sábado, 12 de novembro de 2022

Pareceres de várias sociedades médicas

Muitos colegas do Movimento Nutrologia Brasil e Endocrinologistas estavam me pedindo um compilado de pareceres de diversas sociedades médicas sobre alguns temas:
  • Modulação Hormonal
  • Prescrição de Hormônios para fins estéticos
  • Implantes hormonais
  • Soroterapia
Então abaixo segue o compilado.

O primeiro dele é o da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), especificando que alguns dos itens citados acima não fazem parte do rol de procedimentos da Nutrologia Link: https://abran.org.br/2018/03/14/rol-de-procedimentos/

Em 2022 a ABRAN atualizou e acrescentou alguns itens na lista:


A ABRAN em comunicado também publicou no próprio site um posicionamento especificamente sobre Modulação Hormonal. Ou seja, tal tipo de prática não tem respaldo da ABRAN. 

A especialidade responsável por estudar mais a fundo os hormônios é a Endocrinologia e Metabologia e a própria Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) publicou também um posicionamento sobre Modulação Hormonal.

Em 2021 a SBEM emitiu um posicionamento sobre uso (e abuso) de implantes de gestrinona no Brasil. 

SBEM também se posicionou contra o uso de Esteroides Anabolizantes e similares para fins estéticos ou para ganho de desempenho esportivo.

Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) emitiu em 2022 um posicionamento contrário ao uso de Esteroides Anabolizantes para fins estéticos ou melhora da performance.

A Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) se posicionou contra a prática de medicina anti-envelhecimento

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) também se posicionou contra a prática de modulação hormonal. 

Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) também se posicionou contra a prática de modulação hormonal. 

Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) também se posicionou contra a prática de modulação hormonal e terapia antienvelhecimento

Além de todas as sociedades médicas acima reprovarem a prática de Modulação Hormonal, o Conselho Federal de Medicina (CFM) que é a autarquia que regulamenta o exercício da Medicina no Brasil tem uma resolução no qual PROÍBE EXPRESSAMENTE a prática de modulação hormonal no Brasil. Podendo ser acessado em: 

E o Tribunal Regional Federal, reconhece as normativas do CFM: 

Em Abril de 2023, o CFM publicou a Resolução nº 2.333/23. Tal resolução regulamenta que a prescrição médica de terapias hormonais está indicada em casos de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínico, cuja reposição hormonal proporcione benefícios cientificamente comprovados, sendo “vedada ao médico a prescrição de medicamentos com indicação ainda não aceita pela comunidade científica”. O uso de terapias hormonais com a finalidade de retardar, modular ou prevenir o envelhecimento permanece vedado pela Resolução CFM nº 1.999/2012.

Com esse entendimento, a prescrição de EAA é justificada para o tratamento de doenças como hipogonadismo, puberdade tardia, micropênis neonatal e caquexia, podendo ainda ser indicada na terapia hormonal cruzada em transgêneros e, a curto prazo, em mulheres com diagnóstico de Desejo Sexual Hipoativo.

O CFM também define que, no exercício da medicina, fica proibida a prescrição e divulgação de hormônios anunciados como “bioidênticos” em formulação “nano” ou com nomenclaturas de cunho comercial sem a devida comprovação científica de superioridade clínica para a finalidade prevista nesta resolução, assim como de Moduladores Seletivos do Receptor Androgênico (SARMS) para qualquer indicação. A vedação está de acordo com o entendimento atual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), expresso na Resolução nº 791/21.

O efeito manada na Medicina

Eu me formei dia 21/01/2008, exatamente 1 mês antes do meu aniversário. Em 2023 completarei 15 anos de formado e o texto de hoje é sobre o tempo. O passar do tempo e as paisagens que vi ao longo dessa estrada, tanto do lado direito, quanto do lado esquerdo.



Por volta de 2005 descobri que eu gostava de nutrientes, ou seja, no meu caminho profissional, eu tinha certeza que prescreveria mais nutrientes que medicamentos. Em 2008 após formar, meu foco era nos nutrientes. Naquela época, raramente nutricionista prescrevia. O assédio por parte das farmácias de manipulação existia, mas nem de longe é da forma atual. Então em 2008 os representantes farmacêuticos me mostravam ativos milagrosos, "a novidade da novidade". Eu, recém-formado, sem malícia nenhuma, sem senso crítico, ouvia aquilo e pouco questionava. Então prescrevi faseolamina, cassiolamina, l-carnitina, BCAA, glutamina. Poucos nutricionistas prescreviam isso naquela época. 

Em 2009 a moda da vez era o chá verde. Centenas de estudos sendo publicados. Eu tomava o chá verde, o chá branco, o chá preto, o chá de todas as cores do arco-íris. Todos oriundos da camelia sinensis. Cadê o bem-estar? Nunca senti. Mas os estudos mostravam benefícios. É ruim? É, mas vamos tomar. Mente forte, corpo forte. 

Já em 2010 brotou no lado direito da estrada a famigerada ração humana. Animais racionais também deveriam ser alimentados com ração humana. Na verdade, toda aquela gororoba ruim, já era utilizada por uma "galera natureba", mas sequer tinha nome. Porém, a indústria, dessa vez a alimentícia, viu ali uma oportunidade. Então, eu prescrevia (mesmo sendo ruim), tu prescrevias, eles prescreviam. Mesmo, sendo ruim de ingerir. Mas, não bastava ter a ração humana, no segundo semestre surgiu nas prateleiras de supermercado, a "nova novidade" para emagrecimento. Um óleo valioso, 50 reais um frasquinho de 300 ml. O óleo de coco. Com promessas milagrosas e revolucionárias. Eu usava. Meu olfato não suportava a fumaça feita na cozinha. Mas diziam ser bom, meus ídolos indicavam no twitter e eu ignorante acreditava. Anos mais tarde eu viraria inimigo do óleo valioso. Em 2011 o alimento da vez era a semente de chia. Chia com agrotóxico, chia orgânica... a chia revolucionaria a sua saúde. 

2012 a indústria tinha que inovar. Precisavam de um novo alimento que auxiliasse no emagrecimento. Mas não podia ser algo barato, que nasce facilmente nas terras tupiniquins. A indústria queria lucrar, médicos e nutricionistas estavam sedentos por algo diferente. A indústria pegou então uma fruta chamada Goji berry e começou a propagar um monte de benefícios.

Chá verde, chá branco, chá preto, ração humana, óleo de coco, chia, linhaça, já dava pro pessoal começar a montar lojas de produtos naturais. Dito e feito, foi um boom no surgimento dessas lojas. Tudo a granel, do jeito que a ANVISA e os fungos gostam. Tinha gente lucrando a rodo nessa estrada, principalmente os donos de lojas. 

Comerciantes lucrando, os prescritores também queriam lucrar. Eis que começa o verdadeiro efeito manada em 2014. Dieta do hCG. A indústria pensou: " e se a gente deixar a pessoa comendo só 500kcal por dia e aplicar uma injeção de hormônio de grávida? Será que o pessoal emagrecerá?". Pagaram para ver e deu certo. Um monte de médico prescrevendo, mas também um monte de paciente se sentindo lesado. Nessa altura do campeonato eu já não era tão inocente. Dessa água não beberei e nunca bebi. Pelo contrário, tudo que eu achava de trabalho mostrando os riscos de tal prática, eu publicava no meu instagram. Na época eu já fazia a pós de Nutrologia da ABRAN e via meus ídolos (os ídolos do twitter viram inimigos) condenando essa e mais outras práticas. Mas o assunto aqui são negócios que vi ao longo dessa estrada. Negócios que despertaram o efeito manada. A dieta hCG foi super bem sucedida, mas depois caiu no ostracismo.

Se a dieta hCG emagrecia era pela restrição calórica, então em 2015 vamos relançar uma prática milenar, para substituí-la. Nasceu ali a fama meteórica do Jejum intermitente. Efeito manada ativado. Vivi o começo, o meio e vivencio o fim da estratégia terapêutica. Mas tinha gente que lucrou muito com o hCG querendo continuar lucrando. Só falar para o paciente ficar sem se alimentar em uma janela de horas não daria certo. 

Pro negócio dar certo a gente tem que criar o problema e vender a solução. Já diziam os sábios do marketing digital. 

Então em 2016 começou a estourar a prescrição de hormônios esteroides anabolizantes para fins estéticos. A estrada começou a ficar sombria. Isso coincidiu com uma quantidade (nunca antes vista) de médicos recém formados caindo no mercado de trabalho. Deu para observar perfeitamente o efeito manada acontecendo. Pessoas despreparadas, indicando preparações manipuladas e a cereja do bolo sendo anabolizantes. Será que é lucrativo? 

De 2017 a 2019 presenciávamos fórmulas kilométricas de suplementos e os pacientes atordoados perguntando se aquilo que fora prescrito pelo colega (componente do efeito manada) era realmente necessário. 

Começou a pandemia e surgiu algo ainda mais lucrativo, a terapia com injetáveis. Algo extremamente lucrativo mas sem reconhecimento da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), obviamente. 

E em 2021 foi o ápice do efeito manada: Chip da beleza, implantes hormonais. 

Resultado: várias sociedades médicas de especialidades se posicionando contra a prática de modulação hormonal, utilização de hormônios para fins estéticos, soroterapia quando o trato digestivo está funcionante. 


Em 2022 presenciamos profissionais sem habilitação em cirurgia, realizando Remodelação glútea.

O futuro? Incerto, mas o que vejo cotidianamente é que não importa o quão anti-ética ou pobre em evidência seja a prescrição de uma terapia, uma boa parte dos médicos não querem ficar para trás. 

Não importa se as principais sociedades médicas relacionadas a área se posicionam contra... Não importa se tais terapias podem ter riscos severos e gerar sequelas para os pacientes... Prescrevem! Pouco importa se sociedades médicas ligadas à AMB necessitam preparar uma carta conjunta pedindo providências ao CFM... prescrevem. Muito menos importa se o CFM proíbe através de resoluções tais práticas... prescrevem!

E o que vemos é que há inúmero$ outros motivos para e$$e tipo de pre$crição. 

Quais as próximas modas?


Autor:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13192 - RQE 11915
CRM-SC 32.949 - RQE 22.416

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Refluxo gastroesofágico - medidas nutrológicas e comportamentais que podem aliviar os sintomas

A Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma doença muito frequente no consultório do nutrólogo, principalmente por se tratar de uma patologia que acomete a maioria dos pacientes portadores de obesidade. O Refluxo fisiológico ocorre na maioria das pessoas, porém, quando a condição se cronifica, denominamos de DRGE.


É uma doença relativamente comum, na qual a secreção ácida presente no estômago vaza (sobe/retorna) de forma involuntária para o esôfago. Levando a sintomas desagradáveis como sensação de azia, dor na região torácica (retroesternal), gosto amargo na boca, mau hálito (halitose), arrotos (eructações), sensação de pigarro na garganta, tosse seca, sinusite ou amigdalite de repetição e até rouquidão. 

Inúmeras podem ser suas causas:
  • Alterações no esfíncter que separa o esôfago do estômago (esfíncter esofágico inferior = EEI) e que deveria funcionar como uma válvula para impedir o retorno dos alimentos. Quem controla a pressão no EEI? O sistema nervoso e humoral. A gastrina (fase gástrica de digestão) aumenta a pressão no EEI e com isso evita que o conteúdo retorne para o esõfago durante a digestão. Já a colecistocinina (CCK) e a secretina (ambas ativadas na fase intestinal da digestão) diminuem a pressão no EEI, ou seja, favorece que o conteúdo gástrico reflua para o esôfago e gere os sintomas. 
  • Redução da salivação.
  • Retardo no esvaziamento gástrico e aqui vale um adendo, algumas doenças favorecem esse retardo (diabetes, hipotireoidismo, síndrome de ehlers danlos, hipermobilidade articular), alimentação rica em gordura ou em proteína, álcool, metilxantinas, cafeína, cacau, uso de medicações como Liraglutida (Saxenda, Victoza), Semaglutida (Ozempic, Rybelsus).
  • Presença de uma hérnia de hiato. Ou seja, ocorre um deslocamento da transição entre o esôfago e o estômago, que se projeta para dentro da cavidade torácica.
  • Fragilidade das estruturas musculares existentes na região.
Dentre os fatores de risco temos:
  • Obesidade: o aumento da pressão abdominal decorrente do acúmulo de gordura abdominal favorece a DRGE. Sendo assim, o quadro pode diminuir quando a pessoa emagrece. 
  • Refeições volumosas antes de deitar, isso favorece o retorno involuntário do conteúdo do estômago para o esôfago. 
  • Ingestão excessiva de líquidos durante as refeições, em especial bebidas gasosas.
  • Aumento da pressão intra-abdominal: roupas apertadas, uso de cintas, aumento da prensa abdominal, obesidade, execução de exercícios. 
  • Ingestão de alimentos como café, chá preto, chá mate, chocolate, molho de tomate, comidas ácidas, bebidas alcoólicas e gasosas.
E se não tratado, o que pode ocorrer?

A exposição prolongada a esse conteúdo gástrico pode levar ao surgimento de sofagite, erosões esofágicas, úlceras, estenose do esôfago, alteração no esmalte dentário, rouquidão, sinusite e amigdalite de repetição, dor na deglutição, hérnia de hiato, esôfago de Barrett e câncer de esôfago. 

E como a Nutrologia pode te auxiliar?

Primeiramente temos que fechar o diagnóstico da DRGE. Então solicitamos uma endoscopia e/ou pHmetria ou manometria. Além da solicitação da biópsia. Alguns pacientes podem apresentar uma patologia denominada esofagite eosinofílica e que tem muita correlação com o que é ingerido.

O tratamento medicamento se dá:
1) Com o uso de inibidores de bomba de prótons (os prazóis), fármacos que diminuem a produção de ácido pelas células parietais.
2) Bloqueadores ácido competitivos de potássio: Fumarato de vonoprazana (P-CAB).
3) Substâncias antiácidas: hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio, sucralfato.
4) Procinéticos: fármacos que aumentam a motilidade gástrica e com isso aumentando a velocidade do esvaziamento gástrico.

O Uso crônico dessas medicações deve ser desestimulado e o paciente deve ser orientado a SEMPRE retornar ao médico, caso os sintomas retornem.  Jamais que se automedique. O uso crônico dessas medicações pode levar a deficiências nutricionais, favorecimento de alterações na microbiota intestinal (supercrescimento bacteriano), risco de osteoporose. Existe uma demonização dessas drogas por parte de alguns profissionais e isso também deve ser combatido. O surgimento principalmente dos IBPs revolucionou a gastroenterologia e salva vidas. O risco está no uso irracional e na automedicação.
Medidas eficazes para controlar os sintomas

Emagrecer para reduzir a pressão intra-abdominal: Essa é a medida que mais auxilia na DRGE, tanto pela redução da pressão intra-abdominal, quanto pelos hábitos associados à perda de peso. Geralmente a pessoa em processo de emagrecimento ingere refeições menos volumosas, não deixa após se alimentar, pratica atividade física o que favorece o esvaziamento do estômago e peristaltismo. Evite usar roupas apertas, cintas, cintos apertados e se curvar sobre o alimento na hora da refeição. Lembre-se: cuidados nos exercícios que você faz, exemplo, abdominais e suas variações, legpress. 

Atenção: a gestação favorece o aumento da pressão intra-abdominal, logo favorece refluxo que vai piorando ao longo da gestação. 

Elevação da cabeceira da cama: Uma das causas do refluxo é justamente o EEI hipotônico (frouxo), logo, se você deitar, o conteúdo retornará para o esôfago,, já que não tem uma barreira mecânica efetiva para impedir essa volta.  Sendo assim, se elevamos a cabeceira da fama, podemos evitar que esse conteúdo gástrico volte para o esôfago durante o sono e com isso os sintomas noturnos de pirose, regurgitação aliviam.  Uma dica que dou é que você compre os pés de cama anti-refluxo. Na internet acha-se facilmente. A elevação de 10 a 15 centímetros já traz benefícios. 


Dormir do lado esquerdo do corpo: Isso ocorre devido a angulação entre o estômago e o esôfago (conforme a imagem), evitando que o conteúdo residual presente no estômago reflua para o esôfago e assim permaneça no estômago.



Não deitar após as refeições maiores: Sabemos que após as refeições, ocorre um refluxo fisiológico, mas que você pode facilitar, caso resolva deitar após se alimentar. Ou seja, impeça a piora do que já é fisiológico. Espere pelo menos 3 horas entre o horário de deitar e a última refeição do dia. Ao longo do dia, após se alimentar, permaneça pelo menos 30 minutos na posição ereta (ortostática).



Fracione as refeições: Comer menor quantidade de alimentos, porém com uma frequência maior, ao invés de fazer 3 grandes refeições pode te ajudar a reduzir os sintomas. Quanto mais volume dentro do estômago, maior a chance do EEI não conseguir contê-lo dentro do estômago e com isso ele refluir para o esôfago.  

Mastigue: Seu estômago não tem dente, muito menos o intestino. A mastigação é função dos dentes e que estão presentes na boca rs. Portanto, mastigue bem, isso facilitará a digestão e o peristaltismo.

Álcool e tabagismo: Evite ambos. Um tem ação irritante sobre a mucosa digestiva, já o cigarro diminui a produção de muco protetor do estômago.

Refluxo e alimentos

Alguns alimentos são clássicos em piora dos sintomas de refluxo mas ao longo dos anos aprendi que cada paciente reage de uma forma a eles. Tem paciente que nega sintoma com o consumo de café. Outros já negam sintomas com uso de molho de tomate. Portanto, sempre deixo claro que não é uma regra, que alimentos "que relaxam o EEI" gerarão sintomas em todos os pacientes. Antes de pensar em quais alimentos aliviam ou pioram os sintomas tenha como base as medidas acima. 

O que solicito ao Nutricionista na maioria das vezes:
  • Se obesidade: dieta hipocalórica para favorecer emagrecimento
  • Dieta hipolipídica: <20% do volume energético total diário
  • Consistência da dieta: na fase aguda deverá ser líquida ou semi-líquida, com evolução para dieta geral ao longo dos dias até melhora da disfagia do paciente. 
  • Fracionamento das refeições: de 6 a 8 refeições por dia nas crises. 
  • Líquidos: utilizar preferencialmente entre as refeições, evitando nas 3 principais refeições para diminuir o volume que ficará por um tempo no estômago.
  • Exclusão: de alimentos que retardam o esvaziamento gástrico, alimentos que relaxam o EEI, alimentos irritantes para a mucosa gástrica e esofágica, alimentos que estimulam a secreção ácida.
  • Intervalo de 2 a 3 horas entre a última refeição do dia e o horário de deitar.
Alimentos que relaxam o EEI, ou seja, favorecem que o conteúdo gástrico volte para o esôfago:
  • Cafeína: Presente no café, chá verde, chá mate, chá preto, coca-cola.
  • Teobromina: É uma substância normalmente encontrada no fruto do Theobroma cacao, e por isso este composto é normalmente encontrado no chocolate e no pó de guaraná.
  • Xantinas
  • Álcool
  • Cebola
Alimentos que retardam o esvaziamento gástrico, ou seja, que favorecem que a comida permaneça mais tempo dentro do estômago e aumente o risco de refluir para o esôfago:
Gorduras em geral: banha de porco, óleo de coco, gordura animal, frituras. 

Fatores que retardam o esvaziamento gástrico:

Alimentos irritantes gástricos
  • Temperatura extremas: muito quentes ou muito frios podem irritar a mucosa digestiva. Portanto, nada de extremos.
  • Refrigerantes, pela presença do ácido fosfórico e do gás
  • Álcool
  • Tabagismo
  • Alimentos carminativos (hortelã, menta)
  • Molhos prontos: temperos prontos, caldos concentrados, molho inglês, shoyu.
  • Alimentos gordurosos: fritura e molhos gordurosos, além de terem ação irritante gástrica, retardam o esvaziamento do estômago. 
  • Frutas ácidas: aqui entra uma polêmica pois, teoricamente o pH do estômago é mais ácido que qualquer fruta, entretanto, vários pacientes relatam piora dos sintomas quando consomem frutas cítricas como laranja, tangerina, lima, acerola, abacaxi. Já outros relatam que não apresentam sintomas ao consumirem limão tahiti, mas apresentam com o limão china, siciliano ou galego. 
  • Tomate e derivados (molho de tomate, tomate seco, tomate confit, ketchup)
  • Grãos de mostarda
  • Café: a cafeína e a presença de taninos pode ter ação irritante para a mucosa gástrica e esofágica, mesmo o descafeinado. Porém, há pacientes que negam sintomas com a ingestão apenas no período matinal.
  • Chocolate: tem xantinas que irritam a mucosa digestiva
  • Pimenta vermelha: possui capsaicina, uma substância que tem potencial irritação para a mucosa gástrica e esofágica. Pimenta do reino teoricamente tem ação irritante mas a maioria dos pacientes toleram.
  • Gengibre: teoricamente pioraria os sintomas mas vários pacientes toleram.
  • Própolis: mesmo caso do gengibre.
  • Aditivos acrescentados na panificação e confeitaria. 
Alimentos que estimulam a produção de ácido
  • A chegada de proteína ao estômago estimula a liberação de gastrina. A gastrina por sua vez, causa a liberação de histamina. Esta estimula as células parietais por meio de receptores H2. As células parietais secretam ácido, o que causa queda do pH, estimulando células D antrais a liberarem somatostatina, a qual inibe a liberação de gastrina , o que denominamos de feedback negativo, um mecanismo de autoregulação do nosso organismo. Portanto preparações com alto teor de purinas (consomê de carnes, frutos do mar, vísceras) podem estimular a produção de ácido pelo estômago.
  • Alimentos ricos em gordura.
  • Leite e seus derivados, principalmente os ricos em gordura, pois, além de retardarem o esvaziamento gástrico, promovem aumento da produção de suco gástrico.
  • Bebidas gasosas, pois, a distensão do estômago é um dos estímulos para a produção de gastrina. 
Autores:
  • Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915, CRM-SC 32.949, RQE 22.416
  • Dra. Christian Kelly Nunes Ponzo - CRM-ES 9683, RQE de Gastroenterologista: 6354, RQE de Nutrologia: 6355
  • Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
  • Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 
  • Dra. Edite Magalhães - Médica especialista em Clínica Médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351


quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Os prebióticos são importantes para a saúde intestinal?

E como eles diferem dos probióticos? Especialistas avaliam como esses suplementos da moda podem influenciar seu bem-estar.

Navegue pelos corredores de qualquer loja de produtos naturais ou drogarias e é provável que você encontre suplementos prebióticos.  Eles são embalados como pós, gomas, pílulas e bebidas e afirmam melhorar a digestão, estimular o sistema imunológico, diminuir o açúcar no sangue e muito mais.

De acordo com a Grand View Research, uma empresa de pesquisa de mercado, o mercado de prebióticos deve crescer cerca de 15% a cada ano de 2022 a 2030 – em parte devido às crescentes preocupações entre os consumidores sobre problemas intestinais como constipação, síndrome do intestino irritável, refluxo ácido e inflamação.  doença intestinal.

Mas o que exatamente são prebióticos?  E você precisa tomá-los para uma boa saúde?

O que são prebióticos?

As pessoas frequentemente confundem prebióticos com probióticos – os microrganismos vivos encontrados em alimentos como kimchi e alguns iogurtes, bem como em suplementos destinados a beneficiar a saúde.

Mas os prebióticos são substâncias que promovem o crescimento de micróbios benéficos no intestino.  Eles podem ser encontrados em alimentos ricos em fibras, como bananas verdes, aspargos, alcachofras, alho, cebola, cevada e farelo de trigo. Justin L. Sonnenburg, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Stanford, disse que os suplementos prebióticos normalmente contêm tipos purificados de fibra dietética que os humanos não conseguem digerir.

O principal objetivo dos prebióticos é alimentar a mistura diversificada de bactérias benéficas que o intestino precisa para prosperar, disse Sonnenburg. Um microbioma florescente tem sido associado a vários benefícios à saúde, incluindo riscos reduzidos de certas condições, como diabetes e obesidade.

Os prebióticos ajudam seu intestino?

Vários pequenos estudos descobriram que os prebióticos – em forma suplementar e alimentar – estão associados à regulação da inflamação intestinal, aliviando a constipação e apoiando a saúde digestiva geral.  Mas há menos pesquisas sobre prebióticos do que sobre probióticos em geral, e suas descobertas foram mistas e limitadas.  Mais pesquisas são necessárias, disse Sonnenburg.

 Em um estudo de 2018 com 44 pessoas com certos distúrbios gastrointestinais que causavam flatulência, por exemplo, os pesquisadores investigaram como tomar um suplemento prebiótico ajudou a reduzir os sintomas em comparação com seguir uma dieta com baixo teor de FODMAP.  Após quatro semanas, ambos os métodos foram igualmente eficazes.

 Em outro estudo de 2018, os pesquisadores revisaram várias dezenas de estudos sobre a eficácia de prebióticos, probióticos, simbióticos (uma mistura de probióticos e prebióticos) e antibióticos no controle da síndrome do intestino irritável.  Eles encontraram poucos estudos mostrando que os prebióticos, sozinhos ou em combinação com probióticos, podem beneficiar pacientes com a doença.  Uma revisão subsequente de 33 ensaios clínicos randomizados em 2020 chegou a conclusões semelhantes.

 Há algumas evidências que sugerem que os suplementos prebióticos podem ajudar na constipação, incentivando movimentos intestinais mais regulares, frequentes e bem formados, disse o Dr. Cresci.

 De fato, se você está constipado, os prebióticos podem induzir um efeito laxante, disse Kelly Swanson, professora de ciências animais e nutricionais da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign.

Há também pesquisas preliminares sugerindo que os prebióticos podem ajudar a fortalecer o sistema imunológico, acrescentou o Dr. Swanson, mas essa evidência é inconclusiva. Ele disse, no entanto, que pesquisou como prebióticos específicos podem afetar a abundância e a atividade de micróbios no microbioma intestinal e que os prebióticos “modificam claramente” as bactérias em nosso intestino de maneiras benéficas.

A Dra. Reezwana Chowdhury, professora assistente de medicina na Johns Hopkins Medicine, disse que não tem conhecimento de nenhum dado que mostre perigos significativos associados à ingestão de suplementos prebióticos. Mas também não há evidências suficientes mostrando que os prebióticos são benéficos no tratamento de condições como síndrome do intestino irritável ou diarreia, disse ela, então ela nunca recomendou suplementos prebióticos a seus pacientes.

Dra. Lisa Ganjhu, professora associada da N.Y.U. Grossman School of Medicine, especializada em gastroenterologia, concordou. A pessoa média não precisa tomar prebióticos, disse ela. Algumas pessoas que os tomam podem notar alguns benefícios, ela acrescentou, mas alguns podem até notar sintomas piores, incluindo alterações nos movimentos intestinais, mais gases e mais inchaço.

Se você decidir experimentá-los, esses suplementos geralmente são seguros e normalmente têm poucos efeitos colaterais, disse o Dr. Swanson. Ele observou que algumas pessoas podem sentir mais flatulência e fezes moles depois de tomá-los, especialmente se os prebióticos forem tomados em quantidades superiores às recomendadas. Para minimizar esse risco, o Dr. Swanson sugeriu não tomar mais do que cinco gramas por dia.

E não espere que o suplemento transforme seu intestino radicalmente, disse a Dra. Cresci.  “O prebiótico não vai salvar o dia de uma dieta ruim”, disse ela. “Não existe uma bala mágica para isso.”

O que você pode fazer em vez de tomar um prebiótico?

Quando se trata de nutrir as boas bactérias em seu intestino, disse Sonnenburg, seguir uma dieta rica em fibras com muitas frutas e vegetais provavelmente será melhor para você.

Cada um de nós tem centenas de espécies de bactérias florescendo em nossos intestinos e “é muito difícil imaginar como colocar um prebiótico purificado nessa comunidade poderia promover o tipo de biodiversidade que você precisa em seu microbioma intestinal”, disse ela.

Isso não significa que você tenha que comer meio quilo de aspargos todos os dias para ter uma boa saúde, disse Swanson. Mas fazer questão de comer bananas durante a semana, ele disse, ou trocar doces açucarados no café da manhã por opções mais saudáveis, como aveia coberta com nozes e frutas vermelhas, ajudará as boas bactérias em seu intestino a prosperar.

Adicionar mais fibra à sua dieta, que as evidências sugerem que a pessoa média nos Estados Unidos poderia se beneficiar, lhe dará muitos dos mesmos benefícios dos prebióticos, disse Sonnenburg, já que a fibra estimula o crescimento de bactérias benéficas em seu intestino. A American Heart Association recomenda que a maioria das pessoas consuma pelo menos 25 a 30 gramas de fibra alimentar por dia.

Para atingir esse objetivo, especialistas da Universidade da Califórnia, em São Francisco, recomendam pelo menos cinco porções de frutas e vegetais por dia e incluir pelo menos uma porção de grãos integrais em cada refeição.  Você pode aumentar sua ingestão de fibras adicionando lentilhas e legumes a sopas e saladas ou chicoteando sementes de chia em smoothies. Você também pode fazer algumas trocas intencionais em sua dieta: Substitua o arroz integral por arroz branco e, na compra do cereal, escolha um produto com pelo menos cinco gramas de fibra por porção. Essas alterações podem ter um efeito mais transformador em seu intestino do que procurar um prebiótico.

"Pouquíssimas coisas são resolvidas apenas tomando uma pílula", disse Swanson.

“Compartilhar é se importar”
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde
By Alberto Dias Filho - Digital Opinion Leader
twitter: @albertodiasf instagram: diasfilhoalberto

Estratégias para sentir menos fome ?

O processo de emagrecimento é marcado por várias respostas adaptativas no organismo ao longo do tempo, o que ocorre devido a restrição de calorias, que é um fator indissociável.

Dentro dessas respostas, inclui-se o aumento do apetite (+100kcal de fome por cada kg perdido), redução do gasto energético diário e a redução quase que imperceptível da movimentação diária.

Portanto, para obter bons resultados, existem algumas estratégias para reduzir essa sensação de fome.

Veja algumas delas:
  • Mantenha-se bem hidratado ao longo de todo o dia para não confundir a sensação de sede com fome. Consumir 300mL de água 30 minutos antes da refeição pode ajudar MUITO;
  • Aumente seu consumo de alimentos de menor densidade calórica e de fibras. A quantidade de frutas, folhosos e outros vegetais devem ser consumidos diariamente, totalizando no mínimo 500g/dia;
  • Descanse os talheres no prato a cada garfada e mastigue muito bem os alimentos em todas as refeições. Dê tempo para o seu organismo processar os sinais de saciedade;
  • Coloque proteínas em pelo menos 4 refeições do dia, pois é um nutriente com maior resposta de saciedade (ovos, carnes em geral, leguminosas);
  • Pratique exercícios de alta intensidade. Para grande maioria das pessoas, esse hábito auxilia no melhor controle do apetite;
  • Valorize o seu sono. Acredite, seguir um plano com restrição calórica é muito difícil se você não estiver tendo um sono reparador, uma vez que existem fatores hormonais que influenciam a situação;
  • Faça terapia. Caso você tenha uma carga elevada de estresse, de ansiedade e não tiver tendo um acompanhamento, será muito difícil manter o processo de reeducação alimentar (inclusive a pandemia tem reforçado essa questão).
Se ainda assim a fome não reduzir, faz-se necessário utilizar medicação com prescrição médica.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Doenças patogênicas são agravadas por riscos climáticos

Mais da metade das doenças patogênicas humanas conhecidas, como dengue, hepatite, pneumonia, malária, zika e outras, podem ser agravadas pelas mudanças climáticas.

Essa descoberta surpreendente e reveladora é o tema de um artigo de pesquisa publicado em 8 de agosto na Nature Climate Change por uma equipe de pesquisadores da Universidade do Havaí em Manoa.

Os pesquisadores realizaram uma busca sistêmica de exemplos empíricos sobre os impactos de 10 riscos climáticos sensíveis às emissões de gases de efeito estufa (GEE) em cada doença patogênica humana conhecida . Esses perigos incluíam aquecimento, seca, ondas de calor, incêndios florestais, precipitação extrema , inundações, tempestades, aumento do nível do mar , mudanças biogeoquímicas oceânicas e mudanças na cobertura da terra.


Combinando duas listas oficiais de todas as infecções e doenças patogênicas conhecidas que afetaram a humanidade na história registrada, os pesquisadores revisaram mais de 70.000 artigos científicos para exemplos empíricos sobre cada combinação possível de um risco climático que afeta cada uma das doenças conhecidas.

A pesquisa revelou que aquecimento, precipitação, inundações, secas, tempestades, mudanças na cobertura da terra, mudanças climáticas oceânicas , incêndios, ondas de calor e mudanças no nível do mar influenciaram doenças desencadeadas por vírus, bactérias, animais, fungos, protozoários, plantas e cromistas.

As doenças patogênicas foram transmitidas principalmente por vetores, embora exemplos de casos também tenham sido encontrados para vias de transmissão envolvendo a água, o ar, o contato direto e os alimentos. Em última análise, a pesquisa descobriu que mais de 58%, ou 218 de 375, das doenças patogênicas humanas conhecidas foram afetadas em algum momento por pelo menos um risco climático por meio de 1.006 vias únicas.

“Dadas as consequências extensas e generalizadas da pandemia de COVID 19, foi realmente assustador descobrir a enorme vulnerabilidade à saúde resultante das emissões de gases de efeito estufa”, disse Camilo Mora, professor de geografia da Faculdade de Ciências Sociais (CSS) e líder autor do estudo. “Existem muitas doenças e vias de transmissão para pensarmos que podemos realmente nos adaptar às mudanças climáticas. Isso destaca a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa globalmente”.

Uma página da web interativa [https://camilo-mora.github.io/Diseases/] mostrando cada conexão entre um perigo climático e um caso de doença foi desenvolvida pela equipe de pesquisa. A ferramenta permite que os usuários consultem perigos, vias e grupos de doenças específicos e vejam as evidências disponíveis.

A equipe de pesquisa do UH Manoa incluiu especialistas do CSS, Departamento de Ciências da Terra da Escola de Ciências e Tecnologia do Oceano e da Terra (SOEST), Programa de Pós-Graduação em Biologia Marinha da Escola de Ciências da Vida, Departamento de Recursos Naturais e Gestão Ambiental da Faculdade de Agricultura Tropical e Recursos Humanos (CTAHR) e Instituto Hawai’i de Biologia Marinha no SOEST.

As principais descobertas incluem:

  1. Os riscos climáticos estão aproximando os patógenos das pessoas. Inúmeros riscos climáticos estão aumentando a área e a duração da adequação ambiental facilitando a expansão de vetores e patógenos. Mudanças de aquecimento e precipitação, por exemplo, foram associadas à expansão do alcance de vetores como mosquitos, carrapatos, pulgas, aves e vários mamíferos implicados em surtos de vírus, bactérias, animais e protozoários, incluindo dengue, chikungunya, peste, doença de Lyme, West Vírus do Nilo, Zika, tripanossomíase, equinococose e malária.
  2. Os riscos climáticos estão aproximando as pessoas de patógenos. Os riscos climáticos foram implicados com o deslocamento forçado e migração de pessoas, causando ou aumentando novos contatos com patógenos. Tempestades, inundações e elevação do nível do mar, por exemplo, causaram deslocamentos humanos implicados em casos de leptospirose, criptosporidiose, febre de Lassa, giardíase, gastroenterites, doenças dos legionários, cólera, salmonelose, shigelose, pneumonia, febre tifóide, hepatite, doenças respiratórias e doenças de pele .
  3. Os perigos climáticos melhoraram aspectos específicos dos patógenos, incluindo melhor adequação climática para reprodução, aceleração do ciclo de vida, aumento das estações/duração da provável exposição, aumento das interações com vetores patogênicos (por exemplo, encurtando as incubações) e aumento da virulência. O aquecimento, por exemplo, teve efeitos positivos no desenvolvimento da população de mosquitos, sobrevivência, taxas de picadas e replicação viral , aumentando a eficiência de transmissão do vírus do Nilo Ocidental.
  4. Os riscos climáticos também diminuíram a capacidade humana de lidar com patógenos, alterando a condição corporal; adicionando estresse de exposição a condições perigosas; forçando as pessoas a condições inseguras; e danificando a infraestrutura, forçando a exposição a patógenos e/ou reduzindo o acesso a cuidados médicos. Por exemplo, a seca foi propícia à falta de saneamento responsável por casos de tracoma, clamídia, cólera, conjuntivite, Cryptosporidium, doenças diarreicas, disenteria, Escherichia coli, Giardia, Salmonella, sarna e febre tifoide.
Os pesquisadores também descobriram que, enquanto a grande maioria das doenças foi agravada por riscos climáticos, algumas foram diminuídas (63 de 286 doenças). O aquecimento, por exemplo, parece ter reduzido a propagação de doenças virais provavelmente relacionadas a condições inadequadas para o vírus ou por causa de um sistema imunológico mais forte em condições mais quentes. No entanto, a maioria das doenças que foram diminuídas por pelo menos um perigo foram às vezes agravadas por outro e às vezes até o mesmo perigo.

“Sabíamos que as mudanças climáticas podem afetar doenças patogênicas humanas”, disse a coautora Kira Webster, Ph.D em geografia. “No entanto, à medida que nosso banco de dados cresceu, ficamos fascinados e angustiados com o grande número de estudos de caso disponíveis que já mostram o quão vulneráveis estamos nos tornando às nossas crescentes emissões de gases de efeito estufa”.


Riscos climáticos do sistema terrestre afetados pela emissão contínua de GEEs

Consideramos os dez riscos climáticos a seguir. Os GEEs mediam o equilíbrio entre a radiação solar que entra e a radiação infravermelha que sai; assim, 
(1) seu excesso na atmosfera causa aquecimento. Combinado com uma maior capacidade do ar de reter água, o aquecimento acelera a evaporação da água do solo, levando a 
(2) seca em locais normalmente secos; o excesso de seca pode levar a 
(3) ondas de calor quando a transferência de calor da evaporação da água cessa. Secas e ondas de calor amadurecem as condições para 
(4) incêndios florestais. Em locais úmidos, o rápido reabastecimento da evaporação fortalece 
(5) a precipitação, que é propensa a causar 
(6) inundações quando a chuva cai em locais úmidos/solos saturados. O aquecimento dos oceanos aumenta a evaporação e a velocidade do vento, intensificando as chuvas e a força das 
(7) tempestades, cujas ondas podem ser agravadas pela 
(8) elevação do nível do mar, que, por sua vez, podem agravar os impactos das inundações. Captação de CO2 nos oceanos causa a acidificação dos oceanos, enquanto as mudanças na circulação oceânica e o aquecimento reduzem a concentração de oxigênio na água do mar; essas mudanças físico-químicas oceânicas combinadas são referidas como 
(9) mudanças climáticas oceânicas neste artigo. Incluímos 
(10) mudanças na cobertura natural da terra como um dos perigos porque pode ser um emissor direto de GEE via desmatamento e respiração, modificar a temperatura via albedo e evapotranspiração e porque pode ser um modificador direto na transmissão de doenças patogênicas 59 , 84 . Esta figura pretende ser uma justificativa para os perigos usados e não um conjunto completo de interações entre GEEs e perigos e ciclos de feedback entre perigos.



Referência: Mora, C., McKenzie, T., Gaw, I.M. et al. Over half of known human pathogenic diseases can be aggravated by climate change. Nat. Clim. Chang. (2022). https://doi.org/10.1038/s41558-022-01426-1

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Tratamento da obesidade com remédio esbarra em alto custo, preconceito e desconfiança

Brasil não tem nenhum medicamento contra obesidade oferecido pelo SUS; Conitec avalia incorporação de substância.

Novos medicamentos para tratar a obesidade prometem mais efetividade e segurança, mas esbarram em entraves como a falta de acesso devido aos altos preços, a desconfiança e mitos como o de que perder peso é uma só uma questão de força de vontade.

Ao mesmo tempo, há uma unanimidade de que esses tratamentos podem funcionar do ponto de vista individual, mas não resolvem o problema da crescente obesidade populacional, que precisa ser enfrentada com mudanças comportamentais e políticas públicas de saúde.

O assunto tem sido discutido em várias mesas na principal conferência internacional sobre obesidade, a Obesity Week, que terminou nesta sexta (4) em San Diego (Califórnia).

Enquanto nos Estados Unidos, diretrizes médicas como as da Sociedade Americana de Gastroenterologia recomendam quatro diferentes medicamentos para tratamento da obesidade (semaglutida, liraglutida, fentermina-topiramato de liberação prolongada e naltrexona-bupropiona), no Brasil não há nenhuma substância disponível na rede pública de saúde.

O protocolo de tratamento da obesidade no país sai da prescrição de dietas para a cirurgia bariátrica, sem passar pelos medicamentos. Atualmente, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) avalia a incorporação da liraglutida no SUS.

A substância está aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2016. Já semaglutida tem aval para tratamento de diabetes e aguarda sinal verde como terapia para a obesidade.

"Quando eu olho os bons resultados dessas novas substâncias, sei que vai ajudar os obesos a perder peso, reduzir comorbidades, melhorar qualidade de vida, eu só fico pensando: e os nossos pacientes? É sempre um dilema essa questão do acesso", diz a endocrinologista Cíntia Cecato, presidente da Abeso (Associação Brasileira de Estudo sobre a Obesidade e Síndrome Metabólica).

Serviços como os do ambulatório de obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde Cecato atua, são exceções. "É uma ilha no meio do país. Lá temos os medicamentos para tratar obesidade, comprados pelo hospital."

A discussão sobre acesso ganhou força após a aprovação da semaglutida (também conhecida pela marca Wegovy, da Novo Nordisk), pela agência reguladora americana (FDA) em 2021.

O medicamento tem um preço de tabela nos Estados Unidos de US$ 1.349,02 (cerca de R$ 6.000) por mês e pode provocar uma perda de peso de 15% a 17% em pessoas obesas. A substância tornou-se popular nas redes sociais no mês passado, após o bilionário Elon Musk atribuir o seu emagrecimento a ela.

Há outras drogas promissoras em estudo, como a tirzepatide, da Elli Lilly, que prometem resultados iguais ou até superiores aos da semaglutida, mas, segundo especialistas, quando chegar ao mercado, terá a mesma faixa de preço da concorrente.

Segundo Simone Tcherniakovsky, diretora de assuntos corporativos e de sustentabilidade da Novo Nordisk Brasil, a discussão de acesso é global porque as políticas de enfrentamento da obesidade não têm sido frutíferas. "Só alguns poucos países estão conseguindo deter o avanço", diz.

Ela afirma que no Brasil há alguns planos de saúde que já subsidiam medicamentos contra a obesidade para seus beneficiários porque entendem que essas pessoas têm mais comorbidades, internam mais e vão mais ao médico, condições que aumentam os custos.

No caso de uma eventual incorporação no SUS, Tcherniakovsky diz que sempre há uma grande negociação, o que leva à queda dos preços. Além disso, com a oferta de outras medicações e um ambiente mais competitivo, os preços também tendem a cair mais.

Para o endocrinologista Dan Bessesen, professor da Universidade do Colorado e presidente da Obesity Week, além do preço, há outros motivos que emperram a prescrição dessas novas drogas, como a desconfiança que muitos médicos ainda têm em relação aos emagrecedores.

Ele afirma que até a década passada não havia medicamentos efetivos para obesidade, e que os anorexígenos que estavam no mercado produziam perdas de peso modestas e, alguns casos, graves efeitos colaterais, que levaram alguns serem retirados do mercado.

"Isso criou um senso comum de que as medicações para o emagrecimento não são seguras e acabou afetando a percepção sobre outras drogas que não tinham os mesmos problemas."

Porém, segundo ele, o mundo vive atualmente uma nova era de tratamento da obesidade, com muitos medicamentos novos a caminho que vão promover mais perda de peso e redução do risco cardiovascular.

Essa nova classe de drogas são chamadas de incretinas, que são hormônios naturais que retardam o esvaziamento do estômago, regulam a insulina e diminuem o apetite. Os efeitos colaterais incluem náuseas, vômitos e diarreia, que costumam ser bem tolerados.

Para Bessesen, é preciso educar a sociedade para o fato de que a obesidade é uma doença crônica e que precisa ser tratada de forma adequada, com medicamentos acessíveis, combinados com mudança de estilo de vida.

"A gente não trata diabetes ou hipertensão só com mudança de estilo de vida. Na obesidade acontece o mesmo. Os medicamentos são necessários e muitas pessoas vão ter que tomar para o resto da vida. Eu não tomo meu remédio da pressão ou da diabetes por uma semana e paro de tomar quando estão controladas."

Para Cíntia Cecato, há outros desafios, como o reconhecimento da obesidade como uma doença crônica e que pode demandar tratamento contínuo. "As pessoas acham que vão fazer o tratamento e podem parar [o medicamento]. A medicação auxilia na perda de peso e na manutenção a longo prazo."

Porém, há controvérsias sobre esse conceito. Na opinião do cardiologista Luís Correia, diretor do centro de medicina baseada em evidência da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, condições como hipertensão, dislipidemia e obesidade não são doenças, mas sim fatores de risco para doença.

A diferença, segundo ele, é que a hipertensão e a dislipidemia não são são modificáveis com mudança de hábitos de vida e, por isso, demandam tratamento crônico. "Mas obesidade tem potencial de mudar com hábito."

Cíntia Cecato cita um outro desafio no tratamento da obesidade: o estigma. "Há pacientes que não podem contar aos familiares que estão usando um medicamento para obesidade porque são criticados, as pessoas acham que eles não precisam, que é só ter força de vontade para emagrecer."

Para Luís Correia, embora os medicamentos sejam importantes como estratégias individuais para controle da obesidade, o problema precisa ser combatido com estratégias populacionais, como ocorreu no caso do tabagismo.

"Hoje é proibida a propaganda de cigarro, mas não a de comida supercalórica. O problema da obesidade é de saúde pública, mais do que um problema clínico de um médico com seu paciente. Assim seríamos mais efetivos, embora os médicos fossem ganhar menos dinheiro."

A jornalista viajou a convite do Novo Nordisk

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[Conteúdo exclusivo para médicos e nutricionistas] - Associação do consumo materno de cafeína durante a gravidez com o crescimento infantil

Pergunta: O consumo materno de cafeína está associado ao crescimento infantil e tais associações estão presentes em grupos de baixo consumo?

Achados 

Neste estudo de coorte, nas idades de 4 a 8 anos, os filhos de mulheres com baixa dosagem de cafeína e paraxantina durante a gravidez eram mais baixos do que os filhos de mulheres que não consumiram cafeína durante a gravidez, com diferenças crescentes de altura em uma coorte histórica até os 8 anos de idade.

Não houve padrões claros de alterações de peso ou índice de massa corporal.

Significado 

Embora as implicações clínicas não sejam claras para diferenças observadas relativamente pequenas, esses achados sugerem que pequenas quantidades de consumo materno diário de cafeína estão associadas a uma estatura mais baixa em seus filhos que persistem na infância.

Abstrato

Importância 

O maior consumo de cafeína na gravidez está associado à redução do tamanho do nascimento, mas as possíveis associações com o crescimento infantil não são claras.

Objetivo Avaliar as associações das medidas de cafeína e paraxantina na gravidez com o crescimento infantil em uma coorte contemporânea com baixo consumo de cafeína e uma coorte histórica com alto consumo de cafeína.

Concepção, Cenário e Participantes 

A coorte de Influências Ambientais nos Resultados de Saúde Infantil do Instituto Nacional de Estudos de Crescimento Fetal de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano (ECHO-FGS; 10 locais, 2009-2013) foi uma coorte de gravidez com 1 criança medida entre as idades de 4  e 8 anos (seguimento em 2017-2019).  O Collaborative Perinatal Project (CPP) foi uma coorte de gravidez (12 locais, 1959-1965) com acompanhamento da criança por 8 anos (1960-1974). A atual análise secundária foi realizada em 2021 e 2022.

Exposições Concentrações de cafeína e seu metabólito primário, paraxantina, foram quantificadas a partir de plasma (ECHO-FGS) e soro (CPP) coletados no primeiro trimestre. Os pontos de corte para as análises foram definidos por quartis no ECHO-FGS e quintis no CPP.

Principais resultados e medidas 

Escores z de Child para índice de massa corporal, peso e altura foram avaliados, bem como índice de massa gorda e porcentagem e risco de obesidade medidos em 1 momento entre 4 e 8 anos de idade no ECHO-FGS.  Em uma análise secundária da coorte CPP, foram avaliados os escores z da criança e o risco de obesidade longitudinalmente até a idade de 8 anos.

Resultados No ECHO-FGS (ingestão mediana de cafeína <50 mg/d), 788 crianças (média [DP] idade, 6,8 [1,0] anos; 411 meninos [52,2%]) de mulheres no quarto vs primeiro quartil de concentrações plasmáticas de cafeína  apresentaram escores z de altura mais baixos (β = −0,21; IC 95%, −0,41 a −0,02), mas diferenças nos escores z de peso foram observadas apenas no terceiro quartil (β = −0,27; IC 95%, −0,47 a −0,07).  No CPP, começando aos 4 anos de idade, 1.622 crianças (805 meninos [49,7%]) de mulheres no grupo do quintil de cafeína mais alto tiveram escores z de altura mais baixos do que seus pares do grupo mais baixo, com a diferença aumentando a cada ano sucessivo de idade  (β = −0,16 [IC 95%, −0,31 a −0,01] em 4 anos; β = −0,37 [IC 95%, −0,57 a −0,16] em 8 anos).

Houve ligeiras reduções de peso nas idades de 5 a 8 anos para crianças no terceiro versus primeiro quintil de cafeína (β = −0,16 a −0,22).  Os resultados foram consistentes para as concentrações de paraxantina em ambas as coortes.

Conclusões e Relevância 

A exposição intrauterina a níveis crescentes de cafeína e paraxantina, mesmo em baixas quantidades, foi associada à menor estatura na primeira infância. A implicação clínica das reduções de altura e peso não é clara; no entanto, as reduções foram aparentes mesmo com níveis de consumo de cafeína abaixo das diretrizes clinicamente recomendadas de menos de 200 mg por dia.

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[Conteúdo exclusivo para médicos] - Redução de triglicerídeos com pemafibrato para reduzir o risco cardiovascular

Abstrato

Níveis elevados de triglicerídeos estão associados ao aumento do risco cardiovascular, mas é incerto se a redução desses níveis diminuiria a incidência de eventos cardiovasculares. O pemafibrato, um modulador seletivo do receptor α ativado por proliferador de peroxissoma, reduz os níveis de triglicerídeos e melhora outros níveis de lipídios.

Metodologia

Em um estudo multinacional, duplo-cego, randomizado e controlado, atribuímos pacientes com diabetes tipo 2, hipertrigliceridemia leve a moderada (nível de triglicerídeos, 200 a 499 mg por decilitro) e níveis de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) de 40 mg por decilitro ou menos para receber pemafibrato (comprimidos de 0,2 mg duas vezes ao dia) ou placebo correspondente. Os pacientes elegíveis estavam recebendo terapia hipolipemiante orientada por diretrizes ou não podiam receber terapia com estatinas sem efeitos adversos e tinham níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) de 100 mg por decilitro ou menos. O desfecho primário de eficácia foi um composto de infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral isquêmico, revascularização coronariana ou morte por causas cardiovasculares.

Resultados

Entre 10.497 pacientes (66,9% com doença cardiovascular prévia), a mediana do nível basal de triglicerídeos em jejum foi de 271 mg por decilitro, o nível de colesterol HDL de 33 mg por decilitro e o nível de colesterol LDL de 78 mg por decilitro. A mediana de seguimento foi de 3,4 anos. Em comparação com o placebo, os efeitos do pemafibrato nos níveis lipídicos aos 4 meses foram -26,2% para triglicéridos, -25,8% para colesterol de lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL), -25,6% para colesterol remanescente (colesterol transportado em  lipoproteínas após lipólise e remodelação de lipoproteínas), -27,6% para apolipoproteína C-III e 4,8% para apolipoproteína B. Um evento de desfecho primário ocorreu em 572 pacientes no grupo pemafibrato e em 560 daqueles no grupo placebo (taxa de risco, 1,03; intervalo de confiança de 95%, 0,91 a 1,15), sem modificação aparente do efeito em qualquer subgrupo pré-especificado.

A incidência geral de eventos adversos graves não diferiu significativamente entre os grupos, mas o pemafibrato foi associado a uma maior incidência de eventos adversos renais e tromboembolismo venoso e uma menor incidência de doença hepática gordurosa não alcoólica.

Conclusões

Entre os pacientes com diabetes tipo 2, hipertrigliceridemia leve a moderada e baixos níveis de colesterol HDL e LDL, a incidência de eventos cardiovasculares não foi menor entre aqueles que receberam pemafibrato do que entre aqueles que receberam placebo, embora o pemafibrato tenha reduzido o triglicerídeo, o colesterol VLDL,  colesterol remanescente e níveis de apolipoproteína C-III. (Financiado pelo Kowa Research Institute; PROMINENT ClinicalTrials)

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[Conteúdo exclusivo para médicos] - A história dos fibratos — um final morno para uma droga proeminente

O pemafibrato é um modulador seletivo do receptor α ativado por proliferador de peroxissoma que tem propriedades supostas maiores de redução de triglicerídeos e aumento de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) do que outros fibratos.

Agora no Journal, Das Pradhan et al.  descrevem os resultados do estudo Pemafibrate to Reduce Cardiovascular Outcomes by Reducing Triglycerides in Patients with Diabetes (PROMINENT). Neste estudo, 10.497 pacientes com diabetes tipo 2, um nível de triglicerídeos entre 200 e 499 mg por decilitro e um nível de colesterol HDL de 40 mg por decilitro ou menos foram aleatoriamente designados para receber comprimidos de 0,2 mg de pemafibrato duas vezes ao dia ou placebo.

No estudo PROMINENT, duas coortes de pacientes com diabetes foram randomizadas. A coorte de prevenção primária (pacientes que não apresentavam doença cardiovascular aterosclerótica) constituiu um terço da população do estudo, e a coorte de prevenção secundária (aqueles que apresentavam doença cardiovascular aterosclerótica) constituiu dois terços. Um total de 96% dos pacientes estavam recebendo estatinas, e mais de dois terços estavam recebendo estatinas de alta intensidade. A mediana do nível de hemoglobina glicada foi de 7,3%.

Embora, em comparação com o placebo, o pemafibrato tenha reduzido os níveis de triglicerídeos em 26,2% e aumentado os níveis de colesterol HDL em 5,1%, não reduziu a incidência de eventos que compunham o desfecho primário de eficácia (um composto de infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral isquêmico,  revascularização coronária ou morte por causas cardiovasculares).

Os pacientes que receberam pemafibrato apresentaram maior incidência de eventos renais e tromboembolismo venoso e menor incidência de doença hepática gordurosa não alcoólica do que aqueles que receberam placebo.  

Então, o que pode ser aprendido com este estudo?

Primeiro, este estudo teve como alvo a população correta de pacientes – pacientes com alto nível de triglicerídeos em jejum (mediana, 271 mg por decilitro na linha de base) e baixo nível de colesterol HDL (mediana, 33 mg por decilitro).  

Eu acho que a falta de eficácia apesar da redução dos triglicerídeos pode ser em grande parte devido à falta de uma diminuição geral no nível de apolipoproteína B.

Apesar das diminuições nos níveis de colesterol remanescente, os níveis de colesterol não HDL não mudaram significativamente, enquanto, em comparação com placebo, a alteração percentual no nível de apolipoproteína B foi de 4,8%.

Embora alguns desses achados sejam esperados, dado um aumento no nível de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) com pemafibrato, eles apoiam a observação de que, para que as terapias hipolipemiantes mostrem um efeito, uma redução líquida nos níveis de lipoproteína contendo apolipoproteína B é vital.

É provável que os efeitos redutores da apolipoproteína B dos fibratos sejam negados na presença de estatinas de intensidade moderada a alta, como visto neste estudo.  

Este fenômeno também foi observado em ensaios iniciais de fase 2 de pemafibrato.

A terapia com estatinas de intensidade moderada a alta é considerada o padrão de tratamento, de modo que a barra é muito mais alta agora do que em ensaios anteriores de redução de triglicerídeos.

Em segundo lugar, como observam os autores, ao estimular a atividade da lipoproteína lipase, o pemafibrato pode ter levado a uma maior eficiência na conversão de lipoproteínas remanescentes em LDL.

Assim, os níveis de colesterol remanescente foram diminuídos, mas ao custo de níveis crescentes de colesterol LDL e apolipoproteína B no plasma, sem alteração geral nos níveis de colesterol não HDL.  

Os efeitos de níveis elevados de triglicerídeos na doença aterosclerótica são de fato mediados pelo teor de colesterol das partículas remanescentes.  

Consequentemente, para que as terapias que reduzem os níveis de triglicerídeos sejam eficazes, elas provavelmente precisam ter mecanismos para aumentar a depuração das partículas de colesterol de lipoproteínas remanescentes ricas em triglicerídeos, em vez de apenas converter as lipoproteínas remanescentes em LDL.

Uma redução líquida nos níveis de apolipoproteína B seria, portanto, um importante substituto precoce a ser seguido nesses casos.

Dois ensaios recentemente concluídos de redução de triglicerídeos fornecem suporte adicional para essa noção.

No Ensaio de Redução de Eventos Cardiovasculares com Icosapent Etil-Intervenção (REDUCE-IT), os níveis de apolipoproteína B foram 9,7 pontos percentuais mais baixos e a incidência de eventos de desfecho primário foi significativamente menor no grupo icosapent etil do que no grupo placebo.

Em contraste, o Outcomes Study to Assessment Statin Residual Risk Reduction with Epanova in High Cardiovascular Risk Patients with Hypertriglyceridemia (STRENGTH) não mostrou uma diminuição significativa nos níveis de apolipoproteína B ou uma diminuição na incidência de eventos cardiovasculares entre os pacientes que receberam Epanova, um  combinação de ácido eicosapentaenóico-ácido docosahexaenóico.

Além disso, no REDUCE-IT, a diminuição do risco de doença cardiovascular aterosclerótica não foi explicada pelos efeitos redutores de triglicerídeos do icosapent etil.  

Esses resultados destacam a importância da redução líquida dos níveis de lipoproteínas aterogênicas em vez da redução dos níveis de triglicerídeos per se.

A extensão em que esses resultados discrepantes em REDUCE-IT e STRENGTH são explicados pelo aumento nos níveis de colesterol LDL (e, consequentemente, níveis de apolipoproteína B) do uso de placebo de óleo mineral em REDUCE-IT permanece discutível.  

Finalmente, as mulheres constituíram 27,5% e os negros constituíram 2,6% dos participantes do estudo PROMINENT.

Testes futuros devem ter como objetivo uma representação mais ampla em relação a sexo e raça.

O estudo PROMINENT oferece um momento de aprendizado para a comunidade de estudos clínicos.  

Análises post hoc ou secundárias de estudos com fibratos sugeriram que pacientes com níveis elevados de triglicerídeos e baixos níveis de colesterol HDL se beneficiaram da terapia com fibratos, mesmo quando os resultados gerais do estudo foram neutros.

O estudo PROMINENT escolheu precisamente essa população de pacientes e ainda não mostrou benefício; esses achados destacam a importância de confirmar rigorosamente os achados post hoc antes de implementá-los na prática clínica.

O que essas descobertas significam para o futuro dos fibratos e outras terapias que visam principalmente os triglicerídeos?

Em primeiro lugar, os fibratos não devem ser usados ​​para reduzir o risco de doença cardiovascular aterosclerótica em pacientes tratados com estatinas, embora ainda possam ter um papel a desempenhar na diminuição do risco de pancreatite associada a hipertrigliceridemia grave e talvez doença hepática gordurosa não alcoólica.

Alternativamente, a redução de triglicerídeos sem diminuição do nível de apolipoproteína B provavelmente não será suficiente se as terapias em desenvolvimento
são para produzir diminuições significativas no risco de doença cardiovascular aterosclerótica.

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Ingestão de alimentos ultraprocessados pode ocasionar até 57 mil mortes por ano no Brasil de acordo com estudo

Um estudo realizado em parceria entre cientistas da USP, Fiocruz, Unifesp e da Universidad de Santiago de Chile, publicado no American Journal of Preventive Medicine, pela primeira vez calculou o número de mortes prematuras (de 30 a 69 anos) associadas ao consumo de ultraprocessados no Brasil: são aproximadamente 57 mil óbitos por ano, com base em dados de 2019.

Isso é mais do que o total de homicídios no Brasil em 2019 —foram 45,5 mil em 2019, segundo o Atlas da Violência— e do que a soma de mortes ao ano por câncer de pulmão (28,6 mil) e de mama (18 mil), os dois tipos de tumores que mais matam no país, segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer)... - 

Os ultraprocessados consistem em formulações industriais feitas com partes de alimentos e que geralmente contêm aditivos sintetizados em laboratório, como corantes, conservantes e aromatizantes: são guloseimas industrializadas, salgadinhos de pacote, refrigerantes, pizzas congeladas, salsichas, nuggets etc. Existe um conjunto crescente de pesquisas robustas apontando que o consumo desses produtos está relacionado ao aumento de peso e ao risco de várias doenças não transmissíveis, como diabetes, problemas cardiovasculares e câncer. 

Os autores do artigo partiram desse acúmulo de evidências para construir um modelo que leva em conta os riscos do consumo de ultraprocessados e os associa a morte.


domingo, 6 de novembro de 2022

Ingestão de flavonoides e marcadores de ressonância magnética da saúde do cérebro na coorte de descendentes de Framingham

A doença de Alzheimer (DA), a forma mais comum de demências relacionadas (DADR), representa um dos problemas globais de saúde pública não resolvidos no envelhecimento da população. Existem cerca de 50 milhões de pessoas que vivem com DADR em todo o mundo, com quase 10 milhões de novos casos diagnosticados a cada ano. A DA é caracterizada por disfunção celular e morte, medida pela perda de volume cerebral total e hipocampal. Outro sinal de neurodegeneração e fator de risco para ADRD é a presença de hiperintensidades da substância branca, lesões que aparecem como áreas de maior brilho quando visualizadas por ressonância magnética do cérebro.

Com as taxas de DADR atingindo níveis epidêmicos globais, é de suma importância identificar estratégias que possam ajudar a reduzir ou reverter essa epidemia. Uma possível avenida promissora é a dieta. O padrão alimentar mediterrâneo (MedDiet), que é rico em alimentos contendo polifenóis, demonstrou estar associado a um risco reduzido de declínio cognitivo e TDAH. 

Estudos sobre a relação entre o MedDiet e as medidas de ressonância magnética cerebral também mostraram que uma maior adesão ao MedDiet está associada a estruturas cerebrais mais saudáveis, incluindo maior volume total, cinzenta e branca, e volumes hipocampais e espessura cortical, e menos volumes de hiperintensidades da substância branca.

Relatos de nosso grupo e outros sobre flavonoides, uma classe de polifenóis, demonstraram que a ingestão mais alta desses fitoquímicos está associada a um risco reduzido de DADR. No entanto, não há estudos que examinaram a associação entre flavonoides e medidas de ressonância magnética da saúde do cérebro.

Objetivo do trabalho

Procuraram abordar essa lacuna na literatura e explorar a associação entre a ingestão de flavonoides na dieta e 3 medidas de estrutura de ressonância magnética cerebral que estão associadas a DADR, volume total de tecido cerebral (VTTC) e volume hipocampal (VH) como marcadores de atrofia do tecido cerebral e volume de hiperintensidades da substância branca (VHSB) como um correlato radiológico do declínio cognitivo. A hipótese do estudo é que a ingestão de flavonoides é diretamente associada com VTTC e VH e inversamente associada com VHSB.

Metodologia

Indivíduos elegíveis incluíram membros do Framingham Heart Study Offspring Cohort que estavam livres de acidente vascular cerebral no exame 7 e tinham pelo menos 1 questionário de frequência alimentar válido dos exames 5, 6 ou 7 (n = 2086; idade média no exame 7, 60,6 anos). As ingestões de flavonoides representaram a média cumulativa das ingestões nos 3 exames e foram categorizadas com base nas categorias de quartis de ingestão. VTTC, VHSB e VH foram avaliados no exame 7. Modelos de regressão linear múltipla foram usados ​​para examinar a associação transversal entre o total e as 6 classes de flavonoides e as 3 medidas de RM acima mencionadas.

Flavonóides

A média (IC 95%) do VHSB de indivíduos na categoria de quartil mais alto de flavan-3-ols [0,56 (0,52, 0,61)] e polímeros de flavonoides [0,57 (0,52, 0,61)] foi significativamente menor em relação a de indivíduos na categoria do quartil mais baixo de flavan-3-ols [0,65 (0,60, 0,71)] e polímeros de flavonoides [0,66 (0,60, 0,71)] após contabilizar importantes fatores demográficos, de estilo de vida e clínicos. Associações de tendência inversa com VHSB também foram observadas para flavan-3-ols (P = 0,01) e polímeros de flavonoides (P = 0,01), bem como para flavonoides totais (P = 0,01). VTTC e VH não foram associados à ingestão de flavonoides na dieta após o ajuste para potenciais fatores de confusão.

Conclusão

Os resultados encontrados contribuem para a literatura sobre flavonoides e DADR, pois sugerem que a maior ingestão de flavonoides pode afetar o risco de DADR em adultos de meia-idade e idosos, reduzindo o VHSB, um marcador fortemente associado ao DADR.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Exagerei no domingo, é indicado fazer jejum na segunda ?

A resposta é: NÃO! O fato de você ter "exagerado" no seu consumo alimentar no final de semana, e se preocupar em fazer jejum ou qualquer outra estratégia alimentar altamente restritiva, pode ser um "tiro no pé" no seu processo de reeducação alimentar!

Você estará iniciando um comportamento de compensação péssimo para os seus resultados e, inclusive, danoso para sua saúde mental.

É bem comum na prática clínica relatos de pacientes que iniciaram um hábito de "comer transtornado" após começar com "estratégias de compensação".

O grande problema é que essas compensações se tornam um ciclo vicioso e PODEM, também, favorecer a associação negativa de que o processo de reeducação alimentar significa restrição/sofrimento.
Então, fuja das estratégias compensatórias e das dietas que são baseadas nesse comportamento e pocure o acompanhamento nutricional com um Nutricionista!
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OBS: não significa que o jejum seja uma estratégia ruim e/ou que não tenha aplicação para alguns casos.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.