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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Insônia pode complicar diabetes

Para diabéticos, a má qualidade do sono pode trazer complicações para a doença e dificultar o tratamento. Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Northwestern e na Universidade de Chicago (ambas nos EUA) associou medições de glicose e qualidade de sono em diabéticos e não diabéticos, e concluiu que até mesmo a resistência da pessoa à insulina pode ser afetada por problemas de sono.

A má qualidade de sono é um problema que geralmente acompanha a diabetes e existem pesquisas que propõe que ela seja também um dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença. Em pessoas que sofrem de diabetes 2, problemas como apneia e distúrbios do sono são mais comuns.

“Pior qualidade de sono em pessoas com diabetes foi associada ao pior controle dos seus níveis de glicose no sangue. Pessoas que têm problemas para controlar seus níveis sanguíneos de glicose têm mais riscos de terem complicações. Eles têm uma qualidade de vida reduzida. E, eles têm a expectativa de vida reduzia”, alerta a autora da pesquisa, Kristen Knutson.

Para a pesquisa, cientistas acompanharam 40 diabéticos durante seis noites. Antes do experimento, os participantes que roncavam, tinham insônia ou sofriam outros problemas para dormir reportaram suas dificuldades. Amostras de sangue foram recolhidas para a medição de níveis de insulina e glicose, e os voluntários usaram monitores no pulso para medição de movimentos durante a noite.

O experimento mostrou que os diabéticos que dormiam mal tinham níveis 23% mais altos de glicose no sangue de manhã e níveis de insulina 48% mais altos. Combinando esses números, os cientistas estimaram que diabéticos que têm problemas para dormir têm a resistência à insulina 82% mais alta do que diabéticos que dormem bem.

Para Kutson, o próximo passo para a sua pesquisa é analisar como o tratamento de problemas do sono podem ajudar no tratamento da doença. “Para alguém que já tem diabetes, adicionar um tratamento de sono, seja ele para tratar apneia ou insônia, pode ser uma ajuda adicional para eles controlarem sua doença”, ela completa.

A pesquisa foi publicada na edição de junho do periódico Diabetes Care

Fonte: http://boasaude.uol.com.br/news/index.cfm?news_id=9110&mode=browse

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Uma noite sem dormir pode alterar os genes do relógio biológico nos tecidos

Investigadores suecos da Universidade de Upsala e do Instituto Karolinska descobriram que os genes que controlam os relógios biológicos nas células de todo o organismo são alterados depois de perder uma só noite de sono. Os resultados de seu estudo serão publicados no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism.

"Pesquisas prévias demonstraram que nosso metabolismo é afetado negativamente pela perda de sono e esta foi associada a um incremento no risco de obesidade e diabetes de tipo 2. Dado que a ablação dos genes do relógio nos animais pode causar estes estados patológicos, nossos resultados atuais indicam que as mudanças em nossos genes do relógio podem estar associados a esses efeitos negativos causados pela perda de sono", diz Jonathan Cedernaes, autor principal no estudo e investigador na Universidade de Upsala.

Para o estudo, os investigadores analisaram a 15 homens saudáveis de peso normal que em duas ocasiões separadas foram ao laboratório para permanecer quase duas noites. Durante a segunda noite, os participantes dormiram em forma habitual (mais de oito horas) em uma das duas sessões, enquanto que se mantiveram acordados na outra dessas sessões, mas em ordem aleatória. Para minimizar a influência de diversos fatores ambientais, controlaram-se rigorosamente as condições de luz, a ingestão de alimentos e os graus de atividade no laboratório e os participantes foram limitados à cama quando se mantiveram acordados.

Depois da segunda noite nas duas ocasiões em que os homens foram estudados, obtiveram-se pequenas amostras de tecido adiposo superficial no ventre e de músculo da coxa, duas classes de tecido que são importantes para regular o metabolismo e controlar as concentrações de açúcar em sangue. Do mesmo modo, obtiveram-se amostras de sangue antes e depois que os participantes tinham consumido uma solução de açúcar para avaliar sua sensibilidade à insulina, um procedimento que no geral é realizado para descartar a apresentação de diabetes ou um estado metabólico chamado alteração da sensibilidade à insulina, que pode preceder ao diabetes tipo 2.

As análises moleculares das amostras de tecido obtidas demonstraram que a regulação e a atividade dos genes do relógio eram alteradas depois de uma noite de perda de sono. A atividade dos genes é regulada por um mecanismo chamado epigenético. Isto implica alterações químicas na molécula do DNA como os grupos metilo -um processo chamado metilação- que regula a forma em que os genes são ativados ou inativados. Os investigadores descobriram que os genes do relógio tinham um número crescente de tais marcas de DNA depois da perda de sono. Também observaram que estava alterada a expressão dos genes, que é indicativa de quanto produto de genes é elaborado.

"Até onde sabemos, somos os primeiros em demonstrar diretamente que as mudanças epigenéticos podem ocorrer depois da perda de sono em seres humanos, mas também nestes tecidos importantes", diz o Dr. Cedernaes. "É interessante que a metilação destes genes poderia alterar-se com essa rapidez, e que poderia ocorrer para estes genes do relógio biológico metabolicamente importante", continua.
As mudanças que os investigadores observaram foram, não obstante, diferentes no tecido adiposo e no músculo esquelético. "Isto poderia assinalar que estes relógios moleculares importantes já não estão sincronizados entre esses dois tecidos", diz o Dr. Cedernaes. "O 'assincronismo de relógio' entre os tecidos por si só foi associado a alterações metabólicas, por isso isto poderia indicar que estas mudanças específicas de tecidos estavam associadas a alterações da tolerância ao glicose que nossos participantes mostraram depois da noite que se mantiveram acordados".

Os investigadores nesta etapa não sabem o quão persistentes são estas mudanças. "Poderia ser que estas mudanças se restabelecessem depois de uma ou várias noites de sono satisfatório. Por outra parte, as marcas epigenéticas parecem poder funcionar como uma espécie de memória metabólica e se observou que são alteradas, por exemplo, em trabalhadores por turnos e pessoas que padecem diabetes tipo 2", afirma o Dr. Cedernaes. "Isto poderia significar que pelo menos alguns tipos de perda de sono ou de vigília estendida, como no trabalho por turnos noturnos, poderiam levar a mudanças no genoma dos tecidos que pode afetar o metabolismo por períodos mais prolongados", terminou dizendo o Dr. Cedernaes.

Referências: Jonathan Cedernaes et al, Acute sleep loss induces tissue-specific epigenetic and transcriptional alterations to circadian clock genes in men. JCEM. DOI:10.1210/JC.2015-2284

Fonte: http://www.medicalnewstoday.com/releases/297117.php

terça-feira, 31 de março de 2015

Cochilo reverte problemas de saúde causados por poucas horas de sono


"Nada como uma noite bem dormida!". Essa frase popular reflete a necessidade fundamental do sono para nós seres humanos. O sono tem um papel central para a homeostase dos animais superiores.

A necessidade de dormir segue intocada no processo evolutivo. O homem não escapa a essa regra. Adormecer traz benefícios para muitas funções orgânicas, especialmente para o cérebro. Nossa massa cinzenta precisa de uma preparação para cada novo dia, que é feita durante o sono, em particular no sono REM (de "rapid eyes movements") quando temos sonhos vívidos. Nesse momento elaboramos os acontecimentos e vivências do dia anterior, manifestamos desejos e emoções, organizamos as informações e consolidamos a memória. Assim ao voltarmos para o estado de vigilia, o cérebro pode funcionar em sua plenitude.

Quando não dormimos direito, fica uma sensação de cabeça pesada e raciocínio lento, por falta desse preparo. Se a falta de sono é mais severa, ou seja, comprometeu muitas noites seguidas, sua conseqüências vão ser maiores. Ela vai afetar o humor, a concentração, a memória e pode até prejudicar a cognição e o julgamento da realidade.

Um novo estudo publicado no Jornal Endocrine Society’s Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (JCEM) afirma que um breve cochilo pode ajudar a aliviar o estresse e fortalecer o sistema imunológico das pessoas que dormiram apenas duas horas na noite anterior.

A falta de sono é reconhecida como um problema de saúde pública. Sono insuficiente pode contribuir para a redução da produtividade, além desenvolver doenças crônicas como obesidade, diabetes, pressão alta e depressão.

Segundo o National Health Interview Survey, quase três em cada 10 adultos relatam que dormem uma média de seis horas ou menos por noite.

Artigo na íntegra: http://www.endocrine.org/news-room/current-press-releases/napping-reverses-health-effects-of-poor-sleep

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Cronobiologia e o horário de verão


  1. Acordar cedo para correr.
  2. Em seguida, ir ao dentista.
  3. Às 14h, participar de uma reunião de trabalho.
  4. À noite, aula na faculdade.
  5. E uma consulta ao relógio à espera do último compromisso do dia.
  6. Um encontro com os amigos para tomar uma cervejinha. 



Agora imagine outro relógio, destinado a marcar outro ritmo: o do seu corpo. Nessa agenda interna, as coisas mudam.
  1. Quer correr? Então calce os tênis no início da noite, quando a força física aumenta e a suscetibilidade à exaustão é menor.
  2. Dentista de manhã? Só por masoquismo: à tarde, a sensibilidade à dor será menor e, caso seja necessário usar anestesia, ela terá efeito três vezes mais duradouro.
  3. Talvez seja bom rever o horário da reunião: por volta das 14h, o corpo pede sono, e ficamos mais letárgicos.
  4. Quanto ao curso, uma dica: de manhã a capacidade cognitiva aumenta e facilita a aprendizagem.
  5. Nem a tal cerveja escapa: o fígado metaboliza melhor o álcool entre as 17h e as 18h.

Nenhuma dessas recomendações são fruto de algum livro de auto-ajuda ou de gurus. São baseadas nas descobertas da Cronobiologia, um ramo da ciência que estuda os ritmos biológicos, sua interação com o ambiente e como o ser humano - ao conhecê-los e respeitá-los - pode aproveitá-los para melhorar o desempenho na vida pessoal, social e profissional.

Será então que somos programados e temos um relógico biológico?

Sim, temos um relógio biológico e ele se localiza no hipotálamo. Consiste numa estrutura denominada Núcleo supraquiasmático. Esta pequena estrutura cerebral dita o ritmo dos processos fisiológicos e comportamentais. A duração de cada ciclo é circa-diana (ou seja, cerca de um dia).


O núcleo supraquiasmático precisa de receber informação das células ganglionares da retina para "acertar o relógio" às 24 horas. Sendo assim, o sincronizador mais potente do nosso "relógio biológico" é, sem dúvida, a luz solar. Pode parecer incrível, mas só a partir dos anos 90 é que os cientistas - na verdade, os pioneiros da cronobiologia - obtiveram mais detalhes sobre o relógio biológico, ativação do núcleo supra-quiasmático e coordenação de vários eventos orgânicos.

Ao longo dos milênios, a evolução deste mecanismo foi fundamental para a adaptação do organismo ao movimento de rotação da Terra, permitindo organizar temporalmente as tarefas biológicas em função das necessidades. O núcleo supraquiasmático integra a informação ambiente e comunica, por via neuronal ou hormonal, com os tecidos periféricos ritmando e sincronizando a sua função.

Os achados sobre ele, nos mostra o tão complexo é o nosso corpo, uma série de engrenagens que se comunicam.  Como já citado acima, a luz solar é  o principal ativador de todo o mecanismo, ou seja, os ponteiros do corpo são acionados pela luz. A luz incide sobre a retina aí o núcleo supra-quiasmático desencadeira uma série de respostas que vão coordenar uma cascata de reações bioquímicas que pautarão todas as funções de órgãos e sistemas.

É esse relógio, por exemplo, que determina quando um hormônio deve subir em concentração no sangue ou quando deve diminuí-lo a níveis muito baixos. E faz isso regido por uma lógica própria e bastante inteligente, voltada para a adequação da função a ser desempenhada de acordo com a parte do dia ou da noite.

Um exemplo claro dessa perfeição é o que ocorre logo após o almoço. Guiado pelo relógio biológico, o corpo diminui a produção de hormônios responsáveis pelo estado de alerta para centrar esforços na fabricação de hormônios importantes para o processo da digestão. "Essa é uma das razões da sonolência típica do período", explica o neurocientista John Fontenele Araújo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e um dos principais estudiosos brasileiros de cronobiologia. Ao mesmo tempo, também sob a batuta do tal relógio, o corpo baixa sua temperatura e envia mais sangue para o sistema digestivo, fechando um pacote que aumenta o sono, mas em compensação mobiliza o organismo para o que, naquele momento, é o mais importante.

Até pouco tempo atrás, o estudo da Cronobiologia era restrito aos laboratórios das instituições de pesquisa. Essa nova ciência começa agora a ganhar espaço entre a população com a publicação de livros a respeito do assunto. O mais recente é o Sex sleep eat drink dream, a day in the life of your body (Sexo dormir comer beber sonhar, um dia na vida do seu corpo), de Jennifer Ackerman. Nele, a escritora científica faz uma compilação de vários estudos da área. Lançado no ano passado nos Estados Unidos, o livro está entre os mais vendidos

O grande segredo do sucesso que o assunto faz entre os leigos é justamente o fato de a cronobiologia estar decifrando para o homem um mecanismo que lhe é inato, importantíssimo para o bom funcionamento do corpo e da mente, mas que até então era pouco conhecido.

A cronobiologia tem contribuído para o estudo do desenvolvimento psicomotor, na relação entre a ritmicidade circadiana e a função cognitiva, nas desordens do humor, nas alterações do ciclo sono-vigilia, sendo um dos motivos da insônia, e estudos comportamentais em trabalhadores noturnos ou em turnos alternantes.

A cronobiologia em sido vista em várias linhas de estudo:

  1. Área molecular – identificação dos mecanismos moleculares e dos vários genes que contribuem para o controle da expressão da ritmicidade circadiana.
  2. Área da fisiologia – identificação dos principais mecanismos biológicos influenciados pela luz.
  3. Área da psicologia – identificação da importância da ritmicidade biológica nas funções cognitivas (aprendizagem e memória).
  4. Área da medicina – na caracterização, tanto no diagnóstico quanto no tratamento de distúrbios da ritmicidade e as doenças relacionadas.
  5. Área da saúde pública – identificação da influência e conseqüências do trabalho noturno ou em turnos alternantes.
As duas principais frentes de aplicação clínica da Cronobiologia são:
  1. Cronopatologia: Estuda o efeito do ciclo circadiano na saúde e sua relação com as doenças. Exemplos: Têm-se os menores níveis tensionais às 3:00 hs da madrugada e máxima divisão celular das células da epiderme à meia-noite; a asma é pior às 4:00 h da madrugada, enquanto as doenças cerebrais e cardiovasculares têm predomínio pela manhã.
  2. Cronofarmacologia: Estuda a variabilidade circadiana da eficácia e toxicidade dos diversos tratamentos farmacológicos. Exemplo: A melhor eficácia de um fármaco (diltiazem) se dá quando administrado a noite, e o máximo efeito anticoagulante entre 4:00 e 8:00 hs da manhã. Ou o Acido acetilsalicílico (AAS) sendo tomado a noite pra fazer efeito de manhã, quando a ocorrência de infartos é maior.
Devido essas várias constatações e aplicações na prática clínica, os conceitos da cronobiologia têm despertado muito interesse nos pesquisadores. Afinal, são informações úteis para definir ações nas mais variadas áreas da vida humana. Desde recomendar a melhor parte do dia para fazer um exercício de alta performance até qual o horário ideal para tomar um medicamento.

Na Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, por exemplo, funciona um grupo coordenado pelo Dr. Jim Waterhouse, um dos grandes pesquisadores da área. Neste centro, os cientistas já chegaram a conclusões interessantes, algumas relacionadas ao tempo do corpo e o exercício físico. "O melhor horário para ganhar condicionamento e aumentar a resistência é no fim da tarde e início da noite. Neste período, o alerta e a motivação estão em alta", segundo o Dr.Waterhouse.

A pesquisadora Leana Araújo, do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício Físico da Unifesp, com quem o Dr.Waterhouse desenvolve um trabalho em comum, adiciona outra explicação para a escolha do momento para os exercícios pesados. "No final da tarde, a percepção corporal está mais aguçada, o que eleva a rapidez nas reações de proteção para não sofrer lesões", diz Leana.

Outra área que vem se valendo dos dados da nova ciência é a produção e administração de medicamentos (Cronofarmacologia, como já citado acima). "Muitas bulas, lidas com atenção, já preconizam horários adequados para o consumo de remédios", afirma o cientista Luiz Menna-Barreto, um dos primeiros do Brasil a estudar os ritmos do corpo.

Existe uma droga contra hipertensão, por exemplo, que deve ser ingerida à noite, antes de dormir. Ela foi desenvolvida para apresentar seu pico de ação no começo da manhã, horário em que ocorre boa parte dos infartos. Na França, esse tipo de informação está sendo levado tão a sério que alguns hospitais começam a aplicar remédios em horários específicos para que tenham melhor efeito. Por lá, as pesquisas básicas também estão bastante avançadas. Um dos cientistas mais destacados é Francis Levi, da Unidade de Cronoterapia do Serviço de Cancerologia do Hospital Paul Brousse, da Universidade de Paris. Ele estuda meios de usar a cronobiologia para a criação de novos medicamentos e a melhor utilização dos já existentes. Ele e sua equipe têm comprovado que os diferentes ritmos do organismo ao longo do dia podem influir na eficácia, toxicidade e tolerabilidade das drogas.

Estudos em ratos mencionados por Levi num dos artigos científicos, mostraram que a mesma dose de um fármaco pode ser letal se administrada em certos momentos do dia ou da noite, mas tem pouco efeito adverso quando dada em outro horário. No ser humano, segundo Levi, a conciliação entre o momento da administração e os tempos dos ritmos gerais e relógios moleculares de cada órgão - estes regidos por genes chamados de clock genes - pode se traduzir em resultados clinicamente relevantes.

No Brasil, também existem estudos sobre o tema em andamento. O fisiologista Mário Miguel, do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento de Ritmos Biológicos da Universidade de São Paulo, estudou a variação ao longo do dia do efeito da ciclofosfamida - droga que reduz a atividade do sistema de defesa para não haver rejeições de órgãos. "Perto do meio-dia seu efeito é maior e mais positivo", conta o pesquisador.

Porém, como qualquer coisa que diz respeito ao ser humano, é claro que há variações individuais nos horários de cada relógio biológico. Embora cerca de 80% da população siga praticamente em um mesmo ritmo, há aqueles que têm seu potencial concentrado na manhã, na tarde ou na noite. São os chamados Cronotipos: matutinos ou vespertinos. Para esses indivíduos, ser obrigado a trabalhar ou realizar alguma atividade importante no período em que seu corpo está com o desempenho baixo representa um sacrifício.

Um teste simplificado para saber qual o seu cronotipo consiste em responder a um questionário que tenho aplicado nos meus pacientes e que quase sempre é compatível. O questionário foi elaborado pelos doutores Horne e Osterberg e publicado no Jornal internacional de Cronobiologia em 1976.  A pontuação está descrita ao final de cada pergunta, portando anote a sua pontuação e ao final some.

1 - Até que ponto vc depende do despertador para acordar de manhã:
1 - muito dependente ( )1
2 - razoavelmente dependente ( )2
3 - um pouco dependente ( )3
4 - nada dependente ( )4

2 - Você acha fácil acordar pela manhã?
1 - Nada ( )1
2 - Não muito ( )2
3 - Razoavelmente ( )3
4 - Muito ( )4

3 - Você se sente alerta durante a primeira meia hora depois de acordar?
1 - Nada ( )1
2 - Não muito ( )2
3 - Razoavelmente ( )3
4 - Muito ( )4

4 - Como é o seu apetite durante a primeira hora depois de acordar?
1 - Péssimo ( )1
2 - Ruim ( )2
3 - Razoável ( )3
4 - Muito bom ( )4

5 - Durante a primeira meia hora depois de acordar você se sente cansado?
1 - Muito ( )1
2 - Não muito ( )2
3 - Razoavelmente em forma ( )3
4 - Em plena forma, bem enérgica ( )4

6 - A que horas você gostaria de ir se deitar, caso NÃO tivesse compromisso na manhã seguinte?
1 - Mais de duas horas mais tarde que o normal ( )1
2 - Entre uma e duas horas mais tarde do que o habitual ( )2
3 - Menos que uma hora mais tarde que o habitual ( )3
4 - Nunca mais tarde do que o horário que costumo dormir ( )4

7 - O que você acha de fazer exercícios físicos das 07:00 às 08:00 2 vezes por semana?
1 - Acharia muito difícil ( )1
2 - Acharia isso difícil ( )2
3 - Estaria razoavelmente disposto pra fazer( )3
4 - Estaria bem disposto pra fazer ( )4

8 - Você foi dormir várias horas mais tarde do que o costume. Se no dia seguinte você não tivesse hora certa pra acordar, o que que aconteceria?
1 - Acordaria mais tarde que o habitual ( )1
2 - Acordaria na hora normal e dormiria novamente ( )2
3 - Acordaria na hora normal, com sono ( )3
4 - Acordaria na hora normal, sem sono ( )4

9 - Se você tivesse de ficar acordado nas 04:00 às 06:00 pra fazer uma tarefa e não tivesse compromisso durante o resto do dia, o que você faria?
1 - Só dormiria depois de fazer a tarefa ( )1
2 - Tiraria uma soneca antes da tarefa e dormiria depois ( )2
3 - Dormiria bastante antes e tiraria uma soneca depois ( )3
4 - Só dormiria antes de fazer a tarefa ( )4

10 - Se você tivesse de fazer 2 horas de exercício pesado, qual destes horário você escolheria?
1 - 19 às 21h ( )1
2 - 15 às 17 ( )2
3 - 11 às 13 ( )3
4 - 8 às 10 ( )4

11 - O que você acha de fazer exercícios físicos das 22:00 às 23:00 2 vezes por semana ?
1 - Estaria bem disposto pra fazer ( )1
2 - Estaria razoavelmente disposto pra fazer( )2
3 - Acharia isso difícil ( )3
4 - Acharia isso muito difícil ( )4

12 - Entre 20h e 03h, a que horas da noite você se sente cansado e com vontade de dormir?
1 - 20 às 21 ( )5
2 - 21 às 22 ( )4
3 - 22 às 00:45 ( )3
4 - 00:45 às 02 ( )2
5 - 02 às 03 ( )1

13 - Se você fosse se deitar às 23h, com que nível de cansaço você se sentiria?
1 - Nada cansado ( )0
2 - Um pouco cansado ( )2
3 - Razoavelmente cansado ( )3
4 - Muito cansado ( )5

14 - Se você tivesse total liberdade pra planejar seu dia, que horas que você levantaria?
1 - 5:00 às 6:30 ( )5
2 - 6:30 às 07:45 ( )4
3 - 07:45 às 09:45 ( )3
4 - 09:45 às 11:00 ( )2
5 - 13:00 às 14:00 ( )1

15 - Se você tivesse total liberdade pra planejar seu dia, que horas que você deitaria?
1 - 20:00 às 21:00 ( )5
2 - 21:00 às 22:15 ( )4
3 - 22:15 às 00:30 ( )3
4 - 00:30 às 01:45 ( )2
5 - 01:45 às 03:00 ( )1

16 - Se você trabalhasse por 5 horas seguidas e pudesse escolher qualquer horário do dia, por qual você optaria?
1 - Matutino ( )5
2 - Verspertino ( )3
3 - Noturno ( )1

17 - Em que hora do dia você atinge o seu melhor momento de bem-estar?
1 - 5 às 7 ( )5
2 - 8 às 9 ( )4
3 - 10 às 16 ( )3
4 - 17 às 21 ( )2
5 - 22 às 04 ( )1

18 - Qual o horário você escolheria para ter o máximo de sua forma em um teste de esforço mental?
1 - 8 às 10 ( )6
2 - 11 às 13 ( )4
3 - 15 às 17 ( )2
4 - 19 às 21 ( )0

19 - Com qual cronotipo você se considera mais parecido?
1 - Tipo matutino ( )6
2 - Mais matutino que vespertino ( )4
3 - Mais vespertino que matutino ( )2
4 - Tipo vespertino ( )0

Some as pontuações:
  • 16-30 pontos: Vespertino típico
  • 31-41 pontos: Moderadamente vespertino
  • 42-58 pontos: Misto
  • 56-69 pontos: Moderadamente matutino
  • 70-86 pontos: Matutino típico


Segundo o Dr. Delattre, de 10% a 12% da população são matutinos; 8% a 10% são vespertinos. A maioria, 80%, está numa situação intermediária. Mas esse perfil muda ao longo da vida. Crianças e idosos tendem a ser mais matutinos. Na adolescência, porém, há um 'atraso': os jovens sentem necessidade de ir para a cama mais tarde. Mas esse aspecto nem sempre é levado em consideração: os adolescentes têm de acordar cedo para ir à escola.

Em Natal, pesquisadores do Laboratório de Cronobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte buscam alternativas para esse problema. Segundo a professora Carolina Azevedo, especialista em neurociência do comportamento, uma das pesquisas feitas na instituição atualmente avalia a reação de estudantes a três tipos de intervenção.

No primeiro grupo, eles receberam informações sobre hábitos saudáveis de sono e aprenderam que a exposição à luz artificial, como a do computador, atrasam o ciclo de sono e vigília. No segundo grupo, os jovens passaram a ter a primeira aula ao ar livre. No terceiro, as primeiras aulas foram de educação física. 'Os ritmos circadianos tendem a se adiantar com a exposição à luz solar de manhã. Além disso, a atividade física interfere nos ritmos', explica Azevedo. Segundo ela, esse tipo de conhecimento é importante para a saúde. 'Vários ciclos acompanham o de sono e vigília. Quando mexemos nos horários de dormir e de acordar, isso afeta tudo no corpo.'

A verdade é que viver na contramão do próprio relógio biológico pode ter conseqüências sérias do ponto de vista social, profissional e também sobre a saúde. Estudos sugerem que uma rotina irregular que exija esforços de adaptação intensos e por tempo prolongado influencia no desenvolvimento de diversas doenças, como o câncer.

"O desajuste do relógio biológico altera o ciclo de vida das células, predispondo a enfermidades", explica o neurocientista Araújo, da UFRN. No último número da revista Chronobiology International, pesquisadores israelenses publicaram um trabalho cujos resultados vão ao encontro do que diz o cientista brasileiro. Um grupo de estudiosos da Universidade de Haifa constatou que mulheres que vivem em áreas bem iluminadas - portanto, que têm o ritmo biológico alterado pelo excesso de luz - apresentam maior risco de desenvolver câncer de mama.

De acordo com os cientistas, tudo indica que a luz interfere na produção de um hormônio importante, a melatonina. Agora, os pesquisadores querem investigar a fundo a associação desta substância com o risco elevado para o tumor. Todas essas revelações começam a desenhar novos caminhos para a organização da vida. A Organização Mundial da Saúde, por exemplo, já se baseia em dados da cronobiologia para sugerir novas diretrizes no campo da saúde do trabalhador. Afinal, como se vê, ignorar o relógio biológico pode gerar problemas. Se for respeitado, é um grande aliado

Jennifer Ackerman, escritora científica, avaliou pesquisas divulgadas nos últimos anos para simular uma viagem de 24 horas pelo corpo humano. Sem tom acadêmico, ela descreve os ciclos que regem nossa variação de força, de memória e de saúde em função do tempo.

Há dados curiosos, como as constatações de que o nariz escorre mais de manhã (às 8h). "Muitos de nós nos vemos como criaturas cerebrais, movidas principalmente pelo que vai em nossas mentes. Mas, freqüentemente, nós somos movidos pelo que vai na parte inferior de nossos cérebros -pelos escondidos e intrigantes altos e baixos, crises e triunfos do nosso corpo. Nós apenas não sabemos disso. Nós temos pouca consciência dos ritmos sutis que nosso corpo experimenta na pressão arterial, no nível hormonal, no apetite. Graças a esses ritmos, há horas boas e ruins para atividades como revisar um manuscrito ou tomar decisões" segundo Ackerman. O contato com essas informações enquanto escrevia o livro fez com que ela mudasse alguns hábitos. "Estou mais atenta à importância do horário nas minhas atividades quando agendo reuniões, por exemplo, e passei a respeitar mais as necessidades do meu corpo, da prática de exercícios até a soneca à tarde"

A cronobiologia "ocupa-se da organização temporal dos seres vivos", segundo o Dr.Luiz Menna-Barreto, professor do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da USP (Universidade de São Paulo). A área contempla os ciclos curtos, como os dos batimentos cardíacos, e os longos, como a influência das estações do ano nas alterações de humor (a depressão é mais comum no inverno, por exemplo). Mas os ciclos mais estudados são os circadianos, referentes às mudanças que ocorrem ao longo de um dia. Esses ciclos fazem parte da herança genética e estão escritos nos chamados 'clock genes' (genes-relógio).

Mas os aspectos ambientais são igualmente relevantes, especialmente a alternância entre luz e escuridão, diz Edson Delattre, professor do Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). É a diminuição da luminosidade no ambiente, por exemplo, que estimula a secreção da melatonina, hormônio que induz o sono. O outro principal 'sincronizador' do funcionamento do corpo, diz Delattre, é o convívio social, que estabelece horários para trabalho, alimentação e exercícios.



Pesquisas mostraram que, sem a variação de luminosidade e a influência social, o corpo passa por um processo curioso: ao depender só da carga genética, o ciclo de sono e de fome aumenta para 25 horas. 'O que faz nossos ritmos se comprimirem em um período de 24 horas são as influências geofísicas e sociais', diz Delattre.

O estresse crônico também pode alterar esse ritmo segundo o endocrinologista Dr. Claudio Kater. O mesmo, cita como exemplo o cortisol: produzido durante o sono, esse hormônio atinge seu valor máximo por volta das 6h. É uma das substâncias envolvidas no processo do despertar. Ao longo do dia, sua concentração vai caindo. O estresse crônico, porém, libera jatos de cortisol fora do horário padrão. O resultado? Obesidade, ansiedade, depressão (já que o cortisol antagoniza a serotonina) aumento da pressão, hiperglicemia, alteração do ritmo do sono, doenças cardíacas e até osteoporose.

A cronopatologia estudo as doenças e sua correlação com os ciclos. Os quadros abaixos sintetizam um pouco da cronopatologia.


Os ataques cardíacos são mais comuns de manhã, quando há uma elevação súbita da pressão arterial. Por isso, já foram desenvolvidos remédios para hipertensão que devem ser tomados após acordar -orientação presente na bula.

As crises de asma são mais freqüentes de madrugada, quando as passagens bronquiais têm seus diâmetros reduzidos em 8% -para asmáticos, isso pode significar uma redução do fluxo de ar de 25% a 60%, o que agrava os sintomas da doença.






A oncologia é uma das áreas que mais estudam a relação entre o horário de administração de um medicamento e seus efeitos no organismo. Uma das características dos tumores é que, ao contrário das outras células do corpo, eles não seguem o ciclo circadiano.

 "Nosso corpo depende de uma orquestração maravilhosa. O tumor é uma aberração desses controles, incluindo o do tempo. Normalmente, a replicação da célula é mais intensa em um horário do que em outro. Mas as tumorais crescem aleatoriamente". O problema está em como utilizar essa informação de forma prática. Segundo Andrade, uma pesquisa divulgada em 2006 avaliou as diferenças entre a quimioterapia tradicional e a cronomodulada em pacientes com câncer de intestino. "Não houve diferença na sobrevida dos pacientes como um todo. Entretanto, quando se avaliou os subgrupos, viu-se que, nas mulheres, o efeito foi deletério. Mas, para os homens, a cronobiologia foi benéfica. A pesquisa mostrou que ainda não conseguimos verificar como a cronobiologia pode ser usada, mas temos de averiguar.Talvez o futuro seja avaliar perfis de comportamento cronobiológico para ver quem pode se beneficiar da cronoterapia".

Privação de sono

Ackerman traz, em seu livro, exemplos dos efeitos de alterações no sono. Ela cita pesquisas da Universidade de Chicago que mostram que a privação de sono leva a falhas no processamento da glicose, altera os níveis do hormônio da fome e afeta o sistema imunológico. Em um desses estudos, foi avaliada a resposta à vacina da gripe em 25 voluntários sujeitos à restrição de sono. Dez dias após a vacinação, a resposta do sistema imune dos voluntários era muito inferior à observada em pessoas com sono normal.

Além das vantagens do sono noturno, a autora também elogia a sesta. E escreve: "Se nós morássemos na Esanha, poderíamos ir para casa para uma sesta. Mas nós não temos essa tradição civilizada, então lutamos contra o estupor".

Algumas dicas
Coagulação: Para evitar sangramentos, é melhor se barbear às 8h, quando as plaquetas, que levam à coagulação sangüínea, são mais abundantes do que nas outras horas do dia -o que também ajuda a entender por que ataques cardíacos têm seu pico nesse horário

Fertilização: Nos homens, os níveis de testosterona atingem seu ápice às 8h, horário em que eles estão mais estimulados para a atividade sexual. Já o sêmen tem maior qualidade à tarde, com 35 milhões de vezes mais espermatozóides do que de manhã

Dor:Vá ao dentista à tarde, quando a sensibilidade à dor nos dentes é menor. Além disso, a anestesia aplicada em procedimentos odontológicos dura mais à tarde do que de manhã: o efeito da lidocaína é três vezes maior quando ela é aplicada entre as 13h e as 15h

Sonolência: Ondas de sono nos atingem a cada 1h30 ou 2h, algo ainda mais forte em pessoas vespertinas, segundo Mary Carskadon, da Brown University. Uma delas ocorre à tarde -estudos mostram que acidentes de trânsito causados por fadiga são mais comuns entre a 1h e as 4h e entre as 13h e as 16h. Um motorista tem três vezes mais chance de cair no sono às 16h do que às 7h

Álcool: Beba aquela cerveja ou vinho entre as 17h e as 18h, quando o fígado é mais eficiente na desintoxicação do organismo. Em um estudo feito com 20 homens, aqueles que beberam vodca às 9h tiveram um desempenho pior em testes de velocidade de reação e funcionamento psicológico do que os que receberam a mesma dose às 18h

Calor: A temperatura do corpo atinge seu ápice no fim da tarde. Pesquisadores de Harvard e da Universidade de Pittsburgh relacionaram a elevação da temperatura a uma maior capacidade de memória, atenção visual, destreza e velocidade de reação

Exercícios: Exercite-se no fim da tarde, quando a percepção da exaustão é menor, as juntas estão mais flexíveis e as vias aéreas, mais abertas. O corpo esquenta e, a cada 1oC de elevação, há uma aumento de dez batidas cardíacas por minuto. Além disso, é possível ter um ganho de massa muscular 20% maior do que de manhã. A manhã é mais propícia a exercícios que exijam equilíbrio e acuidade

Concentração: Pesquisas de Lynn Hasher, da Universidade de Toronto, e Cynthia May, do College of Charleston, sugerem que jovens adultos se distraem mais facilmente de manhã -quando são mais propensos a soluções criativas. À tarde, ficam mais concentrados e ignoram dados irrelevantes. Já adultos mais velhos são concentrados de manhã e vulneráveis à distração à tarde

Alergias: Segundo Michael Smolensky, cronobiologista da Universidade do Texas, a resposta da pele a alérgenos como poeira e pólen é mais acentuada à noite

Memória: Ainda segundo Hasher, a memória dos idosos diminui ao longo do dia. De manhã, eles esquecem, em média, cinco fatos. À tarde, cerca de 14. Jovens adultos tendem a ser mais esquecidos de manhã

Câncer: A oncologia é uma das áreas com mais estudos em busca da relação entre o horário e a aplicação de medicamentos. Enquanto as células normais seguem um ciclo previsível de divisão celular, as dos tumores se multiplicam aleatoriamente

Horário de verão e cronologia

O horário de verão começará domingo (21/10) e em algumas partes do país, os relógios serão adiantados em uma hora. Se para algumas pessoas isso significa apenas mais uma hora de dia claro, para outras é sinônimo de sonolência e mau humor.

De acordo com Lúcia Rotenberg, pesquisadora do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), isso acontece porque a mudança não afeta somente os relógios que temos à nossa volta, mas altera também nosso relógio biológico.

Com base na cronobiologia, a pesquisadora explica como o corpo humano se ajusta ao horário de verão e altera nosso relógio biológico – e por que algumas pessoas têm mais dificuldade para a adaptação.

O que é o relógio biológico e qual a sua função?
Nosso corpo apresenta diversos ritmos biológicos, ou seja, fenômenos que se expressam de maneira periódica, indo desde a secreção de um hormônio até um comportamento, como o sono e a vigília. Estes ritmos são controlados por uma estrutura do sistema nervoso, chamado núcleo supraquiasmático, localizada no hipotálamo anterior, uma região do cérebro que atua como principal centro integrador das atividades dos órgãos viscerais. Esta estrutura é denominada “relógio biológico”, uma vez que é responsável pela temporização das funções biológicas.

Como a mudança para o horário de verão pode interferir em nosso relógio biológico?
Características herdadas geneticamente e informações cíclicas do ambiente interferem no nosso relógio biológico que, em condições normais, está adaptado ao ambiente externo. No entanto, quando o ambiente se modifica – como no horário de verão –, o organismo também precisa se ajustar. Desta forma, os horários que regulam nossas vidas, como parte do ambiente social onde estamos inseridos, podem interferir em nosso relógio biológico. Este fenômeno é o mesmo que ocorre quando cruzamos fusos horários em uma viagem, por exemplo.

Por que a mudança para o horário de verão afeta algumas pessoas e outras não?
A Cronobiologia, ciência que estuda os ritmos e os fenômenos físicos e bioquímicos periódicos que ocorrem nos seres vivos, dá a resposta. A forma como cada indivíduo vivencia as alterações de horário depende da característica genética de cada um, pois as pessoas apresentam cronotipos diferentes. Algumas pessoas são do tipo matutino, com maior predisposição genética para realizar suas tarefas bem cedo. Essas pessoas possuem o relógio biológico adiantado e, por isso, tendem a dormir cedo e levantar cedo. Outras são vespertinas, ou seja, tendem a dormir tarde e acordam mais tarde. A tendência matutina ou vespertina também se expressa em outros ritmos biológicos, como o ciclo de temperatura corporal. O pico de temperatura do corpo, por exemplo, é atingido mais cedo pelos matutinos do que nos vespertinos.

Quem tende a sofrer mais com a mudança de horário, os matutinos ou os vespertino?
As pessoas matutinas costumam sofrer mais com a alteração do horário. Há indícios de que pessoas que tendem a dormir pouco (chamadas de pequenos dormidores) também apresentariam maior dificuldade em relação à implantação do horário de verão.

Quais são as principais mudanças comportamentais que essas pessoas sofrem e quanto tempo em média os desconfortos podem ser sentidos?
Enquanto o organismo não se ajusta completamente ao novo horário, as pessoas se sentem mais irritadas e mal humoradas, com sensação de cansaço e sono durante o dia. No entanto, esse desconforto fica restrito aos primeiros dias e a queixa costuma ir embora em até uma semana depois da implantação do novo horário, tempo costuma ser o suficiente para a adaptação entre a maioria das pessoas.

Horário de verão e infarto

Segundo o estudo, publicado em 2008 no New England Journal of Medicine: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc0807104, os casos de infarto do miocárdio aumentam cerca de 5% na semana seguinte ao ajuste dos relógios – principalmente nos três primeiros dias. “A hora de sono perdida e os conseqüentes distúrbios de sono que isto provoca são as explicações mais prováveis”, disse Imre Janszky, um dos pesquisadores envolvidos no estudo. Segundo o estudo a saúde cardiovascular entra em risco, principalmente por um aumento da atividade do sistema nervoso simpático e elevação de citocinas pró-inflamatórias.

“Talvez seja melhor adotar o horário de verão durante todo o ano, em vez de ajustar os relógios duas vezes por ano. Este é um debate que está ocorrendo atualmente”, disse o Dr. Rickard Ljung. 

Os cientistas também observaram que o reajuste dos relógios no fim do horário de verão (que na Suécia ocorre sempre no último domingo do mês de outubro), que é sempre seguido por um dia de uma hora extra de sono, representa uma leve redução do risco de infartos na segunda-feira seguinte. 

A redução no índice de ataques cardíacos durante toda a semana que se inicia, no entanto, é significativamente menor do que o aumento registrado no início do horário de verão.  Estudos anteriores demonstram que a ocorrência de infartos é mais comum às segundas-feiras.

Segundo os cientistas do Instituto Karolinska, o ajuste dos relógios no horário de verão oferece outra explicação para este fato. “Sempre se pensou que a causa da maior incidência de infartos às segundas-feiras fosse principalmente o estresse relacionado ao início de uma nova semana de trabalho. Mas, talvez outro fator seja a alteração dos padrões de sono ocorrida durante o fim de semana”, observou o Dr. Janszky.

Os cientistas explicam que os distúrbios do sono produzem efeitos negativos no organismo humano e alertam que níveis elevados de estresse podem desencadear um ataque cardíaco nas pessoas que se situam em grupos de risco.  “Pessoas mais propensas a sofrer um infarto devem viver de maneira saudável, e isto inclui ciclos regulares de sono durante toda a semana”, diz Rickard Ljung. “Como um cuidado extra, podem talvez também relaxar mais nas manhãs de segunda-feira”, acrescentou ele.

Os cientistas suecos esperam que o estudo possa aumentar a compreensão sobre os impactos que as alterações dos ritmos diários do organismo podem ter sobre a saúde humana. “Cerca de 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo são expostas todos os anos aos ajustes dos relógios, mas é difícil generalizar a ocorrência de infartos do miocárdio que isto pode provocar”, observou Ljung.


Quanto custa tudo isso aos cofres públicos e aos nossos próprios bolsos?

Segundo o Dr. Alexandre Feldman, "existe um processo de aclimatização após cerca de 1 semana, quando a maioria de nós (mas não todos), idealmente, consegue se adaptar ao fuso horário. Mas o custo dessa 1 semana pode ser imenso, em termos financeiros, para a população. E como é possível medi-lo, se não se consegue nem mesmo comprovar algo tão objetivo quanto a economia de energia elétrica no país? Tudo o que se divulga de economia são estimativas, sem comprovação científica. E se existem estudos sérios, como o realizado pela Comissão de Energia da Califórnia (EUA), mostrando a ausência de economia de energia elétrica com o horário de verão, conforme divulgado na Scientific American, então por que continuar a impor ao organismo de toda uma população de crianças, adultos e velhos mais esse stress?" Questiona o médico."

"Se o governo realmente se preocupa com seus gastos e com a saúde da população, é importante que suspenda a lei que institui o horário de verão. Nosso relógio biológico controla um grande número de funções vitais do organismo. Um bom sono é crucial para uma boa saúde e já está cientificamente comprovado que o adiantamento e posterior atraso dos relógios em uma hora traz problemas à saúde." Sugere o Dr. Alexandre Feldman



Bibliografia:

domingo, 27 de novembro de 2016

Melatonina ajuda a regular o sono: conheça os benefícios e contraindicações

Depois de anos de espera, no fim de outubro a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou, parcialmente, a comercialização de melatonina --o "hormônio do sono"-- no Brasil. No momento, apenas uma empresa, a Active Pharmaceutica, recebeu permissão para importá-la e vendê-la a farmácias de manipulação. Para quem não sabe, a melatonina é produzida no escuro pela glândula pineal --localizada na parte central do cérebro-- e, assim que o corpo a reconhece, assimila que é hora de dormir.

“Por isso, se você estiver em um local iluminado, mesmo que pela luz emitida pela televisão, computador ou celular, a produção diminuirá e o organismo receberá o recado de que ainda é dia”, explica Bruno Halpern, endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Como resultado, o relógio biológico fica desregulado e todos os demais hormônios param de funcionar corretamente, causando não só distúrbios de sono, como também uma série de problemas à saúde. Entre eles, obesidade, diabetes, envelhecimento precoce e hipertensão.

Quando tomar?

Na maioria das vezes, a melatonina é indicada para trabalhadores noturnos, que precisam dormir em horários alternativos, ou para quem tem uma rotina fora do comum. É o caso da paranaense Raissa Pestana, 25, relações públicas, que começou a tomar a substância há cerca de três meses, por recomendação de sua endocrinologista. “Praticava atividades físicas à noite e fazia plantões no trabalho às seis da manhã. Meu corpo não entendia essa rotina e meu sono era muito instável. Falei com minha médica, fiz exames e ela me receitou a quantidade de melatonina adequada. Passei a dormir melhor e ganhei mais disposição no dia a dia”, conta.

Aqueles que sofrem com o incômodo “jet lag” (alteração do ritmo biológico após mudanças do fuso horário em longas viagens de avião) também podem fazer uso. “Ela ainda pode ser indicada para melhorar o bem-estar de pacientes portadores de doenças que diminuem a produção do hormônio, como Alzheimer, Parkinson, autismo e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade”, recomenda José Cipolla Neto, professor do departamento de fisiologia do ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo) e um dos maiores pesquisadores de melatonina no Brasil, com diversos artigos publicados sobre o tema. Gestantes e mulheres que desejam engravidar ou que estejam fazendo tratamento à base de estrogênio devem ficar longe da substância, uma vez que ela tem um leve efeito inibidor do hormônio feminino.

Se você não se enquadra nos casos citados, dificilmente precisará ingeri-la. E vale enfatizar: uma simples dificuldade para dormir não é suficiente para tomá-la, pois é preciso que exames solicitados por endocrinologistas ou médicos do sono comprovem sua deficiência. “Se a pessoa não tiver uma necessidade médica e, mesmo assim, fizer uso, o organismo sairá do ritmo e as consequências serão graves. Ela pode desenvolver distúrbios metabólicos e imunológicos sérios”, garante Cipolla Neto. Outros problemas desencadeadores da falta de sono, como depressão e ansiedade, também não podem ser tratados com a substância. “A melatonina vai funcionar para dormir se o problema de base for a falta do hormônio. Se você dorme mal por depressão, por exemplo, não fará efeito e precisará de outro tipo de medicamento”, explica Halpern.

Prescrição médica

A automedicação é uma realidade nos países em que sua comercialização é autorizada. O empresário Ricardo Vitay, que mora no Canadá, ingeriu melatonina pela primeira vez para aliviar os efeitos do “jet lag” e decidiu incluí-la na rotina para dormir melhor.

“Na cidade onde moro, ela é encontrada facilmente em farmácias e supermercados, sem necessidade de prescrição médica”, conta Vitay. Halpern alerta para o perigo da ingestão sem orientação de um especialista. “A automedicação é um erro grave. O horário e a dose dependem muito do quadro do paciente. A venda indiscriminada é reprovável e deve ser proibida”, salienta.

Segundo Bruno Halpern, é exatamente por essa falta de consciência dos pacientes e dos médicos que a substância ainda não foi totalmente liberada pela Anvisa. “A melatonina passou a ser receitada para qualquer coisa.” Em comunicado, a agência reguladora declarou que a análise minuciosa e a adoção de critério rigorosos para a liberação têm exatamente como objetivo “estabelecer a segurança” em relação à utilização do hormônio.

“Melatonin madness”

O primeiro registro da existência da melatonina foi feito em 1958, pelo dermatologista norte-americano Aaron Lerner. Nas décadas de 1960 e 1970, deu-se início à sua comercialização, mas o verdadeiro “boom” nas vendas aconteceu vinte anos depois. “Na década de 1990, foi observado um grande estouro nas vendas, o que apelidamos de ‘melatonin madness’ (“febre” da melatonina, em tradução livre para o português), lembra Cipolla Neto.

Além da melhora no sono, um dos motivos para o consumo, nos anos 90, era seu efeito antienvelhecimento ("baseado em experimentos questionáveis, vale ressaltar”, diz Cipolla Neto). Segundo o estudioso, a ingestão do hormônio deve ser feita somente diante de prescrição e jamais por motivos estéticos

Fonte: http://estilo.uol.com.br/vida-saudavel/noticias/redacao/2016/11/23/melatonina-ajuda-a-regular-o-sono-conheca-os-beneficios-e-contraindicacoes.htm

domingo, 6 de novembro de 2016

Posicionamento: Sobre o uso e comercialização da MELATONINA no Brasil

Sobre o uso e comercialização da MELATONINA no Brasil, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) esclarece:

  • O uso de melatonina deve ter indicação e acompanhamento médico. À luz do conhecimento atual, não existem evidências que suportem o uso da melatonina em seres humanos com ação anti-tumoral, anti-oxidante ou anti-envelhecimento.

Indicações do uso da melatonina:

- Distúrbios do sono:

  • insônia em idosos, cuja produção de melatonina é cerca de 25% menor do que em jovens;
  • insônia por retardo de fase, sono de não 24 horas, latência prolongada do sono, distúrbios comportamentais do sono REM, e distúrbios do sono em que a produção de melatonina é reduzida (excesso de luz noturna ou uso de beta-bloqueadores);

- Distúrbios do ritmo circadiano (transtornos de adiantamento ou atraso de fase; jet lag, cegueiras pré-quiasmática).

- Doenças neurológicas que cursam com distúrbio do sono, como espectro do autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, síndrome de Smith-Magenis.

Possíveis benefícios da melatonina:

Existem evidências iniciais de benefício do uso da melatonina em alguns casos de:
- Enxaqueca (já existem alguns ensaios clínicos randomizados publicados)
- Depressão (seu análogo, agomelatina, é aprovado com esta indicação, inclusive no Brasil)
- Uso pós lesões isquêmicas (hipoxia e isquemia perinatais - usada associada à hipotermia; na displasia bronco pulmonar do prematuro e como agente protetor contra radiações)

A melatonina também está sendo estudada em ensaios clínicos nas doenças de Alzheimer,
Huntington e Parkinson, além de estudos em Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Síndrome
Metabólica e alguns tipos de tumores.

Tempo de uso:
Não há limite mínimo ou máximo de tempo de uso da melatonina. Para efeitos transitórios, como em casos de jet lag, a melatonina é usada quando for necessário; para distúrbios de sono, o uso deve ser rotineiro.


Diretoria Nacional – gestão 2015/2016
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)

Fonte: http://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/melatonina_sbem_2016.pdf

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Ficar sem dormir e sua relação com a sensibilidade à insulina

A privação do sono pode aumentar o risco de adoecimento e morte. Um novo estudo investigou a diminuição da sensibilidade à insulina observada após a restrição do sono e se ela é acompanhada por mudanças na expressão de proteína-quinase B (PKB) no músculo esquelético.

Dez jovens saudáveis participaram desse estudo randomizado, que submeteu os indivíduos a duas etapas: duas noites de sono habitual e duas noites de sono restrito a 50% da duração habitual no ambiente doméstico. A tolerância à glicose e a sensibilidade à insulina foram avaliadas por um teste oral após a segunda noite de cada etapa. Amostras de tecido muscular esquelético foram obtidas para determinar a atividade PKB.

Os achados mostraram uma diminuição da sensibilidade à insulina em homens jovens saudáveis após apenas duas noites de privação de sono (p = 0,013), aumentando as chances de diabetes. Alterações na atividade PKB no músculo esquelético observadas foram inconclusivas. Para os autores, mais estudos devem ser realizados para examinar quaisquer mudanças potenciais.

Você sabia? ‘60% dos brasileiros dormem entre 4 e 6 horas por dia’

Artigo original: Skeletal muscle insulin signaling and whole-body glucose metabolism following acute sleep restriction in healthy males. Physiol Rep, 5 (23), 2017, e13498 || https://doi.org/10.14814/phy2.13498

Fonte: https://pebmed.com.br/privacao-do-sono-e-sua-relacao-com-a-sensibilidade-a-insulina/amp/?utm_source=facebook&utm_medium=adssmm&utm_conten+t=post&utm_campaign=sono

terça-feira, 29 de novembro de 2022

O ciclo circadiano do recém-nascido e o aleitamento materno

A crononutrição tem como objetivo ajustar a qualidade da nutrição e a ingestão para coordenar o relógio biológico de um indivíduo, de modo que se consuma o tipo e a quantidade de alimentos na hora do dia mais ideal. A maior parte da compreensão atual da crononutrição surgiu de estudos em adultos e, portanto, não abrange o tempo de vida dos bebês.

No útero, o feto é exposto por aproximadamente 9 meses aos ritmos circadianos, fisiológicos, metabólicos e comportamentais da mãe. Este meio circadiano é abruptamente interrompido após o nascimento, mas a natureza desenvolveu a substituição perfeita, o leite materno, cuja composição muda de acordo com os ritmos circadianos da mãe. Não surpreendentemente, em humanos, o recém-nascido ingere leite durante o dia e a noite, e os componentes nutritivos e não nutritivos mudam de acordo com esses horários.

Após o nascimento, o recém-nascido é exposto a uma variedade de manipulações e mudanças ambientais e o tempo de estabelecimento dos ritmos circadianos de glicocorticoides, melatonina, repouso diurno/noturno e o ritmo do sono variam amplamente dos 3 aos 6 meses de idade. Em um estudo em que a criança foi amamentada sob livre demanda durante o dia e a noite e exposta à luz apenas durante o dia, os ritmos circadianos de temperatura, sono/vigília e melatonina foram detectados durante a primeira semana e aos 30 e 45 dias de vida, respectivamente, sendo mais cedo do que a maioria dos estudos. O acúmulo de evidências revela os benefícios das mudanças nos componentes do leite e nas condições ambientais para o bebê.

Estudos que avaliaram a relação do leite materno, ciclo circadiano e seu impacto no bebê e concluíram que:
  • O triptofano, guanosina, uridina e melatonina presentes no leite humano durante a noite melhoraram o sono infantil e ajudaram a consolidar seu ciclo sono/vigília;
  • A vitamina B12 pode melhorar o sono em crianças;
  • Existem substâncias cronobióticas no leite que contribuem para o estabelecimento do ciclo sono-vigília do lactente;
  • Os bebês amamentados exclusivamente tiveram melhores parâmetros de sono em comparação com bebês alimentados com fórmula;
  • Os bebês com 2 meses de idade que foram amamentados, em contraste com bebês alimentados com fórmula, tiveram uma frequência significativamente menor de ataques de cólica e gravidade dos ataques de irritabilidade, o que foi associado ao consumo noturno de melatonina através do leite;
  • Os ritmos circadianos são importantes para o bem-estar dos lactentes e afeta severamente a sobrevida;
  • Os bebês que foram expostos à variação da condição claro/escuro e alimentados com leite materno apresentaram maior ganho de peso, melhor saturação de oxigênio, desenvolveram mais rapidamente um ritmo de melatonina e menor tempo de internação.
Esses estudos são exemplos da importância dos ritmos circadianos após o nascimento do bebê. 

Felizmente, a evidência convincente dos benefícios da exposição de bebês prematuros a um ciclo claro/escuro está levando as sociedades de cuidados neonatais a recomendar essa prática para aplicações clínicas.

Além disso, considerando que estamos no novembro roxo, mês de conscientização sobre o nascimento prematuro, vale destacar que a amamentação desde o nascimento é eficaz na prevenção da morte de bebês prematuros, em contraste com as práticas convencionais de cuidado.


Referência: Caba-Flores MD, Ramos-Ligonio A, Camacho-Morales A, Martínez-Valenzuela C, Viveros-Contreras R, Caba M. Breast Milk and the Importance of Chrononutrition. Front Nutr. 2022 May 12

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Cansaço crônico


A reportagem abaixo foi publicada na FORBES Brasil e apesar de superficial engloba as principais causas de cansaço crônico. O motivo de eu repostar a reportagem aqui, é pq é uma queixa que ao longo dos últimos 10 anos, tem se tornado cada vez mais frequente no consultório. Principalmente na Nutrologia, já que no imaginário popular, cansaço está relacionado a algum tipo de déficit de nutriente.

Déficit de Nutrientes é apenas uma das causas de Cansaço crônico, mas a lista engloba mais de 50 doenças ou condições que podem levar o paciente a relatar para o seu médico: "- Doutor estou sentindo um cansaço, uma fadiga, um desânimo, uma indisposição". 

Tem um texto grande aqui no acervo do blog sobre o tema, mas prometo que em breve escreverei um mostrando o quão difícil é a investigação do sintoma: Cansaço.

Vale a pena ler a reportagem. Apesar do erro já no começo, no qual o autor caracteriza a anemia como exclusivamente por falta de ferro. Temos vários tipos de anemia, com várias etiologias. Falta de ferro pode causar anemia? Sim, anemia ferropriva. Falta de B12 pode também? Sim, anemia megaloblástica. Falta de ácido fólico? Também. Falta de zinco? Pode reduzir o tamanho das hemácias. Falta de cobre tb, bem como de vitamina A, intoxicação por metais tóxicos, déficit de B6.


Abraço

Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 / RQE 11915

Descubra os principais motivos do cansaço constante

Em nosso agitado mundo moderno, uma queixa comum que os médicos ouvem é que seus pacientes estão frequentemente cansados. Se esse for o seu caso, o primeiro passo é observar seu estilo de vida. Uma alimentação saudável deve fornecer todos os nutrientes de que você necessita, mas, se você tem uma dieta pobre, a falta de nutrição pode fazer seu corpo lutar por fontes de energia.

Os exercícios podem tonificar e fortalecer os sistemas do seu corpo, além de liberarem hormônios do bem-estar, chamados endorfinas, que podem lhe dar um impulso. No entanto, se você é sedentário, está acima do peso ou é obeso, seu corpo pode estar com dificuldades para funcionar da maneira ideal. Por fim, um bom sono é fundamental para o seu corpo descansar e reparar-se – não dormir o suficiente pode deixá-lo esgotado.

Se você já abordou todos os fatores de estilo de vida que pode controlar e, mesmo assim, está enfrentando uma fadiga que parece não desaparecer, seu cansaço pode ter uma causa médica.

Anemia

A anemia é caracterizada pela falta de ferro no sangue, o que impede o funcionamento correto das hemácias e causa cansaço. As mulheres que menstruam – em especial se forem fluxos intensos – e as gestantes correm um risco particularmente alto, embora as mulheres na pós-menopausa e os homens também possam sofrer desse mal. Um simples exame de sangue é capaz de medir os níveis de ferro, e existem suplementos que podem ser comprados sem receita médica. Além disso, você pode aumentar sua ingestão de fontes naturais de ferro, como carne e verduras de folhas verdes escuras, para ajudar a corrigir o problema.

Doença da tireoide

Como a glândula tireoide controla o seu metabolismo, que, por sua vez, afeta seus níveis de energia, uma tireoide pouco ativa pode fazer com que você se sinta cansado. Chamada de hipotireoidismo, essa moléstia afeta principalmente mulheres e idosos e não tem cura. Felizmente, porém, ela é facilmente diagnosticada com um exame de sangue que mede o nível de hormônio da tireoide. Tomar um medicamento para a tireoide pode normalizar a função da glândula, embora seja necessário para o resto da vida.

Diabetes

Um dos primeiros sinais do diabetes pode ser o cansaço, porque você não está processando e absorvendo a glicose, que é o combustível do corpo. O diabetes é uma disfunção grave que pode prejudicar olhos, rins, nervos e coração, por isso é melhor que seja diagnosticado o quanto antes. Exames de sangue podem ajudar a identificar o diabetes, e você pode mantê-lo sob controle por meio de dieta, exercícios e, muitas vezes, medicamentos.

Depressão ou ansiedade

Os problemas de saúde mental estão intimamente ligados ao corpo e também podem gerar sintomas físicos. Para quem sofre de depressão ou ansiedade, pequenas tarefas podem ser esmagadoras e desgastantes, e essa falta de energia pode fazer com que você se sinta cansado. Medicamentos e aconselhamento ajudam. Porém, mesmo em pessoas sem problemas de saúde mental, o estresse pode levar à fadiga, já que o corpo fica em alerta máximo (a reação de “luta ou fuga”). Nesse caso, técnicas de relaxamento e controle do estresse, como meditação ou ioga, podem liberar a tensão que você sente e que destrói sua energia.

Apneia do sono

O sono costuma ser considerado um dos pilares da saúde, assim como a dieta e os exercícios. Mesmo que você pense que está tendo uma noite inteira de sono, um distúrbio denominado apneia obstrutiva do sono pode deixá-lo cansado, pois o bloqueio da respiração na garganta pode acordá-lo repetidas vezes durante a noite. Se você acha que pode ter apneia do sono (talvez porque seu parceiro ou sua parceira diz que você ronca), o próximo passo é um exame do sono para determinar se está sofrendo desse distúrbio. Mudanças no estilo de vida, como perda de peso, podem ajudar, da mesma maneira que aparelhos respiratórios como o CPAP (sigla em inglês para “pressão de ar positiva contínua”) ou uma cirurgia.

Doença autoimune

Existem mais de 80 tipos de doença autoimune, como artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose múltipla, síndrome de Sjögren e doença celíaca, nas quais o corpo ataca por engano suas próprias células. Infelizmente, as doenças autoimunes não são fáceis de diagnosticar. Além disso, a fibromialgia e a síndrome da fadiga crônica – que não se enquadram nas doenças autoimunes, mas muitas vezes atuam como elas – são outras patologias que seu médico pode cogitar ao efetuar um diagnóstico. Embora não esteja totalmente claro o motivo de o cansaço estar associado a essas enfermidades, medicamentos e ajustes no estilo de vida podem ajudar você a controlar o cansaço ao lidar com uma doença crônica.

Doenças cardíacas

Você pode não associar a fadiga a doenças cardíacas, mas ela pode ser um sinal desse mal, especialmente se você tiver outros sintomas, como falta de ar, tontura ou dor no peito. Seu coração está trabalhando demais, e seu sangue não está fluindo adequadamente para os órgãos e tecidos, o que causa cansaço. Se você acha que pode ter algum problema no coração, consulte seu médico imediatamente, pois essa doença pode ser fatal.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Tratar insônia pode reduzir o risco de desenvolver outras doenças, diz estudo

A insônia é o distúrbio do sono mais comum que existe e também um dos mais fáceis de ser diagnosticado. Apesar disso, a demora em aceitar o problema e em iniciar um tratamento pode aumentar o risco de desenvolver outras doenças, como a depressão, a diabetes, a hipertensão e até mesmo a morte - no caso de adultos com idade avançada -, diz um novo estudo, publicado na versão online da revista inglesa The Lancet.

De acordo com o texto, é preciso identificar e tratar a insônia inicial com diretrizes clínicas, de modo a garantir o bem-estar dos pacientes e evitar o uso de medicamentos que não têm eficácia comprovada. "Tendo em vista a alta prevalência e morbidade significativa da insônia, os pacientes devem ser rotineiramente questionados pelos médicos sobre possíveis problemas no sono", dizem os pesquisadores e autores Charles Morin, da Universidade Laval, em Quebec, no Canadá, e Benca Ruth, da Universidade de Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos.

Aproximadamente um quarto da população adulta tem dificuldades na hora de dormir e uma estimativa aponta que de 6% a 10% vivem um transtorno de insônia. Indivíduos com insônia ou dificuldade para dormir bem sofrem com a falta do sono reparador e apresentam sintomas diurnos, tais como fadiga, dificuldade de concentração e distúrbios de humor.

Segundo o estudo, pessoas com insônia têm mais do que cinco vezes mais chances de desenvolver ansiedade e depressão, mais que o dobro do risco de sofrer com insuficiência cardíaca congestiva e diabetes, além de viver com um elevado risco de morte. Ainda de acordo com a análise, pessoas que dormem pouco e mal são sete vezes mais propensas ao abuso de álcool ou drogas durante os próximos três anos e meio em comparação com aqueles sem a condição.

A insônia também resulta em problemas econômicos para a sociedade em geral: baixa de produtividade, faltas ao trabalho e alta dos custos de saúde.

Dados da pesquisa sugerem que a maioria das pessoas com a doença são vulneráveis a episódios recorrentes. Segundo uma pesquisa longitudinal, cerca de 70% continuam a sentir os sintomas da insônia um ano depois. Além disso, metade deles ainda sofre de insônia até 3 anos mais tarde.

Para os autores, o uso de remédios, com ou sem prescrição médica, não se mostra benéfico, já que há pouca evidência de que realmente funcionem.

Além disso, acrescentam, alguns dos medicamentos mais comumente prescritos (antidepressivos e anti-histamínicos) ainda precisam ser aprovados para o tratamento da insônia. Para os estudiosos, é necessário que hajam mais pesquisas para avaliar a efetiva ação das drogas no tratamento desta doença.

Isso levou o Instituto Nacional de Saúde, nos EUA, a afirmar que existem apenas duas opções eficazes parar o tratamento da insônia: terapia cognitivo-comportamental e drogas hipnóticas aprovadas.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é um tratamento que utiliza métodos psicológicos, como técnicas de relaxamento, restrição de sono, controle de estímulos e educação sobre higiene do sono (por exemplo, dieta e exercício). Segundo os especialistas, TCC é altamente eficaz no tratamento da insônia e não apresenta riscos de efeitos colaterais adversos, além de ter benefícios duradouros - que é uma clara vantagem em comparação com o tratamento medicamentoso. Entretanto, no momento, há uma escassez de profissionais de saúde treinados neste tipo de terapia.

Para os autores, "embora a terapia cognitivo-comportamental não esteja prontamente disponível na maior parte das clínicas, o acesso pode ser facilitado por meio de métodos inovadores, tais como consultas telefônicas, terapia de grupo e abordagens psicológicas feitas pela internet".

Eles concluem: "há uma necessidade urgente de mais educação pública sobre o sono e maior divulgação de terapias baseadas em evidências científicas para tratar a insônia. Além disso, é importante haver formação para preparar os profissionais de saúde que desejam atender e tratar queixas de insônia".

Fonte: http://www.sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=13564

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Cansaço crônico - Um dos sintomas que mais aparecem no consultório



Ao longo desses 12 anos de formado tenho visto que a cada dia essa queixa se torna cada vez mais frequente na minha prática clínica. O #cansaço excessivo, a #fadiga e a #indisposição para se realizar as tarefas básicas e programações do #dia a dia são algumas das queixas mais comuns que parecem estar aumentando a prevalência, chegando a quadros mais graves, com importante limitação das atividades de vida diária. 

Contudo, esse sintoma pode ser decorrente de uma série de fatores específicos ou da junção deles, sendo necessário uma investigação minuciosa e holística, para que seja possível voltar a normalidade (ter novamente disposição para a realização das atividades diárias).
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Caso os sintomas citados acima te acompanham, esse post é para você! 

Veja alguns dos fatores que podem favorecer a indisposição física e mental:

🔷Sono insuficiente e/ou inadequado, cujo problema é comum devido a uma má #higiene do sono. Não é tão simples quanto parece fazer uma avaliação do sono. Na maioria das vezes solicitamos exames que mostram os estágios do sono e aplicamos escalas para verificar se o paciente está tendo ou não um sono reparador. 

🔷Realização de dietas e estratégias alimentares com restrição alimentar excessiva: aqui a máxima " saco vazio não pára em pé" se faz verdadeiríssima. Está existindo um equilíbrio entre os macronutrientes? A ingestão de água está adequada? Um recordatório alimentar funcional minucioso se faz necessário e é isso que fazemos na Clínica (eu e o meu nutricionista, Rodrigo Lamonier);

🔷Consumo #alimentar nutricionalmente pobre, resultando em déficits nutricionais de #vitaminas (principalmente vitaminas do complexo B pois entram no ciclo de Krebs, que gera energia para nosso corpo) e #minerais (ferro, zinco, magnésio, cobre, fósforo, cálcio) que são importantes na produção de energia e outras reações essenciais;

🔷Excesso de atividades diárias, estresse, ansiedade, depressão, insegurança e outras inúmeras condições que caracterizam algum problema com a saúde mental, que invariavelmente podem levar a redução do nível de energia do paciente;

🔷Uso de determinados medicamentos: principalmente ansiolíticos, antidepressivos, beta-bloqueadores entre outros;

🔷Doenças que estejam mal controladas, como por exemplo: hipotireoidismo, diabetes mellitus, doença renal, doenças pulmonares, problemas cardíacos, dentre outras.

Por isso é muito importante você sempre buscar o acompanhamento #profissional para uma investigação aprofundada! 

Evite utilizar estratégias para burlar o #cansaço como uso de #estimulantes e outros adaptógenos (principalmente por conta própria), busque tratar os fatores causais do problema! 

Autores: 
Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13.192  , RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e profissional da Educação física. Pós-graduado em Nutrição Clínica e Esportiva. 

sábado, 9 de janeiro de 2016

Que fatores contribuem para os comportamentos de vida saudáveis nas crianças?

Cientistas do Instituto de Pesquisa do Children's Hospital of Eastern Ontario (CHEO) participaram de vários artigos especializados que foram publicados no International Journal of Obesity Supplements. A série (que incluiu 16 colaborações originais) foi preparada pelo grupo de pesquisa do Estudo Internacional de Obesidade Infantil, Estilo de vida e Ambiente (ISCOLE), um grupo global de especialistas líderes em pesquisa da obesidade provenientes de 12 países localizados em 5 continentes.

«Estes são os primeiros dados diretamente medidos e padronizados que se apresentaram provenientes de países com baixas e altas rendas, e se contrapõem a algumas das crenças em torno das correlações chave na obesidade infantil e nos comportamentos de vida saudável», disse o Dr. Mark Tremblay, Diretor do Grupo de Pesquisa Healthy Active Living and Obesity (HALO) do Instituto de Pesquisa do CHEO e Investigador principal do ISCOLE Canada. «A mensagem fundamental é que os fatores que contribuem para a obesidade infantil podem ser muito diferentes entre os países. Estes novos achados sugerem que um enfoque uniforme na prevenção da obesidade é incorreto e os esclarecimentos internacionais podem conduzir a soluções inovadoras práticas».

O Dr. Jean Philippe Chaput, cientista de HALO no Instituto de Pesquisa do CHEO e pesquisador coprincipal do ISCOLE Canada dirigiu o primeiro estudo de sua classe para analisar o vínculo entre os padrões de sono e os comportamentos relacionados com o estilo de vida de crianças de 12 países de 5 regiões geográficas importantes do mundo. Os achados revelam que o sono de duração breve, a qualidade deficiente do sono e as horas de deitar-se mais tardias se relacionam com hábitos de estilo de vida não saudáveis. No entanto, as relações foram mais potentes nos países com alta renda em comparação com os países com baixa a média renda; o que indica que as intervenções destinadas a melhorar os comportamentos relacionados com o sono e o estilo de vida deveriam se adaptar culturalmente para maximizar o êxito.

«É possível que os dias das crianças estejam muito estruturados ou regulados nos países com altas receitas e que haja mais flexibilidade e tempo discricionário nos países com baixa renda», disse o Dr. Chaput. «Os pais ou o pessoal médico não deveriam ignorar o sono e deve ser parte da abordagem do estilo de vida que tradicionalmente se enfocou na alimentação e no exercício».

O Dr. Richard Larouche, pesquisador pós-doutorado do Instituto de Pesquisa CHEO dirigiu um estudo em que foi analisado aquilo que distingue as crianças que participam do transporte escolar ativo (que é o emprego de meios não motorizados como caminhar e deslocar-se em bicicleta para a escola) daquelas que não o fazem. Nos diferentes países, as crianças que se deslocam ativamente têm menos probabilidades de ser pré-obesos ou obesos e também mais probabilidades de ser fisicamente ativas.

«Em geral, 42,1% das crianças relataram que se deslocam de forma ativa, mas entre os diferente países, isto variou de 5,2% na Índia até 79,4% na Finlândia. No centro canadense (Ottawa), 35,1% das crianças se deslocavam ativamente», disse o Dr. Larouche. Os fatores relacionados com o sistema escolar ativo foram muito variáveis entre os países. Segundo o Dr. Larouche, «Estes achados questionam a crença de que exista uma série comum (ou geral) de fatores relacionados com o transporte ativo».

Fonte: http://www.medcenter.com/contentnews.aspx?pageid=128787&tax_id=596&langtype=1046&id=230291&esp_id=202#

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Dormir menos de seis horas por noite aumenta risco de câncer de mama


A falta de sono está ligada ao aparecimento de cânceres de mama mais agressivos, de acordo com pesquisa do University Hospitals Case Medical Center, nos Estados Unidos.

O estudo é o primeiro a mostrar essa associação, assim como a ligação com uma maior probabilidade de recorrência do câncer.

A equipe de pesquisa, liderada por Cheryl Thompson, analisou registros médicos e respostas de exames de 412 pacientes na pós-menopausa com câncer de mama por meio de um teste amplamente utilizado para guiar o tratamento de câncer de mama em estágio inicial, que prevê a probabilidade de recorrência.

Todas as pacientes foram recrutadas no momento do diagnóstico e perguntadas sobre a duração média do sono nos dois anos anteriores.

Os pesquisadores descobriram que as mulheres que dormiam seis horas ou menos de sono por noite, em média, antes do diagnóstico apresentaram maior risco de recorrência do câncer de mama e maior risco de tipos agressivos da doença.

"Este é o primeiro estudo a sugerir que as mulheres que dormem menos podem desenvolver câncer de mama mais agressivos em comparação com mulheres que dormem mais horas", afirma Thompson.

"A curta duração do sono é um perigo para a saúde pública e leva não só à obesidade, diabetes e doenças do coração, mas também ao câncer. Intervenções eficazes para aumentar a duração e melhorar a qualidade do sono pode ser um caminho para reduzir o risco de desenvolver câncer de mama mais agressivos", concluem os pesquisadores.

Fonte: http://www.sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=15962

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Indivíduos com hábitos noturnos têm maior risco de apresentar diabetes tipo 2


Os “notívagos” têm um risco maior de evoluir com diabetes tipo 2 e são mais propensos a fumar mais, fazer menos exercício e ter maus hábitos de sono em comparação com os indivíduos “madrugadores”, de acordo com um novo estudo, publicado em 11 de setembro no periódico Annals of Internal Medicine.

O trabalho analisou o cronótipo autoavaliado dos participantes, que se refere à preferência circadiana de um indivíduo para dormir e acordar, sendo classificado como madrugador (aquele que prefere acordar cedo e é mais ativo durante o dia) ou notívago (aquele que prefere acordar tarde, sendo mais ativo durante a noite).

Analisando o estilo de vida e os hábitos de sono relatados por mais de 60.000 enfermeiras de meia-idade, pesquisadores do Brigham and Women's Hospital e da Harvard Medical School dos EUA constataram que aquelas que tinham preferência por acordar mais tarde tinham um risco 72% maior de apresentar diabetes e probabilidade 54% maior de apresentar comportamentos pouco saudáveis em comparação com participantes que tendiam a acordar mais cedo.

Após ajuste para seis fatores de estilo de vida — dieta, uso de álcool, índice de massa corporal (IMC), atividade física, tabagismo e duração do sono — a associação entre risco de diabetes tipo 2 e cronótipo noturno diminuiu para 19% o risco de apresentar a doença.

Numa análise de subgrupo, essa associação foi mais forte entre as mulheres que não trabalharam em plantões noturnos nos últimos dois anos ou que trabalharam em plantões noturnos durante menos de dez anos. Para as enfermeiras que trabalharam recentemente em turnos noturnos, o estudo não encontrou associação entre o cronótipo noturno e o risco de diabetes tipo 2.

As participantes, provenientes do Nurses' Health Study II, tinham entre 45 e 62 anos de idade, sem histórico de câncer, doenças cardiovasculares ou diabetes. Os pesquisadores acompanharam o grupo de 2009 a 2017.

Existe uma incompatibilidade entre o ritmo circadiano natural e o horário de trabalho?

Os autores, liderados pelo Dr. Sina Kianersi, Ph.D., da Harvard Medical School, nos EUA, sugerem que os resultados podem estar ligados a uma incompatibilidade entre o ritmo circadiano de uma pessoa e o seu ambiente físico e social — por exemplo, quando alguém vive de acordo com um horário oposto ao de sua preferência circadiana.

Em um estudo de 2015, as enfermeiras que trabalhavam em turnos diurnos há mais de dez anos, mas tinham um cronótipo noturno, apresentavam maior risco de diabetes em comparação com as que tinham um cronótipo diurno (51% mais probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2).

Em um estudo de 2022, um cronótipo noturno foi associado a um risco 30% maior de diabetes tipo 2. Os autores especularam que o desalinhamento circadiano poderia ser o culpado — por exemplo, ser um notívago, mas trabalhar de manhã cedo — o que pode perturbar o metabolismo glicêmico e lipídico.

Estudos anteriores mostraram que hábitos de sono mais curtos ou irregulares estão associados a um maior risco de diabetes tipo 2. Outros estudos também constataram que as pessoas com cronótipo noturno têm maior probabilidade do que os madrugadores de terem hábitos alimentares pouco saudáveis,  praticarem menos atividade física e de serem fumantes e consumidores de álcool.

Este novo estudo não mostrou associação entre o cronótipo noturno e o consumo não saudável de álcool, que os autores definiram como tomar uma ou mais doses de bebida alcóolica por dia.

Em um editorial que acompanha o estudo, dois médicos da Harvard T.H. Chan School of Public Health, nos EUA, alertam que o desenho estatístico do estudo limita sua capacidade de estabelecer a causalidade.

“O cronótipo pode mudar com o tempo, o que pode estar correlacionado com mudanças no estilo de vida”, escrevem Kehuan Lin, Mingyang Song e o médico Dr. Edward Giovannucci. “São necessários ensaios experimentais para determinar se o cronótipo é um marcador de estilo de vida pouco saudável ou um determinante independente”.

Eles também sugerem que fatores psicológicos e o tipo de trabalho realizado pelos participantes podem ser potenciais causas de confusão nos resultados do estudo.

Os autores do estudo observam que seus achados podem não ser aplicáveis para outros grupos que não sejam enfermeiras brancas de meia-idade. A população estudada também tinha um nível de escolaridade relativamente alto e era socioeconomicamente favorecida.

O autorrelato do cronótipo com uma única pergunta também pode resultar em erros de classificação e de aferição, reconhecem os autores.

Os achados destacam a importância de avaliar o cronótipo de um indivíduo para programar o trabalho por plantões — por exemplo, atribuir notívagos aos turnos noturnos pode melhorar a sua saúde metabólica e os hábitos de sono, de acordo com os autores do estudo.

“Dada a importância da modificação do estilo de vida para a prevenção do diabetes, pesquisas futuras são necessárias para avaliar se a melhoria dos comportamentos poderia efetivamente reduzir o risco da doença em pessoas com cronótipo noturno”, concluem os autores.