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quinta-feira, 10 de abril de 2025

As doenças mais comuns da tireoide

A glândula tireoide é um órgão essencial para o bom funcionamento do organismo. Localizada na base do pescoço, em formato de borboleta, a tireoide desempenha um papel crucial na regulação do metabolismo, influenciando o funcionamento do coração, do cérebro, dos músculos e de quase todos os sistemas do corpo humano. Produz dois hormônios principais, a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4), que controlam como o corpo usa a energia. Alterações no funcionamento da tireoide podem levar a doenças que impactam profundamente a qualidade de vida.

Neste texto, vamos explorar três das condições mais comuns da glândula: hipotireoidismo, nódulos tireoidianos e hipertireoidismo. Vamos abordar suas causas, manifestações clínicas, diagnóstico e a importância do acompanhamento médico especializado.

A Fisiologia tiroideana: como funciona a tireoide

Para entender as doenças da tireoide, é importante conhecer seu funcionamento normal. A tireoide é regulada por um mecanismo de feedback envolvendo o hipotálamo e a hipófise, no cérebro. O hipotálamo produz o hormônio liberador de tireotropina (TRH), que estimula a hipófise a produzir o hormônio estimulante da tireoide (TSH). O TSH, por sua vez, estimula a tireoide a produzir T3 e T4.

Esses hormônios controlam o metabolismo basal e regulam o crescimento, o desenvolvimento e a função de órgãos. Quando há alterações na produção de T3 e T4, surgem os problemas tireoidianos, que podem ser classificados como disfunções (hipotireoidismo e hipertireoidismo) ou alterações estruturais (como nódulos).

1) Hipotireoidismo: O Funcionamento Lento da Tireoide

Fisiopatologia: O hipotireoidismo ocorre quando a tireoide não produz hormônios suficientes (T3 e T4) para atender às necessidades do corpo. A causa mais comum é a tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a tireoide. Outras causas incluem deficiência de iodo, tratamentos para hipertireoidismo, radiação e cirurgias da tireoide. No hipotireoidismo, a falta de hormônios leva a um metabolismo mais lento, afetando quase todos os sistemas corporais.

Os principais sintomas de hipotireoidismo incluem:
• Fadiga e fraqueza;
• Sensação de frio constante;
• Ganho de peso inexplicável;
• Pele seca e queda de cabelo;
• Constipação;
• Depressão e memória prejudicada;
• Ritmo cardíaco lento.

Os sintomas podem ser leves no início e progredir lentamente, dificultando o diagnóstico precoce.

Tratamento: O tratamento do hipotireoidismo é relativamente simples: consiste na reposição hormonal com levotiroxina, um medicamento que substitui o hormônio T4. É fundamental ajustar a dose com base nos exames de TSH e nos sintomas do paciente, o que reforça a necessidade de acompanhamento com um endocrinologista.

2) Nódulos Tireoidianos: Quando a estrutura e textura da tireoide mudam

Fisiopatologia: Nódulos tireoidianos são formações sólidas ou preenchidas por líquido que surgem na tireoide. A maioria dos nódulos é benigna, mas cerca de 5-10% podem ser malignos. A formação de nódulos pode ocorrer por várias razões, incluindo crescimento excessivo de células tireoidianas, cistos ou condições autoimunes como a tireoidite de Hashimoto. Embora a maioria dos nódulos não cause sintomas, eles podem alterar o funcionamento da tireoide ou gerar desconforto físico.

Sinais e Sintomas dos nódulos tireoideanos: 
•   Presença de um caroço no pescoço, visível ou palpável;
•   Sensação de pressão ou dificuldade para engolir;
•   Rouquidão, caso o nódulo pressione as cordas vocais;
•   Alterações nos níveis hormonais (hipotireoidismo ou hipertireoidismo, se o nódulo for funcional).

Diagnóstico e Tratamento dos nódulos: O diagnóstico envolve exames clínicos, ultrassonografia e, em alguns casos, punção aspirativa por agulha fina (PAAF) para avaliar a natureza do nódulo.

O tratamento depende do tipo de nódulo:
• Nódulos benignos geralmente requerem apenas acompanhamento periódico.
• Nódulos malignos podem necessitar de cirurgia, seguida ou não de terapia com iodo radioativo.


3) Hipertireoidismo: O excesso de hormônios tireoideanos

Fisiopatologia: O hipertireoidismo ocorre quando a tireoide produz hormônios em excesso, acelerando o metabolismo. A principal causa é a doença de Graves, uma condição autoimune que estimula a produção exagerada de hormônios. Outras causas incluem nódulos tireoidianos funcionais e inflamações na tireoide (tireoidites).

Esse excesso de hormônios impacta diversos órgãos, sobrecarregando especialmente o coração e o sistema nervoso.

Sinais e Sintomas do hipertireoidismo: 
• Taquicardia (batimentos cardíacos acelerados);
• Perda de peso apesar do apetite aumentado;
• Tremores nas mãos;
• Nervosismo, ansiedade e irritabilidade;
• Intolerância ao calor e sudorese excessiva;
• Diarreia ou aumento das evacuações;
• Exoftalmia (olhos saltados), característica da doença de Graves.

Esses sinais geralmente aparecem de forma mais evidente do que no hipotireoidismo, levando o paciente a procurar atendimento médico mais rapidamente.

Tratamento: O tratamento do hipertireoidismo pode incluir:
1. Medicamentos orais para reduzir a produção de hormônios;
2. Iodo radioativo, que destrói parte do tecido tireoidiano;
3. Cirurgia, em casos graves ou quando outras opções não são eficazes.

A escolha do tratamento depende da causa do hipertireoidismo, da idade e da saúde geral do paciente.

Conclusão

As doenças da tireoide, como hipotireoidismo, nódulos e hipertireoidismo, são condições que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Embora os sintomas possam ser desafiadores, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, sob orientação de um endocrinologista, oferecem excelentes perspectivas de controle e qualidade de vida.

Cuidar da saúde da tireoide é cuidar do corpo como um todo. Por isso, fique atento aos sinais do seu organismo e não hesite em procurar ajuda médica especializada.


Para ler sobre alimentação e tireoide, acesse: https://www.ecologiamedica.net/2016/01/dieta-e-tireoide.html

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Doutor, o hipotireoidismo engorda?

Pergunta recorrente, semanalmente, seja aqui no blog/instagram e principalmente no consultório. Ou seja, dúvida comum e precisamos inocentar parcialmente a tireoide. Para responder a essa dúvida, faz-se necessário explicar o que é a tireoide, sua função e e sua disfunção. 

A Tireoide é uma glândula em forma de borboleta que fica localizada na parte anterior do pescoço, abraçando a traqueia. Os hormônios produzidos por ela (T3 e T4, triiodotironina e tiroxina, respectivamente) tem dezenas de ações e a sua produção decorre de um outro hormônio, chamado TSH ou Hormônio tireoestimulante. Resumindo: A nossa glândula hipófise produz o TSH e o TSH estimula a tireoide a produzir o T3 e T4.


Dentre as funções dos hormônios tireoideanos (T3 e T4) temos:
  • Regulação do Metabolismo: Eles influenciam o metabolismo basal, controlando a taxa na qual as células queimam energia. Logo, se tem pouco hormônio e não se repõem o paciente pode queixar de dificuldade para perda de peso.
  • Crescimento e Desenvolvimento: Participam do crescimento e desenvolvimento normais, especialmente no sistema nervoso central durante a infância.
  • Controle da Temperatura Corporal: Influenciam a produção e a liberação de calor pelo corpo, ajudando a regular a temperatura corporal.
  • Função Cardiovascular: Afetam a frequência cardíaca e a contratilidade cardíaca, contribuindo para a regulação do sistema cardiovascular.
  • Metabolismo Lipídico: Influenciam o metabolismo de lipídios, afetando a síntese, mobilização e degradação de lipídios.
  • Desenvolvimento do Sistema Nervoso: São cruciais para o desenvolvimento adequado do sistema nervoso, especialmente durante a gravidez e o desenvolvimento fetal.
  • Função Cerebral: São essenciais para a função cerebral adequada, incluindo a cognição, a memória e o estado de alerta. Podendo também interferir no sono.
  • Controle do Ciclo Menstrual: Participam na regulação do ciclo menstrual em mulheres, afetando a função ovariana.
  • Manutenção da Massa Muscular: Contribuem para a manutenção da massa muscular e a força, exercendo efeitos sobre a síntese e degradação de proteínas.
  • Função Gastrointestinal: Influenciam a motilidade gastrointestinal e a absorção de nutrientes no trato digestivo.
  • Desenvolvimento Ósseo: Contribuem para o desenvolvimento e manutenção da saúde óssea, influenciando a formação e a mineralização do tecido ósseo.
  • Controle da Pressão Sanguínea: Afetam a resistência vascular periférica, desempenhando um papel na regulação da pressão sanguínea.
  • Função Renal: Influenciam a filtração glomerular nos rins, contribuindo para a regulação do equilíbrio hídrico e eletrolítico, evitando retenção hídrica.
As 3 principais disfunções da tireoide são:

No Hipotireoidismo a produção de T3 e T4 fica reduzida e com isso os sintomas são de falta de hormônios. Já no hipertireoidismo há um excesso de T3 e T4. Enquanto nos nódulos podem ou não gerar sintomas, a depender de tamanho, malignidade. 

No caso do hipotireoidismo a grande dúvida é, o portador tem mais dificuldade para emagrecer?
 
Partindo do pressuposto que os hormônios tireoideanos tem ação direta no nosso metabolismo energético, no gasto energético de repouso, na produção de calor, poderíamos acreditar nessa relação: Tireoide e ganho de peso, ou, tireoide e dificuldade para perda de peso.

O que a ciência tem mostrado nas últimas décadas?

Pacientes portadores de obesidade apresentam níveis maiores de TSH e daí muitos extrapolam que a obesidade leva ao hipotireoidismo (baixa função da tireóide, levando a uma elevação do TSH) ou o contrário, teoricamente seria postulado. 

Trabalhos mostram que quando maior o IMC, maiores os níveis de TSH. A pergunta que fica: quem veio primeiro, a obesidade ou a "disfunção" tireoideana? O fato é que há vários estudos mostrando que após grandes perdas de peso o TSH tende a normalizar, o que reforça a teoria de que o tecido adiposo tem ação direta sobre a tireóide.

Então quer dizer que o Hipotireoidismo não leva ao ganho de peso? Os estudos mostram, em sua maioria, que esse ganho de peso é muito pequeno e geralmente è às custas de retenção de líquido (inchaço). Por volta de 4 a 7kg de líquido retido. Porém, os trabalhos também evidenciam que uma vez tratado o hipotireoidismo, essa retenção desaparece e até mesmo a redução da taxa metabólica de repouso normaliza. 

Resumindo: Hipotireoidismo quando não tratado pode levar à retenção de líquido e redução da taxa de metabólica de repouso (TMR). Uma vez estabilizada a tireóide isso não ocorre. Se o hipotireodismo se prolonga por anos e não é detectado e tratado, aumenta-se as chances de favorecer ainda mais esse ganho de peso, mas não somente por ação na TMR, mas por outros fatores como: sedentarismo, cansaço, fraqueza muscular, sonolência, baixa tolerabilidade aos exercícios, ou seja, situações que naturalmente favorecerão o aumento do peso. 


Lição de casa: Não caia no papo de alguns médicos que indicam hormônios tireoideanos (T3 principalmente) para perda de peso. Alguns desses médicos afirmam que o valor ideal de TSH é 2,5. Isso não encontra respaldo das sociedades mundiais de endócrino. O tratamento deve ser feito para níveis de TSH bem acima do valor de referência para a idade, com T4 livre baixo e a presença de sintomas. Ex. TSH acima de 8 em indivíduo com 45 anos. Além disso, não dá para confiar em apenas uma dosagem de TSH. 

Se você acredita que seu ganho de peso pode ter relação com a sua tireoide, procure um Endocrinologista (com RQE) para investigar seu caso.

Bibliografia:

Sanyal D, Raychaudhuri M. Hypothyroidism and obesity: An intriguing link. Indian Journal of Endocrinology and Metabolism 2016; 20:554-7

Biondi B. Thyroid and Obesity: An Intriguing Relationship. J Clin Endocrinol Metab, August 2010, 95(8):3614–7

Aurangabadkar G, Kusuma Boddu S. Hypothyroidism and obesity: Is there a bidirectional link? What is the impact on our clinical practice? Thyroid Res Pract 2020;17:118-22.

Autor: 
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915