Mostrando postagens com marcador obesidade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador obesidade. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Perda de peso e redução da mortalidade - Por Dr. Bruno Halpern



A associação entre #obesidade e maior risco de doenças crônicas e redução da expectativa de vida é bem estabelecida, embora o risco individual dependa mais da distribuição de gordura do que do peso em si.

No entanto, é muito difícil provar que perder peso reduz risco de mortalidade por algumas razões: 1- perder peso de forma significativa (ao menos 10%) e manter a longo prazo é difícil, e somente estudos muito grandes conseguiriam responder essa questão 2-estudos observacionais confundem perdas de peso intencionais com as não intencionais, em q a pessoa perde peso por estar doente e assim, tem mortalidade maior.

Estudos de intervenção demonstram que pessoas que perdem mais de 10% tem redução de riscos, mas em geral esses são estudos de poucos anos. A melhor evidência de longo prazo vem de estudos com cirurgia bariátrica , q tb demonstram redução de riscos.

Agora, um estudo com mais de 20mil pessoas e quase 30 anos de seguimento mostra que sair da obesidade para o sobrepeso no início da vida adulta (ao redor de 25 anos) reduziu em 54% o risco de mortalidade precoce nesse grupo em comparação aos que permaneceram com obesidade. O risco desses indivíduos se igualou (ou foi até um pouco menor) do que o de pessoas que sempre tiveram apenas sobrepeso.

O longo tempo de seguimento reduz a chance de que quem perdeu peso perdeu por estar doente e analisa melhor dados de perda intencional de peso. Também dá a idéia de quanto mais precoce melhor essa perda, pois quando a perda ocorre mais para frente na vida, o resultado é menos claro (mas talvez ainda precisamos de mais anos de acompanhamento).

Esse é um estudo observacional, com suas limitações. E também mostra que, infelizmente, é muito mais comum pessoas saírem de pesos “normais” para sobrepeso e obesidade do que pessoas que conseguem fazer o caminho inverso. Obesidade não se resolve “espontaneamente”. Perder peso e manter vai contra nossa biologia básica e exige tratamento continuo. Essa é uma informação a precisa ser passada para levarmos a doença e o tratamento a sério. Se mais pessoas conseguirem bons resultados, conseguiremos reduzir essas taxas de complicações! 


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

A infinidade de tratamentos para obesidade

Dias através eu conversava com uma amiga endocrinologista e com meu nutricionista. A heterogeneidade de resposta dos pacientes aos tratamentos de obesidade.  Confusa a frase acima, vamos esclarecer enumerando.
  1. Há pacientes em estado de obesidade que reduzem o percentual de gordura (emagrecem) só com dieta e atividade física? Sim
  2. Há os que reduzem só com atividade física ? Sim
  3. Há os que reduzem só com dieta? Sim
  4. Há os que emagrecem com a combinação: dieta, atividade física e uso de medicação ? Sim
  5. Há os que garantem que perderam peso apenas com fitoterápicos, combinado com dieta e atividade física? Sim
  6. Há os que perdem gordura só em utilizar medicações ansiolíticas e com isso tratar o gatilho base da obesidade (no caso daquela pessoa específica)? Sim
  7. Há os que apenas com medicação conseguem perder gordura? Sim
  8. Há os que apenas com psicoterapia combinada com reeducação alimentar alcançam bons resultados? Sim
  9. Há os que só perderão peso com cirurgia bariátrica? Sim
  10. Há os que perder peso com bariátrica, reganharam boa parte do peso perdido e posteriormente perderão com dieta e atividade física? Sim
Enfim, há vários tratamentos, várias formas de se tratar a obesidade. Mas o principal ponto é: cada paciente é único. Cada paciente tem uma resposta ao tratamento. Não é porque a cirurgia bariátrica funcionou para um que funcionará para outro.

Estou cansado de ver pacientes que foram submetidos a cirurgia bariátrica, foram mau respondedores (perderem pouco peso) e que se arrependeram da cirurgia. Mas isso é assunto para outro post.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Obesidade e coronavirus por Dr. Bruno Halpern


Dois pesquisadores irlandeses publicaram na excelente revista Obesity uma hipótese que poderia explicar, ao menos em parte, porque estaríamos vendo uma maior gravidade de infecções em indivíduos com obesidade. 

👉A tese seria que o vírus poderia se depositar no tecido adiposo, que na obesidade já é mais inflamado, e assim, gerar mais inflamação, além de ser liberado aos poucos, minando as estratégias de defesa e gerando cada vez mais inflamação, que acaba por gerar respostas gravíssimas no corpo.

👉Há um racional por trás: um dos receptores que facilitam o vírus a entrar nas células está presente em grandes quantidades no tecido adiposo; outros vírus sabidamente podem se depositar em gordura; e muitas das substâncias produzidas pelo corpo em pacientes graves são amplamente produzidas no tecido adiposo. Esse reservatório também poderia explicar tempos mais longos de presença de vírus em algumas pessoas.

👉Para tornar essa hipótese mais forte seria preciso localizar o vírus em amostras de tecido adiposo, o que não foi feito ainda, mas não é tecnicamente difícil.

👉De toda forma, cada vez é mais claro a importância da obesidade como fator de risco independente de complicações. O lado bom é que sabemos que perdas de peso pequenas (de 5-15%) e exercício físico moderado já reduzem inflamação e poderiam (não comprovado mas altamente provável) já ajudar a reduzir parcialmente os riscos. 

Ref: Ryan. Is adipose tissue a reservoir for viral spread, immune activation and citokyne amplification in Covid-19? Obesity 2020 #coronavirusbrasil #obesidade #covid19brasil

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Alimentar-se fora de casa pode favorecer obesidade

Um estudo inédito feito em cinco países, incluindo o Brasil, analisou o conteúdo energético das refeições servidas em restaurantes fast food com os restaurantes de serviço à La Carte e o comparou com os índices dos Estados Unidos. 

Segundo uma das pesquisadoras envolvidas, Professora Dra. Vivian Suen Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e médica nutróloga da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia), 94% das refeições de serviço completo e 72% das refeições de fast food continham 600 quilocalorias ou mais. 

O estudo não é uma defesa aos restaurantes fast food, mas a pesquisadora destaca que o tamanho das porções mesmo quando se trata de comida saudável, deve ser levado em consideração como um alerta no combate à obesidade.

“Consumir as porções atuais de um restaurante tradicional e uma refeição de fast food diariamente forneceria entre 70% e 120% da energia diária que um indivíduo precisa. Isso é o aporte energético suficiente para uma mulher sedentária, sem refeições adicionais como bebidas, lanches, aperitivos ou sobremesas”, declara.

O alto conteúdo energético da alimentação consumida fora de casa tanto nas refeições de serviço completo quanto nos fast foods é um fenômeno generalizado que provavelmente está aumentando a epidemia global de obesidade – considerado maior problema de saúde pública do mundo.

Os resultados dos dados da investigação apontaram que a quantidade de calorias medida em refeições em restaurantes no Brasil, Gana, Índia e Finlândia não foi significativamente diferente dos valores altos relatados anteriormente para os EUA. Apenas a China teve os valores inferiores aos dos EUA. As refeições de fast food continham significativamente menos energia do que as refeições dos restaurantes de serviço completo.

Vivian pondera: “A consistência dos resultados obtidos na pesquisa nos países analisados sugere que o alto conteúdo energético de refeições preparadas fora de casa, em geral, e não apenas nas redes de fast food, pode ser um importante contribuinte para a epidemia global da obesidade e uma meta potencialmente impactante para as intervenções de saúde pública”.

O estudo intitulado, “Measured energy content of frequently purchased restaurant meals: multi-country cross sectional study” (Mensuração do conteúdo energético das refeições mais pedidas em restaurantes: um estudo comparativo entre países), financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), analisou 223 refeições selecionadas aleatoriamente, 111 menus completos e restaurantes de fast food populares no Brasil, China, Finlândia, Gana e Índia. 10 refeições de cinco cantinas foram estudadas na Finlândia. Para elaborar esta pesquisa estiveram envolvidos pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Instituto de Saúde Pública e Nutrição Clínica da Finlândia, Departamento de Alimentação e Nutrição da Universidade da Georgia, Escola de Ciência e Nutrição da Universidade de Boston; Laboratório de Biologia Molecular do Instituto de Genética e Desenvolvimento da Academia Chinesa de Pequim, Instituto de Biologia e Desenvolvimento Científico da Inglaterra, Departamento de Medicina, Endocrinologia e Nutrição Clínica da Finlândia e do Centro de Excelência em Evolução Animal e Genética da Academia Chinesa de Ciências.

O estudo: https://www.bmj.com/content/bmj/363/bmj.k4864.full.pdf

Fonte: http://abran.org.br/2019/01/16/estudo-aponta-que-refeicoes-fora-de-casa-contribuem-com-aumento-da-obesidade/

terça-feira, 26 de março de 2019

Jantar depois das 20 horas pode aumentar o risco de obesidade

A obesidade é um problema de saúde pública que vem aumentando em todo o mundo. 

Entre as causas da doença estão fatores, como genética, doenças endócrinas, excesso de alimentação, falta de atividade física e problemas para dormir. 

Outra possível causa para o excesso de peso é o horário das refeições, especialmente as realizadas à noite, indica estudo preliminar apresentado este final de semana durante a ENDO 2019, uma conferência médica realizada nos Estados Unidos. 

De acordo com os pesquisadores, indivíduos que jantam tarde estão em maior risco de apresentar níveis mais altos de gordura corporal e, consequentemente, maior Índice de Massa Corporal (IMC) – fator de risco para a obesidade.

A obesidade é um problema de saúde pública que vem aumentando em todo o mundo. Entre as causas da doença estão fatores, como genética, doenças endócrinas, excesso de alimentação, falta de atividade física e problemas para dormir. Outra possível causa para o excesso de peso é o horário das refeições, especialmente as realizadas à noite, indica estudo preliminar apresentado este final de semana durante a ENDO 2019, uma conferência médica realizada nos Estados Unidos. De acordo com os pesquisadores, indivíduos que jantam tarde estão em maior risco de apresentar níveis mais altos de gordura corporal e, consequentemente, maior Índice de Massa Corporal (IMC) – fator de risco para a obesidade.

Estudos anteriores já haviam feito associação similar, destacando que a ingestão alimentar feita após as 20 horas pode aumentar a probabilidade de desenvolver obesidade.

O estudo

Para chegar a este resultado, a equipe da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, recrutou 31 pessoas (90% mulheres, com idade média de 36 anos) que estavam acima do peso ou obesas. Para avaliar o máximo de variáveis capazes de interferir nas descobertas, os pesquisadores recolheram informações sobre o sono, os níveis de atividade e a dieta dos participantes. Além disso, cada um dos voluntários recebeu equipamentos para monitorar o ciclo de sono e o tempo gasto em atividades físicas ou sedentárias. A ingestão alimentar foi monitorada através de um aplicativo de telefone que permitia aos participantes fotografar as refeições, o que ajudava a registrar os horários da alimentação. Os níveis de glicose no sangue também foram acompanhados.

Os dados coletados apontaram que os participantes se alimentaram ao longo de 11 horas (do acordar ao dormir), sendo a última refeição realizada por volta das 20 horas da noite. A partir dessas informações, os pesquisadores perceberam que aqueles que comiam no final do dia tinham IMC mais alto, assim como maiores níveis de gordura corporal. “Comer no final do dia, mais à noite, parece estar ligado ao armazenamento de mais gordura corporal devido a diferenças hormonais a esta hora do dia”, explicou Lona.

A equipe ainda descobriu que esses indivíduos tinham um média de sono de 7 horas por noite – o que pode descartar a ideia de que a falta de sono interfere no risco de apresentar excesso de peso (pelo menos nesses voluntários). Apesar dos resultados, os cientistas ressaltam que os achados são preliminares e, portanto, será necessário dar continuidade às investigações para entender os mecanismos que ligam o horário da refeição ao aumento do risco de obesidade.

Dados de 2018 do Ministério da Saúde indicam que 18,9% da população acima de 18 anos nas capitais brasileiras é obesa. O percentual é 60,2% maior do que o obtido na primeira vez que o trabalho foi realizado, em 2006, quando essa parcela era de 11,8%. Esses números preocupam já que estudo do ano passado publicado no periódico Cancer Epidemmiology indicou que o Brasil terá 640.000 casos de câncer em 2025 – e quase 30.000 deles vão estar associados à obesidade.

Para esses pesquisadores, o aumento da obesidade está associada a industrialização e o alto consumo de alimentos processados. “A industrialização de sistemas alimentares mudou profundamente as culturas alimentares tradicionais, que eram geralmente composta de alimentos frescos e minimamente processados”, escreveram no relatório. A sugestão para solucionar a questão, de acordo com eles, é adotar intervenções e políticas de saúde pública capazes de reduzir o problema a nível populacional.

Além disso, as novas descobertas apontam para outra possível solução: antecipar o horário do jantar e evitar ingerir muitas calorias antes de dormir.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Obesidade favorecida pela genética.

No maior estudo desse tipo, realizado até o momento, pesquisadores da Universidade de Cambridge analisaram por que algumas pessoas conseguem permanecerem magras, enquanto outras engordam com muita facilidade. Eles descobriram que os dados genéticos são carregados em favor de pessoas magras e contra obeso. 

6 a cada 10 adultos no Reino Unido estão acima do peso, e 1 em cada 4 adultos é obeso.  Aos cinco anos, quase uma em cada quatro crianças está acima do peso ou é obesa. 

Embora seja sabido que mudanças em nosso ambiente, como fácil acesso a alimentos de alto teor calórico e estilos de vida sedentários, têm impulsionado o aumento da obesidade nos últimos anos, há considerável variação individual de peso dentro de uma população que compartilha o mesmo ambiente. 

Algumas pessoas parecem poder comer o que gostam, mesmo que aquilo não seja saudável e permanecem magras. Enquanto muitos obesos consomem alimentos ditos saudáveis, possuem rotina regular de atividade física e mesmo assim não alcançam o peso ideal. Isso levou algumas pessoas a caracterizarem pessoas com excesso de peso como preguiçosas ou sem força de vontade.

Com o apoio do Wellcome e do European Research Council, uma equipe liderada pelo professor Sadaf Farooqi no Wellcome-MRC Institute of Metabolic Science, da Universidade de Cambridge, estabeleceu o Estudo em Lean e Thin Subjects - STILTS - para examinar por que e como as pessoas conseguem mais fácil ficar magra do que outras. 

Estudos de gêmeos mostraram que a variação no peso corporal é amplamente influenciada por nossos genes. 

Até hoje, os estudos se concentraram em pessoas com excesso de peso. 

Centenas de genes foram encontrados que aumentam a chance de uma pessoa estar com sobrepeso e, em algumas pessoas, genes defeituosos podem causar obesidade severa desde tenra idade.

A equipe do professor Sadaf Farooqi foi capaz de recrutar 2.000 pessoas que eram magras (definidas como um índice de massa corporal (IMC) menor que 18 kg / m2), mas saudáveis, sem condições médicas ou distúrbios alimentares. 

Eles trabalharam com clínicos gerais em todo o Reino Unido, tendo amostras de saliva para permitir a análise de DNA e pedindo aos participantes que respondessem a perguntas sobre sua saúde geral e estilos de vida. 

Acredita-se que seja a única coorte de seu tipo no mundo e os pesquisadores dizem que o Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido - a infraestrutura de pesquisa do Serviço Nacional de Saúde - possibilitou e apoiou fortemente suas pesquisas.

Em um estudo publicado hoje na revista PLOS Genetics , a equipe do Professor Farooqi colaborou com a equipe da Dra Inês Barroso no Wellcome Sanger Institute para comparar o DNA de cerca de 14.000 pessoas - 1.622 voluntários magros da coorte STILTS, 1.985 pessoas gravemente obesas e outras 10.433 controles de peso normais.

Nosso DNA compreende uma sequência de moléculas conhecidas como pares de bases, representadas pelas letras A, C, G e T. As cadeias desses pares de bases formam regiões genéticas (que incluem ou formam nossos genes). Nossos genes fornecem o código de como nossas funções corporais e alterações na ortografia - por exemplo, um C no lugar de um A - podem ter alterações sutis ou às vezes dramáticas em recursos como cor de cabelo e cor dos olhos, mas também em peso.

A equipe encontrou várias variantes genéticas comuns já identificadas como tendo um papel na obesidade. Além disso, eles encontraram novas regiões genéticas envolvidas na obesidade severa e algumas envolvidas na magreza saudável.

Para ver o impacto que esses genes tiveram no peso de um indivíduo, os pesquisadores adicionaram a contribuição das diferentes variantes genéticas para calcular um escore de risco genético.

"Como antecipado, descobrimos que as pessoas obesas tinham uma pontuação de risco genético maior do que as pessoas com peso normal, o que contribui para o risco de excesso de peso. Os dados genéticos são carregados contra eles", explica o Dr. Barroso.

É importante ressaltar que a equipe também mostrou que pessoas magras tinham uma pontuação de risco genético muito menor - elas tinham menos variantes genéticas que sabemos que aumentam as chances de uma pessoa estar acima do peso.

"Esta pesquisa mostra pela primeira vez que pessoas magras e saudáveis ​​são geralmente magras porque têm uma menor carga de genes que aumentam as chances de uma pessoa estar acima do peso e não porque são moralmente superiores, como algumas pessoas gostam de sugerir", diz o professor Farooqi. . "É fácil apressar o julgamento e criticar as pessoas pelo seu peso, mas a ciência mostra que as coisas são muito mais complexas. Temos muito menos controle sobre o nosso peso do que poderíamos pensar."

Três em cada quatro pessoas (74%) na coorte STILTS tinham histórico familiar de serem magras e saudáveis ​​e a equipe encontrou algumas mudanças genéticas que eram significativamente mais comuns em pessoas magras, o que, dizem, pode permitir que identifiquem novos genes e biológicos. mecanismos que ajudam as pessoas a ficarem magras.

"Já sabemos que as pessoas podem ser magras por diferentes motivos", afirma o professor Farooqi. "Algumas pessoas simplesmente não estão interessadas em comida, enquanto outras podem comer o que gostam, mas nunca engordar. Se pudermos encontrar os genes que os impedem de engordar, poderemos direcionar esses genes para encontrar um novo peso". estratégias de perda e ajudar as pessoas que não têm essa vantagem ".

“Compartilhar é se importar”

Instagram:@dr.albertodiasfilho

Autor: Dr. Alberto Dias Filho - Médico endocrinologista de Goiânia

Para corrigir a mudança climática, conserte a obesidade e as epidemias de fome, dizem os relatórios



O mundo precisa encontrar soluções para combater três pandemias inter-relacionadas - obesidade, fome e mudança climática - e precisa fazê-lo rapidamente antes que o planeta esteja "queimado", segundo um relatório divulgado no domingo.

A Comissão Lancet, um grupo de 43 especialistas de 14 países com uma ampla gama de conhecimentos recrutados pela revista, abordou o tema com relatórios de alto perfil em 2011 e 2015 , mas "pouco progresso foi feito" além de reconhecer a epidemia, os autores do mais novo relatório argumentam; na verdade, o problema está piorando.

Em todo o mundo, nem um país reverteu sua epidemia de obesidade e, muitas vezes, empresas poderosas impulsionadas pelo lucro influenciam políticas que "estão em desacordo com o bem público e com a saúde planetária", diz o relatório. 

É um problema que se tornou o que os autores chamam de syndemic global.

Uma sindêmica é "uma sinergia de pandemias que co-ocorrem", interagem e compartilham causas comuns. 

Essas três pandemias representam o "desafio supremo para os humanos, o meio ambiente e nosso planeta".

Juntos, obesidade e desnutrição são a maior causa de morte prematura. 

Globalmente, mais de 2 bilhões de adultos e crianças estão com sobrepeso ou obesos e têm problemas de saúde por causa disso, segundo pesquisas. 

As pessoas não praticam ou não podem se exercitar, e esse é o quarto principal fator de risco de morte.

Simultaneamente, existe o problema oposto. 

Em 2017, a fome mundial aumentou pelo terceiro ano consecutivo, segundo pesquisa da ONU.

Dois bilhões lutam com deficiências de micronutrientes e 815 milhões são cronicamente subnutridos, diz o relatório.

À medida que as temperaturas globais sobem mais rapidamente do que o previsto, a mudança climática pode levar a muito mais mortes do que os 250.000 por ano previstos pela Organização Mundial da Saúde há apenas cinco anos. 

Por causa da escassez de alimentos sozinha, o mundo poderia ver um aumento líquido de 529.000 mortes de adultos até 2050, segundo a pesquisa.

Os novos relatórios sugerem que há uma solução: os governos, empresas e ativistas devem lidar com essas questões de obesidade e desnutrição enquanto enfrentam as mudanças climáticas. 

Cada problema está relacionado, e cada um deles, em grande parte, acontece por causa de "incentivos econômicos equivocados", "poderosos interesses investidos", "inércia política" e demanda "insuficiente" por mudança do público.

Soluções que ajudam um pode ajudar o outro. 

Por exemplo, se os governos investirem mais em transporte público, isso tornará mais conveniente e acessível para as pessoas conseguirem empregos que ponham comida na mesa. 

Aqueles que dirigem menos e tomam o transporte público com mais frequência fazem mais exercícios e, segundo estudos , tendem a não ser obesos. 

Se menos pessoas dirigissem carros, também haveria menos gases de efeito estufa para contribuir com as mudanças climáticas.

As outras recomendações do relatório incluem a redução dos subsídios do governo para carne bovina, laticínios, açúcar, milho, arroz e trigo e redirecionar esse dinheiro para a agricultura sustentável para alimentos mais saudáveis. 

O fortalecimento das leis que aumentam a transparência permitiria que as pessoas vissem quanto dinheiro os políticos obtêm dos grandes conglomerados de alimentos para perpetuar políticas insalubres. 

Outra sugestão: fornecer rótulos nutricionais claros sobre os produtos e adicionar rótulos para explicar como um alimento é sustentável, incluindo a quantidade de água e carbono necessários para produzi-lo. 

Além disso, os autores recomendam investir US $ 70 bilhões em 10 anos em um "Fundo de Alimentos" global para reduzir a desnutrição.

Os autores também dizem que os filantropos devem investir US $ 1 bilhão adicionais para impulsionar a defesa social para demandar soluções para essas organizações sindicais.

Essas sindemicas "precisam ser enfrentadas, e não foram abordadas, e essa é uma preocupação central", disse o coautor do relatório, Tim Lobstein, diretor de políticas da Federação Mundial de Obesidade.

Os autores dizem que as empresas podem ajudar a liderar o caminho, investindo mais em energia sustentável. 

Esse investimento reduz a poluição que causa a mudança climática e torna o ar mais fácil de respirar, o que significa que as pessoas podem se exercitar mais do lado de fora.

"O Relatório da Comissão Lancet pode conter apenas os ingredientes certos necessários para um mundo com desafios nutricionais", disse Katie Dain, CEO da parceria global da Aliança para Doenças Não Transmissíveis , que não esteve envolvida no relatório. 

"Por muito tempo, temos sonhado acordado o nosso caminho para um futuro doente, totalmente evitável. A mensagem interligada do relatório sobre nutrição e mudança climática é clara: um sistema alimentar que garanta uma dieta melhor para isso e para as próximas gerações salvar milhões de vidas e, ao mesmo tempo, também ajudar a salvar o planeta ".

Os autores esperam que o novo relatório inicie uma conversa que crie alianças para pressionar por melhores políticas e encorajar as empresas a criar produtos acessíveis que melhorem, ao invés de tirar, a saúde das pessoas.

O que temos agora é "insustentável, e devemos agir", disse o co-autor William H. Dietz , diretor do Centro Global de Prevenção e Bem-Estar de Sumner M. Redstone e professor da Universidade George Washington. Caso contrário, o planeta poderia estar "queimando" dentro de 50 anos.

Corinna Hawkes , professora da City University London, que trabalhou no relatório, observa: "Sem dúvida, é altamente ambicioso, dado o mundo de hoje".

Mas Dietz acrescentou que soluções urgentes são necessárias. "Estamos correndo contra o tempo."

“Compartilhar é se importar”
Instagram:@dr.albertodiasfilho

Fonte: https://edition.cnn.com/2019/01/27/health/obesity-climate-change-undernutrition/index.html

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

A frequência em que se pesa altera o processo de emagrecimento ?

Preocupação com peso corporal é algo infelizmente inserido na cultura da população como algo comum e aceitável. Eu digo infelizmente, pois ao contrário do que se imagina, a preocupação real não está relacionada à saúde ou melhora de hábitos de vida saudáveis, e sim relacionados à preocupação estética com o corpo. Assim, pesar-se em suas balanças de casa ou mesmo na balança da farmácia passou a ser um hábito incorporado em boa parte das pessoas e se tornou automático, mesmo para quem efetivamente não está preocupado com ganhos ou perdas de peso. E diante disto, para aquelas pessoas que estão insatisfeitas com seu corpo, e acreditam que perder peso seja uma solução, pesar-se se tornou uma obrigação. Acredita-se que, assim, será mais fácil manter o controle sobre o que deverá comer naquele ou no próximo dia para tentar perder ou manter o peso. Além disso, a autoavaliação de peso de forma frequente é muitas vezes recomendada por profissionais em intervenções para perda de peso, acreditando que supostamente pode prevenir o ganho de peso.

Mas será que funciona? Será que pode levar a consequências negativas?

Vamos ver o que nos dizem as evidências científicas?

Cito dois estudos que abordam este tema. O primeiro deles, uma publicação recente de agosto de 2018 por Rohde e colaboradores, que revelou que jovens adultos que se pesam mais frequentemente durante a semana apresentam maior ganho de peso que aqueles que se pesam menos frequentemente ao longo de dois anos de observação, relacionando também com maior risco de apresentarem episódios de compulsão alimentar e tendência a comportamentos compensatórios inadequados na tentativa inapropriada de promoverem de perda de peso. Estes achados sugerem claramente que a autopesagem deve ter efeitos negativos sobre a tentativa de controle de peso. Em revisão de literatura publicada em 2011 por Burke e colaboradores, em que 14 estudos que avaliaram monitorização de peso publicados entre 1993 e 2009 foram analisados, na associação entre automonitoramento e perda de peso, o nível de evidência era fraco (ou seja, monitorar-se com pesagens não determina perda de peso) por causa de limitações metodológicas. Esta revisão destacou a necessidade de estudos populacionais, para definição de medidas objetivas de adesão ao automonitoramento e estudos que estabeleçam qual o padrão necessário de autopesagem para a possibilidade de resultados bem sucedidos.

Mas, e por que será que isto ocorre?

É preciso entender que nosso peso corporal sofre influências de vários fatores comuns do dia a dia e uma oscilação diária é esperada, sem representar aumento ou diminuição real de adiposidade (tecido gorduroso). O quanto de líquidos se ingere em um dia, a frequência que se urina ou de ritmo intestinal, o grau de atividade física diária, o clima quente ou frio (que influencia nossas escolhas alimentares ou nossa hidratação) podem impactar no número exposto na balança sem representar real ganho ou perda de gordura corporal. Assim sendo, a pesagem frequente pode, por consequência de oscilações habituais de peso (sem valor clínico real), levar a insatisfações e frustrações que interferirão nos comportamento alimentar. E podem aparecer como episódios de compulsão ou exagero alimentar ou como tentativas inadequadas de compensação, como fazer restrição e jejuns ou aumentar a intensidade de atividade física, que representam sintomas de um comportamento alimentar transtornado.

Em resumo, as evidências sugerem que se pesar mais frequentemente foi associado com maiores ganhos futuros de peso e pode estar associada a um risco aumentado de início de comportamentos não saudáveis de controle de peso compensatório e posterior surgimento de comportamento alimentar transtornado. 

Autor: Dr. Alexandre Pinto de Azevedo, médico psiquiatra do Programa de Transtornos Alimentares (AMBULIM) do IPq-HC-FMUSP

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Opinião: onde estamos errando no diagnóstico da obesidade?

Muito interessante essa reflexão do Dr. Fabiano M. Serfaty, médico endocrinologista. Mas mais importante que o diagnóstico é sabermos onde estamos errando no tratamento da obesidade. Nunca tivemos um mundo falando tanto de dieta, fazendo tantas dietas... e mesmo assim a obesidade tem se tornado uma pandemia. 

Opinião: onde estamos errando no diagnóstico da obesidade? por Dr. Fabiano Serfaty

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é uma condição médica na qual se tem acúmulo de tecido adiposo em excesso, o que pode gerar impacto negativo na saúde do indivíduo, levando à redução da esperança de vida e ao aumento dos problemas de saúde[1].

A maneira mais utilizada para se avaliar e definir o grau de obesidade é por meio da avaliação do índice de massa corporal (IMC), embora este não seja sensível à composição e à distribuição de gordura[2,3,4]. O IMC é calculado pela divisão do peso em kg pela altura em metros elevada ao quadrado (kg/m²). As classificações para os níveis de IMC adotadas pela OMS e pelos National Institutes of Health (NIH) dos EUA para indivíduos caucasianos, hispânicos e negros são[1,5]:

Abaixo do peso: <18 div="" kg="" m2="">
Peso normal: ≥ 18,5 a 24,9 kg/m2
Sobrepeso: ≥25,0 a 29,9 kg/m2
Obesidade: ≥ 30 kg/m2
Obesidade Grau I: 30,0 a 34,9 kg/m2
Obesidade Grau II: 35,0 a 39,9 kg/m2
Obesidade Grau III: ≥40 kg/m2

Limitações da utilização IMC

O IMC apresenta importantes limitações, podendo superestimar o grau de obesidade em indivíduos com grande massa muscular[6]. Os idosos, por sua vez, tendem a ter menor densidade óssea, maior risco de sarcopenia e massa corporal magra reduzida, portanto, podem pesar menos que os adultos mais jovens da mesma altura. De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, no idoso, o IMC normal varia de > 22 a < 27 kg/m2. Além disso, existem variações na composição corporal entre diferentes grupos populacionais. Os negros, por exemplo, apresentam maior densidade corporal e massa magra em comparação com os brancos. Já em populações asiáticas, para que se tenha a redução do risco de eventos cardiovasculares é necessário que os níveis de IMC estejam no limite inferior da normalidade.

Por outro lado, a obesidade de peso normal, definida como a combinação de IMC normal e alto teor de gordura corporal, está associada ao aumento do risco de mortalidade por uma série de causas. Vários estudos demonstraram que o IMC não reflete, de fato, o conteúdo real de gordura corporal, causando erros no diagnóstico de sobrepeso ou obesidade[7,8].

O IMC é o melhor parâmetro?

Embora a obesidade, definida pelo IMC, influencie o risco cardiovascular, este parâmetro apresenta importante limitações na previsão da mortalidade cardiovascular. Nos últimos anos vários estudos demonstraram que outros índices de avaliação da adiposidade têm sido cada vez mais associados a um maior risco cardiometabólico dos pacientes. Devido à “epidemia” global da obesidade, o interesse na eficácia da utilização destes parâmetros está aumentando tanto para adultos quanto para crianças em muitos países e em diferentes grupos étnicos.

Circunferência abdominal

A circunferência abdominal é uma maneira de medir a obesidade abdominal, que fornece informações que o IMC não é capaz de fornecer. Segundo recomendações da OMS, a medida da circunferência deve ser aferida na região mais estreita do abdome ou no ponto médio entre o rebordo costal inferior e a crista ilíaca. Ela deve ser medida com uma fita flexível colocada em plano horizontal. Os pacientes com obesidade abdominal, também chamada de adiposidade central, obesidade visceral ou androide, apresentam maior risco de desenvolver diabetes, doenças cardíacas, câncer, apneia obstrutiva do sono, acidente vascular cerebral (AVC), hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e doença hepática gordurosa não alcoólica[7,8,9].

Existe, de fato, uma variabilidade étnica nos valores da circunferência da cintura que preveem um risco cardiovascular aumentado. Por exemplo, os japoneses americanos e índios do sul da Ásia têm maior gordura total e gordura visceral, por isso podem apresentar maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 para o mesmo nível IMC que os brancos. Em mulheres asiáticas, uma circunferência da abdominal ≥80 cm e em homens asiáticos um valor ≥ 90 cm são considerados anormais.

O diagnóstico da obesidade abdominal é de extrema importância na estratificação de risco cardiovascular, por isso é de fundamental associar a medida da cintura abdominal ao IMC durante exame físico do médico. A técnica é simples e fácil de executar, além de ser de baixo custo, e de demostrar uma boa associação com a adiposidade visceral[8,9,10,11,12].

De acordo com o National Cholesterol Education Program (NCEP) /Adult Treatment Panel III (ATP-III), os valores de ponto de corte específicos para sexos associados ao aumento do risco cardiovascular são: ≥ 102 cm em homens e ≥ 88 cm em mulheres[13]. Pela International Diabetes Federation (IDF), a obesidade abdominal é utilizada como critério diagnóstico para síndrome metabólica de acordo com a seguinte classificação:

homens brancos de origem europeia e negros: ≥ 94 cm;
homens sul-asiáticos, ameríndios, chineses e japoneses: ≥ 90 cm;
mulheres brancas de origem europeia, negras, sul-asiáticas, ameríndias, chinesas e japonesas ≥ 80 cm.[13]

Relação cintura-quadril

A medição da relação cintura-quadril não oferece nenhuma vantagem sobre a circunferência da cintura sozinha, é frequentemente usada por clínicos, e atualmente não é recomendada como parte da avaliação rotineira da obesidade por American Heart Association (AHA)/American College of Cardiology (AC )/The Obesity Society (TOS). Atualmente, a OMS reconhece como ponto de corte para aumento de risco cardiovascular uma relação cintura-quadril > 0,8 em mulheres e > 0,9 em homens. Entretanto, estas estimativas são derivadas de populações predominantemente caucasianas, e por isso existem dúvidas sobre a aplicabilidade destes ponto de corte nestes valores em populações não caucasianas.

De fato, a circunferência da cintura e uma relação cintura quadril demonstraram em vários estudos serem melhores do que o IMC para identificar os indivíduos com maior risco de desenvolver doenças relacionadas a aterosclerose. Em qualquer nível de IMC, o risco de desenvolvimento de doença cardiovascular, tanto em homens quanto em mulheres, é diretamente proporcional ao aumento da gordura abdominal[14,15,16].

Relação cintura-estatura

Independentemente da idade e do sexo, a relação cintura-estatura é uma maneira simples de se avaliar o risco metabólico de um paciente. Um valor ≥ 0,5 é um indicador significativo de risco, podendo ser traduzido na mensagem “mantenha sua cintura em menos de metade da sua altura.”[17,18]. Alguns estudos classificam como pontos de corte:

Baixo risco: <0 div="">
Risco elevado:  ≥0,5 e <0 div="">
Risco muito elevado: ≥ 0,6.[17]

Em termos de custo e eficácia, a medição do IMC necessita de balanças para pesagem, assim como um estadiômetro para medir a altura. Já a relação cintura-estatura requer uma fita métrica e um estadiômetro. Tendo em vista que uma fita métrica é mais barata e mais portátil do que as balanças de pesagem, a relação cintura-estatura pode também apresentar um custo benefício melhor do que o IMC[17,18].

De acordo com uma extensa meta-análise publicada na Obesity Reviews compreendendo adultos de diversos grupos étnicos, a relação cintura-estatura é um parâmetro antropométrico clínico superior à circunferência abdominal e ao IMC para a detecção de fatores de risco cardiometabólicos, tanto no sexo masculino quanto no feminino[19].

Vários estudos prévios já demonstraram que a relação cintura-estatura é um parâmetro útil e confiável para avaliar a gordura abdominal, especialmente a visceral, que esta associada ao desenvolvimento de uma série de fatores de riscos cardiometabólicos[20,21,22,23,24,25,26,27,28,29].

Em uma outra recente meta-análise, que avaliou crianças e adolescentes, a relação cintura-estatura mostrou ser um bom preditor de risco cardiometabólico, sendo em alguns estudos melhor que o IMC e a medição da cintura abdominal. O autor desta meta-análise sugere, inclusive, o uso de rotina da relação cintura-estatura em vez do IMC e da cintura abdominal para a identificação mais simples e precoce das crianças e dos adolescentes com fatores de risco cardiovascular[30,31].

Devido a limitações claras do IMC, a relação cintura-estatura é considerada por muitos autores o melhor indicador clínico de risco para a saúde, pois pode ser usado na infância, na vida adulta, assim como em todo o mundo e em todos os grupos étnicos[17,18,19,20,21,22,23,24,25,26,27,28,29,30,31]. É importante frisar que, geralmente, crianças menores de cinco anos não são contadas em estudos populacionais[17].

Como definir melhor a obesidade?

A estimativa da composição da gordura corporal vem sendo estudada em diversas populações ao redor do mundo, mas a precisão destas estatísticas ainda é prejudicada pela variedade dos diferentes métodos indiretos de avaliação da composição corporal[31]. Os limites padrões acima de 25% e 35% de gordura são utilizados classicamente como definição de obesidade em homens e mulheres, respectivamente[32].

A adiposidade visceral pode ser medida com precisão por tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), e com menor precisão por dupla absorciometria de raios-x de energia (DEXA).      Como exemplo desta mensuração, a TC define a obesidade visceral como > 130 cm2 [32,33].

Estudos de imagens realizados em grandes coortes, como o Framingham Heart Study e o Jackson Heart Study, demonstraram que o aumento da adiposidade visceral, associado ao excesso de deposição de gordura ectópica, estão significativamente ligados a um aumento significativo do desenvolvimento de anormalidades metabólicas e de doenças cardíacas, sendo esta relação independente da quantidade de tecido adiposo total ou subcutâneo presente[34,35].

A bioimpedância é mais utilizada na prática clínica e mede a água corporal, fornecendo uma medida validada da massa gorda corporal e da massa livre de gordura. O exame se baseia na altura, no peso e no sexo específico de cada paciente para, deste modo realizar a análise da composição corporal dele[36,37,38].

Além do IMC, outros índices antropométricos de avaliação da adiposidade têm sido cada vez mais associados a um maior risco cardiometabólico e precisam ser levados em consideração na prática clínica, assim como na avaliação e na estratificação de risco do paciente. Embora a pesagem hidrostática, a composição corporal por absorciometria com raios-X de dupla energia (DEXA), a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) proporcionem uma medida mais precisa da distribuição da gordura corporal, elas são geralmente reservadas como ferramentas de pesquisa devido ao custo adicional e ainda não estão disponíveis para uso em larga escala na prática clínica[39,40].

Ponto de vista

Definir a obesidade com base apenas na altura e no peso, por meio do IMC, é simplificar uma doença multifatorial e complexa, que precisa ser encarada com seriedade por todos os setores da sociedade. São necessários todos os esforços possíveis para o diagnóstico precoce e a elaboração de medidas públicas e individuais, que ajudem e tratem o paciente obeso, que sofre com tanto preconceito. É preciso agir ativamente e rapidamente para combater a “epidemia” global de obesidade com toda dedicação profissional possível, unindo forças, para realizar medidas públicas e também pessoais, avaliando, escutando, entendendo e individualizando cada paciente na sua essência.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Mapa com os mecanismos etiológicos da obesidade por Dr. Bruno Halpern



Uma das maiores autoridades (no Brasil )em Obesidade na atualidade é o Dr. Bruno Halpern, filho do Dr. Alfredo Halpern. Toda semana o Dr. Bruno posta artigos interessantes sobre o tema na sua página do facebook: https://www.facebook.com/DrBrunoHalpern/

Hoje ele postou um mapa bem interessante. A imagem é difícil de entender, mas ela é muito ilustrativa. Consiste basicamente em um “Mapa da Obesidade”, que discute a complexidade da doença, e todas suas inter-relações, tanto biológicas, psicológicas e culturais.

Quando alguém diz que emagrecer é simples, só comer menos e se mexer mais, ou que quer um remédio que “tire a fome e a vontade de comer” seria interessante que Nutrólogos e Endócrinos mostrassem essa imagem.

O interessante é que mesmo que você corte algumas das vias, sempre será possível chegar a um ponto por outras. Sendo assim, o tratamento deve ser multidisciplinar e englobar questões de mudança de estilo de vida, tanto alimentares como exercício, com medicações (quando bem indicadas), estratégias comportamentais, vigilância e assim por diante.

Desconfie de quem tem soluções simples e únicas, e desconfie de quem diz que devemos “ouvir nosso corpo”. Embora atenção plena e entender porque comemos algumas coisas é importantíssimo, para pessoas com genética favorável ao ganho de peso, ouvir os sinais do corpo de nada servirá

terça-feira, 31 de março de 2015

A nutrição e sua importância nos primeiro 1.000 dias de vida da criança - Dra. Christiane Araujo Chaves Leite

Os primeiros 1.000 dias entre a gravidez e o segundo ano de vida oferecem uma janela de oportunidade única para proporcionar à criança um futuro mais saudável e próspero. O correto manejo nutricional durante os primeiros 1.000 dias pode ter um profundo impacto no crescimento e na aprendizagem, oferecendo também chances para melhora do padrão de vida social e para a construção de uma sociedade mais saudável, a longo prazo, e estável.

Ainda hoje a desnutrição lidera as causas de morte de crianças mais jovens em vários locais do mundo. Para lactentes e crianças abaixo de 2 anos, as consequências da desnutrição são particularmente graves, quase sempre irreversíveis, com repercussões na idade adulta.
Durante a gravidez, a desnutrição pode ter um péssimo impacto no crescimento saudável do feto e no desenvolvimento da criança. Bebês que se desnutrem durante a vida intrauterina têm um maior risco de morrer na infância e são mais propensos a enfrentar, ao longo da vida, déficits cognitivos e físicos e problemas crônicos de saúde.

Para crianças menores de 2 anos, a desnutrição pode ser devastadora, repercutindo sobre o sistema imunológico e susceptibilizando-as a morrer de doenças comuns como pneumonia, diarreia e malária.
Lactentes nascidos de baixo peso (BP) têm piores resultados quanto ao desenvolvimento neurológico (habilidades cognitivas, de memória, visuais e média de quociente de inteligência [QI]) quando comparados com aqueles nascidos com peso adequado para a idade gestacional. O período perinatal é de alta necessidade energética e de micronutrientes, e qualquer processo, como nascimento prematuro, nutrição inadequada ou insuficiência placentária, que interrompa o fluxo de nutrientes para o feto pode resultar em bebês com BP ao nascimento. Portanto, parece lógico que ao menos parte dos déficits cognitivos possa ser explicada por privação nutricional.

Os nutrientes comumente deficientes em lactentes de BP incluem proteína e energia e micronutrientes como ferro, zinco e ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (LC-PUFAs).
Estratégias para melhorar o desenvolvimento neurológico de crianças nascidas de BP são importantes, e muitas intervenções tiveram foco na abordagem nutricional aplicada durante o período após o nascimento. O acúmulo expressivo, no cérebro, dos LC-PUFAs (ácido docosa-hexaenoico [DHA] e ácido araquidônico [ARA]) ocorre principalmente no último trimestre de gestação e nos primeiros meses de vida.

A maioria das fórmulas para prematuros tem sido suplementada com LC-PUFAs desde o princípio dos anos 2000. De maior relevância clínica há dois ensaios recentes com doses de DHA que refletem a taxa estimada de acúmulo na vida intrauterina. Esses ensaios também incluíram lactentes alimentados com leite materno. Ambos descreveram progressos no desenvolvimento neurológico.
Pelas revisões recentes da literatura e das recomendações de expertos acerca da adição de LC-PUFAs às fórmulas infantis, conclui-se que as evidências atuais respaldam a suplementação de DHA e ARA nessas fórmulas, em especial nas destinadas a prematuros.

Estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego, placebo-controlado e de intervenção (suplementação de leite humano com DHA e ARA), com seguimento até os 20 meses de idade, não resultou em diferença no índice de desenvolvimento mental de Bayley (MDI). No entanto, identificou melhora significante na atenção sustentada em atividades lúdicas livres.

Recém-nascidos de BP apresentam déficits cognitivos documentados em comparação com aqueles nascidos a termo e com peso normal ao nascimento. Poucos estudos demonstraram o impacto da privação nutricional nesse desfecho, muito provavelmente porque envolveram amostras pequenas ou apresentaram problemas metodológicos, limitando a possibilidade de extrair conclusões robustas. Estudos maiores e ensaios de intervenção mais bem desenhados, com seguimento a longo prazo do desenvolvimento neurológico e suas repercussões, são necessários para determinar a utilidade dos suplementos nutricionais e o tempo de sua administração a recém-nascidos de baixo peso.

Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/20624152/.

Artigo de referência: Attention among very low birth weight infants following early supplementation with docosahexaenoic and arachidonic acid. Westerberg AC, Schei R, Henriksen C, Smith L, Veierød MB, Drevon CA, Iversen PO. Acta Paediatr. 2011 Jan;100(1):47-52

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Estudos relacionam obesidade a flora intestinal "ruim"

Os cientistas estão, nos últimos anos, começando a entender como vivem os trilhões de seres que há no intestino de cada ser humano. Ainda que seja você quem come chocolate todos os dias, uma flora intestinal que não ajuda pode ser a culpada pelos seus pneuzinhos, dizem os pesquisadores.

Em 2006, um estudo na "Nature" mostrou que gordos tinham um tipo diferente de flora intestinal. Não se sabia bem se a obesidade era causa ou consequência.

Três anos depois, um pesquisador americano, Jeffrey Gordon, da Universidade Washington, propôs na "Science Translational Medicine" que engordar era consequência. Ele dizia que as pessoas deveriam saber que tipo de bactérias há em seu intestino para saber se eram vulneráveis à obesidade.

Agora, um outro trabalho na "Nature" mostra que existem três diferentes tipos de flora intestinal. Do mesmo jeito que cada ser humano tem um tipo sanguíneo, todos tem um "tipo intestinal".

Cada um representa um tipo de bactéria diferente que predomina no intestino. Assim, ao menos por enquanto, esses tipos não tem nomes fáceis como "O positivo" ou "A negativo", mas "predominância de Bacteroides" ou "predominância de Prevotella".

Ficou claro para os pesquisadores que o tipo intestinal nada tem a ver com com a etnia do indivíduo, com o seu país de origem ou com a sua maneira de se alimentar.

Como cada bactéria tem uma eficiência diferente na hora de extrair energia dos alimentos, é possível que aquele amigo que come feito quem nunca viu comida e continua magro tenha tido a sorte de nascer com o tipo de flora intestinal certa.

Os cientistas, de várias instituições europeias (com colaboração da Universidade Federal de Minas Gerais), não conseguiram, porém, apontar qual das três floras intestinais é de gordinho e qual é de "magro de ruim". Estudaram bactérias de europeus, americanos e japoneses.

Era um grupo de poucas dezenas de pessoas. Os cientistas estão planejando repetir o trabalho agora com 400.

Mesmo que eles consigam novos resultados, certamente o tipo intestinal não será a única explicação para a obesidade. Outros fatores, como a alimentação e questões genéticas não relacionados ao intestino, certamente têm um peso grande.

De qualquer forma, não é possível subestimar o papel das bactérias no organismo humano.

Elas são muitas: enquanto o corpo humano tem cerca de 10 trilhões de células, cada pessoa carrega consigo mais de 300 trilhões de bactérias de todos os tipos.

Ou seja: há bem mais células de bactérias em você do que células de você mesmo.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/905599-estudos-relacionam-obesidade-a-flora-intestinal-ruim.shtml

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Novos dados da obesidade no mundo. Fica uma pergunta no ar

Na primeira semana de fevereiro saiu os resultados do último grande estudo sobre obesidade no mundo. Somos meio bilhão de adultos obesos acima de 20 anos, um em cada 10 adultos. Isso significa que a proporção de obesos dobrou nos últimos 30 anos.

Os números são de uma pesquisa publicada na última semana na revista científica The Lancet, baseada em dados epidemiológicos de vários países que incluem mais de 9 milhões de participantes. Ao mesmo tempo, um dado curioso chamou a atenção dos pesquisadores em outros dois estudos: a queda dos índices de hipertensão arterial e de colesterol nos países desenvolvidos nesse mesmo período.

O estudo foi realizado por pesquisadores americanos, ingleses e suíços e revela que em 2008 mais de uma pessoa em cada dez, na população mundial adulta, já era obesa, com maior porcentagem entre as mulheres. Entre os países ricos, os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar, desde 1980, na taxa de obesidade, enquanto a população japonesa se mostra como a menos afetada pelo problema. O Brasil está na 19ª posição no ranking mundial de obesidade masculina e na 15ª posição na obesidade feminina.

Esses dados nos levam a uma análise crítica da nossa metodologia e de nosso arsenal de tratamento da obesidade. Estamos perdendo a guerra contra esse mal, que responde pela grande incidência paralela de diabetes e elevadas taxas de mortalidade potencialmente evitáveis no mundo.

O que poderia explicar o sucesso na redução das taxas de colesterol e pressão arterial e o fracasso na redução do peso das pessoas? Obesidade, colesterol e hipertensão arterial são doenças crônicas muito semelhantes em suas causas e consequências. Todas associadas a estilos de vida inadequados com sedentarismo, stress e erros alimentares. Todas dependem de reeducação alimentar, atividade física e medicamentos. Então, com tantas semelhanças, o que poderia explicar o avanço da obesidade no mundo, tendo em vista a redução das duas outras doenças?

Fonte: http://comersemculpa.blog.uol.com.br/arch2011-02-01_2011-02-15.html#2011_02-11_08_46_25-142670378-0?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

sábado, 18 de setembro de 2010

Ômega 3 e Ômega 9 auxiliam no tratamento da Obesidade


Pesquisadores revelam propriedades terapêuticas de gorduras insaturadas:  Dieta rica em ômegas-3 e 9 interrompe e reverte processo inflamatório que causa a perda do controle da fome

Pesquisa realizada no Laboratório de Sinalização Celular (Labsincel) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp revela como a ação dos ácidos graxos insaturados ômega-3 e ômega-9, presentes respectivamente na semente de linhaça e no azeite de oliva, é capaz não apenas de interromper como também reverter o processo inflamatório causado por dietas ricas em gorduras saturadas numa região do cérebro chamada hipotálamo, responsável pelo controle da fome e do gasto energético, que ocasiona a perda deste controle neural e abre espaço para o desenvolvimento da obesidade.

O estudo revelou ainda, em descrição inédita na literatura, que o ômega-9, ao contrário do que se sabia até o momento, é mais potente em reverter essas condições do que o ômega-3, reconhecido como um clássico anti-inflamatório. A pesquisa, que acaba de ganhar o primeiro lugar no Prêmio Henri Nestlé, certame nacional de grande impacto na área da nutrição, foi realizada por Dennys Esper Cintra, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp em Limeira, e por Lício Velloso, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, coordenador do Labsincel.

Estudos recentes mostram que dietas ricas em gorduras saturadas – como as presentes nas carnes bovina e suína, e em seus derivados como leite, queijos e manteiga – lesionam o hipotálamo ao darem início a um tipo de inflamação local que acaba influenciando em seu funcionamento. Esse processo inflamatório, quando prolongado, pode causar a morte de neurônios e, consequentemente, a perda deste controle neural. Uma vez inflamado, o hipotálamo perde parte de suas funções, ao ter reduzida a sua capacidade de “percepção” entre o momento de sinalizar para o organismo a estocagem ou a queima de energia.

Pesquisas anteriores do grupo haviam revelado que tal inflamação é desencadeada por um receptor do sistema imune denominado Toll-Like Receptor 4 (TLR4). Este receptor é capaz de reconhecer uma substância presente na parede celular de bactérias, e, quando ativado, produz citocinas que causam inflamação. Demonstrou-se que essa substância presente na parede de bactérias também está presente nos alimentos ricos em gorduras saturadas. Quando consumidas em larga escala, como é o caso das dietas ocidentais, essas grandes quantidades de gordura são capazes de sensibilizar esses receptores, simulando uma infecção.

“Isso ocorre por todo o organismo, mas quando essas gorduras encontram esses receptores no hipotálamo, o estrago pode ser maior, pois é ali que se encontra a caixa-preta do nosso balanço energético” diz o pesquisador. Logo, algumas pessoas, quando expostas a dietas hipercalóricas, perdem gradativamente o controle da fome e passam a consumir mais calorias do que gastam, tornando-se obesas com o decorrer do tempo.
Os ensaios nutrigenômicos realizados por Cintra em modelos experimentais comparou a ação dos ácidos graxos insaturados ômega-3 e ômega-9 no hipotálamo de camundongos obesos e diabéticos e demonstrou que essas substâncias são capazes não apenas de atenuar a inflamação e restabelecer o processo de sinalização celular que controla o apetite como também de interromper os sinais de morte celular que vinham se instaurando.

Durante o tratamento com os ômegas, a sinalização da insulina e leptina (hormônios que indicam ao cérebro que há a presença de nutrientes e que está na hora de parar de comer) perdida em animais obesos e diabéticos foi restabelecida. Houve restauração de todo o perfil metabólico dos animais, culminando em perda de peso.

A pesquisa mostrou, no entanto, que para que os resultados sejam efetivamente alcançados é preciso uma ingestão contínua desses nutrientes, somada à descontinuidade da ingestão elevada de alimentos ricos em gordura saturada, ou seja, é preciso que haja uma reeducação alimentar, pois, uma vez interrompido o tratamento, os neurônios voltam a sofrer o processo de apoptose (morte celular).

No estudo, inicialmente, induziu-se a obesidade e diabetes nos animais, por meio da ingestão de uma dieta altamente calórica, rica em gorduras saturadas, bastante semelhante à consumida atualmente por populações ocidentais. Numa segunda etapa, quando do início do tratamento, os animais foram distribuídos em grupos que receberam dietas acrescidas de ômega-3 ou ômega-9, em concentrações crescentes. É sabido que a simples redução no consumo de gorduras saturadas já é o suficiente para a melhora no perfil metabólico em diversas espécies, inclusive em humanos.

Contudo, quando tais ácidos são ainda agregados à alimentação, os processos negativos gerados no hipotálamo pelo consumo crônico da gordura saturada melhoraram de forma exuberante. Houve recuperação do comportamento alimentar adequado, devido principalmente ao aumento na expressão de proteínas anti-inflamatórias e anti-apoptóticas, além da redução significativa na expressão de marcadores pró-inflamatórios e pró-apoptóticos no hipotálamo dos camundongos.

Para confirmar a ação específica dos ácidos graxos ômega-3 e 9, os pesquisadores infundiram as substâncias diretamente no hipotálamo de animais obesos, e observaram redução imediata no consumo de alimentos. Após uma semana de infusão direta no hipotálamo, os animais já tinham perdido mais de 10% do seu peso corporal.

Gasto energético

Somado a estes fatores, ambos os experimentos demonstraram que a perda de peso não se deveu apenas à recuperação do controle nervoso da fome, mas também porque tais substâncias aumentaram o gasto energético dos animais. Quando infundido diretamente no hipotálamo, ou mesmo quando consumidos por via oral, ambos, ômega 3 e 9, aumentam no tecido adiposo marrom a expressão de uma proteína chamada UCP-1, que é responsável pelo aumento do gasto energético. Com isso, a atividade das proteínas da via da insulina e da leptina foi restaurada. Os animais se tornaram muito mais tolerantes à glicose e também mais sensíveis às ações da insulina, antes prejudicada pela obesidade.

Outro fato surpreendente foi demonstrado nesse estudo. “Como dito anteriormente, os ômegas foram suplementados nas dietas em várias concentrações. A resposta mais interessante se demonstrou nos grupos que receberam as menores concentrações na dieta, tanto de ômega-3 quanto de ômega-9. Embora os animais diabéticos não tenham deixado de ser diabéticos, a glicemia foi reduzida de forma expressiva e se tornou controlável através apenas da alimentação nesses grupos”, revelou Cintra.

O impacto da substituição dos ácidos graxos na variação do peso corporal foi dependente da composição, mas não do tipo de ácido graxo. “Observamos que quando os animais consumiam esses ácidos graxos, ou quando aplicávamos diretamente no hipotálamo, a inflamação era finalizada. Os sinais de insulina e leptina enviados pela periferia chegavam até o hipotálamo e cumpriam a obrigação deles informando ao organismo que já havia nutrientes em quantidade suficientes, e que a fome deveria desaparecer”, explicou Cintra.

As concentrações testadas nas dietas correspondentes aos melhores resultados são quantidades passíveis de consumo no dia a dia, por meio de um acréscimo natural desses alimentos em nossas refeições diárias, sem a necessidade de suplementos alimentares. Alimentos como semente de linhaça marrom, óleo de soja, sardinha e canola apresentam custos razoáveis e também excelentes fontes de ômega-3. Da mesma forma, o azeite de oliva, óleo de soja, abacate e amendoim são fontes saudáveis de ômega-9.

Perspectivas

Além de mostrar que os ácidos graxos ômega-3 e ômega-9 são capazes de interromper os sinais de morte celular, inibir a inflamação e restabelecer a sinalização celular das vias da leptina e da insulina, o trabalho trouxe evidências de que esses ácidos podem desencadear também um estímulo à gênese de novos neurônios, num processo chamado de neurogênese.

A próxima empreitada será investigar a possibilidade dessa síntese de novos neurônios, e verificar se tais ácidos graxos possuem a capacidade de exercer plasticidade sobre os neurônios afetados de indivíduos obesos, revertendo assim o processo de morte instaurado pelos ácidos graxos saturados. “Precisamos descobrir se essa plasticidade ocorre no local onde os neurônios foram mortos pelo excesso de gordura saturada. Ainda não sabemos até que ponto, e nem porque razão, mas o ômega-3 é capaz de estimular a multiplicação de neurônios. O estudo indicou que o ômega-3 pode ter sido o responsável pela regeneração daqueles neurônios que já haviam morrido naquela região do hipotálamo. O próximo passo será descobrir se o ômega-3 é mesmo capaz de restabelecer os neurônios controladores da fome, e assim devolver ao indivíduo a capacidade perdida de controlar sua fome após ele ter se tornado obeso”, concluiu Cintra.

Isto torna o assunto em questão ainda mais delicado: como a morte dos neurônios pode ser irreversível – os estudos na área ainda são muito incipientes – a possibilidade de o vício ou a compulsão por comidas gordurosas e altamente calóricas acontecer pode ser ainda mais grave. De acordo com Cintra, é preciso que cada vez mais políticas públicas de prevenção à obesidade sejam implantadas, e que haja todo um esforço de reeducação alimentar entre a população, desde a infância. “Uma vez que a pessoa se torna obesa, fica difícil reverter o processo de obesidade, ou, ao menos, de devolvê-la o controle da fome. Mesmo com o enorme avanço da ciência, esta ainda se encontra de mãos atadas em relação à obesidade. Ainda não temos nenhuma saída satisfatória para a doença, por isso é tão importante a prevenção. O indivíduo não pode se tornar obeso, porque a partir desse momento ele pode estar entrando em um caminho sem volta”, afirma Cintra.

Por esta razão, a melhor saída continua sendo, de acordo com cientistas e especialistas, investir em programas de conscientização, reeducação alimentar, e de estímulos às práticas de atividades físicas, para assim, tentar evitar que a obesidade atinja um patamar irreversível.

Fonte: Jornal da Unicamp