terça-feira, 4 de março de 2025

Hora de combater o ambiente obesogênico

4 de março é o Dia Mundial da Obesidade, uma data global de mobilização para enfrentar a crise da obesidade. Essa é uma das crises de saúde pública mais preocupantes no mundo. Segundo a OMS, desde 1990, a obesidade mais do que dobrou entre adultos e quadruplicou entre adolescentes. Em 2022, 2,5 bilhões de adultos estavam com sobrepeso, incluindo 890 milhões com obesidade, e 390 milhões de crianças e adolescentes (5 a 19 anos) tinham sobrepeso, sendo 160 milhões com obesidade. O sobrepeso e a obesidade estão associados a diversas doenças crônicas graves, como diabetes tipo 2, doença arterial coronariana, AVC, hipertensão e câncer. A previsão é que 1,9 bilhão de pessoas vivam com obesidade até 2035, incluindo o dobro de crianças com obesidade em comparação com 2020. Uma resposta urgente e coordenada dos diversos setores da sociedade é essencial para evitar que essa crise de saúde se agrave ainda mais.

Os ambientes obesogênicos—fatores ambientais que determinam tanto a alimentação quanto a atividade física—são determinantes-chave para o sobrepeso e a obesidade, sendo um alvo essencial para a prevenção. A disponibilidade e acessibilidade de alimentos saudáveis, infraestrutura segura para caminhadas, ciclismo ou esportes, normas culturais e tradições, influência da mídia e regulamentações são elementos que contribuem para o ambiente obesogênico. No caso das crianças, fatores escolares também exercem influência, como a pressão dos colegas, tempo reduzido para educação física, alimentação inadequada nas escolas e estresse acadêmico.

Os ambientes obesogênicos afetam mais gravemente pessoas de baixa renda, aumentando desigualdades na obesidade. No Reino Unido, um relatório da Food Foundation revelou que alimentos saudáveis podem custar o dobro por caloria em comparação com alimentos não saudáveis. As famílias mais pobres precisariam gastar 45% de sua renda disponível para seguir uma dieta saudável recomendada pelo governo, percentual que sobe para 70% em lares com crianças. “É um desequilíbrio trágico e inaceitável entre os alimentos que são promovidos, acessíveis e baratos e aqueles que são saudáveis e sustentáveis. E as crianças mais vulneráveis da sociedade são as que sofrem as piores consequências disso”, alerta Anna Taylor, diretora executiva da Food Foundation.

Para combater a obesidade, é necessário mudar o foco do indivíduo para os sistemas que causam ambientes obesogênicos, tema do Dia Mundial da Obesidade deste ano. Os governos devem implementar leis e políticas como tributação sobre alimentos ultraprocessados, proibição de publicidade de produtos não saudáveis (especialmente para crianças), restrições à exposição desses alimentos em supermercados e rótulos mais claros nas embalagens. Escolas e comunidades precisam incentivar estilos de vida saudáveis, oferecendo merendas escolares saudáveis e espaços seguros para a prática de atividades físicas. A indústria alimentícia—incluindo fabricantes, supermercados e restaurantes—deve assumir a responsabilidade pela qualidade, marketing e preço dos alimentos, promovendo escolhas mais saudáveis. A mídia e o setor publicitário precisam priorizar a saúde dos consumidores em vez do lucro, considerando os impactos de longo prazo de suas mensagens, especialmente para crianças.

Há estratégias viáveis para os países implementarem. Na 75ª Assembleia Mundial da Saúde (2022), os Estados-membros adotaram recomendações para a prevenção da obesidade e apoiaram o Plano de Aceleração da OMS, destacando que “a solução para a epidemia da obesidade depende de vontade política, um plano de ação e os recursos e comprometimento para sua implementação”. Algumas nações já adotaram medidas: México, Arábia Saudita, África do Sul e Reino Unido implementaram impostos sobre bebidas adoçadas, resultando na redução do consumo de açúcar. Outros países adotaram rótulos de advertência em alimentos com alto teor de açúcar, gordura ou sal. No Chile, essa estratégia, combinada com a proibição de publicidade infantil em alimentos industrializados, reduziu as vendas desses produtos. Essas são iniciativas promissoras, mas nenhum país está no caminho para conter o avanço da obesidade, e o ambiente obesogênico continua sendo um grande desafio.

O impacto econômico da obesidade também é significativo. Se nada for feito, os custos globais do sobrepeso e obesidade podem chegar a US$ 3 trilhões por ano até 2030. Diante desse cenário de crise sanitária, econômica e social, decisões governamentais e vontade política serão essenciais para promover mudanças. Os países devem aproveitar essa oportunidade para enfrentar os ambientes obesogênicos e a epidemia da obesidade como um passo essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Dia Mundial da Obesidade: Melhores sistemas para vidas mais saudáveis



Já passou da hora. O mundo está despertando para a realidade de que o aumento global da obesidade não é uma questão de falhas individuais. Pelo contrário, é o resultado de sistemas que, de forma não intencional, promovem a obesidade enquanto negam às pessoas o acesso ao tratamento para essa doença crônica.

No cerne do Dia Mundial da Obesidade  celebrado agora em 2025 está a compreensão de que precisamos de melhores sistemas para termos vidas mais saudáveis. Isso significa sistemas de saúde que ofereçam cuidado às pessoas que vivem com obesidade. Mas, com a mesma urgência, precisamos de sistemas sociais, ambientais e alimentares que promovam a saúde metabólica, em vez de prejudicá-la.

Um novo artigo publicado hoje no The Lancet deixa clara a necessidade de melhorar os sistemas de saúde diante do avanço da obesidade global. Resumindo as conclusões do estudo, a autora principal, Emmanuela Gakidou, afirma: “A epidemia global sem precedentes de sobrepeso e obesidade é uma tragédia profunda e um monumental fracasso social.”

Tendências Globais Inconfundíveis

A análise dos dados globais sobre sobrepeso e obesidade revela um cenário claro de falhas sistêmicas: “Nenhum país conseguiu conter com sucesso o aumento das taxas de sobrepeso e obesidade em adultos até o momento. Sem intervenções imediatas e eficazes, o sobrepeso e a obesidade continuarão aumentando globalmente. Em especial na Ásia e na África, devido ao crescimento populacional, o número de pessoas com sobrepeso e obesidade deve aumentar substancialmente. Essas regiões enfrentarão um grande impacto das doenças associadas à obesidade.”

Sim, precisamos de sistemas melhores para vidas mais saudáveis.

Uma Virada nos Estados Unidos?

Em meio a esse reconhecimento do problema global, Sarah Bramblette, Gerente Sênior de Advocacy da Obesity Action Coalition (OAC), passou anos enfrentando o preconceito de que a obesidade é apenas uma escolha de estilo de vida.

Agora, ela vê sinais de mudança nos EUA. O debate sobre a ampliação da cobertura para o tratamento da obesidade em sistemas de saúde como o Medicare traz esperança:

“Tenho muitos motivos para ser otimista sobre o início da cobertura. Como paciente, assistir a essas audiências é revigorante. Ouvir pessoas no poder dizendo coisas como ‘obesidade é uma doença… os pacientes precisam de cobertura… os pacientes merecem cobertura’ é algo novo. Depois de uma década de trabalho, parece que a mensagem finalmente está chegando a quem precisa ouvi-la.”

Compartilhamos esse otimismo. Fora do círculo de especialistas e defensores da causa, cada vez mais políticos e profissionais de saúde começam a reconhecer a obesidade como a doença crônica e complexa que ela é.

Com mais cuidado para as pessoas que vivem com obesidade e curiosidade sobre os verdadeiros fatores que a impulsionam, conseguiremos, de fato, mudar o curso da obesidade global.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Abordagem nutrológica da Dor

Nos últimos 7 anos tenho recebido vários pacientes com dor, principalmente ortopedica/reumatológica. Um dos meus melhores amigos (Dr. Pedro Paulo Prudente - Médico do esporte e Acupunturiatra, neuromodulação funcional) é quem me encaminha a maioria desses pacientes. Como o Dr. Pedro já atua na área da dor há mais de 11 anos, ele sabe que a abordagem nutricional pode agregar muito no tratamento da dor, dos mais diversos tipos. Bem como, abordagem fisioterapêutica, psicoterápicas e do profissional de educação física. 

Sendo assim, eu e meu nutricionista (Rodrigo Lamonier) nos vimos obrigados a debrucar sobre esse vasto tema. O tipo de abordagem dietética para alívio da dor e as particularidades de cada tipo de dor. Afinal, uma coisa é a dor abdominal na síndrome do intestino irritável, outra coisa é a dor da fibromialgia, dor articular na síndrome de Ehlers Danlos, dor neuropática, dor da enxaqueca. Ou seja, há particularidades de acordo com a causa. 

O que percebemos ao longo dos anos com a nossa prática clínica e olhando na literatura as evidências, é que existem abordagens nutricionais e dietéticas que podem auxiliar no alívio da dor, dependendo da causa subjacente. Já que a nutrição desempenha um papel importante na modulação da inflamação, na saúde do sistema nervoso e na promoção da recuperação geral, o que pode influenciar diretamente a percepção da dor. Abaixo estão algumas estratégias nutricionais que podem ser úteis:

1. Dieta rica em alimentos com ação antiinflamatória:
Alimentos ricos em ômega-3: Peixes gordurosos (salmão, sardinha, atum), sementes de linhaça, chia e nozes, semente de girassol têm propriedades anti-inflamatórias que podem ajudar a reduzir a dor associada a condições inflamatórias, como na osteoartrite e na artrite reumatoide. Principalmente quando combinado com atividade física específica, acupuntura, tratamento por onda de choque, fisioterapia.
Frutas e vegetais: Ricos em antioxidantes (como vitamina C, E e polifenóis), ajudam a combater o estresse oxidativo (produção excessiva de radicais livres gerado pela inflamação) e o processo inflamatório. Exemplos: frutas vermelhas, cítricas, crucíferas como couve, brócolis, repolho. Romã, açaí.
Especiarias: Cúrcuma (curcumina) e gengibre têm efeitos anti-inflamatórios e ja há produtos da indústria farmacêutica com o extrato de ambos. A dose deverá ser avaliada pelo médico.
Gorduras saudáveis: Azeite de oliva extravirgem, abacate e oleaginosas contêm gorduras monoinsaturadas e compostos bioativos que pode auxiliar na redução da inflamação.


2. Redução de Alimentos Pró-inflamatórios:
Evitar alimentos ultra-processados, ricos em açúcares refinados e principalmente em gorduras saturada e gordura trans.  Visto que, eles podem aumentar o processo inflamatório e risco cardiovascular. Alterando também a percepção da dor, além de alterar a microbiota intestinal. Existe um ponto controverso que é a redução do consumo de carnes vermelhas e laticínios gordurosos (devido a quantidade de gordura saturada), que podem contribuir para processos inflamatórios em algumas pessoas. Isso não é válido para todos os pacientes, ou seja, a retirada de tais alimentos deve ser feita de forma programada e depois uma reintrodução com observação de sintomas (quantificando por escalas a melhora ou piora da dor). Qualquer coisa fora disso consideramos iatrogenia médica. O mesmo vale para glúten. Há pacientes que possuem sensibilidade não celíaca ao glúten e que quando consomem glúten apresentando piora da dor. Por isso, faz-se necessária a abordagem com nutrólogo e nutricionista que saibam o que estão fazendo e mais do que isso, consigam ensinar para o paciente, como ter uma autopercepção de melhora ou piora da dor. 

3. Nutrientes Específicos para o Controle da Dor
Magnésio: Encontrado em folhas verde-escuras, sementes de abóbora, amêndoas e grãos integrais, o magnésio ajuda a relaxar os músculos e pode aliviar dores musculares e cãibras. A dosagem sanguínea não deve ser feita rotineiramente, pois, o nível sanguineo não representa os níveis intracelulares (níveis reais). Além disso, há vários tipos de sais de magnésio e podem surgir efeitos colaterais com a utilização deles. Nunca autossuplemente.
Vitamina D: A deficiência de vitamina D está associada a dores crônicas, como fibromialgia e dores musculoesqueléticas. Exposição solar moderada e consumo de peixes gordurosos, ovos e suplementos (se necessário) podem ajudar.
Vitamina B12 e ácido fólico: Importantes para a saúde do sistema nervoso, podem ajudar em casos de dor neuropática. Fontes: carnes, ovos, laticínios e folhas verde-escuras. Aqui vale um adendo, as pessoas acreditam que B12 ou Ácido fólico não são deletérios. São. Não se autossuplemente. Há trabalhos que mostram que ambos podem aumentar risco de tumores sólidos, bem como risco cardiovascular. O déficit aumenta o risco de infarto, avc, mas o excesso também. Além disso, B12 e ácido fólico podem reduzir os níveis de ferro e B6.



4. Controle do Açúcar no Sangue:
Manter níveis estáveis de glicose no sangue pode prevenir dores associadas a neuropatias diabéticas. Priorize alimentos com baixo índice glicêmico, como grãos integrais, legumes e vegetais.

5. Hidratação Adequada:
A desidratação pode piorar dores de cabeça e dores musculares. Beber água suficiente e consumir alimentos ricos em água (como melancia, pepino, chuchu, tomate e abobrinha) é essencial.

6. Dietas Específicas para Condições Específicas

Dieta Low FODMAP: Pode ajudar pacientes com síndrome do intestino irritável (SII) a reduzir dores abdominais e desconforto gastrointestinal. Bem como, alguns trabalhos mostram benefício da Fibromialgia.

Dieta sem Glúten: Para pacientes com doença celíaca ou sensibilidade ao glúten não celíaca, a exclusão do glúten pode aliviar dores articulares e abdominais.

Dieta Cetogênica: Em alguns casos, como enxaquecas ou dores neuropáticas, a dieta cetogênica (rica em gorduras e pobre em carboidratos) pode ser benéfica. Também tem mostrado benéfica em alguns casos de lipedema. 


7. Suplementação

Em alguns casos, suplementos como ômega-3, curcumina, glucosamina, condroitina podem ser recomendados para alívio da dor, mas sempre sob supervisão do Nutrólogo e/ou Nutricionista. 

8. Acompanhamento Individualizado

Cada paciente responde de maneira diferente às intervenções nutricionais. É essencial que o Nutrólogo (com ênfase em Nutroterapia na Dor) avalie as necessidades individuais, considerando a doença de base, o tipo de dor, condições de saúde (comorbidades), história médica prévia, história patológica familiar, uso de medicações, hábitos de vida. 

Uma abordagem nutricional adequada pode ser uma ferramenta importante (mas não única) no manejo da dor, especialmente quando combinada com outros tratamentos médicos e mudanças no estilo de vida. No entanto, é fundamental que qualquer alteração na dieta seja feita por um Nutrólogo e nutricionista para garantir segurança e eficácia

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915

Nutricionista NÃO pode receitar remédio

Mensalmente alguém me pergunta no direct do instagram isso. Nutricionista pode receitar/prescrever remédio? A resposta é NÃO, baseado na Lei do ato médico de 2013. Mas no caso dos nutricionistas, o próprio código de ética dos Nutricionistas, além de normativas do Conselho Federal de Nutrição deixam bem claros que Nutricionistas não podem prescrever nada fora do tubo digestivo. 

Ou seja, Nutricionista não pode prescrever:

  • Produto que use via de administração diversa do sistema digestório; ou seja, injetáveis via intramuscular ou endovenosa são proibidos para nutricionistas. 
  • Medicamentos ou produtos que incluam formulações magistrais sujeitos à prescrição médica. Ou seja, não podem prescrever qualquer tipo de medicação para emagrecimento como Sibutramina, Orlistate, Liraglutida, Semaglutida, Tirzepatida ou medicamentos à base de vitaminas e minerais sujeitos a prescrição médica;
  • Suplementos com quantidades de nutrientes superiores aos níveis máximos regulamentados pela Anvisa ou na falta destes o Tolerable Upper Intake Levels – UL. Ex. Vitamina D acima de 4.000ui, B12 acima de 1.000mcg, Ferro acima de 60mg, etc.
  • Produtos que não atendam às exigências para produção e comercialização regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Mas o que nutricionista pode prescrever? 

Em 2020 o CFN publicou no DOU a Resolução CFN n° 656/2020, que dispõe sobre a prescrição dietética de suplementos alimentares pelo nutricionista e dá outras providências. A norma contempla a prescrição de produtos manipulados isentos de prescrição médica e mantém as diretrizes dos anexos I e II da IN Anvisa n° 28/2018, incluindo os limites de UL (tolerable upper intake levels – nível superior tolerável de ingestão) para nutrientes.

A prescrição dietética de suplementos alimentares pelo nutricionista inclui nutrientes; substâncias bioativas; enzimas; prebióticos; probióticos; produtos apícolas como mel, própolis, geleia real e pólen; novos alimentos e novos ingredientes e outros autorizados pela Anvisa para comercialização, isolados ou combinados, bem como medicamentos isentos de prescrição à base de vitaminas, minerais, aminoácidos e proteínas, isolados ou associados entre si. Ou seja, nutricionista não pode prescrever medicamentos alopáticos e nem homeopáticos. Também não são todos fitoterápicos que ele podem prescrever. Nem todas as doses de vitaminas e minerais.

O nutricionista pode prescrever produtos manipulados isentos de prescrição médica e contemplados no anexo da Resolução CFN n° 656/2020;

Para prescrição dietética de suplementos alimentares, o nutricionista deve respeitar os limites de UL (Tolerable Upper Intake Levels – nível superior tolerável de ingestão) para nutrientes e, em casos não contemplados, considerar critérios de eficácia e segurança com alto grau de evidências científicas; respeitar as listas de constituintes autorizados para uso em suplementos alimentares prevista nos anexos I e II da IN Anvisa n° 28/2018 e suas atualizações, e os insumos autorizados pela Anvisa para comercialização, disponíveis nas farmácias de manipulação; na prescrição de enzimas, indicar a atividade enzimática em unidades (U) e na de probiótico, em Unidades Formadoras de Colônias (UFC);

Dados a serem informados na receita: nome do paciente/cliente/usuário; via, composição e posologia dos suplementos alimentares; data de prescrição; assinatura, carimbo do profissional com nome, número de registro no conselho profissional e respectiva jurisdição; fone, endereço completo ou outro meio de contato profissional.

Autor: Dr. Frederico Lobo - CRM-GO 13192 RQE 11915 - Médico Nutrólogo

domingo, 2 de março de 2025

Inúmeros novos fármacos para tratamento da obesidade estão chegando: estes são os que você deve observar.

 Os medicamentos de próxima geração para obesidade funcionarão de maneira diferente do Ozempic e do Wegovy, com o objetivo de proporcionar maior perda de peso com menos efeitos colaterais.

Para Kristian Cook, cada caixa de pizza que ele abria era mais uma porta fechada no caminho para superar a obesidade. “Eu tinha um desejo incontrolável por pizza”, diz ele. “Esse foi meu maior ponto fraco.”

Com 114 quilos e lidando diariamente com medicamentos para colesterol alto, hipertensão e gota, o neozelandês decidiu agir. No final de 2022, aos 46 anos, Cook ingressou em um ensaio clínico para testar a combinação do medicamento para perda de peso semaglutida — mais conhecido pelos nomes comerciais Ozempic ou Wegovy — com um medicamento experimental projetado para preservar a musculatura enquanto reduz a gordura.

A perda muscular é uma grande preocupação para pessoas que usam medicamentos antiobesidade como a semaglutida. Esses “agonistas do GLP-1” imitam um hormônio intestinal natural — o peptídeo semelhante ao glucagon 1 — para suprimir o apetite e regular o metabolismo. No entanto, a redução da ingestão calórica cria um déficit energético, que o corpo frequentemente compensa queimando músculo. O medicamento experimental que Cook recebeu, chamado bimagrumabe, parece contrariar essa perda muscular.

Esse é apenas um dos mais de 100 candidatos a medicamentos antiobesidade que estão em diferentes estágios de desenvolvimento. A próxima geração de medicamentos, que deve chegar às farmácias nos próximos anos, se assemelha aos já disponíveis no mercado. Mas, logo atrás, estão várias terapias sendo desenvolvidas especificamente para preservar a musculatura durante a perda de peso. Outras dezenas de medicamentos visam diferentes vias biológicas e podem redefinir o tratamento da obesidade nas próximas décadas.

“Estamos trabalhando para criar a próxima geração de soluções saudáveis para a perda de peso”, diz Philip Larsen, que teve um papel fundamental no desenvolvimento inicial dos medicamentos GLP-1 e atualmente é CEO da SixPeaks Bio, uma startup suíça focada na obesidade.

O avanço no desenvolvimento de medicamentos contra a obesidade foi impulsionado pelo enorme sucesso da semaglutida e de seu concorrente, a tirzepatida — vendida como Zepbound ou Mounjaro. Esses medicamentos abriram caminho para um mercado global que deve ultrapassar US$ 100 bilhões até o final da década.

Mas a semaglutida e a tirzepatida têm suas limitações. Elas exigem injeções semanais e frequentemente causam efeitos colaterais desagradáveis, como náuseas, vômitos e diarreia. A longo prazo, a perda de massa muscular e a tendência ao reganho de peso após a interrupção do tratamento também são desafios. Além disso, estima-se que os medicamentos não funcionem de forma satisfatória para 10% a 30% das pessoas que os utilizam.

As novas terapias buscam potencializar a perda de peso, melhorar a tolerabilidade, garantir efeitos duradouros e oferecer opções para um público mais amplo (veja ‘O que vem por aí nos medicamentos contra a obesidade’). “Vamos perceber que diferentes medicamentos funcionam melhor para diferentes grupos de pessoas”, diz Louis Aronne, especialista em obesidade da Weill Cornell Medicine, em Nova York, que presta consultoria para fabricantes de medicamentos

Caminhos diversos, mesmo objetivo

Semaglutida e tirzepatida costumam ser agrupadas sob o rótulo de medicamentos GLP-1, mas diferem em um aspecto crucial: a tirzepatida imita não apenas o GLP-1, mas também um hormônio complementar chamado polipeptídeo inibidor gástrico (GIP). Esse hormônio acelera ainda mais o metabolismo energético e influencia a forma como o corpo armazena e queima nutrientes. Acredita-se que essa ação dupla da tirzepatida contribua para seus resultados superiores na perda de peso.

Em um grande ensaio clínico comparativo, patrocinado pela fabricante da tirzepatida, Eli Lilly, em Indianápolis, Indiana, os participantes que tomaram tirzepatida perderam, em média, 20% do peso corporal, superando a redução de 14% obtida com a semaglutida, produzida pela empresa farmacêutica Novo Nordisk, em Bagsværd, Dinamarca. “Acreditamos que exista um mecanismo homeostático, como um termostato, que determina um certo peso corporal e estimula a fome até que o alcancemos”, diz Dan Skovronsky, diretor científico da Eli Lilly. No entanto, segundo ele, medicamentos como a tirzepatida podem neutralizar esse mecanismo natural.

Inspiradas pelo sucesso da tirzepatida, muitas empresas estão desenvolvendo outros medicamentos que atuam nos receptores de GLP-1 e GIP. Pelo menos cinco terapias semelhantes à tirzepatida estão avançando nos ensaios clínicos, e a primeira deve chegar ao mercado até 2028. Pacientes e médicos “precisam de uma variedade de opções”, afirma Ron Renaud, CEO da Kailera Therapeutics, uma startup de biotecnologia em Waltham, Massachusetts, que tem uma terapia semelhante à tirzepatida em fase avançada de testes clínicos.

Além dos ativadores duplos, como a tirzepatida, há também candidatos a medicamentos, como o MariTide (produzido pela empresa biofarmacêutica Amgen, em Thousand Oaks, Califórnia), que bloqueiam o sinal do GIP enquanto ainda ativam o GLP-1. Pode parecer contraditório que ambas as abordagens funcionem, mas Jonathan Campbell, pesquisador de metabolismo da Universidade Duke, em Durham, Carolina do Norte, explica o metabolismo em termos de consumo de combustível de um veículo na estrada: pressionar forte o acelerador, como na ativação do GIP, queima energia de forma ineficiente, esgotando os recursos mais rápido do que podem ser repostos. Por outro lado, dirigir sem soltar completamente o freio de mão cria um atrito constante, semelhante ao bloqueio do GIP, forçando o sistema a trabalhar mais para manter a velocidade.

“Em termos de controle de peso, qualquer coisa que torne você menos eficiente será positiva”, diz Campbell, que recebe financiamento de pesquisa de empresas farmacêuticas. No entanto, ele alerta que as consequências mais amplas de cada estratégia ainda são incertas. Como o GIP também desempenha um papel na saúde óssea, há preocupações de que bloquear seu sinal possa afetar adversamente os ossos. Além disso, permanecem dúvidas sobre os efeitos a longo prazo da perda de peso drástica no corpo, incluindo impactos na musculatura, na flexibilidade metabólica e na saúde dos órgãos.

Embora medicamentos como semaglutida e tirzepatida tenham demonstrado reduzir o risco de AVC, infarto e outros problemas cardiovasculares, além de aliviar a apneia do sono e melhorar a função hepática, eles também têm sido associados a condições como artrite e pancreatite. Os riscos desconhecidos, especialmente em populações diversas e com uso prolongado, levam alguns médicos a preferirem soluções cirúrgicas já estabelecidas, como a cirurgia bariátrica.

No entanto, a incerteza não tem desmotivado as empresas farmacêuticas a explorar novos alvos hormonais. Entre eles estão outros hormônios derivados do intestino, como o peptídeo YY, conhecido por sua capacidade de aumentar a saciedade, e hormônios liberados pelo pâncreas, como o glucagon e a amilina, que poderiam complementar as terapias baseadas em GLP-1 ao aumentar o gasto energético, estabilizar os níveis de açúcar no sangue e suprimir ainda mais o apetite.

Trabalhando juntos

Muitas das estratégias em desenvolvimento visam múltiplas vias simultaneamente. A terapia combinada CagriSema, por exemplo, combina um análogo de ação prolongada da amilina com semaglutida. Segundo a Novo Nordisk, empresa responsável pelo medicamento, participantes de um ensaio clínico de fase III com duração de 68 semanas perderam, em média, quase 23% do peso corporal com essa abordagem.

Se os ensaios em andamento forem bem-sucedidos, o CagriSema, juntamente com agentes que combinam a atividade do GLP-1 e do glucagon — como o survodutide, da empresa farmacêutica Boehringer Ingelheim, na Alemanha —, poderá obter aprovação regulatória já em 2026 ou 2027. No entanto, seu impacto pode ser ofuscado por mais um concorrente. Nos testes de fase II, o retatrutide da Eli Lilly — apelidado de “triplo G” por sua capacidade de atingir os receptores de GLP-1, GIP e glucagon — proporcionou uma redução média de 24% do peso corporal após 48 semanas, estabelecendo um novo marco nos tratamentos contra a obesidade.

Carel le Roux, especialista em medicina metabólica da University College Dublin e consultor de várias empresas farmacêuticas, afirma que os achados sugerem que “quanto mais mecanismos adicionamos, maior é o benefício”. A ativação de múltiplas vias pode permitir o uso de doses menores, alcançando a mesma perda de peso com menos efeitos colaterais.

As empresas também estão explorando alternativas às injeções semanais, que podem ser difíceis de incorporar à rotina das pessoas e apresentam desafios na produção. Injeções mensais estão em desenvolvimento, mas os comprimidos de GLP-1 — liderados por um medicamento chamado orforglipron, da Eli Lilly — podem chegar primeiro ao mercado, possivelmente já no próximo ano. Em um estudo de fase II com duração de 36 semanas, os participantes que usaram a opção oral diária perderam até 15% do peso corporal.

Alvos menos conhecidos

Embora os hormônios intestinais continuem sendo a base do desenvolvimento de medicamentos para obesidade, o sequenciamento genético em larga escala tem sido uma fonte de inspiração para novos alvos. Em 2021, cientistas da empresa de biotecnologia Regeneron Pharmaceuticals, em Tarrytown, Nova York, lideraram uma análise do DNA de quase 650.000 indivíduos e descobriram uma variante genética rara associada a um baixo peso corporal. No ano seguinte, pesquisadores da Alnylam Pharmaceuticals, em Cambridge, Massachusetts, identificaram uma mutação em um gene chamado INHBE. Essa mutação está associada a uma menor relação cintura-quadril, uma medida que reflete uma distribuição de gordura mais saudável no corpo. Agora, empresas buscam desenvolver medicamentos que repliquem os benefícios metabólicos dessas variantes genéticas.

Antigos alvos também estão recebendo nova atenção. Um exemplo é o receptor canabinoide CB1, inicialmente investigado após a descoberta de seu papel na estimulação do apetite induzida pela maconha — o fenômeno conhecido como munchies. No final dos anos 2000, um medicamento desenvolvido para bloquear esse efeito chegou a ser comercializado na Europa como terapia para perda de peso. No entanto, a inibição dos receptores canabinoides no cérebro foi associada a um risco aumentado de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas em algumas pessoas. O medicamento, chamado rimonabanto, foi retirado do mercado em menos de três anos, e empresas concorrentes abandonaram projetos semelhantes.

Mas George Kunos, neuroendocrinologista do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA, em Bethesda, Maryland, nunca desistiu da estratégia de bloqueio dos canabinoides. Há cerca de 15 anos, sua equipe e outros pesquisadores demonstraram em roedores que grande parte dos efeitos antiobesidade dos inibidores de CB1 vinha de vias metabólicas no fígado, músculos, pâncreas e outros órgãos fora do cérebro. Se um medicamento como o rimonabanto pudesse ser quimicamente modificado para impedir que atravessasse a barreira hematoencefálica, ele poderia proporcionar benefícios metabólicos sem os efeitos colaterais graves.

O laboratório de Kunos desenvolveu um bloqueador canabinoide de nova geração, agora chamado monlunabanto, que está sendo desenvolvido pela Novo Nordisk. No ano passado, resultados de ensaios clínicos de fase II indicaram que o monlunabanto ainda pode causar ansiedade, irritabilidade e distúrbios do sono. Mesmo assim, Kunos prevê que as farmacêuticas chegarão a uma dose que permita uma redução significativa do peso com níveis aceitáveis de efeitos colaterais.

Grande aposta

Uma variedade de outras abordagens terapêuticas está sendo explorada. Por exemplo, um agente que bloqueia a absorção de alimentos no intestino e outro que inibe uma enzima responsável pelo metabolismo das gorduras estão atualmente em ensaios clínicos de fase II. No entanto, as terapias voltadas para a musculatura, como o bimagrumabe, têm atraído o maior interesse da indústria, principalmente porque cerca de um terço da redução de peso em indivíduos que tomam semaglutida ou tirzepatida ocorre devido à perda de músculo, e não de gordura.

A diminuição da massa muscular levanta preocupações estéticas e pode comprometer a força, a mobilidade e a saúde fisiológica geral. Além disso, o músculo desempenha um papel crucial na regulação da glicose e no gasto energético. Por isso, a perda muscular representa “um grande obstáculo para a manutenção de uma perda de peso contínua e sustentável”, afirma Melanie Haines, endocrinologista do Massachusetts General Hospital, em Boston, que estuda o bimagrumabe.

Preservando músculos

Atualmente, pessoas que tomam medicamentos à base de GLP-1 são orientadas a consumir alimentos ricos em proteínas e praticar treinamento de resistência para preservar a massa muscular. No entanto, um medicamento direcionado ao sinalizador da miostatina — o principal regulador negativo do crescimento muscular — poderia oferecer uma solução mais prática e eficaz, diz Se-Jin Lee, biólogo muscular do The Jackson Laboratory for Genomic Medicine, em Farmington, Connecticut. Lee, que descobriu a miostatina na década de 1990, atua como consultor para diversas empresas farmacêuticas.

O medicamento experimental que Cook utilizou, bimagrumabe, atua exatamente dessa forma. Ele bloqueia um receptor através do qual a miostatina e proteínas relacionadas inibem o crescimento muscular e promovem a retenção de gordura. Após quase um ano de tratamento com a terapia combinada de bimagrumabe e semaglutida, Cook perdeu cerca de 18 kg de gordura e ganhou 1 kg de músculo. O principal efeito colateral, segundo ele, foram cãibras e espasmos esporádicos — na virilha, no ombro e até nos músculos na parte posterior da língua.

Agora que Cook não está mais em uso dos medicamentos, ele recuperou parte da gordura. No entanto, permanece mais de 10% abaixo de seu peso máximo, e sua massa muscular tem se mantido relativamente estável. “Para mim, foi uma experiência transformadora”, afirma.

O bimagrumabe foi inicialmente desenvolvido como um candidato para tratar a perda muscular relacionada à idade e outras condições que levam à redução da massa muscular. Ensaios clínicos mostraram que o medicamento aumentava a massa muscular sem apresentar problemas de segurança significativos. No entanto, ele não demonstrou superioridade em relação ao placebo em testes funcionais de força de preensão manual e capacidade de locomoção. Por esse motivo, a empresa farmacêutica Novartis, com sede em Basileia, Suíça, interrompeu o desenvolvimento do medicamento em 2017.

Ainda assim, dois executivos seniores da Novartis permaneceram confiantes no potencial do bimagrumabe, que demonstrou melhoria no controle da glicose no sangue e potencial para redução da gordura em pequenos ensaios clínicos com pessoas em risco de desenvolver ou que já tinham diabetes tipo 2. O medicamento era “muito potente e, na verdade, bastante seguro”, afirma Mark Fishman, ex-presidente de pesquisa biomédica da Novartis. Segundo ele, a equipe só precisava encontrar a indicação certa para usá-lo.

Atualmente na Universidade de Harvard, em Cambridge, Mark Fishman lidera o conselho consultivo científico da Aditum Bio, uma empresa de investimentos em Oakland, Califórnia, que ele cofundou com Joe Jimenez, ex-CEO da Novartis. Em 2021, a Aditum ajudou a lançar uma empresa focada em reposicionar o bimagrumabe como um tratamento para perda de peso. Essa startup foi posteriormente adquirida pela Eli Lilly, que ainda não divulgou os resultados do ensaio clínico com 500 participantes, do qual Cook fez parte.

Outras empresas estão seguindo o mesmo caminho, trazendo de volta terapias musculares que haviam sido arquivadas e explorando novos mecanismos para promover crescimento muscular e melhora do metabolismo. “Todo mundo quer tirar seus compostos de miostatina da prateleira para ver se podem ser reaproveitados no tratamento da obesidade”, diz Paul Titchenell, pesquisador de metabolismo molecular da Universidade da Pensilvânia Perelman School of Medicine, na Filadélfia.

Ainda há incertezas sobre o impacto da preservação muscular na manutenção do peso a longo prazo. Registros de saúde e dados de seguradoras nos EUA mostram que a maioria das pessoas que inicia tratamento com semaglutida ou tirzepatida para perda de peso interrompe o uso após um ou dois anos, levando a um efeito rebote — com a maior parte do peso recuperado sendo gordura.

Se esse ciclo se repetir algumas vezes, alternando entre uso e interrupção dos medicamentos, a perda cumulativa de massa muscular pode ter consequências duradouras. “Podemos estar criando uma geração de pessoas com sarcopenia”, alerta Carla Prado, pesquisadora em nutrição da Universidade de Alberta, no Canadá, referindo-se à condição caracterizada por perda progressiva de massa e força muscular.

No entanto, segundo Caterina Conte, especialista em obesidade da Universidade San Raffaele Roma, essa preocupação ainda não é respaldada por evidências científicas. (Prado e Conte publicaram artigos com opiniões opostas no ano passado, debatendo o papel da preservação muscular nos tratamentos para obesidade.)

Muitos defensores das terapias musculares reconhecem as incertezas. “Estamos avançando para um território ainda pouco estudado”, afirma Steven Heymsfield, especialista em obesidade do Pennington Biomedical Research Center, em Baton Rouge, Louisiana, que participou de ensaios clínicos com bimagrumabe e outros medicamentos para perda de peso. De qualquer forma, ele e outros especialistas acreditam que agentes voltados para o músculo devem se tornar parte de um arsenal diversificado para tratar a obesidade e suas comorbidades.

Boaz Hirshberg, vice-presidente sênior e chefe da unidade de desenvolvimento clínico de medicina interna da Regeneron, que também está desenvolvendo terapias musculares, ressalta que semaglutida e tirzepatida logo terão companhia. Com a chegada de novas opções, ele conclui: “Podemos finalmente começar a pensar em personalizar os tratamentos de acordo com as necessidades de cada paciente.”


Perda de peso corporal e remissão do diabetes tipo 2

O termo “remissão” em latim significa “retornar”. No sentido literal, a remissão do diabetes implica na restauração da hiperglicemia para uma regulação normal da glicose. 

Evidências crescentes sugerem que a perda de peso corporal é fundamental para alcançar a remissão do diabetes tipo 2, definida como HbA1c inferior a 6,5% (<48 mmol/mol) por pelo menos três meses após a interrupção da terapia farmacológica para redução da glicose. A remissão do diabetes tipo 2 pode ser classificada em remissão parcial (HbA1c <6,5% [<48 mmol/mol] ou glicemia de jejum <126 mg/dL [<7,0 mmol/L]) ou remissão completa (HbA1c <6,0% [<42 mmol/mol] ou glicemia de jejum <100 mg/dL [<5,6 mmol/L]). Diante do crescente número de pessoas vivendo com diabetes tipo 2 em todo o mundo, é essencial compreender melhor a natureza, os fatores de confusão e a trajetória da remissão da doença.

No estudo publicado em The Lancet Diabetes & Endocrinology, Sarah Kanbour e colegas relatam os achados de uma revisão sistemática e análise de meta-regressão que incluiu 22 ensaios clínicos randomizados, abrangendo mais de 12.000 participantes com diabetes tipo 2 submetidos a diferentes intervenções para perda de peso, com o objetivo de investigar a relação entre perda de peso corporal e remissão da doença. Notavelmente, os agonistas do GLP-1 e os inibidores de SGLT2 foram excluídos da análise. 

Os autores observaram uma forte relação dose–resposta entre perda de peso e remissão. Um ano após a intervenção, a remissão completa foi alcançada por 0,7% (IC 95% 0,1–4,5) dos participantes que perderam menos de 10% do peso corporal, por 49,6% (40,4–58,9%) daqueles que perderam entre 20–29% do peso e por 79,1% (68,6–88,1%) dos que perderam 30% ou mais do peso. A remissão parcial, um ano após a intervenção, foi atingida por 5,4% (IC 95% 2,9–8,4) dos participantes com perda de peso inferior a 10%, por 48,4% (36,1–60,8%) daqueles que perderam entre 10–19%, por 69,3% (55,8–81,3%) dos que perderam entre 20–29%, e por 89,5% (80,0–96,6%) dos que perderam 30% ou mais do peso corporal. A cada redução de 1 ponto percentual no peso, a probabilidade de remissão aumentou em 2%. 

Outros fatores, como duração do diabetes, uso de insulina, tipo de intervenção, sexo e raça/etnia, não afetaram significativamente a probabilidade de remissão. Por outro lado, na análise multivariada, indivíduos com idade entre 45–49 anos apresentaram menor probabilidade de remissão completa (proporção ajustada 0,72 [IC 95% 0,55–0,94]; p=0,020). 

Além disso, a proporção de pacientes com remissão completa diminuiu de 48% no primeiro ano para 14% após cinco anos de acompanhamento, enquanto a proporção de pacientes com remissão parcial caiu de 39% no primeiro ano para 19% após cinco anos.

Esses achados corroboram os resultados do estudo Diabetes Remission Clinical Trial (DIRECT), que utilizou um programa estruturado de manejo do peso corporal, e destacam diversas questões importantes para pesquisas futuras. Primeiramente, os resultados demonstram que a perda de peso é o único fator com um efeito claro e significativo na remissão do diabetes tipo 2. 

O tipo de intervenção não exerceu um impacto discernível na probabilidade de remissão quando ajustado para a perda de peso. Diferente de estudos anteriores, a análise atual, em que a mediana da duração do diabetes foi de seis anos, não encontrou evidências de que a duração da doença afetasse a remissão. No entanto, os achados de Kanbour e colegas sugerem que a idade pode influenciar a remissão, reforçando a necessidade de intervenções precoces, já que a função das células β se deteriora com o envelhecimento.

Em segundo lugar, os autores demonstraram que a perda de peso inferior a 10% parece insuficiente para alcançar uma remissão significativa do diabetes tipo 2. O estudo DIRECT, que incluiu indivíduos com idade média de 55 anos no início do estudo e diagnosticados com diabetes tipo 2 há até seis anos, mostrou que as taxas de remissão pelo menos dois meses após a interrupção de todos os medicamentos antidiabéticos diminuíram de 62% no primeiro ano para 13% após cinco anos nos participantes da fase de extensão. 

Assim, embora as intervenções para perda de peso sejam essenciais logo após o diagnóstico, evitar o ganho de peso seria uma estratégia ainda mais eficaz, especialmente considerando a impressionante queda nas taxas de remissão ao longo do tempo, observada tanto no estudo DIRECT quanto no estudo atual de Kanbour e colegas. 

O estudo DIRECT mostrou que a recuperação da função das células β induzida pela perda de peso mediava a remissão do diabetes tipo 2. No entanto, como a função das células β já está significativamente comprometida no momento do diagnóstico de pré-diabetes (hiperglicemia intermediária) e piora com a progressão para o diabetes tipo 2, um diagnóstico e intervenção mais precoces poderiam prevenir ou reverter essa deterioração.

Diante da necessidade de detectar a disfunção glicêmica mais cedo, a International Diabetes Federation recomendou a glicemia plasmática de 1 hora com um ponto de corte de 155 mg/dL (8,6 mmol/L) como um biomarcador sensível para a identificação precoce de pessoas com alto risco de desenvolver diabetes tipo 2, antes mesmo do estágio de pré-diabetes. 

O estudo Prediabetes Lifestyle Intervention Study (PLIS) demonstrou que a remissão do pré-diabetes para uma regulação normal da glicose melhora a sensibilidade à insulina e a função das células β, conferindo uma proteção substancial contra o diabetes tipo 2 quando comparada a indivíduos com perda de peso semelhante, mas sem remissão. 

Uma análise secundária do Diabetes Prevention Program (DPP) mostrou que a remissão direcionada do pré-diabetes para a regulação normal da glicose, além da perda de peso padrão, resultou em uma redução relativa de 76% no risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2 em comparação com a perda de peso padrão isolada. Assim, a remissão do pré-diabetes induzida pela perda de peso pode ajudar a prevenir a progressão para o diabetes tipo 2. 

A aplicação da determinação da glicemia plasmática de 1 hora para detectar precocemente pessoas em alto risco, antes do início do pré-diabetes, pode melhorar ainda mais as taxas de remissão e levar a uma regulação normal da glicose.

À medida que a prevalência global do diabetes tipo 2 continua a aumentar, torna-se fundamental que a intervenção ocorra em idades mais jovens e em estágios iniciais de risco. Esse objetivo requer uma melhor detecção de risco por meio da determinação da glicemia plasmática de 1 hora e a implementação de estratégias direcionadas à remissão, levando a uma regulação normal da glicose. 

Esses princípios devem ser fortemente considerados em futuras recomendações e diretrizes para a prevenção do diabetes.

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sábado, 1 de março de 2025

Frutas, verduras e legumes: Março

   


Por que consumir alimentos da safra? Existem vantagens?

Motivo 1: Se está na safra, provavelmente o preço está menor. Mais economia para o seu bolso.

Motivo 2: Tendem a ter maior densidade nutricional, a quantidade de nutrientes, em especial antioxidantes é maior, visto que, utiliza-se menos agrotóxicos e o vegetal precisa se adaptar a situações inóspitas (pragas, calor, frio, umidade, radiação solar, ventos). Ou seja, ele produz mais "defesas", nesse caso os polifenóis, que são antixodantes. Os alimentos da safra são colhidos no momento ideal de maturação, o que significa que estão no auge do seu sabor, textura e valor nutricional. Consumí-los garante que você esteja recebendo produtos frescos e de melhor qualidade.

Motivo 3: Safra = maior abundância. Provavelmente terá menos agrotóxicos (eu disse menos, não que não tenham). Se a está na safra, naturalmente naquela época do ano aquele alimento desenvolve mais facilmente. Não sendo necessário uso de agrotóxicos ou caso o agricultor utilize, a quantidade tende a ser menor. Menos agrotóxico, menos veneno. Em breve o Ministério da saúde publicará um guia sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Tema totalmente negligenciado na Medicina. 

Motivo 4: Os vegetais na safra são encontrados mais facilmente nas feiras e mercados. O Brasil é um país vasto e diversificado, com diferentes regiões climáticas que possibilitam o cultivo de uma grande variedade de alimentos ao longo do ano. Consumir alimentos da safra permite que você experimente uma ampla gama de frutas, legumes e verduras, aproveitando a diversidade da culinária brasileira.

Motivo 5: Sustentabilidade e apoio ao agricultores locais.  Consumir os alimentos da safra vigente é um ato de sustentabilidade, pois respeita o tempo da natureza e economiza energia e recursos extras de forma intensiva ou no transporte por diferentes distâncias. Escolher alimentos da safra muitas vezes significa apoiar práticas agrícolas mais sustentáveis. Como esses alimentos estão disponíveis localmente e não precisam ser transportados por longas distâncias, há uma redução significativa na pegada de carbono associada ao seu consumo. Além disso, os produtores locais que cultivam alimentos da safra geralmente empregam técnicas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente.  Comprar alimentos da safra de produtores locais contribui para fortalecer a economia da sua região. Ao apoiar os agricultores locais, você ajuda a manter empregos na comunidade e a promover um sistema alimentar mais justo e sustentável. 


Frutas de Março
Abacate Fortuna, Quintal e Manteiga
Ameixa Estrangeira
Banana Maçã e Nanica
Caqui
Coco Seco
Cidra
Figo
Fruta do Conde
Goiaba
Jaca
Kiwi Nacional
Laranja Pera
Limão Taiti e Galego
Maçã Nacional Gala
Mamão Formosa e Papaia
Maracujá Azedo e Doce
Melancia
Melāo Amarelo
Nectarina Estrangeira
Pêra Nacional e Estrangeira
Pêssego Estrangeiro
Uva Rubi e Estrangeira




Verduras e Legumes de Março
Abóbora D'Agua, Japonesa e Seca
Abobrinha Brasileira e Italiana
Acelga
Alface
Almeirão
Aspargo
Batata Doce Amarela
Berinjela Japonesa
Beterraba
Catalonha
Cebola
Cebolinha 
Chicória
Escarola
Espinafre
Gobô
Louro 
Mandioca
Nabo
Orégano
Pepino Caipira e Comum
Pimenta Cambuci e Vermelha
Quiabo 
Repolho
Rúcula
Salsa

Autores
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915, CRM-SC 32.949, RQE 22.416
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Consenso Brasileiro de Lipedema (metodologia Delphi)


O lipedema, historicamente sub-reconhecido, tem ganhado destaque devido aos avanços na pesquisa e ao aumento da conscientização. O Consenso Brasileiro de Lipedema, promovido pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, visa estabelecer diretrizes claras para diagnóstico, tratamento e manejo. Utilizando a metodologia Delphi, o estudo envolveu a criação de 90 afirmações sobre lipedema por especialistas, seguida pela avaliação de 113 profissionais adicionais. Essas afirmações foram analisadas via SurveyMonkey, com um limiar de 75% de concordância necessário para sua inclusão no consenso. A maioria das afirmações atingiu um consenso significativo, exceto nove, que precisam de mais pesquisa. O estudo enfatiza a complexidade do lipedema, a eficácia do tratamento conservador sobre a cirurgia, a necessidade de abordagens multidisciplinares e a importância da conscientização para reduzir o subdiagnóstico e o estigma. Ressalta-se também a contínua necessidade de pesquisas para desenvolver estratégias de manejo mais efetivas.

Na última semana foi publicado no Jornal Vascular Brasileiro o primeiro consenso de Lipedema. Liderado pelo Dr. Alexandre Amato, pesquisador de Lipedema. Para acessar clique em: 

É importante ressaltar que e momento nenhum os autores citam:
Implante de gestrinona ou de testosterona para tratamento do Lipedema
Soroterapia com qualquer nutriente para alívio dos sintomas
Suplementos com finalidade de melhorar a parte funcional dos portadores de Lipedema. O único nutriente citado foi a vitamina D.

O que o consenso evidenciou foi:
  • A abordagem multidisciplinar é fundamental no tratamento do lipedema. Cirurgiões vasculares podem gerenciar complicações linfáticas associadas.
  • Endocrinologistas ajudam a otimizar o perfil hormonal e metabólico dos pacientes. 
  • Ortopedistas podem ser consultados para lidar com as questões musculoesqueléticas decorrentes do excesso de peso nos membros.
  • Cirurgiões plásticos podem realizar procedimentos para reduzir o acúmulo de gordura e melhorar a funcionalidade e a estética. 
  • Psiquiatras e profissionais de saúde mental são essenciais para o acompanhamento dos aspectos emocionais e psicológicos, frequentemente negligenciados. 
  • Ginecologistas também desempenham um papel importante, particularmente no manejo de mulheres com lipedema que apresentam problemas hormonais e questões ginecológicas concomitantes.
  • Personal trainer auxiliará na prática de exercício físico, já que ele é um componente importante no manejo do lipedema, ajudando na melhoria da mobilidade, na redução do risco de complicações, como o linfedema, e na manutenção da saúde cardiovascular. No entanto, a atividade física deve ser adaptada para cada indivíduo, considerando a dor e a mobilidade. Um profissional de educação física com conhecimento específico sobre o lipedema pode elaborar programas de exercícios que minimizem o risco de lesões e maximizem os benefícios terapêuticos, considerando as limitações e necessidades específicas de cada paciente.
  • Nutrologia, Nutrição e Endocrinologia: A nutrição é um aspecto mais controverso, porém, ainda com alta concordância e evidência, diz respeito à relação entre carboidratos e proteínas na alimentação, que foi incluído na Fase 3 do Consenso. É fundamental que nutricionistas, nutrólogos, endocrinologistas e todos os profissionais envolvidos no tratamento do lipedema tenham acesso a programas de nutrição específicos e realizem uma abordagem consensual entre a equipe e o paciente, uma vez que o desacordo entre os profissionais dificulta a já difícil adesão a programas alimentares.
  • Tipo de dieta: dietas balanceadas podem ajudar a reduzir a inflamação sistêmica e os sintomas associados ao lipedema, além de potencialmente aumentar a eficácia de outras intervenções terapêuticas. Dietas específicas, como as anti-inflamatórias e cetogênicas, têm sido exploradas em relação ao lipedema e podem oferecer benefícios sintomáticos a alguns pacientes. Tais abordagens dietéticas devem ser consideradas cuidadosamente e adaptadas individualmente, dada a variabilidade de resposta entre os indivíduos. Pessoas com lipedema podem apresentar mudanças nos hábitos intestinais, muitas vezes como resultado de uma dieta com alimentos pró-inflamatórios e alterações na flora intestinal, que podem contribuir para um estado inflamatório sistêmico. 
  • A vitamina D, um nutriente com múltiplas funções biológicas, incluindo a modulação do sistema imunológico e da inflamação, é frequentemente encontrada em níveis deficientes em mulheres com lipedema. Portanto, a monitorização e a suplementação adequadas são essenciais para garantir a saúde óssea e possivelmente influenciar positivamente a progressão do lipedema. A adequação dos níveis de vitamina D pode desempenhar um papel no alívio dos sintomas e na prevenção de complicações associadas à condição.

Para ler o texto que escrevi com minha afilhada Esthefânia Almeida acesse: https://www.ecologiamedica.net/2024/06/lipedema-conceito-diagnostico.html

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Uso de gestrinona no tratamento do Lipedema. Há respaldo?

O Lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de tecido adiposo, principalmente nas pernas, e pode causar dor, inchaço e problemas de mobilidade. Embora o caminho para a compreensão e tratamento do lipedema tenha evoluído significativamente, a busca por terapias eficazes continua sendo um desafio para a comunidade médica e para as pessoas que convivem com esta condição.

Recentemente, a gestrinona, um esteroide sintético com propriedades androgênicas, antiprogestogênicas e estrogênicas fracas, tem sido explorada por alguns profissionais como uma opção terapêutica para o lipedema. Originalmente utilizada em tratamentos ginecológicos, como a endometriose, a gestrinona suscitou interesse por suas potenciais propriedades de alteração hormonal. No entanto, é fundamental esclarecer que, até o momento, não existem evidências científicas que respaldem o uso da gestrinona no tratamento do lipedema.

A Falta de Evidência Científica

A comunidade científica opera com base em evidências obtidas através de pesquisas rigorosas e estudos clínicos. Para que um tratamento seja considerado eficaz e seguro, ele deve passar por diversas fases de pesquisa, incluindo ensaios clínicos controlados que comprovem sua eficácia e segurança para uma determinada condição. No caso da gestrinona e seu uso potencial no tratamento do lipedema, a literatura médica atual não oferece suporte para tais práticas.

Uso Experimental e a Necessidade de Protocolos de Pesquisa

Qualquer consideração do uso da gestrinona como tratamento para o lipedema deve ser enquadrada dentro de um contexto experimental, sob a supervisão de um rigoroso protocolo de pesquisa científica aprovado por um comitê de ética médica. Isso significa que, antes de ser considerada uma opção viável, a gestrinona deve ser submetida a estudos clínicos que possam avaliar de forma objetiva seus efeitos, benefícios e riscos quando aplicada a pacientes com lipedema.

Posição da Associação Brasileira de Lipedema

A Associação Brasileira de Lipedema, comprometida com o bem-estar e a segurança de seus associados, recomenda não utilizar a gestrinona no tratamento do lipedema. Esta posição baseia-se na ausência de evidências científicas que justifiquem seu uso para essa finalidade. A associação enfatiza a importância de adotar abordagens terapêuticas baseadas em evidências e aprovadas por órgãos regulatórios, garantindo assim a segurança e a eficácia do tratamento para os pacientes com lipedema.

Conclusão

A jornada em busca de tratamentos eficazes para o lipedema é complexa e requer paciência, pesquisa e, acima de tudo, cautela. Enquanto novas terapias potenciais, como a gestrinona, podem surgir no horizonte, é essencial que a comunidade médica e os pacientes sigam princípios baseados em evidências e diretrizes éticas rigorosas. A Associação Brasileira de Lipedema permanece ao lado de seus associados, oferecendo orientação e apoio, enquanto continuamos a explorar e validar tratamentos seguros e eficazes para o lipedema.


Para ler o Consenso Brasileiro de Lipedema acesse: https://www.ecologiamedica.net/2025/02/consenso-brasileiro-de-lipedema.html

Cerca de 50% dos pacientes com diabetes apresentam déficit de micronutrientes

Quase metade dos pacientes com diabetes tipo 2 (DM 2) apresentam deficiências de micronutrientes, com as mulheres apresentando essas deficiências com mais frequência do que os homens, e a situação é particularmente preocupante na América. 

Estudos anteriores relataram taxas de prevalência variáveis ​​de deficiências de micronutrientes em pacientes com DM 2, o que representa um desafio significativo para médicos e formuladores de políticas na formulação de recomendações nutricionais para o controle do diabetes.

Pesquisadores conduziram uma meta-análise de estudos publicados em vários idiomas entre 1998 e 2023 para estimar a prevalência de deficiências de micronutrientes em pacientes com DM 2.

Foram incluídos pacientes com DM 2( ≥ 18 anos) de todos os sexos e etnias, com ou sem complicações; a análise foi realizada em estudos transversais, longitudinais e de coorte e ensaios clínicos randomizados.

Foram avaliadas deficiências de minerais ou eletrólitos e vitaminas (A, complexo B, C, D, E e K).
As análises de subgrupos examinaram variações na prevalência de deficiências de micronutrientes entre os sexos, complicações diabéticas, ambientes hospitalares versus comunitários e regiões da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo Américas, Europa, Região do Mediterrâneo Oriental, Sudeste Asiático, Região do Pacífico Ocidental e África.

Os pesquisadores identificaram 132 conjuntos de dados de 127 estudos elegíveis (incluindo 52.501 pacientes no total).
Entre os pacientes com DM 2, a prevalência combinada de deficiência de micronutrientes foi de 45,30%, com notável heterogeneidade observada entre os estudos; entre aqueles com complicações diabéticas, 40% apresentaram deficiência de micronutrientes.

Uma análise específica por sexo (62 estudos para homens e 63 para mulheres) mostrou que a prevalência de deficiência de micronutrientes foi ligeiramente menor em homens do que em mulheres (42,53% vs 48,62%, respectivamente).

Entre nutrientes específicos, a prevalência de deficiência foi maior para vitamina D (60,45%; 66 estudos), seguida por magnésio (41,95%; 16 estudos), ferro (27,81%; três estudos) e vitamina B12 (22,01%; 34 estudos).

A prevalência de deficiência de micronutrientes variou entre as regiões da OMS, com a maior prevalência encontrada nas Américas (54,04%).

“O tratamento do diabetes tipo 2 geralmente tende a se concentrar no metabolismo energético e nos macronutrientes, mas a identificação de uma prevalência maior de deficiências específicas de micronutrientes nos afetados é um lembrete de que otimizar a nutrição geral deve ser sempre uma prioridade”, escreveu Shane McAuliffe, associado acadêmico sênior visitante, em um comunicado à imprensa relacionado .

“As descobertas devem ajudar a focar pesquisas e iniciativas políticas destinadas a aprofundar nossa compreensão das causas e efeitos dessas deficiências e do potencial para intervenções direcionadas e personalizadas”, acrescentou.

Este estudo foi liderado por Daya Krishan Mangal, International Institute of Health Management Research University, Jaipur, Índia. Foi publicado online no BMJ Nutrition, Prevention & Health .

A maioria dos estudos foi baseada em hospitais, com viés de seleção inerente, o que limitou a generalização para a população mais ampla. A natureza transversal dos estudos incluídos tornou desafiador estabelecer causalidade entre deficiência de micronutrientes e controle glicêmico ruim. Nenhum dos estudos avaliou o efeito de vários fatores de confusão decorrentes da distribuição de lugar, pessoa e tempo de pacientes com DT2.

Este estudo foi apoiado por uma bolsa da Abbott Nutrition Research and Development. Um autor relatou ser funcionário da Abbott, a patrocinadora do estudo.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Salada no pote e os erros

Ao longo desses anos, montando o e-book de salada, recebi várias mensagens de seguidores. Alguns falando que testaram determinada receita e não deu certo. Outros elogiando ou dando dicas. Adaptações para versões veganas ou sem glúten/lácteos. Gosto de trocar ideias e aprender com vcs.

Um fato muito importante é: 

  • Não coloquem nada muito úmido (ou que vai liberar água) quando forem fazer a salada de pote. Em especial o molho. Há quem goste de colocar o molho como primeiro ingrediente, para ele sedimentar no fundo. Não recomendo.
  • Evitem também colocar o tomate cereja cortado. Infelizmente ele libera água e pode azedar a salada que ficará alguns dias dentro do pote.
  • Também, em hipótese alguma, tempera com sal, pois, ele tende a puxar água e com isso tornar os itens da salada mais perecíveis.
  • Azeite ou limão também também não devem ser acrescidos. Na verdade qualquer molho. Molho se coloca na hora. 

Salada de pote prática, para deixar na geladeira até 7 dias.

Molho para preparar e deixar na geladeira. O limão sugiro acrescentar no dia. 
2 colheres (sopa) de azeite de oliva
1 colher (sopa) de vinagre balsâmico ou suco de limão
1 colher (chá) de mostarda
1 pitada de sal e pimenta-do-reino a gosto
Outras opções de molhos:
Molho de Limão com Iogurte natural: Iogurte natural ou coalhada, azeite, alho, limão e sal.
Molho de Mostarda Dijon e Mel: Mostarda Dijon, azeite, mel, limão e sal.
Molho de Abacate com Limão: Abacate, azeite, coentro, cebolinha, limão e sal.
Molho de Laranja: Mostarda, azeite, laranja, limão e sal.
Molho Pesto: Manjericão, nozes, parmesão, azeite e alho.

Vegetais firmes e que não soltam água:
½ xícara de tomate-cereja inteiro,
¼ de xícara de cenoura ralada
¼ de xícara de pepino cortado em rodelas grossas (mais ou menos 2 cm)
Outras opções: Beterraba, Brocolis, Pimentão

Grãos e proteínas:
½ xícara de grão-de-bico cozido (ou quinoa, lentilha)
¼ de xícara de frango desfiado ou atum (opcional)

Folhas e ingredientes leves:
1 xícara de alface americana ou rúcula
¼ de xícara de repolho roxo picado
Outras opções: agrião, radicchio, acelga, espinafre, chicória, 

Complementos (opcional, adicionar no dia do consumo):
Sementes (chia, girassol, linhaça)
Oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas)

Montagem
Em um pote de vidro com tampa hermética, acrescente os vegetais firmes. 
Adicione os grãos e proteínas.
Por último, coloque a camada de folhas folhas e ingredientes mais leves.
Tampe bem e leve à geladeira.

Como consumir
No dia do consumo,  basta despejar o conteúdo em um prato. Picar os pepinos e tomates no prato.
Colocar o limão no molho e mexer, para ele ser incorporado aos ingredientes. Acertar o ponto do sal.
Essa técnica mantém os ingredientes frescos e crocantes por até 7 dias!

Para quem ainda não leu os posts publicados:

Introdução à salada: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada.html

Princípios básicos da salada: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/01/boracomersalada-post-1-principios.html

Salada 1: Berinjela com castanha do Pará (ou castanha do Brasil), uva-passa e hortelã: 

https://www.nutrologogoiania.com.br/salada-1-berinjela-com-castanha-do-para-ou-castanha-do-brasil-uva-passa-e-hortela

Salada 2: Salada de inverno de abacate com frango cítrico: 

http://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-2-salada-de-inverno-de-abacate.html?m=0

Salada 3: Salada de inverno de rúcula: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/06/salada-3-salada-de-inverno-de-rucula.html

Salada 4: Salada com legumes assados: 

https://www.ecologiamedica.net/2022/07/salada-4-salada-de-legumes-assados.html

Salada 5: Salada de Picles de pepino com molho de alho:

 https://www.ecologiamedica.net/2023/04/salada-5-salada-de-picles-de-pepino-com.html

Salada 6: Salada vegana de lentilha crocante: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-6-salada-vegana-de-lentilha.html

Salada 7: Salada cítrica de grão de bico: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/07/salada-7-salada-de-grao-de-bico-citrica.html

Salada 8: Salada de frango com molho pesto de abacate: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/08/salada-8-salada-de-frango-com-molho-de.html

Salada 9: Salada de berinjela com passas e amêndoas: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-9-salada-de-berinjela-com-passas.html?m=0

Salada 10: Salada com molho homus

https://www.ecologiamedica.net/2023/11/salada-10-salada-com-molho-homus.html

Salada 11: Salada de atum crocante: 

https://www.ecologiamedica.net/2023/12/salada-11-salada-crocante-de-atum.html

Salada 12: Trigo cozido com especiarias

https://www.ecologiamedica.net/2024/02/salada-12-trigo-cozido-com-especiarias.html

Salada 13: Salada de Pequi com molho de mostarda e mel

https://www.ecologiamedica.net/2024/04/salada-13-salada-de-pequi-ao-molho-de.html

Salada 14: Salada de Quinoa com frango dourado

https://www.ecologiamedica.net/2024/05/salada-14-salada-de-quinoa-com-frango.html

Salada 15: Salada Waldorf

https://www.ecologiamedica.net/2024/05/salada-15-salada-waldorf.html

Salada 16: Salada de inverno cítrica

https://www.ecologiamedica.net/2024/06/salada-16-salada-de-inverno-citrica.html

Salada 17: Salada de inverno de cogumelos

https://www.ecologiamedica.net/2024/06/salada-17-salada-de-inverno-de-cogumelos.html

Salada 18: Salada Grega

https://www.ecologiamedica.net/2024/07/salada-18-salada-grega.html

Salada 19: Salada de Chicória (escarola) com páprica defumada

https://www.ecologiamedica.net/2024/08/salada-19-salada-de-chicoria-escarola.html

Salada 20: Salada de chicória com tahine

https://www.ecologiamedica.net/2024/08/salada-20-salada-de-chicoria-com-tahine.html

Salada 21: Salada de chicória com tofu amassado

https://www.ecologiamedica.net/2024/09/salada-21-salada-de-escarola-com-tofu.html

Salada 22: Tabule tradicional

https://www.ecologiamedica.net/2024/09/salada-22-tabule-tradicional.html

Salada 23: Salada Natalina em formato de guirlanda

https://www.ecologiamedica.net/2024/12/salada-23-salada-guirlanda-natalina.html

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Frutas, verduras e legumes: Fevereiro

   


Por que consumir alimentos da safra? Existem vantagens?

Motivo 1: Se está na safra, provavelmente o preço está menor. Mais economia para o seu bolso.

Motivo 2: Tendem a ter maior densidade nutricional, a quantidade de nutrientes, em especial antioxidantes é maior, visto que, utiliza-se menos agrotóxicos e o vegetal precisa se adaptar a situações inóspitas (pragas, calor, frio, umidade, radiação solar, ventos). Ou seja, ele produz mais "defesas", nesse caso os polifenóis, que são antixodantes. Os alimentos da safra são colhidos no momento ideal de maturação, o que significa que estão no auge do seu sabor, textura e valor nutricional. Consumí-los garante que você esteja recebendo produtos frescos e de melhor qualidade.

Motivo 3: Safra = maior abundância. Provavelmente terá menos agrotóxicos (eu disse menos, não que não tenham). Se a está na safra, naturalmente naquela época do ano aquele alimento desenvolve mais facilmente. Não sendo necessário uso de agrotóxicos ou caso o agricultor utilize, a quantidade tende a ser menor. Menos agrotóxico, menos veneno. Em breve o Ministério da saúde publicará um guia sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Tema totalmente negligenciado na Medicina. 

Motivo 4: Os vegetais na safra são encontrados mais facilmente nas feiras e mercados. O Brasil é um país vasto e diversificado, com diferentes regiões climáticas que possibilitam o cultivo de uma grande variedade de alimentos ao longo do ano. Consumir alimentos da safra permite que você experimente uma ampla gama de frutas, legumes e verduras, aproveitando a diversidade da culinária brasileira.

Motivo 5: Sustentabilidade e apoio ao agricultores locais.  Consumir os alimentos da safra vigente é um ato de sustentabilidade, pois respeita o tempo da natureza e economiza energia e recursos extras de forma intensiva ou no transporte por diferentes distâncias. Escolher alimentos da safra muitas vezes significa apoiar práticas agrícolas mais sustentáveis. Como esses alimentos estão disponíveis localmente e não precisam ser transportados por longas distâncias, há uma redução significativa na pegada de carbono associada ao seu consumo. Além disso, os produtores locais que cultivam alimentos da safra geralmente empregam técnicas agrícolas mais amigáveis ao meio ambiente.  Comprar alimentos da safra de produtores locais contribui para fortalecer a economia da sua região. Ao apoiar os agricultores locais, você ajuda a manter empregos na comunidade e a promover um sistema alimentar mais justo e sustentável. 


Frutas de Fevereiro
Abacate (collinson e olinda)
Abacaxi (pérola)
Atemoia
Banana (nanica e prata)
Caju
Carambola
Coco seco
Cupuaçu 
Laranja (baia, lima e pera)
Limão 
Maçã (estrangeira)
Mamão  
Maracujá
Melão
Mexerica 
Morango
Pera (estrangeira)
Tangerina 
Uva (estrangeira)



Verduras e Legumes de Fevereiro
Abóbora d'água e seca
Abobrinha brasileira e italiana
Batata 
Batata doce
Berinjela japonesa
Beterraba
Cará
Cebola
Maxixe
Pepino
Pimenta cambuci e vermelha
Pimentão
Quiabo
Tomate
Alface
Aspargos
Cebolinha
Chicória
Godo
Louro
Repolho

Autores
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915, CRM-SC 32.949, RQE 22.416
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Nutricionista e Profissional da Educação física

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Doutor você prescreve Tizerpatida?

 De tempos em tempos surgem as perguntas que se repetem. A pergunta da vez e isso já tem 3 meses: 
- Dr. Fred você prescreve Tizerpatida ?

Mas afinal, o que é Tirzepatida?

A Tizerpatida, nome científico do Mounjaro (nome comercial), é uma droga que foi desenvolvida para controle do Diabetes tipo 2, mas que ao longo dos estudos que auxiliava na perda de peso. Semelhante ao que ocorreu com a Liraglutida e com a Semaglutida. A diferença é que a Trizepatida é uma molécula agonista duplo de GLP-1 e GIP (ou seja, age em 2 hormônios), hormônios estes produzidos no intestino e liberados depois das refeições. Isso significa que o medicamento tem a capacidade de estimular a ação tanto do GLP-1, quanto do GIP, aumentando a produção de insulina pelo pâncreas para manter o controle do açúcar no sangue. Para ler mais sobre essa ação clique aqui. Já a Semaglutida e Liraglutida agem somente em GLP-1. E qual a vantagem de agir em 2 hormônios? A perda de peso é maior e na prática tem-se visto menos efeitos colaterais. Assim como a Semaglutida a aplicação é semanal. 

E está liberado no Brasil? Para tratamento do Diabetes mellitus tipo 2 a ANVISA liberou, porém, para tratamento da obesidade, ainda é off-label, mas, provavelmente será on label, assim como foi com a Liraglutida e com a Semaglutida. 

Infelizmente, a Tirzepatida AINDA não é comercializada no Brasil e estamos na esperança de que logo seja. E aí vem a grande pergunta: Então como várias pessoas estão utilizando?

Ou importam a um preço bem alto, cerca de 6 a 7 mil reais a caneta. Ou usam falsificado. Falsificado? Sim. Falsificado, pois, se a patente ainda não foi quebrada, se o produto não é o original da indústria, então ele só pode ser falsificado. Por mais que algumas farmácias de manipulação tentem falar que não é. 

Então, como a droga ainda não é comercializada no Brasil e não confio em produtos falsificados, NÃO ESTOU PRESCREVENDO AINDA. Acho um risco muito grande expor meu paciente a um produto que não tenho certeza da pureza. Paciente meu não é cobaia. Logo, só prescreverei quando a droga estiver sendo comercializada em drogarias do Brasil. 

Deixo abaixo um vídeo de um amigo, Dr. Rafael, médico endocrinologista.