segunda-feira, 18 de março de 2019

Mais evidências sobre toxinas ambientais e câncer de mama

Dois estudos trazem nova luz sobre o papel das toxinas ambientais e o risco de câncer de mama. Um estudo investigou os ftalatos, o outro examinou o diclorodifeniltricloroetano (DDT).

Os ftalatos são praticamente onipresentes, sendo encontrados em xampus, maquiagens, pisos de vinil, brinquedos, dispositivos médicos e no interior dos automóveis. Quase todo mundo nos Estados Unidos está exposto, principalmente por comer e beber alimentos e bebidas que entram em contato com os produtos que contêm essas substâncias químicas.

A exposição aos ftalatos tem sido implicada em uma série de doenças e quadros clínicos, inclusive a infertilidade masculina.

O novo estudo, descrito como o maior estudo sobre ftalatos e o câncer de mama após a menopausa, sugere que esses produtos químicos não têm nenhum efeito no risco de câncer de mama para as mulheres após a menopausa.

No entanto, seus resultados deixam em aberto a questão de uma possível relação entre a exposição ao ftalato e o câncer de mama antes da menopausa, de acordo com a primeira autora Dra. Katherine Reeves, Ph.D. da School of Public Health and Health Sciences na University of Massachusetts em Amherst.

"Não encontramos associação estatisticamente significativa entre a exposição aos ftalatos e o câncer de mama e, embora isto não exclua um efeito menor, acredito que descarte um efeito muito grande", disse a Dra. Katherine ao Medscape.

"Por exemplo, quando pensamos em tabagismo e câncer de pulmão, este realmente é um efeito forte, mas segundo nosso estudo é certamente improvável que a relação entre os ftalatos e o câncer de mama após a menopausa seja tão grande. No entanto, não podemos descartar um efeito menor no risco de câncer de mama", disse a pesquisadora.

Isso porque a exposição aos ftalatos muda todos os dias e essa substância é metabolizada muito rapidamente e excretada na urina em poucas horas, acrescentou a Dra. Katherine.

O estudo foi publicado on-line em 10 de dezembro no periódico Journal of the National Cancer Institute

Detalhes do estudo

No seu estudo de caso-controle aninhado, Dra. Katherine e equipe de pesquisa pegaram amostras congeladas de urina que tinham sido fornecidas há muitos anos por mulheres participando da Women's Health Initiative (WHI).

Os pesquisadores dosaram os níveis dos metabólitos do ftalato 13 e da creatinina na urina de 419 mulheres com diagnóstico de câncer de mama invasivo após o terceiro ano do Women's Health Initiative e na urina de 838 participantes saudáveis como grupo de controle. Foram avaliadas duas ou três amostras de urina de cada participante, obtidas no início do estudo, no 1º e no 3º ano do WHI.

A média de idade das pacientes e do grupo de controle foi de 62 anos. As pacientes do grupo de casos de câncer foram mais frequentemente obesas, fumantes atuais e menos ativas fisicamente do que as do grupo de controle.

"As mulheres tinham doado essas amostras em um momento no qual todas eram saudáveis. É importante reconhecer que os estudos anteriores foram retrospectivos, o que significa que dosaram a exposição aos ftalatos depois das mulheres terem o diagnóstico do câncer de mama. Esta não é a melhor estratégia para os ftalatos, porque a exposição aos ftalatos pode se dar por meio do equipamento médico e de medicamentos, então o que você está dosando pode refletir apenas o fato das pacientes terem sido diagnosticadas recentemente com câncer de mama e não algo que possa estar causando a doença", explicou a Dra. Katherine.

As concentrações dos biomarcadores de ftalato foram semelhantes entre as pacientes do grupo dos casos e as participantes do grupo de controle. Não houve associação entre esses biomarcadores e o aumento do risco de câncer de mama em geral, nem por subtipo da doença.

A razão de chances ajustada ou odds ratio (OR) para os diferentes biomarcadores de ftalato variou de 0,85 (intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,38 a 1,91) a 1,04 (IC 95%, de 0,92 a 1,17).

Resultados semelhantes foram encontrados em análises restritas aos subtipos da doença, a mulheres que não fizeram reposição hormonal após a menopausa, ao índice de massa corporal e aos casos diagnosticados em três, cinco ou 10 anos.

"Nossos resultados nulos persistiram, independentemente da técnica de análise utilizada e, por isso, concluímos que qualquer grande aumento do risco de câncer de mama associado a exposição aos ftalatos é improvável", disse a Dra. Katherine.

"Me parece que temos informações melhores do que a maioria dos estudos, porque nós fizemos duas ou três dosagens por participante. As dosagens que temos refletem uma exposição muito recente, de modo que estou bem confiante de que não existe um efeito muito grande dos ftalatos no câncer de mama após a menopausa, mas não podemos descartar um efeito menor. Também é importante reconhecer que só avaliamos as mulheres já depois da menopausa, de modo que os nossos resultados não se aplicam necessariamente às mulheres mais jovens", disse a pesquisadora.

"Além disso, dosamos a exposição aos ftalatos em um momento no qual as mulheres já haviam passado a menopausa, entre 50 e 79 anos de idade. Cada vez mais compreendemos que a principal janela do risco de câncer de mama pode ser muito preliminar, na adolescência ou antes da primeira gestação. Não conseguimos avaliar tudo isso neste estudo", disse a pesquisadora.

Continuando sua explanação, a Dra. Katherine disse que gostaria de estudar pacientes mais jovens para ver se a exposição precoce aos ftalatos influencia o risco de câncer de mama mais tardio.

"As dosagens de ftalato podem variar, portanto, se existir algum modo de obter mais dosagens urinárias durante um período, isso nos permitiria caracterizar melhor as mulheres mais expostas e as menos expostas, o que nos permitirá obter uma resposta melhor", disse a pesquisadora.

DDT onipresente e o câncer de mama

O segundo estudo investigou a exposição ao DDT, um inseticida orgânico que foi muito utilizado na agricultura. O DDT foi proibido nos Estados Unidos em 1972 e, posteriormente, foi proibido no mundo todo. No entanto, subsiste na cadeia alimentar e, por conseguinte, há populações continuamente expostas.

Este estudo, que também foi publicado no periódico Journal of the National Cancer Institute, verificou que a exposição ao DDT foi associada ao câncer de mama até os 54 anos de idade e que o risco dependia do momento da primeira exposição.

As mulheres expostas antes dos 14 anos de idade, sobretudo durante a primeira infância (do nascimento aos três anos de idade) e a infância, tiveram maior probabilidade de ter câncer de mama antes da menopausa. As que foram expostas após a infância tiveram maior risco de ter câncer mais tarde, entre 50 a 54 anos de idade.

"O momento da exposição é importante, e sabemos que, se as exposições nocivas ocorrerem quando o tecido mamário está mudando rapidamente, como durante a puberdade ou na primeira gestação, isso pode comprometer o desenvolvimento de mama de maneiras que podem resultar em câncer", disse ao Medscape a primeira autora, Dra. Barbara A. Cohn, Ph.D., do Public Health Institute's Child Health and Development Studies, em Berkeley, Califórnia.

"Nossos resultados sugerem que o DDT comprometa a mama com um efeito disruptivo endócrino, e que o tempo transcorrido entre a primeira exposição e o diagnóstico de câncer é de cerca de 40 anos", disse a Dra. Barbara.

Em um artigo publicado em 2007 no periódico Environmental Health Perspectives, Dra. Barbara e colaboradores descreveram o aumento de cinco vezes do risco de câncer de mama nas mulheres que tinham menos de 14 anos no momento em que foram expostas ao DDT.

Um estudo da Dra. Barbara e colaboradores publicado em 2015 no periódico Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism descreveu aumento do risco de câncer de mama entre as mulheres expostas ao DDT in utero.

No estudo em tela, os pesquisadores estenderam sua observação para as pacientes com câncer de mama diagnosticado logo após a menopausa (entre 50 e 54 anos de idade). Seu objetivo era determinar se a idade no momento do diagnóstico modifica a interação do DDT com a idade da exposição.

Os pesquisadores analisaram amostras de sangue armazenadas que haviam sido obtidas entre 1959 e 1967 durante a gestação, a cada trimestre e no início do puerpério.

Eles também usaram registros estaduais para identificar 153 casos de câncer de mama diagnosticados de 1970 a 2010 em mulheres entre 50 a 54 anos de idade. A seguir, os pesquisadores parearam cada paciente a 432 controles comparáveis sem câncer.

Os resultados mostraram que, para o câncer de mama logo após a menopausa, o DDT foi associado a quase o dobro do risco para todas as mulheres (OR para as mulheres entre 50 e 54 anos = 1,99; IC 95%, de 1,48 a 2,67).

Essa associação foi representada por mulheres expostas pela primeira vez ao DDT após a primeira infância (para as pacientes entre os 50 e 54 anos de idade expostas ao DDT pela primeira vez após a primeira infância, OR = 2,83; IC 95%, de 1,96 a 4,10; para as pacientes entre os 50 e 54 anos de idade expostas ao DDT pela primeira vez durante a primeira infância, OR = 0,56; IC 95%, de 0,26 a 1,19).

Contrariamente, para o câncer de mama antes da menopausa o DDT foi associado a risco entre as mulheres com menos de 50 anos cuja primeira exposição ocorreu durante a infância até a puberdade, mas não depois (OR = 3,70; IC 95% de 1,22 a 11,26).

Todas foram expostas, mas nem todas têm câncer
Praticamente todas foram expostas ao DDT, mas nem todas têm câncer, disse a Dra. Barbara. Perguntas importantes dizem respeito ao que está protegendo algumas pessoas e por que outras são vulneráveis aos efeitos deletérios dessa substância química.

"Algumas mulheres são expostas in utero, outras na primeira infância. Algumas não têm câncer. Se pudermos compreender como isso acontece, talvez o Santo Graal seja criar um marcador biológico de risco pretérito. Estamos trabalhando nesse sentido, tentando comparar a bioquímica sérica das mulheres que adoeceram à das mulheres sadias em relação à sua exposição ao DDT", disse Dra. Barbara.

"Todas as mulheres em nossa coorte foram expostas. Todas as pessoas no mundo foram expostas nos anos 60. Mas nem todos adoeceram. Estamos tentando entender qual é a resposta da mulher a essas substâncias químicas que a prejudica. Se pudermos encontrar um biomarcador assim, seria possível encontrar mulheres com esse biomarcador e talvez compreender como evitar que elas tenham câncer", disse a pesquisadora.

O estudo da Dra. Katherine Reeves e colaboradores foi subsidiado pelo National Institute of Environmental Health Sciences. O estudo da Dra. Barbara Conh e colaboradores foi subsidiado pelo National Institute of Environmental Health Sciences e pelo California Breast Cancer Research Program através do California Breast Cancer Research Program. Os autores informaram não ter conflitos de interesses relevantes.

J Natl Cancer Inst. Publicado on-line em 10 de janeiro de 2019. Reeves et al, Abstract ; Cohn et al, Texto completo

Por que a maioria das pessoas não se importa com problemas ambientais?

As pessoas se importam com questões de sustentabilidade? Como educadora e engenheira ambiental, essa é uma pergunta recorrente em minha cabeça. E tenho certeza que se você está lendo este artigo, já se perguntou isso também.

Fazendo uma rápida busca por pesquisas realizadas sobre o tema, vemos indícios que sim, as pessoas se importam com questões relacionadas ao meio ambiente no Brasil.  

Uma pesquisa realizada em 2012 pelo Ministério do Meio Ambiente aponta, por exemplo, que 82% das pessoas discordam da seguinte frase: “O conforto que o progresso traz para as pessoas é mais importante do que preservar a natureza” e esse índice veio crescendo desde 1997, quando eram apenas 67%. 

Em 2018, o “meio ambiente e riquezas naturais” apareceu como maior orgulho nacional para o brasileiro em pesquisa realizada pelo IBOPE e WWF.

Porém, existe uma diferença clara entre o discurso e a prática. Falar que se importa é uma coisa, mas de fato ter uma mudança de comportamento é outra história. Somos um dos países com maiores índices de desmatamento, reciclamos menos de 5% dos nossos resíduos e elegemos governos com claro descaso por questões ambientais.

Se as pessoas dizem se importar, por que não agem e cobram devidamente?

O ser humano prioriza problemas imediatos: As mudanças climáticas, por exemplo, parecem algo muito distante do presente e acabam não representando uma ameaça factível para muitos.

Desconexão com a natureza: Cuidamos apenas daquilo que conhecemos e temos vínculo. Quanto mais distantes do meio natural, menos as pessoas se importam com sua preservação e conservação.

A população não tem conhecimento suficiente: Conhecimento é diferente de informação. Enquanto a informação está cada vez mais acessível, ainda não está claro para muitos os reais desafios, causas, consequências e possibilidades de soluções.

Muitos não sofrem ou percebem diretamente as consequências: O problema do plástico no oceano, por exemplo, despertou incômodo nas pessoas quando começaram a literalmente ver o lixo na praia e nas ruas de sua cidade.

É mais trabalhoso sair da zona de conforto: Como seres vivos otimizamos ao máximo nosso gasto de energia e por isso priorizamos aquilo que nos é mais fácil e cômodo.

Sistema baseado em crenças e valores insustentáveis: Ganância, individualismo, egoísmo, medo, impotência e desconexão ainda são valores presentes em nossa sociedade e base para nosso modo de vida, gerando crenças, comportamentos e culturas insustentáveis.

O desafio é complexo, mas um dos principais papéis da educação para sustentabilidade é, justamente, compreender as causas da distância entre o discurso e a prática e traçar estratégias para minimizá-las. Também é papel da educação para sustentabilidade aproximar as pessoas da natureza; facilitar práticas e soluções para que as pessoas se desafiem a sair de sua zona de conforto; fortalecer valores humanos como cooperação, respeito e solidariedade; levar a informação de maneira mais clara e convidativa; e gerar mais empatia e conexão entre aqueles que causam e os que hoje começam a sofrer as consequências.


Uso de Agrotóxicos Brasil x UE por Larissa Bombardi


No vídeo acima, a Dra. Larissa Bombardi, ministra uma aula sobre como o uso de agrotóxicos influencia na saúde pública, na população rural e o impacto ambiental que acarretam, comparando dados do Brasil e da União Européia.

•  Acesse o e-book Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões Com a União Européia: http://bit.ly/2Ef3tYj

Plantas tóxicas






Com 500 milhões de abelhas mortas em três meses, agricultura brasileira pode entrar em colapso



Albert Einstein previu no século passado que, se as abelhas desaparecessem da superfície da Terra, o homem teria apenas mais quatro anos de vida. A morte em grande escala desse animal, interpretada como apocalíptica na época, é hoje um alerta real. Desde o começo do século, casos de morte e sumiço de abelhas são registrados nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, estudiosos destacam episódios alarmantes a partir de 2005.

Agora, o fenômeno parece chegar ao ápice. Nos últimos três meses, mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por apicultores apenas em quatro estados brasileiros, segundo levantamento da Agência Pública e Repórter Brasil. Foram 400 milhões no Rio Grande do Sul, 7 milhões em São Paulo, 50 milhões em Santa Catarina e 45 milhões em Mato Grosso do Sul, segundo estimativas de Associações de apicultura, secretarias de Agricultura e pesquisas realizadas por universidades.

O principal causador, afirmam especialistas e pesquisas laboratoriais analisadas pela reportagem, é o contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides e de Fipronil, produto proibido na Europa há mais de uma década. Esses ingredientes ativos são inseticidas, fatais para insetos, como é o caso da abelha, e quando aplicados por pulverização aérea se espalham pelo ambiente.

As abelhas são as principais polinizadores da maioria dos ecossistemas do planeta. Voando de flor em flor, elas polinizam e promovem a reprodução de diversas espécies de plantas. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e produção animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização deste inseto. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas.

Em Cruz Alta, município de 60 mil habitantes no Rio Grande do Sul, mais de 20% de todas as colmeias foram perdidas apenas entre o Natal de 2018 e o começo de fevereiro. Cerca de 100 milhões de abelhas apareceram mortas, segundo a Apicultores de Cruz Alta (Apicruz). “Apareceram uns venenos muito bravos. Eles colocam de avião de manhã e à tarde as abelhas já começam a aparecer mortas”, relata o apicultor Salvador Gonçalves, presidente da Apicruz.

No Brasil, há mais de 300 espécies de abelhas nativas — entre elas Melipona scutellaris, Melipona quadrifasciata, Melipona fasciculata, Melipona rufiventris, Nannotrigona testaceicornis, Tetragonisca angustula. Em todo país, contando com as estrangeiras, há cerca de 1,6 mil espécies do inseto, segundo relatório do Ibama.

Cada espécie é mais propícia para polinização de determinadas culturas. Por exemplo, a Mamangaba, conhecida popularmente como abelhão, é a principal responsável pela polinização de maracujá. “O que aconteceria se esse inseto fosse extinto? Ou deixaríamos de consumir essas frutas, ou elas ficariam caríssimas, porque o trabalho de polinização para produzi-la teria que ser feito manualmente pelo ser humano”, explica Carmem Pires, pesquisadora da Embrapa e doutora em Ecologia de Insetos.

A estudiosa conta que até em lavouras que não são dependentes da ação direta dos polinizadores, a presença de abelhas aumenta a safra. “Na de soja, por exemplo, é identificado um aumento em 18% da produção. É importante destacar também o efeito em cadeia. As plantas precisam das abelhas para formar suas sementes e frutos, que são alimento de diversas aves, que por sua vez são a dieta alimentar de outros animais. A morte de abelhas afeta toda a cadeia alimentar”.

Agrotóxicos inimigos das abelhas

Os principais inimigos das abelhas são os agrotóxicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas derivados da nicotina, como por exemplo o Clotianidina, Imidacloprid e o Tiametoxam. A diferença para outros venenos é que ele tem a capacidade de se espalhar por todas as partes da planta. Por isso, costuma ser colocado na semente, e tudo acaba com vestígios: flores, ramos, raízes e até no néctar e pólen. Eles são usados em diversas culturas como de algodão, milho, soja, arroz e batata.

Além dos neonicotinoides, há casos de mortandade relacionados também ao uso de agrotóxicos à base de Fipronil, inseticida que age nas células nervosas dos insetos e, além de utilizado contra pragas em culturas como maçã, soja e girassol, é usado até mesmo em coleiras antipulgas de animais domésticos. Muitas vezes esse veneno é aplicado em pulverização aérea, o que o expõe diretamente às abelhas. Segundo pesquisa produzida pela Embrapa em 2004, 19% do agrotóxico manejado através do método de pulverização aérea é dispersado para áreas fora da região de aplicação.

Dentro da colmeia as abelhas vivem em sociedades organizadas, com papéis claros. Elas se dividem em castas — rainha, operárias e zangões. A primeira delas é a única fêmea fértil, é quem coloca os ovos —cerca de 2,5 mil por dia. Os zangões são os machos e têm como papel fecundar a rainha. Já as operárias são as fêmeas responsáveis por praticamente tudo dentro da colmeia: limpeza, coleta de néctar e pólen, alimentação das larvas (abelhas não adultas), elaboração do mel e defesa do lar. A depender do tamanho da caixa e das condições climáticas, uma única colmeia pode abrigar até 100 mil abelhas.

A morte dos polinizadores por contato com os agrotóxicos pode ocorrer de vários modos. O mais comum é quando a operária sai para a polinização. Muitas acabam morrendo na hora, outras ficam desorientadas e infectadas. A partir daquele momento elas tentam voltar a colmeia, mas muitas não resistem ao caminho. As que conseguem voltar acabam infectando toda colmeia — o enxame acaba morto em pouco mais de um dia.

Casos cada vez mais agudos

Não existem números oficiais de mortes de abelhas no país, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Porém, associações de apicultores e órgãos ligados à secretarias estaduais de Agricultura fazem levantamentos próprios.

Entre dezembro do ano passado e fevereiro de 2019, pelo menos 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas apenas nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, segundo apurou a reportagem. Mas o número pode ser muito maior, já que é impossível contabilizar as mortes de abelhas silvestres – aquelas que não são criadas por apicultores.

A maioria dos casos recentes ocorreu no Rio Grande do Sul, onde, segundo a Câmara Setorial de Apicultura da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do estado, foram 400 milhões de baixas desde dezembro do ano passado. O estado é o maior produtor apícola do país, com mais de 400 mil colmeias, de acordo com a Emater. A produção de mel supera 6 mil toneladas por safra, cerca de 15% do total brasileiro.

A Secretaria recebeu comunicados de óbitos em 10 municípios: Jaguari, Sant’Ana do Livramento, Alegrete, Santiago, Livramento, Bagé, Mata, Cruz Alta, Boa Vista do Cadeado, Santa Margarida. Isso significou mais de 1% das criações de abelhas dizimadas. “O estado tem cerca de 463 mil colmeias. Dessas, cerca de 5 mil foram completamente perdidas. O prejuízo está em torno de 150 toneladas de mel”, conta Aldo Machado dos Santos, coordenador da Câmara Setorial de Apicultura gaúcha.

Por meio de notícias da imprensa, investigações do Ministério Público e estudos científicos, a reportagem identificou casos de mortandade de abelhas em pelo menos dez estados brasileiros desde 2005: Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

O engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Aroni Sattler é especialista em sanidade das abelhas e trabalha na área desde 1973. Segundo ele, casos de mortes de enxames se tornaram mais recorrentes na última década. “Devido ao meu trabalho, sempre recebi amostras de abelhas para análises, e vim percebendo que cada vez mais não havia sinais de doenças nos insetos que explicassem mortandades tão agudas”, explica.

No ano passado, ele foi procurado pelo Bioensaios, um laboratório privado, para orientar um trabalho sobre coleta de amostras em casos de mortandade. Foram analisados 30 casos de grandes baixas em enxames no Rio Grande do Sul. Os resultados mostram que cerca de 80% ingeriram ou tiveram contato com Fipronil antes de sucumbir. “Pelos sinais clínicos e pelo histórico apresentado pelos apicultores, percebemos que os agricultores da região misturavam o Fipronil no tanque junto com dessecantes desde o preparo do solo, passando pela fase vegetativa do cultivo e depois na hora da colheita. Se trata de um inseticida, e as abelhas são um tipo de inseto, por isso o ingrediente é bastante tóxico para elas”, detalha.

O especialista aponta que, mesmo naquelas que não apresentaram vestígio dos agrotóxicos, pode ter ocorrido contato. “Nos outros 20% é notado que a coleta das amostras não foi feita adequadamente, ou foi feita em um período muito longo após a mortandade, o que dificulta a identificação dos tóxicos”.

Quem é o culpado?

Desde que começou a fazer análises de abelhas mortas, o engenheiro agrônomo Aroni Sattler emitiu 30 laudos para apicultores do Rio Grande do Sul que comprovam o contato dos insetos com pesticidas. A partir daí eles podem levar os casos à Justiça e buscar ressarcimento. O especialista alerta para um risco ainda maior, o das abelhas nativas silvestres, pois não há como enumerar quantas estão morrendo e nem denunciar quem aplicou o veneno. “O impacto do uso desses agrotóxicos atinge um raio de 3 a 5 quilômetros das lavouras. Tudo no entorno desaparece”, afirma.

Aroni Sattler destaca também que muitas vezes os desastres ocorrem por falta de informação. “Há casos de mortandade que acontecem porque os agricultores utilizam o agrotóxico de modo errado, ou até mesmo, por falta de conhecimento, eles acham que a abelha prejudica a lavoura e passam veneno”.

O coordenador da Câmara Setorial de Apicultura do Rio Grande do Sul, Aldo Machado, afirma que há necessidade de um trabalho de conscientização: “Precisamos de agrônomos nos campos, acompanhando essas aplicações, vendo se está sendo feito conforme a bula”.

Sobre realizar as denúncias, ele explica que o canal indicado são as defensorias agrícolas ligadas às secretarias estaduais ou municipais. Além disso, é aconselhável informar a Polícia Militar Ambiental e fazer um boletim de ocorrência na Polícia Civil. “O apicultor tem que vencer o medo e denunciar. Há dois anos, após um grande surto de casos no Rio Grande do Sul, fizemos um levantamento e só existiam dois registros de denúncia. Sabíamos que estava ocorrendo mais, mas sem denúncia não se torna oficial para o Governo”. Só em Cruz Alta, segundo a Associação dos Apicultores de Cruz Alta (Apicruz), 810 colmeias foram totalmente perdidas entre 2015 e 2016 – cerca de 50 milhões de abelhas. Porém, no último trimestre a Apicruz estima que o número de abelhas mortas ultrapasse 100 milhões no município.

Mas, mesmo em casos onde há um laudo que prove a relação das mortes com agrotóxicos, é difícil conseguir identificar um culpado, afirma Aldo Machado. “Em Cruz Alta, por exemplo, há diversos produtores de soja. Existe a dificuldade de provar quem colocou esse princípio ativo na lavoura. Em muitos casos, diversos produtores utilizam o agrotóxico, aí fica difícil encontrar um culpado para cada caso específico”, pontua.

De acordo com a Lei Federal 7.802/89, a Lei dos Agrotóxicos, quem deve fazer a fiscalização do uso são os órgãos estaduais. Portanto, todo problema decorrente do uso desses químicos deve ser informado às secretarias de Meio ambiente ou de Agricultura dos estados.

Há base legal para considerar a morte de abelha como crime ambiental. De acordo com o artigo 56 da Lei de Crimes Ambientais é crime “Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos”.

Porém, segundo o Ibama, há grande dificuldade para comprovar que a mortalidade se deu pelo uso em desacordo com as instruções autorizadas no registro. “Quando isso fica comprovado – uso onde não devia, na quantidade que não devia, na época que não devia, usando equipamento que não devia e causando a mortalidade – aí se enquadra no artigo e se trata de crime ambiental”, informa o Instituto, através da assessoria de imprensa.

Milhões de mortes também em São Paulo – e por agrotóxicos

Testes laboratoriais apontaram o contato com agrotóxico como causador da morte de abelhas também no estado de São Paulo, onde a produção de mel chega a 3,7 mil toneladas por safra – cerca de 10% do total nacional. Entre 2014 e 2017, uma pesquisa com a participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) realizou um mapeamento sobre os fatores que contribuem para a perda de enxames. Em 78 cidades, os pesquisadores contabilizaram 107 produtores que sofreram com perdas de colmeias. Em três anos eles relataram que cerca de 255 milhões de abelhas morreram.

O professor e pesquisador da Unesp Rio Claro Osmar Malaspina, um dos responsáveis pelo trabalho, diz que os casos em São Paulo vêm acontecendo desde 2005. “Eles se acentuam a partir de 2012, e até aquele momento os apicultores não sabiam como, mas todas as abelhas passavam a morrer do nada e em menos de 24 horas. A grande suspeita era de agrotóxicos, mas até aquele momento não tínhamos uma análise para provar isso”.

O projeto começou em 2013 com patrocínio de empresas produtoras de agrotóxicos. Batizado de Colmeia Viva, o projeto recebeu um telefone 0800 para denúncias. Quando uma abelha morria, o apicultor ligava e fazia a queixa. “Após a análise, entregamos um laudo para cada criador, que era público. E ele poderia usá-lo para entrar com ação na Justiça”, explica.

O relatório do mapeamento foi lançado no ano passado com conclusões voltadas para a criação de um plano de ação nacional para boas práticas de aplicações de agrotóxicos. O objetivo é manter uma relação produtiva entre a agricultura e a apicultura, sem que nenhuma das duas áreas saia enfraquecida.

A iniciativa contou com 222 atendimentos voltados a apicultores, das quais 107 originaram visitas ao campo. Em 88 ocorreram coletas de abelhas para análise focada na relação com a aplicação de agrotóxicos. Em 59 casos – cerca de 67% – o resultado foi positivo para resíduos de pesticidas. Em 27 casos, a hipótese é que a aplicação de tóxico tenha sido feita fora da lavoura onde a colmeia fica, e em 21 casos a suspeita é de uso incorreto dentro da própria residência (11 destes foram causados por produtos à base de neonicotinoides e 10 à base de Fipronil).

O grupo também fez um trabalho educativo com agricultores, ensinando modos de aplicação de pesticidas que diminuam o impacto em abelhas. “Nos últimos meses estamos percebendo uma queda nas ocorrências de mortandade, mas ainda temos que esperar mais alguns anos para fazer um novo estudo que confirme isso e nos mostre os motivos”, explica. Nos últimos dois meses as baixas em colmeias foram reduzidas para cerca de 25.

Reavaliação de agrotóxicos

Em decorrência dos casos de mortandade de abelhas, o Ibama deu início em 2012 à reavaliação de diversos ingredientes químicos usados em plantações. O primeiro está sendo o neonicotinoides Imidacloprid, o mais usado do grupo. Empresas declararam ao Ibama a comercialização de 1.934 toneladas de Imidacloprido só em 2010. Simultaneamente, o Instituto está reavaliando também os neonicotinoides Clotianidina e o Tiametoxam, e ao fim dos três processos iniciará os testes com o Fipronil.

Em 19 de julho de 2012 o Ibama chegou a proibir a pulverização aérea do ingrediente ativo Imidacloprid. O órgão determinou também que todos os produtos deveriam conter nas embalagens o seguinte aviso: “Este produto é tóxico para abelhas. A aplicação aérea NÃO É PERMITIDA. Não aplique este produto em época de floração, nem imediatamente antes do florescimento ou quando for observada visitação de abelhas na cultura. O descumprimento dessas determinações constitui crime ambiental, sujeito a penalidades”. Porém, o Ministério da Agricultura alegou que a aplicação aérea do Imidacloprid era imprescindível para determinadas culturas. Com isso, três meses depois, ficou autorizada a pulverização para culturas de arroz, cana-de-açúcar, soja, trigo e algodão.

Tendo em vista que os agrotóxicos mais nocivos às abelhas estão sendo reavaliados, passando agora pela Avaliação de Risco, o Ibama criou em 2015 um Grupo Técnico de Trabalho para discutir os procedimentos a serem adotados para proteger especificamente as abelhas. O grupo se reúne bimestralmente e conta com 13 participantes vindos do setor acadêmico, da Embrapa, da Indústria e também do Ministério do Meio Ambiente. Sua missão é propor uma avaliação obrigatória de risco de agrotóxicos para abelhas. Porém, não há previsão de quando isso ocorrerá.

Ministério Público Federal cobra respostas

Há procedimentos em curso sobre a morte de abelhas em cinco procuradorias estaduais, no Distrito Federal, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, segundo a Procuradoria-Geral da República. A Agência Pública teve acesso a documentos relativos a dois desses casos.

No Rio Grande do Sul, há uma ação civil pública tramitando na 9ª Vara Federal de Porto Alegre. A ação foi ajuizada em outubro de 2017 contra o Ibama, para obrigar a autarquia a concluir no prazo de seis meses o processo de reavaliação da substância Imidacloprid.

Porém, o Ibama afirma que terá dificuldade de concluir o processo administrativo nesse prazo. Segundo um memorando, o órgão está construindo diversos protocolos de testes, por se tratar de avaliações ainda inéditas no país. A equipe que realiza as reavaliações é composta por apenas cinco analistas ambientais: três biólogos, um químico e um zootecnista. Confira a publicação na íntegra aqui.

Em Mato Grosso do Sul, a Associação de Produtores de Mel de Dourados entrou com uma representação protocolada em março de 2018 pedindo investigação do MPF/MS. Na justificativa, a associação afirma que os apicultores estão perdendo sua renda e produção por causa das mortes de abelhas “pelo uso indiscriminado e abusivo de agrotóxico nas lavouras de cana de açúcar, soja, milho, arroz e outras culturas agrícolas”.

A representação deu origem a uma Notícia de Fato, uma demanda encaminhada aos órgãos para investigação, e agora o MPF de Mato Grosso do Sul avalia se vai instaurar ou não um procedimento próprio.

20 de maio é o Dia Mundial das Abelhas, data criada para lembrar a importância desses insetos para a produção de alimentos em escala global. Elas não são as únicas agentes polinizadoras — pássaros, morcegos, esquilos, besouros e diversos outros contribuem para a reprodução das plantas – mas o grande número e espécies de abelhas as colocam no papel principal.

Para defendê-las, a FAO/ONU, em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), elaborou o Código Internacional de Conduta para o Manejo de Pesticidas. A organização destaca, entretanto, que sem a diminuição do uso de agrotóxicos as abelhas continuarão em risco. “Não podemos continuar nos concentrando em aumentar a produção e a produtividade com base no uso generalizado de pesticidas e produtos químicos que ameaçam os cultivos e os polinizadores”, alertou o diretor-geral da agência da ONU, José Graziano da Silva.

A passos lentos, alguns países vão adotando leis para salvar os zangões, rainhas e operárias. O Fipronil já é proibido em toda a União Europeia há mais de uma década. Em 2004, ele foi banido da França após ações que denunciavam o impacto do veneno — naquele ano, cerca de 40% dos insetos criados nos apiários franceses foram encontrados mortos. Os neonicotinoides entraram em discussão logo depois. Em 2013 tiveram os registros congelados por dois anos, e em 2018 veio o banimento permanente.

Até os Estados Unidos caminham na mesma direção. Em 2013, um relatório do Departamento de Agricultura americano (USDA) mostrou que quase um terço das abelhas de colônias do país morreram durante o inverno de 2012/2013. No ano seguinte, o então presidente americano Barack Obama proibiu o uso de neonicotinoides em áreas de vida selvagem.


Trabalhadores noturnos x trabalhadores diurnos


Há mais de uma década venho estudando sobre o impacto da inversão do ciclo circadiano na saúde humana. Na década de 80 foi publicado um livro chamado Apague a luz, no qual o autor correlacionava o aumento da prevalência de doenças crônicas não-transmissíveis (ex. diabetes, hipertensão, dislipidemias) com a exposição a energia elétrica no período noturno.

Ano após ano surgem novos estudos mostrando o impacto dessa inversão. Principalmente em quem não faz a inversão completa, ou seja, quem continua trabalhando nos dois turnos. Ainda há poucos estudos em humanos, ou seja, não podemos ter evidências robustas. Porém, não prática clínico percebe-se que os "night workers" possuem a saúde mais afetada. 

Um estudo conduzido pelo pessoal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia foi publicado essa semana e nele os autores acompanharam 37 trabalhadores noturnos e perceberam que eles presentam menor defesa antioxidante e maior estresse oxidativo (produção excessiva de radicais livres) do que pessoas que trabalham durante o dia.

Intoxicações agudas por causa de agrotóxicos triplicam em Minas


Para ler a reportagem completa acesse: 

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Diabetes tem relação com a sua rotina: entenda melhor


Todo mundo já sabe que o diabetes é uma doença cujas estatísticas têm aumentado todos os dias. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o diabetes tipo 2 está entre as 4 doenças não transmissíveis com maior prevalência no mundo todo! E sabe o que? É evitável! Agora uma vez instalada é muito difícil tratar… Hoje não existe tratamento ouro, mas a mudança de estilo de vida é uma das prioridades.

O diabetes tipo 2 é consequência de um estilo de vida não saudável?

O diabetes tipo 2 não se desenvolve de uma hora pra outra numa pessoa como é o caso do diabetes do tipo 1 que acontece quando o pâncreas pára de produzir insulina.

O diabetes tipo 2 é uma doença que se desenvolve bem mais lentamente… Ela começa geralmente com uma condição conhecida como resistência à insulina. A pessoa, ao contrário de um portador de diabetes tipo 1, produz insulina, mas as células são resistentes à ação da insulina. Então as células não reconhecem a insulina que é a responsável por abrir os canais por onde a glicose (o açúcar do sangue) passa para dar energia pras células. Se a glicose não entra nas células ele fica circulando em grandes quantidades no sangue e acho a essa altura você já adivinhou né? Hiperglicemia crônica e sofrimento celular!

Essa glicose em excesso no sangue leva às complicações metabólicas associadas à diabetes tipo 2: problemas na retina, nos rins, problemas na circulação, derrames e infartos.

Prevenção e tratamento no diabetes

O diabetes é uma doença que pode ser evitada se a resistência à insulina for detectada precocemente e a abordagem central na prevenção e tratamento da resistência à insulina é uma mudança no estilo de vida e se necessário, medicação.

Os estudos que tentam explicar melhor o que acontece no corpo no desenvolvimento do diabetes estão sempre focados em quantidade e qualidade de consumo alimentar, atividades físicas e medicação.

No entanto, outros fatores estão sendo investigados. Os fatores circadianos (relacionados aos ritmos biológicos) como excesso de exposição à luz durante a noite, o momento em que as pessoas comem durante o dia e ciclo sono-vigília são também muito importantes na prevenção e tratamento da resistência à insulina, como bem escreveu a nutricionista Rosana Dantas no seu livro “A melatonina não serve só para te fazer dormir”.

Distúrbios dos ritmos e diabetes tipo 2

Em uma revisão muito interessante recentemente publicada na revista Nature, pesquisadores descreveram como um distúrbio nos ritmos biológicos pode aumentar as chances de uma pessoa desenvolver resistência à insulina e diabetes tipo 2.

O sistema circadiano é regulado pelo ciclo claro/escuro ambiental, ou seja do dia e da noite durante as 24h e toda nossa fisiologia se adapta a essas mudanças que acontecem invariavelmente todos os dias da nossa vida!

Então nosso corpo durante o dia, tem um metabolismo diferente do que acontece durante a noite.

Alguns exemplos: o hormônio cortisol tem um pico no início da manhã que é uma hora em que o corpo precisa de energia para começar o dia. O cortisol, entre outras coisas, vai nos estoques energéticos buscar essa energia extra necessária pra gente se levantar e começar o dia (já que, normalmente, ficamos um jejum durante nossas horas de sono)! Outros hormônios relacionados diretamente com nosso metabolismo como a insulina e a leptina também têm seus picos durante o dia, já que, desde que o mundo é mundo somos seres diurnos e fazemos nossas refeições durante o dia!

Só que hoje temos luz elétrica, então acabamos ficando mais tempo acordados e pior, às vezes ficamos horas antes de dormir olhando pro celular ou pra TV… resultado? Dormimos mais tarde que nossos ancestrais e a fome acaba vindo e acabamos comendo neste momento onde não tem níveis de insulina suficientes para colocar a glicose dentro das células. Nosso corpo tolera melhor a glicose durante o dia e menos durante a noite. E esse excesso de glicose acaba ficando na circulação. Se isso acontece cronicamente a resistência à insulina pode se estabelecer.

Rotina é tão importante quanto comer e ser ativo!

O que acontece é que, se nosso comportamento está desalinhado com nossos ritmos biológicos, isso pode contribuir à um estresse metabólico e causar o desenvolvimento da resistência à insulina, ou seja, nossos ritmos de sono e vigília e de ingestão de alimentos devem estar alinhados aos ritmos dos nossos relógios biológicos que determinam os ritmos da circulação de vários hormônios no nosso corpo. Várias evidências têm confirmado a hipótese de que uma ruptura dos ritmos circadianos contribui para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.

Estudos em humanos mostraram que um desalinhamento dos ritmos leva uma queda na tolerância à glicose. Algumas alterações genéticas associadas à regulação dos ritmos levam à intolerância à insulina (A Rosana fala sobre isso muito bem no livro dela). Outros estudos têm associado resistência à insulina também a problemas na qualidade e duração do sono.

Eu acredito que em breve serão adicionados tratamentos com foco nos ritmos biológicos ao protocolo de prevenção e tratamento da resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes. Colocar os ritmos biológicos em evidência pode fazer parte do tratamento para várias patologias no (espero próximo) futuro.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Trabalho de polinização das abelhas foi estimado em 43 bilhões no Brasil

Vale a pena assistir ao vídeo em: https://www.valor.com.br/video/5999696748001/trabalho-de-polinizacao-das-abelhas-foi-estimado-em-r-43-bilhoes-no-brasil?fbclid=IwAR3Jfq4U8eyFN7wahHQY2axnAUCKXdsjZIRgq2jmeEfdTA_UP1PXmZe0lfo

Cidades devem pensar em árvores como infraestrutura de saúde pública

Respirar ar puro é o sonho de qualquer morador de uma grande cidade, ainda que ele goste muito do meio urbano. E as ruas arborizadas, além de bonitas e agradáveis, são comprovadamente benéficas para a saúde física e mental. Então, porque não incluí-las nas verbas de financiamento da saúde? É isso que questiona a organização The Nature Conservancy, que criou um documento onde explica e demonstra em números as razões pelas quais isso deve ser feito.

Um White Paper é uma espécie de guia, um documento oficial, que detalha um determinado problema, indicando causas, conceitos e, principalmente, soluções para enfrentá-lo. O documento tem com base os Estados Unidos, onde se gasta menos de um terço de 1% dos orçamentos municipais em plantio e manutenção de árvores e, como resultado, as cidades norte-americanas perdem quatro milhões de árvores por ano.

“Imagine se houvesse uma ação simples que os líderes da cidade pudessem tomar para reduzir a obesidade e a depressão, melhorar a produtividade, aumentar os resultados educacionais e reduzir a incidência de asma e doenças cardíacas entre seus residentes. As árvores urbanas oferecem todos esses benefícios e muito mais” afirma a organização.

Mas, sabemos, alguns só se convencem quando os números entram na jogada. Por isso, foi estimado que gastar apenas oito dólares por pessoa, uma vez por ano, em média, em uma cidade americana poderia suprir a lacuna de financiamento e impedir a perda de árvores urbanas e todos os seus benefícios potenciais. Apesar do número não ser uma sugestão de valor, ele mostra que o investimento não é impossível.

Investimento desigual

O investimento no plantio de novas árvores – ou mesmo em cuidar daquelas que existem – é perpetuamente subfinanciado. Apesar das evidências, diz o relatório, as cidades estão gastando menos em árvores do que nas décadas anteriores.

Além disso, com muita frequência, a presença ou ausência da natureza urbana está ligada ao nível de renda de um bairro, resultando em enormes desigualdades na saúde. Em algumas cidades americanas, as expectativas de vida em diferentes bairros, localizadas a poucos quilômetros de distância, podem diferir em até uma década. Nem toda essa disparidade de saúde está conectada à cobertura arbórea, mas os pesquisadores estão cada vez mais certos de que bairros com menos árvores têm piores resultados de saúde, por isso a desigualdade no acesso à natureza urbana piora estes diferentes níveis de saúde.

Como ter mais árvores na cidade

O documento traz uma série de dicas que podem ser aplicadas pelo poder público e privado. Confira abaixo as principais delas:

Implementação de políticas para incentivar o plantio privado de árvores.
Mais trocas municipais que facilitem a colaboração de vários departamentos, como órgãos de saúde pública e agências ambientais.
Vincular o financiamento de árvores e parques a metas e objetivos de saúde.
Investir tempo e esforço na educação da população sobre os benefícios tangíveis da saúde pública e o impacto econômico das árvores.

Fonte: 

Usar Cannabis uma única vez pode alterar o cérebro do adolescente

O uso de maconha, mesmo feito apenas uma ou duas vezes, pode alterar significativamente o volume de substância cinzenta (VSC) em várias partes do cérebro em desenvolvimento do adolescente, sugere nova pesquisa.

Após analisar dados de um grande programa de pesquisa avaliando o desenvolvimento do cérebro adolescente e a saúde mental, pesquisadores descobriram que algumas regiões ricas em receptores canabinoides encontram-se alteradas de forma significativa nos adolescentes que referem ter usado muito pouca Cannabis.

"Quisemos estudar os efeitos da exposição a pequenas quantidades de maconha, porque, apesar do efeito direto das grandes quantidades de Cannabis e de outras drogas já ter sido analisado, o efeito do uso leve ainda é bem pouco estudado", disse ao Medscape o copesquisador Dr. Hugh Garavan, professor de psiquiatria na University of Vermont em Burlington, nos Estados Unidos.

Os achados foram publicados on-line em 14 de janeiro no periódico Journal of Neuroscience.

Amostra homogênea

Apesar de estudos feitos anteriormente terem demonstrado tanto aumento como redução do volume do cérebro humano pelo uso de maconha, a maior parte destas pesquisas foi feita com usuários regulares de grandes quantidades da droga, que também eram tabagistas e etilistas, disse Dr. Hugh.

"Algumas pesquisas com modelos animais demonstraram que mesmo um único uso pode causar efeitos na capacidade e no cérebro, e nós tínhamos esta grande amostra, possibilitando pesquisar adolescentes que informaram ter usado pouco a substância", disse o pesquisador.

Utilizando dados do projeto de pesquisa europeu IMAGEN, com 2.400 participantes, os pesquisadores identificaram quem informou ter usado maconha somente uma ou duas vezes. Esses participantes foram então pareados com participantes de controle utilizando várias variáveis.

Todos os participantes negaram o uso de quaisquer outras substâncias ilícitas e nenhum informou utilizar uma substância controle fictícia, a relevina, o que corroborou a fidedignidade das métricas descritas.

Os dois grupos foram pareados por: idade; mão dominante; desenvolvimento puberal; quociente de inteligência (QI), determinado pela pontuação em uma escala de compreensão verbal e de raciocínio perceptivo; nível socioeconômico; volume da substância cinzenta total; uso de bebidas alcoólicas; e uso de nicotina.

Foram recrutados adolescentes cujos quatro avós eram da mesma nacionalidade do participante, tornando a amostra homogênea em termos raciais e étnicos.

Imagens do cérebro

Nos oito centros do estudo IMAGEN foi realizada ressonância nuclear magnética e morfometria por voxel (MBV) para comparar o volume da substância cinzenta entre os grupos.

magens cruas ponderadas em T1 foram avaliadas em relação à existência de anomalias anatômicas ou artefatos, como movimentação da cabeça ou erros de reconstrução.

Após o processamento da morfometria por voxel, as imagens foram analisadas novamente em busca de erros na segmentação dos tecidos ou a normalização nos espaços definidos pelo Montreal Neurological Institute (MNI). Todas as imagens que não passaram no controle de qualidade foram excluídas.

Havia dados disponíveis sobre um subgrupo de participantes usuários de maconha de 14 anos de idade, com acompanhamento de dois anos para uso de substâncias ilícitas, capacidade cognitiva e psicopatologia aos 16 anos de idade. Isto permitiu a análise das diferenças do volume da substância cinzenta relacionadas com o uso de Cannabis para o futuro desempenho funcional nestas áreas.

Dos 47 adolescentes que informaram ter usado maconha apenas uma ou duas vezes, um foi excluído devido à má qualidade das imagens obtidas. Sendo assim, 46 adolescentes usuários de Cannabis foram incluídos na análise.

Os pesquisadores também identificaram 69 participantes que nunca tinham usado a droga aos 14 anos, mas que referiram ter usado pelo menos 10 vezes na consulta de acompanhamento dois anos depois.

Isto permitiu aos pesquisadores determinar se as diferenças entre o grupo que utilizou maconha e o grupo de controle podem ter precedido o uso da droga.

O uso de outras substâncias foi avaliado no início (aos 14 anos) e no acompanhamento (aos 16 anos) utilizando o European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs , questionário que computa o uso de bebidas alcoólicas, Cannabis, uma vasta variedade de substâncias ilícitas e a medida de controle fictícia relevina.

Os participantes informaram o quão frequentemente usaram cada uma das substâncias durante sua vida, nos últimos 12 meses, nos últimos 30 dias e nos últimos sete dias, utilizando uma escala de sete pontos. Os participantes também informaram a idade na qual experimentaram cada uma das substâncias usadas.

Achado tentador

Adolescentes que informaram ter usado maconha apenas uma ou duas vezes apresentaram maior volume da substância cinzenta em várias regiões cerebrais ricas em receptores canabinoides quando comparados com os não usuários.

As regiões com maior volume da substância cinzenta foram: o lobo temporal bilateral, o córtex cingulado posterior bilateral, os giros linguais e o cerebelo.

"Não sabemos ao certo a razão. Também não sabemos com certeza se as diferenças de volume da substância cinzenta são decorrentes do uso de Cannabis", disse Dr. Hugh.

"É ainda plausível que estas diferenças do volume da substância cinzenta tenham precedido o uso de maconha. Pode ser que as diferenças de volume da substância cinzenta não sejam consequência do uso de Cannabis, mas sejam a razão que levou o adolescente a usar a droga", acrescentou o professor.

Os usuários de maconha tiveram maior pontuação na busca de sensações e algumas medidas de ansiedade em comparação com os não usuários. Entretanto, os pesquisadores não têm certeza se isto foi resultado das diferenças no volume da substância cinzenta ou algum outro fator desconhecido.

"Eu acho que devemos investigar mais profundamente", disse o pesquisador.

"É preciso tentar replicar qualquer achado, especialmente em se tratando de algo tão instigante. Queremos ver se o achado tem mesmo importância e devemos ter cautela ao tirar conclusões".

Achados contrários às expectativas

Comentando os achados para o Medscape, o Dr. William Chow, neurologista e professor adjunto de clínica na University of California em Los Angeles, disse que alguns outros estudos sugeriram a "diminuição do volume cerebral nos lobos temporais nos participantes que fizeram uso de Cannabis".

"Entretanto, eu acho que isto só significa que há variabilidade nos estudos de imagem", disse Dr. William. "Nós ainda não entendemos muito bem o efeito da Cannabis no cérebro".

Também comentando o estudo, Dr. Alex Dimitriu, psiquiatra e médico do sono em Menlo Park, na Califórnia, disse ao Medscape que "os achados parecem ser contrários às expectativas".

"É surpreendente ver que o uso tão mínimo de Cannabis leve a qualquer modificação mensurável das estruturas cerebrais ou seus volumes", disse Dr. Alex, que não participou do estudo.

"Ainda não foi esclarecido se ter mais substância cinzenta é melhor ou pior para o cérebro em desenvolvimento do adolescente, mas persiste o fato de que mesmo o uso em quantidades mínimas causa alterações" acrescentou.

Os autores do estudo informaram não ter conflitos de interesses relevantes. A lista completa de patrocinadores do estudo está disponível no artigo original.

J Neurosci. Publicado on-line em 14 de janeiro de 2019. 

Cientistas alertam para a urgência de política de proteção para polinizadores

O Brasil possui 191 culturas agrícolas utilizadas para a produção de alimentos - que se tem conhecimento sobre o processo de polinização - das quais 60% são visitadas por polinizadores. São diversas as causas que ameaçam o serviço ecossistêmico de polinização, mas o uso de agrotóxicos são os que geram maior preocupação.

A conclusão é do Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil – e seu respectivo sumário para Tomadores de Decisão – lançado nesta quarta-feira (6/2) pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e pela Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (Rebipp). O relatório segue os moldes do diagnóstico global de polinização, lançado em 2015.

Em termos monetários, a polinização representou R$ 43 bilhões em 2018 para o país. Para quantificar, os pesquisadores da Rebbip calcularam o produto da taxa de dependência de polinização pela produção anual considerando 67 cultivos. A soja responde por 60% deste valor, seguida do café (12%), pela laranja (5%) e pela maçã (4%).

No caso da berinjela, por exemplo, a presença do polinizador específico gera um incremento de cerca de 180g por unidade no produto final, segundo Kayna Agostini, professora da Universidade Federal de São Carlos e coordenadora do estudo. “Isso, na prateleira, faz diferença para o produtor”, pontua.

O relatório demonstra como a vulnerabilidade do serviço ecossistêmico de polinização, como a perda de habitat, mudanças climáticas e, principalmente, o uso de agrotóxicos coloca em risco a produção de alimentos e a conservação da biodiversidade.

A lista de visitantes das culturas agrícolas supera 600 animais, dos quais no mínimo 250 com potencial de polinizador, sendo as abelhas predominantes, representando 66% das espécies, além dos besouros, borboletas, mariposas, aves, vespas, moscas, morcegos e percevejos. 

O relatório aponta o manejo de polinizadores nativos como uma oportunidade ainda pouco explorada. O país possui uma grande diversidade de espécies sem ferrão que, além de produzirem méis de qualidade e de alto valor agregado, proveem a polinização de diversos cultivos agrícolas. De acordo com o documento, apenas 16 espécies são manejadas. E há muito o que se aprender, neste sentido, com as práticas de manejo associadas ao conhecimento local e indígena.

28 livros sobre bioconstrução, permacultura e agroecologia para baixar gratuitamente

Jardinagem, horta, apicultura, reciclagem, agroecologia, permacultura, bioconstrução e vida sustentável. Estes são alguns dos temas tratados em um compilado de manuais práticos e gratuitos reunidos pela plataforma espanhola Ideas Verdes.

O CicloVivo sempre disponibiliza cartilhas e manuais gratuitos sobre os mais diversos temas relacionados à sustentabilidade. Esta no entanto é talvez a maior biblioteca digital com os assuntos mais variados encontrados em um só lugar.

Logicamente, é difícil saber por onde começar com tanta opção boa. Por isso, o próprio site destacou alguns livros em uma lista, confira abaixo.

Permacultura e agroecologia

John Seymour – El Agricultor Autosuficiente

John Seymour – La Vida En El Campo

Fukuoka – La Revolucion De Una Brizna De Paja

Fukuoka – La Senda Del Cultivo Natural

Bill Mollison – Introduccion A La Permacultura

Bill Mollison – La Parabola Del Pollo

Bill Mollison – El Momento Mas Terrible Del Dia

David Holmgren – La escencia de la permacultura

David Holmgren – Dinero Vs Energía fósil

Emilia Hazelip – Coleccion De Agricultura Sinergica

Jairo Restrepo – ABC agricultura organica y harina de rocas

Jairo Restrepo – Abonos Organicos Fermentados

G.E. Xoriguer – Manual Practico para Construir Cajas Nidos

Mariano Bueno – Como Hacer Un Buen Compost

Josep Rosello – Como Obtener Tus Propias Semillas

Jerome Goust – El Placer De Obtener Tus Semillas

Fernandez-Pola – Cultivo De Plantas Medicinales Y Aromaticas

Bioconstrução

Predes – Construccion De Vivienda En Adobe

Gernot Minke – Manual De Construcción Con Paja

Gernot Minke – Manual De Construccion En Tierra

Gernot Minke – Techos Verdes

Johan Van Lengen – Cantos Del Arquitecto Descalzo

Johnny Salazar – Construyendo Con COB

Elias Rosales Escalante – Manual De Tratamiento De Aguas Grises

Bill Steen – La Casa De Fardos De Paja

Lourdes Castillo Castillo – Sanitario Ecológico Seco

Gustavo San Juan – Manual De Construccion De Calentador Solar De Agua

Pedro M. Molina – Como Hacer Hornos De Barro

As publicações estão em Espanhol e podem ser baixadas no link abaixo.

Suplementação com Semente de Uva e Probiótico em ratos, promoveu emagrecimento e melhora de parâmetros metabólicos

Estudo investigou o efeito da combinação de farinha da semente de uvas (SUV) rica em polifenóis (prebiótico) e bactérias do ácido lático (BAL) derivadas do Kefir - 1x1010 UFC de Leuconostoc mesenteroides (LCM) e 1x109 UFC de Lactobacillus kefiri (probiótico) sobre doença metabólica relacionada à obesidade e induzida por dieta rica em gorduras (DRG) em cobaias.

Os ratos foram divididos em 6 grupos: dieta acrescida com 6% de celulose microsalina (grupo controle); dieta acrescida com 5% de SUV; dieta acrescida com 10% de SUV; dieta acrescida com 5% de SUV + BAL; dieta acrescida com 10% de SUV + BAL; e dieta acrescida com BAL por 9 semanas. Ao final do estudo foram coletadas amostras de sangue e de tecido do fígado, intestino e epidídimo, e foi avaliado, também, o conteúdo do ceco.

Os autores verificaram que a suplementação com SUV, BAL isoladas ou associadas reduziu significativamente o ganho de peso das cobaias comparado ao grupo controle, mesmo sem diferença na ingestão energética total. 

O grupo com maior porcentagem de SUV acrescido de BAL foi o que mostrou maior redução de ganho de peso entre os grupos (p<0 2h="" 80="" a="" acrescido="" adiposo="" agcc="" apresentaram="" bal="" ceco="" colesterol="" com="" compara="" concentra="" controle.="" controle="" curva="" das="" de="" deos="" do="" e="" em="" encontrada="" encontrado="" es="" foi="" glic="" glicemia="" grupo="" grupos="" hep="" insulin="" insulinemia="" interven="" jejum="" ldl="" m="" maior="" mica="" nbsp="" neas="" no="" o="" os="" p="" peso="" porcentagem="" quantidade="" que="" redu="" sangu="" suv="" tamb="" tecido="" tico="" todos="" total="" triglicer="">

Foi encontrada uma relação negativa significante entre a quantidade de AGCC e o peso do tecido adiposo. Na análise genética, 6095 genes foram suprimidos enquanto outros 4509 foram super expressos com a suplementação com alta dose de SUV, BAL e alta SUV+BAL, entre estes genes relacionados à resposta de fase aguda, angiogênese, lipopolissacaridases, ácidos graxos, lipase, sistema imonológico, oncogênese, entre outros.

Com isso, os autores concluíram que o consumo combinado de SUV + BAL reduziu a inflamação sistêmica e adipogênese no tecido adiposo, a permeabilidade intestinal, a resistência insulínica, a tolerância glicêmica, em resposta a DRG, e pode fornecer benefícios de sinergismo na prevenção da obesidade e da doença metabólica relacionada à obesidade por meio de alterações da permeabilidade intestinal e expressão de genes adipogênicos.

Referência: 
Cho YJ et al. Antiobesity Effect of Prebiotic Polyphenol-Rich Grape Seed Flour Supplemented with Probiotic Kefir-Derived Lactic Acid Bacteria. J Agric Food Chem. 2018 Nov 28;66(47):12498-12511.

Parecer técnico da ASBRAN sobre o Jejum Intermitente

Na semana passada a Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN) emitiu um parecer técnico sobre Jejum Intermitente (JI), visto que é uma estratégia que está na moda e ainda não há nada 100% conclusivo sobre ela. 

Em 2015 escrevi um mega texto aqui sobre o tema, com o auxílio de uma amiga Nutricionista (Samara Bergameli) e já naquela época, deixávamos claro que o JI não é para todos os pacientes e muito menos a estratégia salvadora nos casos de emagrecimento.

Discordo em alguns pontos do parecer, mas no geral ele deixa claro o que há de científico até o momento sobre o Jejum. 

Resumindo:
  1. O JI é uma estratégia assim como a restrição calórica contínua (RCC). Há superioridade dele, quando comparado à restrição calórica contínua? Não. Tem pessoas que tem melhores resultados com JI do que com RCC? Sim. 
  2. Estudos em longo prazo não mostram a segurança do JI. Porém, já sabemos que há populações no mundo que simplesmente pulam algumas refeições, exemplo: pulam café da manhã e não há efeitos deletérios até o momento. 
  3. Nosso corpo está adaptado para ficar algumas horas sem se alimentar. Fazemos isso quando dormimos: Jejum de 8 horas. Pq então um jejum de 16 horas seria prejudicial? Poderia ser prejudicial de acordo com o quadro do paciente. Já vi pacientes agravarem quadros psiquiátricos com Jejum. Pacientes desencadearem enxaqueca por jejum. Diabéticos tipo 1 fazerem hipoglicemia em decorrência de Jejum. Ou seja, a estratégia existe, mas mais importante que isso, existe o paciente e suas individualidades. 

PARECER TÉCNICO No. 01/2019
ASSUNTO: JEJUM INTERMITENTE

O jejum intermitente (JI) compreende um padrão alimentar no qual o indivíduo se submete de forma voluntária a períodos de privação de alimentos, com reduzida ou nenhuma ingestão energética, intercalados por períodos de ingestão normal de alimentos e bebidas, a depender do protocolo, podendo ocorrer restrição em dias alternados, jejum de dia inteiro e jejum de tempo limitado. 
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Os efeitos benéficos comumente atribuídos ao JI envolvem a perda de peso, alterações no metabolismo energético, na composição corporal, melhora na microbiota intestinal, glicemia e marcadores de risco cardiometabólico e efeitos relacionados ao retardo no envelhecimento. O jejum intermitente ganhou popularidade ao longo da última década, apesar da prática ser mundialmente realizada desde a antiguidade, especialmente por grupos religiosos, dentre estes os budistas, cristãos, muçulmanos e hindus e, mais recentemente, sua utilização vem sendo disseminada na prática dos nutricionistas.
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Devido a sua grande repercussão, o grupo de pareceristas da Associação Brasileira de Nutrição - ASBRAN emitiu um parecer técnico sobre o assunto.

CONSIDERANDO:

1. As investigações sobre a perda de peso entre indivíduos obesos e com sobrepeso sugerem perdas de peso e de massa magra equivalentes entre JI e restrição energética contínua (REC).

2. Os protocolos sugeridos de restrição alimentar podem favorecer comportamentos de compulsão
alimentar em dias de consumo alimentar. 

3. A hipótese mais aceita cientificamente quanto à gênese da obesidade e demais doenças crônicas não transmissíveis está fortemente associada à falta de estilo de vida saudável (alimentação inadequada e sedentarismo) e não necessariamente ao fracionamento ou intervalos menores ou maiores de alimentação. 

4. O que determina de forma plausível, entre outras consequências, o desequilíbrio na oferta de nutrientes e ingestão de calorias são as mudanças envolvendo a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados de origem vegetal e preparações culinárias à base desses alimentos por produtos industrializados prontos para consumo, com alta densidade calórica, de acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira. Ainda, tais alterações nos hábitos alimentares são observadas com grande intensidade no Brasil. Esses fatores são preponderantes para o ganho de peso ou sua manutenção, e não a ingestão calórica diária ou seu fracionamento.

5. Os ensaios publicados nas demais situações como diabetes, câncer, nas doenças cardiovasculares, entre outras, até o presente, não são suficientes para confirmar as hipóteses de reversão ou atenuação desses eventos, uma vez que não há estudos controlados acerca dessas observações. Os estudos experimentais que mostram possíveis benefícios para tais doenças não fornecem ainda segurança em seu uso.

6. As recomendações usuais de fracionamento do número de refeições com intervalos de 2 a 3 horas promovem maior oferta e biodisponibilidade dos nutrientes, manutenção de níveis sanguíneos constantes de compostos bioativos, redução de episódios compulsivos, redução do nível de cortisol sanguíneo, aumento das concentrações de hormônios intestinais envolvidos na saciedade e menores níveis plasmáticos de insulina e glicose. Portanto, não há subsídios científicos suficientes para que não seja seguido um padrão alimentar baseado em alimentação diária, com refeições fracionadas em 5 ou 6 porções ao longo do dia.

7. Não se tem evidências científicas suficientes provenientes de estudos controlados envolvendo humanos para suportar os benefícios supracitados do JI. 

8. As condutas relacionadas a esta prática têm sido baseadas em estudos realizados com animais e a partir de dados observacionais do jejum religioso (particularmente Ramadã). As diversas religiões que adotam sua prática realizam isso de forma esporádica e sem alteração do padrão alimentar por longo tempo. Além disso, a cultura alimentar religiosa de cada população não tem permitido, por enquanto, a padronização de estudos para que sejam adotados como bem controlados;

9. Os resultados obtidos são advindos de estudos experimentais com amostra reduzida, o que não é suficiente para sustentar com segurança essa prática em seres humanos
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PARECER:

São necessários ensaios clínicos controlados randomizados, especialmente de longo prazo e envolvendo humanos, sob JI versus dietas convencionais de restrição calórica contínua (RCC) que permitam comprovar a eficácia dos efeitos na saúde atribuídos ao JI, bem como as demais repercussões à saúde, sobretudo seus potenciais efeitos adversos. Esses ensaios devem possuir protocolos consensualmente definidos para suportar a adoção do JI como alternativa terapêutica para as diversas situações. 

Portanto, as alegações para sua utilização ainda são insuficientes para sua recomendação.

Destaca-se que uma alimentação adequada e saudável, baseada nos princípios e recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, orientada por um nutricionista habilitado(a), principalmente quando associada à prática de exercícios físicos e bons hábitos de vida, é capaz de contribuir para a promoção, prevenção, manutenção e recuperação da saúde dos indivíduos e da população. 

Por fim, ressalta-se que é dever do nutricionista analisar criticamente questões técnico científicas e metodológicas de práticas, pesquisas e protocolos divulgados na literatura ou adotados por instituições e serviços, bem como a própria conduta profissional e que, ao realizar a prescrição dietética, o(a) profissional deve: I. considerar o cliente-paciente globalmente, respeitando suas condições clínicas, individuais, socioeconômicas, culturais e religiosas; II. Considerar diagnósticos, laudos e pareceres dos demais membros da equipe multiprofissional, definindo com estes, sempre que pertinente, os procedimentos complementares à prescrição dietética; III. respeitar os princípios da bioética.

BIBLIOGRAFIAS

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Brasília-DF, 05 de Fevereiro de 2019. 

Link para o parecer: 

Aumento de 14% no risco de mortalidade com a ingestão de alimentos ultraprocessados

Na semana passada foi publicado um estudo de coorte prospectivo observacional que teve como objetivo avaliar a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados ​​e o risco de mortalidade por todas as causas.

Durante 7,1 anos, acompanharam 44.551 adultos (≥45 anos) franceses e eles preencheram, pelo menos, 3 a 10 recordatórios alimentares de 24h não consecutivos durante os 2 primeiros anos de acompanhamento. No início do estudo foram colhidas informações sobre questões sócio demográficas, estilo de vida, prática de atividade física, peso, altura e dados antropométricos.

Em média, 29,1% das calorias ingeridas no dia, era oriunda de alimentos ultraprocessados . O maior consumo desses alimentos foi associado a adultos jovens (45-64 anos), com menor rendimento financeiro, menor nível de escolaridade, pessoas que vivendo sozinhas, maior IMC, e menor nível de atividade física. 

Após ajustes dos viéses, foi verificado que aumento no consumo de alimentos ultraprocessados foi positivamente associado com mortalidade por todas as causas (P = 0,008), sendo que o aumento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados foi associado a maior risco de mortalidade em 14%.

Os autores concluíram que consumo de alimentos ultraprocessados parece estar associado ao risco de mortalidade global maior adulta. Estudo prospectivos são necessários para confirmar os achados e discutir os mecanismos pelos quais esse alimentos ​​podem afetar a saúde.


Referência: Schnabel L, Kesse-Guyot E, Allès B, Touvier M, Srour B, Hercberg S, Buscail C, Julia C. Association Between Ultraprocessed Food Consumption and Risk of Mortality Among Middle-aged Adults in France. JAMA Intern Med. 2019 Feb 11.