, cada caso é um caso e o mais adequado é que você procure um nutrólogo ou gastroenterologista, caso apresente sintomas. 

Regra 1: Tenha tempo pra nutrir seu corpo. Tempo disponível para sentar e se alimentar. Dê atenção ao que coloca na sua boca. Aqui a chave é a atenção plena. 
Regra 2: Nutra (coma) com prazer mas conscientemente. Não gosto de dicotomizar os alimentos em bons e ruins, pois, tudo depende do contexto, da quantidade ingerida. Mas dê preferência para comida de verdade. 
Regra 3: O seu estômago não tem dente, intestino muito menos, portanto mastigue. Cansou ? Mastigue mais. A boca e dentes tem essa função, a digestão começa ali. Quanto mais mastiga, mais sucos digestivos são produzidos, mais saciado você fica. Além de facilitar a digestão. 
Regra 4: Alimentos ultraprocessados devem ser evitados sempre que possível. Consuma alimentos in natura ou minimamente processados. Estou falando grego? No guia alimentar para a população brasileira (página 25) está explicando detalhadamente e de forma didática o que são alimentos in natura, minimamente processados e ultraprocessados. Aproveite e leia o guia todo pois, ele é referência mundial: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
Regra 5: Orgânicos devem ser consumidos, preferencialmente. Provavelmente não possuem vantagens no quesito concentração de nutrientes, mas não possuem "defensivos" agrícolas = agrotóxicos.
Regra 6: Variedade alimentar, nada de monotonia alimentar. Quanto mais colorida a sua alimentação, maior as chances de você estar ingerindo uma variedade de nutrientes. Além disso a alimentação fica mais prazerosa. 
Regra 7: Beba água, todo o seu tubo digestivo agradece. Facilita a produção de sucos digestivos, facilita a formação e hidratação do bolo fecal, evitando constipação, doença diverticular do cólon, hemorróidas.
Regra 8: Arrume um tempo para regularizar seu intestino: evacuar diariamente faz bem. Crie uma rotina para evacuar.
Regra 9: Pratique atividade física, ela estimula o peristaltismo intestinal e ajuda a prevenir uma série de doenças do trato digestivo, dentre elas alguns tipos de cânceres, constipação intestinal, doença hemorroidária, Supercrescimento bacteriano do intestino delgado. 
Regra 10: Sentiu algo de diferente na mastigação, digestão, evacuação = procure um médico.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Aspectos nutricionais da doença de Parkinson

O Parkinson ou Doença de Parkinson (DP) é a segunda patologia neurodegenerativa mais comum na Neurologia. Em primeiro lugar é a Doença de Alzheimer (DA).

Estima-se que 1% da população acima dos 60 anos possua DP cuja prevalência aumenta conforme o decorrer da idade. Com causas multifatoriais, numerosos estudos examinaram o impacto de fatores ambientais no risco de DP, incluindo fatores dietéticos. Neste artigo, veremos os principais cuidados nutricionais que devem ser oferecidos para prevenir ou tratar o paciente com Parkinson.

Doença de Parkinson: fisiopatologia e sintomas

Em termos fisiopatológicos, a DP é caracterizada pela perda progressiva de neurônios produtores de dopamina na substância negra do cérebro. Como consequência, há uma progressão sequencial de danos neuronais em todo o sistema nervoso.

A deficiência da dopamina está associada à sintomas que envolvem o controle motor, tais como tremores, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural. Além disso, o Parkinson também pode ocasionar sintomas não motores, como distúrbios do sono, anosmia, depressão e ansiedade.

Supõe-se que as manifestações iniciais da doença de Parkinson podem estar localizadas no intestino, e só depois afetam o cérebro. Evidências crescentes apontam para um fenótipo de inflamação intestinal de baixo grau em indivíduos com DP, com ruptura das junções intestinais e redução da permeabilidade intestinal.

De fato, o supercrescimento bacteriano do intestino delgado – que aumenta a densidade bacteriana e a disbiose – foi relatado como mais prevalente no Parkinson do que em indivíduos saudáveis.

Como deve ser a alimentação de quem tem Parkinson?

Sabendo da relação entre o desequilíbrio intestinal e a neurodegeneração, algumas estratégias dietéticas podem influenciar o risco de Parkinson ou modificar seu curso.

Embora o papel de alimentos probióticos não tenha sido totalmente elucidado, outros alimentos, nutrientes ou padrões alimentares são associados com a prevenção e melhora da doença. Veja a seguir os principais cuidados nutricionais a serem oferecidos para o paciente com Parkinson.

Vitaminas e minerais da Doença de Parkinson
O estresse oxidativo desempenha um papel importante na doença de Parkinson. Sendo assim, a ingestão adequada de vitaminas e minerais antioxidantes pode reduzir os danos celulares causados pelos radicais livres.

As vitaminas do complexo B, por exemplo, são grandes conhecidas pelo seu papel antioxidante e anti-inflamatório. Particularmente, um risco reduzido de Parkinson foi relatado com uma maior ingestão de vitamina B6. Esta vitamina também é capaz de reduzir os níveis de homocisteína, que pode estar aumentada em pacientes com DP.

Em um estudo de coorte com mais de 120.000 indivíduos, a ingestão moderada de vitamina E (tocoferol) também reduziu o risco de Parkinson. Além disso, níveis baixos de vitamina D podem explicar parcialmente a pior saúde musculoesquelética destes pacientes.

Em contrapartida, a ingestão de ferro não-heme foi associada a uma maior risco de doença de Parkinson, mas somente em pacientes com baixa ingestão de vitamina C.

Compostos bioativos

Alguns compostos bioativos também exercem um papel positivo na doença de Parkinson.

Os polifenóis, por exemplo, são elementos com possíveis efeitos neuroprotetores, devido ao efeito antioxidantes, quelantes de ferro e modulação das vias de sinalização intracelular.

Em um estudo de coorte com 130.000 indivíduos, a ingestão dos polifenóis flavonóides (presentes em chás, frutas, maçãs, vinho tinto e suco de laranja) diminuiu em 40% o risco de homens desenvolverem a doença de Parkinson.

PUFAs e peixes

Os ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) de cadeia longa são nutrientes essenciais no desenvolvimento e funcionamento do cérebro. Em idosos, os PUFA podem atuar como mediadores neuroprotetores, e intervirem nos mecanismos que resultam em comprometimento cognitivo.

Por exemplo, o ácido docosahexaenóico (DHA) atua como um fator neurotrófico, aumentando o nível do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) – que pode estar diminuído em pacientes com Parkinson. Além disso, em modelos experimentais, a suplementação de DHA protegeu os neurônios dopaminérgicos.

As evidências sobre a ingestão de PUFA em pacientes com doença de Parkinson são limitadas e inconclusivas. Entretanto, pode-se recomendar um aumento da ingestão de peixes gordurosos, cuja indicação é de ao menos 2 porções/semana, segundo os órgãos de nutrição.

Cafeína

A cafeína é um estimulante do SNC, atuando por meio de um bloqueio reversível dos receptores de adenosina. Sendo assim, algumas evidências sugerem que o consumo de cafeína pode retardar a taxa de progressão da doença de Parkinson, com efeitos neuroprotetores.

Em um estudo prospectivo com mais de 8.000 indivíduos por 30 anos, a ingestão de cafeína proveniente de várias fontes (café, chá verde, chá preto e outros) reduziu a incidência de DP, mesmo após o ajuste para fatores de confusão (tabagismo e idade).

Dieta mediterrânea

A dieta mediterrânea tradicional é definida pelo alto consumo de azeite, leguminosas, hortaliças e frutas, juntamente com o menor consumo de carnes, aves e gorduras animais.

Este padrão alimentar já foi associado à redução da atrofia cerebral em idosos. Além disso, em uma população grega, a adesão à dieta mediterrânea melhorou o desempenho cognitivo e as taxas de demência, além de reduzi sintomas precursores de doença de Parkinson.

Sendo assim, aderir à dieta mediterrânea, ou a um padrão semelhante, pode ser uma boa estratégia para promover o cuidado nutricional do paciente com Parkinson.

Investigações sobre o papel da dieta cetogênica, vegetariana e vegana também são conduzidas. Entretanto, as evidências são limitadas.

Conclusão
Embora importante, a nutrição é um fator muitas vezes negligenciado no manejo da doença de Parkinson. Para o cuidado nutricional destes pacientes, um padrão alimentar diverso deve ser indicado, e a dieta mediterrânea pode servir de exemplo.

Apesar disso, as evidências sobre a relação entre a alimentação e a doença de Parkinson são limitadas. Mais estudos ainda são necessários para confirmar o papel benéfico de nutrientes e alimentos na DP. Deste modo, será possível melhorar os sintomas daqueles que lidam com esta enfermidade complexa e multifatorial.

Referências:

Breasail, M. Ó., Smith, M. D., Tenison, E., Henderson, E. J., & Lithander, F. E. (2022). Parkinson’s disease: the nutrition perspective. Proceedings of the Nutrition Society, 81(1), 12-26.

Erro, R., Brigo, F., Tamburin, S., Zamboni, M., Antonini, A., & Tinazzi, M. (2018). Nutritional habits, risk, and progression of Parkinson disease. Journal of neurology, 265, 12-23.

Ross, G. W., Abbott, R. D., Petrovitch, H., Morens, D. M., Grandinetti, A., Tung, K. H., … & White, L. R. (2000). Association of coffee and caffeine intake with the risk of Parkinson disease. Jama, 283(20), 2674-2679.

Umeno, A., Horie, M., Murotomi, K., Nakajima, Y., & Yoshida, Y. (2016). Antioxidative and antidiabetic effects of natural polyphenols and isoflavones. Molecules, 21(6), 708.

Zhang, S. M., Hernan, M. A., Chen, H., Spiegelman, D., Willett, W. C., & Ascherio, A. (2002). Intakes of vitamins E and C, carotenoids, vitamin supplements, and PD risk. Neurology, 59(8), 1161-1169.

sábado, 18 de março de 2023

Síndrome de Ehlers Danlos

Sou portador de síndrome de Ehlers Danlos (SEDh = tipo hipermnóvel), intolerância histaminérgica e síndrome de ativação mastocitária (sam) e até chegar ao diagnóstico passei por vários médicos. 

Síndrome de Ehlers Danlos (SED) que consiste em um grupo de condições hereditárias raras que acometem o tecido conjuntivo. O tecido conjuntivo é um tecido de conexão, que possui uma diversidade muito grande de células e é composto por uma quantidade significativa de matriz extracelular, dividida em substância fundamental amorfa (SFA) e fibras. Esse tecido desempenha diversas funções no nosso organismo, como preenchimento, sustentação, defesa e armazenamento. 

O tecido conjunto é dividido em:
  1. Conjuntivo propriamente dito
  2. Conjuntivo especial, que inclui: tecido adiposo, tecido hematopoiético, tecido elástico, tecido cartilaginoso, tecido ósseo.
O tecido conjuntivo tem função de:
  • Preenchimento, 
  • Sustentação, 
  • Defesa, 
  • Armazenamento, 
  • Transporte
As células que compõem o tecido conjuntivo são: 
  • Fibroblastos, 
  • Plasmócitos, 
  • Mastócitos, 
  • Macrófagos, 
  • Leucócitos,
  • Células adiposas.
Existem vários tipos de SED e alguns sintomas podem ser comuns nos vários subtipos. Como por exemplo:
  • Uma maior amplitude de movimento articular (hipermobilidade articular = pessoas hipermóveis), que pode estar presente em até 330% de indivíduos "saudáveis". 
  • Pele mais elástica que o habitual
  • Pele frágil que lesiona facilmente
A SED pode afetar as pessoas de diferentes maneiras. Para alguns, a condição é relativamente leve, enquanto para outros os sintomas podem ser incapacitantes. 

Os diferentes tipos de EDS são causados ​​por falhas em certos genes que tornam o tecido conjuntivo mais fraco. Dependendo do tipo de EDS, o gene defeituoso pode ter sido herdado de um dos pais ou de ambos. 

Quando um dos pais tem hipermobilidade, maior a propensão dos filhos portarem os genes. Porém, as vezes, o gene alterado não é herdado, mas ocorre na pessoa pela primeira vez. Alguns dos tipos raros e graves podem ser fatais.

Existem 13 tipos de EDS, a maioria dos quais são raros. O SED hipermóvel  (SEDh = Tipo III) é o tipo mais comum 990%). Outros tipos de SED incluem:

O site EDS Support UK tem mais informações sobre os diferentes tipos de SED: https://www.ehlers-danlos.org/what-is-eds/information-on-eds/types-of-eds/

SED hipermóvel é o mais comum e o paciente pode apresentar:
  • Hipermobilidade articular
  • Articulações frouxas e instáveis ​​que podem sofrer luxação facilmente
  • Dores nas articulações e articulações estalando ou crepitando
  • Cansaço extremo (fadiga)
  • Pele que lesionada facilmente
  • Desmografismo (quando a pele é pressionada contra alguma quina de mesa ou sacola, a marca permanece um tempo)
  • Alterações no trato digestivos, como  refluxo (azia, pirose), epigastralgia (dor na região do estômago), gastroparesia (esvaziamento do conteúdo do estômago mais lento), enteroparesia (constipação), divertículose, doença hemorroidária.
  • Vertigens e aumento da frequência cardíaca depois de se levantar (o chamado POTS, que é a taquicardia postural)
  • Problemas com órgãos internos, como  problemas na válvula mitral  ou prolapso de órgãos (retal)
  • Problemas com o controle da bexiga (incontinência urinária)
SED clássico (SEDc) é menos comum que a a SEDh e tende a afetar mais a pele. Sendo assim, o paciente pode apresentar:
  • Hipermobilidade articular
  • Articulações frouxas e instáveis ​​que podem sofrer luxação facilmente
  • Dores nas articulações e articulações estalando ou crepitando
  • Pele mais elástica e frágil, principalmente na região da teste, joelhos, canelas e cotovelos
  • A pele é mais lisa e aveludada  e facilmente lesiona
  • Feridas que demoram a cicatrizar e deixam cicatrizes largas, hipertróficas, tipo quelóide.
  • Hérnias e prolapso de órgãos
SED vascular (SEDv) é um tipo raro de SED e é considerada de maior gravidade, já que afeta os vasos sanguíneos e os órgãos internos, o que pode fazer com que eles se abram e levem a sangramento com risco de vida. Os pacientes podem apresentar:
  • Pele que machuca muito facilmente
  • Pele fina com pequenos vasos sanguíneos visíveis, particularmente na parte superior do tórax e nas pernas
  • Vasos sanguíneos frágeis que podem inchar ou lacerar (romper), resultando em hemorragia interna grave. Varizes  e cicatrização retardada
  • Risco de lacerações intestinais, lacerações no útero (no final da gestação) e colapso parcial do pulmão
  • Os dedos das mãoes e dos pés são hipermóveis
  • Características faciais incomuns (como nariz e lábios finos, olhos grandes e lóbulos das orelhas pequenos),  
A SED cifoescoliótica é um subtipo raro e os pacientes podem ter:
  • Curvatura da coluna cervical - isso começa na primeira infância e muitas vezes piora na adolescência
  • Hipermobilidade articular
  • Articulações frouxas e instáveis ​​que se deslocam facilmente
  • Tônus ​​muscular fraco desde a infância (hipotonia) – isso pode causar um atraso em sentar e andar ou dificuldade em andar se os sintomas piorarem
  • Olhos frágeis que podem ser facilmente danificados
  • Pele macia e aveludada que é elástica, machuca facilmente e deixa cicatrizes
Transtorno do Espectro de Hipermobilidade (HSD)

Algumas pessoas têm problemas causados ​​por hipermobilidade, mas não têm nenhuma das condições específicas de SED. Eles podem ser diagnosticados com transtorno do espectro de hipermobilidade (HSD), que é tratado da mesma forma que a SEDh.

A hipermobilidade articular, por exemplo, é relativamente comum, afetando até 30-40% da população. 

Se houver a possibilidade de você ter um dos tipos raros de EDS, procure um geneticista. Ele questionará na anamnese o seu histórico médico, histórico familiar, avaliará seus sintomas e poderá realizar um  exame de sangue genético  para confirmar o diagnóstico.

Condições que podem ocorrer na SED 

Alguns sintomas podem acompanhar a SED e isso pode ajudar na suspeição de que se trata de um paciente com SED, são elas: 
  • Hipermobilidade, 
  • Síndrome de ativação mastocitária (SAM), 
  • Taquicardia postural ortostática (POTs), 
  • Intolerância histaminérgica ou intolerância à histamina (IH).
  • Síndrome de encefalite miálgica,
  • Disautonomia.



Diagnóstico da SED

O diagnóstico da SED se dá na maioria dos casos através da anamnese, exame físico.

Muitos me perguntam se o exame genético é importante? Se considerarmos que o tipo III (o mais comum) não tem nenhum gene relacionado e o tipo III corresponde a 90% dos casos, podemos ficar apenas com o diagnóstico clínico.

Entretanto, caso o paciente queira afastar os tipos mais raros, aí solicita-se o painel genético. Nesse caso o paciente deve procurar um geneticista. Os planos de saúde não cobrem o painel genético e o valor do exame é alto. 



No vídeo abaixo, uma amiga (Dra. Maike, médica especialista em Fisiatria pela USP) ensina como identificar síndrome de hipermobilidade articular. Se você percebe que tem os sintomas acima, além de hipermobilidade, procure algum dos profissionais que listarei ao final desse texto. Aqui vale uma adendo, tenho observado que crianças portadoras do TEA geralmente possuem mais hipermobilidade e podem ter SEDh.


Tratamento para SED

Não há tratamento específico para SED , mas é possível gerenciar muitos dos sintomas com apoio e aconselhamento de profissionais que conheçam a síndrome.  

Por exemplo, o fisioterapeuta pode ensinar exercícios para ajudar a fortalecer suas articulações, evitar lesões e controlar a dor. 

Já o terapeuta ocupacional  pode ajudá-lo a gerenciar as atividades diárias e dar conselhos sobre equipamentos que podem ajudá-lo. 

Psicoterapia, em especial a terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser útil se o paciente estiver lutando para lidar com a dor a longo prazo. 

Nutrólogo ou Nutricionista podem identificar alimentos que fazem ativação mastocitária ou se o paciente tem intolerância histaminérgica. 

Live organizada pelo CREMEGO

No dia 19 de Março de 2023 o CRM-GO organizou uma live com duas especialistas em SED: https://www.facebook.com/cremego/videos/730481248707874

Intolerâncias alimentares

As intolerâncias alimentares podem ser a vários alimentos/grupos/substâncias específicas. A mais comumente abordada é a intolerância à lactose. Recentemente tem se falado também bastante sobre a intolerância à frutose, já que os métodos utilizados para fechar o diagnóstico apresentam alta taxa de falsos positivos. 

Temos ainda intolerância a rafinose, sacarose... e também à Histamina. Geralmente são sintomas gastrointestinais funcionais e que muitas vezes não encontramos achados laboratoriais que fechem o diagnóstico. Ou seja, são sintomas gastrointestinais funcionais, crônicos e muitas vezes inexplicáveis, que deixam o paciente/médico perdidos e sem um norte. 

Se na intolerância à lactose o paciente apresenta deficiência da lactase, na intolerância histaminérgica há deficiência da enzima diamino-oxidase (DAO) no intestino, o que ocasionada  uma sensibilidade aos níveis normais ou mesmo baixos de histamina nos alimentos.

Mas afinal, o que é a histamina?

A histamina do nosso corpo é um composto nitrogenado orgânico, de formula molecular C5H9N3 e nome IUPAC 2-(3H-imidazol-4-il)-etanamina. Esta amina é originada a partir da perda de um grupo carboxila do aminoácido histidina, processo conhecido com descarboxilação. Esta amina foi descrita pela primeira vez em 1910 quando um grupo de pesquisadores a isolou do fungo Claviceps purpúrea. 

Em mamíferos, a histamina está relacionada com diversas funções biológicas como por exemplo a contração da musculatura lisa, principalmente do intestino e brônquios, vasodilatação e aumento da permeabilidade de vasos, aumento da secreção de mucosas, ciclo claro-escuro e também como neurotransmissores. Consequentemente, a histamina pode estar envolvida com quadros de taquicardias, arritmias, variações de pressão sanguínea, aumento de secreções gástricas, isquemia intestinal e até mesmo na angiogênese de tumores.

Um dos principais envolvimentos da histamina é sua secreção por células imunes após o contato com antígenos, o que muitas vezes é relacionado com reações alérgicas. Quando anticorpos do tipo IgE são ativados por seus respectivos ligantes (antígenos geralmente alérgenos), ele ganha a capacidade de se ligar em mastócitos e, estas células, que reservam grandes quantidades de histamina em seu interior, são lisadas e liberam esta histamina. Esta liberação, no local ou na corrente sanguínea, permite que as funções biológicas da histamina aconteçam. Caso a degradação da histamina não aconteça de maneira correta, ou caso o estímulo alérgeno esteja constantemente presente e, portanto, constantemente ativando os mastócitos a liberar a histamina, esse processo é chamado de resposta alérgica.

Nesse sentido, em 1932, a histamina foi descrita como grande mediadora de reações anafiláticas devido sua participação da contração da musculatura lisa e alterações da pressão sanguínea. Estas respostas anafiláticas têm grande relevância médica, pois tem progressão bastante rápida e colocam o indivíduo em grande risco de vida. Alguns sintomas da reação anafilática são: coceira, angioedema (inchaço), hipotensão, estresse respiratório e desmaio. Após o contato com o agente alergênico, o que podem ser bem variados, desde alimentos, bebidas, passando por produtos químicos ou mesmo picadas ou contato com outros agentes da natureza (como pólen por exemplo), o indivíduo pode apresentar a reação anafilática em poucos minutos. O tratamento para esta reação deve acontecer o mais rápido possível, uma vez que estes sintomas podem ser bastante graves e inclusive podem levar ao óbito.

Diversas células têm capacidade de sintetizar a histamina, como: mastócitos, basófilos, plaquetas, neurônios histaminérgicos e células enterocromafins. Por isso, a presença da histamina acontece em praticamente o corpo todo. No entanto, a prevalência é muito maior em regiões de contato com o “meio externo”, como na pele e nos tratos respiratório e gástrico.

No organismo sua degradação se dá através da ação de duas enzimas, principalmente. A primeira é a histaminase (com a sigla em inglês, DAO - diamino-oxidase), que através da desaminação oxidativa metaboliza a histamina. 

Já a segunda, a histamina-N-metilltransferase (HNMT) age metilando o anel de carbono da estrutura da molécula. Dependendo da região em que se encontra a histamina, uma dessas enzimas será responsável por cataboliza-la: estando no meio intracelular, ou seja, no citoplasma celular, a histamina será degradada com HNMT, enquanto que estando na região extracelular, ou seja, no plasma sanguíneo ou na região órgão-específica, ela sofrerá ação da enzima DAO. 

A degradação da histamina tem fundamental importância, tal qual sua normal secreção. Indivíduos com problemas na sua síntese (síntese excessiva) ou na sua degradação (problemas na degradação) desenvolvem intolerância a histamina, doença com sintomas semelhantes aos sintomas de alergias 

A histamina dos alimentos

Existem várias aminas biogênicas encontradas em alimentos e bebida: histamina, a tiramina, a putrescina e a cadaverina são algumas delas. Ou seja, além da histamina produzida pelo nosso corpo, podemos ter ainda a Histamina presente em alguns alimentos e elas são produzidas por fermentação de bactérias/fungos.

O acúmulo desses compostos nos alimentos é resultado da transformação de aminoácidos por microrganismos e depende de vários fatores, como a disponibilidade dos aminoácidos precursores e condições ambientais favoráveis ao crescimento e/ou à atividade da descarboxilase bacteriana. 

Portanto, o processo de fabricação, a limpeza dos materiais, a composição microbiana e a fermentação influenciam a quantidade de histamina presente no alimento ou bebida. Dentre os alimentos que apresentam quantidade significativa de histamina temos os abaixo. Porém, cada paciente reage de uma maneira e não é a todos os alimentos que os pacientes reagem. 

Vegetais:
Espinafre
Tomate (e molho de tomate ou ketchup)
Berinjela

Leguminosas:
Lentilhas
Grão de bico
Feijões
Soja

Oleaginosas e sementes:
Castanha de caju
Nozes
Amendoim
Avelã
Amêndoas
Pinhão
Semente de girassol
Gergelim

Leite e derivados:
Queijos curados e semi- curados
Queijos ralados
Queijo azuis
Queijos processados
Queijos mofados
Kefir de leite
Iogurte

Frutas:
Morango
Ameixa
Banana
Figo
Kiwi
Melancia
Goiaba
Manga
Mamão
Abacate
Framboesa
Frutas cítricas: Laranjas, limões, tangerina
Frutas secas

Doces e adoçantes:
Cacau
Adoçantes artificiais: Sucralose
Alcaçuz
Extrato de malte

Temperos e especiarias:
Temperos artificiais
Cominho
Curry
Mostarda
Ketchup
Maionese
Páprica picante
Pimentas
Picles
Conservas
Alcaparras
Vinagre de vinho tinto e
branco
Vinagre balsâmico
Gengibre
Canela

Farinhas e grãos:
Gérmen de trigo
Trigo sarraceno
Malte
Centeio
Cevada

Fermentados:
Chucrute
Molho de soja (Shoyu)
kefir
Kombuchá
Iogurte
Leite fermentado

Carnes:
Carnes processadas
Linguiça
Salsicha
Salame
Presunto
Mortadela
Bacon
Carne de porco
Cavala
Atum
Anchova
Peixes enlatados
Bacalhau
Frutos do mar
Clara de ovo crua
Carne seca (charque ou paçoca)
Vísceras
Carnes e peixes defumados

Bebidas:
Leite de soja
Leite de arroz
Café
Suco de laranja
Todas as bebidas alcóolicas: cerveja, vinho, gin, vodca
Bebidas energéticas
Chá preto
Chá verde
Chá mate

Outros:
Alga e derivados de alga
Cogumelos
Levedura nutricional
Azeitonas
Picles
Vinagre
Azeite Balsâmico
Alimentos em conserva
Enlatados
Aditivos alimentares

A União Europeia permite o conteúdo de histamina nos alimentos até um máximo de 200 mg/kg  em peixes frescos e 400 mg/kg em produtos do mar. Vários autores propuseram que o álcool, outras aminas biogênicas, e alguns medicamentos, podem ter um efeito potencializador sobre a toxicidade da histamina. E algo que é super comum no consultório é o paciente contando que vários sintomas foram desencadeados após ingerir vinho acompanhado de alimentos ricos em histamina. Resultado: culpam o vinho mas na verdade foi apenas uma potencialização.

E como o corpo quebra essa histamina ?

Como já explicado acima, temos 2 maneiras de metabolizá-la. A primeira através da histamina-N-metiltransferase (HNMT), proteína citosólica responsável pela inativação da histamina intracelular, expressa em uma ampla variedade de tecidos humanos. A segunda pela DAO é uma proteína armazenada em estruturas vesiculares da membrana plasmática responsável pela degradação da histamina extracelular. Está presente nas vilosidades intestinais, aumentando progressivamente do duodeno até o íleo. Na intolerância a histamina, a enzima intestinal DAO tem uma capacidade reduzida de metabolizar e degradar histamina. 

E por que o corpo começa a não tolerar alimentos ricos em histamina?

Até o momento, sabe-se que a deficiência de DAO pode estar relacionada a fatores genéticos, farmacológicos ou patológicos (desordens inflamatórias, degenerativas e intestinais). Uma hipótese recente sugere que alterações na diversidade da microbiota intestinal podem contribuir para o desenvolvimento de intolerância à histamina.

O que o paciente apresenta de sintoma na intolerância à Histamina?

As manifestações clínicas de intolerância à histamina consistem em uma ampla gama de sintomas gastrointestinais e extra intestinais inespecíficos, devido à distribuição dos quatro receptores de histamina em diferentes órgãos e tecidos do corpo.

Estudo mostrou que as manifestações mais frequentes são:
  • Distensão abdominal observada em 92% dos pacientes,
  • Plenitude pós-prandial, 
  • Diarreia, 
  • Dor abdominal,
  • Constipação (55-73%).
Ou seja, facilmente se confunde com a intolerância aos FODMAPS (texto aqui no blog sobre o tema)

Os pacientes podem ainda apresentar sintomas extra-intestinais, tais como:
  • Tonturas, 
  • Dores de cabeça
  • Palpitações, 
  • Sintomas respiratórios (congestão nasal, coriza ou prurido no nariz),
  • Dermatológicos (rubor especialmente da cabeça e do peito).
Composição da microbiota e a intolerância histaminérgica

Para caracterizar a composição da microbiota intestinal de pessoas com intolerância à histamina e comparar com a microbiota de indivíduos saudáveis, Sánchez-Pérez e colaboradores desenvolveram um estudo recente, com 26 participantes, sendo 12 mulheres. 

Os participantes foram divididos em 2 grupos: intolerância a histamina (grupo HIT) e controle (sem intolerância). O grupo HIT foi composto por 12 mulheres de 21 a 65 anos e IMC médio de 23,7Kg/m²; enquanto o grupo controle foi composto de 14 participantes homens e mulheres adultos, com IMC médio de 22,2Kg/m².

O diagnóstico do grupo HIT foi realizado pela presença de 2 ou mais sintomas descritos por Maintz e Novak (2007), e por resultados negativos para IgE específica para alérgenos alimentares. Foram avaliadas as características demográficas e os sintomas clínicos, em todos participantes. Para a análise da microbiota intestinal e da concentração de histamina, amostras de fezes foram auto-colhidas em frascos estéreis e armazenadas a -80 ◦C até suas análises. O sequenciamento da microbiota intestinal foi avaliado pela técnica 16S rRNA (região V3-V4) e os dados foram analisados pelo banco de dados EzBioCloud.

No grupo HIT, queixas gastrintestinais e neurológicas foram relatadas por 83% dos participantes, seguidos por queixas dermatológicas (50%) e respiratórias (33%). No geral, os sintomas mais frequentemente relatados foram distensão abdominal e dor de cabeça, seguidos de flatulência, diarreia, azia e dores abdominais, musculares e articulares. A atividade plasmática da DAO foi deficiente (<10 U/mL) em 10 dos 12 participantes do grupo HIT.

A microbiota intestinal dos grupos HIT e controle foi analisada e comparada em termos de filo, família, gênero e espécie. A presença de disbiose intestinal foi observada no grupo HIT, que, em comparação com ao grupo controle, apresentou menor proporção de bactérias relacionadas à saúde intestinal: Prevotellaceae, Ruminococcus, Faecalibacterium e Faecablibacterium prausnitzii. Grupo HIT também apresentou abundância significativamente maior de bactérias histaminogênicas, incluindo os gêneros Staphylococcus e Proteus, gêneros não identificados pertencente à família Enterobacteriaceae, e as espécies Clostridium perfringens e Enterococcus fecalis.

Os autores concluíram que a maior abundância de bactérias histaminogênicas favoreceu o acúmulo de altos níveis de histamina no intestino e foi associado com efeitos adversos da intolerância. Contudo, as limitações do estudo devem ser levadas em conta em estudos futuros que visem elucidar a relação entre disbiose intestinal e intolerância à histamina.

Como diagnosticamos?

Apesar dos avanços significativos na compreensão da intolerância à histamina, não há consenso sobre a padronização do diagnóstico. 

A combinação dos critérios diagnósticos atualmente em uso inclui o aparecimento de manifestações clínicas típicas e a exclusão de outras condições patológicas gastrointestinais e relacionadas a histamina.

Inicialmente é necessário descartar outras causas de potenciais sintomas associados ao aumento da histamina plasmática. 

Considera-se necessário realizar teste de alergia cutânea intradérmica para descartar a sensibilização por IgE causada por alergia alimentar, além de dosar a triptase plasmática para excluir uma mastocitose sistêmica subjacente. Também é importante saber se o paciente está tomando algum medicamento com um possível efeito inibitório sobre a atividade DAO.

Vários exames complementares não validados também foram propostos por vários autores com o objetivo de obter um marcador para confirmar o diagnóstico.

Se esses resultados forem negativos, o aparecimento de dois ou mais sintomas típicos de intolerância à histamina e sua melhora ou remissão após o seguimento de uma dieta com baixo teor de histamina, confirma o diagnóstico de intolerância à histamina.

Anamnese
• Apresentando ≥ 2 sintomas de intolerância à histamina
• Afastar alergias alimentares (teste cutâneo de picada) e mastocitose sistêmica (triptase)
• Afastar outras patologias gastrointestinais concomitantes
• Afastar drogas inibidoras de DAO

Exclusão da histamina
• Acompanhamento de uma dieta com baixo teor de histamina (4-8 semanas)
• Registro completo de 24 horas de consumo de alimentos e sintomatologia

• Remissão ou melhora dos sintomas

Exames complementares
• Determinação da atividade enzimática diamina oxidase (DAO)  no plasma ou biópsia intestinal
• Teste de desafio/provocação de histamina
• Identificação de polimorfismos genéticos (SNPs)
• Determinação de biomarcadores de histamina

Quais o tratamento?

Há 3 opções de tratamento. 

1) Dieta pobre em histamina

Consiste na principal forma de prevenir a intolerância à histamina, iniciando pela exclusão de alimentos com maior teor de histamina, e conforme a resposta ajuste para dietas mais restritivas.

2) Nas crises podemos lançar mão da utilização de drogas anti-histamínicas. 

3) Uso da DAO

Se na intolerância á lactose utilizamos a lactase, aqui podemos utilizar a Histaminase ou DAO. A suplementação  oral com DAO exógena poderia facilitar a degradação da histamina na dieta. Ao melhorar a atividade DAO intestinal possibilitaria dietas menos restritivas, mantendo alívio sintomático.

Coexistência de Intolerância histaminérgica com outras condições

Como descobri que era intolerante à histamina? Sempre apresentei reação a alimentos específicos. Se início recebi o diagnóstico de síndrome de alergia perioral por uma professora de nutrologia, pois sempre que ingeria alimentos cítricos a minha língua apresentava ardor, ficava ferida e apresentava prurido perioral e nasal. Fiz os testes alérgicos de IgE específica e vieram negativos. Depois suspeitamos que pudesse ser intolerância à FODMAP, porém nunca apresentei grandes quantidades de gases, distensão abdominal significativa, diarréia ou constipação. Mesmo com dieta Low FODMAP feita pelo meu nutricionista eu continuava apresentando sintomas com: Morango, laranja, banana, kiwi, uva, abacaxi, frutas secas, melancia, oleaginosas, cacau, lácteos, trigo, ketchup, espinafre, kombuchá, shoyu álcool, morango e quanto ingeria leveduras medicinais. 

Em 2019 apresentei um quadro de poliartralgia após uma viagem. Um amigo ortopedista (Dr. Maurício Morais) solicitou uma série de exames e todos vieram negativos. Quando foi me examinar viu que eu tinha muita flexibilidade nas articulações e postulou o diagnóstico de hipermobilidade articular. Depois disso foi por minha conta. Comecei a pesquisar e descobri que existe um espectro dentro de uma síndrome genética chamada Ehlers Danlos (SED).

Foi então que descobri que na SED pode ocorrem alguns sintomas concomitantes. Como a Disautonomia, os POTS, Ativação mastocitária, Intolerância histaminérgica. No homem a testosterona tende a deixar os quadros mais leve que em mulheres. Faço parte de um grupo de médicos portadores de SED e a diferença na apresentação dos quadros é nítida. Os homens apresentam bem menos fadiga (eu não tenho), menos disautonomia (tenho pouquíssimo, só quando ingiro o que não posso), POTS (taquicardia postural, ou seja, o paciente fica em pé a frequência cardíaca aumenta, também não tenho). Mas podem apresentar mais ativação mastocitária e mais intolerância histaminérgica. Nos homens também a testosterona parece proteger as articulações, lesionamos bem menos que as mulheres.


Caso você leitor tenham desconfie que possa ter algum desses quadros, sugiro que sigam os seguintes perfis de médicas portadores de SED:
  • Dra. Kaliny Cristine Trevezani de Souza - Médica Pediatra - https://www.instagram.com/drakalinytrevezani/ (Atende crianças com SED)
  • Dra. Maike Heerdt - Médica Fisiatra  - https://www.instagram.com/dramaikeheerdt/ (Atende adultos com SED).
Suplementos na Síndrome de Ehlers Danlos e Intolerância histaminérgica

Tenho recibo alguns pacientes com SED, SED combinado a intolerância histaminérgica e outros com intolerância histamimnérgica pura. Então tive que procurar na literatura o que pode melhorar ou piorar os quadros. 

Além da dieta pobre em histamina, tenho visto que alguns nutrientes e compostos bioativos podem promover uma melhora dos sintomas. Os mecanismos ainda não são bem elucidados, afinal a literatura é bem fraca quando se trata do tema. 

  • Quercetina: é um polifenol com leve ação antihistaminica, anti-inflamatório e estudos in vitro mostram ação estabilizadora de mastócitos. Presente em inúmeros alimentos: cebola, maçã, salsa, sálvia, azeite, uvas, mirtilos, blueberries.
  • Vitamina C: estimula o aumento da produção da enzima DAO, que degrada histamina. Alguns estudos associam níveis de vitamina C circulantes com níveis de histamina. Presente em frutas cítricas pobres em histamina: caju, acerola.
  • Cobre: cofator da enzima DAO. Sem ele a enzima não atua de forma adequada. Fontes: carne.
  • Vitamina B6: cofator da enzima DAO. Níveis adequados tem relação com melhora dos sintomas de intolerância à histamina;
  • Luteolina: mesmo efeito da quercetina, diminuindo inflamação e estabilizando mastócito nos estudos in vitro.
Suplementos que podem ser deletérios para alguns portadores de intolerância histaminérgica:

  • Extrato de leveduras: pelo alto nível de histamina exógena, que pode acumular no intestino gerando sintomas em indivíduos sensíveis
  • Colágenos e caldo de osso: os colágenos são fonte de histidina, que em contato com a microbiota pode levar à produção de histamina
  • Algumas proteínas em pó: Dependendo da composição e forma da proteína pode aumentar a produção de histamina pelas bactérias da microbiota
  • Conservantes como benzoatos, sulfitos, sorbatos e gluttamato
  • Suplementos fermentados
  • Suplementos com base alcóolica: o álcool é um liberador de histamina e inibidor da DAO
  • Probióticos
  • Spirulina
  • Vitamina B3 na forma de ácido nicotínico

Referências bibliográficas

1) Sánchez-Pérez, S.; Comas-Basté, O.; Duelo, A.; Veciana-Nogués, M.T.; Berlanga, M.; Latorre-Moratalla, M.L.; Vidal-Carou, M.C. Intestinal Dysbiosis in Patients with Histamine Intolerance. Nutrients 2022, 14, 1774. https://doi.org/10.3390/nu14091774

2) Andrade VLA. Intolerância a Histamina. In Andrade, VLA. Manual de Terapêutica em Gastrenterologia e Hepatologia. Capítulo 85. 

3) Comas-Basté O, Sánchez-Pérez S, Veciana-Nogués MT, Latorre-Moratalla M, Vidal-Carou MDC. Histamine Intolerance: The Current State of the Art. Biomolecules. 2020;10(8):1181. Published 2020 Aug 14;10(8):1181. doi: 10.3390/biom10081181.

4) Schnedl WJ, Enko D. Histamine Intolerance Originates in the Gut. Nutrients. 2021;13(4):1262. Published 2021 Apr 12. doi:10.3390/nu13041262.

5) Tuck Ca, Biesiekierski J, Schmid-Grendelmeier P and Pohl D. Food Intolerances. Nutrients. 2019;11:1684. doi:10.3390/nu11071684 

6) https://pebmed.com.br/intolerancia-a-histamina-fique-atento-a-esta-condicao-patologica/#

REDE DE PROFISSIONAIS QUE ATENDEM SEDIANOS

Dra. Joseane Brostel Figueiredo David (Médica SEDiana)
CRM: 18.850.
Especialidade: Clínica Médica e Cardiologia (atende os casos de disautonomia)
No momento está atendendo somente por Telemedicina.
Fone do consultório para agendamento online: (61) 9207-9809.
Instagram: @drajoseane.brostel

Dra. Thania Rossi (Médica SEDiana)
CRM 141717 SP 
RQE-NCR 57605/ DOR | RQE: 576081
Especialidade: Neurocirurgia/Médica Da Dor. 
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Dr. Björn Erik Peter Dreisbach
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Dr. Pedro Paulo Prudente
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sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Nutrologia - uma especialidade médica que vai muito além de emagrecimento e ganho de massa

Ontem ouvi uma frase de uma paciente: "pensava que nutrólogo era só pra emagrecimento e ganho de músculo". Isso me fez refletir e conclui que daria um ótimo post. Então esse post é sobre isso. 

Primeiramente devemos compreender que a fala dessa paciente tem que ser analisada com outras perguntas:
  1. Por que as pessoas associam a Nutrologia a obesidade e hipertrofia?
  2. Será que as pessoas (isso inclui profissionais da saúde e leigos) sabem o real papel do nutrólogo?
  3. As pessoas sabem diferenciar o papel do nutrólogo e do nutricionista?
Para facilitar a compreensão e ser mais didático, este post será sob a forma de perguntas e respostas.

Pergunta 01: Por que as pessoas associam a Nutrologia a obesidade e hipertrofia?

R: Em 1973 três médicos (Dr. Dutra de Oliveira, Dra. Clara Sambaquy, Dr. José Evangelista) criaram a associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). cinco anos mais tarde (1978) a área foi reconhecida como uma especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). 

Por muitos anos o médico nutrólogo ficou restrito ao ambiente hospitalar, mas nos últimos 15 anos, com a ascensão da Indústria da obesidade, na busca de novas alternativas para o emagrecimento, o nútrólogo foi colocado em cena, ao lado de endocrinologistas. 

Nas últimas décadas, a endocrinologia foi a especialidade automaticamente associada ao tratamento da obesidade e sobrepeso. Porém, o endócrino não é o único profissional habilitado para tratar a obesidade. É o mais habilitado para manejo de desordens hormonais, mas a obesidade não é apenas desordem hormonal (aliás, as causas endócrinas correspondem a uma minoria dos casos). 

Assim como o endócrino, o nutrólogo tem capacidade para diagnosticar e instituir o tratamento do paciente portador de obesidade e sobrepeso. Ele entende mais que o endocrinologista sobre alimentação, sobre composição de alimentos. E assim como o endócrino, ele é habilitado para prescrever medicações antiobesidade e indicar o tratamento cirúrgico da obesidade. Alias, o nutrólogo é mais habilitado para manejar complicações pós-operatórias de uma cirurgia bariátrica que o endócrino. Isso faz parte do cotidiano do nutrólogo, mas não da endocrinologia. 

Então diante da "necessidade" de "novidades" na abordagem do paciente portador de obesidade, "emergiu" a figura do nutrólogo. Na verdade os nutrologos sempre trataram obesidade, desde a década de 70 atuaram, mas ficaram conhecidos pela atuação no ambiente hospitalar, mais precisamente na UTI.
Como o mercado de emagrecimento precisa "inovar", inovaram colocando o tratamento nutrológico como algo "superior" no tratamento da obesidade e aí muita gente lucrou, principalmente os nutrólogos. Então, nos últimos 15 anos entrou na moda procurar o médico nutrólogo para emagrecer. 

Parece piada, mas alguns veem a ida ao nutrólogo como status. É chique falar que vai ao nutrólogo. Na cabeça de algumas pessoas, ir ao endócrino ou nutricionista é coisa do passado. E assim surgiu a fama de que nutrólogo é o médico que trabalha como obesidade e ganho de massa muscular. 
A fama é errada? Não, mas a especialidade Nutrologia vai muito além disso. 

No gráfico abaixo, mostro parte da imensidão da especialidade. Reparem que o tratamento da obesidade corresponde a menos de 15% do que existe de conteúdo da especialidade. 




Pergunta 02: Será que as pessoas (isso inclui profissionais da saúde e leigos) sabem o real papel do nutrólogo?

R: Infelizmente não. A especialidade apesar de ser reconhecida desde 1978, ainda é nova no imaginário popular, principalmente quando comparado a especialidades clássicas como a cardiologia, endócrino, nefro. Ainda é vista como um tratamento caro, elitista, justamente por ter poucos serviços no SUS e até mesmo em planos de saúde. Enxergam como o médico que trata obesidade, solicita inúmeros exames, prescreve hormônios para fins estéticos e melhora a performance de atletas. Ou seja, além de não saberem a real atuação do nutrólogo, incorporam à especialidade, práticas que sequer são reconhecidas como parte do rol de procedimentos em Nutrologia. 

Aprendam então que a Nutrologia é:
1) Uma especialidade Médica reconhecida pelo CFM desde 1978.
2) Uma especialidade para todos, ou seja, o conhecimento Nutrológico é universal e o tratamento também deveria ser universal. Existe no SUS em várias capitais.
2) Área na qual para o médico se intitular Nutrólogo, ele deve ter feito residência de clínica médica ou clínica cirúrgica e depois mais 2 anos de residência de Nutrologia, ou ter sido aprovado na prova de título de Nutrologia.
3) Uma especialidade que trata de doenças nutricionais, porém, o manejo dessas doenças pode ter intersecção com outras especialidades, como por exemplo Endocrinologista e Medicina do esporte, ambos tratam obesidade. Ou ainda, Nutrologia x Gastroenterologia, ambos tratam intolerâncias alimentares. Ou, Nutrologia e Geriatria, ambos tratam sarcopenia. 
4) Uma ciência na qual o médico é responsável por: 
a) Ensinar hábitos saudáveis de vida
b) Ensinar qual a dieta para adequada para cada indivíduo
c) Diagnosticar quais hábitos de vida podem favorecer doenças nutricionais
d) Diagnosticar doenças
e) Instituir o tipo de tratamento dessas doenças: clínico? Cirúrgico?
f) Ressaltar que a doença pode recidivar se não tomadas as devidas medidas nutropreventivas. 
g) Reabilitar o paciente. 
h) Não consta no seu rol de procedimentos: Modulação hormonal, implantes hormonais, ortomolecular, terapia antienvelhecimento, uso de hormônios quando não há deficiência, soroterapia quando o trato digestivo está funcionante. 





Existe uma interface da Nutrologia com praticamente todas as especialidades médicas. Ou seja, ano após ano, estudos são publicados diariamente mostrando o impacto de hábitos alimentares no desencadear ou perpetuação de diversas doenças.  Dentre as áreas que o nutrólogo pode atuar temos:
  • Nutrologia hospitalar: paciente internado na enfermaria ou no centro de terapia intensiva.
  • Nutrologia pediátrica
  • Nutrologia geriátrica
  • Nutrologia esportiva
  • Nutrologia oncológica
  • Nutroterapia no paciente cirúrgico
  • Nutroterapia materno-fetal
  • Nutroterapia de doenças hepáticas
  • Nutroterapia de doenças gastrintestinais
  • Nutroterapia de doenças renais
  • Nutroterapia de doenças pulmonares
  • Nutroterapia de doenças cardíacas e vasculares
  • Nutroterapia de doenças neurológicas
  • Nutroterapia de doenças reumatológicas
  • Nutroterapia de doenças osteomusculares
  • Nutroterapia de doenças ginecológicas
  • Nutroterapia de doenças hematológicas
  • Nutroterapia de doenças alérgicas.
Resumindo: o nutrólogo pode atuar em todas as áreas da medicina, já que existe uma interface entre a maioria das doenças e aspectos nutricionais. Isso não quer dizer que ele tratará todas as doenças dessas especialidades, mas sim que atuará com o suporte nutrológico desses pacientes.

Quais doenças e situações tratamos?

1) Pacientes críticos e internados em UTI, necessitando de suporte nutricional para melhorar o prognóstico e evitar complicações (ex. sarcopenia) após a alta.
2) Pacientes restritos ao leito hospitalar (internados) e que necessitam de suporte nutricional adequado (enteral ou parenteral).
3) Pacientes que foram/serão submetidos a cirurgias, principalmente as do aparelho digestivo.
4) Pacientes saudáveis que desejam verificar os níveis de nutrientes: vitaminas, minerais. Colesterol, triglicérides, ácido úrico, glicemia.
5) Pacientes que não conseguem ingerir comida por via oral (pela boca) e necessitam de sonda nasogástrica/nasoenteral ou por via endovenosa (na veia). Gastrostomia ou jejunostomia.
6) Pacientes com Baixa massa magra (sarcopenia) ou com baixo peso (desnutrição).
7) Portadores de Sobrepeso ou Obesidade.
8) Síndrome metabólica.
9) Esteatose hepática (gordura no fígado).
10) Pré-diabetes, Diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2.
11) Dislipidemias: aumento do colesterol e/ou dos triglicérides.
12) Acompanhamento Pré e pós-cirurgia bariátrica.
13) Transtornos alimentares, em acompanhamento conjunto com psiquiatras e psicólogos: Compulsão alimentar, Bulimia, Anorexia, Vigorexia, Ortorexia.
14) Alergias alimentares.
15) Intolerâncias alimentares (lactose, frutose, rafinose e sacarose). Intolerância FODMAPS e sensibilidade não-celíaca ao glúten.
16) Anemias carenciais (por falta de ferro, vitamina B12, ácido fólico, zinco, cobre, vitamina A).
17) Pacientes que optam pelo Vegetarianismo, veganismo, Piscitarianismo (consumo de Peixes), Reducitarianismo (redução do consumo de carne).
18) Pacientes com constipação intestinal (intestino preso).
19) Pacientes com quadros diarréicos crônicos (diarreias).
20) Pacientes com Disbiose intestinal, Síndrome de Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO), Síndrome de supercrescimento fúngico (SIFO).
21) Portadores de Síndrome do intestino irritável, gases intestinais, distensão abdominal, empachamento e digestão lentificada.
22) Pacientes com Doenças inflamatórias intestinais: Doença de Crohn e Retocolite ulcerativa
23) Pacientes com Doença diverticular do cólon (divertículo e diverticulite).
24) Gastrite.
25) Doença do refluxo gastroesofágico.
26) Esofagite eosinofílica.
27) Acompanhamento nutrológico pré-gestacional, gestacional e durante a amamentação.
28) Casais com infertilidade (aspectos nutrológicos).
29) Pacientes portadores de doenças cardiológicas em acompanhamento com cardiologista: Hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, arritmia cardíaca, valvulopatias.
30) Pacientes portadores de doenças pulmonares em acompanhamento com pneumologista: enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, fibrose cística.
31) Pacientes portadores de doenças renais em acompanhamento com nefrologista: insuficiência renal crônica, litíase renal (cálculos renais), cistite intersticial, hiperuricemia (aumento do ácido úrico), gota.
32) Pacientes portadores de doenças no fígado/vias biliares em acompanhamento com hepatologista: insuficiência hepática, hepatites virais ou autoimunes, Síndrome de Gilbert, Litíase biliar (pedra na vesícula).
33) Portadores de Osteoporose ou osteopenia.
34) Pacientes portadores de doenças autoimunes e que estão em acompanhamento com especialista na área, tais como aartrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, doença de hashimoto, psoríase, vitiligo, doença celíaca, espondilite anquilosante.
35) Portadores de doenças neurogenerativas e que estão em acompanhamento com neurologista: esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, atrofia muscular espinhal (AME), doença de Alzheimer (DA) e outras demências, doença de Parkinson, doenças do neurónio motor (DNM), doença de Huntington (DH).
36) Pacientes portadores de cefaléias e enxaquecas, que já estão em acompanhamento com Neurologista.
37) Pacientes portadores de epilepsia, com crises convulsivas refratárias e que por indicação do neurologista pode-se utilizar dieta cetogênica.
38) Pacientes portadores do vírus HIV e que estão em tratamento com terapia antiretroviral sob supervisão de infectologista.
39) Pacientes portadores de câncer em acompanhamento com oncologista.
40) Pacientes portadores de transtornos psiquiátricos e que estão em acompanhamento com psiquiatra e psicoterápico: Transtorno de ansiedade generalizada, Síndrome do pânico, Depressão, Transtorno bipolar, Transtorno do déficit de atenção, Esquizofrenia.
41) Portadores de distúrbios do sono: insônia, apnéia obstrutiva do sono, sonolência diurna, sensação de sono não reparador, que estão em acompanhamento com Médico do sono.
41) Pacientes que apresentam fadiga, cansaço crônico, fraqueza, indisposição. Já que muitas vezes o sintoma pode ser decorrente da privação de algum nutriente, presença de metal tóxico ou de hábitos dietético-higiênicos errados.
42) Pacientes com falta de macronutrientes (carboidratos, proteína e gorduras) ou de micronutrientes (vitaminas, minerais).
43) Pacientes que desejam melhorar a performance na prática desportiva, atletas profissionais ou amadores.
44) Pacientes que desejam ganhar massa magra sem utilização de anabolizantes.
45) Pacientes com alterações dermatológicas, as quais pode existir um componentes nutricional: Acne, rosácea, queda de cabelo, unhas quebradiças.
46) Portadores de candidíase de repetição.
47) Mulheres com Tensão pré-menstrual e que já estão em acompanhamento com ginecologista.
48) Mulheres na menopausa e que apresentam alteração na composição corporal.
49) Pacientes portadores de zumbido e vertigem, que o Otorrinolaringologista ou Neurologista indica adequação dietética.
50) Pacientes com fibromialgia.

Pergunta 03: As pessoas sabem diferenciar o papel do nutrólogo e do nutricionista?

R: Não. Até mesmo médicos, tendem a considerar o nutrólogo como um "nutricionista de luxo", por puro preconceito (com os nutricionistas e com os nutrólogos) e pior ainda, pura ignorância. O nutrólogo está para o nutricionista, assim como o psiquiatra está para o psicólogo. Ou o fisioterapeuta está para o ortopedista. Uma área complementa a outra. Ao longo desses anos percebi que muito desse preconceito também é fomentado por nutricionistas. Vários insistem que o nutrólogo invadem a nutrição e esquecem até mesmo que a nutrição surgiu na América latina através das mãos de um nutrólogo, o Dr. Pedro Escudero. Para ler mais sobre as diferenças entre as duas áreas acesse: https://nutrologojoinville.com.br/a-nutrologia/nutrologo-e-nutricionista/

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] - Drogas hipoglicemiantes com benefícios cardiovasculares como modificadores de elementos críticos da história de vida humana

Resumo

A teoria da história de vida assume que todos os organismos estão sob pressão seletiva para colher recursos externos e alocá-los para maximizar a aptidão: apenas os organismos que fazem o melhor uso da energia obtêm os maiores benefícios da aptidão.

A troca de energia abrange quatro funções: manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos.

Os inovadores agentes anti-hiperglicêmicos agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2) diminuem o peso corporal e têm o potencial de combater a inflamação de baixo grau.

Essas atividades-chave poderiam religar dois componentes da teoria da história de vida operante na idade adulta — isto é, manutenção e defesa.

Nesta Visão Pessoal, postulamos que os benefícios desses medicamentos no sistema cardiovascular, além de seus efeitos hipoglicemiantes, poderiam ser mediados pela redução do custo de manutenção impulsionado pela obesidade e pelos esforços despendidos no combate à inflamação de baixo grau.

• Introdução

A teoria da história de vida é um campo da biologia que estuda a estratégia usada por um organismo para alocar sua energia para o crescimento, manutenção do corpo, defesa e reprodução.

Um princípio central da teoria da história de vida é o conceito de trade-offs – isto é, estratégias usadas para alocar energia quando características requerem mais energia do que a disponível.

Do ponto de vista evolutivo, a teoria assume que todos os organismos estão sob pressão seletiva para colher recursos do ambiente e alocá-los em funções biológicas para maximizar a aptidão.

Os organismos que fazem o melhor uso da energia ao longo da vida devem obter os maiores benefícios de condicionamento físico.

A troca de energia abrange as quatro funções biológicas, ou seja, manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos e predadores.

O investimento de muita energia em uma função diminui a energia disponível para as outras.

A história de vida rápida tem alta mortalidade extrínseca, vida curta, crescimento rápido, maturação precoce, tamanho pequeno da prole e envelhecimento rápido, enquanto a história de vida lenta tem baixa mortalidade extrínseca, vida longa, crescimento lento, maturação tardia, tamanho grande, tamanho grande da prole, e envelhecimento lento.  

Wells e colegas adaptaram a teoria da história de vida ao diabetes desenvolvendo um modelo no qual a capacidade metabólica, a carga metabólica e a homeostase desafiadora determinam a propensão e as complicações da doença.

A capacidade metabólica endógena inclui função pancreática e massa muscular e é fortemente influenciada pelo crescimento fetal e infantil.

A capacidade interage com a carga metabólica imposta por estímulos externos, a soma da adiposidade, carga glicêmica da dieta, sedentarismo, estresse psicossocial e todos os fatores patogenéticos críticos que contribuem para o risco de desenvolvimento de doenças e progressão para doenças cardiovasculares.

Ao longo do último meio século, as mudanças ambientais e o aumento da disponibilidade de alimentos aumentaram a carga metabólica.  

Assim, a prevalência de obesidade e diabetes aumentou rapidamente em todo o mundo e continua a crescer.  

Portanto, a ruptura do equilíbrio entre a capacidade metabólica e a carga metabólica gerará estresse ecológico e deterioração da homeostase com aumento do risco de mortalidade prematura que pode compensar a tendência de aumento da expectativa de vida em muitos países.

O diabetes tipo 2 está associado à redução substancial da expectativa de vida, principalmente devido ao excesso de mortalidade cardiovascular.

De acordo com o imprinting pré-natal sobre a capacidade metabólica, é provável que a propensão a desenvolver um risco aumentado de doença cardiovascular comece nas gerações anteriores.

Tanto a desnutrição quanto a supernutrição na gravidez ou obesidade materna estão ligadas ao risco cardiometabólico na prole.

Da mesma forma, os filhos de mães com diabetes pré-gestacional ou gestacional têm um perfil de risco de doença cardiovascular pior e uma taxa mais alta de doença cardiovascular de início precoce do que filhos de mães sem diabetes.

O mesmo ocorre em filhos de mães com histórico de doenças cardiovasculares ou complicações diabéticas.

Ao todo, essas observações indicam uma programação da chamada diabesidade e doenças cardiovasculares ao longo de gerações.

Em indivíduos com diabetes, o aumento da adiposidade e o desenvolvimento de distúrbios metabólicos levam à inflamação crônica de baixo grau: uma característica cardinal dos distúrbios metabólicos que levam ao gasto energético excessivo.

A manutenção a longo prazo de um estado inflamatório de baixo grau, sem um alvo para se defender (por exemplo, um agente infeccioso), pode ser vista como um desperdício de energia sem propósito que desequilibra a troca.

Tal resposta inflamatória, que deveria ser fisiologicamente, espacialmente e temporalmente limitada, torna-se ilimitada e não determinada causalmente, sendo vista como sem propósito.

Não exclui condições ecológicas como inatividade física, disbiose intestinal, dieta pouco saudável, isolamento social, estresse psicológico, sono perturbado e ritmos circadianos.

No entanto, a função principal da defesa (ou seja, combater e eliminar agentes externos) falha e fica sem propósito.

Devido ao efeito negativo da diabesidade e sua relação com o mecanismo da doença cardiovascular, a redução do peso corporal e o embotamento da inflamação são vistos como uma abordagem racional para melhorar o estado metabólico.

Desde 2015, duas classes de agentes redutores de glicose, agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2), demonstraram exercer proteção contra doenças cardiovasculares associadas a distúrbios metabólicos.

Nesta visão pessoal, hipotetizamos que os efeitos benéficos dos agonistas do receptor GLP-1 e dos inibidores de SGLT2 podem ser parcialmente mediados por sua capacidade de reequilibrar componentes da teoria da história de vida (figura).

Os mecanismos subjacentes à doença cardiovascular no diabetes

Em primatas não humanos e humanos, aqueles com maiores concentrações de glicose têm taxas de mortalidade mais altas do que aqueles com concentrações mais baixas de glicose em estágios posteriores da vida.

Além dessa associação epidemiológica, altas concentrações de glicose podem desencadear e sustentar vários mecanismos que levam a complicações relacionadas ao diabetes.

De acordo com a hipótese fisiopatológica unificadora clássica, a hiperglicemia causa (1) produção excessiva de espécies reativas de oxigênio com consequente ativação da poli (a ribose nuclear (ADP) polimerase) e acúmulo de intermediários glicolíticos; (2) ativação da proteína quinase C por diacilglicerol e subsequente translocação de NF-κB para o núcleo, sustentando a resposta inflamatória; (3) produção de produtos finais glicados avançados que interagem com receptores para produtos finais glicados avançados potencializando a inflamação; (4) ativação das vias de poliol e glucosamina, conduzindo a modificações adicionais das funções celulares.

A coexistência de hiperglicemia e excesso de gordura corporal, particularmente gordura visceral que é maciçamente infiltrada por células mielóides (adiposopatia), piora drasticamente a inflamação, resultando no estado bem documentado de inflamação crônica de baixo grau.

Por sua vez, a hiperglicemia e a inflamação de baixo grau levam a modificações epigenéticas, pelo menos em parte, alterando a expressão e a atividade das sirtuínas.

Sirtuin1, uma histona desacetilase classe III dependente de NAD+ com ação antioxidante e anti-inflamatória, previne a senescência endotelial e promove a biodisponibilidade de NO.  

Paralelamente, a toxicidade da glicose e dos lipídios prejudica a regeneração vascular; pessoas com diabetes têm mobilopatia da medula óssea, indicada pela diminuição das células-tronco hematopoiéticas ou células progenitoras e células progenitoras endoteliais disfuncionais, devido ao excesso de mielopoiese inflamatória no nicho da medula óssea.

Juntamente com a glicotoxicidade, a lipotoxicidade tem um papel prejudicial nas doenças cardiovasculares e no envelhecimento prematuro: foi relatado um risco aumentado de morte para as categorias mais altas e mais baixas de IMC entre homens e mulheres, em todos os grupos raciais e étnicos e em todas as idades.

A obesidade é uma doença multissistêmica que afeta a homeostase vascular em nível do organismo, inclusive no miocárdio.  

O insulto miocárdico na obesidade resulta da carga extra no coração devido ao alto volume sanguíneo e à hipertensão, levando ao aumento do volume sistólico do ventrículo esquerdo.

Vários estudos têm mostrado associação entre obesidade e alterações estruturais e funcionais do ventrículo esquerdo, como maior volume diastólico final do ventrículo esquerdo e hipertrofia concêntrica, eventualmente levando a uma disfunção contrátil miocárdica subclínica.

Além disso, em indivíduos com obesidade e diabetes, a gordura epicárdica aumenta, o que contribui para inflamação local e inflexibilidade metabólica.

O aumento da massa gorda e a inflamação de baixo grau podem atrapalhar o equilíbrio fisiológico entre as quatro funções essenciais da teoria da história de vida: manutenção, crescimento, reprodução e defesa contra patógenos.

Devido a essa interrupção, o aumento da massa gorda e a inflamação de baixo grau podem contribuir para o risco de doenças cardiovasculares.

A superalimentação e a expansão da massa gorda corporal causam um aumento na taxa metabólica de repouso, no efeito térmico dos alimentos e no gasto energético relacionado à atividade.

Muitas pessoas são diagnosticadas com diabetes tipo 2 em seus anos pós-reprodutivos, quando o crescimento e a reprodução diminuem.

Além das implicações da diabesidade de início precoce para a aptidão reprodutiva, para a maioria dos pacientes com doença de início tardio, o trade-off envolve manutenção e defesa.

Ao mesmo tempo, a massa gorda expandida impõe um custo extra em energia e um perfil de risco cardiovascular mais grave devido a uma ativação sem propósito da imunidade inata.

Com o termo sem propósito, identificamos uma condição na qual o processo imune-inflamatório não é ativado para eliminar uma causa de doenças infecciosas, mas é inadequadamente engajado ou desregulado por pistas estéreis, causando a ruptura da homeostase e promovendo a patologia.

Os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 exercem vários efeitos no alvo e fora do alvo que explicam os benefícios cardiovasculares mostrados nos ensaios de resultados cardiovasculares (CVOTs).

Aqui, exploramos até que ponto os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem melhorar a relação entre manutenção e defesa, como uma estrutura geral para interpretar as estratégias atuais e futuras para reduzir a carga de doenças cardiovasculares em pessoas com doenças metabólicas.

• Resultados de CVOTs

Em pessoas com diabetes, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 reduzem a taxa de desfechos cardiovasculares e renais além de sua capacidade de diminuir as concentrações de glicose.

Os CVOTs mostraram que os pacientes aleatoriamente designados para receber um agonista do receptor GLP-1 tiveram um benefício cardiovascular substancial em comparação com aqueles que receberam placebo.  

Uma meta-análise de oito ensaios envolvendo 60 080 pacientes mostrou uma redução de 14% na redução do risco relativo em três pontos de eventos cardiovasculares adversos maiores (ECAM), uma redução no risco de morte por qualquer causa em 12% e 17% de redução no acidente vascular cerebral fatal e não fatal.

O benefício dos agonistas do receptor GLP-1 é observado nos diferentes estratos de risco de doença cardiovascular.

De acordo com uma meta-regressão, entre os agentes redutores de glicose, o MACE e a redução do risco de insuficiência cardíaca foram significativamente maiores quando os pacientes foram aleatoriamente designados para medicamentos capazes de reduzir o peso corporal.

Essa noção contrasta com o chamado paradoxo da obesidade, segundo o qual pessoas que vivem com sobrepeso ou obesidade e com doenças cardiovasculares podem ter um prognóstico melhor em comparação com pacientes magros (IMC < 25 kg/m2).

No entanto, a associação ecológica entre as mudanças no peso corporal induzidas pelos medicamentos experimentais testados em CVOTs e sua proteção contra doenças cardiovasculares apoia nossa hipótese (ou seja, o papel positivo de uma massa gorda diminuída na inflamação de baixo grau [defesa] e manutenção).

Em pacientes com diabetes tipo 2, uma análise incluindo seis ensaios com 57 553 participantes, aleatoriamente designados para inibidores de SGLT2 versus placebo, apresentou um risco relativo 12% menor de MACE.

Além disso, os inibidores de SGLT2 reduziram significativamente o risco de desfechos renais compostos em 36–41%.

Estudos do mundo real confirmaram amplamente esses benefícios relevantes dos inibidores de SGLT2 e agonistas do receptor de GLP-1.

Uma diminuição significativa nos desfechos cardíacos e renais foi observada em pacientes com doença renal crônica, independentemente da presença de diabetes.

Além disso, entre os pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida ou preservada, independentemente da presença de diabetes, os inibidores de SGLT2 reduziram a hospitalização por insuficiência cardíaca em aproximadamente 30% e reduziram a morte cardiovascular em 14%.  

Portanto, embora os benefícios dos agonistas do receptor de GLP-1 para pessoas sem diabetes ainda aguardem investigação, parece que a proteção conferida pelos inibidores de SGLT2 se estende além do diabetes a duas outras condições interconectadas, ou seja, insuficiência cardíaca e doença renal crônica.

Notavelmente, essas duas condições são cada vez mais reconhecidas como parte de um continuum cardio-renal-metabólico, pois estão intimamente ligadas à obesidade e ao dismetabolismo e apresentam inflamação de baixo grau.

Quaisquer que sejam os mecanismos em ação, a maioria dos pesquisadores concorda que os agonistas do receptor GLP-1 e os inibidores de SGLT2 diminuem o risco de doença cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 além de sua eficácia na redução da glicose.

Notavelmente, esses medicamentos beneficiam o peso corporal (melhorando a manutenção) e têm o potencial de reduzir a inflamação de baixo grau (melhorando a defesa), abordando assim dois componentes cruciais da história de vida.

• Manutenção

De acordo com a teoria da história de vida, a manutenção é necessária para garantir a homeostase corporal (ou seja, a manutenção ativa das características qualitativas e quantitativas do sistema dentro da faixa desejada).

A manutenção é vital para preservar características de saúde, como compartimentação espacial, consistência ao longo do tempo e uma resposta adequada ao estresse.

Em humanos, espera-se que o investimento em energia na manutenção somática varie de acordo com as necessidades ecológicas.

Um estilo de vida incongruente, que ocorre frequentemente em países industrializados de alta renda, favorece o alto investimento energético na manutenção somática, traduzindo-se em efeitos negativos na reprodução e longevidade.

Assim, comportamentos não saudáveis, como superalimentação e sedentarismo físico, podem aumentar o risco cardiovascular e reduzir a longevidade.

Como ocorre com a obesidade, a expansão do tecido adiposo impõe um custo de manutenção desproporcionalmente alto com efeitos prejudiciais ao estado de saúde.

Medicamentos que trazem benefícios para a perda de peso, como agonistas do receptor de GLP-1 e inibidores de SGLT2, podem reduzir o risco relacionado à obesidade por atuarem positivamente nesse elemento da história de vida.

Embora os mecanismos que induzem a perda de peso sejam diferentes entre as duas classes, dados do mundo real e de ensaios sugerem que, em média, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem atingir graus semelhantes de perda de peso.

Os agonistas do receptor GLP-1 são considerados os agentes redutores de glicose mais potentes, pois podem diminuir a HbA1c em 2%, juntamente com uma perda substancial de peso corporal.

A capacidade dos agonistas do receptor GLP-1 para induzir a perda de peso foi confirmada em diferentes espécies.

Embora parte do efeito sobre a saciedade possa ser mediado pela diminuição da motilidade gástrica, eles atuam principalmente nos circuitos de controle do apetite – ou seja, os sistemas de controle evoluíram para garantir recursos energéticos do ambiente.

Os agonistas do receptor GLP-1 ativam a sinalização de saciedade dentro do SNC e simultaneamente estimulam as vias de sinalização que reduzem a ingestão de alimentos.  

Estudos em roedores alimentados aos pares também sugerem que a administração de agonistas do receptor GLP-1 pode aumentar o gasto energético, embora esse efeito não tenha sido comprovado em humanos.

Os agonistas do receptor GLP-1 podem diminuir o gasto total de energia em humanos devido à perda de peso, reduzindo assim a quantidade de energia necessária para manter a massa corporal.

Um polipeptídeo insulinotrópico de glicose duplo e um agonista de GLP-1 (tirzepatide) podem representar uma abordagem mais potente para a perda de peso do que os agonistas do receptor de GLP-1 sozinhos.

O principal mecanismo de ação dos inibidores de SGLT2 é a inibição da reabsorção renal de glicose no túbulo contorcido proximal, causando glicosúria e perda calórica em torno de 400 kcal por dia.

A leitura clínica é uma melhora do controle glicêmico, pressão arterial e redução do peso corporal em uma média de 2-3 kg, possivelmente limitada pela ingestão alimentar compensatória.

Dada a sua capacidade de causar perda de peso, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem melhorar profundamente os programas de manutenção, modificando um dos elementos cruciais do trade-off da história de vida e, assim, melhorando os resultados.

Um ponto importante contra nossa hipótese é que a redução de MACE em CVOTs não parece ser mediada pela extensão da perda de peso, enquanto as análises de mediação identificam consistentemente a redução na HbA1c e albuminúria por agonistas do receptor GLP-1 como os principais contribuintes.

Em contraste, os biomarcadores relacionados aos glóbulos vermelhos parecem mediar a maior parte da proteção cardiorrenal pelos inibidores de SGLT2, com o peso corporal fornecendo uma contribuição menor.

No entanto, esses resultados foram obtidos por análises de mediação, que podem ser influenciadas pela estrutura das variáveis ​​consideradas, pelo óbito dos pacientes antes da avaliação do mediador e pela confusão pós-tratamento do efeito do mediador por outros mediadores, e são  intrinsecamente incapaz de definir relações de causa e efeito.

Estudos clínicos e experimentais ilustram que a perda de peso melhora substancialmente a secreção e ação da insulina, resultando em melhor controle glicêmico, e pode melhorar a albuminúria, possivelmente por atenuar a inflamação sistêmica.  

Mesmo uma pequena redução no peso tende a melhorar o resultado de indivíduos que vivem com obesidade, e espera-se que ajustar um mediador candidato a montante por seus efetores a jusante anule seu papel como mediador do resultado.

Portanto, as análises de mediação atuais não podem excluir firmemente uma contribuição causal da perda de peso na eficácia cardiovascular dos agonistas do receptor de GLP-1 e dos inibidores de SGLT2.

Em geral, os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2, cada um com mecanismos e magnitudes diferentes, podem reduzir o peso corporal e a massa gorda, restringindo assim a carga do excesso de gordura no gasto e manutenção de energia.

Este efeito é de particular interesse na idade adulta, quando a atividade física tende a diminuir, pois a perda de peso corporal pode induzir os pacientes a aumentar sua atividade física, contribuindo para mecanismos de reparo e manutenção bem conhecidos.

O relatório de 2021 sobre o uso de agonistas do receptor GLP-1 em jovens (de 10 a <18 anos) com diabetes tipo 2 revela a possibilidade de que esses compostos também possam afetar o crescimento e a reprodução.

Finalmente, reconhecemos que não apenas a quantidade de gordura corporal, mas também sua composição e distribuição, podem influenciar a manutenção.

Tanto os agonistas do receptor GLP-1 quanto os inibidores de SGLT2 podem reduzir a gordura visceral, gerando benefícios cardiometabólicos previsíveis.

Um aumento da gordura não visceral, apesar de teoricamente alocar mais energia para manutenção, não produziria o mesmo efeito prejudicial e, se combinado com uma redução da inflamação (como pode ocorrer durante o tratamento com pioglitazona), pode ser parcialmente protetor.

• Defesa

A inflamação é uma resposta combinada à infecção ou lesão e é comumente ativada em perturbações da homeostase tecidual.

Assim, o sistema imune inato é um requisito fundamental para a sobrevivência.

A imunidade e o metabolismo são integrados e dependentes um do outro; nos casos de ruptura dessa interface, como ocorre no diabetes e na obesidade visceral, sobrevém a inflamação de baixo grau.

Essa condição tem uma dupla implicação: está associada ao comprometimento das respostas imunes inata e adaptativa, exacerbando reações imunes indesejadas e contribui para o risco cardiovascular.

Verificou-se que o tratamento com agonistas do receptor de GLP-1 reduz o fator de necrose tumoral-α, estresse oxidativo e inflamação nas células endoteliais.

Os agonistas do receptor GLP-1 podem remodular a resposta imune inata perturbada em pacientes com diabetes tipo 2, que não se limita apenas ao tecido adiposo, mas também se manifesta no cérebro, sistema cardiovascular, fígado, intestino e rins.

Os agonistas do receptor de GLP-1 foram sugeridos para beneficiar indivíduos expostos à infecção por SARS-CoV-2, normalizando a glicose plasmática, diminuindo a massa gorda e induzindo efeitos anti-inflamatórios e imunorreguladores em vários órgãos.

Os inibidores de SGLT2 podem exercer uma atividade anti-inflamatória proeminente.

Vários relatórios indicam que os inibidores de SGLT2 diminuem a inflamação em modelos celulares, um modelo cardíaco de roedores e evidências de modelos humanos e de roedores sugerem que os inibidores de SGLT2 podem melhorar a função renal reduzindo as armadilhas extracelulares de neutrófilos, modificando a microbiota intestinal e inibindo o inflamassoma.

Os inibidores de SGLT2 também demonstraram modificar a polarização dos macrófagos de M1 pró-inflamatório para M2 anti-inflamatório e estimular o gasto de energia de todo o corpo através da ativação de AMPK e aumento da expressão da proteína de desacoplamento 1 no tecido adiposo marrom e branco.

Os inibidores de SGLT2 parecem resgatar o reparo vascular em um modelo de diabetes de camundongos C57 e BL6, modulando o sistema hematopoiético e favorecendo o recrutamento local de células imunes inatas.

Notavelmente, o estresse hematopoiético está emergindo como um mediador dos efeitos da inflamação em defeitos ao longo da vida na manutenção e regeneração dos tecidos.

Uma atividade anti-inflamatória consistente de inibidores de SGLT2 também foi observada em humanos.  

A administração de inibidores de SGLT2 está associada a uma redução das concentrações circulantes do fator de diferenciação de crescimento-15 (um marcador de inflamação), molécula-1 de lesão renal (um marcador de lesão tubular) e resposta anti-inflamatória em leucócitos.

Os inibidores de SGLT2 também inibem o inflamassoma 3 contendo domínio de pirina e a subsequente liberação de IL-1β.

Em humanos, Paolisso e colegas encontraram concentrações de proteína C reativa significativamente mais baixas em usuários de inibidores de SGLT2 em comparação com não usuários, e Nishimiya e colegas encontraram um declínio consistente na proteína C reativa em humanos após 6 meses de tratamento com canagliflozina.

Em uma metanálise sistemática, Bray e colegas relataram uma diminuição consistente da proteína C reativa em pacientes com diabetes tipo 2.

Evidências iniciais suportam um efeito anti-inflamatório dos inibidores de SGLT2, mesmo em indivíduos sem diabetes, especialmente na presença de insuficiência cardíaca.

No contexto da história de vida, o aumento da concentração de corpos cetônicos observado durante a terapia com inibidores de SGLT2 pode ser teleologicamente importante: na presença de um trade-off alterado entre manutenção e defesa, corpos cetônicos originados de ácidos graxos podem ser vistos como um sinal de resgate.

A oxidação dos corpos cetônicos não só está associada a uma proporção vantajosa de ATP para oxigênio, mas também medeia a inibição do inflamassoma por inibidores de SGLT2 e imita a capacidade dos inibidores de SGLT2 de melhorar o reparo vascular.

Em conclusão, há evidências consistentes de que os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem ajudar a corrigir o componente de defesa, reduzindo o peso corporal e promovendo uma atividade anti-inflamatória.

• Conclusões

Nesta Visão Pessoal, descrevemos os efeitos positivos dos agonistas do receptor GLP-1 e dos inibidores de SGLT2 no sistema cardiovascular e sugerimos que eles podem ser responsáveis, pelo menos em parte, por um efeito benéfico em dois elementos básicos da vida biológica:  manutenção e defesa.

Embora as duas classes de medicamentos sejam diferentes, buscamos destacar sua capacidade de reequilibrar a história de vida, atuando no peso corporal e na inflamação, mas com modos de ação notavelmente diferentes.

Diabetes e obesidade têm um compromisso prejudicado entre esses dois componentes-chave da teoria da história de vida.

Os agonistas do receptor de GLP-1 e os inibidores de SGLT2 podem modificar positivamente a manutenção e a defesa, reduzindo o peso corporal e a inflamação de baixo grau.

Reconhecemos que os efeitos sobre o peso corporal e a inflamação por si só podem não explicar todo o seu espectro e extensão da proteção contra doenças cardiovasculares.  

No entanto, acreditamos que nossa interpretação tem dois pilares: (1) obesidade e inflamação de baixo grau são fatores de risco bem reconhecidos para doenças cardiovasculares; (2) a teoria da história de vida ajuda a entender como as estratégias de alocação de energia ao longo da vida podem modificar a trajetória da doença cardiovascular e como a doença cardiovascular pode ser potencialmente modificada com medicamentos hipoglicemiantes.  

Outras classes de medicamentos para diabetes têm efeitos especulativos e putativos sobre os componentes da teoria da história de vida (uma lista não exaustiva desses efeitos pode ser encontrada na tabela).

Essa estrutura não convencional pode ser fundamental para uma interpretação holística dos resultados associados ao uso de medicamentos para diabetes existentes e novos.


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By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
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