quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Entenda a relação entre hipertensão e saúde mental

 A hipertensão é uma doença multissistêmica e silenciosa, capaz de reduzir a longevidade e desencadear diversas outras patologias cardiovasculares. No Brasil, mais de 38 milhões de adultos convivem com a pressão alta, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). O quadro requer mudanças de rotina e adoção de terapia medicamentosa contínua – o que, por vezes, gera uma resposta psicológica negativa.

As alterações psicológicas e o sofrimento mental possuem, de fato, múltiplas origens. Mas também são responsáveis pelo surgimento de comorbidades, especialmente doenças cardiovasculares como a hipertensão. A relação entre essas patologias acaba sendo, portanto, bidirecional.

Quando a pressão alta e os transtornos mentais estão associados, os riscos para a saúde do paciente tornam-se ainda mais expressivos. Os diagnósticos se influenciam mutuamente, agravando os sintomas um do outro. O problema, entretanto, está na baixa identificação das alterações psicológicas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 23 milhões de brasileiros possuem algum transtorno, mas menos da metade sabe disso. Dessa forma, mesmo com tratamento disponível, a doença é negligenciada, e continua interagindo negativamente com a hipertensão.

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Dificuldades de identificação

Apertos no peito, palpitações, enxaqueca e falta de ar são os principais sintomas das doenças cardiovasculares, mas também são sinais comuns entre pacientes com alterações psicológicas.

Quando o indivíduo busca atendimento clínico geral e relata apenas essas manifestações, apresentando também pressão arterial elevada, o médico tende a compreendê-las como um indicativo exclusivo de hipertensão crônica. Outro fator que contribui para a menor investigação das causas psicológicas é que os pacientes, com frequência, deixam de relatar aspectos emocionais que causam incômodo.

Já quando ocorre o inverso, e a pessoa procura a assistência psicológica primeiro, esses sintomas tendem a ser interpretados como mera repercussão física do sofrimento emocional. Nesses casos, exames para avaliação da pressão arterial não costumam ser solicitados.

A comunidade médica, entretanto, está cada vez mais consciente da correlação entre as patologias. A American Heart Association (AHA), dos Estados Unidos, já considera a ansiedade, a depressão e o estresse fatores de risco para a hipertensão, assim como o contrário. A entidade incluiu a combinação de consultas cardiológicas e psicológicas em suas orientações.

Também já existem dados capazes de justificar a preocupação. Um estudo realizado com 400 pacientes hipertensos em Gana, na África, demostrou que os sintomas de ansiedade, estresse e depressão estavam presentes em 80% do grupo analisado.

Influência bilateral

Conforme pesquisa publicada no The American Journal of Medicine, em 2016, a elevação da pressão arterial sistólica indica que as artérias estão sobrecarregadas. A elevação da pressão arterial diastólica, por sua vez, sugere altos níveis de cortisol no organismo. Esse não é um critério definidor, mas contribui para a investigação da condição originária.

Nos casos em que os problemas psicológicos decorrem hipertensão, se dá a seguinte sequência de acontecimentos: a pessoa enfrenta recorrentes situações de mal-estar devido aos sintomas da pressão alta, e passa a se sentir menos capaz. As mudanças de rotina também implicam em limitações sociais.

A confraternização em restaurantes, por exemplo, torna-se um problema, já que a alimentação precisa ser controlada. O paciente tem consciência de que não pode se expor a fortes emoções, e evita atividades empolgantes. A necessidade de medicação diária é outro ponto de insatisfação. Com o passar do tempo, aparecem comportamentos de isolamento social, ideações pessimistas e crises ansiosas.

Em quadros inversos, em que as doenças mentais geram aumento da pressão arterial, ocorre a submissão constante do organismo aos efeitos do estresse. Os níveis de cortisona estão sempre elevados, assim como os de adrenalina. A atividade cardiovascular está constantemente acelerada. Há, então, um impacto progressivo que conduz a uma hipertensão crônic

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