quinta-feira, 2 de maio de 2024

Comitê do Senado americano investiga custos de Ozempic e Wegovy

O senador Bernie Sanders está pressionando a farmacêutica Novo Nordisk para obter detalhes sobre os preços dos populares medicamentos para diabetes e perda de peso.

Um comitê do Senado está investigando os preços que a Novo Nordisk cobra por seus medicamentos de grande sucesso, Ozempic e Wegovy, que são altamente eficazes no tratamento de diabetes e obesidade, mas têm preços altos.

O senador Bernie Sanders, de Vermont, presidente do Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões do Senado, disse em uma entrevista que os preços devem “ser reduzidos para que os consumidores o obtenham e para que os governos não faliram fornecendo-o”. 

O preço de tabela do Ozempic, que é autorizado para diabetes tipo 2, é de cerca de US$ 968 por pacote. Wegovy, que é aprovado para perda de peso e para reduzir o risco de problemas cardíacos em alguns adultos com obesidade, custa US$ 1.349,02 por pacote.

Numa carta enviada quarta-feira a Lars Fruergaard Jorgensen, presidente-executivo da Novo Nordisk, Sanders escreveu que o comitê estava solicitando comunicações internas sobre os preços destes medicamentos nos Estados Unidos, que são mais elevados do que o custo noutros países. O comitê também solicitou informações sobre a razão pela qual a empresa cobra mais pelo Wegovy quando os dois medicamentos contêm o mesmo composto, a semaglutida, e perguntou se a Novo Nordisk iria “reduzir substancialmente” os preços de ambos os medicamentos. Sanders solicitou uma resposta até 8 de maio.

Um porta-voz da Novo Nordisk escreveu em um comunicado que a empresa concorda “que o acesso a esses tratamentos importantes é essencial para os pacientes no Medicare, Medicaid e nos mercados comerciais”, mas acrescentou que “é fácil simplificar demais a ciência que vai para entender a doença e desenvolver e produzir novos tratamentos, bem como os meandros dos sistemas de saúde dos EUA e globais”. O porta-voz disse que o Novo Nordisk “permanece comprometido em trabalhar com os formuladores de políticas para avançar soluções para apoiar o acesso e a acessibilidade para todos os pacientes”.

O Sr. Sanders disse que também pretendia olhar para Eli Lilly, que faz os medicamentos rivais Mounjaro e Zepbound.

“Não estamos apenas escolhendo o Novo Nordisk,” disse ele. “Este é um problema geral.”

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças estimam que quase 42% dos adultos americanos têm obesidade e que mais de 11% da população tem diabetes. "Você pensa apenas no grande número de pessoas que poderiam ser elegíveis para tomar esses produtos, e isso começa a realmente conjurar sua mente pensando em como pagar por isso", disse Stacie Dusetzina, especialista em políticas de saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Vanderbilt. Esses custos são agravados pelo fato de que os pacientes podem precisar tomar esses medicamentos pelo resto de suas vidas, acrescentou ela.

Muitos dos principais planos de seguro cobrem os medicamentos, mas a extensão da cobertura varia muito. Como os planos de saúde e os empregadores têm lutado para acompanhar o custo, alguns restringiram quem pode acessar esses medicamentos ou encerraram a cobertura. "Nós já passamos do ponto de ruptura", disse Lindsay Allen, economista de saúde da Northwestern Medicine.

Os planos estaduais do Medicaid não são necessários para cobrir tratamentos anti-obesidade; muitos cobrem Ozempic para diabetes. Os planos da Parte D do Medicare não cobrem medicamentos apenas para perda de peso, embora esses planos possam cobrir Ozempic para diabetes e Wegovy quando é usado para tratar problemas cardiovasculares.

Essa cobertura de retalhos e o alto custo dos medicamentos deixaram muitos pacientes incapazes de acessá-los.

“Nenhuma droga, não importa o quão grande seja, vale qualquer coisa se as pessoas não puderem pagar”, disse Sanders.

Especialistas disseram que esperavam que os preços caíssem à medida que a nova concorrência chegasse ao mercado. Mas a Dra. Allen disse que estava cética de que uma investigação reduziria os preços rapidamente. “Agora não é o momento em que nenhum desses fabricantes vai dizer: 'Ei, pela bondade de nossos corações, vamos em frente e reduzir esses custos.”

Dani Blum é repórter de saúde do The Times. Mais sobre Dani Blum

Salada 14: Salada de Quinoa com frango dourado

A salada de hoje tem um ingrediente especial, a Quinoa ou Quinua, Kinua. 

A quinoa é um pequeno grão que tem ganhado grande destaque na alimentação contemporânea devido às suas propriedades nutricionais. Originária da região dos Andes, considerado por alguns um superalimento, consiste em uma fonte excepcional de proteínas completas, o que significa que contém todos os nove aminoácidos essenciais que o corpo humano necessita para funcionar adequadamente. Além disso, é rico em fibras dietéticas, vitaminas e minerais, incluindo ferro, magnésio e manganês, contribuindo para uma dieta equilibrada e saudável. De acordo com a tabela TACO em 4 colheres de sopa cheia de Quinoa temos: 
Calorias: 112kcal
Proteína: 4,4g
Lipídios: 1,92g, sendo a maior parte composto por ácidos graxos mono e poliinsaturados
Fibras: 3g
Ferro: 1,5mg
Magnésio: 64mg
Manganês: 0,64mg
Zinco: 1,08mg

Uma das características mais notáveis da quinoa é sua versatilidade na culinária. Ela pode ser cozida e consumida sozinha como acompanhamento, adicionada a saladas, sopas, guisados e até mesmo transformada em farinha para a produção de pães, bolos e outros produtos assados. Sua textura leve e sabor suave tornam-na uma opção ideal para substituir grãos tradicionais como arroz ou trigo em diversas receitas, oferecendo um perfil nutricional superior.

Além de ser uma excelente fonte de nutrientes, a quinoa também é naturalmente livre de glúten, tornando-se uma alternativa segura para pessoas com intolerância ao glúten ou doença celíaca. Sua capacidade de fornecer uma fonte de carboidratos de absorção mais lenta, juntamente com proteínas e fibras, a torna uma escolha popular entre aqueles que buscam controlar os níveis de açúcar no sangue e manter uma energia sustentada ao longo do dia.

Em resumo, a quinoa não só oferece uma ampla gama de nutrientes essenciais, mas também se destaca por sua versatilidade na culinária e pela sua adequação para diversas restrições alimentares. Incorporar essa pequena semente em sua dieta pode contribuir significativamente para uma alimentação mais saudável e balanceada. Então a receita de hoje é uma salada com frango e grão de bico. Se você não consome carne, pode fazer sem o frango, porém, sugiro aumentar a quantidade de grão de bico e quinoa, para a refeição ficar mais protéica.

Então bora comer salada?

Ingredientes:
10 ramos de rúcula 
1 xícara de quinoa vermelha
1 xícara de grão-de-bico deixado de molho em 2 xícaras de água por 12 horas com gotas de limão
2 cenouras fatiada em cubinhos
1 colher de sopa de gengibre ralado
100g de tomate cereja cortado ao meio
200g peito de frango 
Na hora de servir adicione folhas de rúcula fresca e misture com o molho delícia.
 
Ingredientes do molho 
2 col de sopa de azeite extra-virgem
1 colher de chá de mostarda dijon
Sumo de 2 limões tahiti ou siciliano
Sal a gosto
Pimenta do reino

Ingredientes para o frango
2 colheres de sopa de azeite
Páprica a gosto
Orégano a gosto
1 cebola cortada em cubinhos pequenos
1 dente de alho amassado

Modo de fazer:
Os 2 ingredientes mais "problemáticos" são a Quinoa vermelha e o grão de bico, devido o tempo de cozimento. Então aqui vão algumas dicas.
Antes de colocar a quinoa na panela, é importante lavá-la bem, para retirar a resina que recobre os grãos. Se não remover, está sujeito a ficar um gosto amargo após o cozimento. Então lave em água corrente e vá esfregando os grãos para limpar ao máximo. 
Depois de lavada, deixe-a de molho por 30 minutos. Enquanto isso lave o grão-de-bico em água corrente e depois coloque para cozinhar em 1 panela com 2 xícaras de água e uma pitada de sal, durante 30 minutos. É importante ir removendo a espuma que formará e caso ele não cozinhe por completo, vá acrescentando mais água. Depois de cozido, lave-o em água fria e reserve. 

Após deixar a quinoa de molho, lave em água corrente e aperte os grãos contra uma peneira, para iniciarmos a fase de tosta. Coloque os grãos que foram lavados em uma panela e dê uma leve tostada, até surgir um queiro que lembra amêndoa. Isso ajudará a retirar todo o resto de água do grão e com isso ficar mais gostoso. Fique atento para não deixar o grão queimar e sabotar todo o resto da salada. 

Em seguida, colocarmos em uma panela a proporção 1 xícara e meia de água para a quantidade de Quinoa (1 xícara). Isso garante que ela não fique muito empapada parecendo um risotto ou quinotto como chamam. Agora é só adicionar sal a gosto e deixar a panela tampada. Verificando se a água ja secou. Após secar, desligue o fogo e deixe a panela. O tempo de cozimento é de cerca de 15 a 20 minutos. Deixe os grãos descansarem por mais 10 minutos para absorverem um pouco mais de água e ficarem macios. Reserve junto com o grão de bico.

Preparo do frango 
Corte o peito em fatias finas semelhante a bife. Tempere com sal, páprica, alho amassado. orégano e deixe descansar por 5 minutos para absorver o tempero. Aproveite para furar os bifes, assim absorve mais o tempero.
Depois esquente a frigideira e quando estiver bem quente, coloque os bifes, sem colocar o azeite. Espere selar os dois lados do bife e só depois coloque o azeite, parar dar cor ao frango. Após grelhar, separe os bifes e corte em tiras finas, para assimilar o molho da salada.

Preparo da cenoura:
Os cubinhos de cenoura devem ser dourados com o gengibre, na mesma frigideira que fez o frango. Misture e cozinhe até a cenoura ficar macia. 

Montando a salada
Coloque em um recipiente fundo: quinoa, grão de bico, tomates cereja cortado ao meio, filé de frango em tiras. Misture e depois despeje o molho feito da seguinte forma:
Em um recipiente coloque as 2 colheres de sopa de azeite extra-virgem com 1 colher de chá de mostarda dijon, o sumo dos  2 limões, sal e pimenta do reino. O segredo para emulsionar é mexer com um fuê.
Misture o molho com a quinoa, grão-de-bico, frango, cenoura. Após o molho ficar incorporado aos ingredientes, coloque as folhas de rúcula. Não coloque a rúcula antes, pois ela ficará mole e quente. O tomate corte antes, tire as sementes para não deixar a salada muito aguada.

Essa salada pode ser utilizada durante 4 dias, mas a dica que dou é: Quinoa, Grão de bico, Frango e cenoura podem ser armazenados juntos. Só acrescente o molho e a rúcula/tomate no dia. O limão pode ficar amargo, então sugiro que o molho seja feito toda vez que for comer a salada. 

Fontes: 

Para quem ainda não leu os posts publicados:

Introdução à salada: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada.html

Princípios básicos da salada: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada-post-1-principios.html

Salada 1: Berinjela com castanha do Pará (ou castanha do Brasil), uva-passa e hortelã: 

https://www.nutrologogoiania.com.br/salada-1-berinjela-com-castanha-do-para-ou-castanha-do-brasil-uva-passa-e-hortela

Salada 2: Salada de inverno de abacate com frango cítrico: 

http://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-2-salada-de-inverno-de-abacate.html?m=0

Salada 3: Salada de inverno de rúcula: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-3-salada-de-inverno-de-rucula.html

Salada 4: Salada com legumes assados: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/07/salada-4-salada-de-legumes-assados.html

Salada 5: Salada de Picles de pepino com molho de alho:

 https://www.ecologiamedica.net/2023/04/salada-5-salada-de-picles-de-pepino-com.html

Salada 6: Salada vegana de lentilha crocante: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-6-salada-vegana-de-lentilha.html

Salada 7: Salada cítrica de grão de bico: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-7-salada-de-grao-de-bico-citrica.html

Salada 8: Salada de frango com molho pesto de abacate: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/08/salada-8-salada-de-frango-com-molho-de.html

Salada 9: Salada de berinjela com passas e amêndoas: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-9-salada-de-berinjela-com-passas.html?m=0

Salada 10: Salada com molho homus

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-10-salada-com-molho-homus.html

Salada 11: Salada de atum crocante: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/12/salada-11-salada-crocante-de-atum.html

Salada 12: Trigo cozido com especiarias

https://www.ecologiamedica.net/2024/02/salada-12-trigo-cozido-com-especiarias.html

Salada 13: Salada de Pequi com molho de mostarda e mel

https://www.ecologiamedica.net/2024/04/salada-13-salada-de-pequi-ao-molho-de.html

Salada 14: Salada de Quinoa com frango dourado

https://www.ecologiamedica.net/2024/05/salada-14-salada-de-quinoa-com-frango.html

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Frutas, verduras e legumes da época: Maio

 


Por que consumir alimentos da safra? Existem vantagens?

Motivo 1: Se está na safra, provavelmente o preço está menor. Mais economia para o seu bolso.

Motivo 2: Tendem a ter maior densidade nutricional, a quantidade de nutrientes, em especial antioxidantes é maior, visto que, utiliza-se menos agrotóxicos e o vegetal precisa se adaptar a situações inóspitas (pragas, calor, frio, umidade, radiação solar, ventos). Ou seja, ele produz mais "defesas", nesse caso os polifenóis, que são antixodantes. Os alimentos da safra são colhidos no momento ideal de maturação, o que significa que estão no auge do seu sabor, textura e valor nutricional. Consumí-los garante que você esteja recebendo produtos frescos e de melhor qualidade.

Motivo 3: Safra = maior abundância. Provavelmente terá menos agrotóxicos (eu disse menos, não que não tenham). Se a está na safra, naturalmente naquela época do ano aquele alimento desenvolve mais facilmente. Não sendo necessário uso de agrotóxicos ou caso o agricultor utilize, a quantidade tende a ser menor. Menos agrotóxico, menos veneno. Em breve o Ministério da saúde publicará um guia sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Tema totalmente negligenciado na Medicina. 

Motivo 4: Os vegetais na safra são encontrados mais facilmente nas feiras e mercados. O Brasil é um país vasto e diversificado, com diferentes regiões climáticas que possibilitam o cultivo de uma grande variedade de alimentos ao longo do ano. Consumir alimentos da safra permite que você experimente uma ampla gama de frutas, legumes e verduras, aproveitando a diversidade da culinária brasileira.

Motivo 5: Sustentabilidade e apoio ao agricultores locais.  Consumir os alimentos da safra vigente é um ato de sustentabilidade, pois respeita o tempo da natureza e economiza energia e recursos extras de forma intensiva ou no transporte por diferentes distâncias. Escolher alimentos da safra muitas vezes significa apoiar práticas agrícolas mais sustentáveis. Como esses alimentos estão disponíveis localmente e não precisam ser transportados por longas distâncias, há uma redução significativa na pegada de carbono associada ao seu consumo. Além disso, os produtores locais que cultivam alimentos da safra geralmente empregam técnicas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente.  Comprar alimentos da safra de produtores locais contribui para fortalecer a economia da sua região. Ao apoiar os agricultores locais, você ajuda a manter empregos na comunidade e a promover um sistema alimentar mais justo e sustentável. 

Frutas de Maio
Abacate fortuna/quintal
Banana maçã e nanica e prata
Caqui
Carambola: atenção para quem tem problema renal
Goiaba
Graviola
Kiwi nacional
Laranja lima, baia e pera
Maçã nacional gala e estrangeira
Mamão formosa e hawaí
Maracujá doce e azedo
Melancia
Pêra estrangeira
Tangerina cravo e ponkan



Verduras e legumes de Maio
Abóbora japonesa e seca
Abobrinha brasileira e italiana
Acelga
Agrião
Alface
Almeirāo
Batata-doce amarela
Berinjela
Cará
Cebola estrangeira
Chuchu
Ervilha torta
Espinafre
Gengibre
Inhame
Jiló
Mandioca
Mandioquinha
Nabo
Rabanete
Repolho
Rúcula
Salsa

Autor:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915. CRM-SC 32949 | RQE 22416

Padrão de alimentação baseado na dieta do mediterrâneo se associa com menor deposição de proteínas ligadas á Doença de Alzheimer



Cada vez mais existem evidências que demonstram que nosso cérebro é extremamente sensível ao nosso estilo de vida, e padrões de alimentação ricos em ultraprocessados, carboidratos refinaria e gorduras saturadas, além do sedentarismo podem estar associado a um risco aumentado de demência (como o Alzheimer).

Assim, um grupo de pesquisadores criou uma dieta chamada MIND, que leva em consideração os padrões clássicos de duas dietas mais conhecidas, a Dieta do Mediterrâneo e a dieta DASH. De forma geral, o estímulo é a maior consumo de grãos, fibras (em frutas e verduras), carnes magras em geral, nozes/castanhas, e azeite como fonte principal de gordura (ao invés de gorduras saturadas).

Um grupo de voluntários idosos aceitou em fornecer seu cérebro para autópsia post-mortem, e assim pode ser avaliado diretamente alguns marcadores de demências, como o depósito de beta amiloide e proteína Tau no cérebro, entre outros. 581 cérebros, com morte ao redor dos 91 anos foram avaliados.


Correlacionando essas informações com um recordatório alimentar que esses indivíduos fizeram ao longo da vida (ajustado para outros hábitos, como exercício), os pesquisadores conseguiram concluir que houve uma relação clara entre seguir os preceitos dessa dieta tiveram uma patologia cerebral muito menos evidente do que os tinham hábitos considerados menos saudáveis.

O estudo segue sendo observacional, e mesmo com ajuste para outros fatores, não é possível excluir que outros hábitos comuns a essas pessoas sejam o real fator protetor, mas o estudo certamente reforça a ideia de que o cérebro é mais uma “vítima” do estilo de vida moderno, e estratégias de melhora de alimentação, exercício, e tratamento de doenças como obesidade e diabetes podem reduzir a chance de ele ficar doente!

Artigo: Agarwal. Association of Med-DASH intervention for NG delay and Med Diets with AD pathology. Neurology 2023

Autor: Dr. Bruno Halpern 
https://www.instagram.com/p/C6Zk3JPO_sM/?utm_source=ig_web_copy_link

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Governo federal propõe imposto sobre refrigerantes

Um proposta de regulamentação da reforma tributária enviada ao Congresso prevê que ultraprocessados paguem mais impostos. Associação da indústria obviamente diz que imposto seletivo não funciona. Será?

Matéria completa em: https://ojoioeotrigo.com.br/2024/04/reforma-tributaria-refrigerante/

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Salada 13: Salada de pequi ao molho de mostarda com mel

Hoje faremos uma salada de pequi com molho de mostarda. Pequi? Sim, um ingrediente bastante polêmico. Uns amam, outros odeiam. Se você do #TeamPequi experimente fazer essa salada. Mas antes eu te darei alguns motivos para comer o ouro do cerrado. 

1º motivo:  Porque pequi é daqui! Parece só um trocadilho bobo, mas não é. Quando levamos em conta uma alimentação saudável, falamos também de comida regional e típica. Ela carrega quantitativo de nutrientes, memórias e identidade cultural. Tem o pequi de Minas? Tem. Tem o do Tocantins? Tem. Tem o do Mato Grosso? Tem. Mas nenhum é igual o de Goiás.  Pequi é nosso patrimônio cultura/culinário e pensando nisso (eu acho) a EMBRAPA cerrados conseguiu criar um Pequi sem espinhos ou pequi nutella como alguns denominam. 

2º motivo: A polpa possui altíssimo teor de gordura (então lembre-se ele é calórico), com o predomínio dos ácidos graxos monoinsaturados, as tais gorduras “boas” (ácidos graxos oleico - 55,8% e palmítico - 35,1%). Na semente ou amêndoa (que é uma delícia também), há gordura, proteína, zinco. http://periodicos.ufc.br/eu/article/view/89525#:~:text=Em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20suas%20caracter%C3%ADsticas,%C3%B3leos%20e%205%25%20de%20cinzas.

3º motivo: O teor de fibra alimentar bruta contida na polpa do pequi é considerado alto, aproximadamente de 19g em 100g.

4º motivo: Análises minerais da polpa revelam grandes quantidades de niacina, riboflavina, magnésio, potássio, cálcio, zinco, além dos carotenóides. 

5º motivo: Possui diversas substâncias com propriedades antioxidantes: compostos fenólicos e carotenóides totais, associados ao combate de radicais livres. O pequi é riquíssimo em carotenos (precursores de vitamina A). O estudo da UFG evidenciou a presença de zeaxantina, luteína, criptoflavina, anteroxantina, mutatoxantina, luteolina, 

6º motivo: Seus componentes (antioxidantes) fazem com que o consumo do fruto auxilie no combate aos radicais livres. Inclusive tanto a UNB quando a UFG fazem pesquisa com a polpa/casca/óleo de pequi. Um estudo realizado pela UFG evidenciou que a suplementação (por 14 dias) com óleo de polpa de pequi (C. brasiliense) em corredores promoveu melhora do perfil lipídico,  da pressão arterial sistólica/diastólica, redução da pressão arterial induzida pelo exercício e da inflamação oriunda do exercício (corrida). Há dezenas de estudos em animais e in vitro promissores, demonstrando efeitos antioxidantes, antiinflamatórios, cardioprotetores, hepatoprotetores, antigenotóxicos e anticarcinogênicos.

7º motivo: Dá pra comer pequi refogado, com arroz, com frango, com milho, na empadinha da lanchonete, na pamonha e até mesmo no chocolate . O sabor e o aroma marcante do fruto possibilita uma infinidade de criações culinárias.

8º motivo:  A amêndoa do pequi contém boa quantidade de óleo que por suas características químicas (ácidos insaturados), pode ser misturado ao mel de abelha e usado como expectorante ou mesmo na indústria cosmética para a produção de sabonetes e cremes para a pele.

9º motivo: Aprender a cozinhar (pequi ou outras comidas regionais) também ajuda a desenvolver e partilhar habilidades culinárias. Seu consumo está profundamente enraizado na culinária do centro-oeste, Tocantins, norte de Minas gerais. Regiões com cerrado. É utilizado em uma variedade de pratos típicos, como o arroz com pequi, frango com pequi, galinhada e outros, sendo um ingrediente essencial para dar sabor e aroma característicos a essas preparações. Sendo assim, está associado à identidade cultural e regional das comunidades do cerrado brasileiro. Ele é valorizado como um símbolo da biodiversidade e da riqueza natural dessas regiões, destacando a importância da preservação e valorização do ecossistema do cerrado. O cultivo, extrativismo racional e a comercialização do pequi representam uma importante atividade econômica para o cerrado. Promovendo geração de renda e o sustento de agricultores familiares e pequenos produtores, fortalecendo a economia local e incentivando a permanência das pessoas no campo.

10º motivo: Patrimônio cultural imaterial: O pequi e as práticas associadas ao seu consumo, como a preparação de pratos tradicionais, são reconhecidos como parte do patrimônio cultural imaterial do Brasil. O consumo e a valorização do pequi contribuem para preservar e transmitir essas tradições às gerações futuras, enriquecendo a diversidade cultural do país.

Por último: Pequi é ótimo pra memória. É ou não ? Piada interna dos goianos, afinal, uma vez que você consome uma boa quantidade de pequi, fica arrotando o gosto por quase 1 dia, lembrando que consumiu. Ou seja, ajuda a memorizar que comeu pequi. 

Bora comer salada?

Ingredientes:
1 pé de alface orgânico pequeno
2 xícaras (chá) de acelga picada
1 cenoura sem casca ralada
3 colheres de sopa de milho enlatado
6 colheres (sopa) de pequi (lascas cortadas em pedaços pequenos)

Ingredientes para o molho
1 colher (sopa) de vinagre
1 colher (sopa) de azeite de oliva
1 colher (chá) de mostarda dijon
1 colher (sopa) de fondor maggi
3 colheres de coentro picado
2 colheres de sopa de mel

Modo de fazer:
Em uma saladeira, arrume as folhas de alface mescladas com acelga picada e a cenoura ralada.
Espalhe o milho verde e o pequi.
Prepare o molho, misturando o vinagre, o azeite, a mostarda, o fondor e o coentro.
Bata o molho até ficar homogêneo e misture sobre a salada.

Fontes: 
Nascimento-Silva, N. R. R. do, & Naves, M. M. V. (2019). Potential of Whole Pequi (Caryocar spp.) Fruit—Pulp, Almond, Oil, and Shell—as a Medicinal Food. Journal of Medicinal Food. 2019, p.01-11

Para quem ainda não leu os posts publicados:

Introdução à salada: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada.html

Princípios básicos da salada: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada-post-1-principios.html

Salada 1: Berinjela com castanha do Pará (ou castanha do Brasil), uva-passa e hortelã: 

https://www.nutrologogoiania.com.br/salada-1-berinjela-com-castanha-do-para-ou-castanha-do-brasil-uva-passa-e-hortela

Salada 2: Salada de inverno de abacate com frango cítrico: 

http://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-2-salada-de-inverno-de-abacate.html?m=0

Salada 3: Salada de inverno de rucula: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-3-salada-de-inverno-de-rucula.html

Salada 4: Salada com legumes assados: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/07/salada-4-salada-de-legumes-assados.html

Salada 5: Salada de Picles de pepino com molho de alho:

 https://www.ecologiamedica.net/2023/04/salada-5-salada-de-picles-de-pepino-com.html

Salada 6: Salada vegana de lentilha crocante: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-6-salada-vegana-de-lentilha.html

Salada 7: Salada cítrica de grão de bico: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-7-salada-de-grao-de-bico-citrica.html

Salada 8: Salada de frango com molho pesto de abacate: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/08/salada-8-salada-de-frango-com-molho-de.html

Salada 9: Salada de berinjela com passas e amêndoas: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-9-salada-de-berinjela-com-passas.html?m=0

Salada 10: Salada com molho homus

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-10-salada-com-molho-homus.html

Salada 11: Salada de atum crocante: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/12/salada-11-salada-crocante-de-atum.html

Salada 12: Trigo cozido com especiarias

https://www.ecologiamedica.net/2024/02/salada-12-trigo-cozido-com-especiarias.html

Frutas, Verduras e Legumes do mês de Abril



Por que consumir alimentos da safra? Existem vantagens?

Motivo 1: Se está na safra, provavelmente o preço está menor. Mais economia para o seu bolso.

Motivo 2: Tendem a ter maior densidade nutricional, a quantidade de nutrientes, em especial antioxidantes é maior, visto que, utiliza-se menos agrotóxicos e o vegetal precisa se adaptar a situações inóspitas (pragas, calor, frio, umidade, radiação solar, ventos). Ou seja, ele produz mais "defesas", nesse caso os polifenóis, que são antixodantes. Os alimentos da safra são colhidos no momento ideal de maturação, o que significa que estão no auge do seu sabor, textura e valor nutricional. Consumí-los garante que você esteja recebendo produtos frescos e de melhor qualidade.

Motivo 3: Safra = maior abundância. Provavelmente terá menos agrotóxicos (eu disse menos, não que não tenham). Se a está na safra, naturalmente naquela época do ano aquele alimento desenvolve mais facilmente. Não sendo necessário uso de agrotóxicos ou caso o agricultor utilize, a quantidade tende a ser menor. Menos agrotóxico, menos veneno. Em breve o Ministério da saúde publicará um guia sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Tema totalmente negligenciado na Medicina. 

Motivo 4: Os vegetais na safra são encontrados mais facilmente nas feiras e mercados. O Brasil é um país vasto e diversificado, com diferentes regiões climáticas que possibilitam o cultivo de uma grande variedade de alimentos ao longo do ano. Consumir alimentos da safra permite que você experimente uma ampla gama de frutas, legumes e verduras, aproveitando a diversidade da culinária brasileira.

Motivo 5: Sustentabilidade e apoio ao agricultores locais.  Consumir os alimentos da safra vigente é um ato de sustentabilidade, pois respeita o tempo da natureza e economiza energia e recursos extras de forma intensiva ou no transporte por diferentes distâncias. Escolher alimentos da safra muitas vezes significa apoiar práticas agrícolas mais sustentáveis. Como esses alimentos estão disponíveis localmente e não precisam ser transportados por longas distâncias, há uma redução significativa na pegada de carbono associada ao seu consumo. Além disso, os produtores locais que cultivam alimentos da safra geralmente empregam técnicas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente.  Comprar alimentos da safra de produtores locais contribui para fortalecer a economia da sua região. Ao apoiar os agricultores locais, você ajuda a manter empregos na comunidade e a promover um sistema alimentar mais justo e sustentável. 

Frutas de Abril
Abacate fortuna/quintal
Ameixa estrangeira
Atemóia
Banana maçā e nanica e prata
Caqui
Figo
Graviola
Kiwi nacional
Lima da Pérsia
Limão taiti
Maçã nacional gala
Mamão formosa
Mangostāo
Maracujá doce
Melāo
Pera estrangeira
Pitaya
Tangerina cravo e poncan


Verduras e legumes de Abril
Uva rubi e estrangeira
Abóbora d’água, japonesa e seca
Abobrinha italiana
Acelga
Alho estrangeiro
Batata doce amarela
Berinjela japonesa
Cará
Cebolinha
Chicória
Chuchu
Gengibre
Gobô
Inhame
Jiló
Mandioca
Nabo
Pepino caipira e comum
Quiabo
Repolho
Rúcula
Salsa
Tomate

Autor:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915. CRM-SC 32949 | RQE 22416

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Nota de Informação Científica sobre os reais procedimentos competentes a Especialidade de Nutrologia - ABRAN

No dia 15 de Abril de 2023 a ABRAN emitiu um parecer sobre os reais procedimentos competentes a Especialidade de Nutrologia. Já que algumas pós-graduações estão anunciando algumas modalidades terapêuticas como parte do arsenal da Nutrologia. 



A nota diz: "A ABRAN por intermédio de seus canais de comunicação tem recebido informações sobre cursos de pós-graduação da área médica que estão divulgando de forma equivocada procedimentos médicos cabíveis para Nutrólogos. Tais procedimentos estão atrelados, especialmente, aos denominados implantes hormonais e as soroterapias.

Todavia, a ABRAN vem por intermédio da presente nota ratificar que tais atividades não estão presentes no rol de procedimentos do Médico Nutrólogo.

Sendo certo que o Especialista de Nutrologia tem como atividades/procedimentos os seguintes itens: Tratamentos diretos em face da obesidade, de transtornos alimentares, síndromes de má absorção, como a síndrome do intestino curto, diabetes, hipertensão, dislipidemia, atuação na terapia nutricional enteral e parenteral, atuação em face da desnutrição, entre inúmeras outras atividades.

Ademais, destaca-se a importância da melhor e mais completa formação curricular dos Docentes que ministram os cursos de Pós-Graduação, em especial a titulação na área de Nutrologia, a fim de que os cursos oferecidos tragam o melhor conhecimento científico, bem como reproduzam as melhores e corretas práticas e procedimentos que podem e devem ser aplicados dentro da literatura e legalidade.

Dessa forma, a ABRAN alerta aos médicos e a sociedade em geral sobre o tema, bem como repudia que médicos não especialistas em Nutrologia divulguem procedimentos ou cursos de Pós-Graduação para tratar da especialidade médica de forma errônea, o que prejudica o desenvolvimento da nobre Especialidade".



[Conteúdo exclusivo para profissionais da saúde] Fisiologia do platô de perda de peso em resposta à restrição alimentar, agonismo do receptor GLP-1 e cirurgia bariátrica

Fisiologia do platô de perda de peso em resposta à restrição alimentar, agonistas do GLP-1 e cirurgia bariátrica

Resumo

Objetivo

O objetivo deste estudo foi investigar por que diferentes intervenções de perda de peso resultam em diferentes durações de perda de peso antes de se aproximar dos platôs.

Métodos

Um modelo matemático validado de metabolismo energético e dinâmica de composição corporal foi usado para simular trajetórias médias de perda de peso e gordura em resposta a intervenções cirúrgicas de restrição de dieta, semaglutida 2,4 mg, tirzepatida 10 mg e bypass gástrico Roux-en-Y (RYGB). Cada intervenção foi simulada ajustando dois parâmetros do modelo que afetam a ingestão de energia para se adequar aos dados médios de perda de peso. Um parâmetro representou a mudança persistente do sistema do equilíbrio basal, e o outro parâmetro representou a força do circuito de controle de feedback relacionando a perda de peso ao aumento do apetite.

Resultados

A cirurgia RYGB resultou em uma magnitude de intervenção persistente mais de três vezes maior do que a restrição da dieta e cerca do dobro da de tirzepatida e semaglutida. Todas as intervenções, exceto a restrição da dieta, enfraqueceram substancialmente o circuito de controle de feedback do apetite, resultando em um longo período de perda de peso antes do platô.

Conclusões

Esses resultados preliminares de modelagem matemática sugerem que tanto o agonismo do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon (GLP-1) quanto as intervenções cirúrgicas RYGB atuam para enfraquecer o circuito de controle de feedback do apetite que regula o peso corporal e induzem maiores efeitos persistentes para mudar o equilíbrio do peso corporal em comparação com a restrição da dieta.

* Importância do estudo

* O que já é conhecido?

* Todas as intervenções para perda de peso eventualmente resultam num platô de peso, sem perda adicional de peso, apesar da intervenção contínua.

* O momento do patamar de peso varia entre as intervenções, sendo que algumas intervenções requerem substancialmente mais de 1 ano para atingir o patamar.

* O que este estudo acrescenta?

* A modelagem matemática foi usada para simular trajetórias do peso corporal, composição corporal e dinâmica do balanço energético da restrição da dieta, agonismo do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) e intervenções de cirurgia bariátrica.

* O momento do platô de peso foi determinado principalmente pela capacidade da intervenção de alterar a força do circuito de controle de feedback relacionando a perda de peso ao aumento do apetite.

* Como esses resultados podem mudar a direção da pesquisa ou o foco da prática clínica?

* Esses resultados enfatizam que as intervenções de perda de peso precisam ser consideradas dentro do contexto de um sistema fisiológico dinâmico que controle a ingestão e a despesa de energia.

* A pesquisa básica e a prática clínica podem ser influenciadas pela obtenção de uma maior apreciação pela resistência fisiológica às intervenções de perda de peso e como elas se desenrolem ao longo do tempo.

INTRODUÇÃO

Toda intervenção de obesidade eventualmente resulta em um platô de peso corporal, após o qual não ocorre mais perda de peso.

O momento do platô é um assunto de grande interesse, especialmente no contexto dos recentemente introduzidos agonistas receptores do peptídeo 1 (GLP-1) semelhante ao glucagon que exibem perda de peso contínua sem um platô óbvio até bem depois de 12 meses.

Da mesma forma, a cirurgia bariátrica geralmente resulta em um período prolongado de perda de peso, enquanto as intervenções dietéticas normalmente exibem platôs dentro de ~12 meses.

O que explica essas diferentes trajetórias de peso?

Aqui, usei um modelo matemático validado de equilíbrio energético e dinâmica de composição corporal para simular a cinética média de perda de peso em resposta a uma variedade de intervenções no contexto de um sistema fisiológico que regula o peso corporal por meio do controle de feedback da ingestão e despesa de energia.

Especificamente, procurei quantificar a magnitude das intervenções envolvendo restrição de dieta, semaglutida, tirzepatida e cirurgia de bypass gástrico Roux-en-Y (RYGB), simulando respostas médias em estudos publicados. 

Os resultados preliminares sugerem que, ao contrário da restrição da dieta, a semaglutida, a tirzepatida e o RYGB enfraquecem o circuito de controle de feedback do apetite em ~40% a 70%, resultando assim em um longo período de perda de peso antes do platô.

DISCUSSÃO

As intervenções de perda de peso devem ser consideradas no contexto do sistema fisiológico dinâmico que controla a ingestão e a despesa de energia.

Cada intervenção simulada pelo modelo matemático assumiu efeitos persistentes para diminuir a ingestão de energia a partir da linha de base, mas a ingestão de energia posteriormente aumentou para eventualmente corresponder ao gasto de energia, resultando em um platô de peso. 

A magnitude da intervenção persistente que muda o sistema de seu equilíbrio basal foi mais do que três vezes maior após a cirurgia RYGB em comparação com a restrição da dieta e cerca do dobro da tirzepatida, que era ligeiramente maior do que a semaglutida nas doses estudadas. 

Embora a restrição calórica intensiva tenha alcançado a menor magnitude de intervenção, os participantes do estudo exerceram um esforço persistente substancial para cortar ~800 kcal/dia de sua dieta basal.

O aumento aproximadamente exponencial na ingestão de energia após o início da intervenção mostra que a mesma quantidade de esforço para cortar calorias foi atendida com resistência crescente à medida que a perda de peso contínua ativava cada vez mais o circuito de controle de feedback, estimulando o apetite. 

Dentro de 12 meses, essa resistência, juntamente com a diminuição do gasto total de energia, igualou o esforço persistente para cortar calorias e a perda de peso se estabilizou. 

No estudo de restrição da dieta de macronutrientes, a perda gradual da adesão à dieta foi sobreposta ao circuito de controle de feedback, resultando em um platô de peso corporal mais precoce. 

Assim, o momento do platô de perda de peso é determinado tanto pela força do circuito de feedback que controla o apetite quanto pelo efeito (talvez cada vez cada vez mais) da magnitude da intervenção para deslocar o sistema de seu equilíbrio basal.

Por que as outras intervenções resultaram em períodos prolongados de perda de peso com platôs bem depois de 12 meses? 

Curiosamente, o modelo matemático sugere que o tempo para atingir um platô de peso não tem nada a ver com a magnitude da intervenção, P, depois de atingir um valor constante. 

Em vez disso, uma versão linearizada do modelo matemático usado no presente estudo mostra que a escala de tempo característica do sistema é dada por, onde ρ é a densidade energética efetiva da mudança de peso, ε define a mudança no gasto de energia por unidade de mudança de peso (incluindo a adaptação metabólica à perda de peso), e k é o parâmetro de ganho de feedback do apetite.

Se k diminuir por causa das intervenções medicamentosas e cirúrgicas, representando um enfraquecimento do circuito de controle de feedback do apetite, então τ aumenta, indicando uma extensão do tempo para atingir o platô de peso.

Além disso, o modelo linearizado estima que a quantidade de peso perdido no platô é dada por , indicando que uma diminuição no parâmetro de controle de feedback do apetite k atua junto com o parâmetro que define a magnitude a longo prazo da intervenção para deslocar o sistema do equilíbrio basal, P(∞), para diminuir o peso corporal.

A estimativa preliminar de k = 95 kcal/dia por quilograma de perda de peso derivada usando dados da inibição do SGLT2 estava razoavelmente próxima do melhor valor de ajuste de k = 83 kcal/dia por quilograma de perda de peso alcançada pela restrição de calorias no estudo de fase 2 da CALERIE, bem como a perda de peso de k = 101 kcal/dia por quilograma no ensaio de restrição de macronutrientes DIETFITS, e resultou nos platôs de peso dentro de 12 meses.

No entanto, a cirurgia RYGB, a semaglutida e a tirzepatida resultaram em valores muito mais baixos de k de ~30 a 60 kcal/dia por quilograma, sugerindo que essas intervenções enfraqueceram o controle de feedback do apetite em ~40% a 70% e, assim, resultaram em um período prolongado de perda de peso antes do platô.

Outra maneira de aumentar o tempo característico τ para se aproximar de um platô de peso ou da magnitude do peso perdido no platô seria diminuir o valor do parâmetro ε, definindo como o gasto de energia muda por unidade de perda de peso. 

No entanto, há uma capacidade limitada de diminuir ε porque os valores eram inferiores a ~25 kcal/dia por quilograma. 

Como as simulações do modelo corresponderam razoavelmente aos dados médios de gasto energético, não houve indicação de que ε tenha sido alterado de seu valor basal, e o prolongamento observado do tempo para se aproximar de um platô de peso reduzido com cirurgia RYGB, tirzepatida e semaglutida é mais provável devido a um enfraquecimento do controle de feedback do apetite, em vez de uma alteração do gasto energético.

O modelo matemático de particionamento de energia depende da gordura corporal e da magnitude da mudança de peso, conforme descrito anteriormente.

As alterações simuladas de gordura corporal geralmente corresponderam bastante bem aos dados, exceto pela intervenção da semaglutida, na qual a perda média de gordura corporal foi substancialmente menor do que a prevista pelo modelo. 

Assim, uma proporção maior do que o esperado de massa livre de gordura foi perdida com o tratamento com semaglutida, indicando um efeito potencial na partição de energia. 

Mais pesquisas são necessárias para investigar as mudanças na composição corporal durante o tratamento com semaglutida e se a composição da massa livre de gordura perdida tem implicações funcionais.

Mudanças simuladas de ingestão de energia de vida livre e gastos com restrição calórica corresponderam razoavelmente bem às observações, mas as mudanças médias no gasto energético após a cirurgia RYGB medida usando câmaras respiratórias foram ligeiramente menores do que o previsto pelo modelo. 

Isso pode ser indicativo de um efeito da cirurgia bariátrica para preservar o gasto energético, ou talvez os dados da câmara respiratória não tenham capturado totalmente as mudanças no gasto de energia em pessoas de vida livre. 

Infelizmente, as simulações de modelo de ingestão e gasto de energia para o tratamento com tirzepatida e semaglutida não puderam ser comparadas com os dados porque tais medições ainda não estão disponíveis.

Este estudo tem várias limitações. Primeiro, seu foco estava nas respostas médias do grupo, ignorando a variabilidade individual substancial característica de todas as intervenções de perda de peso.

Tentativas anteriores de modelar matematicamente a dinâmica do equilíbrio energético em indivíduos durante a restrição da dieta revelaram que a imprecisão do consumo de energia e das medições de composição corporal resulta em restrições insuficientes do modelo no nível individual.

Assim, os determinantes mecanicistas da perda de peso individual a longo prazo e da variabilidade da composição corporal estão atualmente incertos e além do escopo do estudo atual.

Outra limitação é a falta de especificidade em relação ao controle de feedback modelado do apetite, que atualmente não explica seus mecanismos moleculares ou se esses sinais de apetite estão associados à perda de gordura corporal, massa livre de gordura ou qualquer outra coisa. 

Além disso, assumi um controle de feedback linear do apetite, pois o peso é perturbado longe de seu equilíbrio de linha de base, o que pode ser excessivamente simplista.

Em conclusão, os parâmetros variáveis do modelo P e k que afetam a ingestão de energia por si só foram suficientes para simular trajetórias de peso corporal durante uma variedade de intervenções de perda de peso. 

As simulações indicaram que as intervenções de cirurgia RYGB, tirzepatida e semaglutida enfraqueceram substancialmente o controle de feedback do apetite, ao contrário das intervenções de restrição de dieta. 

As magnitudes persistentes dessas intervenções para mudar o sistema de seu equilíbrio basal foram quantificadas e variadas em mais de três vezes, mas até mesmo a intervenção intensiva de restrição de calorias correspondeu a um efeito persistente para reduzir a ingestão de energia em ~800 kcal/dia ao longo das simulações de 2 anos.

Nossas análises de modelagem anteriores das farmacoterapias da obesidade ilustraram que, após uma redução precoce na ingestão de energia, um aumento aproximadamente exponencial ao longo do tempo é o resultado esperado de uma intervenção de magnitude constante sobreposta a um sistema fisiológico com controle de feedback proporcional do apetite.

No entanto, nossas análises anteriores não abordaram a questão do momento do platô de perda de peso ou suas implicações em relação ao efeito das intervenções no circuito de controle de feedback do apetite. 

Curiosamente, as simulações do modelo não preveem qualquer recuperação de peso ao assumir valores fixos dos parâmetros do modelo durante os últimos estágios das intervenções.

Isso sugere que explicar o reganho de peso requer suposições adicionais sobre a diminuição da adesão às intervenções, a taquifilaxia ou mudanças na fisiologia ou no ambiente além do escopo do presente estudo.

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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Doutor, tudo que como passo mal !



Essa é uma frase que desde quando comecei consultório em 2010, ouço frequentemente. Por ser portador de múltiplas intolerâncias alimentares, sempre acreditei nesse tipo de queixa dos pacientes. Ao contrário da maioria dos médicos que negligenciam e invalidam a fala quando o assunto é intolerância alimentar.

Entretanto, sempre que ouço essa frase respondo: Reação a tudo é impossível. 

Mas afinal, quais intolerâncias alimentares existem? Como diagnosticá-las? Por que surgem? Quais os tratamentos disponíveis e com boa evidência científica? 

A razão desse post em conjunto com meus 2 nutricionistas e uma amiga Nutróloga e Gastro é devido a ignorância de alguns colegas sobre o tema. E não falo ignorância em tom pejorativo, mas sim, ignorância fruto do tema não ser esmiuçado na literatura medica, difundido e o pior: poucos Nutrólogos querem realmente atender esses pacientes. São pacientes que demandam tempo. 

Investigar intolerância alimentar muitas vezes demandará:
  • Tempo e escuta ativa: quando o paciente relata múltiplas intolerâncias o diagnóstico não se fecha apenas com 2 ou 3 consultas. As vezes vai 1 a 2 anos para detectarmos os alimentos realmente problemáticos. 
  • Uma série de exames que na maioria das vezes os planos não cobrem: teste de hidrogênio expirado para vários carboidratos (lactose, frutose, xilose, sacarose), teste de atividade da Diaminooxidase (DAO), Pesquisa de Supercrescimento bacteriano através do Hidrogênio expirado (pode cursar com intolerância à frutose ou aos demais fodmaps)
  • Trabalho duplo detetive, no qual eu e meus nutricionistas excluímos alguns alimentos (por tempo determinado) e depois reexpomos de forma programada (1 grupo por semana), como prova terapêutica.
  • Muita autopercepção do paciente (isso é treinável) e disciplina para colaborar com a investigação diagnóstica, tratamento, prevenção de recaídas (sim, principalmente no Supercrescimento, 60 a 70% dos pacientes podem ter recidiva do quadro no primeiro ano).
As intolerâncias alimentares mais estudadas até o momento são aos carboidratos, principalmente alguns problemáticos. Para entendermos a terminologia, precisamos entender quais são os Carboidratos e como se classificam:


Em verde estão os que podem ser problemáticos nas intolerâncias.

Classificamos em: 
  1. Mono, Di, Oligo e Polissacarídeos. Todos eles podem ser problemáticos (gerar sintoma), mas em especial os monossacarídeos Frutose, Polióis. Os dissacarídeos: Lactose, Sacarose (raro, mas já tivemos casos), Polióis. Os oligossacarídeos: Rafinose, Estaquiose, Fructanos, Galactanos. 
  2. Para serem absorvidos, alguns desses carboidratos precisam de receptores aos quais se ligam, como no caso da frutose, ou através de enzimas que catalisam a quebra, como por exemplo a Lactase quebrando a lactose e a desdobrando em 2 monossacarídeos.


1) Intolerância à Lactose

Mas afinal, o que é a lactose? Onde está presente? Quais sintomas gerados em quem não a tolera? Por que deixamos de tolerar?

Bem, o leite contém proteínas de alto valor biológico e gorduras, sendo fonte de vários micronutrientes como cálcio (rico), potássio, selênio e vitaminas dos complexos B e baixa concentração de vitamina D. 

Na sua composição ele possui carboidratos e o principal dele é a lactose (junção de 2 monossacarídeos: glicose + galactose) , mas também há outros importantes oligossacarídeos que propiciam o desenvolvimento de BACTÉRIAS PROBIÓTICAS, em particular BIFIDOBACTERIAS, promovendo proteção do trato gastrointestinal de crianças contra infecções virais e bacterianas. 

O leite humano tem alto teor de açucares, contendo cerca de 70g de lactose por litro (7%) o que contribui em torno de 40% do seu valor calórico. 

Os benefícios da lactose em especial para crianças são: 
1) Excelente fonte de energia: carboidrato é energia
2) Possivelmente contribui, em lactentes, para a síntese de macromoléculas glicosiladas complexas por meio do fornecimento de glicose e galactose
3) Não produz efeito de recompensa após seu consumo
4) Menor efeito cariogênico quando comparado a outras opções lácteas
5) Efeitos de modelagem na microbiota intestinal, provavelmente promovendo uma microbiota mais SACAROLÍTICA do que PROTEOLÍTICA. Ou seja, lácteos ajudam a termos uma microbiota mais saudável, com maior variabilidade de tipos de bactérias (cepas).

A intolerância alimentar à lactose é a principal manifestação adversa ao leite não relacionada a mecanismos imunológicos.  A outra é a Alergia à proteína do leite de vaca. Porém, mais recentemente a ciência vem mostrando que algumas pessoas podem ser hipersensibilidade a algumas proteínas do Leite. Como no caso o leite A1A1. Esses pacientes não apresentam intolerância à lactose, mas sim relação à proteína sintetizada pela vaca, tenho os sintomas digestivos melhorados quando trocam o leite A1A1 pelo A2A2.

A lactase é produzida ao longo de todo intestino delgado, mas a maior parte é no jejuno. Logo, doenças que acometem o jejuno, ressecções cirúrgicas, podem cursar com intolerância à lactose. Pouco se produz no duodeno e quase nada no íleo. 

A diminuição ou ausência da enzima que hidrolisa (quebra) a lactose, a LACTASE FLORIZINA HIDROLASE (ou apenas lactase) pode ser classificada como:
  • Da prematuridade: Pois a lactase é mais formada no terceiro trimestre, ou seja, se o neném é prematuro, pode não tolerar tão bem ainda a lactose presente no leite materno.
  • Primária:
1) Deficiência congênita da lactase ou ALACTASIA CONGÊNITA: Essa deficiência é uma herança genética que acomete recém-nascidos, nos primeiros dias de vida após a ingestão da lactose. É considerada uma patologia rara, porém, extremamente grave e, se não for identificada no início, pode levar a óbito. É uma doença autossômica recessiva e, assim como a hipolactasia primária, também se caracteriza por uma mutação no gene da lactase que codifica a enzima lactase. Porém, nessa deficiência, ocorre a ausência total ou parcial – e não a diminuição na expressão enzimática, como na intolerância primária. São descritos dois tipos clínicos: a alactasia congênita e a intolerância congênita. A alactasia congênita se manifesta com diarreia ácida, desidratação e acidose metabólica desde os primeiros dias de vida, após a ingestão da lactose, seja ela materna ou não. Já a intolerância congênita à lactose apresenta quadro clínico semelhante ao da alactasia, porém acompanhada de lactosúria, aminoacidúria e acidose renal, com vômito predominante. 
2) Intolerância ontogenética à lactose ou hipolactasia primária adulta ou deficiência ontogenética de lactose: É a forma mais comum na população. Ela se caracteriza por um declínio fisiológico total ou parcial (até 90%) da produção da enzima lactase nas células intestinais. Esse fenômeno é resultado de uma condição autossômica recessiva. Essa atividade enzimática está presente na vida de todos os mamíferos e diminui gradativamente na época do desmame, desaparecendo até a idade adulta, pois é um processo natural do organismo. Porém, entre os seres humanos, conforme o genótipo do indivíduo, a atividade enzimática passa por uma mutação e se mantém durante a maior parte da vida adulta. Sendo assim, caucasianos tendem a ter esse gene que mantém a produção durante boa parte da vida. Algumas populações apresentam essa intolerância mais precocemente. 
3) Secundária: Se define pela existência de uma situação fisiopatológica que curse com lesão na borda em escova da mucosa intestinal (produtora de lactase) e/ou que acelerem consideravelmente o tempo de ritmo intestinal. Quando ocorre lesão tecidual, as células epiteliais do intestino são substituídas por células imaturas, deficientes na produção de lactase. 
Existem diversos fatores que ocasionam tais lesões gastrointestinais. 
Alguns se destacam e são mais frequentes, como:
  • Quimioterapia
  • Radioterapia
  • Gastroenterites
  • Ressecção intestinal
  • Desnutrição grave, dentre outros. 
Na etiologia, também se incluem:
  • Infecções virais agudas (ex: rotavírus, covid, dengue)
  • Parasitoses (ex: giardíase, criptosporíase)
  • Infecção crônica pelo HIV
  • Doença de Crohn
  • Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO)
  • Supercrescimento fúngico
  • Doença celíaca, dentre outras. 
Uso de algumas drogas como: 
  • Tetraciclina, 
  • Polimixina
  • Colchicina
  • Corticoides
  • Antiinflamatórios
Todas essas etiologias ocasionam lesão na mucosa do intestino delgado. O diferencial da hipolactasia secundária é que pode ser reversível; assim que o paciente inicia o tratamento da doença de base, a lesão da mucosa é recuperada e ele volta a tolerar o consumo de lácteos.

Mas o que faz a lactose gerar esses sintomas?

A lactose, não sendo quebrada, por deficiência de lactase, seja por etiologia primária ou secundária, não é absorvida no intestino delgado e se acumula no lúmen (luz) intestinal, o que induz a passagem de água e eletrólitos (ela puxa). 

Os açúcares não absorvidos ( e isso vai ocorrer nas outras intolerâncias a carboidratos) e o acúmulo de fluídos e eletrólitos no lúmen intestinal acarretam o aumento do peristaltismo e a passagem desses produtos para o intestino grosso. As bactérias colônicas anaeróbias fermentam os carboidratos produzindo ácidos graxos de cadeia curta + gases (CO2 e metano), que, ultrapassando a capacidade colônica de resgate, determinam o aumento da carga osmótica e diminuição do PH intraluminal. Por isso o pH fica ácido quando pedimos o coprológico funcional. pH menor que 6.
Todos esses fatores determinam diarreia (amolecimento de fezes ou fezes liquefeitas) com grande quantidade de líquido e alta carga osmótica, com evacuações explosivas e fezes ácidas. Parte dos gases são absorvidos e eliminados pelos pulmões.  Há relato na literatura que esses gases podem alcançar a corrente sanguinea e gerar prurido cutâneo. Há também relatos que metabólitos gerados dessa fermentação, podem ser gatilho para cefaléia/enxaqueca, brain fog. 
 
Quadro clínico dependerá de alguns fatores:
- Osmolaridade de conteúdo de gordura dos alimentos 
- Velocidade do esvaziamento do estômago
- Sensibilidade intestinal
- Velocidade do trânsito intestinal
- Resposta colônica à sobrecarga de lactose

A percepção dos sintomas pode não estar relacionada ao grau de má absorção de lactose. O quadro clássico é composto por:
- Diarreia com fezes aquosas e explosivas/ Flatulência 
- Dor abdominal tipo cólica/ meteorismo
- Distensão abdominal com hipertimpanismo (quando fazemos a percussão do abdome, percebemos um som, como se fosse um tambor, ou seja, indicando presença de gases ali).
- Vômitos
- Estomatite aftosa
- Dermatite perianal (pela acidez das fezes em contato com a pele)
- Constipação (relaciona-se com o metano gerado), não é incomum a intolerância à lactose cursar com constipação ao invés de diarréia, principalmente quando há associação com SIBO por flora metanogênica. 
- Sintomas extraintestinais: Cefaleia, vertigem, prurido cutâneo, comprometimento da memória e letargia. 

Diagnóstico

1) A exclusão da lactose por 2-4 semanas, tempo requerido para indução da redução dos sintomas e consequentemente sua resolução, e a reintrodução gradual na dieta de produtos lácteos com teores reduzidos de lactose até o limite individual de tolerância tem sido útil – não precisaria de teste diagnóstico. 

2) Teste do H2 no ar expirado: Exame mais bem aceito por ser de fácil execução, não invasivo, sensível e específico. Infelizmente alguns planos de saúde não cobrem. Nós realizamos o exame. Trata-se de um teste baseado na produção de H2 durante a fermentação bacteriana da lactose no intestino grosso. Esse gás pode se difundir através da barreira intestinal e, após entrar na circulação sanguínea, é exalado e detectamos na respiração. O teste mede a concentração de H2 antes e após (amostras sequenciais) a ingestão de 1-2g de lactose/kg de peso (máximo 25g). 
O exame é considerado positivo quando há um aumento de 20PPM na concentração de H2 em relação ao basal.
É importante deixar o paciente ciente que uso de probióticos, uma dieta rica em fibra, supercrescimento bacteriano do intestino delgado e alterações de parâmetros respiratórios podem produzir resultados falso-positivos no teste de tolerância à lactose pelo H2 expirado. 
Já os exames falso-negativos são associados a colonização intestinal por bactérias metanogênicas. 

3) A pesquisa de substâncias redutoras nas fezes (0,5%) pode ser solicitada. Sendo positiva se > 0,5%. Pode ser usado quando desconfio de intolerância secundária. Ex: Pós GECA. Limitação: precisa ser fezes frescas. 

4) Dosagem do pH fecal ácido: < 6

5) Teste de tolerância oral a lactose: A técnica mais difundida é por curva glicêmica. Dosa-se a glicemia em jejum e após 30, 60 e 120 minutos de ingestão de 25-50g de lactose. Se o paciente absorver bem a lactose, a glicemia deve se elevar em 20mg/dL ou mais em relação seu nível basal. 
Devido a sobrecarga de lactose ingerida, o TTL ganha mais importância com a observação da ocorrência de sintomas durante e após o exame. Mas os 50g de lactose equivalem a 1 Litro de leite. Quem não apresenta sintomas ao ingerir de uma vez 1 Litro de leite? Sendo assim, é um exame cada vez mais em desuso, primeiro pela quantidade falsos positivos, sendo pelo desconforto que gera nos pacientes.
Falsos positivos: Podem acontecer devido à resposta fisiológica da insulina à glicose, o que o torna não suficientemente específico. 

6) Testes genéticos: Pode-se utilizar o PCR em tempo real ou convencional. Avalia polimorfismo genético. LCT-13910T, LCT-22018 para má absorção e não intolerância. Alta sensibilidade e especificidade.
 
7) Biópsia intestinal com Quick lactase test: Mede a atividade da enzima lactase, sensibilidade 100% e especificidade 90-95% em relação ao teste genético. É um exame invasivo que avalia um fragmento de mucosa colhido através de endoscopia, podendo apresentar falso-negativo devido ao fato de a distribuição da enzima no epitélio intestinal não ser homogênea. 

Tratamento da intolerância à lactose

Exclusão da lactose da dieta (geralmente parcial) + terapia nutricional, podendo ser usadas fórmulas ou leites e derivados sem o açúcar específico. Além da reposição dos nutrientes que podem ficar deficientes na dieta. A utilização de probióticos permanece incerta na literatura. 

No Brasil, resolução da Anvisa, decorrente da Lei nº 13305/2016, torna obrigatória a informação da presença de lactose nos rótulos dos alimentos, sendo identificados como “isentos de lactose” ou zero lactose aqueles com até 0,1% de lactose, ou seja, 100mg de lactose por 100g/100ml do produto, limite considerado seguro para consumo por intolerantes. 
Baixo teor de lactose: 0,1-1% de lactose
Contém lactose: Acima de 1%.

No caso da deficiência congênita de lactase: Suspensão permanente de lactose. O leite materno deve ser suspenso, assim como de outros mamíferos. ALTERNATIVAS: Leite de vaca sem lactose ou a base de proteína isolada de soja, arroz e outros cereais (idealmente acima dos 6 meses de vida). Existe a possibilidade de adaptação intestinal após o primeiro ano de vida, com a introdução de pequenas quantidades após o primeiro ano de vida. 

Já na Deficiência ontogenética de lactase (hipolactasia tipo adulto): A literatura mais recente não recomenda a retirada total da lactose, mas sim uma redução da quantidade de lactose da dieta. Até retiramos por tempo determinado com finalidade de reduzir os sintomas, mas depois reintroduzimos. A maioria dos estudos mostram que grande parte da população, tolera cerca de 200ml de leite, ou seja de 12g de lactose. Ou seja, essa quantidade não gerará sintomas. 

2) Intolerância à Frutose

3) Intolerância à Histamina

A histamina é uma amina biogênica heterocíclica presente em diversos alimentos ou produzida por atividade da microbiota intestinal. A intolerância à histamina ocorre especialmente pela deficiência de diamina oxidase (DAO), enzima chave para a degradação de histamina no epitélio intestinal. Até o momento, sabe-se que a deficiência de DAO pode estar relacionada a fatores genéticos, farmacológicos ou patológicos (desordens inflamatórias, degenerativas e intestinais). Uma hipótese recente sugere que alterações na diversidade da microbiota intestinal podem contribuir para o desenvolvimento de intolerância à histamina.

Fontes de Histamina:
Vegetais: espinafre, tomate (e molho de tomate ou ketchup), berinjela
Leguminosas: lentilhas, grão-de-bico, feijões, soja
Oleaginosas e sementes: castanha de caju, nozes, amendoim, avelã, amêndoas, pinhão, semente de girassol, gergelim
Leite e derivados: queijos curados e semi- curados, ralados, azuis, processados, mofados, kefir de leite e Iogurte
Frutas: morango, ameixa, banana, figo, kiwi, melancia, goiaba, manga, mamão, abacate, framboesa
Frutas cítricas: Laranjas, limões, tangerina
Frutas secas
Doces e adoçantes: Cacau
Adoçantes artificiais: Sucralose
Alcaçuz e Extrato de malte
Temperos e especiarias:
Temperos artificiais, cominho, curry, mostarda, ketchup, maionese, páprica picante, pimentas, picles, conservas, alcaparras, vinagre de vinho tinto e branco, vinagre balsâmico, gengibre em conserva, canela
Farinhas e grãos: gérmen de trigo, trigo sarraceno, malte, centeio, cevada
Fermentados: chucrute, molho de soja (Shoyu), kefir, kombuchá, iogurte, leite fermentado
Carnes: carnes processadas, linguiça, salsicha, salame, presunto, mortadela, bacon, carne de porco, cavala, atum, anchova, peixes enlatados, bacalhau, frutos do mar, clara de ovo crua, carne seca (charque ou paçoca), vísceras, carnes e peixes defumados
Bebidas: leite de soja, leite de arroz, café, suco de laranja, todas as bebidas alcóolicas: cerveja, vinho, gin, vodca, bebidas energéticas, chá preto, chá verde e chá mate
Outros: alga e derivados de alga, cogumelos, levedura nutricional, azeitonas, picles, vinagre, azeite Balsâmico, azeite trufado, alimentos em conserva, enlatados, aditivos alimentares


4) Intolerância a Fructanos
(Inulina e FOS)

São polímeros de carboidratos que incluem cadeias curtas de unidades de frutose com glicose. São representados principalmente pela:
    • Inulina, uma fibra prebiótica solúvel. 
Fontes de fructanos: 
Cereais: trigo, centeio e cevada
Leguminosas: grão-de-bico, lentilha e feijão
Frutas: melancia, melão, manga, maçã, pêra, caju, fico e caqui
Vegetais: cebola, alho, beterraba, chicória, psyllium, alcachofra, aspargo, couve-de-bruxelas, repolho, erva-doce, quiabo

5) Intolerância a Galactanos ou Galactooligossacarídeos (GOS) que se subdividem em:
    • Rafinose: um trissacarídeo que pode ser hidrolisado em sacarose e galactose pela enzima α-galactosidase
    • Estaquiose: um tetrassacarídeo que pode ser hidrolisado em frutose, galactose e glicose pela enzima α-galactosidase
    • Verbascose: um pentassacarídeo que pode ser hidrolisado em frutose, galactose e glicose pela enzima α-galactosidase
Fontes de Galactanos:
Oleaginosas: amêndoas,amendoim, avelã, pistache, nozes e pinhão
Cereais: arroz, aveia, centeio, cevada, granola, milho, trigo
Legumes: ervilha, feijão, grão de bico, lentilha, soja
Frutas: banana, kiwi, laranja, uva
Vegetais: abóbora, abobrinha, alfachofra, alface, alho-poró, aspargo, cebola, cenoura, chicória, couve, couve-flor, espinafre, pimentão, pepino, salsinha, repolho

6) Intolerância aos Polióis:
    • Xilitol
    • Maltitol
    • Sorbitol
    • Manitol
7) Intolerância à Sacarose

8) Intolerância à Xilose

9) Intolerância à Salicilatos

10) Intolerância à Cafeína

11) Intolerância a aditivos alimentares: tartrazina, benzoatos, sulfitos
Nas intolerância alimentares ocorrem reações adversas a determinados alimentos ou componentes ali presentes. Diferente das alergias, geralmente não possuem envolvimento do sistema imunológico. Sendo causadas geralmente por 2 motivos:
  1. O corpo não consegue quebrar aquela substância (ex. Intolerância a lactose por déficit de lactase)
  2. Ou o corpo não tem transportador para aquela substância, levando a uma não absorção da substância (ex. Intolerância à frutose).
Em ambas as situações a substância fica presente na luz intestinal e gera sintomas locais ou extra-intestinais. Resumindo, a intolerância ocorre pela incapacidade do corpo digerir, absorver ou metabolizar determinados alimentos. 

Pode ser ocasionada por:
  • Nutrientes
  • Substâncias tóxicas, 
  • Fármacos
  • Contaminantes químicos
  • Bactérias
  • Fungos
  • Decorrente de deficiência enzimática 
12) Sensibilidade não celíaca ao glúten

13) Doença celíaca

Quais sintomas o paciente pode apresentar?

Intestinais:
  • Dor abdominal
  • Inchaço e distensão abdominal
  • Gases
  • Sensação de indigestão
  • Empachamento
  • Eructação (arrotos)
  • Náuseas
  • Vômitos
  • Constipação (intestino preso)
  • Diarreia
  • Prurido (coceira) oral, faríngeo e anorretal
Extra-intestinais:
  • Dor de cabeça e enxaqueca
  • Prurido no corpo
  • Coriza
  • Obstrução nasal intermitente
  • Aumento da produção de muco
  • Tosse
  • Pirose (queimação)
  • Refluxo
  • Aumento da temperatura corporal
  • Rubor facial
  • Lacrimejamento
  • Piora da apnéia
  • Brain Fog (névoa mental)
  • Fadiga
  • Aumento da atividade mastocitária (Síndrome de ativação mastocitária)
  • Diminuição da acuidade visual
  • Vertigem
  • Zumbido
Mas e aí, como investigar? Como tratar?

Apenas após uma boa anamnese, feita por quem realmente entende do assunto é que se consegue engatinhar na investigação. Muitas vezes, listamos os possíveis alimentos problemáticos e solicitamos alguns exames. Solicitamos que o paciente preencha um recordatório alimentar elaborado justamente para essa função: detecção de exposição ao alimento e sintoma ocasionado ao longo do dia. Nexo: alimento-sintoma/sinal. 

As vezes o paciente relata que não tinha sintomas e após algum episódio de gastroenterite ou infecção viral (ex. Covid) começou a não tolerar vários alimentares. Outras vezes o paciente relata que desde a infância tem sintomas. Não raramente o paciente refere que os sintomas iniciaram após algum ciclo de antibiótico, uso de antiinflamatórios/corticóides ou até mesmo de inibidores de bomba de prótons (prazóis). Ou seja, a anamnese é a parte mais importante, até mesmo mais que os exames, já que eles são complementares, para confirmar apenas aquilo que suspeitamos e foi relatado na anamnese. O exame físico também pode dar algumas pistas, como o exame do abdome e língua. 

Outra situação muito frequente na nossa prática clínica, é quando o paciente apresenta várias reações a múltiplos alimentos, combinado com um quadro de distensão abdominal, gases, fezes com odor pútrido, diarréia ou constipação. Isso pode sugerir um supercrescimento bacteriano ou supercrescimento fúngico, sendo necessário realizar o exame de Hidrogênio expirado com lactulose. Quando essa condição é tratada, muitas vezes o paciente consegue voltar a se alimentar e não ter sintomas. Comumente relatam melhora significativa logo nos primeiros dias de tratamento.

Na nossa prática as mais comuns são:
  • Intolerância à lactose
  • Supercrescimento bacteriano do intestino delgado levando ao surgimento de intolerância aos FODMAPS
  • Intolerância à rafinose e estaquiose
  • Intolerância à frutose
  • Intolerância aos fructanos
  • Intolerância aos galactanos
E como conduzir esses casos?

Dependerá da intolerância diagnosticada. Mas temos que sempre ter em mente o porquê daquilo ter surgido. Ou seja, buscar a etiologia daquela intolerância. 

Infelizmente, muitas vezes não conseguimos identificar a causa, mas conseguimos comprovar o nexo entre a ingestão do alimento e o surgimento de sinais e sintomas. Uma vez comprovada essa relação, retiramos por 1 tempo o alimento da dieta e depois reintroduzimos de forma programada e supervisionada. 

A remoção do agente causador dos sintomas é parte crucial do tratamento, mas devemos lembrar que mesmo com a retirada de alguns alimentos, o paciente pode continuar tendo sintomas. Sendo assim, os sintomas devem ser tratados. Dentre as opções terapêuticas para alívio de sintomas temos:
  • Fármacos antiespasmódicos, antibióticos, antiflatulentos, analgésicos
  • Probióticos com cepas específicas para determinada intolerância. Aqui vale um adendo, é muito comum os pacientes estarem usando probioticos e os sintomas agravarem. Sendo assim, retiramos os probióticos logo na primeira consulta. Isso ocorre comumente na SIBO. 
  • Ou Fitoquímicos: apesar de as evidências serem fracas. Sendo assim, na nossa prática raramente prescrevemos fitoterápicos para esses casos, preferimos incorporar alguns alimentos à dieta do paciente. óleo de orégano, dente de leão, carqueja, berberina são fitoterápicos com literatura controversa. Assim como óleos essenciais. 
É muito comum recebermos pacientes que estão utilizando por conta própria glutamina, probióticos, prebióticos, enzimas digestivas. Sempre desencorajamos as pessoas a tratarem às cegas, sem sequer saber o motivo dos sintomas. Isso pode mascarar doenças mais graves, como doença celíaca, intolerância histaminérgica, ativação mastocitária, doença inflamatória intestinal, pancreatite crônica.

Sendo assim, apresentou sintomas, procure um médico especialista em intolerâncias alimentares. Nutricionistas não podem dar diagnóstico e isso pode atrasar sua melhora. 

Autores:
Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.