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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Sal rosa do Himalaya - Quebrando mitos e te ajudando a encomomizar

Frequentemente vemos pacientes contando que estão utilizando o sal do Himalayaa. Qual a minha opinião? Uma perda de dinheiro. Pagar 100 vezes em 300g de sal, sendo que não existe nenhum tipo de vantagem ? Vá comprar comida de verdade (orgânica de preferência e de produtores locais) que você ganha mais saúde. Mas porque pensamos assim? É achismo, implicância com as pedrinhas rosa ou temos alguma base científica para afirmar isso ?

Desde 2008 estamos buscando artigos sobre o tema. Passaram-se CATORZE anos e até agora, não encontramos NENHUM artigo na Pubmed mostrando vantagens em se consumir o tal sal do Himalaia. 

O que estão em jogo aqui não é achismo (-Ah mas comigo eu usei e gostei), somos médicos, alguns pesquisadores com mestrado e doutorado e o que estamos buscando são evidências científicas. É injusto fazer terrorismo nutricional com a população. Pessoas que tem um orçamento limitado e acabam acreditando que tem obrigação de comprar Sal do Himalaia pois alguns profissionais vendem a ideia de que é mais saudável.

Enfim, compramos o bendito, fizemos uso e não vimos diferença alguma.

Mas será que esses sais diferentes são mais saudáveis ? 

No mercado temos o sal marinho, sal de cozinha refinado e iodado, sal kosher, sal aromatizado, fleur de sel (flor do sal ou sal cinza), Hiwa Kai, sal negro, Hawaiian Sea Salt, Kala Namak, “sal orgânico” e o famoso sal rosa do Himalaia. Todos são o mesmo produto: cloreto de sódio. Apenas as quantidades ínfimas (traços) de minerais variam de um para outro. Primeira ilusão de quem consome esse sal. Não há minas de sal no Himalaia. Como diz a culinarista Pat Feldman "é sal demais para "Himalaia de menos". As maiores minas de "sal do Himalaia" ficam no Paquistão, a quase 500 km do Himalaia.

Uma dúvida, o sal rosa do Himalaia é tão puro que não recebe iodação, sendo comercializado sem iodo ? Mas se isso é uma política de saúde pública e a falta de iodação pode gerar repercussões metabólicas, o consumo do mesmo estaria ligado a um maior risco de deficiência de iodo? 

Há alguns produtos com o nome Sal do Himalaia que é iodado, mas os importados não são. O sal de mesa (o tão mal falado sal refinado) é enriquecido com iodo e é uma forma altamente eficaz para prevenir a deficiência de iodo (que pode levar ao bócio, um aumento do volume da glândula tireóide). A política de saúde pública (que consiste na iodação do sal) acaba prevenindo o bócio por déficit de Iodo, tão comum em décadas passadas, no interior do Brasil.

A maior desculpa apresentada para se propagar os benefícios com o uso do sal do Himalaia é que ele contém 84 minerais traços e esses promovem saúde e bem-estar. Existe um site interessantíssimo que seguimos: https://www.sciencebasedmedicine.org que visa desvendar alguns mitos. Recentemente postaram sobre o sal do Himalaia e provaram que não há UM único estudo comparando o sal do Himalaiaa com os demais.

Mas suponhamos que esses 84 minerais presentes realmente estejam na composição. Isso justificaria a sua utilização ? Não. São traços, ou seja, quantidades tão ínfimas que você adquire consumindo 200ml de água natural.

Não há nenhuma evidência publicada em revistas ou jornais ligados a área, mostrando que a substituição de sal branco por sal do Himalaya traga benefícios para a saúde. Na lista de minerais citados, você notará que uma série deles são radioativos, como Rádio, Urânio e Polônio. Também compõem a lista, minerais tóxicos, como o Tálio. Seria arriscado então consumir Sal do Himalaya ? Não, já que são traços, ou seja, quantidades ínfimas. Uma pergunta inversa aos defensores do seu uso: então se os vestígios de 84 minerais presentes são benéficos, porque não acreditar que os vestígios de minerais radioativos e tóxicos possam ser prejudiciais?

O site fluoridedetective.com alerta que a análise do sal extraído da maior mina de "sal do Himalaya" do mundo, no Paquistão, demonstrou concentração gigantesca de flúor, de 231 ppm (231mg de fluor por quilo de sal). http://www.poisonfluoride.com/pfpc/html/analysis.html E isso é arriscado, ou seja, já temos evidências de que o seu uso tenha potencial efeito tóxico.

Resumindo: a alegação de que sal rosa do Himalaya contém 84 minerais pode ATÉ ser verdade, mas a alegação de que “promove a saúde e bem-estar” é falsa até que se prove o contrário, com estudos clínicos.

Enquanto esperamos por evidências, continuaremos utilizando o sal marinho iodado. Pelo menos sabemos que eles não contém urânio.

Caso nos perguntem qual sal ideal? O sal refinado é puramente Cloreto de Sódio com iodo, sem traços de outros minerais. O sal marinho por não ser refinado, mantém alguns traços de minerais. A questão é: traços de minerais terão impacto na nossa saúde ? Não, pois a quantidade que utilizamos é ínfima.

O que devemos adotar é uma dieta saudável, com mais alimentos in natura e menos alimentos processados. Dar preferência a vegetais (folhagens, legumes, leguminosas, cereais integrais) orgânicos, beber basta água filtrada, praticar atividade física regularmente, ter contato com a natureza, dormir bem, manter os pensamentos em ordem e cultivar bons sentimentos. Isso é infinitamente superior que qualquer traço de minerais.

Assinam o post acima os seguintes perfis no instagram:

Dr. Frederico Lobo (Médico Nutrólogo de Goiânia/Joinville) @drfredericolobo

Dra. Tatiana Abrão (endocrinologista e nutróloga de Sorocaba – SP) @tatianaabrao,

Dr. Daniella Costa (nutróloga de Uberlândia – MG) @dradaniellacosta,

Atualização: 30/05/2017

A USP fez uma análise e não achou superioridade no consumo do Sal Rosa, segundo as pesquisadoras do Laboratório de Alimentos da USP. “Em 1g de sal você tem 400 mg de sódio, no sal refinado. Nos gourmets, tem 312 mg, 360 mg, varia inclusive entre eles, mas não passa, não é abaixo de 300 mg”, explicou a pesquisadora Eliana Bistriche Giutini. 


Um estudo de 2010 analisou 45 tipos de sal e o brasiliense João Gabriel Marques, nutricionista e mestre em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília (UnB) analisou o estudo, criando até uma tabela para fins comparativos. 


Considerando os 45 tipos de sal avaliados, ficaremos apenas com aqueles mais interessantes para a nossa análise, ou seja, aqueles mais facilmente encontrados para consumo: sal refinado, sal marinho*, sal grosso e sal rosa do Himalaia. *O sal marinho escolhido, a partir das diversas opções de sal marinho do estudo, foi o que pode ser obtido a partir do Oceano Atlântico (litoral brasileiro).

Para facilitar a visualização, montei uma tabela com a concentração dos minerais avaliados pelo estudo: cálcio, potássio, magnésio, ferro, zinco e sódio. Além disso, coloquei, na última coluna, os valores de referência de ingestão (DRIs) — para mulheres jovens adultas* — de cada um desses nutrientes.

*Escolhi os valores para mulheres jovens adultas porque eles são iguais ou inferiores aos de homens, idosos ou gestantes; a única exceção foi o ferro, que possui valor de referência mais baixo para homens do que para mulheres (8 x 18 mg). Assim, essas escolhas foram determinadas para que houvesse a possibilidade de a ingestão desses minerais, a partir dos sais, pudesse ser minimamente importante pelo menos para o grupo populacional com as menores necessidades absolutas de minerais.

Todos os minerais abaixo estão representados em miligramas (mg) e referem-se à quantidade presente em 10 g de sal, que é próxima à média de ingestão diária da população brasileira:

É possível perceber, claramente, que o consumo de nenhum sal, nem mesmo o rosa do Himalaia, nem mesmo o azul de Urano, representará uma fonte expressiva de minerais — com exceção do sódio, é claro. 

A concentração de minerais no sal rosa é bastante superior à dos demais sais? Sim, chegando a ser 300% superior para o cálcio e mais de 7400% superior para o magnésio, por exemplo, quando comparada à do sal refinado. Mas de que adianta se, na prática, essas quantidades de minerais encontradas no sal rosa ainda são muito pequenas em relação às necessidades diárias? Nada. 

Considerando nossas necessidades nutricionais, o mineral mais importante no sal rosa seria o ferro. Mesmo assim, a ingestão de 10 g/dia desse tipo de sal não seria capaz de suprir nem 5% das recomendações de ferro. Além disso, diferentemente do que algumas pessoas dizem e do que alguns sites informam, o sal rosa do Himalaia não possui menor concentração de sódio quando comparado ao sal refinado. E sódio à parte, nenhum sal será uma fonte minimamente importante de minerais. Além desse artigo científico que analisamos, existe também um site em inglês que apresenta a concentração de todos os minerais que supostamente são encontrados no sal rosa. 

Porém, como o site não diz muito bem como esses dados foram obtidos, não é possível afirmar que essas informações são confiáveis. Mesmo assim, se alguém quiser confirmar que o sal rosa não se configura como uma fonte importante de nenhum desses nutrientes, basta comparar os minerais apresentados pelo site às necessidades nutricionais de cada mineral segundo as DRIs.

ATUALIZAÇÃO: 06/12/2021

Um grupo de estudos aqui da Universidade Federal de Goiás publicou um artigo  comparando os efeitos do Sal Rosa versus sal de mesa comum sobre a pressão arterial.

O sal do Himalaia (SH) tornou-se uma alternativa popular para o sal de mesa (SM) devido às suas alegações de benefícios à saúde, principalmente para indivíduos com hipertensão arterial. Porém, apesar do aumento do consumo de SH, ainda faltam evidências clínicas que sustentem a recomendação de seu consumo por profissionais de saúde. 

Objetivo do trabalho: Este estudo teve como objetivo comparar o impacto da ingestão de SH e SM sobre a pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD) e concentração de sódio urinário em indivíduos com PA. 

Metodologia do trabalho: Este estudo recrutou 17 pacientes do sexo feminino com hipertensão arterial que comiam fora de casa no máximo uma vez por semana. Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos, para receber e consumir SH ou SM. Antes e depois de cada intervenção, os participantes tiveram sua pressão arterial medida e urina coletada para análise mineral. Um valor de p <0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

Resultados: Não houve diferenças estatisticamente significativas antes e depois da intervenção SH para PAD (70 mmHg vs. 68,5 mmHg; p = 0,977), PAS (118,5 mmHg vs. 117,5 mmHg; p = 0,932) e concentração urinária de sódio (151 mEq / 24h vs. 159 mEq / 24; p = 0,875). Além disso, a análise entre os grupos não mostrou diferenças significativas após a intervenção em relação a PAS (117 mmHg vs 119 mmHg; p = 0,908), PAD (68,5 mmHg vs 71 mmHg; p = 0,645) ou concentração urinária de sódio (159 mEq / 24h vs 155 mEq / 24h; p = 0,734).

Conclusão: Este estudo sugere que não há diferenças significativas no impacto do consumo de SH em relação ao SM na PA e concentração urinária de sódio em indivíduos com hipertensão arterial. A troca de um pelo outro não foi uma medida eficaz a ponto de alterar a pressão arterial.

Além disso, o sal do Himalaia utilizado custou 30x mais que o sal de mesa. Também observamos o sal do Himalaia liberado para comercialização no Brasil e utilizado no estudo, tem 6x menos iodo que o sal comum. O que significa? Risco de bócio na população exposta ao uso à longo prazo pois todo sal do Brasil é acrescido de Iodo como medida de saúde pública.

Palavras-chave: Pressão Arterial; Hipertensão; Doenças Cardiovasculares; Fatores de Risco; Cloreto de Sódio; Sódio na Dieta; Urinalise.

Por que consumir ORGÂNICOS ?

A produção de orgânicos sempre que possível, baseia-se no uso de estercos animais, rotação de culturas, adubação verde, compostagem e controle biológico de pragas e doenças. Busca manter a estrutura e produtividade do solo, trabalhando em harmonia com a natureza. Equilíbrio Homem/ecossistema, integração ! De formal geral, a agricultura orgânica é baseada em três idéias. 

São elas: 

1) Cultivo natural: é proibido o uso de agrotóxicos, adubos químicos e artificiais e conservantes no processo de produção. 

2) Equilíbrio ecológico: A produção respeita o equilíbrio microbiológico do solo e as diferentes épocas de safra. O processo fica mais sustentável, não degradando a biodiversidade. 

3) Respeito ao homem: o trabalhador tem que ser respeitado (leis trabalhistas, ganho por produtividade, treinamento profissional e qualidade de vida). Para se obter um alimento verdadeiramente orgânico, é necessário conhecer diversas ciências (agronomia, ecologia, nutrição, medicina, economia, entre outras). 

Assim, o agricultor, através de um trabalho harmonizado com a natureza, tem condições de oferecer ao consumidor alimentos que promovam não apenas a saúde deste último, mas também do planeta em que vivemos. O número crescente de produtores orgânicos no Brasil está dividido basicamente em dois grupos: pequenos produtores familiares ligados a associações e grupos de movimentos sociais, que representam 90% do total de agricultores, sendo responsáveis por cerca de 70% da produção orgânica brasileira, e grandes produtores empresariais (10%) ligados a empresas privadas. 

Enquanto na região sul cresce o número de pequenas propriedades familiares que aderem ao sistema, no sudeste a adesão é representada em sua maioria por grandes propriedades. Atualmente, o Brasil ocupa a 34ª posição no mundo no ranking dos países exportadores de produtos orgânicos, sendo que na última década foi assistido um crescimento de 50%nas vendas por ano. 

Calcula-se que já estão sendo cultivados perto de 100 mil há (hectares) em cerca de 4.500 unidades de produção orgânica espalhadas por todo o país. A maior parte da produção brasileira (cerca de 70%) encontra-se nos estados do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. Apesar da tendência de crescimento, o Brasil ainda perde para a vizinha Argentina em termos de área certificada para o cultivo de orgânicos na América do Sul. 

Da produção nacional de orgânicos, cerca de 75% é exportada, principalmente para a Europa, Estados Unidos e Japão. A soja, o café e o açúcar lideram as exportações. No mercado interno, os produtos mais comuns são as hortaliças, seguidos de café, açúcar, sucos, mel, geleias, feijão, cereais, laticínios, doces, chás e ervas medicinais. Infelizmente ainda não temos muitas frutas produzidas nos moldes correto. Os países com maiores áreas de produção orgânicas são, respectivamente: 
1) Austrália com 12,29 milhões de ha; 
 2) China com 2,3 milhões de ha; 
 3) Argentina com 2,22 milhões de ha. 

Esses países têm como principal atividade nessas áreas orgânicas a pastagem não intensiva. Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados na comparação entre países, pois a produtividade é extremamente variável entre eles. O Brasil se encontra na oitava posição, com 880 mil ha. 

Em termos de continente, a Oceania detém 40,7% da área sob manejo orgânico, seguida da Europa com 24,3%, América Latina com 16,2%, Ásia com 10,2%, América do Norte com 7,3% e África com 1,4%. O Japão hoje é considerado um dos maiores mercados mundiais para produtos orgânicos. Devido à pequena dimensão territorial, a produção orgânica própria é pequena, principalmente se comparada à variedade e volume de produtos que importam, como cereais, legumes, frutas frescas, carne bovina, frango, queijo, entre outros. Nos Estados Unidos, os produtores orgânicos certificados produzem principalmente cereais, com destaque para soja e trigo.

O desenvolvimento da agricultura orgânica americana tem sido comparado ao da Europa, assistindo um volume de venda próximo dos U$5 bilhões anuais. Segundo dados da Organic Farming Research Fundation (Fundação de Pesquisa em Agricultura Orgânica), aproximadamente 1% do mercado americano de alimentos é proveniente de métodos orgânicos de produção. Na Europa o desenvolvimento da agricultura orgânica e do consumo de produtos sem agrotóxico cresce a passos largos. No final de 2009, na França, havia 16.446 fazendas orgânicas, um aumento de 23,7% em relação a 2008, e 677.513 hectares de terra orgânica, um aumento de 16% comparado a 2008. 

O país obteve destaque devido ao aumento significativo de algumas produções animais na linha orgânica, sobretudo o frango orgânico, que teve taxas de crescimento de 135% nos últimos dois anos. A Alemanha foi o primeiro país do mundo a criar um organismo para inspeção e controle da produção orgânica e hoje o mercado alemão de produtos orgânicos é considerado um dos mais importantes da Europa. Em 1998, foram contabilizadas cerca de 6.786 unidades de produção (1,9% de sua área total). 

COMO SABER SE É ORGÂNICO? 

Se você pretende consumir alimentos orgânicos fique atento para não ser enganado. Procure sempre pelo selo de qualidade emitido por certificadoras reconhecidas pelo Ministério da Agricultura. São entidades como a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), o Instituto Biodinâmico (IBD), entre outros. Essas entidades, ao todo cerca de 30 em todo Brasil, avaliam se a produção do alimento segue os critérios estabelecidos pela agricultura orgânica. Para ganhar o selo, os produtores seguem várias precauções e têm suas lavouras fiscalizadas a cada semestre. A presença do selo garante, portanto, a procedência e a qualidade dos produtos. 

10 MOTIVOS PARA CONSUMIR PRODUTOS ORGÂNICOS 

1) SÃO ALIMENTOS NUTRITIVOS E SABOROSOS: Com solos balanceados e fertilizados com adubos naturais, se obtém alimentos mais nutritivos. A comida fica mais saborosa, conservam-se suas propriedades naturais como vitaminas, sais minerais, carboidratos e proteínas. Um alimento orgânico não contém substâncias tóxicas e nocivas à saúde. Em solos equilibrados as plantas crescem mais saudáveis, preservam-se suas características originais como aroma, cor e sabor. Consumindo produtos orgânicos é possível apreciar o sabor natural dos alimentos. Além disso, quando se utiliza o sistema de Rochagem na adubagem o alimento fica mais rico devido a inserção de minerais ESSENCIAIS na composição do solo. Pesquisas internacionais demonstram que alimentos orgânicos apresentam, em média, 63% a mais cálcio, 73% mais ferro, 118% mais magnésio, 178% mais molibdênio, 91% mais fósforo, 125% mais potássio, 60% mais zinco que os alimentos convencionais. Possuem menor quantidade de mercúrio (29%), substancia que pode causar doenças graves (informação publicada no Journal of Applied Nutricion, 1993). No ano passado pesquisadores da London School of Hygiene & Tropical Medicine, em Londres, Inglatrra, realizaram um levantamento com 162 artigos científicos publicadas nos últimos 50 anos, que mostrou que não existe uma diferença tão grande entre o alimento orgânico e o normal. Erro na metodologia ? Interesses exclusos ? Mesmo que não tivesse superioridade nutricional, só de não conter agrotóxicos ja É SUPERIOR ! 

2) SAÚDE GARANTIDA: Vários pesticidas utilizados hoje em dia no Brasil estão proibidos em muitos países, em razão de consequências provocadas à saúde, tais como: 1) Cânceres dos mais viversos tipos 2) Alergias alimentares 3) Asma 4) Infertilidade 5) Alterações hormonais principalmente quando se trata de hormônios sexuais 6) Hiperatividade em adultos e crianças 7) Déficit de atenção 8) Doenças neurodegenerativas 9) Aumento da produção de radicais livres e diminuição da produção de antioxidantes. 10) Intoxicação por metais pesados Um relatório da Academia Americana de Ciências, de 1982, calculou em 1.400.000 o número de novos casos de câncer provocados por agrotóxicos. Além disso, os alimentos de origem animal estão contaminados pela ação dos perigosos coquetéis de antibióticos, hormônios e outros medicamentos que são aplicados na pecuária convencional, quer o animal esteja doente ou não. Consumindo orgânicos protegemos nossa saúde e a saúde de nossos familiares com a garantia adicional de não estarmos consumindo alimentos geneticamente modificados. Vale a pena ler o Post sobre a recente pesquisa da Anvisa, na qual a mesma detectou irregularidade em 29% dos alimentos analisados. 

3) PROTEÇÃO ÀS FUTURAS GERAÇÕES: As crianças são os alvos mais vulneráveis da agricultura com agrotóxicos. “Quando uma criança completa um ano de idade, já recebeu a dose máxima aceitável para uma vida inteira, de agrotóxicos que provocam câncer”, diz um relatório recente do Environmental Working Group (Grupo de Trabalho Ambiental). A agricultura orgânica, além disso mais, tem a grande tarefa de legar às futuras gerações um planeta reconstruído. 

 4) AMPARO AO PEQUENO PRODUTOR: O trabalhador rural precisa ser preservado, tanto quanto a qualidade ecológica dos alimentos. Adquirindo produtos ecológicos, contribuímos com a redução da migração de famílias para as cidades, evitando o êxodo rural e ajudando a acabar com o envenenamento por agrotóxicos sofrido por cerca de 1 milhão de agricultores no mundo inteiro. 

5) SOLOS FÉRTEIS: Uma das principais preocupações da Agricultura Orgânica é o solo. O mundo presencia a maior perda de solo fértil pela erosão em função do uso inadequado de práticas agrícolas convencionais. Com a Agricultura Orgânica é possível reverter essa situação.

6) ÁGUA PURA: Quando são utilizados agrotóxicos e grande quantidade de nitrogênio, ocorre a contaminação nas fontes de água potável. Cuidando desse recurso natural, garante-se o consumo de água pura para o futuro.

7) BIODIVERSIDADE: A perda das espécies é um dos principais problemas ambientais. A Agricultura Orgânica preserva sementes por muitos anos e impede o desaparecimento de numerosas espécies, incentivando as culturas mistas e fortalecendo o ecossistema. A Fauna permanece em equilíbrio e todos os seres convivem em harmonia, graças à não utilização de agrotóxicos. A Agricultura Orgânica respeita o equilíbrio da natureza e cria ecossistemas saudáveis.

8) REDUÇÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL E ECONOMIA DE ENERGIA: O solo tratado com substâncias químicas libera uma quantidade enorme de gás carbônico, gás metano e óxido nitroso. A agricultura e administração florestal sustentáveis podem eliminar 25% do aquecimento global. Atualmente, mais energia é consumida para produzir fertilizantes artificiais do que para plantar e colher todas as safras.

9) CUSTO SOCIAL E AMBIENTAL: O alimento orgânico não é, na realidade, mais caro que o alimento convencional se consideramos que, indiretamente, estaremos reduzindo: 1) Gastos com MÉDICOS e MEDICAMENTOS 2) CUSTOS com a recuperação ambiental.

10) CIDADANIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL: Consumindo orgânicos, estamos exercitando nosso papel social, contribuindo com a conservação e preservação do meio ambiente e apoiando causas sociais relacionadas com a proteção do trabalhador e com a eliminação da mão-de-obra infantil. 

sábado, 17 de setembro de 2022

O que não é especialidade médica de acordo com o Conselho Federal de Medicina

Quase que diariamente alguém me pergunta sobre algumas "novas" especialidades médicas, tais como antiaging, age management, modulador hormonal, medicina antienvelhecimento, medicina funcional, medicina integrativa, medicina ortomolecular. A resposta é sempre a mesma: Isso não é especialidade médica, muito menos área de atuação. 

O Conselho Federal de Medicina (CFM) não reconhece nada disso como especialidade médica e inclusive a divulgação disso como especialidade médica consiste em infração ética, podendo o médico ser punido por isso, conforme a Resolução do CFM Nº 1.974/2011: Art. 3º É vedado ao médico:

a)  Anunciar, quando não especialista, que trata de sistemas orgânicos, órgãos ou doenças específicas, por induzir a confusão com divulgação de especialidade;

l) Fica expressamente vetado o anúncio de pós-graduação realizada para a capacitação pedagógica em especialidades médicas e suas áreas de atuação, mesmo que em instituições oficiais ou por estas credenciadas, exceto quando estiver relacionado à especialidade e área de atuação registrada no Conselho de Medicina.

Para saber se o médico é ou não especialista numa área basta entrar no seguinte link e digitar o nome do médico: https://portal.cfm.org.br/busca-medicos/

Se ele não possui possui registro no conselho federal de medicina, ele NÃO é especialista. Pode ter feito mil pós-graduações mas ele NÃO é especialista.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Selênio: o que é, onde encontrar, quais suas funções

O pessoal do NUTRITOTAL está fazendo uma série sobre os micronutrientes. Está bem completa e como sou leitor assíduo do conteúdo que eles publicam semanalmente, divulgarei. Aproveito para divulgar o site, que é riquíssimo em conteúdo de excelente qualidade.

Eles possuem o:
Ambos super bem elaborados, por uma equipe altamente qualificada. Então sugiro que conheçam: https://nutritotal.com.br/




Série sobre micronutrientes: Selênio

O selênio (Se) é um micronutriente essencial para a saúde humana. Descrito pela primeira vez em 1818 pelo químico sueco Jons Jacob Berzelius, o mineral tomou notoriedade a partir de 1979, quando foi descoberta uma enfermidade decorrente da sua deficiência (a doença de Keshan). Neste artigo, você irá entender quais as funções do selênio, suas recomendações nutricionais, fontes alimentares, e muito mais.

Os “tipos” de selênio 

Em primeiro lugar, precisamos entender as formas de apresentação do selênio. Através da alimentação ou suplementação, o mineral pode ser encontrado nas suas formas orgânicas ou inorgânicas.

As formas orgânicas do selênio são aquelas provenientes da alimentação. Podem ser:

  • Selenometionina: advindas de vegetais e cereais. Apresenta uma alta taxa de absorção, pois pode ser incorporado no lugar da metionina em tecidos como músculo, eritrócitos e albumina plasmática.
  • Selenocisteína: oriunda de carnes bovina, de ave e de peixe. Essa forma está presente nas selenoproteínas, responsáveis por exercer as principais funções biológicas relacionadas a este micronutriente.
  • Seleniometilselenocisteína: forma presente em vegetais cultivados em solos enriquecidos com selênio, com participação no pool para a síntese de selenoproteínas.
Já as formas inorgânicas são aqueles provenientes de suplementos, apresentadas sob duas formas:
  • Selenito: tende a ser preferida na suplementação direta aos animais. Sua absorção não ultrapassa 60%, mas pode aumentar na presença de glutationa reduzida (GSH).
  • Selenato: é a opção usual para ser adicionada aos fertilizantes. É absorvida de forma eficiente (90%)  por um processo de difusão passiva.
O metabolismo do selênio

A absorção do selênio ocorre principalmente na parte inferior do intestino delgado por meio de diferentes rotas e mecanismos, com uma eficiência de aproximadamente 70 a 90% em condições fisiológicas normais.

Os diferentes tipos deste mineral são reduzidos a seleneto de hidrogênio (H2Se). Após sua metabolização (que acontece principalmente no fígado), os compostos orgânicos podem seguir por dois caminhos distintos:

Seguem para a circulação, onde são acumulados em diferentes locais do corpo (fígado, rins, pâncreas, músculos esqueléticos, músculo cardíaco e sangue), ligado principalmente à glutationa peroxidase;
Ou são removidos no próprio fígado pela transulfuração do selênio, sendo que o “novo” selênio será utilizado para a síntese de selenoproteínas.
Por fim, a excreção de selênio ocorre na forma de produtos metilados, principalmente pela urina e fezes, de acordo com a ingestão do mineral. O selênio também pode ser eliminado do organismo por meio da perda de cabelos e células da pele.

Quais as funções deste mineral?

Os papéis do selênio estão diretamente relacionados às funções das selenoproteínas e de produtos do metabolismo do mineral. Suas principais funções são:

  1. Participar do metabolismo da tireoide;
  2. Atuar como antioxidante;
  3. Manutenção do sistema imunológico;
  4. Função neurológica;
  5. Promover a fertilidade masculina.
Metabolismo de tireoide

As iodotironina desiodinases (DIO) são uma família de selenoproteínas que ajudam a converter o hormônio da tireóide (T4) em sua forma ativa (T3). Deste modo, juntamente com o iodo, a ingestão adequada de selênio é de grande importância para prevenir as disfunções desta glândula. Outros micronutrientes, principalmente iodo, ferro, zinco e vitamina A são necessários para o funcionamento adequado da tireoide.

Função Antioxidante

A função antioxidante do selênio se dá principalmente através das selenoproteínas Glutationa Peroxidase (GPx), encontradas em todos os tecidos onde ocorrem processos oxidativos. Basicamente, essas enzimas atuam neutralizando a ação de espécies reativas de oxigênio (EROs) utilizando uma molécula de glutationa reduzida (GSH) como co­fator. Esse processo auxilia os seguintes mecanismos:

  • Proteção do estresse oxidativo no epitélio intestinal;
  • Manutenção da homeostase da mucosa;
  • Neutralização da ação oxidativa de ácidos graxos nas membranas celulares;
  • Redução de hidroperóxidos de colesterol e ésteres de colesterol nas membranas celulares e LDL-colesterol;
  • Bloqueio da peroxidação lipídica no metabolismo dos eicosanóides;
  • Entre outros.
  • Sistema imunológico
  • Diversas evidências mostram o papel do selênio na proteção do sistema imune, tal como na modulação da resposta inflamatória. A suplementação com selenito de sódio, por exemplo, foi capaz de reduzir a expressão gênica de TNF­α e da enzima COX­2 por meio da modulação das vias da MAP quinase e do NF­κB.
A função antioxidante descrita anteriormente também atua no sistema imunológico. Algumas selenoproteínas (como GPx e TXNRD1) são responsáveis por regular a produção de EROs e do estado redox em células imunes. Deste modo, tanto a deficiência quanto a superexpressão dessas substâncias desregulam as funções dessas células, podendo provocar a morte celular ou prejudicar o mecanismo oxidativo necessário às funções fagocíticas.

Em macrófagos periféricos, a selenoproteína S (SELENOS) pode ter papel anti apoptótico e atuar na redução do estresse do retículo endoplasmático.

Por fim, o selênio também se associa à plasticidade de macrófagos durante a resposta imune ocasionada por infecções parasitárias, tuberculose e infecção pelo vírus HIV.

Função neurológica

No cérebro, selenoproteínas como SELENOP e GPx são expressas em neurônios e/ou na glia.  Nestes locais, estas substâncias também são importantes na proteção contra o estresse oxidativo, uma vez que os danos causados por EROs são observados em diversas doenças neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson, Esclerose Múltipla…).

Já foi demonstrado, por exemplo, que a expressão de SELENOP cerebral aumenta com a idade, indicando a necessidade de proteção contra o estresse oxidativo nos neurônios.

Fertilidade masculina

O selênio exerce um papel importante na fertilidade masculina por ser necessário para biossíntese de testosterona e para o desenvolvimento dos espermatozoides.

Ademais, o estresse oxidativo nas células testiculares pode afetar a integridade e a motilidade do espermatozoide. Para combater essa situação, grande parte do selênio encontrado nos testículos é incorporado na selenoproteína GPx4, que exerce seu papel antioxidante e impede a infertilidade masculina.

Além disso, a GPx4 também exerce um papel estrutural para os espermatozoides maduros. Desse modo, a deficiência de selênio pode prejudicar não só a motilidade do esperma, mas também resultar em alterações morfológicas.

Recomendações nutricionais

A recomendação para Ingestão Dietética Diária (RDA) de selênio varia com a idade e a fase da vida. Na tabela abaixo, você encontra estes valores.



Fontes de selênio

A obtenção de selênio através da alimentação irá depender do solo em que o alimento foi cultivado. Áreas mais próximas de oceanos, por exemplo, possuem solos com concentração naturalmente maior deste mineral.

As fontes alimentares de selênio podem ser advindas de produtos de origem animal ou vegetal. Enquanto os produtos de origem animal possuem a forma de selenocisteína, os produtos de origem vegetal são ricos em selenometionina. Algumas fontes alimentares de selênio são:
  • Castanha-do-Pará;
  • Peixes;
  • Ovo;
  • Farinha de trigo integral;
  • Carne bovina.

Na tabela abaixo, você encontra a quantidade de selênio a cada 100 g de alimento. 

Tabela de composição de alimentos (TACO)

Deficiência de selênio

A deficiência em selênio ocorre quando a ingestão diária desse mineral é menor ou igual a 11 µg/dia. Apesar de não ser comum, as principais causas da deficiência são:
  • Uso de terapia de nutrição parenteral;
  • Problemas gastrointestinais (como a Doença de Crohn e a Síndrome do Intestino Curto);
  • Fenilcetonúria;
  • Indivíduos com hepatopatias, principalmente em decorrência de alcoolismo,  em indivíduos que substituem refeições por bebidas alcoólicas;
  • Baixa ingestão proteica;
  • Indivíduos de áreas com solo pobre em selênio.
Em casos graves, a deficiência de selênio pode causar enfermidades. Uma delas é a Doença de Keshan,  uma cardiomiopatia que acomete, principalmente, mulheres na idade fértil e crianças entre 2 e 10 anos. É caracterizada pelo aumento cardíaco, eletrocardiograma anormal, insuficiência cardíaca congestiva e necrose multifocal do miocárdio.

Outro problema advindo da deficiência grave é a Doença de Kaschin-Beck. Trata-se de uma osteoartrite caracterizada por atrofia, degeneração e necrose do tecido cartilaginoso, que pode resultar em deformação das articulações e nanismo. Esta doença acomete principalmente crianças entre 5 e 13 anos.

Para prevenir a deficiência, alguns estudos nacionais utilizam pontos de corte adotados para a população americana, sendo que os valores normais de selênio são:

Selênio plasmático: 60 a 120 µg/L;
Selênio eritrocitário: 90 a 190 µg/L.

Toxicidade

Assim como a deficiência, a toxicidade por selênio é rara. Contudo, ela pode ocorrer com intoxicação no ambiente de trabalho, inalação de aerossóis e consumo oral de selênio inorgânico.

Os sintomas incluem:
  • Hipotensão;
  • Estresse respiratório;
  • Disfunção gastrointestinal e neurológica;
  • Síndrome respiratória aguda;
  • Infarto do miocárdio;
  • Falência renal.
Além disso, algumas evidências recentes têm observado que o excesso de selênio no sangue está associado ao aumento do risco para diabetes tipo 2, síndrome metabólica, alterações no perfil lipídico, aumento de biomarcadores inflamatórios e aumento da mortalidade.

Por isso, existe um valor máximo de ingestão de selênio para prevenir os seus efeitos adversos, definido pelo Limite Superior Tolerável de Ingestão (UL):


Referências: 
CARDOSO, Marly Augusto; SCAGLIUSI, Fernanda Baeza. Nutrição e Dietética. 2ª edição, Guanabara Koogan, 2019.
COZZOLINO, Silvia M. Franciscato. Biodisponibilidade de nutrientes. 6ª edição, Editora Manole, 2020.


quinta-feira, 7 de julho de 2022

Meio ambiente, produção agrícola e o papel dos profissionais de saúde

Todas as atividades humanas na Terra produzem algum impacto ao meio ambiente e com a alimentação não seria diferente. Desde o plantio da semente até o consumo, existe um longo caminho e uma relação intrínseca com os recursos naturais. No entanto, é possível produzir alimentos saudáveis e acessíveis de forma sustentável, desde que haja colaboração e ação dos setores público, privado e a social, além do investimento em ciência e inovação.

Com o aumento exponencial da população e as mudanças climáticas, é necessário investir em ciência e inovação para gerar soluções tecnológicas que ajudem a aumentar a produção de alimentos, enquanto preservamos o meio ambiente. Nesse contexto, por exemplo, surgiu a agricultura moderna que oferece soluções ao agricultor para otimizar a produção de cultivos e vencer seus desafios.

Como a agricultura moderna auxilia na redução dos impactos causados ao meio ambiente?

Como a agricultura moderna auxilia na redução dos impactos causados ao meio ambiente?
A biotecnologia, por exemplo, uma das técnicas empregadas na agricultura moderna, contribui para a produção alimentar necessária para atender a demanda populacional na limitada terra disponível, bem como ajuda a mitigar os efeitos do aquecimento global. Ela propicia um rápido e preciso melhoramento genético de plantas, resultando em soluções tecnológicas seguras e benéficas.

As plantas geneticamente modificadas (GM) são cruciais para aumentar a produtividade reduzindo a necessidade de expansão das áreas de cultivo e o uso de insumos agrícolas, evitando desmatamento e ainda promovendo o sequestro de carbono no solo. Além disso, as culturas GM diminuem a necessidade do uso de maquinários e, portanto, seus combustíveis, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

E qual o papel dos profissionais de saúde na preservação dos recursos ambientais?

Além do investimento em ciência e inovação, para minimizar os efeitos ao meio ambiente, precisamos da colaboração e ação de todos. Apesar das soluções agrícolas atuais permitirem uma produção alimentar mais farta e sustentável, ainda existe uma parcela significativa da população que passa fome, ao mesmo tempo em que outra parcela apresenta sobrepeso e obesidade. Garantir a segurança alimentar é um dos grandes desafios atuais.

Sendo assim, o impacto não está somente na produção de alimentos, mas também em quem consome. E é nesse sentido que os profissionais de saúde podem contribuir. O consumo alimentar desenfreado e rico em alimentos ultraprocessados provoca piora na saúde, além de prejuízos ao meio ambiente.

Por serem mais baratos e acessíveis, produtos ultraprocessados vêm ganhando lugar, substituindo o espaço que as frutas, legumes, verduras, grãos, sementes e cereais deveriam ocupar na alimentação do povo brasileiro. É por esse motivo que devemos indicar a feira: os alimentos convencionais são igualmente nutritivos aos orgânicos, porém costumam ser mais acessíveis.

Além dos benefícios a saúde, um estudo realizado no Reino Unido demonstrou que quando os indivíduos optam por dietas com variedade de frutas, verduras e legumes, seguindo a recomendação de ingestão dos órgãos de saúde do país, eles podem contribuir para a redução dos impactos ambientais. O que é compreensível, já que quando se reduz o consumo de alimentos ultraprocessados – que geralmente vêm em embalagens plásticas – reduz-se a produção de lixo não orgânico.

Então, é importante que os profissionais de saúde, em especial nutricionistas, entendam que, ao recomendarem um consumo alimentar mais equilibrado – rico em frutas, verduras e legumes e, se possível, sem o uso de ultraprocessados – os efeitos vão além do indivíduo. A orientação de hábitos alimentares mais saudáveis influencia diretamente no equilíbrio do ecossistema, contribuindo para a preservação do meio ambiente.

Referências
  1. Boettcher Paul J., Hoffmann Irene, Baumung Roswitha, Drucker Adam G., McManus Concepta, Berg Peer, Stella Alessandra, Nilsen Linn B., Moran Dominic, Naves Michel, Thompson Mary C. Genetic resources and genomics for adaptation of livestock to climate change. Frontiers in Genetics, Vol. 5, 2015
  2. Corcino, Cícero Oliveira et al. Avaliação do efeito do uso de agrotóxicos sobre a saúde de trabalhadores rurais da fruticultura irrigada. Ciência & Saúde Coletiva. v. 24, n. 8, pp. 3117-3128. https://doi.org/10.1590/1413-81232018248.14422017.
  3. Guipeng Hu, Yin Li, Chao Ye, Liming Liu, Xiulai Chen, Engineering Microorganisms for Enhanced CO2 Sequestration, Trends in Biotechnology, Volume 37, Issue 5, 2019, Pages 532-547. https://doi.org/10.1016/j.tibtech.2018.10.008.
  4. Martinelli, Suellen Secchi e Cavalli, Suzi Barletto. Alimentação saudável e sustentável: uma revisão narrativa sobre desafios e perspectivas. Ciência & Saúde Coletiva. v. 24, n. 11, pp. 4251-4262. https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.30572017.
  5. Montoya, Marco Antonio e Finamore, Eduardo Belisário. Os recursos hídricos no agronegócio brasileiro: Uma análise insumo-produto do uso, consumo, eficiência e intensidade. Revista Brasileira de Economia 74 (2021): 441-464.
  6. Ramankutty, N. et al. Trends in Global Agricultural Land Use: Implications for Environmental Health and Food Security. Annual Review of Plant Biology, (2018).
  7. Ribeiro, Helena, Jaime, Patrícia Constante e Ventura, Deisy. Alimentação e sustentabilidade. Estudos Avançados. 2017, v. 31, n. 89, pp. 185-198. https://doi.org/10.1590/s0103-40142017.31890016.
  8. Willett, Walter et. al. Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems, The Lancet, Volume 393, Issue 10170, 2019, Pages 447-492, https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31788-4.
Fonte: https://nutritotal.com.br/pro/meio-ambiente-producao-agricola-e-o-papel-dos-profissionais-de-saude/?utm_campaign=quin_nutrimail_07-07-22&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

terça-feira, 28 de junho de 2022

Qual a diferença entre ferro heme e ferro não-heme?



O ferro é um mineral essencial para a saúde humana. Sua presença é fundamental para diversos processos biológicos, como o transporte de oxigênio, a respiração celular, a síntese de DNA, a defesa imunológica, entre outras funções.

A maior parte do ferro utilizado no organismo é proveniente do sistema de reciclagem de hemácias, enquanto uma outra parcela é proveniente da dieta. Esse ferro dietético é encontrado sob duas formas principais: o ferro heme (Fe 2+ = ferroso) e o ferro não-heme (Fe 3+ = férrico). Vamos entender as principais diferenças entre eles?

1. Fontes alimentares do Ferro heme ou ferro ferroso ou ferro orgânico
O ferro heme (Fe 2+), também chamado de ferro ferroso ou orgânico, é encontrado apenas em alimentos de origem animal, como carnes, aves, e frutos do mar, a partir da hemoglobina e da mioglobina provenientes desses produtos. As carnes vermelhas são as melhores fontes desse elemento, sendo que a carne bovina possui 50% do seu teor de ferro na forma heme.

2. Absorção e biodisponibilidade
Em sua conformação estrutural, o ferro heme está inserido em um anel porfirínico, que o deixa protegido do ambiente externo. Assim, antes de sua captação pela mucosa, ele pouco interage com fatores dietéticos inibidores, e por isso sua absorção quase não é afetada pela composição da refeição.

Além disso, um fator que beneficia a biodisponibilidade do ferro heme é a sua capacidade de formar complexos solúveis com outros componentes da dieta no intestino, facilitando a sua absorção. Ainda, o baixo pH do estômago, associado a enzimas proteolíticas do estômago e intestino delgado, auxiliam o processo de liberação do Fe 2+ nos enterócitos.

Apesar da falta de consenso, é aceito que o ferro heme tenha biodisponibilidade de 15% a 35%. Em casos de deficiência, pode chegar ao valor de 40%.

3.  Fatores inibidores de absorção
O cálcio é um dos únicos fatores inibidores da absorção do ferro heme. Para diminuir essa interferência, recomenda-se evitar a ingestão de alimentos ricos em cálcio (como leite e queijos) e alimentos ricos em ferro na mesma refeição.

Além disso, quando cozidos por altas temperaturas por muito tempo, o ferro heme dos alimentos podem ser convertidos em ferro não-heme, de biodisponibilidade mais baixa.

4. Riscos de excesso
Apesar da alta biodisponibilidade do ferro heme e sua importância para o organismo, o excesso de consumo deste micronutriente deve ser evitado. Ele pode ser prejudicial aos tecidos, por catalisar a conversão de peróxidos de hidrogênio em radicais livres, que atacam membranas celulares, proteínas e DNA.

Desse modo, alguns estudos associam a ingestão de ferro heme ao risco aumentado de câncer e doenças cardiovasculares.

1. Fontes alimentares do Ferro não-heme (Fe 3+) ou ferro férrico ou ferro inorgânico
O ferro não-heme (Fe 3+), também chamado de ferro férrico ou inorgânico, é encontrado tanto em alimentos de origem vegetal, quanto em alimentos de origem animal (uma vez que os animais consomem alimentos vegetais com ferro não-heme). Alimentos fortificados também são ricos neste nutriente. Portanto,  são exemplos de fontes de ferro não-heme: cereais, grãos, frutas, legumes, farinha de trigo fortificada, carnes, aves e peixes.

2. Absorção e biodisponibilidade
Para a sua absorção intestinal, o ferro férrico (Fe 3+) deve ser oxidado a ferro ferroso (Fe 2+). Na forma de Fe 2+, o ferro é então levado pelo transportador de metal divalente 1 (DMT1). Independentemente do tipo de ferro ingerido (heme ou não heme), após a absorção o uso corporal é o mesmo. Por não se inserir em um complexo porfirínico, o ferro não-heme sofre intensa influência de fatores antinutricionais no seu processo absortivo. Assim, sua biodisponibilidade é mais baixa, variando de 2 a 20%.

3. Fatores inibidores de absorção
Como dito anteriormente, a biodisponibilidade do ferro não-heme é altamente influenciada por alguns componentes da dieta, que podem formar complexos insolúveis com o elemento ou disputar pelo mesmo receptor, reduzindo sua absorção.

Os compostos, alimentos ou fatores que reduzem a absorção do ferro não-heme são:
  • Fitatos;
  • Oxalatos;
  • Taninos e outros compostos fenólicos que se ligam ao ferro (presentes em chás, café, cacau, vinhos tintos, certos vegetais e especiarias);
  • Cálcio;
  • Zinco;
  • Cobre;
  • Proteína isolada de soja;
  • Fosfopeptídeos de caseína (proteínas presentes em ovos, leite e queijos);
  • Redução da acidez gástrica;
  • Estado inflamatório aumentado.
  • Recomenda-se que o consumo destes inibidores aconteça apenas 1 ou 2 horas após refeições ricas em ferro não-heme.
4. Fatores que melhoram a absorção
Por outro lado, existem também alguns componentes facilitadores da absorção do ferro não-heme. São eles:
  • Ácido ascórbico ou vitamina C (o uso de 75 mg aumenta a absorção de ferro de 3 a 4 vezes);
  • Aminoácidos sulfurados (encontrados na carne e feijão);
  • Ácidos orgânicos (cítrico, málico e tartárico);
  • Fruto-oligossacarídeos
  • Tratamento térmico (cocção sob pressão, aquecimento de microondas);
  • Maltagem (processo de conversão dos grãos em malte)
  • Germinação (reduz a concentração de fitatos);
  • Alimentos fermentados, como o chucrute (reduzem a concentração de fitatos e favorecem a formação de ácidos orgânicos, formando ligantes solúveis com o ferro e tornando-o mais biodisponível);
  • Baixo estoque de ferro (aumenta a absorção de 10 a 15 vezes)
  • Como visto, o ferro heme e o ferro não-heme possuem algumas diferenças pontuais, principalmente quanto às suas fontes alimentares e à biodisponibilidade. Contudo, após a absorção, o uso corporal das duas formas é similar, exercendo funções importantes do metabolismo.
Apesar disso, é necessário cautela no consumo excessivo do ferro heme, devido ao seu potencial de risco para doenças. E, para indivíduos que não consomem produtos de origem animal, deve-se ficar atento ao consumo adequado de ferro não-heme, entendendo seus inibidores e facilitadores, de modo a evitar deficiências.


Referências

CARDOSO, Marly Augusto; SCAGLIUSI, Fernanda Baeza. Nutrição e Dietética. 2ª edição, Guanabara Koogan, 2019.

COZZOLINO, Silvia M. Franciscato. Biodisponibilidade de nutrientes. 6ª edição, Editora Manole, 2020.

Harvard T.H. Chan School of Public Health. Iron. The Nutrition Source.

Slywitch, Eric. Guia de Nutrição Vegana para Adultos da União Vegetariana Internacional (IVU). Departamento de Medicina e Nutrição. 1ª edição, IVU, 2022.

Sociedade Brasileira de Pediatria. Consenso sobre Anemia Ferropriva: mais que uma doença, uma urgência médica! Rio de Janeiro (RJ): SBP, 2018.

Vitamin and mineral requirements in human nutrition: report of a joint FAO/WHO expert consultation, Bangkok, Thailand, 21–30 September 1998.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Abordagem nutricional dos transtornos psiquiátricos

Nos últimos 10 anos foi raro o dia em que não recebi paciente relatando algum sintoma psiquiátrico. No auge da pandemia escrevi um pouco sobre isso e agora, no final da pandemia, percebi que os relatos só aumentaram.

Não sei se é pela parceria que tenho com inúmeros psicólogos e psiquiatras. Se é por um mero acaso do destino, pois sempre gostei de acolher e ouvir esses pacientes (muitas vezes até fugindo do meu papel de nutrólogo e quase que desempenhando um papel de "pseudo-psicólogo"). Ou então se é porque realmente o número de transtornos psiquiátricos aumentou depois da pandemia. Acredito que seja uma confluência dos 3 fatores, o fato é que tenho atendido muitos pacientes com transtornos psiquiátricos.

Mas por que um paciente procuraria um médico nutrólogo para tratar de uma doença/queixa psiquiátrica? Simplesmente, porque há muita informação propagada erroneamente na internet. 

Abaixo, algumas das fake news mais comuns em psiquiatria nutricional:
  • "Você sabia que 90% da sua serotonina é produzida no intestino?"
  • "Você sabia que a falta de vitaminas pode levar a depressão?"
  • "A utilização de nutrientes podem reduzir a ansiedade?"
  • "Dieta low carb pode melhorar TDAH?"
  • "Dieta cetogênica pode curar convulsões e reduzir os sintomas depressivos?"
  • "A suplementação de vitaminas pode melhorar o seu sono?"
  • "Soro com vitaminas e minerais podem melhorar o seu foco, concentração, memorização?"
  • "As bactérias intestinais podem influenciar no seu humor?"
  • "Jejum intermitente pode melhorar sintomas de ansiedade/depressão/bipolaridade?"
  • "Usar melatonina pode curar a insônia?"
Ou seja, uma série de fake news estão publicadas na internet, por pessoas que provavelmente nunca estudaram psiquiatria nutricional. 

Profissionais que sequer conhecem a cascata de formação de neurotransmissores. Que mal sabem solicitar uma polissonografia para avaliar o sono. Gente totalmente despreparada e que vem cometendo iatrogenias a rodo. E o pior, fazendo isso com pessoas altamente fragilizadas, com dor emocional. 

Nisso, esses profissionais acabam vendendo soros, chips, prescrevendo páginas e mais páginas de suplementos. Ou seja, enquanto existir cavalos, São Jorge não andará a pé.

Mas afinal, a Nutrologia pode agregar alguma coisa nos transtornos psiquiátricos? Sim. Mas não é a panaceia que pintam por aí. Alias, é um efeito bem limitado. Palavra de quem estuda isso desde 2003, quando perdi meu pai para o transtorno bipolar. 

Noções básicas de Psiquiatria nutricional ou Nutropsiquiatria

Primeiramente, devo explicar pra vocês que existem várias substâncias, denominadas neurotransmissores.

Os neurotransmissores são substâncias químicas produzidas pelas células do nosso sistema nervoso central (os neurônios) e são usadas para transmitir informação entre eles. 

Os neurotransmissores são liberados por um neurônio pré-sináptico para a fenda sináptica (imagine um vale) e causam uma alteração na membrana pós-sináptica ou no neurônio pós-sináptico. Conforme consta na imagem.


Essa membrana pós-sináptica (célula receptora), pode ser um neurônio com receptores especificas para os neurotransmissores, sofrendo uma alteração de potencial (evento elétrico). Mas também pode ser uma célula muscular ou uma célula glandular. 

Define-se por neurotransmissão (ou transmissão sináptica) a conversão de um evento elétrico em num evento químico e posteriormente em evento elétrico.

A reação desencadeada pela liberação desses neurotransmissores pode excitar ou ativar o neurônio pós-sináptico, ou inibir ou bloquear sua atividade. Ou seja, o neurotransmissor pode ter uma ação Excitatória ou Inibitória. Isso que poderá gerar os sintomas psiquiátricos ou neurológicos. 

Os neurotransmissores podem se dividir em:

1) Aminas biogênicas:
  • Acetilcolina
  • Histamina
  • Monoaminas: Serotonina e Catecolaminas (Dopamina, Noreprinefrina, Epinefrina)
2) Aminoácidos com ação neurotransmissora:
  • Ácido-gama-aminobutírico (GABA)
  • Glutamato
  • Glicina
  • Taurina
3) E podemos ter também os neuropeptideos que possuem ação no sistema nervoso central e periférico:
  • Substância P
  • Vasopressina
  • Peptídeo inibidor Vasoativo
  • Endorfinas e beta-endorfinas
  • Ocitocina
  • Neurotensina
Mas há mais de 100 neurotransmissores estudados. Nesse texto vamos nos ater a alguns somente.


Os neurotransmissores também podem ser classificados de acordo com a sua função: Excitatória,  Inibitória ou Modulatória.

Neurotransmissores excitatórios: esses neurotransmissores têm efeitos excitatórios no neurônio, o que significa que aumentam a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores excitatórios incluem epinefrina e norepinefrina.

Neurotransmissores inibitórios: já esses, têm efeitos inibitórios sobre o neurônio. Eles diminuem a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores inibidores incluem a serotonina e o ácido gama-aminobutírico (GABA).

Neurotransmissores mistos: A acetilcolina e dopamina podem criar efeitos tanto excitatórios quanto inibitórios, dependendo do tipo de receptores que estão presentes.

Neurotransmissores modulatórios: Esses neurotransmissores, frequentemente denominados neuromoduladores, são capazes de afetar um número maior de neurônios ao mesmo tempo. Esses neuromoduladores também influenciam os efeitos de outros mensageiros químicos. 

E onde entra a Nutrologia ?

Já dizia Lavoisier, "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, Essa é a lei da conservação das massas. Um neurotransmissor até ser formado, começou com um aminoácido. Mas até virar o neurotransmissor, ele sofreu reações enzimáticas (co-fatores = vitaminas, minerais). Depoís de uma série de reações, eis que surge um neurotransmissor. Ou seja, para chegar a ser um neurotransmissor, ele precisou de algumas substâncias interferindo na estrutura química do aminoácido. Quem catalisou essas reações ? Nutrientes. Aqui entra na Nutrologia. 

Aminoácidos são compostos orgânicos, formados por um carbono, um grupo carboxila, um grupo amino (por isso AMINO-acido) e por um radical. Quando se junta vários aminoácidos eles forma proteínas. 

Mas por que voltar no segundo grau? Simplesmente, porque esses aminoácidos é que darão origem aos 4 principais neurotransmissores. A imagem abaixo exemplifica isso. Ou seja:
  • Serotonina se forma a partir do aminoácido triptofano
  • Dopamina se forma a partir do aminoácido tirosina, que por sua vez se forma da Fenilalanina
  • Noradrenalina também se forma do aminoácido tirosina
  • Gaba se forma através da junção de 3 aminoácidos: ácido glutâmico, taurina e glicina. 


Ou seja, pela lógica, se eu consumo mais aminoácido precursor de serotonina, eu formarei mais serotonina? Não necessariamente. Essa é uma das fake news propagandas por aí. O corpo se autorregula. Para esse triptofano entrar no cérebro ele precisa atravessar uma barreira chamado Hematoencefálica. Pra complicar, ele sofre competição com outros aminoácidos, como por exemplo os BCAAs, Fenilalanina, Tirosina. E pra complicar ainda mais, ele só virará serotonina após uma série de reações enzimáticas, que são dependentes de bons níveis de vitaminas, minerais. E quais seriam essas fontes de triptofano? A tabela abaixo é de um artigo que aborda justamente o L -Triptofano: Funções Metabólicas Básicas, Pesquisa Comportamental e Indicações Terapêuticas ( https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2908021/)


Importante salientar que apesar do teor de triptofano no alimento ser importante, também é importante conhecer o teor dos outros aminoácidos que competirão com o triptofano para atravessar a barreira. Então existe um índice que mostra a real biodisponibilidade desse triptofano. A necessidade diária de ingestão de triptofano é de 3,5 a 6,0 mg/kd de peso. 


E como ocorre a conversão até chegar em serotonina? Primeiro tem a conversão do triptofano em 5-hidroxitriptofano. O 5-hidroxitriptofano (5-HTP) é, em seguida, descarboxilado em serotonina. 

A quantidade de triptofano no sangue influencia a síntese de serotonina? Sim, há uma relação entre maior ingestão de triptofano aumentando a concentração de serotonina cerebral. 

No entanto, esta serotonina se manterá reservada em vesículas no neurônio pré-sináptico e somente serão liberadas na fenda sináptica para o processo de ativação neuronal pós-sináptico no 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐜𝐞𝐫𝐭𝐨. 

Elevação da síntese de serotonina não significa aumento da ativação das vias neuronais serotoninérgicas.  Esta modulação não é realizada pela concentração de triptofano ou serotonina. 

Sendo assim, aumentar produção de serotonina, pelo aumento da ingestão de triptofano, não levará a um aumento da função neuronal de vias de serotonina imediatamente. 

Se todo alimento que possui triptofano promovesse bem-estar, ocorreria de maneira independente do paladar ou escolha individual. O bem-estar é aqui emocionalmente determinado na relação com a comida e não pelo triptofano.
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É importante lembrar que deficiência de serotonina cerebral só existirá em quadros de desnutrição severa ou lesões neurológicas específicas. 

A disfunção serotoninérgica da depressão ou outros transtornos psiquiátricos (assim como de outros neurotransmissores) não se correlacionam com deficiência na produção de serotonina e sim uma disfunção das vias de transmissão neurônio à neurônio (fenda sináptica), na despolarização da membrana neuronal, na disponibilidade de receptores, entre outros. 

Difícil de compreender? Sim, é complexo. 

Entenderam agora a fake news da serotonina intestinal ? De que adianta serotonina no intestino se ela não consegue atravessar essa barreira? 

Entenderam também a fake news "come banana, é rica em triptofano e forma mais serotonina", ou "coma aveia, é rica em serotonina". 1 banana média fornece só 11mg de Triptofano e nenhum alimento possui serotonina. Aveia tem triptofano? Sim,  1 xícara fornece 147mg, mas não é serotonina. 

Então, o senhorzinho que está com rebaixamento do humor, triste, com oscilação do humor, assiste um videozinho no YouTube que fala sobre "os efeitos transformadores dos nutrientes na depressão" e resolve marcar com o Nutrólogo. 

O que tem de real nisso tudo ?

A serotonina é uma monoamina que  desempenha um papel importante na regulação e modulação do humor, sono, ansiedade, sexualidade e apetite.

Seu déficit pode levar a aumento da ansiedade, aumento do apetite e até exacerbação da libido (ou o oposto).

A classe de medicamentos denominada "inibidores seletivos da recaptação da serotonina ou ISRSs" são um tipo de medicação antidepressiva comumente prescrita para tratar depressão, ansiedade, transtorno do pânico e ataques de pânico. Eles agem tentando equilibrar os níveis de serotonina, bloqueando a recaptação de serotonina no cérebro, o que pode ajudar a melhorar o humor e reduzir sentimentos de ansiedade.

Muitas vezes um dos efeitos colaterais dessas medicações é a redução do apetite e também da libido. Justamente por interferência em outros dois neurotransmissores: a Dopamina e a Noradrenalina.

Pra formar serotonina precisa do aminoácido triptofano? Sim. Mas quantidades mínimas já conseguem suprir isso. E não adianta dosar serotonina no sangue. Serotonina no sangue ou no intestino provavelmente não influenciará na serotonina cerebral, mais precisamente a serotonina na fenda pós-sináptica. Ingestão habitual de carnes, oleaginosas, lácteos, leguminosas já consegue fornecer a necessidade diária de triptofano. E não é você tomando L-triptofano que essa serotonina subirá. E graças a Deus que não é assim. Imagina: come e faz "pico de serotonina". Que loucura seria o mundo. 

Vitaminas podem influenciar nessa produção de serotonina? Sim. Em especial a vitamina B12, o ácido fólico e vitamina B6. As 3 são co-fatores e entram na cascata de produção de serotonina. Ou seja, a deficiência dessas vitaminas podem levar a menor produção de serotonina? Sim, principalmente a B12 e o ácido fólico. Por isso na atualidade vemos tantos psiquiatras e neurologistas dosando a vitamina B12. 

Minerais também podem influenciar? Sim. Magnésio e ferro podem também interferir na produção de serotonina. 

Então vamos lá, se eu tomar  L-triptofano, B6, B12, ácido fólico, magnésio, ferro formarei mais serotonina e com isso reduzir os sintomas depressivos? Não necessariamente. As coisas não são tão simples e matemáticas como se parece. Os transtornos psiquiátricos são multifatoriais, complexos. 

Há envolvimento de fatores genéticos (polimorfismos genéticos que interferem na fenda sináptica, no neurônio pós-sináptico, na recaptação dessa serotonina e até mesmo na formação das formas ativas de ácido fólico (metilfolato), B12 (metilcobalamina), B6 (piridoxal-5-fosfato)). 

Há influência de outros neurotransmissores sobre a serotonina.

Doenças de base podem interferir na produção de neurotransmissores, assim como uso de substâncias, drogas, álcool, privação de sono, sedentarismo.

Entenderam a complexidade?

E é importante salientar que nem todo quadro de ansiedade envolve comente serotonina, as vezes pode ter outro neurotransmissor deficiente. E o profissional mais habilitado para investigar isso não é o Nutrólogo e sim o Psiquiatra. Se você apresenta sintomas de déficit de serotonina: procure um psiquiatra e posteriormente um psicólogo. Pode procurar o nutrólogo? Só depois que for nesses dois. Eu não atendo pacientes com sintomas psiquiátricos que não estejam em acompanhamento com psiquiatra e com psicólogo. 

Mas e os outros neurotransmissores?

GABA: o ácido gama-aminobutírico (GABA) age como o principal mensageiro químico inibidor do corpo. O GABA contribui para a visão, controle motor e desempenha um papel na regulação da ansiedade. 

Os benzodiazepínicos, usados ​​para ajudar no tratamento da ansiedade, funcionam aumentando a eficiência dos neurotransmissores GABA, o que pode aumentar a sensação de relaxamento e calma. Assim como o anticonvulsivamente topiramato e o fitoterápico Passiflora incarnata. 

O glutamato é o neurotransmissor mais abundante encontrado no sistema nervoso, onde desempenha um papel em funções cognitivas, como memória e aprendizagem. Quantidades excessivas de glutamato podem causar excitotoxicidade resultando em morte celular. Essa excitotoxicidade causada pelo acúmulo de glutamato está associada a algumas doenças e lesões cerebrais, incluindo a doença de Alzheimer, derrame cerebral e convulsões epilépticas. O Magnésio pode reduzir a excitação neuronal e por isso tem se pesquisado cada vez mais sobre sua ação em algumas doenças neurológicas e psiquiátricas. 

Então vamos tratar ansiedade com magnésio? Não. Essa é mais uma fake news. 

Temos ainda as monoaminas catecolaminas, que são uma classe de neurotransmissores e que engloba: Dopamina, noradrenalina e adrenalina

A dopamina desempenha um papel importante na coordenação dos movimentos do corpo. Talvez os seus efeitos mais estudados na atualidade são por estar relacionados ao sistema de recompensa, motivação e acréscimos. 

Vários tipos de drogas viciantes aumentam os níveis de dopamina no cérebro, redes sociais também. A doença de Parkinson, que é uma doença degenerativa que resulta em tremores e prejuízos no movimento motor, é causada pela perda de neurônios geradores de dopamina no cérebro.

A epinefrina é considerada tanto um hormônio quanto um neurotransmissor. Geralmente, a epinefrina (adrenalina) é um hormônio do estresse que é liberado pela glândula adrenal. No entanto, funciona como um neurotransmissor no cérebro.

A noradrenalina é um neurotransmissor que desempenha um papel importante no estado de alerta que está envolvido na resposta de luta ou fuga do corpo. Seu papel é ajudar a mobilizar o corpo e o cérebro para agir em momentos de perigo ou estresse. Níveis deste neurotransmissor são tipicamente mais baixos durante o sono e mais altos durante períodos de estresse.

Como citei acima, todos esses neurotransmissores são oriundos de algum aminoácido e possuem vitaminas e minerais como co-fatores para a sua produção. talvez por isso as pessoas estejam buscando o consultório de Nutrólogos. Porém, é errado afirmarmos que a suplementação de nutrientes, de forma isolada irá tratar sintomas psiquiátricos. 

O tratamento é multidisciplinar e engloba acompanhamento com:
  • Psiquiatra
  • Psicólogo
  • Mudança do estilo de vida. 
O slide abaixo faz parte da explicação que dou para os pacientes que procuram o meu consultório devido esses sintomas.





Ao longo desses quase 13 anos de consultório, o que vejo dando resultado no tratamento dessas patologias é justamente a transdisciplinaridade e principalmente mudanças no estilo de vida. Portanto, não pense que o Nutrólogo irá curar a sua depressão ou sua ansiedade. Vá consciente das limitações da especialidade. 

E os probióticos para transtornos psiquiátricos?

Uma dúvida muito comum é sobre o real papel dos probióticos para os transtornos psiquiátricos, os chamados Psicobióticos.

Na última década, alguns trabalhos tem mostrado que pode existir uma diferença na microbiota de indivíduos saudáveis e dos pacientes portadores de depressão, transtornos de ansiedade de generalizada. Daí surgem extrapolações que a suplementação com probióticos, ou psicobióticos como alguns preferem denominar, pode ser benéfica na Psiquiatria nutricional.

Apesar de alguns estudos pequenos evidenciando melhora de sintomas ansiosos em pacientes que utilizaram algumas cepas específicas (Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175), ainda não temos evidências robustas para a prescriçãoMuitas pesquisas sobre os psicobióticos são baseadas em modelos de roedores, que usam induções de estresse e testes comportamentais para avaliar motivação, ansiedade e depressão.

Os estudos até o momento tentaram intervenções diferentes (baixa comparabilidade) e as meta-análises agrupam as diferentes cepas como se tivesse um mecanismo de ação único (o que não tem, já que cada cepa tem as suas particularidades). 

Até o presente momento há 10 meta-análises sobre o tema e apenas 4 mostraram resultados promissores com a intervenção nos pacientes com sintomas depressivos.

Em contrapartida alguns trabalhos sugerem que muitos transtornos mentais graves e a própria Síndrome do Intestino irritável sejam caracterizados por um excesso de abundância de lactobacillus

Na minha opinião, as pesquisas estão engatinhando e o eixo cérebro-intestino é uma área promissora no mundo da Psiquiatria nutricional, porém, mais ensaios clínicos randomizados duplo-cegos controlados por placebo são necessárias para determinar a eficácia no alívio dos sintomas psiquiátricos, bem como a duração ideal do tratamento, dosagem e cepa probiótica para alcançar efeitos positivos nas doenças psiquiátricas.

Sendo assim, até o presente momento, o uso de probióticos não encontra respaldo na literatura, como parte do tratamento de depressão/ansiedade/esquizofrenia e a melhor forma de se "modular' a micorbiota intestinal na população com doenças psiquiátricas é através do estímulo  de:
1) Adoção de uma alimentação rica em fibras prebióticas e com o mínimo de alimentos ultraprocessados ou que tenham impacto negativo na microbiota, isso inclui evitar corantes, edulcorantes, acidulantes. Redução da ingestão de gorduras saturadas, já que alguns trabalhos mostram impacto negativo da variabilidade das cepas. Nos pacientes com intolerância a FODMAPS, iniciar uma dieta low fodmap.
2) Pática regular de atividade física
3) Sono de qualidade e com pelo menos 7 horas de duração. 
4) Menor exposição a disruptores endócrinos, agrotóxicos e substâncias com potencial ação deletéria sobre a nossa microbiota. 
5) Manejo do estresse, já que existe uma relação entre maiores níveis de estresse e alteração na microbiota intestinal. 
6) Manutenção de bons níveis de Vitaminas e minerais, proteínas, carboidratos e lipídios.


Para quem deseja ler mais sobre o assunto, acesse outros textos aqui postados sobre saúde mental:




Bibliografia: 






Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo Goiânia / Joinville
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915
CRM-SC 32.949 | RQE 22.416