O comprimido que desafia as canetas para tratamento da obesidade: Como o Orforglipron pode mudar o tratamento da obesidade e do Diabetes tipo 2




Gerenciar o peso corporal e, ao mesmo tempo, controlar o diabetes tipo 2 é um desafio diário para milhões de pessoas em todo o mundo. As opções de tratamento mais eficazes até agora, como as terapias injetáveis (as vulgarmente chamadas Canetas emagrecedoras), embora potentes, trazem consigo a inconveniência das agulhas e a necessidade de armazenamento especial, criando barreiras para muitos pacientes. Como carregar em viagens e ter certeza que a molécula não perderá a estabilidade?

Nesse cenário, os resultados de um estudo pioneiro podem mudar as regras do jogo. O ATTAIN-2 é o primeiro estudo de longa duração (72 semanas) a ser concluído com um agonista do receptor de GLP-1 de "pequena molécula". Um cápsula administração oral diária chamada Orforglipron, com foco principal na perda de peso e tratamento do diabetes tipo 2. Os achados revelam uma combinação de eficácia, conveniência e segurança que merece atenção.

A seguir, detalhamos os cinco pontos mais impactantes e surpreendentes revelados por esta pesquisa inovadora.

Ponto 1: Uma pílula com a potência de uma injeção para perda de peso


O resultado mais impressionante do estudo foi a capacidade do orforglipron de promover uma perda de peso substancial. Na dose mais alta testada (36 mg), os participantes tiveram uma redução média de peso de 9,6% em 72 semanas. Em comparação, o grupo que recebeu placebo perdeu apenas 2,5% do peso corporal no mesmo período.

Para colocar esses números em perspectiva, uma proporção significativa dos participantes que tomaram 36 mg de orforglipron atingiu metas de perda de peso que são consideradas clinicamente transformadoras:

  • 67,2% perderam 5% ou mais do seu peso corporal.
  • 45,6% perderam 10% ou mais do seu peso corporal - O que traz grandes benefícios cardiometabólicos para um portador de obesidade
O que torna isso tão impactante é que, embora comparações diretas entre estudos diferentes devam ser feitas com cautela, a redução de peso alcançada com a pílula orforglipron é notavelmente semelhante à observada com o semaglutida injetável, um dos medicamentos mais eficazes atualmente disponíveis para pessoas com obesidade e diabetes tipo 2.

Ponto 2: Mais simples de tomar do que outras pílulas da mesma classe


O orforglipron é uma "pequena molécula" não peptídica. Em termos práticos, essa característica química se traduz em uma grande vantagem para o paciente: o medicamento tem maior biodisponibilidade e, o mais importante, não requer restrições de comida ou água durante a administração.

Isso contrasta diretamente com a semaglutida oral, outra pílula da mesma classe. Por ser um peptídeo, a semaglutida oral precisa ser tomada em jejum, com uma quantidade limitada de água, e o paciente deve esperar pelo menos 30 minutos antes de comer, beber ou tomar outros medicamentos. O orforglipron elimina completamente essas restrições, simplificando a rotina diária.

A importância dessa conveniência é destacada pelos pesquisadores: "This next advance in incretin therapies has the potential to simplify use in clinical practice and improve adherence, all of which could reduce barriers for patients." - Este próximo avanço nas terapias com incretinas tem o potencial de simplificar o uso na prática clínica e melhorar a adesão, o que poderia reduzir as barreiras para os pacientes.

Ponto 3: Ataca dois alvos de uma vez: o peso e o açúcar no sangue


Além da impressionante perda de peso, o orforglipron provou ser altamente eficaz no controle do diabetes tipo 2. Os participantes que tomaram a dose de 36 mg tiveram uma redução de HbA1c (um marcador chave do controle de açúcar no sangue a longo prazo) de até 1,66%.

A HbA1C é medica em porcentagem: 
0 a 5,69% = Normal
5,7 a 6,4% = Pré-diabetes, sendo que para quem ja é diabético, ter a HbA1C nessa média é excelente, paciente está do que chamamos de dentro da meta.
>6,5% a 7% = Para quem ja é diabético, chegar a esse valor ja considera dentro da meta, quando se trata de idosos. 

Suponhamos que o paciente tenha uma AbA1C de 7,2%: após o tratamento com a dose, conseguiria ter uma redução de 1,66%, ou seja, cairia para 5,54%. Resultado excelente. 

O impacto dessa melhoria fica claro ao observar as metas de tratamento alcançadas: no grupo de 36 mg, 75,5% dos participantes atingiram a meta de HbA1c de menos de 7% (o alvo padrão para a maioria dos pacientes com diabetes) e 66,6% atingiram a meta mais rigorosa de 6,5% ou menos.

Ponto 4: Os benefícios vão além da balança


O orforglipron demonstrou um impacto positivo em vários outros indicadores de saúde, sugerindo amplos benefícios para o sistema cardiovascular. Entre os resultados observados, destacam-se:
  • Redução da circunferência da cintura de 8,3 cm na dose mais alta, um importante indicador de diminuição da gordura visceral.
  • Redução da pressão arterial sistólica em 4,2 mmHg, mais do que o dobro da redução observada no grupo placebo (1,6 mmHg).
  • Redução dos triglicerídeos em jejum em 16,0%, quase quatro vezes mais eficaz que o placebo (redução de 4,2%).
  • Redução do colesterol não-HDL (um importante marcador de risco cardiovascular) em 6,2%, superando significativamente o placebo (redução de 2,5%).

Essas melhorias conjuntas indicam que o medicamento pode oferecer benefícios cardiometabólicos abrangentes. Isso é especialmente crucial para pessoas com obesidade e diabetes tipo 2, uma população que apresenta um risco cardiovascular significativamente elevado.

Ponto 5: Um perfil de segurança conhecido e tranquilizador


A segurança de qualquer novo medicamento é uma preocupação primordial. No estudo ATTAIN-2, o perfil de segurança do orforglipron foi consistente com o de outros medicamentos já conhecidos da classe dos agonistas do receptor de GLP-1.

Os eventos adversos mais comuns foram de natureza gastrointestinal, como náusea, diarreia, vômito e constipação. Geralmente, esses efeitos foram de intensidade leve a moderada e ocorreram principalmente durante o período inicial de aumento da dose. As taxas de descontinuação do tratamento devido a esses eventos foram um pouco maiores com orforglipron (variando de 6,1% a 9,9%) em comparação com o placebo (4,1%).

Uma nota particularmente tranquilizadora é que nenhum sinal de toxicidade hepática foi detectado. Este é um ponto crucial, pois o desenvolvimento de outras "pequenas moléculas" de GLP-1, como danuglipron e lotiglipron, foi interrompido no passado justamente por preocupações com problemas no fígado, tornando o perfil de segurança do orforglipron ainda mais promissor.

Conclusão: Uma Nova Era para o Tratamento Oral?


O estudo ATTAIN-2 demonstra que o orforglipron é uma opção oral altamente eficaz para reduzir o peso e controlar a glicemia em pessoas com diabetes tipo 2. Sua potência, combinada com uma conveniência de uso superior a outras pílulas da mesma classe e um perfil de segurança já conhecido, representa um avanço significativo.

Com resultados tão promissores, a pergunta que fica é: estamos à beira de uma nova era, onde o controle de duas das maiores epidemias de saúde do mundo poderá ser feito com uma simples pílula diária?

Artigo: HORN, Deborah B. et al. Orforglipron, an oral small-molecule GLP-1 receptor agonist, for the treatment of obesity in people with type 2 diabetes (ATTAIN-2): a phase 3, double-blind, randomised, multicentre, placebo-controlled trial. The Lancet, [s.l.], publ. online em 20 nov. 2025

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 - Gostou do texto e quer conhecer mais sobre minha pratica clínica, clique aqui. 

Eu me chamo Frederico Lobo, sou médico nutrólogo titulado pela ABRAN, moro em Goiânia e desde 2006 produzo conteúdo sobre nutrologia, alimentação, metabolismo, prevenção de doenças e medicina do estilo de vida. Acompanhe meus materiais nas outras plataformas:

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