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domingo, 31 de julho de 2022

Probióticos para doenças psiquiátricas. Há espaço para a prescrição ?


Uma dúvida muito comum é sobre o real papel dos probióticos para os transtornos psiquiátricos, os chamados Psicobióticos.

Na última década, alguns trabalhos tem mostrado que pode existir uma diferença na microbiota de indivíduos saudáveis e dos pacientes portadores de depressão, transtornos de ansiedade de generalizada. Daí surgem extrapolações que a suplementação com probióticos, ou psicobióticos como alguns preferem denominar, pode ser benéfica na Psiquiatria nutricional.

Apesar de alguns estudos pequenos evidenciando melhora de sintomas ansiosos em pacientes que utilizaram algumas cepas específicas (Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175), ainda não temos evidências robustas para a prescriçãoMuitas pesquisas sobre os psicobióticos são baseadas em modelos de roedores, que usam induções de estresse e testes comportamentais para avaliar motivação, ansiedade e depressão.

Os estudos até o momento tentaram intervenções diferentes (baixa comparabilidade) e as meta-análises agrupam as diferentes cepas como se tivesse um mecanismo de ação único (o que não tem, já que cada cepa tem as suas particularidades). 

Até o presente momento há 10 meta-análises sobre o tema e apenas 4 mostraram resultados promissores com a intervenção nos pacientes com sintomas depressivos.

Em contrapartida alguns trabalhos sugerem que muitos transtornos mentais graves e a própria Síndrome do Intestino irritável sejam caracterizados por um excesso de abundância de lactobacillus

Na minha opinião, as pesquisas estão engatinhando e o eixo cérebro-intestino é uma área promissora no mundo da Psiquiatria nutricional, porém, mais ensaios clínicos randomizados duplo-cegos controlados por placebo são necessárias para determinar a eficácia no alívio dos sintomas psiquiátricos, bem como a duração ideal do tratamento, dosagem e cepa probiótica para alcançar efeitos positivos nas doenças psiquiátricas.

Sendo assim, até o presente momento, o uso de probióticos não encontra respaldo na literatura, como parte do tratamento de depressão/ansiedade/esquizofrenia e a melhor forma de se "modular' a micorbiota intestinal na população com doenças psiquiátricas é através do estímulo  de:
1) Adoção de uma alimentação rica em fibras prebióticas e com o mínimo de alimentos ultraprocessados ou que tenham impacto negativo na microbiota, isso inclui evitar corantes, edulcorantes, acidulantes. Redução da ingestão de gorduras saturadas, já que alguns trabalhos mostram impacto negativo da variabilidade das cepas. Nos pacientes com intolerância a FODMAPS, iniciar uma dieta low fodmap.
2) Pática regular de atividade física
3) Sono de qualidade e com pelo menos 7 horas de duração. 
4) Menor exposição a disruptores endócrinos, agrotóxicos e substâncias com potencial ação deletéria sobre a nossa microbiota. 
5) Manejo do estresse, já que existe uma relação entre maiores níveis de estresse e alteração na microbiota intestinal. 
6) Manutenção de bons níveis de Vitaminas e minerais, proteínas, carboidratos e lipídios.


Bibliografia: 







quinta-feira, 19 de maio de 2022

Abordagem nutricional dos transtornos psiquiátricos

Nos últimos 10 anos foi raro o dia em que não recebi paciente relatando algum sintoma psiquiátrico. No auge da pandemia escrevi um pouco sobre isso e agora, no final da pandemia, percebi que os relatos só aumentaram.

Não sei se é pela parceria que tenho com inúmeros psicólogos e psiquiatras. Se é por um mero acaso do destino, pois sempre gostei de acolher e ouvir esses pacientes (muitas vezes até fugindo do meu papel de nutrólogo e quase que desempenhando um papel de "pseudo-psicólogo"). Ou então se é porque realmente o número de transtornos psiquiátricos aumentou depois da pandemia. Acredito que seja uma confluência dos 3 fatores, o fato é que tenho atendido muitos pacientes com transtornos psiquiátricos.

Mas por que um paciente procuraria um médico nutrólogo para tratar de uma doença/queixa psiquiátrica? Simplesmente, porque há muita informação propagada erroneamente na internet. 

Abaixo, algumas das fake news mais comuns em psiquiatria nutricional:
  • "Você sabia que 90% da sua serotonina é produzida no intestino?"
  • "Você sabia que a falta de vitaminas pode levar a depressão?"
  • "A utilização de nutrientes podem reduzir a ansiedade?"
  • "Dieta low carb pode melhorar TDAH?"
  • "Dieta cetogênica pode curar convulsões e reduzir os sintomas depressivos?"
  • "A suplementação de vitaminas pode melhorar o seu sono?"
  • "Soro com vitaminas e minerais podem melhorar o seu foco, concentração, memorização?"
  • "As bactérias intestinais podem influenciar no seu humor?"
  • "Jejum intermitente pode melhorar sintomas de ansiedade/depressão/bipolaridade?"
  • "Usar melatonina pode curar a insônia?"
Ou seja, uma série de fake news estão publicadas na internet, por pessoas que provavelmente nunca estudaram psiquiatria nutricional. 

Profissionais que sequer conhecem a cascata de formação de neurotransmissores. Que mal sabem solicitar uma polissonografia para avaliar o sono. Gente totalmente despreparada e que vem cometendo iatrogenias a rodo. E o pior, fazendo isso com pessoas altamente fragilizadas, com dor emocional. 

Nisso, esses profissionais acabam vendendo soros, chips, prescrevendo páginas e mais páginas de suplementos. Ou seja, enquanto existir cavalos, São Jorge não andará a pé.

Mas afinal, a Nutrologia pode agregar alguma coisa nos transtornos psiquiátricos? Sim. Mas não é a panaceia que pintam por aí. Alias, é um efeito bem limitado. Palavra de quem estuda isso desde 2003, quando perdi meu pai para o transtorno bipolar. 

Noções básicas de Psiquiatria nutricional ou Nutropsiquiatria

Primeiramente, devo explicar pra vocês que existem várias substâncias, denominadas neurotransmissores.

Os neurotransmissores são substâncias químicas produzidas pelas células do nosso sistema nervoso central (os neurônios) e são usadas para transmitir informação entre eles. 

Os neurotransmissores são liberados por um neurônio pré-sináptico para a fenda sináptica (imagine um vale) e causam uma alteração na membrana pós-sináptica ou no neurônio pós-sináptico. Conforme consta na imagem.


Essa membrana pós-sináptica (célula receptora), pode ser um neurônio com receptores especificas para os neurotransmissores, sofrendo uma alteração de potencial (evento elétrico). Mas também pode ser uma célula muscular ou uma célula glandular. 

Define-se por neurotransmissão (ou transmissão sináptica) a conversão de um evento elétrico em num evento químico e posteriormente em evento elétrico.

A reação desencadeada pela liberação desses neurotransmissores pode excitar ou ativar o neurônio pós-sináptico, ou inibir ou bloquear sua atividade. Ou seja, o neurotransmissor pode ter uma ação Excitatória ou Inibitória. Isso que poderá gerar os sintomas psiquiátricos ou neurológicos. 

Os neurotransmissores podem se dividir em:

1) Aminas biogênicas:
  • Acetilcolina
  • Histamina
  • Monoaminas: Serotonina e Catecolaminas (Dopamina, Noreprinefrina, Epinefrina)
2) Aminoácidos com ação neurotransmissora:
  • Ácido-gama-aminobutírico (GABA)
  • Glutamato
  • Glicina
  • Taurina
3) E podemos ter também os neuropeptideos que possuem ação no sistema nervoso central e periférico:
  • Substância P
  • Vasopressina
  • Peptídeo inibidor Vasoativo
  • Endorfinas e beta-endorfinas
  • Ocitocina
  • Neurotensina
Mas há mais de 100 neurotransmissores estudados. Nesse texto vamos nos ater a alguns somente.


Os neurotransmissores também podem ser classificados de acordo com a sua função: Excitatória,  Inibitória ou Modulatória.

Neurotransmissores excitatórios: esses neurotransmissores têm efeitos excitatórios no neurônio, o que significa que aumentam a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores excitatórios incluem epinefrina e norepinefrina.

Neurotransmissores inibitórios: já esses, têm efeitos inibitórios sobre o neurônio. Eles diminuem a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores inibidores incluem a serotonina e o ácido gama-aminobutírico (GABA).

Neurotransmissores mistos: A acetilcolina e dopamina podem criar efeitos tanto excitatórios quanto inibitórios, dependendo do tipo de receptores que estão presentes.

Neurotransmissores modulatórios: Esses neurotransmissores, frequentemente denominados neuromoduladores, são capazes de afetar um número maior de neurônios ao mesmo tempo. Esses neuromoduladores também influenciam os efeitos de outros mensageiros químicos. 

E onde entra a Nutrologia ?

Já dizia Lavoisier, "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, Essa é a lei da conservação das massas. Um neurotransmissor até ser formado, começou com um aminoácido. Mas até virar o neurotransmissor, ele sofreu reações enzimáticas (co-fatores = vitaminas, minerais). Depoís de uma série de reações, eis que surge um neurotransmissor. Ou seja, para chegar a ser um neurotransmissor, ele precisou de algumas substâncias interferindo na estrutura química do aminoácido. Quem catalisou essas reações ? Nutrientes. Aqui entra na Nutrologia. 

Aminoácidos são compostos orgânicos, formados por um carbono, um grupo carboxila, um grupo amino (por isso AMINO-acido) e por um radical. Quando se junta vários aminoácidos eles forma proteínas. 

Mas por que voltar no segundo grau? Simplesmente, porque esses aminoácidos é que darão origem aos 4 principais neurotransmissores. A imagem abaixo exemplifica isso. Ou seja:
  • Serotonina se forma a partir do aminoácido triptofano
  • Dopamina se forma a partir do aminoácido tirosina, que por sua vez se forma da Fenilalanina
  • Noradrenalina também se forma do aminoácido tirosina
  • Gaba se forma através da junção de 3 aminoácidos: ácido glutâmico, taurina e glicina. 


Ou seja, pela lógica, se eu consumo mais aminoácido precursor de serotonina, eu formarei mais serotonina? Não necessariamente. Essa é uma das fake news propagandas por aí. O corpo se autorregula. Para esse triptofano entrar no cérebro ele precisa atravessar uma barreira chamado Hematoencefálica. Pra complicar, ele sofre competição com outros aminoácidos, como por exemplo os BCAAs, Fenilalanina, Tirosina. E pra complicar ainda mais, ele só virará serotonina após uma série de reações enzimáticas, que são dependentes de bons níveis de vitaminas, minerais. E quais seriam essas fontes de triptofano? A tabela abaixo é de um artigo que aborda justamente o L -Triptofano: Funções Metabólicas Básicas, Pesquisa Comportamental e Indicações Terapêuticas ( https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2908021/)


Importante salientar que apesar do teor de triptofano no alimento ser importante, também é importante conhecer o teor dos outros aminoácidos que competirão com o triptofano para atravessar a barreira. Então existe um índice que mostra a real biodisponibilidade desse triptofano. A necessidade diária de ingestão de triptofano é de 3,5 a 6,0 mg/kd de peso. 


E como ocorre a conversão até chegar em serotonina? Primeiro tem a conversão do triptofano em 5-hidroxitriptofano. O 5-hidroxitriptofano (5-HTP) é, em seguida, descarboxilado em serotonina. 

A quantidade de triptofano no sangue influencia a síntese de serotonina? Sim, há uma relação entre maior ingestão de triptofano aumentando a concentração de serotonina cerebral. 

No entanto, esta serotonina se manterá reservada em vesículas no neurônio pré-sináptico e somente serão liberadas na fenda sináptica para o processo de ativação neuronal pós-sináptico no 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐜𝐞𝐫𝐭𝐨. 

Elevação da síntese de serotonina não significa aumento da ativação das vias neuronais serotoninérgicas.  Esta modulação não é realizada pela concentração de triptofano ou serotonina. 

Sendo assim, aumentar produção de serotonina, pelo aumento da ingestão de triptofano, não levará a um aumento da função neuronal de vias de serotonina imediatamente. 

Se todo alimento que possui triptofano promovesse bem-estar, ocorreria de maneira independente do paladar ou escolha individual. O bem-estar é aqui emocionalmente determinado na relação com a comida e não pelo triptofano.
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É importante lembrar que deficiência de serotonina cerebral só existirá em quadros de desnutrição severa ou lesões neurológicas específicas. 

A disfunção serotoninérgica da depressão ou outros transtornos psiquiátricos (assim como de outros neurotransmissores) não se correlacionam com deficiência na produção de serotonina e sim uma disfunção das vias de transmissão neurônio à neurônio (fenda sináptica), na despolarização da membrana neuronal, na disponibilidade de receptores, entre outros. 

Difícil de compreender? Sim, é complexo. 

Entenderam agora a fake news da serotonina intestinal ? De que adianta serotonina no intestino se ela não consegue atravessar essa barreira? 

Entenderam também a fake news "come banana, é rica em triptofano e forma mais serotonina", ou "coma aveia, é rica em serotonina". 1 banana média fornece só 11mg de Triptofano e nenhum alimento possui serotonina. Aveia tem triptofano? Sim,  1 xícara fornece 147mg, mas não é serotonina. 

Então, o senhorzinho que está com rebaixamento do humor, triste, com oscilação do humor, assiste um videozinho no YouTube que fala sobre "os efeitos transformadores dos nutrientes na depressão" e resolve marcar com o Nutrólogo. 

O que tem de real nisso tudo ?

A serotonina é uma monoamina que  desempenha um papel importante na regulação e modulação do humor, sono, ansiedade, sexualidade e apetite.

Seu déficit pode levar a aumento da ansiedade, aumento do apetite e até exacerbação da libido (ou o oposto).

A classe de medicamentos denominada "inibidores seletivos da recaptação da serotonina ou ISRSs" são um tipo de medicação antidepressiva comumente prescrita para tratar depressão, ansiedade, transtorno do pânico e ataques de pânico. Eles agem tentando equilibrar os níveis de serotonina, bloqueando a recaptação de serotonina no cérebro, o que pode ajudar a melhorar o humor e reduzir sentimentos de ansiedade.

Muitas vezes um dos efeitos colaterais dessas medicações é a redução do apetite e também da libido. Justamente por interferência em outros dois neurotransmissores: a Dopamina e a Noradrenalina.

Pra formar serotonina precisa do aminoácido triptofano? Sim. Mas quantidades mínimas já conseguem suprir isso. E não adianta dosar serotonina no sangue. Serotonina no sangue ou no intestino provavelmente não influenciará na serotonina cerebral, mais precisamente a serotonina na fenda pós-sináptica. Ingestão habitual de carnes, oleaginosas, lácteos, leguminosas já consegue fornecer a necessidade diária de triptofano. E não é você tomando L-triptofano que essa serotonina subirá. E graças a Deus que não é assim. Imagina: come e faz "pico de serotonina". Que loucura seria o mundo. 

Vitaminas podem influenciar nessa produção de serotonina? Sim. Em especial a vitamina B12, o ácido fólico e vitamina B6. As 3 são co-fatores e entram na cascata de produção de serotonina. Ou seja, a deficiência dessas vitaminas podem levar a menor produção de serotonina? Sim, principalmente a B12 e o ácido fólico. Por isso na atualidade vemos tantos psiquiatras e neurologistas dosando a vitamina B12. 

Minerais também podem influenciar? Sim. Magnésio e ferro podem também interferir na produção de serotonina. 

Então vamos lá, se eu tomar  L-triptofano, B6, B12, ácido fólico, magnésio, ferro formarei mais serotonina e com isso reduzir os sintomas depressivos? Não necessariamente. As coisas não são tão simples e matemáticas como se parece. Os transtornos psiquiátricos são multifatoriais, complexos. 

Há envolvimento de fatores genéticos (polimorfismos genéticos que interferem na fenda sináptica, no neurônio pós-sináptico, na recaptação dessa serotonina e até mesmo na formação das formas ativas de ácido fólico (metilfolato), B12 (metilcobalamina), B6 (piridoxal-5-fosfato)). 

Há influência de outros neurotransmissores sobre a serotonina.

Doenças de base podem interferir na produção de neurotransmissores, assim como uso de substâncias, drogas, álcool, privação de sono, sedentarismo.

Entenderam a complexidade?

E é importante salientar que nem todo quadro de ansiedade envolve comente serotonina, as vezes pode ter outro neurotransmissor deficiente. E o profissional mais habilitado para investigar isso não é o Nutrólogo e sim o Psiquiatra. Se você apresenta sintomas de déficit de serotonina: procure um psiquiatra e posteriormente um psicólogo. Pode procurar o nutrólogo? Só depois que for nesses dois. Eu não atendo pacientes com sintomas psiquiátricos que não estejam em acompanhamento com psiquiatra e com psicólogo. 

Mas e os outros neurotransmissores?

GABA: o ácido gama-aminobutírico (GABA) age como o principal mensageiro químico inibidor do corpo. O GABA contribui para a visão, controle motor e desempenha um papel na regulação da ansiedade. 

Os benzodiazepínicos, usados ​​para ajudar no tratamento da ansiedade, funcionam aumentando a eficiência dos neurotransmissores GABA, o que pode aumentar a sensação de relaxamento e calma. Assim como o anticonvulsivamente topiramato e o fitoterápico Passiflora incarnata. 

O glutamato é o neurotransmissor mais abundante encontrado no sistema nervoso, onde desempenha um papel em funções cognitivas, como memória e aprendizagem. Quantidades excessivas de glutamato podem causar excitotoxicidade resultando em morte celular. Essa excitotoxicidade causada pelo acúmulo de glutamato está associada a algumas doenças e lesões cerebrais, incluindo a doença de Alzheimer, derrame cerebral e convulsões epilépticas. O Magnésio pode reduzir a excitação neuronal e por isso tem se pesquisado cada vez mais sobre sua ação em algumas doenças neurológicas e psiquiátricas. 

Então vamos tratar ansiedade com magnésio? Não. Essa é mais uma fake news. 

Temos ainda as monoaminas catecolaminas, que são uma classe de neurotransmissores e que engloba: Dopamina, noradrenalina e adrenalina

A dopamina desempenha um papel importante na coordenação dos movimentos do corpo. Talvez os seus efeitos mais estudados na atualidade são por estar relacionados ao sistema de recompensa, motivação e acréscimos. 

Vários tipos de drogas viciantes aumentam os níveis de dopamina no cérebro, redes sociais também. A doença de Parkinson, que é uma doença degenerativa que resulta em tremores e prejuízos no movimento motor, é causada pela perda de neurônios geradores de dopamina no cérebro.

A epinefrina é considerada tanto um hormônio quanto um neurotransmissor. Geralmente, a epinefrina (adrenalina) é um hormônio do estresse que é liberado pela glândula adrenal. No entanto, funciona como um neurotransmissor no cérebro.

A noradrenalina é um neurotransmissor que desempenha um papel importante no estado de alerta que está envolvido na resposta de luta ou fuga do corpo. Seu papel é ajudar a mobilizar o corpo e o cérebro para agir em momentos de perigo ou estresse. Níveis deste neurotransmissor são tipicamente mais baixos durante o sono e mais altos durante períodos de estresse.

Como citei acima, todos esses neurotransmissores são oriundos de algum aminoácido e possuem vitaminas e minerais como co-fatores para a sua produção. talvez por isso as pessoas estejam buscando o consultório de Nutrólogos. Porém, é errado afirmarmos que a suplementação de nutrientes, de forma isolada irá tratar sintomas psiquiátricos. 

O tratamento é multidisciplinar e engloba acompanhamento com:
  • Psiquiatra
  • Psicólogo
  • Mudança do estilo de vida. 
O slide abaixo faz parte da explicação que dou para os pacientes que procuram o meu consultório devido esses sintomas.





Ao longo desses quase 13 anos de consultório, o que vejo dando resultado no tratamento dessas patologias é justamente a transdisciplinaridade e principalmente mudanças no estilo de vida. Portanto, não pense que o Nutrólogo irá curar a sua depressão ou sua ansiedade. Vá consciente das limitações da especialidade. 

E os probióticos para transtornos psiquiátricos?

Uma dúvida muito comum é sobre o real papel dos probióticos para os transtornos psiquiátricos, os chamados Psicobióticos.

Na última década, alguns trabalhos tem mostrado que pode existir uma diferença na microbiota de indivíduos saudáveis e dos pacientes portadores de depressão, transtornos de ansiedade de generalizada. Daí surgem extrapolações que a suplementação com probióticos, ou psicobióticos como alguns preferem denominar, pode ser benéfica na Psiquiatria nutricional.

Apesar de alguns estudos pequenos evidenciando melhora de sintomas ansiosos em pacientes que utilizaram algumas cepas específicas (Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175), ainda não temos evidências robustas para a prescriçãoMuitas pesquisas sobre os psicobióticos são baseadas em modelos de roedores, que usam induções de estresse e testes comportamentais para avaliar motivação, ansiedade e depressão.

Os estudos até o momento tentaram intervenções diferentes (baixa comparabilidade) e as meta-análises agrupam as diferentes cepas como se tivesse um mecanismo de ação único (o que não tem, já que cada cepa tem as suas particularidades). 

Até o presente momento há 10 meta-análises sobre o tema e apenas 4 mostraram resultados promissores com a intervenção nos pacientes com sintomas depressivos.

Em contrapartida alguns trabalhos sugerem que muitos transtornos mentais graves e a própria Síndrome do Intestino irritável sejam caracterizados por um excesso de abundância de lactobacillus

Na minha opinião, as pesquisas estão engatinhando e o eixo cérebro-intestino é uma área promissora no mundo da Psiquiatria nutricional, porém, mais ensaios clínicos randomizados duplo-cegos controlados por placebo são necessárias para determinar a eficácia no alívio dos sintomas psiquiátricos, bem como a duração ideal do tratamento, dosagem e cepa probiótica para alcançar efeitos positivos nas doenças psiquiátricas.

Sendo assim, até o presente momento, o uso de probióticos não encontra respaldo na literatura, como parte do tratamento de depressão/ansiedade/esquizofrenia e a melhor forma de se "modular' a micorbiota intestinal na população com doenças psiquiátricas é através do estímulo  de:
1) Adoção de uma alimentação rica em fibras prebióticas e com o mínimo de alimentos ultraprocessados ou que tenham impacto negativo na microbiota, isso inclui evitar corantes, edulcorantes, acidulantes. Redução da ingestão de gorduras saturadas, já que alguns trabalhos mostram impacto negativo da variabilidade das cepas. Nos pacientes com intolerância a FODMAPS, iniciar uma dieta low fodmap.
2) Pática regular de atividade física
3) Sono de qualidade e com pelo menos 7 horas de duração. 
4) Menor exposição a disruptores endócrinos, agrotóxicos e substâncias com potencial ação deletéria sobre a nossa microbiota. 
5) Manejo do estresse, já que existe uma relação entre maiores níveis de estresse e alteração na microbiota intestinal. 
6) Manutenção de bons níveis de Vitaminas e minerais, proteínas, carboidratos e lipídios.


Para quem deseja ler mais sobre o assunto, acesse outros textos aqui postados sobre saúde mental:




Bibliografia: 






Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo Goiânia / Joinville
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915
CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O aumento da prevalência de obesidade nas capitais

Em 2006 o Ministério da saúde iniciou uma pesquisa denominada Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico). Ocorre anualmente em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. 

As entrevistas ocorrem via inquérito por telefone, realizado anualmente em amostras da população adulta (>18) residente em domicílios com linha de telefone fixo. Quais temas o Vigitel aborda? 

Os indicadores avaliados pelo Vigitel estão dispostos nos seguintes assuntos: 
  • Tabagismo;
  • Excesso de peso e obesidade;
  • Consumo alimentar;
  • Atividade física;
  • Consumo de bebidas alcoólicas;
  • Condução de veículo motorizado após consumo de qualquer quantidade de bebidas alcoólicas;
  • Autoavaliação do estado de saúde;
  • Prevenção de câncer;
  • Morbidade referida. 
A duração média para responder ao questionário é de 12 minutos. Importante destacar, também, que algumas perguntas realizadas não são diretamente sobre saúde, mas são muito importantes para serem relacionadas com a situação da saúde da população.

No Vigitel de 2020, a prevalência de obesidade nas capitais ficou da seguinte maneira, conforme a figura abaixo.


E o que isso nos fazer refletir ?

Que a obesidade tem se tornado cada vez mais prevalente nas capitais brasileiras. Em 2020, foram registrados 21,5% dos adultos com obesidade, contra 20,3% em 2019. Manaus (24,9%), Cuiabá (24%) e Rio de Janeiro (23,8%) lideram a incidência de obesidade nas capitais. E o que preocupa a ciência é que até 2011, nenhuma capital tinha uma prevalência de obesidade acima de 20%, enquanto em 2020 o Vigitel levantou 16 capitais com prevalência de obesidade acima de 20%. 

Quais fatores estão envolvidos ?

Há quem acredite que isso tenha piorado com a pandemia. Sim, estamos em uma pandemia há 2 anos mas a prevalência já vinha aumentando. A pandemia pode ter exacerbado o que já vinha piorando. E falar de fatores de riscos, gatilhos em obesidade é bem complexo.

Centenas de fatores podem estar relacionados mas na nossa reflexão hoje abordaremos temas pouco discutidos e que geram uma grande contribuição.

A poluição ambiental
O estresse crônico
A violência
O sedentarismo

A princípio esses gatilhos parecem desconectados, mas a medida que se analisa de forma "sociológica" percebemos uma inter-relação entre eles. 

A poluição ambiental engloba tanto a poluição do ar (obviamente maior em capitais) quando poluição do solo, poluição sonora, poluição visual. 

A poluição do ar está relacionada a piora de várias patologias (Alzheimer, doenças pulmonares, cardiovasculares, alérgicas) e também obesidade. Mecanismos ainda não bem elucidados mas acredita-se que seja por disrupção endócrina e/ou exacerbaçao da inflamação subclínica. 

A poluição do solo inclui também a poluição da água. Metais tóxicos, poluentes orgânicos persistentes (POPs), disruptores endócrinos. Ou seja, substâncias que de forma direta ou indireta podem ocasionar doenças, exacerbar outras e com isso alterar a parte endócrina. Tema há décadas negligenciado no Brasil e que na Europa ganha cada vez mais força. 
 
A poluição sonora assim como a poluição visual favorecem uma hiperativação do eixo pituitária-adrenal e com isso elevação crônica e persistente dos níveis de cortisol e noradrenalina. O que de forma indireta poderiam influenciar os adipócitos, desbalanço nos níveis de hormônios relacionados ao apetite (Grelina) e saciedade e gasto energético (leptina). 

O estresse crônico pode ter inúmeros fatores causais:
Trânsito
Desigualdade social
Violência
Apreensão quanto ao futuro
Menor contato com a natureza
Menor tempo disponível para lazer
Alta carga de trabalho
Redução do número de horas de sono

Tudo isso interage e favorecem hiperativação do eixo pituitária-adrenal. Ou seja, elevação crônica do cortisol. 

Combina-se a tudo isso, um maior sedentarismo, influenciado pela violência, distância entre pontos dentro das cidades, transporte público precário e/ou ineficaz, comodidade. 

Os fatores acima ainda facilitam o consumo de alimentos ultraprocessados: cereja do bolo!

Ou seja, os fatores que vem favorecendo maior prevalência da obesidade nas capitais são inúmeros. Enquanto autoridades sanitárias não se atentarem a isso, veremos os índices subirem. Com consequente estrangulamento do sistema público/privado de saúde. 

Autores:
Dr. Frederico Lobo - CRM 13192, RQE 11915 - Médico Nutrólogo
Dra. Edite Magalhães - CRM , RQE - Médica especialista em Clínica Médica
Dr. Leandro Houat - CRM 27920 , RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de Família e comunidade
Revisores:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.

Fontes:

domingo, 20 de junho de 2021

Europa discute disruptores endócrinos

É um caso tão polêmico que agora está nas mãos do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso. Assim, sua conselheira científica, Anne Glover, deverá reunir nos próximos dias todos os cientistas envolvidos em uma grande controvérsia com importantes questões econômicas envolvidas: que posição os Estados-membros devem adotar em relação aos disruptores endócrinos?


Bruxelas deve decidir até o final do ano sobre as medidas destinadas a proteger os europeus dos efeitos dessas substâncias – plastificantes, cosméticos, pesticidas etc – que interferem no sistema hormonal, a exemplo do Bisfenol A, que será proibido definitivamente nas embalagens de alimentos na França em 2015.

A polêmica atingiu uma intensidade inédita nos últimos dias. Certos membros da comunidade científica acusam – veladamente – vários de seus pares de fazerem manobras a favor de interesses industriais, em detrimento da saúde pública.

"A ciência se tornou motivo de guerra"

A rixa começou neste verão com a publicação, em diversas revistas acadêmicas, de um artigo no qual dezoito toxicólogos (professores ou membros de órgãos públicos de pesquisa) criticavam as medidas em discussão em Bruxelas. Restritivas demais para muitas indústrias, estas seriam, segundo os autores, "precauções cientificamente infundadas". Os signatários, liderados pelo toxicólogo Daniel Dietrich (Universidade de Konstanz, Alemanha), contestam, por exemplo, que essas moléculas possam ter consequências nocivas em doses muito baixas.

No entanto, esses efeitos são o foco de inúmeras pesquisas científicas feitas nos últimos quinze anos e são reconhecidos por um relatório publicado conjuntamente em 2012 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Em especial, nos animais, a exposição in utero a algumas dessas moléculas em doses baixíssimas aumenta os riscos de ocorrência de determinadas patologias no decorrer da vida – câncer hormônio-dependente, obesidade, distúrbios neurocomportamentais etc.

O texto dos dezoito pesquisadores imediatamente provocou comoção. E uma suspeita considerável. "O problema das 'intenções dissimuladas' se acentuou, ao mesmo tempo em que aumentou a capacidade da ciência de influenciar na regulamentação dos poluentes e que a pesquisa acadêmica passou a depender cada vez mais do apoio financeiro da indústria", escreveram na revista "Environmental Health" Philippe Grandjean (Harvard Public School of Medicine, University of Southern Denmark) e David Ozonoff (Boston University), professores de saúde ambiental e responsáveis pela publicação. "A ciência se tornou motivo de uma guerra, com a maior parte de suas batalhas ocorrendo nos bastidores."

Nada menos que 18 contratos de consultoria entre 2007 e 2012

Na mesma edição da "Environmental Health", cerca de quarenta toxicólogos e endocrinologistas publicaram uma outra resposta cáustica, apontando que o texto de Daniel Dietrich e de seus coautores é produto de "uma vontade de influenciar nas decisões iminentes da Comissão Europeia". Uma centena de outros cientistas opinaram, em um editorial do último número da revista "Endocrinology", que o texto de Dietrich e de seus coautores "representa a ciência de maneira enganosa."

Acima de tudo, as réplicas dirigidas aos dezoito pesquisadores se indignam com o fato de que estes não divulgaram – como é de praxe nas revistas científicas – seus laços de interesse com as indústrias potencialmente afetadas por uma nova regulamentação. "É isso que fazem os 25 cientistas, dos quais faço parte, que redigiram em 2012 o relatório da OMS e do Pnuma", explica Ake Bergman (Universidade de Estocolmo). "É também o que fizeram todos os signatários – dos quais faço parte – da resposta enviada a Dietrich e seus coautores."

As ligações destes últimos com a indústria por fim vieram a público. No final de setembro, uma pesquisa da agência Environmental Health News (EHN) revelou que 17 dos 18 autores mantinham relações financeiras com "indústrias químicas, farmacêuticas, cosméticas, do tabaco, de pesticidas ou de biotecnologia."

Carta aberta à conselheira científica de Barroso

Alguns deles tiveram seus laboratórios financiados por empresas, outros receberam remunerações pessoais como consultores ou conselheiros científicos. O toxicólogo Wolfgang Dekant (Universidade de Würzburg, Alemanha), por exemplo, assinou, segundo informações reunidas pela EHN, nada menos que dezoito contratos de consultoria entre 2007 e 2012 com empresas cuja identidade ele não divulgou. E a lista não para por aí. Dietrich e seus coautores também estão na iniciativa de uma carta aberta a Anne Glover, assinada por cinquenta outros cientistas. De acordo com uma primeira análise efetuada pela EHN, pelo menos quarenta deles também têm ligações com indústrias.

"As estimativas mais recentes sugerem que quase mil moléculas poderiam ser disruptores endócrinos", explica Grandjean. "Logo, são vários os setores que podem ser implicados." O pesquisador, uma das referências em pesquisa em saúde ambiental, diz não estar surpreso com as colaborações de Dietrich e seus coautores com os meios industriais, mas se espanta com o fato de que "eles aparentemente não colaborem com ONGs ou associações de pacientes."

As zonas cinzentas também se estendem para dentro da Comissão

Dietrich não quis responder ao "Le Monde". Um dos coautores, Wolfgang Dekant, garante que não houve "nenhum envolvimento da indústria, formal ou informal", na iniciativa ou na redação do texto.

As zonas cinzentas se estendem também para dentro da Comissão. A deputada europeia Michèle Rivasi (Europe Ecologie-Les Verts), bem como outros parlamentares, vão endereçar nos próximos dias uma questão por escrito a José Manuel Barroso para exigir a publicação da declaração de interesses de Anne Glover, sua conselheira científica. Esses elementos por enquanto não foram comunicados no site da Comissão.

Em Bruxelas, afirma-se que somente os comissários são obrigados a redigir e tornar pública uma declaração de interesses. Foi explicado ao "Le Monde" que José Manuel Barroso havia escolhido Anne Glover após um "rigoroso processo de recrutamento".

sábado, 6 de junho de 2020

5 de Junho - Dia Mundial do Meio Ambiente - O que você fazer para minimizar impactos ambientais ?


Ontem, 5 de Junho foi comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente e na minha concepção, é impossível ter saúde se não se respeita o meio ambiente.

Somos seres integrados a um ecossistema e qualquer disrupção nessa simbiose pode levar a algum tipo de transtorno, como por exemplo:
  • Cronodisrupção.
  • Poluição do ar, solo, águas.
  • Poluição luminosa (excesso de luminosidade no período noturno).
  • Poluição sonora.
  • Ambientes não-biofilicos (pouco verde)
  • Pouco contato com a natureza.
  • Baixo conforto térmico.
Há 14 anos estudo a inter-relação entre saúde e meio ambiente (essa foi a razão de montar esse blog). Cada dia me convenço mais da força dessa simbiose e que não existe poluição, o que existe é envenenamento. Essa poluição a qual estamos sendo submetidos deveria ser considerada um problema de saúde pública mundial. Entretanto, é negligenciada até mesmo por nos médicos, afinal há poucos estudos sobre disrupção endócrina, carcinogênese oriunda de agrotóxicos e metais tóxicos...doenças neurodegenerativas e sua correlação com poluentes orgânicos persistentes (POPs) e metais tóxicos. Uma das poucas sociedades médicas que estudam esses efeitos é a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), com a campanha sobre Disruptores endócrinos. Além disso lançou um Guia dos Disruptores endócrinos. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) também tem um posicionamento acerca dos agrotóxicos e provável carcinogênese.


E o que podemos fazer para tentar minimizar esse impacto na nossa saúde?
  • Jogue lixo no lixo
  • Separe os lixos e recicle.
  • Ajude a educar e conscientizar próximas gerações.
  • Defenda o meio ambiente (todos os biomas em especial o cerrado, o berço das nossas águas).
  • Dê preferência por uma alimentação mais "limpa".
  • Compre de produtores locais e de preferência orgânicos.
  • Durma bem, afinal sono = qualidade de vida.
  • Não tenha muito tecido adiposo, a cascata que ele gera vai muito além de bioquímica.
  • Pratique atividade física pois ela é adjuvante no nosso processo de destoxificação.
  • Exponha-se ao sol.
  • Tenha contato com a natureza.
  • E lembre-se que tudo está integrado.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Guia dos Disruptores Endócrinos

Foi lançado durante o Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia de 2019, o Guia aos Disruptores Endócrinos em português. 

O guia consiste em uma iniciativa conjunta da Endocrine Society e o IPEN, que é uma rede global composta por 700 organizações não-governamentais. 

A apresentação do Guia foi feita na manhã desta quinta-feira, na conferência Global Health Impacts of Exposure do Tendcrine-Disrupting Chemicals, realizada pela Dra. Michele Andrea La Merril (USA), uma das autoras.

Para que o material fique disponível para todos os sócios, população e imprensa,  Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia liberou o arquivos em PDF para ser baixado gratuitamente: Guia dos Disruptores Endócrinos: https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/ipen-intro-edc-v1_9h-pt-print.pdf

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A indústria do açúcar está matando você! Por Dr. Flavio Melo

Caros leitores,

O texto abaixo é de autoria de um amigo querido, o Dr. Flávio Melo. Apesar de discordar de alguns pontos, no geral a idéia é válida. Entendo a preocupação dele com relação ao maniqueísmo da indústria alimentícia, preocupação com a forma que ela conduz e dita a "ciência". Porém também não posso fechar os olhos para o lado comportamental da restrição ao consumo de açúcar e os seus impactos em alguns pacientes. Hoje li um texto bem interessante sobre o tema, de autoria da nutricionista Nathália Petry, que vale a pena ser lido:

Vamos direto ao ponto: se por um lado acredito que a restrição de qualquer nutriente é prejudicial pois favorece transtornos alimentares (principalmente compulsão alimentar e bulimia), de um outro lado enxergo a visão defendida pelo meu amigo.

A "vilanização" de alimentos não é algo saudável, já que a restrição a qualquer alimento pode alimentar um ciclo que favorece obesidade, sentimento de culpa, sensação de impotência, adoção de dietas mais restritivas. Com isso mais obesidade surge, já que a restrição não tem boa adesão a longo prazo. Entendem que é um ciclo? Que devemos focar em qualidade, quantidade e frequência no consumo de alimentos, nesse caso o açúcar. Mas quando se trata de uma população já doente ou predisposta a tentativa de inocentar o açúcar e carboidratos refinados podem falhar.

Vivemos uma epidemia de obesidade, síndrome metabólica, alterações metabólicas em magros como jamais foi vista na humanidade. A cada dia as crianças estão apresentando mais precocemente alterações metabólicas (Fígado gorduroso, resistência insulínica, hiperglicemia, hipertensão, hiperuricemia). Alterações estas muito improváveis para tal faixa etária. E o que mais assusta é que não são só crianças com obesidade que estão desenvolvendo isso. Cresce diariamente o número de crianças magras.

A gênese dessas alterações é multifatorial. Temos:
1) Padrão dietético: pobre em fibras, pobre em micronutrientes, rico em carboidratos refinados (e isso inclui açúcar).
2) Sedentarismo.
3) Polimorfismos genéticos que favorecem obesidade e transtornos metabólicos.
4) Poluentes ambientais que mimetizam nossos hormônios e que levam alterações metabólicas mesmo sem o consumo excessivo de açúcar (disruptores endócrinos), metais tóxicos, agrotóxicos.
5) Aspectos comportamentais: carência, solidão, insegurança, medo, sentimento de inferioridade, incompletude, ansiedade, depressão, transtorno bipolar.
6) Aspectos sociais: carga alta de trabalho, diminuição do tempo de lazer e tempo disponível para atividade física.

O fato é: como "liberar" só um pouquinho de açúcar diariamente para quem já apresenta alterações orgânicas que predispõe a diabetes e doenças metabólicas? Estamos sendo enganados pela indústria alimentícia com a idéia de que "um pouco pode" ou "não há correlação entre açúcar e obesidade/doenças metabólicas" ?

Essas são minhas considerações sobre o texto abaixo.

Dr. Frederico Lobo - Médico - CRM-GO 13192

A indústria do açúcar está matando você! Por Dr. Flavio Melo

Se você veio até aqui eu recomendaria que fosse até o final. Porque quero mostrar passo a passo a estratégia que a indústria alimentícia usa para enganar as pessoas e as empurrar para o abismo, de uma forma tão subliminar e sorrateira, que quando você perceber, já estará ostentando um stent no coração e uma caixa de remédios do tamanho de uma caixa de ferramentas.
Não é preciso ser nenhum especialista na área da saúde para enxergar que estamos vivendo uma epidemia crescente de obesidade, diabetes e todas as doenças correlatas no mundo inteiro e que o problema central é o que estamos comendo. E parece que escolher o que comer tem ficado cada vez mais difícil, porque cada dia pipoca na imprensa um estudo que nega o benefício de um alimento antes beatificado e outro que o recomenda como cura de todos os males.
Mas se tem algo que quase todos os profissionais de saúde e o público geral concordam é que estamos comendo açúcar, sal e gordura demais, nos alimentos ultraprocessados e que esse é um dos pontos centrais nessa epidemia de diabesidade, que é um termo novo e quase sempre indissociável.
Para a indústria alimentícia, o açúcar, o milho, o trigo e a soja são as minas de ouro inesgotáveis e o consumo de açúcar no mundo só cresce, ao mesmo tempo que aumenta a incidência de doenças cardíacas, diabetes e obesidade. Comemos cada vez mais açúcar, mas não porque estamos usando mais açúcar no café, chá ou na salada de frutas e sim porque o açúcar é adicionado e está escondido em cerca de 75% dos alimentos industrilizados e está em quantidades anormais em bebidas adoçadas e refrigerantes.
Não tem como fugir do açúcar, ele está sorrateiramente presente, em quantidades brutais, mesmo alimentos impensáveis, como molhos salgados, salsichas, bacon, bolachas, cereais e laticínios. A indústria descobriu maneiras de potencializar o consumo, através do que ficou conhecido como bliss point, que é a concentração otimizada de açúcar, sal e gordura no alimento industrializado, que estimula a sua palatabilidade ao ponto máximo. Não à toa, o marketing diz: é impossível comer um só!
Os problemas associados com essa estratégia fabril de alimentação e confinamento constante dos seres humanos, estão em todas as casas do mundo. Em praticamente todos os países, as taxas de sobrepeso, obesidade e diabetes estão crescendo de maneira exponencial e os custos dessas doenças no sistema de saúde só aumenta. Há especialistas que estimam a quebra do sistema de saúde americano em 2030, caso a população continue adoecendo no ritmo atual (75% com sobrepeso/obesidade e 30% diabéticos).
Se eu pegar os meus livros do tempo da faculdade, o diabetes tinha duas formas: o diabetes tipo 1, ou infanto juvenil, e o diabetes tipo 2, do adulto. Hoje, temos crianças de 6 anos de idade com diabetes tipo 2 e pela primeira vez na história recente do mundo, há possibilidade de que a atual geração viva menos que seus pais.
E não há dúvida que o chefe dessa quadrilha é o açúcar escondido. E que esse bandido vai te matar.

A reação ao redor do mundo.

A reação é crescente no mundo, não há mais como enfrentar o problema sem recomendar a diminuição do consumo do açúcar refinado/adicionado/escondido e dos alimentos ultraprocessados entupidos com ele, especialmente nas bebidas adoçadas, como refrigerantes, sucos e leites. Mas a influência da industria  e suas estratégias de publicidade e incentivo ao consumo são tão subliminares, que os países que estão tendo sucesso no combate à essa questão, só o conseguem banindo a publicidade infantil dos alimentos ultraprocessados e aumentando os impostos dos refrigerantes, a principal fonte de açúcar da dieta.
A industria bombardeia as crianças todos os dias.
A indústria convence cientistas de renome a participar de estudos de qualidade duvidosa e os faz espermer e escamotear números para enganar os jornalistas e impor suas manchetes. A imprensa é tomada pela informação duvidosa e quem a refuta, corre o risco de ser perseguido, como aconteceu na inglaterra com o cientista John Yudkin nos anos 70.
Essa semana, foi publicado um estudo em dos um periódicos médicos mais respeitados do mundo, o JAMA, jornal da associação americana de medicina, onde os autores conseguiram demonstrar, com acesso aos documentos internos da indústria do açúcar dos Estados Unidos, como sua influência oculta e seu financiamento da ciência, colocou sob o açúcar uma aura de anjo e tornou as gorduras as culpadas pelas doenças modernas.
No Brasil, nada disso é diferente e dia desses, me deparei no Facebook com uma postagem onde era exaltado o consumo “consciente” do açúcar. A luz vermelha acendeu em minha mente e já conhecendo as artimanhas da indústria, em pouco tempo já tinha desvendado o mistério da campanha Doce Equilíbrio.

O Raio-X do inimigo.

A partir de agora irei dissecar ponto a ponto a campanha e seu modo de fazer propaganda do demônio, para que ele pareça um anjo de candura e te empurre para o abismo do pré diabetes, depois diabetes, depois infarto e depois uma morte lenta, dolorosa e sofrida.
Matéria

PASSO 1

Use uma manchete que chame a atenção,  mesmo que  não corresponda aos verdadeiros dados da pesquisa. No final, vou mostrar porque essa manchete só serve para uma coisa: te enganar. A tática da indústria é espremer os dados, generalizar, para depois que for desmascarada, dizer que não é bem assim ou questionar a reputação de quem a contesta.
Matéria dois

PASSO 2

Use o nome de um prestigiado e sério instituto. A ver se há algum tipo de aporte financeiro à instituição, o que no mínimo já colocaria em questão os possíeis aspectos éticos e os conflitos de interesse do estudo e dos autores, que não estão claros.
Matéria 3

PASSO 3

 Já que não é possível diminuir a balança para um menor entrada de comida no seu corpo, a nova moda é colocar a culpa na sua falta de atividade física. Apesar da atividade física ser essencial para uma boa saúde, os estudos que avaliam o aumento dela, isoladamente, para perda de peso,  sem mudança alimentar, atestam sua falta de eficácia à longo prazo. Sem modificar a alimentação e consequentemente sem DIMINUIR o açúcar adicionado nos alimentos ultraprocessados na dieta, quase ninguém consegue recuperar a saúde e perder peso.
Parte 4

PASSO 4

 A afirmação do colega endocrinologista é perfeita, o sedentarismo pode ser considerado o novo tabagismo, porém, como coloquei anteriormente, querer colocar a culpa na sua preguiça, é esquecer que o açúcar adicionado, que está presente em 75% dos alimentos industrializados e CAUSA inatividade física, por alterações no centro executor/motor do cérebro, literalmente te prendendo no sofá, é ocultar o principal.
Você não consegue se exercitar porque é um desgraçado preguiçoso e sim porque a tua alimentação industrial te torna assim.
No final do texto, com os dados completos da pesquisa, mostrarei, matematicamente que a população do estudo é uma ínfima parte do conjunto da população brasileira, portanto o estudo não representa o indivíduo comum, como a manchete quer induzir você a concluir.
 Parte 5

PASSO 5

Obviamente, estamos carecas de saber que a obesidade é mutifatorial. Mas também é óbvio que estamos vivendo uma epidemia mundial de diabesidade e os estudos não patrocinados pela indústria, identificam no açúcar adicionado, consumido junto aos alimentos ultraprocessados, especialmente nas bebidas adoçadas, a causa de um ciclo vicioso de fome infinita (você sente isso), a desregulação metabólica e hormonal  basal, que leva à inflamação e resistência à insulina, ambas raízes das doenças metabólicas modernas.
Vou aqui entrar em alguns detalhes bioquímicos para você entender  que a afirmação acima que a sacarose não aumenta mais a glicemia do que outros carboidratos com quantidade equivalente é completamente irrelevante.
O açúcar refinado/adicionado/escondido tem calorias vazias, ou seja, não acrescenta absolutamente nada do ponto de vista nutricional para o indivíduo. Na verdade, açúcar não pode ser considerado comida, porque a definicação técnica de comida, segundo o dicionário Medical Free Dictionary, é: “um material que contém nutrientes essenciais, que são assimilados pelo organismo para produzir energia, estimular o crescimento e manter a vida”.
Acontece que para que o açúcar refinado/adicionado (sacarose tem uma molécula de glicose e uma de frutose ezero vitaminas ) produza energia, ele retira energia e nutrientes do organismo, tanto dos alimentos, quanto das reservas do próprio corpo. Para metabolização da glicose, o corpo necessita de vitaminas do complexo B, como a riboflavina, tiamina e niacina e além disso libera insulina em quantidades crescentes quanto maior o consumo, que além de causar acúmulo de gordura, causa fome. E fundamental, a glicose retira magnésio do corpo, pois o combustível celular, o ATP é uma molécula magnesiaa e para fazer o ATP com a glicose, o corpo necessita também de magnésio.
Para a metabolização da frutose no fígado é necessário o fosfato que é proveninente do ATP, a reserva de combustível das mitocôndrias. Então, para que a frutose gere energia, ela ocasiona um diminuição de energia celular. Além disso, o excesso de frutose, fato incontestável da alimentação com ultraprocessados e bebidas adoçadas, leva à estresse oxidativo, aumento do ácido úrico e inflamação, consequentemente dano à mitocôndria, nossa geradora de energia da célula, aos rins e aos vasos sanguíneos.
Resumindo: o açúcar adicionado/refinado só serve para te deixar um caco e você não consegue controlar o seu consumo.
Então, para um diabético, obviamente que a sacarose não aumenta a glicemia em quantidades equivalentes de glicose, simplesmente porque a sacarose tem frutose e glicose e a glicose é pura glicose! Mas a sacarose, pelo conteúdo de frutose, causa estresse metabólico e inflamação, aumenta a pressão arterial, o ácido úrico e como a própria indústria já propaga, é impossível comer uma só, você não consegue se controlar e com a queda de energia celular, o indivíduo precisa se reabastecer constantemente e o ciclo vicioso se fecha. Você não para de comer!
Parte 6

PASSO 6

Os dados da pesquisa tem um grau de evidência sofrível. Qualquer estudante secundarista poderia fazer esse estudo e este seria recusado por qualquer periódico sério do mundo. As pessoas sequer se lembram à noite do que comeram no café da manhã, imagine um questionário 24 horas depois. Além disso, como já disse, o problema não parece ser o açúcar do açucareiro, aquele que adoça o cafezinho e o chá, mas essencialmente o consumo do açúcar que está escondido nos alimentos processados e especialmente nos refrigerantes e bebidas adoçadas, e que você sequer tem noção que está consumindo.
Parte 7

PASSO 7

O Dr. Magnoni faz uma afirmação perfeita, se não estivéssemos lidando com um ingrediente que vicia! Isso, vicia! Colocar no rótulo da cerveja, beba com moderação, resolve? Será que dizer para o drogado, cheire cocaína com moderação, resolve? Com o açúcar vale a mesma máxima.
Vou traduzir aqui, ipsiliteris, a conclusão de um estudo publicado em Julho desse ano, em uma das mais prestigiadas revistas sobre diabetes do mundo, a Diabetes:
“Os achados de Jastreboff et al., que a glicose e frutose estimula o sistema estriatal mais em adolescentes com obesidade que em indivíduos magros, indicam que essas moléculas tem potencial adictivo e de habituação. Em vários casos a sacarose é consumida em bebidas adoçadas com açúcar que também contém cafeína (refrigerantes, cafezinho, por exemplo), uma droga que estimula o sistema nervoso central. Será de grande interesse descobrir se a cafeína adicionada com a glicose ou frutose, produz um efeito ainda mais profundo no sistema estriatal de adolescentes com obesidade.”
Como a maioria da população brasileira (63%), está acima de peso ou obesa, não precisa dizer onde vai dar esse papo da indústria de moderação com uma droga com potencial viciante como o açúcar. Não há como educar um drogado. A única maneira de evitar o consumo é fazer campanha CONTRA, TAXAR os alimentos que contém a substância para diminuição do consumo e impedir a publicidade infantil. Isso lembra você da campanha anti tabaco, não?
No começo, os especialistas isentões e os arautos da indústria diziam:
“Fume com moderação, fume com filtro, não deixe de aproveitar o charme do cigarro, ele é parte da nossa cultura.”
Deu no que deu. Com o açúcar, a mesma coisa.
Parte 7.1
Parece que ninguém toma refrigerante, suco de caixinha e leite com achocolatado, não? Será que havia uma pergunta específica sobre refrigerantes, já que esses são os principais responsáveis pelo consumo de açúcar na alimentação ocidental? Será que as pessoas beberiam refrigerantes se soubessem que há em uma lata toda a quantidade diária que uma criança, adolescente ou mulher deve consumir?
Parte 8

PASSO 8

Não é preciso ser nenhum gênio ou estudioso da saúde para saber que o açúcar faz parte da rotina do brasileiro. Ele está cada vez mais gordo, doente e diabético, hipertenso, com ácido úrico alto e colocando stents cada vez mais cedo exatamente por esse motivo. O açúcar e seus companheiros, sal e gordura trans, faz de você um glutão doente, para alegria de alguns mercadores da doença e lucros cada vez maiores da indústria da comida de mentira. E por último, você entendeu por tudo que eu escrevi, que não há possibilidade de controlar o consumo do açúcar refinado/adicionado consumindo açúcar. Você deve comer carboidratos, mas não precisa de forma alguma consumir açúcar.
Frequentemente, a frase mais usada pelos defensores do açúcar é que a glicose é o combustível essencial das células e eles te confundem porque a glicose, além de não necessitar ser provida pelo açúcar, pode ser produzida pelo organismo por diversas formas e não se constituiu em um nutriente essencial e indispensável da DIETA, mas sim das células.
Crianças com epilepsia de difícil controle são tratados com dieta cetogênica, que contém praticamentezero açúcar/glicose e além de não morrerem, muitos conseguem diminuir de forma significativa suas crises convulsivas, porque o seu cérebro usa o substrato da gordura para produzir corpos cetônicos, que fornecem 75% do combustível às células e as proteínas, através de um processo chamado gliconeogênese transformam aminoácidos em glicose. Os triglicerídeos, forma mais comum de armazenamento da gordura no organismo, também fornecem glicerol para as células.
De acordo com o  Conselho de Nutrição do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, o limite mínimo diário para ingestão de carboidratos compatível com a vida é aparentemente zero, desde que quantidades adequadas de proteínas e gorduras sejam consumidas. Resumo: qualquer um vive sem açúcar.
Não estou aqui pregando contra os carboidratos e dizendo que você não deve consumi-los. Populações do mundo com modo de vida não industrializado, como os Kitavas da Indonésia, consomem um dieta de alto carboidrato e não tem nenhuma das doenças modernas. Porém, estes não consomem açúcar adicionado/refinado e como você já entendeu, uma coisa é glicose, outra é frutose, outra é a presença destes na forma de sacarose ou isoladamente em alimentos inteiros, naturais, com fibras e vitaminas, como as frutas e outra é colocado em quantidades sobre humanas, na forma de xarope de milho de alta frutose em alimentos cheios de outros elementos nocivos e cujo consumo, você não consegue controlar.

E eles ainda insistiram em mais uma pesquisa furada…

Parte 09
Dificilmente alguém prestara atenção nisso, mas duas coisas me chamaram a atenção:
– A PESQUISA FOI ATRAVÉS DE UMA ENTREVISTA, OU SEJA, DO PONTO DE VISTA CIENTÍFICO E ESTATÍSTICO, TEM RELEVÂNCIA EXTREMAMENTE BAIXA.
– FAZENDO CONTAS BÁSICAS, VOCÊ ENTENDE QUE A MANCHETE FOI ENGANOSA. DOS 1.199 PACIENTES ENTREVISTADOS, 71% (851) CONSOMEM AÇÚCAR HABITUALMENTE, 30% (400) FAZEM ATIVIDADES FÍSICAS E DESTES, 67% (268) CONSOMEM AÇÚCAR. DOS 268 QUE CONSOMEM AÇÚCAR HABITUALMENTE E PRATICAM ATIVIDADE FÍSICA, 195 TEM O PESO NORMAL.
Então, do grupo estudado, somente 15%, consome açúcar habitualmente, pratica atividade física e tem peso normal. Se a pesquisa era para avaliar o efeito do consumo do açúcar em relação à indivíduos fisicamente ativos e com peso normal, esse grupo, no mínimo, deveria ter feito teste de tolerância à glicose, pois sabemos que independentemente do peso, o açúcar adicionado/refinado, em excesso, pode causar acúmulo de gordura abdominal (barriga de chope), inflamação e alterações metabólicas.
Além disso, vê-se que da população pesquisada, a grande maioria (1004), consome açúcar habitualmente, não se exercita e não está com peso normal, número até superior de indivíduos com sobrepeso e obesidade do que a população geral.  E na hora de fazer a manchete, além de não mencionar isso, dá a entender pra você que 73% da população geral consome açúcar e tem peso normal, mas na verdade é do grupo de pesquisados, que consomem açúcar habitualmente E fazem atividade física, tem peso normal, o que não necessariamente significa que tem saúde.
O pior é que pelo jeito a pesquisa não foi publicada em nenhum periódico de relevância, e não temos acesso aos dados completos, inclusive uma das informações mais importantes: qual o percentual da população do estudo que consome açúcar habitualmente e está acima do peso?
Porque aí, talvez a manchete mais honesta fosse: a maioria da população que consume açúcar habitualmente está acima do peso. E provavelmente, pelos dados relevantes da literatura, uma das coisas que precisamos orientar a população a fazer é diminuir o consumo dele e quem deve ser  primariamente responsável por isso é a indústria!
Resumindo, mágica com números para o interesse exclusivo de confundir, causando em você uma falsa sensação de segurança, induzindo a continuidade de consumo de algo que vicia e causa, na maioria das pessoas do mundo atual, comportamento de habituação, que está na maioria dos alimentos industriais e que você não consegue controlar a quantidade, enfim, te adoecendo e matando aos poucos.

Por fim, as duas cerejas do bolo…

parte 10
No site da campanha, tem uma opinião do especialista, onde o educador físico Márcio Atala, escreve o seguinte:“Temos que pensar que é possível consumir uma quantidade de açúcar, mesmo que acima da recomendada pela OMS, mas ainda fazer uma alimentação balanceada (é ou não é inacreditável?!) e ser uma pessoa saudável.”
Creio que não preciso comentar, por tudo o que já escrevi acima, você entende que essa afirmação é o mesmo que te convencer a pular de avião sem paraquedas pelo prazer de voar.
Mas aí, ficou a questão final: tudo tem cheiro de indústria, tem pegadas da industria, mas cadê a indústria do açúcar?
Aqui
Está lá, em um local quase imperceptível e inalcançável do site, sorrateiramente se escondendo, como o seu açúcar escondido, esperando que você caia na balela, para lentamente se adoecer e matar.
REFERÊNCIAS:
BRAY, GEORGE A. “IS SUGAR ADDICTIVE?.” DIABETES 65.7 (2016): 1797-1799.
BRINTON, ELIOT A. “THE TIME HAS COME TO FLAG AND REDUCE EXCESS FRUCTOSE INTAKE.” ATHEROSCLEROSIS (2016).
DINICOLANTONIO, JAMES J., AND AMY BERGER. “ADDED SUGARS DRIVE NUTRIENT AND ENERGY DEFICIT IN OBESITY: A NEW PARADIGM.” OPEN HEART 3.2 (2016): E000469.
JASTREBOFF, ANIA M., ET AL. “ALTERED BRAIN RESPONSE TO DRINKING GLUCOSE AND FRUCTOSE IN OBESE ADOLESCENTS.” DIABETES (2016): DB151216.
KEARNS CE, SCHMIDT LA, GLANTZ SA. SUGAR INDUSTRY AND CORONARY HEART DISEASE RESEARCH: A HISTORICAL ANALYSIS OF INTERNAL INDUSTRY DOCUMENTS. JAMA INTERN MED.PUBLISHED ONLINE SEPTEMBER 12, 2016.
LUSTIG, ROBERT H. “SICKENINGLY SWEET: DOES SUGAR CAUSE TYPE 2 DIABETES? YES.” CANADIAN JOURNAL OF DIABETES (2016).
MALIK, VASANTI S., ET AL. “SUGAR-SWEETENED BEVERAGES AND WEIGHT GAIN IN CHILDREN AND ADULTS: A SYSTEMATIC REVIEW AND META-ANALYSIS.” THE AMERICAN JOURNAL OF CLINICAL NUTRITION 98.4 (2013): 1084-1102.
PERLMUTTER, RICHARD. “LABELING SOLID FATS AND ADDED SUGARS AS EMPTY CALORIES.”JOURNAL OF THE AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION 111.2 (2011): 222-223.
REEDY, JILL, AND SUSAN M. KREBS-SMITH. “DIETARY SOURCES OF ENERGY, SOLID FATS, AND ADDED SUGARS AMONG CHILDREN AND ADOLESCENTS IN THE UNITED STATES.”JOURNAL OF THE AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION 110.10 (2010): 1477-1484.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. “GUIDELINE: SUGARS INTAKE FOR ADULTS AND CHILDREN.” (2015).
Autor: Dr. Flávio Melo - Médico pediatra, escritor e autor do site http://www.pediatradofuturo.com.br/.

Fonte: http://oindigesto.com/a-industria-do-acucar-esta-matando-voce/