O sucesso no tratamento da obesidade com os análogos de GLP-1 injetáveis, como a semaglutida e a tirzepatida, trouxe um novo horizonte para o tratamento da obesidade. É a chamada revolução incretínica. Nunca na história da "Obesologia" existiu drogas tão eficazes na perda de peso, ou seja, no tratamento da obesidade.
No entanto, junto com a alegria dos resultados, surgiu um desafio para nós médicos. Um desafio igualmente grande e, muitas vezes, frustrante: a manutenção dos resultados. A genética é implacável, o corpo é sábio e luta arduamente para voltar ao peso máximo atingido. Teoria do elástico? Lembram? Já postei aqui e no Youtube sobre.
Um problema comum enfrentado por muitos pacientes é o rápido reganho de peso após a suspensão do tratamento, um fenômeno que levanta questões cruciais sobre a estratégia de longo prazo e o manejo contínuo desta complexa condição de saúde.
A raiz desse problema reside na compreensão da obesidade como uma condição de saúde crônica, e não como uma falha de força de vontade. Quando os medicamentos da classe GLP-1 são interrompidos, os mecanismos biológicos que foram modulados para promover a perda de peso retornam ao seu estado anterior, e o peso perdido frequentemente volta.
Até o momento, faltava uma estratégia farmacológica clara e bem estabelecida para a fase de manutenção, deixando pacientes e médicos sem um caminho definido para preservar os resultados conquistados com tanto esforço e dedicação.
O grande desafio: O efeito sanfona após o uso dos análogos injetáveis
Reforçar a visão da obesidade como uma doença crônica é fundamental para entender por que a manutenção é tão desafiadora. O chamado "efeito sanfona", caracterizado pelo ciclo de perda e reganho de peso, não é apenas desmotivador do ponto de vista psicológico, mas também representa uma das maiores barreiras para o sucesso sustentado no controle do peso.
A parada do tratamento medicamentoso, sem uma alternativa de manutenção, muitas vezes reinicia esse ciclo vicioso, destacando a necessidade urgente de novas abordagens terapêuticas que olhem para além da fase inicial de emagrecimento.
O que é o Orforglipron? E por que ele é uma esperança?
Nesse cenário, um novo estudo de fase 3 traz uma luz de esperança, apresentando o orforglipron, um medicamento agonista do receptor GLP-1 de uso oral e diário. A pesquisa foi desenhada com um objetivo muito específico e prático: avaliar se a transição de um tratamento injetável para este comprimido poderia ser uma estratégia eficaz para prevenir o reganho de peso.
A ideia central é oferecer uma nova fase no tratamento, focada exclusivamente em ajudar os pacientes a manterem o peso que já perderam com sucesso, através de uma alternativa mais conveniente.
O estudo foi direcionado a um público bem específico: pessoas que já haviam obtido uma perda de peso significativa utilizando medicamentos injetáveis potentes como a semaglutida (Wegovy) ou a tirzepatida (Zepbound) e que haviam chegado a um platô, ou seja, seu peso havia se estabilizado.
A pergunta fundamental que os pesquisadores buscaram responder foi formulada de maneira simples e direta: "Trocar o medicamento injetável por um comprimido diário consegue, de fato, evitar que o peso perdido retorne ao longo do tempo?".
Resultados surpreendentes: A droga via oral realmente funciona?
Os resultados após 52 semanas de acompanhamento foram bastante positivos e demonstraram a eficácia da nova estratégia. O grupo de pacientes que havia perdido peso com semaglutida e depois migrou para o tratamento de manutenção com o orforglipron oral praticamente conseguiu manter todo o resultado.
O reganho de peso médio nesse grupo foi de aproximadamente 1 quilo, um valor considerado mínimo e que indica um sucesso notável na preservação da perda de peso inicial, algo muito difícil de se alcançar anteriormente.
Quando analisamos os outros grupos, os dados continuam a reforçar a eficácia do comprimido. Os participantes que vieram do tratamento com tirzepatida e passaram para o orforglipron tiveram um reganho um pouco maior, de cerca de 5 quilos.
No entanto, esse número é crucialmente importante por ser ainda bem menos que placebo, cujo grupo reganhou em média 9 quilos no mesmo período. A conclusão é clara: o uso contínuo do GLP-1 em formato oral foi uma ferramenta eficaz para ajudar a segurar o peso perdido, superando em muito a ausência de tratamento.
Efeitos colaterais e segurança: O que precisamos saber?
A segurança de qualquer novo tratamento é sempre uma prioridade, e o estudo com orforglipron também avaliou este aspecto de perto. Os efeitos colaterais mais comuns relatados pelos participantes foram de natureza gastrointestinal, como náusea, diarreia e desconforto abdominal, o que é uma característica conhecida desta classe de medicamentos.
De acordo com os pesquisadores, essas reações foram, na sua maioria, de intensidade leve a moderada. Um dado importante que indica boa tolerabilidade é que um número muito pequeno de pessoas precisou interromper o tratamento devido aos efeitos adversos, e nenhum sinal relevante de toxicidade grave foi observado.
A mensagem mais importante: A obesidade é uma doença crônica
Apesar dos resultados animadores, o estudo sobre o orforglipron reforça uma verdade fundamental sobre o tratamento da obesidade: a manutenção do peso ainda depende do uso contínuo de um medicamento. A pesquisa não sugere que houve uma "cura" metabólica ou que a obesidade deixou de ser uma condição crônica para os participantes.
Na prática, o que ocorreu foi uma troca estratégica: a terapia injetável para perda de peso foi substituída por uma terapia oral para manutenção, reforçando a ideia de que o manejo da obesidade exige um tratamento contínuo.
O Futuro do tratamento da obesidade
Este estudo introduz a primeira estratégia farmacológica formalmente testada para a fase de manutenção, o que pode abrir caminho para um novo modelo de tratamento. Podemos vislumbrar uma Fase 1 focada na perda de peso com um injetável potente, seguida por uma Fase 2 de manutenção com um GLP-1 oral, que pode melhorar a adesão e o conforto do paciente e, criticamente, reduz o risco de abandono total do tratamento.
Contudo, o futuro ainda traz incertezas, como uma potencial Fase 3 e questões sobre quando (ou se) dá para suspender o fármaco e qual o custo-benefício a longo prazo. A grande mudança, portanto, não está apenas no comprimido em si, mas em assumir, de uma vez por todas, que a manutenção é uma parte essencial e ativa do tratamento da obesidade.
Link para a descrição dos achados: https://investor.lilly.com/node/53581/pdf
Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica, clique aqui.
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