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terça-feira, 16 de setembro de 2025

Ômega-3 e risco de doença de Alzheimer de acordo com as evidências

Uma deficiência marcada de lipídios altamente insaturados (como os ácidos graxos ômega-3) foi observada em mulheres com doença de Alzheimer, mas não em mulheres com a cognição preservada. Essa alteração está associada a piores desfechos cognitivos e a biomarcadores mais desfavoráveis de neurodegeneração e inflamação, segundo nova pesquisa.

Os pesquisadores descreveram ausência de diferenças significativas nos perfis lipídicos em homens com doença de Alzheimer em comparação com seus pares saudáveis. Além disso, os efeitos dos fosfolipídios insaturados não foram mediados por colesterol, lipoproteína de baixa densidade (LDL, sigla do inglês low-density lipoprotein) ou apolipoproteína B.

“O estudo revelou que a biologia lipídica da doença de Alzheimer é diferente entre os sexos, abrindo novos caminhos para a pesquisa”, afirmou em comunicado a Dra. Cristina Legido-Quigley, Ph.D. do King's College London, no Reino Unido, e autora sênior do estudo.

“Nossos achados sugerem que as mulheres devem garantir ingestão adequada de ácidos graxos ômega na dieta, por meio de peixes ricos em gorduras ou suplementos. No entanto, são necessários ensaios clínicos para determinar se a alteração da composição lipídica pode influenciar a trajetória biológica da doença”, explicou.

O estudo foi publicado on-line em 20 de agosto no periódico Alzheimer’s & Dementia.

Diferenças claras entre os sexos


A doença de Alzheimer afeta desproporcionalmente as mulheres, mas as explicações biológicas para essa disparidade ainda não estão bem definidas. Os lipídios são essenciais para as membranas neuronais, a plasticidade sináptica e a sinalização celular, e trabalhos anteriores com metabolômica sugeriram padrões específicos ligados ao sexo no risco de demência.


Para aprofundar essa questão, a equipe analisou o perfil lipídico em amostras de plasma de 306 homens e mulheres com doença de Alzheimer, sendo 165 com comprometimento cognitivo leve, além de 370 controles saudáveis do ponto de vista cognitivo. A média de idade da coorte geral foi de 76 anos.

Em mulheres com Alzheimer, observou-se redução de famílias lipídicas contendo ácidos graxos altamente insaturados e aumento das que continham lipídios saturados. Em homens, não foram encontradas associações semelhantes.

Após ajuste para múltiplos testes, 32 lipídios foram associados à doença de Alzheimer em mulheres: 17 correspondiam a gorduras altamente insaturadas, em níveis mais baixos, e 15 a gorduras mais saturadas ou monoinsaturadas, em níveis mais elevados.


“Em particular, triglicerídeos grandes e altamente insaturados estavam significativamente reduzidos em mulheres com a doença, indicando um possível papel da suplementação alimentar para mitigar sua progressão”, descreveram os autores.

Associação causal?


Os pesquisadores também identificaram uma associação positiva entre lipídios altamente insaturados, sobretudo triglicerídeos, e as pontuações do Miniexame do Estado Mental (MEEM). As gorduras saturadas apresentaram associação negativa.

Os achados destacam "como a diminuição dos lipídios insaturados está diretamente relacionada a piores desfechos clínicos, como desempenho mais baixo no MEEM", concluíram os autores.

"Quando [controlamos] estatisticamente as características das partículas, os resultados indicaram que essas partículas portadoras de ômega atuam no cérebro por meio de vias ligadas ao fornecimento de ácidos graxos ômega ou interações na barreira hematoencefálica, em vez de mecanismos relacionados ao colesterol ruim", afirmou a Dra. Cristina ao Medscape.

Segundo ela, "esse achado pode reformular as estratégias de tratamento, deslocando o foco de simplesmente reduzir os níveis de colesterol para otimizar os tipos de partículas lipídicas séricas".

A pesquisadora alertou, porém, que, embora o estudo "ajude a mapear como a causalidade pode funcionar, se existir, [ainda] são necessárias outras evidências, como um ensaio clínico, para confirmar se esse é realmente um fator determinante na doença de Alzheimer".

Recomendações de lipídios para doença de Alzheimer precoce


Julia Dudley, chefe de pesquisa da Alzheimer’s Research, do Reino Unido, também alertou contra conclusões definitivas sobre a causalidade.

"Embora este estudo mostre que mulheres com doença de Alzheimer apresentaram níveis mais baixos de algumas gorduras insaturadas em comparação com os homens, mais pesquisas são necessárias. É preciso compreender os mecanismos por trás dessa diferença e avaliar se mudanças no estilo de vida, como a dieta, podem ter algum papel. Entender como a doença se manifesta de forma diferente em mulheres pode ajudar os médicos a individualizar futuros tratamentos e orientações de saúde", afirmou em comunicado.

A Dra. Heather M. Snyder, Ph.D. e vice-presidente sênior de relações clínicas e científicas da Alzheimer's Association, nos Estados Unidos, disse ao Medscape que "compreender a biologia dos lipídios na doença de Alzheimer é uma área ativa de pesquisa".

A sugestão de que os lipídios podem ter papéis diferentes na causa e progressão da doença conforme o sexo é relevante e requer mais estudos, comentou ela.

"Por exemplo, precisamos saber mais especificamente quais são as diferenças e por que os papéis variam em homens e mulheres. Essa é a essência da medicina de precisão", pontuou.

Estudos futuros também devem incluir coortes que reflitam melhor a diversidade da população acometida pela doença de Alzheimer e por outras demências.

A Dra. Heather observou ainda que não está claro se o Alzheimer ou outra demência causa a redução dos níveis lipídicos em mulheres, se a depleção antecede a doença ou se há outro fator envolvido.

"Quanto mais soubermos sobre como a doença funciona, e como ela difere entre indivíduos e grupos, mais preparados estaremos para diagnosticá-la e tratá-la de forma personalizada", pontuou ela. "No entanto, com base neste estudo, não há recomendação específica sobre lipídios e/ou suplementos que possa ser feita neste momento".

Fonte: Ácidos graxos ômega-3 e risco de doença de Alzheimer: o que os dados mostram? - Medscape - 15 de setembro de 2025.