terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mais um: Agrotóxico metamidofós será banido do mercado brasileiro

O agrotóxico metamidofós só poderá ser utilizado, no Brasil, até 30 de junho de 2012. É o que determina a Resolução RDC 01/2011 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicada nesta segunda-feira (17/1).

A decisão da Anvisa é fundamentada em estudos toxicológicos que apontam o metamidofós como responsável por prejuízos ao desenvolvimento embriofetal. Além disso, o produto apresenta características neurotóxicas, imunotóxicas e causa toxicidade sobre os sistemas endócrino e reprodutor, conforme referências científicas e avaliação elaborada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Ao longo do processo de discussão com os diversos setores da sociedade sobre a retirada do produto do mercado, não foram apresentadas provas de que o produto é seguro para a saúde das pessoas”, explica o diretor da Anvisa, Agenor Álvares. O metamidofós já teve o uso banido em países como China, Paquistão, Indonésia, Japão, Costa do Marfim, Samoa e no bloco de países da Comunidade Europeia. O produto também encontra-se em processo de retirada do mercado norte-americano.

Atualmente, o referido inseticida pode ser utilizado para controle de pragas nas culturas de algodão, amendoim, batata, feijão, soja, tomate para uso industrial e trigo. O metamidofós já havia passado por reavaliação da Anvisa no ano de 2002. Na ocasião, haviam sido excluídas várias culturas agrícolas e o modo de aplicação costal, devido à não segurança do agrotóxico para os agricultores expostos.

Retirada do metamidofós

De acordo com o cronograma de retirada programada do produto do mercado brasileiro, as empresas só poderão produzir agrotóxicos com o ingrediente ativo metamidofós com base nos quantitativos históricos de comercialização de anos anteriores de cada empresa e com base nos estoques já existentes no país de matérias-primas, produtos técnicos e formulados. A comercialização destes produtos só poderá ser feita até 31 de dezembro de 2011 e a utilização, até 30 de junho de 2012. “O procedimento é aplicado para que, neste período, os agricultores substituam o metamidofós por outros inseticidas”, afirma Álvares.

De imediato, não serão autorizados novos registros de agrotóxicos à base de metamidofós, bem como não serão autorizadas novas importações do agrotóxico pelo Brasil. As deliberações finais e recomendações para retirada do metamidofós foram discutidas na Comissão de Reavaliação da qual também fizeram parte a Fiocruz, o Ministério da Agricultura e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

Empresas

Após o cancelamento da comercialização e utilização, as empresas fabricantes do agrotóxico deverão recolher os estoques remanescentes em distribuidores e em poder dos agricultores, no prazo máximo de 30 dias, a partir do vencimento dos respectivos prazos. Além disso, essas empresas deverão controlar a quantidade de todos os estabelecimentos comerciais e de produtores que adquirirem metamidofós, apresentando semestralmente este controle à Anvisa.

Confira aqui a integra da RDC 01/2011 da Anvisa.

Veja também a nota técnica que indicou proibição do produto no Brasil

Fonte: http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/home/!ut/p/c5/04_SB8K8xLLM9MSSzPy8xBz9CP0os3hnd0cPE3MfAwMDMydnA093Uz8z00B_AwN_Q_1wkA48Kowg8gY4gKOBvp9Hfm6qfkF2dpqjo6IiAJYj_8M!/dl3/d3/L0lDU0lKSWdra0EhIS9JTlJBQUlpQ2dBek15cUEhL1lCSlAxTkMxTktfMjd3ISEvN19DR0FINDdMMDAwNkJDMElHNU42NVFPMDg3NQ!!/?WCM_PORTLET=PC_7_CGAH47L0006BC0IG5N65QO0875_WCM&WCM_GLOBAL_CONTEXT=/wps/wcm/connect/anvisa/anvisa/sala+de+imprensa/noticias/agrotoxico+metamidofos+sera+banido+do+mercado+brasileiro


Comentário:

Segundo o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) de 2007 :
Alface: 135 amostras, 40% com metamidofós (agrotóxicos não autorizado para a cultura de alface)
Morango: 94 amostras, 43,62% continham agrotóxicos não autorizados, entre eles o Metamidofós e Endossulfan
Tomate: 123 amostras, 44,72% continham agrotóxicos não autorizados, entre eles o Metamidofós e Endossulfan

Ou seja, metamidofós estava com certeza no seu prato nos últimos anos, agindo no seu organismo, causando "lesões silenciosas" e nada foi feito. Apenas agora a Anvisa resolve bani-lo. Demorou !

Para ler mais sobre o PARA: http://www.ecologiamedica.net/2010/08/nota-tecnica-de-esclarecimento-sobre-o.html

Para entender o porquê da demora da Anvisa, leia esse post sobre Reavaliação de agrotóxicos: http://www.ecologiamedica.net/2010/12/reavaliacao-de-agrotoxicos.html

sábado, 15 de janeiro de 2011

Mulheres com síndrome do ovário policístico podem ser mais vulneráveis ao BPA

Um estudo recente aceito para publicação (março de 2011) no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (JCEM) encontrou altos níveis de BPA em mulheres com síndrome do ovario policístico quando comparado ao grupo controle. Além disso, os pesquisadores encontraram uma associação significativa entre hormônios sexuais masculinos e BPA nessas mulheres sugerindo um potencial papel do BPA na disfunção ovariana

O BPA é um composto industrial muito comum em embalagens de alimentos e bebidas e materiais dentários.

A SOP é o distúrbio mais comum do sistema endócrino nas mulheres em idade fértil, sendo caracterizado pela secreção excessiva de andrógenos (hormônios com ação masculinizante). A síndrome aumenta o risco de obesidade, diabetes tipo 2, infertilidade e doenças cardíacas.

"Nossa pesquisa mostrou que o BPA pode ser mais prejudicial às mulheres que já apresentam desequilíbrios hormonais e alterações relacionadas à fertilidade, como os encontrados na SOP", disse Evanthia Diamanti-Kandarakis, MD, PhD, co-autor do estudo e professor da Universidade da Escola Médica de Atenas, na Grécia. "Essas mulheres devem estar alertadas para os riscos potenciais do BPA, evitando o consumo diário de alimentos ou bebidas armazenadas em recipientes de plástico"

No estudo os pesquisadores dividiram 71 mulheres com SOP e 100 indivíduos saudáveis (grupo controle) em subgrupos de acordo com a idade e composição corporal. Os níveis sangüíneos de BPAeram cerca de 60% maior nas mulheres magras com SOP e 30 por cento maior em mulheres obesas com SOP quando comparados aos controles. Além disso,  assim como os níveis de BPA mostraram-se altos, também foram detectados altas concentrações de testosterona e androstenediona.

A secreção excessiva de adrogênios, como é vista na SOP, interfere na detoxificação do BPA pelo fígado, levando ao acúmulo de BPA no sangue" disse Diamanti-Kandarakis." O BPA também afeta o metabolismo do andrógeno, criando um círculo vicioso entre andrógenos e BPA"

FONTE: http://www.healthcanal.com/female-reproductive/13756-Women-with-polycystic-ovary-syndrome-may-more-vulnerable-BPA.html

Danos genéticos são causados logo após inalação de fumo, diz estudo

Pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos EUA, dizem ter descoberto que a fumaça do cigarro começa a causar danos genéticos minutos após a inalação das substâncias tóxicas.

Os cientistas apontam que o câncer de pulmão mata cerca de 3 mil pessoas por dia, e grande parte dessas vidas se perdem por causa do cigarro. O fumo também está ligado a outros 18 tipos de câncer.

Evidências científicas mostram que substâncias danosas presentes no tabaco, os chamados hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), são um dos culpados pelo câncer de pulmão. Até agora, contudo, os cientistas não haviam detalhado como os HAPs causavam estragos no DNA humano.

Na experiência, os cientistas acompanharam o caminho da substância fenantreno (um tipo de HAP) em 12 voluntários fumantes. Eles descobriram que esse hidrocarboneto rapidamente forma uma substância tóxica no sangue, que estraga o DNA das células, causando mutações que podem causar câncer.

Os fumantes desenvolveram níveis máximos dessa substância em um tempo que surpreendeu os pesquisadores: entre 15 a 30 minutos aos a inalação da fumaça. Segundo os cientistas, é um efeito tão rápido que equivale a injetar a substância tóxica diretamente na corrente sanguínea.

“Os resultados reportados servem como um aviso severo a quem está considerando começar a fumar”, indicam os pesquisadores no estudo, divulgado na publicação científica “Chemical Research in Toxicology”.

Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/01/danos-geneticos-sao-causados-logo-apos-inalacao-de-fumo-diz-estudo.html?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Kefir e saúde intestinal - Nutrólogo Joinville - Nutrólogo Goiânia



O texto abaixo foi publicado na edição desse mês da revista Saúde é vital. Fala sobre o uso do Kefir, um excelente alimento que poucos ainda conhecem no nosso país. Abaixo relatarei os prós e contras, por duas óticas: médico e ex-consumidor. 

Bem, já fiz uso do de de água e tive bons resultados, mas por problemas técnicos parei de utilizá-los. Para agendar consulta para saber se deve ou não utiliza-lo, clique aqui.

Mas antes de explicar, sugiro que você me siga no instagram: @drfredericolobo para mais informações de qualidade em Nutrologia e Medicina. Lá, posto principalmente nos stories, informação de qualidade e no feed, junto com meus afilhados postamos sobre vários temas.

A praticidade dos lactobacilos manipulados (além de diversos estudos sobre as principais cepas: lactobacilos acidophilus, casei, bifidus, rhamnosus e bulgaricus) acabam superando o "trabalhoso Kefir".

Prós:
1) É de graça, acho legal essa idéia de que não se compra e nem se vende, apenas doação. Quando morava na Chapada dos veadeiros (Alto Paraíso) nas épocas de surto de diarréia eu indicava muito pra população carente e tinha bons resultados.
2) Tem uma boa quantidade de lactobacilos, diversas cepas, cerca de 30 cepas de probióticos.
3) Para os que não possuem alergia à proteína do leite de vaca e gostam de leite podem optar pelo Kefir de leite. Isso serve também para os intolerantes à lactose, já que os lactobacilos consomem a lactose, que é um carboidrato (açúcar). Acima de 24h de fermentação raramente causa sintomas nos intolerantes à lactose.
4) Por ter benefícios para a nossa saúde e ser alimento, é considerado um alimento funcional. Portanto seu uso deve ser estimulado.
5) Os grãos são praticamente "etenos" podem ser congelados e as "sementes" enviadas pelo correio.
6) Como é um laticínio, é fonte rica em cálcio, de boa biodisponibilidade. Pode ser utilizado em iogurtes, coalhadas, shakes. Pode-se até fazer queijo de Kefir (uma amiga faz e fica uma delícia).

Contras:
1) O kefir de água é um pouco ácido e pode causar "azia" em pacientes com gastrite, esofagite, refluxo. Se o paciente possui "intestino-solto" também pode ocasionar diarréias. O de kefir leite por ter cálcio também pode  piorar sintomas dispépticos. É uma queixa muito comum nos pacientes com gastrite e refluxo que indico Kefir de leite. Principalmente quando a fermentação é de 24h. Nesse caso indico a utilização de 50ml de fermentação de 12 horas, duas vezes ao dia e observar. Se tiver intolerância não utilizar.
2) Algumas pessoas consideram trabalhoso ter que "alimentá-los" diariamente (kefir de água com açúcar mascavo ; Kefir de leite com leite integral), portanto quem não permanece todos os dias em casa deixará os "grãozinhos" morrerem.
3) Risco de contaminação comum a qualquer alimento: água, açúcar e lactobacilos em frasco fora da geladeira, semi-coberto = possível contaminação.
4) Como são inúmeras cepas de probióticos presentes, elas podem interagir entre si. Se você apresenta algum problema digestivo ou intolerância alimentar (frutose, sacarose, lactose), sugiro que antes procure um médico, confirme o diagnóstico, inicie um tratamento e só posteriormente utilize kefir. É assim que tenho feito com meus pacientes com candidíase crônica, intolerância à lactose, à frutose, sacarose, síndrome do intestino irritável, diarréia crônica e constipação intestinal. Solicito os exames necessários para se fechar o diagnóstico, faço o exame clínico, instituo o tratamento, geralmente com cepas específicas de probióticos para cada caso. Somente depois que inicio o kefir conforme tolerância.

A reportagem é interessante.

Bom final de semana

Dr. Frederico Lobo - Médico - CRM-GO 13192


Quefir: basta um copo por dia

Nas nossas primeiras semanas de vida, o intestino é habitado por cerca de 500 espécies de micro-organismos que ajudam na digestão e lutam contra agentes que causam doenças. Com o envelhecimento, o estresse e a alimentação incorreta, esse exército é desfalcado e se reduz a 30 divisões, por assim dizer. Para recuperar as várias tropas de choque, no entanto, há quem aposte em uma solução: ingerir bactérias e leveduras benéficas do quefir.

Trata-se de um punhado de grãos formados por mais de 50 espécies de bichinhos pró-saúde. Eles são colocados no leite, no qual fermentam. Logo em seguida, são coados — e podem ser usados de novo porque, dizem, os micróbios se renovam sem perder suas propriedades. “Mas a bebida retém parte dos micro-organismos, que, ao serem ingeridos, repõem a flora intestinal e agem como laxantes naturais”, diz a farmacêutica Márcia Barreto Feijó, da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Segundo alguns estudos, as mesmas bactérias produziriam uma espécie de açúcar capaz de estimular o sistema imunológico a fabricar substâncias para combater inflamações.

“Puro, o leite fermentado com quefir se assemelha ao iogurte natural quanto a sabor, aroma e consistência”, garante Raquel Teresinha Czamanski, pesquisadora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves, no interior do estado. E, à base dele, podem ser feitos queijos, vitaminas e sobremesas. Mas, segundo Márcia Feijó, não basta adicionar o quefir a qualquer leite para seus micróbios se proliferarem pra valer. De acordo com um trabalho conduzido por ela, o tipo desnatado é a melhor opção. “O número de bactérias láticas aumenta quando há um menor nível de gordura”, diz. Sem falar que essa alternativa é menos calórica, já que as variantes integrais e de soja possuem mais que o dobro de proteínas e lipídeos.

Os grãos de quefir foram descobertos na região do Cáucaso, localizada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, nos limites entre a Europa e a Ásia, há 4 mil anos. Suas bactérias sempre se proliferam e os grãos encontrados hoje são descendentes diretos dos originários. Não se sabe ao certo as condições climáticas que propiciaram a união de tantos micro-organismos do bem e por isso é difícil reproduzi-los em laboratório. Fora esse obstáculo, há outro motivo para o quefir ainda não ter chegado às prateleiras dos supermercados. As bactérias transferidas para o leite fermentam continuamente, produzindo gases. Imagine esse processo em um recipiente fechado por meses a fio: a embalagem se destruiria com tamanha pressão.

No entanto, uma descoberta de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITP) cria esperanças de que, em breve, sua industrialização se torne realidade. “Isolamos oito microorganismos do quefir e conseguimos a estabilidade de pressão nos produtos finais”, afirma Djalma Marques, coordenador do Laboratório Nacional de Probióticos do ITP. Ou seja, haverá uma menor produção de gases.

Segundo o pesquisador, o isolamento de um número de bactérias reduzido não diminui tanto as propriedades do leite, mas garante que as embalagens não se rompam. Por enquanto, os produtos feitos no ITP só podem ser comprados no próprio laboratório. É também no ITP que os poderes do quefir para a pele vêm sendo avaliados. O mecanismo não está esclarecido, mas os pesquisadores perceberam que os micro-organismos potencializam o efeito de produtos naturais contra queimaduras e dermatites.

A maneira mais simples de conseguir os grãos, ainda hoje, é por doação. Foi assim que a catarinense Sueli Quadros, de 44 anos, conheceu o quefir. “Minha bisavó migrou da Alemanha para Santa Catarina quando eu tinha 10 anos e trouxe uma porção, que dividiu com os netos”, lembra a secretária, que hoje mora em Curitiba. Para quem não conhece doadores, é possível encontrá-los pela internet. O fundamental é buscar fontes confiáveis. O site http://tinyurl. com/quefir, por exemplo, reúne doadores de todas as regiões do país.

LEITE X ÁGUA

Leite
Os grãos povoados de bactérias e leveduras do quefir, ao fermentarem essa bebida, a tornam levemente ácida. Ela então pode, inclusive, ser consumida por quem tem intolerância à lactose. Isso porque, durante a fermentação, esse açúcar vai embora.

Água
Quando o quefir é fermentado na água com açúcar mascavo, o resultado é o que os especialistas chamam de tibico. A mudança de substrato favorece o surgimento de um novo grupo de micro-organismos. O produto final também traz benefícios ao sistema gastrointestinal, mas seu sabor é amargo, e o uso, restrito por causa do açúcar.

COMPARE

LEITE FERMENTADO: as espécies de lactobacilos se resumem a uma ou duas. É uma ótima opção para intolerantes à lactose

IOGURTES PROBIÓTICOS: conta com bactérias como as do quefir, mas em geral duas ou três espécies. Têm a vantagem de ser comercializados em larga escala

COALHADA CASEIRA: também possui micróbios do bem, mas em pequena quantidade. Chega a ser seis vezes mais digerível que o leite integral

LEITE QUEFIRADO: possui mais de 50 micro-organismos, sendo que pelo menos 20% deles podem ajudar na reposição da flora intestinal

Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0331/nutricao/quefir-basta-copo-dia-612719.shtml


No intestino humano, existem mais de 400 espécies diferentes de microorganismos que convivem em harmonia com o homem. Esta é uma relação ecológica classificada como simbiose ou mutualismo, pois ambos dependem um do outro para sua sobrevivência. Se não existissem estes microorganismos, com certeza nosso sistema digestivo seria um prato cheio para outros microorganismos patogênicos, favorecendo o surgimento de doenças no homem. E tais espécies benéficas dependem das condições químicas e físico-químicas do nosso intestino para poder sobreviver, como a baixa concentração de oxigênio, temperatura em torno de 36°C e umidade.

Portanto, os PROBIÓTICOS podem ser definidos como microorganismos vivos que, administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro (Food and Agriculture ONU, 2001; Sanders, 2003). A influência benéfica dos probióticos na microbiota intestinal humana inclui fatores como competição por nutrientes e sítios de ligações celulares e efeitos imunomodularores direta e indireta, resultando em um aumento da resistência contra patógenos. Quanto maior for a concentração de probióticos no intestino, maior será sua capacidade competitiva e, assim, maior a capacidade de defesa humana (Puupponen-Pimiä et al., 2002).

O íleo e o cólon parecem ser, respectivamente, o local de preferência para colonização intestinal dos lactobacilos e bifidobactérias (Charteris et al., 1998; Bielecka et al., 2002).

QUAIS SÃO AS FONTES DE OBTENÇÃO DOS PROBIÓTICOS?


Os probióticos podem ser obtidos pela alimentação, especialmente por produtos lácteos devidamente cultivados, como iogurtes, leites fermentados e alguns tipos de queijos. Além disso, para dietas pobres em probióticos, é possível também consumi-los como suplementos nutricionais, na forma de cápsulas ou envelopes, manipulados em farmácias ou industrializados.

QUAIS SÃO OS EFEITOS BENÉFICOS NO HOMEM?

Diversos estudos mostram benefícios dos probióticos no homem. O quadro abaixo mostra por quais mecanismos atuam nos respectivos sistemas:

Sistema
Função
Nutricional
Síntese de Vitaminas (B1, B2, B3, B5, B6, B7, B9, B12, Vitamina K)
Digestivo
Síntese de enzimas digestivas (lactase)
Regulação da peristalse, dos movimentos intestinais e da absorção de nutrientes
Detoxificação intestinal (reduzindo a absorção de materiais tóxicos e toxinas alimentares)
Atividade enzimática fitase-like (hidrólise do Inositol Hexafosfato, liberando PO4- e íons)
Cardiovascular
Metabolização dos sais biliares e aumento da demanda de colesterol sérico colesterol para produção de bile
Metabolismo
Produção e enzimas citocromo P450-like que estimulam a expressão gênica do citocromo no fígado
Degradação e inibição da re-síntese de hormônios
Conversão dos flavonóides às suas formas ativas
Sistema Imune
Produção de antibióticos e antifúngicos
Produção de ácidos graxos de cadeia curta
Estímulo da maturação normal das células do sistema imunológico
Efeitos imunomoduladores: modulação de citocinas, aumento da atividade fagocitária, efeitos específicos na resposta humoral, função dos linfócitos T e atividade das células natural-killers
Metabolização de medicamentos, hormônios, carcinógenos, metais tóxicos e xenobióticos
Efeitos antimutagênicos, antitumorais e antineoplásicos
Anticancerígena
Ligação a substâncias mutagênicas
Degradação de genotoxina e promotores de tumor
Reparação e prevenção da lesão do DNA
Aumento da atividade de enzimas e processo de proteção a células  contra carcinógenos
Aumento da apoptose de células em proliferação
Produção de componentes bioativos de membrana
Aumento da produção de muco, diminuição do tempo de trânsito intestinal

QUAIS SÃO AS INDICAÇÕES DOS PROBIÓTICOS?

Não existe um dado oficial sobre recomendação de probióticos, como acontece com minerais e vitaminas, porém a comunidade científica internacional entende que o papel dos probióticos no organismo humano, está seus efeitos fisiológicos, porém existem evidências mostrando que estes podem também ser utilizados com fins terapêuticos.

Existem fortes evidências científicas no tratamento da diarréia infantil; diarréia associada à antibioticoterapia, diarréia pós-radioterapia pélvica, síndromes de má-absorção de nutrientes, pacientes com intolerância à lactose e na síndrome do intestino irritável.

Estudos clínicos mostram haver efeitos na redução dos níveis de colesterol plasmático, da pressão arterial sistêmica, da atividade ulcerativa por Helicobacter pylori, além do controle da colite induzida por rotavírus e por Clostridium difficile, prevenção de infecções urogenitais, além de efeitos inibitórios sobre a mutagenicidade (Shah, Lankaputhra, 1997; Charteris et al., 1998; Jelen, Lutz, 1998; Klaenhammer, 2001; Kaur, Chopra, Saini, 2002; Tuohy et al., 2003).

QUAIS AS DOSAGENS DIÁRIAS RECOMENDADAS DOS PROBIÓTICOS?


Apesar de serem estudadas por várias décadas, não existe um consenso terapêutico sobre a posologia dos probióticos para uma determinada doença. Existem vários estudos clínicos comprovando sua eficácia e segurança em diversas faixas de concentração, combinando ou não as espécies. As doses de cada espécie varia numa concentração de 100 mi de UFC até 1 bi de UFC, por dose posológica, segundo estudos clínicos. Existem estudos com dosagem total de probióticos com 20 bi UFC, com bom perfil de segurança.

Segundo alguns autores, é prudente combinar as espécies disponíveis para obter melhores resultados, já que existem diferenças quanto ao local de ação de uma cepa e outra, havendo assim uma preferência entre o íleo ou o cólon, por exemplo. As referências citam que os probióticos podem ter a <!--[if !vml]--><!--[endif]-->tividades enzimáticas distintas, o que poderia ampliar a ação destes microorganismos no hospedeiro, trazendo assim melhores resultados.

Um exemplo disso, é a atividade enzimática dos Lactobacillus sp. na lactose, e as Bifidobactérias com atividade imunomoduladora, estimulando a produção das imunoglobulinas IgA e IgM (Saad, 2006).

É preferível consumir os probióticos logo após as refeições, pois estudos experimentais mostraram que pode haver degradação das cepas benéficas pela ação do suco gástrico. Ao tomar junto com as refeições, ocorre uma “dilução” do suco gástrico e com isso, redução da acidez, o que pode contribuir com a manutenção de suas concentrações.

EXISTEM REAÇÕES ADVERSAS, PRECAUÇÕES, CONTRA-INDICAÇÕES PREVISTAS COM O USO DE PROBIÓTICOS?

Estudos clínicos controlados com lactobacilos e bifidobactérias não revelaram efeitos maléficos causados por esses microrganismos. Efeitos benéficos causados por essas bactérias foram observados durante o tratamento de infecções intestinais, incluindo a estabilização da barreira da mucosa intestinal, prevenção da diarréia e melhora da diarréia infantil e da associada ao uso de antibióticos (Lee et al, 1999).

EXISTEM RISCOS DE INTERAÇÕES COM MEDICAMENTOS COM O USO DE PROBIÓTICOS?

Deve-se evitar o uso concomitante com antibióticos, pois pode haver redução da ação do medicamento. Porém, após uma antibioticoterapia, é racional fazer suplementação de probióticos para recolonizar a microbiota intestinal, já que estes medicamentos podem diminuir as concentrações intestinais de probióticos, antes mesmo de serem absorvidos pelo organismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.       SANDERS, M.E. Probiotics: considerations for human health. Nutr. Rev., New York, v.61, n.3, p.91-99, 2003.
2.     FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, WORLD HEALTH ORGANIZATION. Evaluation of health and nutritional properties of probiotics in food including powder milk with live lactic acid bacteria. Córdoba, 2001. 34p. Disponível em: . Acesso em: 03 fev. 2005. [Report of a Joint FAO/WHO Expert Consultation].
3.     PUUPPONEN-PIMIÄ, R.; AURA, A.M.; OKSMANCALDENTEY, K.M.; MYLLÄRINEN, P.; SAARELA, M.; MATTILA-SANHOLM, T.; POUTANEN, K. Development of functional ingredients for gut health. Trends Food Sci. Technol., Amsterdam, v.13, p.3-11, 2002.
4.     CHARTERIS, W.P.; KELLY, P.M.; MORELLI, L.; COLLINS, J.K. Ingredient selection criteria for probiotic microorganisms in functional dairy foods. Int. J. Dairy Technol., Long Hanborough, v.51, n.4, p.123-136, 1998.
5.     BIELECKA, M.; BIEDRZYCKA, E.; MAJKOWSKA, A. Selection of probiotics and prebióticos for synbiotics and confirmation of their in vivo effectiveness. Food Res. Int., Amsterdam, v.35, n.2/3, p.125-131, 2002
6.     SHAH, N.P.; LANKAPUTHRA, W.E.V. Improving viability of Lactobacillus acidophilus and Bifidobacterium spp. in yogurt. Int. Dairy J., Amsterdam,
v.7, p.349-356, 1997.
7.     JELEN, P.; LUTZ, S. Functional milk and dairy products. In: MAZZA, G., ed. Functional foods: biochemical and processing aspects. Lancaster: Technomic Publishing, 1998. p.357-381.
8.     KLAENHAMMER, T.R. Probiotics and prebiotics. In: DOYLE, M.P.; BEUCHAT, L.R.; MONTVILLE, T.J. Food microbiology: fundamentals and frontiers. 2.ed. Washington: ASM, 2001. p.797-811.
9.     TUOHY, K.M.; PROBERT, H.M.; SMEJKAL, C.W.; GIBSON, G.R. Using probiotics and prebiotics to improve gut health. Drug Discovery Today,Haywards Heath, v.8, n.15, p.692-700, 2003.
10.      SAAD, S.M.I; Prebióticos e Probióticos: o estado da arte; Rev Bras Cienc Farmac 2006; 42(1): 1-16




















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Luz antes da hora de dormir altera sono, pressão e diabetes, diz estudo

A exposição à luz no período entre o pôr do sol e a hora de dormir pode afetar a produção do hormônio melatonina, que regula o sono, a pressão arterial e a glicose no sangue. A conclusão é de um estudo divulgado pela publicação “Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism”.

A melatonina é produzida à noite pela glândula pineal, no cérebro, e sua principal função é determinar a hora do sono e do despertar. Além desse papel, o hormônio também diminui a pressão arterial e a temperatura do corpo, e tem sido estudado como tratamento para insônia, hipertensão e câncer.

O estudo, realizado pela Faculdade de Medicina de Harvard, nos EUA, avaliou 116 voluntários sadios. Um grupo foi exposto à luz comum, que iluminava todo o cômodo, e outro grupo a uma luz fraca. Em ambos os casos, a iluminação foi usada em oito horas antes do horário de dormir, em cinco dias consecutivos. Um cateter mediu a quantidade de melatonina no sangue.

A conclusão foi de que o grupo exposto à luz mais forte teve redução de 90 minutos no período de presença de melatonina no sangue em relação ao outro grupo. Além disso, quem se expôs à luz durante as horas de sono teve redução de mais de 50% na presença do hormônio.

De acordo com Joshua Gooley, um dos autores do estudo, a descoberta é um alerta importante para trabalhadores que passam a noite em ambientes fechados, com luzes fortes. Segundo ele, além dos problemas já comprovados, a falta crônica de melatonina pode estar ligada também a alguns tipos de câncer e ao diabetes tipo 2.

Título: Exposure to Room Light before Bedtime Suppresses Melatonin Onset and Shortens Melatonin...

Autores: Gooley et al.
Periódico: J Clin Endocrinol Metab
Ano e data: Dezembro/2010;
http://jcem.endojournals.org/cgi/content/abstract/jc.2010-2098v1?maxtoshow=&hits=10&RESULTFORMAT=&author1=Joshua+Gooley&searchid=1&FIRSTINDEX=0&sortspec=relevance&resourcetype=HWCIT

Agricultura mal manejada está gerando erosão do solo e contaminação de rios do Cerrado

Expansão agrícola causa degradação ambiental do Cerrado – Estudo do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, revela que o avanço da agricultura para o Cerrado está causando transformações radicais na paisagem natural do bioma, devido à retirada quase total de sua vegetação nativa. Este processo gera a perda da cobertura natural do solo, o que é a principal causa da erosão e compactação do mesmo e da contaminação dos rios deste bioma.

A tese de doutorado desenvolvida pelo pesquisador Robson Clayton Jacques Arthur, do CENA, orientada pelo professor Osny Oliveira Santos Bacchi, avalia como os diferentes sistemas de manejo de solo aplicados pelos agricultores, na região dos municípios de Goiatuba e Jandaia, ambos no estado de Goiás, contribuem para estes processos de degradação.

Segundo o pesquisador, foram estudados três tipos de uso e manejo do solo no Cerrado: o Sistema de pastagens — voltado para a agropecuária —, o Sistema de Plantio Convencional (SPC) — em que o arado ou equipamentos agrícolas revolvem a terra antes do processo de semeadura — e o Sistema de Plantio Direto (SPD) — que procura manter a cobertura natural do solo ou deixar sobre ele os restos vegetais da safra anterior, mantendo níveis de umidade e de nutrientes e minimizando os efeitos do cultivo sobre a desagregação e desestruturação do solo.

Método de estudo
Foram tomadas amostras do solo em três anos diferentes (2006, 2008 e 2009) e em três camadas: da superfície do solo a 20 centímetros (cm) de profundidade, de 20cm a 40cm de profundidade; e de 40cm a 60cm de profundidade. As amostras foram colhidas em fazendas que utilizavam os três tipos de sistemas de uso e manejo do solo.

Para determinar as movimentações do solo e de seus sedimentos, buscou-se detectar e traçar as movimentações do elemento químico Césio, que possui a característica de se prender às partículas de argila presentes no solo. Dessa forma, ao acompanhar a movimentação do Césio também acompanha-se a movimentação do solo transportado pela erosão que pode depositar-se tanto dentro da própria área de cultivo como em rios e lagos.

O elemento químico escolhido, Césio-137, é proveniente de testes nucleares ocorridos no hemisfério norte nas décadas de 1950 e 1960, e foi espalhado na atmosfera do planeta por meio de correntes de ventos, posteriormente, depositado no solo pelas chuvas. Este elemento teve seu pico de deposição no hemisfério sul por volta de 1963. Com isso, esse elemento permite comparar dados de áreas não perturbadas pela ação humana, desde 1963, com áreas que sofreram algum tipo de interferência. Dessa forma, é possível estimar as taxas de erosão e deposição de sedimentos em diferentes condições de uso e manejo do solo e verificar quais as práticas agrícolas de maior impacto do ponto de vista da conservação do solo.

Com os dados obtidos no estudo, concluiu-se que tanto o Sistema de pastagens quanto o Sistema de Plantio Convencional apresentam grande movimentação de sedimentos devido ao processo de erosão hídrica, o que acaba contribuindo para o processo de degradação.

“O sistema de Plantio Convencional, por fazer uso de equipamentos agrícolas que revolvem as camadas superficiais do solo, retira sua cobertura natural o que favorece o escoamento superficial da enxurrada. Ao mesmo tempo destrói a estrutura do solo, facilitando o arraste de suas partículas pela enxurrada. As pastagens naturais, geralmente mal manejadas, favorecem a compactação do solo, o que dificulta a infiltração e armazenamento da água das chuvas gerando o processo da erosão. Dependendo das condições topográficas da região, grande parte dos sedimentos produzidos dentro das áreas de produção podem escapar para os rios provocando assoreamentos e contaminando-os”, relata Arthur.

Manejo do solo
Atualmente, a técnica de manejo predominante no Cerrado ainda é o Sistema de Plantio Convencional (SPC), porém o Sistema de Plantio Direto (SPD) vêm ganhando espaço entre a preferência dos agricultores. “O agricultor percebeu que o SPD pode garantir e sustentar, a mais longo prazo, uma boa produtividade física e econômica das culturas e assegurar a manutenção da qualidade ambiental mesmo fora dos limites de sua propriedade agrícola.”

O estudo também revelou a necessidade de revisão do Código Florestal Brasileiro. Segundo os dados obtidos na pesquisa, as larguras mínimas de matas ciliares, estipuladas no Código e estabelecidas empiricamente segundo a largura dos rios que margeiam, é muitas vezes insuficiente para evitar que grande parte dos sedimentos produzidos na exploração agrícola atinjam e contaminem os cursos d’água. Considerando apenas a função de filtragem de sedimentos de uma mata ciliar, cada bacia hidrográfica é um caso a ser analisado e as larguras mínimas dessas matas dependerão de inúmeros fatores, tais como: topografia do terreno, regime hídrico, tipos de solo, tipos de coberturas vegetais e manejos das culturas.

Reportagem de Marcelo Pellegrini, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 13/10/2010

Herbicida pode ter chegado aos ovos através da alimentação dos animais

Estudo recomenda maior orientação no uso de pesticida e medicamento em cultivo agrícola e criação de animais.  Pesquisa apresentada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP identificou resíduos de herbicida em amostras de ovos comercializadas em São Paulo. A substância, possivelmente incorporada por intermédio da alimentação das galinhas, pode contribuir com o aparecimento de doenças crônicas em seres humanos. O estudo recomenda maior orientação aos produtores de alimentos, visando evitar o uso inadequado de pesticidas e medicamentos nos cultivos agrícolas e criações de animais.

A pesquisa buscou resíduos de agrotóxicos existentes nos ovos, por serem alimentos bastante consumidos pela população em geral. “Sabe-se que essa produção utiliza grande quantidade de agrotóxicos, para combater doenças nos animais”, afirma a bióloga Cláudia Ciscato, que realizou a pesquisa. Parte das amostras foi enviada por uma granja e as demais adquiridas no comércio, para simular o consumo do produto e verificar a presença de contaminantes.

Os ovos foram submetidos a análises capazes de identificar de 140 a 150 substâncias tóxicas diferentes, entre organoclorados, organofosforados, carbonatos, pireticidas e alguns tipos de fungicidas e herbicidas. “Durante os testes, detectou-se a presença de herbicida, possivelmente utilizado para combater pragas surgidas no cultivo do alimento fornecido aos animais”, conta. “O mais provável é que o pesticida, ao ser incorporado pela galinha durante a alimentação, tenha se translocado para o ovo.”

Segundo Cláudia, cerca de 80% das amostras alimentos de origem vegetal e animal analisados habitualmente em laboratórios não possuem resíduos de agrotóxicos, ou estes são encontrados em valores abaixo dos tolerados pela legislação. “O restante das amostras, porém, contém produtos que não possuem legislação pertinente, ou seja, são usados de forma indevida pelos produtores para o controle de doenças e pragas, podendo trazer riscos para a saúde humana.”

Riscos
O contaminante encontrado nos ovos não necessariamente irá causar impacto imediato no consumidor, aponta a pesquisadora. “Seria necessário verificar a dieta de quem consome o produto, pois as quantidades encontradas não são suficientes para causar uma intoxicação aguda”, observa. “Entretanto, a longo prazo, há a possibilidade do herbicida contribuir para alguma doença crônica, como alergia, reumatismo, problemas nos sistemas nervoso e reprodutivo, além do aparecimento de tumores.”

De acordo com Cláudia, os maiores riscos de contaminação recaem sobre os próprios animais e as pessoas que aplicam os agrotóxicos. “Em muitos casos, por falta de orientação, os aplicadores não tem ideia da dosagem adequada para aplicação”, alerta. “Também faltam indicações sobre o perigo de adotar produtos inadequados para uso animal, como defensivos agrícolas.”

Para prevenir os riscos de contaminação, a pesquisadora recomenda maior orientação aos produtores de alimentos de origem vegetal e animal. “E necessário que haja monitoramento da parte do governo, para verificar a situação da alimentação e dessa forma, orientar o pessoal do campo, para que haja produção de alimentos com qualidade”, enfatiza.

O trabalho faz parte da tese de doutorado de Cláudia Ciscato, orientada pela professora Elenice Souza Espinosa, do Departamento de Patologia Experimental Comparada da FMVZ. Os testes com as amostras de ovos aconteceram no Laboratório de Resíduos de Pesticidas do Instituto Biológico, vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura de São Paulo. A pesquisa teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Reportagem de Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 21/10/2010

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Estudo alerta para ingestão de peixes contaminados com mercúrio

A ingestão de peixe contaminado com mercúrio é a principal via de exposição ao metal tóxico e uma ameaça para a saúde no mundo todo, segundo um relatório publicado na revista científica sueca "Ambio".

O estudo, elaborado a partir de cinco artigos de especialistas e divulgado hoje pela imprensa britânica, indica que, atualmente, o grau de contaminação com mercúrio industrial é três vezes maior que antes da Revolução Industrial.

A poluição de oceanos, lagos, rios e mares deixou alguns peixes com altos níveis tóxicos de mercúrio, cuja ingestão é especialmente prejudicial para grávidas, recém-nascidos e crianças.

Os danos causados, inclusive pelos baixos níveis de mercúrio, no desenvolvimento do cérebro são conhecidos há décadas, mas os cientistas do estudo ressaltam que ainda não foi feito o suficiente para reduzir a exposição ao mínimo.

O relatório, aprovado por mais de mil cientistas na Conferência Internacional sobre a Contaminação do Mercúrio, realizada no segundo semestre do ano passado, em Madison (Estados Unidos), destaca que os efeitos tóxicos do mercúrio também aumentam o risco de ataques cardíacos, especialmente entre os homens adultos.

Apesar da redução das emissões de mercúrio registradas nos países desenvolvidos nos últimos 30 anos, os níveis continuaram elevados por causa das emissões dos países em desenvolvimento.

Segundo o professor da Universidade de Wisconsin James Wienes, as implicações políticas da descoberta "são claras".

Nos Estados Unidos, a fim de reduzir a exposição ao mercúrio, o Governo lançou uma campanha para alertar as mulheres grávidas para o consumo limitado de peixes, especialmente de pescado branco e mariscos, que devem ser ingeridos em quantidades inferiores a 340 gramas por semana.

Uma medida similar é promovida pela agência sanitária britânica, a Food Standards Agency, que aconselha as grávidas a evitar o consumo de tubarão e peixe-espada, e limitar o de atum, já que estes são os peixes com os níveis de mercúrio mais elevados.

No entanto, pesquisadores britânicos da Universidade de Bristol descobriram que o pescado também contém ácidos ômega 3 e outros nutrientes essenciais para o desenvolvimento do cérebro, apesar da ameaça que supõe para a saúde sua contaminação com mercúrio.

A partir de um estudo com 9.000 famílias, o relatório, publicado na revista britânica "The Lancet", concluiu que os riscos do consumo de peixes são superados por seus benefícios.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/03/08/ult1766u20692.jhtm

Pressão de consumidores provoca mudanças de embalagens na indústria

Preocupada com o crescente temor do público em relação ao bisfenol A, químico associado a doenças como diabetes, câncer de mama e de próstata, a indústria alimentícia começa a trabalhar com novas embalagens - Artigo de Harriet Weinstein*

Mesmo quando certos alimentos enlatados alegam não ter bisfenol A (BPA), eles ainda podem conter o químico. O BPA, que é encontrado em certos plásticos de policarbonato como garrafas de água e mamadeiras e também como revestimento interno de latas, migra da embalagem para os alimentos. O grupo de defesa ao consumidor “Consumer Reports” testou 19 tipos de enlatados em 2009 e quase todos continham bisfenol A, mesmo aqueles que alegavam ser “BPA free”e orgânicos. Os resultados revelaram que a lata de atum da marca Vital Choice que diz ser BPA-free continha em média o químico na quantidade de 20 partes por bilhão (ppb).

Mas a maior quantidade de BPA foi encontrada em latas de sopas e legumes. Legumes da marca Del Monte apresentaram níveis de BPA de 35.9 ppb até 191 ppb; a sopa da marca Progresso tinha níveis de BPA que variavam de 67 a 134 ppb e a sopa da marca Campbell apresentou níveis de BPA de 54.5 até 102 ppb. “Acreditamos que já existe informação suficiente para não termos mais que ingerir BPA e que é preciso agora evitar a exposição,” disse Urvashi Rangan, PhD, diretor de política do grupo Consumer Reports. “Não se sabe hoje em dia a quantidade de bisfenol A que você pode ingerir ao consumir qualquer tipo de enlatado.”

Preocupação válida

O BPA age como um interferente endócrino, ou seja, ele pode interferir nas funções hormonais e causar sérios impactos na saúde de animais de laboratório. Durante a gravidez, altas doses de BPA consumidas por ratos de laboratório reduziram a sobrevivência e o peso dos filhotes. Em doses menores, de acordo com um relatório escrito pelo Programa Federal de Toxicologia dos Estados Unidos, o BPA impacta o desenvolvimento neurológico e o comportamento e também causa lesões potencialmente cancerígenas na próstata e no tecido mamário. O Canadá declarou em outubro de 2010 o BPA uma substância tóxica.
Frederick S. vom Saal, professor da Universidade de Missouri e um importante endocrinologista e pesquisador de BPA, diz: “Uma das coisas que a indústria química está fazendo é dizer que o BPA é um hormônio fraco. Isso é o mesmo que dizer que Arnold Schwarzenegger é um fracote se comparado ao Super homem.”

A pesquisa nacional mais recente que avalia a saúde e nutrição nos Estados Unidos revelou que 93% dos americanos que participaram dos testes apresentam o bisfenol em sua corrente sanguínea. No Japão, onde o bisfenol A foi voluntariamente retirado de enlatados, os níveis de bisfenol A caíram pela metade na população. “O BPA em embalagens alimentícias é claramente uma grande fonte de exposição aos seres humanos”, explica vom Saal.

Dr. Richard W. Stahl-hut, autor de uma pesquisa sobre BPA feita em 2009, diz que o químico não sai do corpo tão rápido quando se pensa. “A história oficial é que o BPA é eliminado do corpo dentro de 24 horas, mas nem sempre esse é o caso”.

Mudanças na embalagem de alimentos

A indústria alimentícia americana está respondendo às crescentes preocupação com o BPA da seguinte forma:

• Eden Foods: começou a utilizar latas BPA-free em produtos com feijão em 1999 e esse ano passará a vender molho de tomate em jarras de vidro. “Estamos colocando um terço de nossos tomates orgânicos em jarras de vidro,”disse Michael Potter, presidente e fundador da empresa. A maioria dos produtos da marca Eden é vendida em supermercados naturais e a empresa vende em torno de $ 50 milhões por ano. Uma indústria que produz embalagens para a Eden, em Ontário, no Canadá, investiu em torno de 1 milhão de dólares numa nova linha de embalagens de vidro.

• Vital Choice: a empresa vende frutos do mar e suplementos pela internet e descobriu rapidamente a dificuldade em manter seus produtos BPA-free. Quando o BPA foi achado na pesquisa do grupo Consumer Reports em seu atum enlatado, a empresa concluiu que a revista do grupo tinha testado versões antigas do enlatado. No entando, depois de investigar por 3 anos onde os peixes eram processados e conversar com químicos, Vital Choice ainda não tinha sido capaz de identificar a fonte de BPA. Os rótulos dos produtos agora apresentam a seguinte explicação: “Nossos produtos enlatados são embalados por fornecedores que certificam que as embalagens são BPA-free”.

• Whole Foods: a maior cadeia de supermercados orgânicos, dos Estados Unidos, embala 27% de seus produtos enlatados em latas sem BPA, disse Joe Dickson, coordenador do padrão de qualidade da empresa. “Conversamos com nossos maiores fornecedores e estamos trabalhando em parceria para identificar materiais alternativos. Minha esperança é que ao trabalharmos juntos nossas vozes serão mais fortes e os produtores de alimentos enlatados prestarão mais atenção”.

• General Mills: sexta maior empresa alimentícia do mundo, alterou as latas de algumas linhas que trabalham com tomate. Essas latas não possuem bisfenol A. A empresa não informa o total de vendas por produto, mas a divisão Small Planets Foods Division que inclui a linha sem bisfenol A gerou em torno de $ 200 milhões de vendas no ano passado. Essa linha é vendida em supermercados naturais e também tradicionais.

• ConAgra: uma das maiores empresas alimentícias dos Estados Unidos, começou a vender sua linha de tomates enlatados Hunt em latas sem BPA. Uma porta voz da empresa disse que a empresa está atualmente testando novos revestimentos para outros produtos. Eles vendem em torno de $ 1.9 bilhões de enlatados por ano.

Texto originalmente publicado no Emagazine.com em 12 de janeiro de 2011 (http://www.emagazine.com/view/?5479)
*Harriet Weinsten é jornalista de Connecticut e escreve sobre negócios e desenvolvimento

Fonte: http://www.otaodoconsumo.com.br/voce-e-o-que-come-na-embalagem-que-consome/pressao-de-consumidores-provoca-mudancas-de-embalagens-na-industria

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Obesidade causa o encolhimento do cérebro, diz estudo

Pesquisadores americanos mostraram que a inflamação crônica causada pela obesidade no organismo pode ser responsáveis pela diminuição do tamanho do cérebro. Quanto maior sua cintura, menor seu cérebro. Esta é a conclusão de um grupo de pesquisadores da New York University School of Medicine, liderado por Antonio Convit. A literatura científica já provou que a obesidade está ligada à diabetes tipo 2, que é associada ao comprometimento cognitivo. O grupo desejava descobrir o impacto da obesidade sobre a estrutura física do cérebro. Com a ajuda da ressonância magnética, a equipe compararou o cérebro de 44 obesos com o de 19 pessoas magras da mesma idade e background semelhante.

Eles descobriram que os obesos têm mais água na amígdala, parte do cérebro envolvida no comportamento alimentar. Já o córtex orbitofrontal é menor em indivíduos obesos. Essa área do córtex é importante para controlar o impulso e também está envolvida com os hábitos alimentares. "Isso pode significar que existem neurônios a menos, ou que esses neurônios estão contraídos", diz Convit. A obesidade também está associada a um estado crônico de inflamação no organismo, inclusive no hipotálamo, estrutura chave para a alimentação. Isso poderia explicar a mudança no tamanho do cérebro.

Este é o primeiro estudo a relatar que a inflamação oriunda da obesidade pode diminuir a integridade de algumas estruturas cerebrais envolvidas no comportamento alimentar. O trabalho foi publicado no dia 8 de janeiro na New Scientist.

A obesidade atinge 400 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, pelo menos 3,5 milhões de pessoas estão em estado de obesidade mórbida.

Além das constatações de perdas neurológicas apontadas no estudo, a obesidade provoca uma série de outros problemas, como diabetes tipo 2, que prejudica a sensibilidade das pessoas à insulina, resultando no acúmulo de açúcar no sangue. A falta da insulina provoca perturbações na atividade da dopamina (neurotransmissor que desempenha um papel importante na sensação de amor e prazer), podendo causar outros distúrbios cerebrais, como a depressão, doença de Parkinson, esquizofrenia, défcit de atenção e hiperatividade.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI201587-15257,00-OBESIDADE+CAUSA+O+ENCOLHIMENTO+DO+CEREBRO.html

WikiLeaks revela 'guerra dos transgênicos'

Um novo vazamento de despachos diplomáticos dos Estados Unidos revelou que o governo americano foi orientado a travar uma guerra comercial contra países da União Europeia que se opusessem a alimentos geneticamente modificados. O país é o maior produtor de transgênicos do mundo.

A reportagem é de Bettina Barros e publicada pelo jornal Valor, 04-01-2011.

Segundo o documento revelado ao jornal britânico "The Guardian" pelo WikiLeaks, a embaixada americana em Paris advertiu Washington a iniciar uma guerra comercial "ao estilo militar" em resposta à proibição da França de comercialização do milho transgênico da Monsanto, em 2007. O despacho foi assinado por Craig Stapleton, embaixador em Paris e também amigo e parceiro de negócios com o ex-presidente George Bush.

"Recomendamos a elaboração de uma lista de retaliação que cause alguma dor na União Europeia - já que essa é uma responsabilidade coletiva -, mas também mire os piores culpados", afirma o documento divulgado ontem. "A lista deve ser de longo prazo, já que não esperamos uma vitória tão cedo".

Outros despachos, acrescenta o "The Guardian", mostram que os diplomatas americanos pelo mundo encaram o progresso das culturas geneticamente modificadas como uma estratégia governamental e comercial "imperativa".

O diário britânico afirma ainda que os EUA deveria exercer "particular pressão" sobre os conselheiros do papa, uma vez que bispos de países em desenvolvimento se posicionam "veementemente contra culturas controversas". "As oportunidades existem para pressionar o Vaticano e influenciar um amplo segmento da população europeia e de países em desenvolvimento".

Dados do Serviço Internacional para Aquisições de Aplicações de Biotecnologia (ISAAA, em inglês), organização favorável à tecnologia, os Estados Unidos estão na dianteira de produtos e área plantada com variedades modificadas. Em 2009, plantaram soja, milho, algodão, beterraba, canola e alfafa transgênicos em 64 milhões de hectares. O Brasil está em segundo lugar, com 21,4 milhões de hectares de soja, algodão e milho.

As culturas transgênicas são controversas devido à falta de uma série histórica científica que aponte seus possíveis impactos no ambiente e na saúde humana.

Fonte: http://www.portaldomeioambiente.org.br/meio-ambiente-urbano/6519-wikileaks-revela-guerra-dos-transgenicos.html

O escândalo da dioxina: as maquinações criminosas da indústria de alimentos

Mais uma vez, alimentos de origem animal contaminados estão ameaçando a saúde dos consumidores. O sistema de controle é muito frouxo, e a política de informações é um desastre. O mais recente susto com as dioxinas revela que as autoridades alemãs aprenderam muito pouco com os escândalos referentes à segurança dos alimentos no passado.

Bélgica, primavera de 1999: inspetores descobrem altos níveis de dioxina, bem como de outras toxinas, em ovos. Uma companhia de reciclagem de óleo e gordura havia fornecido ao produtor de alimentos gorduras que continham elevados índices de dioxina e da substância tóxica acabou por contaminar frangos, suínos e bovinos – chegando dessa forma aos estômagos dos consumidores alemães.

Os prejuízos foram bilionários. O ministro da Saúde da Alemanha ficou indignado com os belgas, e a União Europeia anunciou mudanças drásticas.

Alemanha, inverno de 2011: ovos se acumulam nas prateleiras dos supermercados, sem serem vendidos. As mães temem dar leite de vaca aos filhos. As autoridades fecharam quase 5.000 unidades de produção e ordenaram que milhares de ovos fossem destruídos. Cerca de 150 mil toneladas de alimentos foram contaminados com gordura contendo dioxina fornecida por um produtor de Uetersen, perto de Hamburgo.

A ministra alemã da Proteção ao Consumidor, Ilse Aigner, diz achar “totalmente deplorável o fato de um setor produtivo inteiro ter sido afetado por infratores individuais”. Aigner, que é da conservadora União Social-Cristã na Baviera (em alemão, Christlich-Soziale Union in Bayern, ou CSU), o partido bávaro aliado da União Democrata-Cristã (em alemão, Christlich-Demokratische Union, ou CDU), da chanceler Angela Merkel, anuncia conversações com os Estados alemães com o objetivo de aperfeiçoar no futuro a proteção do consumidor.

As imagens, as reclamações e as promessas de melhoria são todas muitos similares.

A Alemanha tem agora nas mãos um novo escândalo na área de segurança de alimentos. E mais uma vez isso é anunciado como um caso isolado. Mas, seria isso de fato a irresponsabilidade isolada de uma única companhia? Os especialistas acreditam que a posição de Aigner é ingênua. Existem muitos sinais de deficiências dentro do sistema.

As reformas radicais no setor agropecuário, que o ex-ministro da Proteção do Consumidor, Renate Künast, um membro do Partido Verde (em alemão, Bündnis 90/Die Grünen), solicitou de forma bastante enérgica em 2001 foram há muito esquecidas. Atualmente, a indústria de alimentos baseia-se tanto quanto as outras indústrias na divisão de trabalho. O fator mais importante é o preço. Para serem capazes de vender ovos, carne e frango pelo menor preço possível em supermercados que oferecem descontos ao consumidor, os produtores são obrigados a cortar os custos, especialmente no que se refere à alimentação dos animais.

Uma indústria com uma reputação abalada

Certos setores da indústria de alimentos de origem animal não são particularmente escrupulosos, e estão dispostos a acrescentar aos seus produtos qualquer coisa que traga a promessa de reduzir os custos – e fazem tudo o que podem para driblar as regulamentações inconvenientes.

É difícil encontrar em Berlim alguém que deseje prejudicar o sucesso financeiro da indústria alimentícia alemã, o quarto maior setor econômico do país. Este setor fatura atualmente um quarto dos seus 150 bilhões de euros (US$ 194 bilhões, R$ 327,8 bilhões) em vendas anuais em outros países.

Sob tais circunstâncias, que político ousaria impor leis mais rígidas e regulações mais estritas que provavelmente implicariam em um aumento de custos para os produtores alemães?

O mais recente escândalo no setor de alimentos envolvendo gorduras contaminadas com dioxina demonstra o quão negligentemente as autoridades lidam com uma indústria que tem uma reputação abalada por incontáveis infrações. “Até agora, nós vínhamos lidando basicamente com produtos alimentares, e não com rações para animais”, admite Eberhard Haunhorst, diretor do Departamento de Proteção do Consumidor e Segurança dos Alimentos do Estado da Baixa Saxônia, no norte do país.

No ano passado, os funcionários de Haunhorst coletaram apenas 2.500 amostras aleatórias de 3.600 produtores comerciais de rações. A situação não é muito melhor no resto do país, onde os inspetores realizaram 14.557 inspeções em 2010. Um número mais ou menos igual de exames antidoping foram feitos em uma quantidade relativamente pequena de atletas alemães de primeira linha.

Carecendo de pessoal suficiente para realizar as suas próprias inspeções, as agências governamentais recorrem às autoinspeções feitas pelas companhias. Segundo as regulamentações algo vagas, toda companhia tem que garantir que os produtos que ela coloca em circulação são seguros. Segundo Haunhorst, não existem regulamentações especificando o que exatamente os produtores de ração precisam inspecionar. Embora várias companhias tenham criado o seu próprio sistema de garantia de qualidade, nenhum desses sistemas têm caráter obrigatório, e os testes regulares para determinar a presença de dioxinas não são explicitamente exigidos.

Johannes Remmel, membro do Partido Verde e ministro do Meio Ambiente e da Proteção do Consumidor do Estado da Renânia do Norte Vestfália, no oeste da Alemanha, está pedindo aos seus congêneres de outros Estados que criem legislações que imporiam uma regulamentação mais estrita sobre os produtores de alimentos. No entanto, Estados tradicionalmente produtores de produtos agropecuários como a Baixa Saxônia e a Baviera não estão dispostos a implementar mudanças significativas das práticas existentes. Eles esperam que a oposição que vêm fazendo em breve convença o seu combativo congênere a cair em si.

Maquinações da Indústria

Harles e Jentzsch, a companhia de reciclagem de óleo e gordura da região próxima a Hamburgo, que encontra-se no cerne do escândalo, é um exemplo claro daquilo que acontece quando os padrões de conduta exigidos dos produtores são lenientes. Quando o diretor executivo Siegfriend Sievert deparou-se com os resultados iniciais do teste de dioxina, a sua primeira reação foi minimizar o problema, o que é uma prática comum na indústria sempre que informações internas desagradáveis tornam-se públicas. As chamadas “gorduras técnicas” (gorduras já utilizadas, impróprias para o consumo) acabam se misturando inadvertidamente às gorduras utilizadas na alimentação animal, diz ele. Sievert chamou isso de um erro lamentável – nada mais do que um simples erro.

No entanto, é surpreendente constatar que um fornecedor de rações para animais esteja manipulando essas chamadas gorduras técnicas, que não poder ser utilizadas na cadeira alimentar. Ao comentar a questão das gorduras técnicas, Siebert afirmou que a sua companhia mantém “uma linha de produção paralela voltada para a indústria de papel”. E quando lhe perguntamos por que essa parte do negócio não é mencionada no website da companhia, ele declarou a “Der Spiegel”: “Neste momento é difícil determinar qual é o motivo”.

Wolfgang N. trabalha na indústria de rações há mais de 15 anos. Ele conhece a companhia de Uetersen e todos os outros negócios da indústria, e está familiarizado com as maquinações da empresa. Segundo ele, não é nenhuma coincidência o fato de esta companhia, com os seus 15 empregados, estar neste momento sob os holofotes da mídia. Ele diz que muitas empresas menores e de tamanho médio recorrem a truques e operações nebulosas para esconder a verdade. As companhias maiores têm condições de inspecionar as matérias primas que compram, diz N., e elas fazem isso para evitarem escândalos que poderiam prejudicar os seus negócios.

Mas até mesmo esses líderes de mercado não inspecionam todas as remessas de matérias-primas adquiridas, explica N. Os testes, incluindo aquele para determinar se há dioxinas no produto, são caros, custando cerca de 400 euros (R$ 873) cada, e o resultado demora várias semanas. Ele diz que uma possível maneira de evitar as atenções é diluir as gorduras prejudiciais com outros materiais a fim de manter os níveis de contaminação abaixo dos limites máximos permitidos no produto final.

Reduzindo custos

Especialistas como N. também criticam o fato de vários recicladores de gorduras também lidarem com resíduos especiais. Não é de surpreender que dificilmente alguma outra indústria extraia tanto resíduo quando a indústria de rações. Ela transforma resíduos em alimentos e reduz animais a sistemas de eliminação de resíduos. Nesse sistema, pode facilmente ocorrer que penas de aves e serragem coletadas no piso das granjas sejam utilizadas como material para dar mais volume às rações. Não existem limites para a audácia de algumas empresas da indústria de rações, que são conhecidas por usarem resíduos de esgotos nos seus produtos e de fazerem experiências com esterco líquido e água usada por curtumes.

Ironicamente, o atual escândalo teve início com uma companhia que acreditava-se que seria a resposta para os escândalos de contaminação por dioxinas ocorridos na virada do século. A Petrotec Biodiesel é especializada em transformar gordura de cozinha em combustível não agressivo ao meio ambiente. A companhia opera uma moderna refinaria em Emden, no noroeste da Alemanha, desde 2000. Já no início da década de noventa a empresa oferecia uma alternativa limpa à prática anterior de aproveitar resíduos em decomposição oriundos da indústria alimentícia acrescentando-os às rações para animais.

A empresa recebeu um estímulo em 2002, quando foi instituída a proibição, em toda a Europa, do acréscimo de gorduras de cozinha usadas a rações. Roger Boeing, diretor da Petrotec até o ano passado, afirma que sempre esteve claro que os subprodutos da operação de refino “não poderiam ser acrescentados a rações”. Afinal, acrescenta ele, ninguém poderia descartar uma contaminação das gorduras já usadas que estavam sendo fornecidas à indústria de rações. A Petrotec não realizava testes porque traços de dioxinas são um fator irrelevante no biodiesel, explica Boeing.

Companhias como a Petrotec obtêm a sua matéria prima do mundo inteiro. Como resultado disso, remessas dos Estados Unidos são às vezes processadas na Alemanha. E como as gorduras são movimentadas em um determinado terreno, a contaminação pode ocorrer facilmente durante o transporte. Wolfgang N., o conhecedor da indústria alega que as companhias de transporte procuram reduzir custos deixando de limpar rotineiramente os seus tambores e tanques nos intervalos entre transportes.

Parte dois: “Isso só pode ser o resultado de iniciativas criminosas”

A origem das dioxinas que no momento estão arruinando os negócios de milhares de fabricantes de produtos agropecuários alemães ainda é desconhecida. Quando os especialistas do Instituto de Inspeção Química e Veterinária de Münster, no noroeste da Alemanha, examinaram as amostras, eles ficaram surpresos. “Nós nunca antes tínhamos presenciado esse padrão específico”, diz Axel Preuss, o diretor do instituto. Segundo Preuss, é altamente improvável que a toxina tenha sido produzida durante o processamento na Petrotec. Agora o Estado da Renânia do Norte Vestfália pretende encomendar um estudo para determinar de onde veio a dioxina.

É possível que o mistério jamais seja resolvido. Entretanto, os políticos estão no momento discutindo publicamente as mudanças que segundo eles são urgentemente necessárias, embora alguns deles tivessem a princípio subestimado completamente a dimensão do escândalo da contaminação de alimentos. Vários ministérios nos Estados alemães afetados sabiam antes do Natal que um novo escândalo envolvendo as dioxinas estava em formação. Até mesmo o Ministério Federal da Agricultura sabia do que estava acontecendo, mas mesmo assim a informação foi sonegada. A agência da União Europeia encarregada desse tipo de problema também não foi imediatamente informada.

Na antevéspera do Ano Novo, David McAllister, o governador do Estado da Baixa Saxônia e membro da conservadora União Democrata-Cristã, estava sentado na sala de maquiagem em um estúdio de televisão da estação de televisão alemã NDR, preparando-se para a gravação da sua mensagem de fim de ano, quando recebeu um telefonema de Düsseldorf. Do outro lado da linha estava o ministro do Meio Ambiente da Renânia do Norte Vestfália que, reagindo à descoberta das dioxinas, queria que McAllister lhe fornecesse as listas completas de fornecedores dos produtores suspeitos de rações na Baixa Saxônia.

Remmel já havia passado dias tentando obter informações importantes de autoridades em Hanover, a capital da Baixa Saxônia. Mas foi só depois que ele telefonou para McAllister que algo foi feito a respeito do seu pedido. Sete dias após a divulgação de que havia dioxinas nos alimentos, as listas de fornecedores foram finalmente recebidas na Renânia do Norte Vestfália.

A avalanche não foi provocada pelas agências de inspeção governamentais ou pela fábrica de reciclagem de gorduras, Harles und Jentzsch, mas sim por um cliente que anunciou a descoberta de dioxinas. Uma inspeção laboratorial na Wulfa-Mast, uma fábrica de rações, também revelou níveis significativamente elevados de dioxinas em dois lotes de suas rações para galinhas poedeiras, segundo o Ministério da Agricultura em Hanover. Em 23 de dezembro, o Estado da Baixa Saxônia fechou as granjas para as quais essas rações haviam sido enviadas.

Uma iniciativa lucrativa

A seguir os inspetores seguiram para um depósito da Harles und Jentzsch em Bösel, uma cidade da Baixa Saxônia, onde os funcionários tinham uma explicação simples para o problema. Eles disseram que gorduras técnicas também também eram armazenadas no local, e que uma válvula no tanque número 11 provavelmente havia sido incorretamente operada durante um processo de mistura em 11 de novembro. Foi um erro humano, afirmaram os funcionários, e como resultado disso a gordura técnica pode ter sido acidentalmente misturada à gordura destinada à fabricação de rações. Aparentemente a gordura contaminada foi fornecida a seis outros produtores de rações.

Depois disso as autoridades intervieram. No entanto, elas acreditavam que a percentagem de gordura nas amostras de ração eram tão pequenas que, apesar do teor de dioxinas, os limites máximos legais aparentemente não teriam sido ultrapassados.

Quando os inspetores da Baixa Saxônia visitaram novamente o armazém de Bösel em 29 de dezembro, eles descobriram ácidos graxos técnicos impróprios para consumo em outros tanques de gorduras destinadas à fabricação de rações. O mesmo problema foi descoberto na sede da companhia em Uetersen, onde quatro tanques estavam cheios de gordura contaminada. Desta vez, no entanto, o problema não podia mais ser atribuído a erro humano.

“Isso só pode ser o resultado de iniciativas criminosas”, denunciou Hans-Michael Goldmann, membro do Partido Democrático Liberal (em alemão, Freie Demokratische Partei, ou FDP), a agremiação que defende os interesses do empresariado alemão, e presidente do Comitê de Proteção do Consumidor no parlamento alemão, o Bundestag. “E eu acreditava que essa história de acrescentar resíduos a rações fosse coisa do passado”. Aparentemente esse era um negócio lucrativo, já que as gorduras técnicas custam cerca de um terço do valor das gorduras apropriadas para a fabricação de rações.

A Associação Alemã de Alimentos de Origem Animal gaba-se de que o caso foi descoberto por meio de “autoinspeções e medidas de segurança”, afirmando que isso prova que, afinal de contas, o sistema de fato funciona.

Mas não inteiramente. A Harles und Jentzsch inspecionou os seus ácidos graxos três vezes no ano passado. Em cada uma dessas autoinspeções, descobriu-se que os níveis de dioxinas eram substancialmente mais elevados do que o máximo permitido, que é de 0,75 nanogramas por quilograma. Especificamente, esses testes revelaram níveis de dioxinas de 1,60 nanogramas por quilograma em 19 de março, 1,40 nanogramas em 21 de junho e 1,44 nanograma em 7 de outubro. Mas em nenhum desses casos a companhia informou as autoridades, ou sequer notificou os consumidores ou recolheu os produtos do mercado.

Quando os inspetores do governo visitaram a Harles und Jentzsch em 28 de julho, eles aparentemente não receberam os resultados dos testes. Quando eles testaram as suas próprias amostras em busca de dioxinas, os resultados teriam sido negativos. Os inspetores não chegaram sequer a suspeitar quando viram notas de entrega indicando que os ácidos graxos comprados não eram apropriados para a fabricação de rações. Agora a diretoria da empresa afirma que também foram vendidas gorduras para a indústria de fabricação de papel.

Inspeções “orientadas para o risco”

Aparentemente as autoridades confiavam na companhia. Devido às reduções de pessoal, os inspetores do Estado de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha, trabalhavam de forma “orientada para o risco”, significando que as companhias que atraíam maior atenção eram inspecionadas mais frequentemente do que aquelas sob as quais não pairavam suspeitas. Como resultado disso, a Harles und Jentzsch poderia esperar apenas uma inspeção por ano, ainda que a companhia forneça matéria prima para quase todas as fábricas de rações misturadas no norte da Alemanha. Após a visita em julho, sabendo que seria improvável uma nova inspeção durante algum tempo, a companhia sentiu-se segura para continuar adulterando as gorduras sem temer ser detectada.

O fato de o escândalo ter provocado relativamente poucos efeitos sobre a saúde dos consumidores até agora pode ser atribuído às propriedades da dioxina. Embora a substância seja considerada altamente tóxica, os ovos e a carne contaminados não representam um perigo específico. “As concentrações detectadas são tão baixas que só podem ocorrer problemas em casos de consumo regular durante um grande período de tempo”, explica Helmut Schafft, encarregado das questões relativas à alimentação de animais no Instituto Federal de Avaliação de Risco, em Berlim.

O limite estabelecido pela União Europeia de três picogramas de dioxina por grama de gordura em cada ovo só foi ultrapassado em uns poucos casos, e até mesmo esse limite é contestado entre os especialistas. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por exemplo, considera “tolerável” que um indivíduo ingira quatro picogramas de dioxina por quilograma de massa corporal por dia.

Dessa forma, uma pessoa que pesa 75 quilogramas, poderia ingerir sem problemas uma dose diária de 300 picogramas, o que significaria uma grande quantidade de ovos contaminados, mas apenas umas poucas refeições à base de peixes como enguia e salmão, que muitas vezes contêm quantidades relativamente elevadas de dioxina. “As dioxinas estão em toda parte, e todo mundo ingere automaticamente quantidades diminutas todos os dias”, afirma o cientista Schafft.

Necessidade de mais transparência

Estritamente falando, até mesmo os ovos orgânicos, que estão se tornando cada vez mais populares, são contraproducentes se as galinhas ciscam em solo contaminado. “Os ovos de galinhas que ciscam no terreiro da casa da vovó e em volta do lixo já possuem cinco picogramas de dioxina”, admite Rudolf Joost-Meyer zu Bakum, diretor da Sociedade de Nutrição Animal Ecológica. E o mais natural de todos os alimentos, que é especialmente saudável, teria sido proibido caso os limites máximos de dioxina estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde fossem o único padrão utilizado: os níveis de dioxina no leite materno são muitas vezes superiores aos limites da Organização Mundial de Saúde.

Para complicar ainda mais a situação, as autoridades fazem com que seja difícil para os consumidores determinarem qual o risco a que já foram expostos. Os nomes das companhias e os códigos nos seus ovos precisam ser “revelados imediatamente”, afirma Günther Hörmann, diretor da agência de proteção ao consumidor com sede em Hamburgo. Isso é algo de trivial na Escandinávia, diz Hörmann, e um procedimento desse tipo também seria possível segundo a legislação alemã.

“Mas foi aí que autoridades nervosas se atrapalharam consultando os seus departamentos jurídicos”, reclama Hörmann.

Faz três semanas que o escândalo veio a público, mas até o momento só foram anunciados os códigos de ovos de dez empresas afetadas.

Tradução: UOL
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2011/01/11/o-escandalo-da-dioxina-as-maquinacoes-criminosas-da-industria-de-alimentos.jhtm